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GUIA ALIMENTAR

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VEZ DAS CASCAS

VEZ DAS CASCAS

O que é comer bem e de forma mais saudável?

POR GRAZIELA CAPRONI

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Foto: Divulgação Freepik

GRAZIELA CAPRONI Nutricionista e apresentadora no quadro Sobre Perguntas e Respostas (programa Pop Station Band). www.ciclonovo.com.br @grazicaproni Extra, extra! Mais um assunto quentinho e polêmico sobre alimentação que acabou de sair do forno! E que interessa a todos aqueles que queiram conhecer melhor sobre “o que é comer bem e de forma mais saudável”. Já ouviu falar do Guia Alimentar para a População Brasileira? Pois bem. No dia 16 de setembro, a ministra da agricultura Tereza Cristina enviou uma Nota Técnica (nº 42/2020) com críticas para o Ministério da Saúde pedindo a revisão urgente desse material. Críticas que, em sua maioria, vêm de representantes das mais poderosas indústrias alimentícias. Está dando o que falar. Elaborado pela equipe técnica do Ministério da Saúde, com consultoria de diversos pesquisadores, além da consulta pública a setores da sociedade, ele foi publicado em 2014 (sua edição mais atualizada). Resumidamente, esclarece o que é considerada a base para uma alimentação saudável, apontando caminhos para que cada um de nós amplie a autonomia por escolhas alimentares mais conscientes, levando em conta não só a ingestão de nutrientes e da composição do alimento, como também as particularidades regionais, sociais, culturais do nosso país, visando principalmente a promoção da saúde. Está focado não somente nas calorias ou na perda de peso, mas também nas refeições, incentivando o hábito de cozinhar, de comer junto e o desenvolvimento de um senso crítico em relação ao marketing e às informações sobre alimentação. Tem mais de 150 páginas, mas há uma versão resumida “de bolso” com 49 páginas e que pode ser baixada gratuitamente na internet.

O que parece ser mais incômodo para os so- matéria-prima original já passou por diversas licitantes da revisão é a NOVA classificação etapas de transformação com a adição de inque o Guia traz dos alimentos, baseada no gredientes muitas vezes artificiais como gorgrau de processamento industrial e descrita duras, aromatizantes, aditivos e conservantes. na Nota Técnica da ministra como “confusa, Pensa só, o que precisamos para fazer uma incoerente e prejudicial à implementação de batata frita em casa? Batata, óleo, sal (e dispodiretrizes adequadas para promover a alimen- sição para limpar o fogão depois da fritura...!). tação saudável para a po- Mas, quantos ingrepulação brasileira”. Essa “Resumidamente, o dientes contêm uma nova classificação basica- Guia esclarece o que é batata ultraprocessada mente divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente considerada a base para uma alimentação saudável” da indústria ou do fast food? Após MUITAS etapas de processaprocessados; ingredientes mento industrial, deveculinários; processados; e ultraprocessados. ríamos comprar essa batata assim: “por favor, Tomando um exemplo do próprio guia, uma quero uma porção de batatas com óleo de espiga de milho verde é um alimento in na- soja hidrogenado, aditivos à base de petróleo, tura (o mais próximo de como se encontra na dextrose (açúcar), estabilizante pirofosfato de natureza); o óleo de milho é um ingrediente sódio, com um pouco de tempero sabor carculinário (usado, de preferência em pequena ne e até leite”. É gostosa para muitos? É sim. quantidade, para temperar, cozinhar alimen- Comer vez ou outra é problema? Talvez não. tos e criar preparações culinárias); o milho em Equilíbrio, bom senso e moderação não faz conserva e enlatado é processado, pois apre- mal à ninguém. Mas, lembre-se: são alimensenta adição de salmoura (água e sal); e o sal- tos (que na verdade prefiro chamar de progadinho de milho é ultraprocessado, pois sua dutos alimentícios) feitos para viciar. Gordura,

combinada com açúcar, muita propaganda atrativa, muitas vezes associada à felicidade, alegria, programa em família, para que você queira consumir cada vez mais. O Guia coloca como regra de ouro: “prefira sempre que possível alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”. Já que muitas evidências científicas ao longo dos anos apontam uma associação positiva entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o excesso de peso corporal, além de ser “gatilho” para doenças crônicas como diabetes, hipertensão, principalmente em indivíduos com pré-disposição genética. Doenças as quais muitas vezes podem ser resumidas por três palavras-chave: “é a comida”!

Versão resumida do Guia Alimentar para a Populacão Brasileira pode ser baixada gratuitamente na internet. Acesse o nosso site para saber mais.

Ou “a falta dela” – que está além da fome, pobreza e falta de acesso. É aquela “fome oculta” de quem come, mas não se nutre. Pode até ter exagero em quantidade, mas falta na qualidade. Há uma mudança no cenário alimentar atual em todos os extratos sócio-econômicos e em todas as regiões do país. Arroz e feijão, a base alimentar da nossa cultura por gerações e gerações, está diminuindo na mesa dos brasileiros. Hortaliças e frutas (além do alface, tomate e banana) estão perdendo espaço para os pacotinhos ultrapro-

como engenheiros de alimen- instrumento de política pútos, agrônomos, psicólogos, blica elaborado por ele é um educadores, representantes da dos piores que existe?! Logo população com variados hábi- um Guia considerado como tos e costumes. Repensando a exemplo a ser seguido pela complexidade da alimentação FAO, OMS (Organização Munatual que necessita de muitos dial da Saúde), Unicef, como saberes para ser estudada de referência no mundo todo, uma forma mais ampla, mas inspirando diversos países? sem deixar de lado a simplici- Vai entender. Melhor do que cessados do suco em pó, do dade de que as pessoas sabem tentar encontrar a lógica dismacarrão instantâneo e do comer, só precisando ser lem- so, é você tomar contato com caldo de legumes (que de le- bradas e redirecionadas. Mas informações confiáveis, que te gumes mesmo só tem a foto é importante reforçar que essa façam sentido, que te façam estampada na embalagem). E revisão não seja realizada com “parar para pensar e repensar” será pelo preço? Ou o que é comer bem será uma questão de “O Guia coloca como regra para você. Levanprioridades? O celular última geração não anda faltando no bolde ouro: prefira sempre que possível alimentos in natura ou do em conta seus próprios palpites (e de seus ancestrais), so de ninguém... A minimamente processados e intuições, o que se indústria começou a preparações culinárias a ouve de profissioprocessar os alimentos para aumentar alimentos ultraprocessados” nais da área, o que se lê na internet e a duração deles e demais veículos de diversificar a nossa alimenta- a interferência só dos interes- informação; fazendo desse um ção e isso trouxe com certeza ses econômicos e da grande “caldo” consistente, encorpainúmeros benefícios. Porém, indústria. Mais do que parecer do, que vai somando novos a partir de certo momento, que a ministra “comprou” a ingredientes, mas que quando grande fatia dela percebeu briga da indústria dos ultra- consumido traz impactos posique poderia ganhar muito di- processados, parece que ela tivos para sua vida e saúde. E nheiro com alimentos de baixo criou uma animosidade den- que por fim, alcance o maior custo, que aproveitam com- tro do próprio governo, afinal número de “bocas e mentes ponentes de outros alimentos como que um Ministério (da abertas”, pois conhecimento e e têm sabor que as pessoas Agricultura) escreve um docu- “comida boa” só tem validade gostam e viciam. O Guia colo- mento para o outro (Ministé- quando acessados, consumica isso em evidência. Ele me- rio da Saúde) dizendo que um dos e praticados. rece ser revisado? Creio que sim, pois a ciência se renova a cada ano e outros estudos poderiam somar um “upgrade” ao documento. Bem como a visão integrada de profissionais de outras áreas afins,

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