ENQUANTO É TEMPO Carla Patrícia do Vale Lucas Madeira (2003)
FICHA TÉCNICA Poesia: Enquanto é Tempo Autora: Carla Patrícia do Vale Lucas Ano: Madeira, 2003
Vencedora do 1.º Prémio de Poesia no 15.ºs Jogos Florais da Ameixoeira – Lisboa, 2003, no âmbito do Ano Internacional da Água Doce.
Vejo a água fluir calmamente De uma pequena nascente, Enquanto parada Dou passos incertos rumo ao futuro… Caminho em sonho, sem destino certo, Vagueando num mundo mudo Que ainda não é real. Estou cansada… O meu corpo fraqueja, A minha boca ressequida Reclama por uma gota de água… Tento encontrar o tesouro mais precioso Que por tanto tempo não dei o devido valor! Agora até o sol não quer abrandar E o meu corpo parece desfalecer. Nem a cortina de nuvens do céu Quer abrir as suas comportas, Apenas para que me possa refrescar…
ENQUANTO É TEMPO… Carla Vale Lucas (2003)
Enquanto continuo a caminhar Sem olhar por onde meus passos me levam, Relembro os dias que a torneira abria Sem pensar no que dela jorraria… Relembro os dias que debaixo de água me refresquei Sem imaginar este futuro em que mergulhei. Relembro os dias que aquela fonte de vida, Que agora tanto ensejo, desperdicei Sem com ela me preocupar... O meu corpo fraco Não consegue continuar sua travessia… Parada e imóvel sento-me na terra árida, E, prostrada no chão, relembro o tempo Em que dela emergiam novas vidas. Sentada sobre ela, Não me preocupo com o que sempre me preocupou - a beleza exterior, o bem parecer.
ENQUANTO É TEMPO… Carla Vale Lucas (2003)
Debruço-me sem forças sobre os joelhos, Os olhos sem lágrimas para derramar Apenas revelam tristeza e agonia! Olho em frente, Vislumbro uma pequena fonte, Outrora repleta de água… Ergo-me e corro até ela. Com as mãos côncavas Tento ancorar a única gota que dela escorre… Pequena, voraz corresponde aos meus únicos sonhos. Levo-a até ao meu rosto e não sei o que fazer Se me refrescar ou saciar a minha sede… Arrependo-me fortemente do passado… O futuro em que vivo Paga o preço da ambição, do egotismo Que sempre guiou minha vida… E nada posso fazer!
ENQUANTO É TEMPO… Carla Vale Lucas (2003)
Ergo-me novamente… E os meus olhos misteriosamente Derramam lágrimas, Pequenas gotas salgadas escorrem pelo meu rosto!... Voltei ao presente, Foi-me concedida uma nova oportunidade… Estou novamente parada A ouvir o murmúrio da água A escorrer da nascente. Voltei ao presente, Para refazer os meus actos, Enquanto ainda é tempo… Enquanto ainda é tempo!!!
ENQUANTO É TEMPO… Carla Vale Lucas (2003)
ENQUANTO É TEMPO