Carla Vale Lucas
Madeira, 2008
DESFOLHO
DESFOLHO
desfolho uma a uma as crostas da tua alma enlameada em eterno pranto. desfolho os segredos que escondes nesse olvidar de tempo como vertigem em que decais e te escondes, feito género desgastado pela delonga do ser. desfolho esse teu esconderijo em que recais em demasia. desenfeito os teus adornos desfiando mistérios irmanados nessa loucura de esquecer que é real o teu espírito.
DESFOLHO DESFOLHO
é o peso da beleza que carregas contigo, como embuste da fria indolência escrita nas páginas de uma qualquer revista. é o peso dos sonhos deturpados pelo rosa claro da luxúria. é tudo isto. e coisa nenhuma. é toda esta pujança que se apaga como fonema de pouco durar… é todo este alvitro que conta os segundos vãos para aparecer. é todo este frenesim do ser ou não ser.
do eu ou do não eu.
que arquitecta o suor dissipado pelos poros de uma matéria perdida em metáforas de querer
desfalecer.
DESFOLHO DESFOLHO
são tudo isto (as) simetrias assíduas
rigidificadas
pulsando vazios de um sonho desgastado em manchas de frívolos desejos!
Carla Vale Lucas (2008)
FICHA TÉCNICA Poesia: Desfolho uma a uma as crostas
da tua alma enlameada em eterno pranto Autora: Carla Vale Lucas Ano: Junho de 2008 Publicação: Origens – Revista Cultural Número: 18 (pp. 128) Edição: Câmara Municipal de Santa Cruz