Ensaio Teórico em Arquitetura e Urbanismo - Neurociência Aplicada à Arquitetura

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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

CAROLINA FERREIRA BAPTISTA

Neurociência aplicada à arquitetura de Organizações Sociais Culturais e Esportivas: voltadas a atender o público infantil

ENSAIO TEÓRICO

Brasília 30 de Novembro de 2020


CAROLINA FERREIRA BAPTISTA 14/0134077

Neurociência aplicada à arquitetura de Organizações Sociais Culturais e Esportivas: voltadas a atender o público infantil

Ensaio Teórico apresentado ao Programa de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, FAU, da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de graduado em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Dra. Chenia Rocha Figueiredo Banca Avaliadora: Ana Paula Campos Gurgel

Brasília 30 de Novembro de 2020 2


SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................ 5 1

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 7

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OBJETIVOS E MÉTODOS .......................................................................... 9

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REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................ 10 3.1

CONCEITUAÇÃO DOS TERMOS ................................................................ 10

3.1.1

NEUROARQUITETURA ........................................................................ 10

3.1.2

BIOFILIA................................................................................................ 12

3.2

RELAÇÃO ENTRE O AMBIENTE E O INDIVÍDUO ............................ 14

3.2.1

AMBIENTE CONSTRUÍDO ................................................................... 14

3.2.2

AMBIENTE NATURAL ........................................................................... 16

3.3 A PERCEPÇÃO DE UM AMBIENTE DE ACORDO COM A NEUROARQUITETURA ............................................................................... 18 3.3.1

A PERCEPÇÃO DE UM AMBIENTE PELO PÚBLICO INFANTIL .......... 20

3.3.2 AMBIENTES SOCIAIS CULTURAIS E ESPORTIVOS VOLTADOS PARA O PÚBLICO INFANTIL ........................................................................................ 22

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RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 28 4.1

ESTUDO DE CASO – ASSOCIAÇÃO CULTURAL NAMASTÊ ..................... 28

4.2 PROBLEMÁTICAS DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS, CULTURAIS E ESPORTIVAS ......................................................................................................... 33

5

CONCLUSÃO ............................................................................................ 35

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 36

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Sala de dança, Associação Cultural Namastê ................................................. 28 Figura 2 – Fotos da Associação Cultural Namastê ........................................................... 29 Figura 3 – Sala de dança, Associação Cultural Namastê. Propostas de enriquecimento do ambiente utilizando a NeuroArquitetura e a biofilia........................... 32

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise crítica........................................................................................................ 30

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RESUMO Baptista, Carolina Ferreira. Neurociência aplicada à arquitetura de Organizações Sociais Culturais e Esportivas: voltadas a atender o público infantil. 2020. Artigo (Ensaio Teórico) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Brasília. 2020. Partindo do tema arquitetura, educação, esporte e cultura, a pesquisa teve por objetivo compreender o espaço ocupado por organizações socioculturais que atendem crianças e jovens em alguma situação de vulnerabilidade, contextualizando quais os maiores problemas espaciais encontrados e apresentar possíveis soluções por meio da NeuroArquitetura e da biofilia para se criar um ambiente rico didaticamente e que melhore a qualidade de vida de seus usuários. Considerou-se as hipóteses de que a maioria destas Organizações não apresentam espaços físicos de qualidade para a realização das atividades essenciais para o processo de desenvolvimento e aprendizagem de seu público e que um espaço construído utilizando os conceitos de NeuroArquitetura e biofilia se apresentam como um agente facilitador nesse processo de ensinoaprendizagem. Embasada em autores como Paiva, Fonseca, Lima, Silva, dentre outros e em pesquisas que envolvam de alguma forma esse tema, a presente pesquisa considerou conceitos importantes relativos à qualidade do espaço na NeuroArquitetura e à importância da percepção na relação criança-ambiente. Verificou-se como atividades extracurriculares, realizadas de forma lúdica, como o exemplo da dança, oferecidas por estas organizações, estimula nas crianças a linguagem, o pensamento, a socialização, a exploração, a invenção, a motricidade e a criatividade. Demonstrando sua importância para formação e desenvolvimento destas. Em um mundo cada vez mais urbano, que retira a autonomia das crianças, espaços projetados especialmente para elas podem proporcionar a oportunidade de um desenvolvimento livre, propicia também o reconhecimento e a apropriação do espaço. O uso dos conceitos fundamentais da NeuroArquitetura e da biofilia em um projeto voltado para o público infantil trás qualidades a estes ambientes, os tornando mais interativos, atraentes, estimulantes e acolhedores, contribuindo para que promovam a relação entre seus usuários e corresponde às necessidades da criança. Esses conceitos arquitetônicos também determinam as diretrizes que definem qual deve ser a 5


essência espacial dessas organizações esportivas, educacionais e culturais: integração com a comunidade; interação com o meio natural; iluminação e ventilação natural; ambientes acolhedores; sustentabilidade; materiais, texturas e cores como elementos de identidade. Conclui-se que essas diretrizes e conceitos podem mostrar-se úteis quando se deseja melhorar o espaço físico dessas organizações, que buscam acima de tudo melhorar a qualidade de vida dessas crianças e jovens. Ao apresentar espaços com essas características, podem se tornar fontes de estímulos de aprendizado e desenvolvimento. Palavras-chave: Neuroarquitetura. Biofilia. Cultura. Esporte. Educação

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1 INTRODUÇÃO Este trabalho dispõe-se a apresentar o conceito da neurociência aplicada à arquitetura de um ambiente esportivo, cultural e artístico voltado para o público jovem e infantil. O determinado ambiente de estudo consiste em uma escola de dança cigana inclusiva, a Associação Cultural Namastê, que atende principalmente crianças com diferentes deficiências físicas e mentais. A seguinte pesquisa tem como o objetivo, conceituar os termos NeuroArquitetura e biofilia, Abordar possíveis métodos de aplicação destes em projetos arquitetônicos voltados para o público infantil e, por fim, propor as modificações necessárias no ambiente físico da Associação Cultural Namastê, como representantes destas organizações socioculturais, por meio dos elementos de identidade abordados pela NeuroArquitetura e biofilia, para que proporcione conforto, qualidade de vida e melhoria na aprendizagem de seus alunos. A neurociência é um campo associado à medicina que estuda o sistema nervoso humano (PAIVA, 2019), a partir de descobertas nesse campo, ela vem sendo aplicada em diversas áreas, dentre elas a arquitetura. A esse processo deu-se o nome de NeuroArquitetura, termo popular que surgiu para conceituar o estudo destes dois campos, a arquitetura e a neurociência. A NeuroArquitetura estuda o impacto causado pelo ambiente físico no cérebro humano e, consequentemente, a mudança de comportamento ocasionada por tal impacto (PAIVA, 2018). Segundo esses estudos alguns fatores ambientais (luminosidade, temperatura, acústica, ventilação, uso das cores) são indispensáveis para elaborar um projeto arquitetônico de qualidade, que gere conforto e saúde. Aliada a isso, temos a biofilia, a tendência instintiva dos seres humanos a se voltarem ao natural. O design biofílico propõe trazer a natureza para dentro dos ambientes construídos artificialmente, também tendendo a influenciar a mente humana. O relatório “Human Spaces no Impacto Global de Design Biofílico no Local de Trabalho” (2015, p. 20-30), por exemplo, mostrou que ambientes de trabalho com elementos naturais geram níveis até 15% mais altos de bem estar, 6% a mais de produtividade e 15% a mais de criatividade, do que ambientes sem esses elementos. 7


Os conceitos estudados nessas duas áreas podem ser aplicados a diversos ambientes, como o corporativo, o hospitalar, o escolar, entre outros, de forma a proporcionar melhor qualidade de vida a seus usuários. O ambiente esportivo, por exemplo, tem uma influência essencial nas emoções e na motivação dos praticantes de atividade física, ao oferecer estímulos constantes, como temperatura, ventilação, iluminação e outros, que podem provocar distrações ou auxiliar na aprendizagem dos atletas (VIANA, 2009) A prática de atividades físicas, em todas as fases da vida, é cada vez mais recomendada por especialistas, pois ajuda no desenvolvimento do corpo e da mente. Especificamente a dança, atividade essencialmente cultural e artística, possui papel fundamental na sociedade como fator de desenvolvimento pessoal e coletivo. Historicamente acompanha a evolução da humanidade desde os tempos primitivos, sendo considerada a primeira manifestação corporal do emocional humano. Praticar algum tipo de esporte durante a infância suscita a educação corporal, contribuindo para o desenvolvimento emocional, físico e social desta fase. A dança, por exemplo, proporciona inúmeras possibilidades de vivenciar o corpo, o que favorece a coordenação motora, a postura, o equilíbrio, a respiração, a espacialidade, o ritmo, a expressão e a comunicação. Aspectos importantes para o desenvolvimento na infância, mostrando o papel da dança não somente no desenvolvimento do corpo, mas também da mente (LOUPPE, 2012). Nota-se um déficit de projetos arquitetônicos estratégicos para ambientes sociais culturais e esportivos voltados para o público infantil, que visem a qualidade de vida, a melhora da aprendizagem e do desenvolvimento desta fase da vida. O seguinte trabalho procura encontrar possíveis aplicações de conceitos da NeuroArquitetura em um ambiente destinado a prática da dança por crianças, de forma a criar espaços físicos inteligentes que estimulem a criatividade e proporcionem conforto e bem-estar aos que convivem neste ambiente, representando as demais organizações socioculturais que também se encontram em ambientes físicos inadequados e mostrando como o uso dos conceitos de NeuroArquitetura e biofilia se apresentam como um agente facilitador nesse processo de ensino-aprendizagem. 8


2 OBJETIVOS E MÉTODOS A pesquisa tem como objetivo a aplicação dos conceitos da NeuroArquitetura e design biofílico no desenvolvimento de uma proposta de intervenção projetual de uma escola de dança cigana inclusiva, a Associação Cultural Namastê, voltada a crianças, a fim de criar um espaço onde seja possível a percepção de estímulos cerebrais que interfiram positivamente no comportamento dos alunos e professores, a ponto de proporcionar-lhes conforto e bem-estar, melhorando o aprendizado. Se tornando um modelo para demais organizações sociais culturais e esportivas voltadas a atender crianças e jovens. Para tanto, foram consideradas as seguintes etapas: I.

Conceituar a neurociência aplicada à arquitetura, sua definição e forma como é percebida pelo ser humano (neuroarquitetura);

II.

Conceituar a biofilia, seu design, forma de uso na arquitetura e como é percebida pelo ser humano;

III.

Abordar métodos possíveis de aplicar NeuroArquitetura e biofilia em projetos arquitetônicos voltados para o público infantil;

IV.

Apresentar estudo de caso (escola de dança cigana inclusiva, Associação Cultural Namastê);

V.

Desenvolver proposta projetual de intervenção para a escola de dança cigana inclusiva, Associação Cultural Namastê. Sobre os métodos utilizados, as etapas I, II e III foram desenvolvidas por

revisão bibliográfica com consultas em livros, artigos, teses, dissertações consultadas online e informações da Academia de Neurociência para Arquitetura (ANFA), localizada em San Diego – Califórnia (EUA). A etapa IV, como embasamento foi desenvolvido um estudo de caso da Associação Cultural Namastê para identificar quais as necessidades de modificação no ambiente. A etapa V envolve a elaboração de um programa de necessidades para o desenvolvimento de uma proposta projetual de intervenção do ambiente onde ocorre as aulas de dança cigana inclusiva. 9


3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 CONCEITUAÇÃO DOS TERMOS 3.1.1 NEUROARQUITETURA Atualmente, com os avanços da neurociência, compreendemos cada vez mais o funcionamento do cérebro humano. Desde a antiguidade, pensadores como Freud já discutiam sobre o inconsciente e seus impactos no comportamento humano. Psicólogos ambientais estudam as influências que os espaços exercem sobre o comportamento desde o século XX. No entanto, suas descobertas foram baseadas em estudos empíricos, por meio da observação de como os indivíduos se comportam de maneira diferente em ambientes distintos usando o design baseado em evidências, não podendo medir reações cerebrais devido às limitações tecnológicas da época. Não conseguindo lidar com toda a complexidade da relação entre neurociência e arquitetura (PAIVA e JEDON, 2019). Hoje possuímos meios para analisar que gatilhos ativam os mais diversos sistemas neurais. Podendo medir mudanças físicas no cérebro e no corpo que ocorrem como resultado da interação entre o cérebro e o espaço construído. O ambiente físico não afeta as pessoas igualmente. Variáveis importantes, como características pessoais (genética, memórias e experiências individuais) e o ambiente social, afetam como podemos ser influenciados. De acordo com estudos da neurociência, a capacidade de processar informações conscientemente é inferior a 1% da capacidade de processamento inconsciente (PAIVA, 2018). Ainda segundo Paiva, a maioria dos estímulos são subconscientes, por isso, as pessoas podem ser afetadas e ainda assim não estarão cientes disso. Através de estudos neste campo e em outras de temáticas semelhantes, como a psicologia ambiental e a biofilia, podemos entender como o ambiente físico pode afetar o comportamento e o bem-estar das pessoas, mesmo que de forma limitada já que algumas formas de medições das alterações cerebrais exigem que as pessoas estejam dentro da máquina.

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Paiva (2018), define a NeuroArquitetura como um método interdisciplinar, que por meio da aplicação da neurociência aos espaços construídos, visando a maior compreensão dos impactos da arquitetura sobre o cérebro e os comportamentos humanos, pode influenciar as emoções e/ou comportamentos. Seu caráter interdisciplinar, ao incorporar elementos da neurociência aplicada, estabelece interfaces ricas com outros campos do conhecimento que, originalmente, não mantinham um amplo diálogo com a arquitetura tradicional, ampliando o campo de pesquisa sobre a relação entre o ambiente construído e seus usuários, potencializando a compreensão de diversas mensagens que esse ambiente transmite, inclusive no que se refere a níveis menos conscientes de percepção. A maioria da população do Brasil vive em cidades (84% segundo IBGE 2010) e esse número pode aumentar. Dependendo do contexto socioeconômico ou de mobilidade, muitas famílias preferem manter suas crianças em ambientes fechados, onde passamos cerca de 90% de nossas vidas de acordo com o estudo “National Human Activity Pattern Survey” (KLEPEIS et al, 2001) De acordo com Paiva (2018), o ambiente construído é capaz de impactar de forma consciente e inconsciente o cérebro, permitindo a mudança de comportamento no indivíduo; também é uma ciência que permite ao ser humano desfrutar sensações agradáveis ou desagradáveis. A NeuroArquitetura busca proporcionar bem-estar e saúde, aguçando áreas do cérebro, com intuito de transformar espaços físicos em lugares mais agradáveis de se viver; auxiliando arquitetos e urbanistas a projetar espaços mais eficientes e saudáveis. Esses ambientes devem proporcionar seu uso integral por todos os seus usuários. Como descrito no documentário “O começo da vida 2” (2020) as crianças, assim como os jovens, adultos e idosos, são membros valorosos da nossa sociedade. São sujeitos de direito no presente, não no porvir. A cidade também pertence a elas. Incluí-las de forma ativa nos meios arquitetônicos e urbanísticos significa respeitá-las como atores sociais. É durante a infância que ocorrem períodos críticos de desenvolvimento, quando os indivíduos são mais vulneráveis a vários tipos de estímulos externos, como o ambiente físico (PAIVA e JEDON, 2019). 11


3.1.2 BIOFILIA Biophilia é um termo adaptado por Edward Wilson (1984) para significar a tendência inata dos seres humanos (de todas as idades, localidades e culturas) de desenvolverem uma ligação emocional à vida e aos processos vivos. Como a própria composição da palavra sugere, do grego bios que significa vida e philia, amor. Em sua obra, Edward Wilson discorre sobre a ligação emocional que os seres humanos têm com outros organismos vivos e, consequentemente, com a natureza em si. De acordo com Fonseca e Oliveira (2009, p. 6), “a Biofilia é o contato do humano com a Natureza, vai estar diretamente relacionado com a saúde e o bem-estar físico e psicológico”. De forma direta ou indireta o ser humano possui a necessidade instintiva de se manter em contato com o natural. Evoluímos em ambientes naturais e selvagens, há mais de 100 mil anos atrás com o surgimento do Homo Sapiens, vivendo sem organização espacial em vilarejos ou cidades. O que aconteceu apenas com a Revolução Neolítica, a cerca de 12 mil anos atrás, em que os grupos começaram a deixar de ser nômades para se organizar espacialmente por conta dos benefícios trazidos pela agricultura. O homo sapiens passou em torno de 90 mil anos vivendo completamente inserido na natureza, ou seja, nosso cérebro ainda não está adaptado a vida em centros urbanos sem contato com o meio natural. Muitos estudos apontam a nossa preferência pelo ambiente natural, ao invés do construído. As cidades ideais por exemplo são em sua maioria descritas com características não-urbanas, como o uso de vegetação abundante. O uso da própria natureza ou de elementos naturais no design biofílico se mostrou capaz de reduzir a pressão arterial e permitir a sensação de conforto através do estímulo visual (TSUNETSUGU, MIYAZAKI e SATO, 2006). Quando questionadas, as crianças sabem dizer e expressar o que na cidade não as agrada, como por exemplo a dificuldade que é circular nas calçadas, o medo que têm dos carros que passam em alta velocidade e a falta que faz uma área verde para brincar livre. Atualmente mais de um bilhão de crianças moram em áreas urbanas pelo mundo. E estão sujeitas a falta de espaços na natureza, lugares seguros para brincar, a congestionamentos, 12


poluição do ar e pouco tempo ao ar livre. Para desenvolver todo o seu potencial, as crianças precisam não apenas de segurança, nutrição, saúde e ar limpo e água, mas também de muitas oportunidades para brincar e aprender com os ambientes sociais e construídos que os rodeiam. (O COMEÇO..., 2020) A publicação “Cidades para Brincar e Sentar: mudança de perspectiva para o espaço público” (MEYER e ZIMMERMANN, 2020), traz a experiência da pequena cidade de Greishein, reconhecida como Cidade para brincar, que recuperou seus espaços públicos para serem mais atraentes para as crianças e passíveis de serem percorridos de forma autônoma pelos pequenos cidadãos. Para isto foi realizado uma série de intervenções, como a inclusão de materiais naturais; alteração na pavimentação; uso de cores para tornar o ambiente mais lúdico e marcar o caminho; e de mobiliários com dimensões adequadas para o uso de crianças de diferentes idades. Pesquisas comprovam que, mesmo por pouco tempo, o contato com o meio natural reduz os sintomas de “transtorno do déficit de natureza”, um termo criado por Richard Louv (2016), para descrever os danos físicos e mentais causado a crianças desconectadas com o mundo natural, como por exemplo o aumento notável em distúrbio de déficit de atenção, habilidade de aprendizado, criatividade e saúde mental, psicológica e espiritual. Louv (2016) destaca que, em algumas escolas dos EUA, mais de 30% dos alunos usam Ritalina ou outros medicamentos. Quando em contato com a natureza as crianças apresentam melhora nos níveis de atenção, diminuição do estresse e da ansiedade e maior facilidade na resolução de problemas. Fonseca (2009) explica que a biofilia proporciona duas formas de se relacionar com a natureza; através da própria presença desta no espaço, o que se classifica como contato direto, ou através de materiais e texturas que podem ou não ser naturais que remetem a uma memória genética da natureza, que seria o contato indireto. Esta relação pode reduzir a pressão sanguínea, relaxar tensões musculares, bem como aumentar a capacidade de foco. O design biofílico busca mais do que apenas trazer os elementos da natureza para o interior dos edificios, mas também criar um bom habitat para as pessoas, que ajudem a promover o bem estar e a saúde mental e física (PAIVA, 2018).

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3.2 RELAÇÃO ENTRE O AMBIENTE E O INDIVÍDUO 3.2.1 AMBIENTE CONSTRUÍDO Passamos cerca de 90% de nossas vidas em ambientes construídos, é onde crescemos, estudamos, trabalhamos, nós desenvolvemos, formamos nossas famílias e morremos. Esses locais ajudam a moldar nossas vidas, influenciando nossos comportamentos, escolhas e emoções. Como

o

neurocientista

Fred

Gage

(2003),

criador

do

termo

NeuroArquitetura, afirmou: “Mudanças no ambiente mudam o cérebro e, portanto, mudam nosso comportamento. Ao planejar os ambientes em que vivemos, o projeto arquitetônico muda nosso cérebro e nosso comportamento” (GAGE, 2003). Assim, os espaços continuam a nos influenciar e mudar durante toda a nossa vida. Pesquisas neste campo tem sido realizada por psicólogos ambientais desde o século XX, mesmo com as limitações tecnológicas da época, eles puderam observar como os indivíduos se comportam de maneira diferente em ambientes distintos usando o design baseado em evidências e por meios de pesquisas diretamente com os usuários. Porém a capacidade de processar informações conscientemente é inferior a 1% da capacidade de processamento inconsciente (EAGLEMAN, 2012). O ambiente construído nem sempre afeta as pessoas igualmente. O modo como nos adaptamos ao ambiente físico pode variar amplamente, por meio de memórias, experiencias culturais e pessoais, genética, modo como os 5 sentidos são utilizados, frequência e duração da exposição ao ambiente, dentre outros fatores. Portanto, embora o espaço construído não seja a única variável nessa equação, ele desempenha um papel fundamental no bem-estar, comportamento, emoções e tomadas de decisão. Na experiência humana, o espaço nunca é vazio. Ele é sempre o lugar repleto de significados, lembranças, objetos e pessoas, que atravessam o campo de nossa memória e dos nossos sentimentos, desperta tristezas e alegrias, prazeres e dores, tranquilidade e angústias.

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Para qualquer ser vivo, o espaço é vital, não apenas para a sobrevivência, mas, sobretudo para o seu desenvolvimento. Para o ser humano, o espaço, além de ser um elemento potencialmente mensurável, é o lugar de reconhecimento de si e dos outros, porque é no espaço que ele se movimenta, realiza atividades, estabelece relações sociais (LIMA, 1995, p.187)

De acordo com as recomendações da ONU o ambiente construído deve ser concebido de modo a poder ser utilizado por todas as pessoas. Todos os edifícios públicos devem ser acessíveis, sem quaisquer impedimentos particulares. A arquitetura deve ser inclusiva, por meio do uso do desenho universal e da acessibilidade, atendendo não apenas pessoas com deficiência, mas também idosos, mulheres e crianças, toda e qualquer pessoa, sejam quais forem suas características físicas, idade ou capacidades individuais. É comum que o espaço seja colocado na condição de agente nos discursos sobre a NeuroArquitetura, como gerador de ansiedade ou de cura por exemplo, contribuindo para falsa geração de expectativas. Porém somos nós que agimos neste espaço, o ambiente é apenas uma das variáveis que podem influencias nossas ações, percepções e estado mental. Podemos nos comportar de formas distintas de acordo com as características físicas do ambiente em que nos encontramos, nem sempre respondendo de forma semelhante ao demais. Por conta destas variáveis a NeuroArquitetura não tem como propósito criar uma receita a ser seguida ou a criação de “ambientes perfeitos”. A eficiência de um ambiente e como ele afeta seus ocupantes depende de diversos fatores tais como quem são seus usuários, quais as atividades realizadas, qual o tempo de ocupação daquele espaço e sua relação com o sistema onde está inserido. Resumidamente ao se discutir e pesquisar NeuroArquitetura deve se ter atenção a esses fatores. Como um novo campo de conhecimento, ainda em crescimento pressupõe discussões complexas sobre como o ambiente afeta seus usuários e não respostas generalistas que funcionem em todos os casos. A NeuroArquitetura trás a possibilidade de oferecer novas ferramenta a arquitetos e urbanistas para o processo de criação e tomada de decisão, repensando antigas soluções e transformando a forma de pensar e criar espaços (PAIVA e JEDON 2019). 15


3.2.2

AMBIENTE NATURAL A biofilia é impactada pelas experiências pessoais, sociais e culturais no

qual o sujeito está inserido, e vive desde a primeira infância. Nesse sentido, mesmo que a biofilia seja uma tendência genética, há a necessidade de reforçar o contato com a natureza para que essa conexão se perpetue. Ela carece de um conjunto rico e diversificado de experiências exploratórias em ambiente natural, que reforce as conexões com a natureza. Segundo a ONU, em assembleia geral de 2019, atualmente 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050. Essa crescente desconexão com o meio natural trará prejuízos para toda a sociedade. Evidências científicas apontam que a falta de contato com a natureza, principalmente durante a infância, pode contribuir para problemas físicos e mentais. São Paulo, por exemplo, tem apenas 2,6 m² de áreas verdes públicas por pessoa e esse número fica ainda mais baixo em algumas regiões da cidade. O padrão internacional recomenda que cada cidadão disponha de 18m² de espaço público verde e acessível. Nós nos relacionamos com o ambiente que nos rodeia de diversas formas e diferentes intensidades. O senso de habitat é formado a partir de circunstâncias familiares da vida diária em conjunto com nossa raiz instintiva. Simplificando, aprendemos a amar o que nos é familiar: temos a tendência a nos relacionar com o que conhecemos bem e se tornou habitual. Em ambientes urbanos é cada vez mais difícil de encontrar ambientes biofílicos, a tecnologia atual traz um distanciamento da natureza maior do que nunca, que tem como consequência um maior tempo gasto no interior de edifícios e carros, e menos atividades que estimulem a biofilia e o respeito com o meio ambiente. Esses pontos promovem o reforço da desconexão entre os seres humanos e a natureza. É importante entendermos como biofilia é despertada, como ela prospera, o que exige de nós e como ela está sendo utilizada. O ecologista social Stephen Keller (2012) afirma a necessidade de atualização das tendências inatas biofílicas diante da aprendizagem em contexto natural. Essas atividades devem contemplar a multidimensionalidade das funções humanas a necessidade de conhecimento, o apelo estético, o reforço da afetividade e a 16


expansão da criatividade e imaginação. Kellert (2012) considera que apenas a natureza vivida diretamente contribui para o pleno desenvolvimento psicossomático de uma consciência ambiental. Por meio de processos educacionais, as crianças podem ser envolvidas com a natureza, caminhando em ambientes naturais, observando de perto os seres vivos. Quando estimulada, a mente da criança se abre para os laços com formas de vida não humanas. A exploração e a recreação, em parques, praias, zoológicos, jardins botânicos e museus é fundamental para esse processo. Dessa forma, a criança adquire conhecimento junto com emoções agradáveis. O documentário O começo da Vida 2: lá fora (2020), por exemplo, discute a importância das iniciativas que promovem o contato das crianças com a natureza apesar da crescente expansão da urbanização. Os principais especialistas no tema mostram como essa conexão pode fazer parte da cura para os maiores desafios da humanidade contemporânea e da construção de uma vida de mais bem-estar e felicidade. Na arquitetura, uma estratégia busca reconectar as pessoas com o ambiente natural é o design biofílico. Ele é um complemento para a arquitetura verde, que diminui o impacto ambiental do mundo construído. Um exemplo seria a inclusão de mais espaços verdes na cidade, mais aulas que giram em torno da natureza e a execução de design inteligente para cidades mais verdes que integrem os ecossistemas em um design biofílico. Evoluímos por centenas de milhares de anos profundamente integrados em paisagens naturais e em paisagem bem mais selvagem. E nossas mentes, corpos e almas estão interligados com o mundo natural [...], Mas, conforme nos afastamos dela, perdemos a natureza em nós, que é nossa parte humana. Estamos nos tornando desumanos. Estamos nos tornando insensíveis, perdemos a capacidade de ficarmos admirados. Quando somos crianças, ficamos sempre admirados com a natureza. (O COMEÇO... 2020).

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3.3

A PERCEPÇÃO DE UM AMBIENTE DE ACORDO COM A NEUROARQUITETURA Percebemos o ambiente ao nosso redor utilizando os cinco sentidos,

visão, audição, olfato e tato. Erroneamente julgamos o sentido da visão como o mais importante para a percepção do mundo exterior, porém também captamos outras informações como sons, cheiros, texturas, temperaturas e sabores para interpretar um ambiente. Somos muito mais do que nosso cérebro, nós pensamos com o corpo inteiro. Nesse sentido, compreendemos e respondemos ao mundo com o corpo inteiro. Sempre que vivenciamos o mundo, estamos vivenciando a nós mesmos simultaneamente, como o que podemos fazer, e ampliando nossas possibilidades de percepção e ação (Louise T. Chawla, O COMEÇO... 2020). Outro importante fator para a percepção de um ambiente é o tempo de ocupação neste, podendo gerar dois tipos principais de efeitos no nosso organismo: efeitos de curto prazo, mais imediatos e efêmeros, e efeitos de longo prazo, mudanças mais estruturais que demoram mais a acontecer, mas que também persistem por mais tempo (PAIVA e JEDON 2019). Logo, percepção é algo relativo, diferentes fatores podem distinguir como percebemos uma mesma realidade (LOTTO, 2019). O estudo na área de NeuroArquitetura contribui para a melhor compreensão de como diferentes características sensoriais podem afetar as percepções de um determinado ambiente. Esses fatores variam de acordo com as diferenças dos órgãos sensoriais de cada pessoa, podendo fazer com que a mais simples seja realidade percebida de maneira completamente diferente. Depende, por exemplo, se o usuário possuí ou não alguma deficiência e até mesmo da sua idade, idosos possuem maior dificuldade de visualizar algumas informações e crianças ainda não adquiriram muito senso de direção. Extrapolando essa noção básica, até mesmo diferenças culturais afetam diretamente a forma de percepção, um caso disso é que enquanto algumas culturas associam a com preta ao luto, outras associam a cor branca.

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Essas diferenças devem ser compreendidas por arquitetos e designers para que, ao projetarem um determinado ambiente, se utilizem de elementos que tenham maior relevância para seus usuários, facilitando a conexão com o espaço, sua memorização e impacto emocional das experiencias ali vividas (MCCLURE et al, 2004). Os cinco fatores que vinculam a exposição humana a um ambiente e a nossa resposta emocional completa a um local são: as respostas emocionais fundamentais e universais aos estímulos ambientais de todos os seres humanos; as experiencias vividas no locais, respostas a elementos específicos de design; a personalidade individual de cada usuário; e a respostas compartilhadas às experiencias de vida de uma cultura. Um sentido pode influenciar na percepção dos outros. Como descrito em estudos sobre como o som do ambiente pode influenciar na nossa percepção de sabor (Spence et al, 2019), ou como a iluminação pode afetar também a noção de valor de um produto (OBERFIELD et al, 2009). A conclusão desses estudos é que a percepção depende da somatória de informações trazidas por diferentes sentidos. Arquitetos e designers, ao projetar, devem considerar não apenas os aspectos visuais, mas que a atmosfera de um ambiente é gerada pela combinação de todas as informações sensoriais, como cores, texturas, sons, iluminação, cheiros e vivencias pessoais, construindo a experiencia desejada dos usuários em cada ambiente (SPENCE et al, 2014). Humanos e natureza coexistem de forma interdependentes, estar em contato com ela nos ajuda a estar em contato com nós mesmos. Mas natureza não é apenas a encontrada no exterior e sim numa ampla diversidade de ambientes, construídos e não construídos, compostos por elementos naturais (O Começo da Vida 2: Lá Fora, 2020) Não basta criar um projeto esteticamente agradável, é importante entender quais as necessidades específicas dos usuários que o utilizarão e como eles irão perceber esse ambiente, considerando suas diferenças de idades, órgãos sensoriais e memorias culturais. O planejamento das informações sensoriais de forma integrada cria atmosferas completas, que contribuam para as experiencias desejadas no espaço (SPENCE, 2020). 19


3.3.1 A PERCEPÇÃO DE UM AMBIENTE PELO PÚBLICO INFANTIL Ao longo do desenvolvimento, o cérebro humano passa por intensas transformações, a infância é o período mais crítico de desenvolvimento das mais diversas áreas cerebrais (PAIVA e JEDON 2019). Por isso, a vulnerabilidade aos estímulos do espaço ao redor se altera nos diferentes períodos da infância e da adolescência. As lembranças desse período da vida são algumas das mais fortes para a maioria das pessoas. O processo de desenvolvimento transforma o nosso cérebro e o seu funcionamento significativamente com o passar do tempo. Desta forma um mesmo ambiente pode gerar efeitos distintos a jovens, adultos, crianças e idosos. Mais especificamente, o cérebro não se desenvolve de maneira uniforme ao longo da infância ou em indivíduos com condições especiais como deficiência intelectual. Hensch (2004) afirma que a neurociência vem mostrando que durante a infância ocorre diversas “janelas de desenvolvimento” ou “períodos sensíveis” em que diferentes sistemas neurais passam por amadurecimento. Mostrando que o ambiente afeta o indivíduo de formas distintas dependendo da etapa de desenvolvimento em que se encontra. Mesmo assim o cérebro mantém parte de sua capacidade de transformação ao longo de toda a vida. Crianças mais novas por exemplo tem dificuldade de utilizar estratégias de navegação como a seleção de marcos ou mesmo um mapa para navegar em locais não conhecidos, como escolas e hospitais infantis. Estratégias projetuais, como a utilização de diferentes pistas sensoriais que possam ajudar as crianças a se sentirem seguras e a conseguirem navegar com certa independência pelo espaço, podem ser adotadas de forma a facilitar o uso daquele espaço e contribuindo na estimulação e desenvolvimento das habilidades de navegação. Primeiramente, a aplicação da neurociência em ambientes voltados ao público infantil precisa levar em consideração que o desenvolvimento de algumas áreas relacionadas ao processamento sensorial só ocorre se forem recebidos estímulos adequados. Segundo Greenough, Black e Wallace (1987) Determinadas habilidades dependem da experiência para que o cérebro se desenvolva normalmente, principalmente no período pós-natal. Isto é, nós 20


precisamos de alguns estímulos básicos durante determinadas “janelas de sensibilidade” (Hensch, 2004) para garantir o desenvolvimento adequado do cérebro. Logo, necessitamos que ambientes em que as crianças vão passar mais tempo, como a escola e sua casa, por exemplo, sejam ricos em estímulos que contribuam para um desenvolvimento saudável. Estudos nas áreas de arquitetura e NeuroArquitetura sobre como projetar corretamente esses espaços já estão bem fundamentados, porém outros, também destinados a esse público, necessitam de igual atenção. Para se ouvir as crianças em sua linguagem natural, é importante utilizarse de metodologias que criem situações que as levem a se expressar para além da via oral e escrita, por seus meios próprios: pela gestualidade corporal, pela expressão gráfica, pela construção de objetos tridimensionais, pelo brincar. É por meio dessas linguagens que ela mais facilmente comunica sua dimensão simbólica e, portanto, seus afetos e representações. Precisamos compreender que tipo de ambiente é capaz de otimizar a função cognitiva, como aprendizado, memória, emoções, comunicação e inteligência social, em uma criança em desenvolvimento, utilizando a NeuroArquitetura e a biofilia como agentes facilitadores no processo de ensinoaprendizagem. Espaços que oferecem elementos naturais por exemplo trazem inúmeros benefícios para o desenvolvimento integral das crianças e se suas habilidades. Ajuda nos sentimentos de liberdade, autonomia, solidariedade, empatia, humildade e pertencimento. Melhorando a saúde física, emocional e mental. Integrado às primeiras sensações do ser humano, o espaço é o elemento material através do qual a criança experimenta o calor, o frio, a luz, a cor, o som, e, em certa medida, a segurança que nele se sente [...] para a criança existe o espaço-alegria, o espaçomedo, o espaço-proteção, o espaço-mistério, o espaço-descoberta, enfim os espaços da liberdade ou da opressão (LIMA, 1989, p. 13,30) 21


3.3.2 AMBIENTES SOCIAIS CULTURAIS E ESPORTIVOS VOLTADOS PARA O PÚBLICO INFANTIL Os ambientes sociais culturais e esportivos vêm se tornando cada vez mais relevantes, como resposta a necessidade de vivência das crianças fora de casa, que não seja a própria escola. A crescente urbanização e a consequente violência das cidades tornam os espaços externos como ruas e praças locais inseguros para o desenvolvimento livre, reconhecimento e apropriação do espaço. O meio urbano retira a autonomia e liberdade das crianças. Como forma de suprir essa necessidade as famílias buscam outros ambientes, além da escola, que possam oferecer outros meios de vivencia a esse público. Ainda hoje, muitas escolas de educação infantil e fundamental se fundamentam em processos de ensino-aprendizagem centrados apenas do desenvolvimento cognitivo, sem se atentar em oferecer um ambiente com elementos como iluminação e ventilação natural; materiais e vista para a natureza, texturas e cores ricas sensorialmente. Consequentemente deixa as crianças cada vez mais distantes de elementos importantes para o desenvolvimento integral de suas múltiplas potencialidades, seja intelectual, social, emocional e espiritual. Atualmente, grande parte do público infantil também participa de atividades extracurriculares no contraturno escolar, como dança, música e esportes em geral. Os ambientes onde ocorrem essas atividades são tão importantes quanto a escola ou a casa para o desenvolvimento dessas crianças, podendo também ser considerado um local de socialização e desenvolvimento cognitivo. Por isso é tão importante e fundamental que estes ambientes sejam um espaço estratégico de transformação e saber projeta-los da melhor forma pode auxiliar no conforto, qualidade de vida e melhoria na aprendizagem de seus usuários. Como resposta a essa necessidade, principalmente para crianças e jovens em alguma situação de vulnerabilidade, surgem as organizações sociais culturais e esportivas, que oferecem essas atividades de maneira gratuita para a comunidade, mesmo dispondo de espaços físicos sem a melhores condições e, em muitos casos, utilizados de forma improvisada.

22


Outra importante função desses ambientes em que as crianças crescem e se desenvolvem é o apoio a criação de um senso de identidade. É durante essa fase de crescimento, da infância a adolescência, que formamos nosso banco de memórias básicas que influenciarão nosso comportamento ao longo da vida, integrando nosso self-autobiográfico (DAMÁSIO, 2000). Ambientes

projetados

para

esse

público

quando

enriquecidos

sensorialmente ajudam a criar memórias mais fortes, para isso devem ser desafiadores, de forma a estimular não somente a mente, mas também o corpo e, ao mesmo tempo dar a sensação de segurança. Precisamos levar em consideração que as necessidades de um público infantil são diferentes dos adultos, pois a forma de percepção, as emoções e a cognição ainda estão em desenvolvimento, se modificando de acordo com o seu crescimento, crianças de diferentes idades perceberão um mesmo ambiente de maneira distinta. Durante essa fase desenvolvemos nossas habilidades e sentidos, criando um banco de memórias e senso de identidade, tendo a necessidade de crescer não somente em um ambiente seguro e confortável, mas que também intensifique essas mudanças. O modo como espaços construídos são organizados é um fator importante no desenvolvimento cognitivo e na interação entre nós e o ambiente, o ambiente construído tem ligação direta com nossas percepções cerebrais. Nesse sentido, alguns fatores externos como: luminosidade, temperatura, acústica, ventilação e uso de cores, materiais e texturas são importantes elementos na configuração de um ambiente de qualidade, sendo geradores de conforto e saúde. Os estudos da NeuroArquitetura e biofilia podem ser aplicados em diversos tipos de ambientes, dentre eles os sociais culturais e esportivos, que é como se classifica a maioria das atividades extracurriculares. Esses ambientes, assim como o lar e a escola, é onde as crianças passam a maior parte de seu tempo, influenciando-as na intimidade familiar e na educação pois está relacionado às percepções e emoções que envolve o cérebro em formação, sejam elas negativas ou positivas. Os estímulos externos são ainda mais impactantes na primeira infância, onde o desenvolvimento cerebral e crescimento sináptico ocorre de forma acelerada.

23


O uso dos conceitos fundamentais da NeuroArquitetura e da biofilia trás qualidades a estes ambientes voltados para o público infantil, os tornando mais interativos, atraentes, estimulantes e acolhedores, contribuindo para que promovam a relação entre seus usuários e corresponde às necessidades da criança. Esses conceitos arquitetônicos podem determinar as diretrizes que definem qual deve ser a essência espacial dessas organizações sociais culturais e esportivas, por meio de fatores externos citados a seguir, utilizados como elementos de identidade. Gerando assim um ambiente que ofereça a infraestrutura adequada para ser promotor de conforto, segurança e rico didaticamente. o LUZ NATURAL O contato com a luz natural possui um contributivo significativo para a nossa saúde e bem-estar. Pesquisas apontam que salas de aula amplas, com grandes janelas e luz natural produzem maior rendimento acadêmico de seus alunos por exemplo (DETERMAN et al, 2019). O nosso relógio biológico está programado para funcionar de acordo com a luz solar. No início do dia a luz solar é mais fria e por isso de cor branca, o que nos permite estar mais despertos, mais ativos, mais produtivos. Com o fim do dia a luz solar começa a diminuir a sua intensidade, ficando mais quente e por isso com uma cor mais amarelada, nos fazendo relaxar e estimular a produção do hormônio do sono, a melatonina, que nos permitirá ter uma noite de sono descansado e regenerador. A luz natural está diretamente ligada ao aumento de rendimento acadêmico, luz em um nível adequado também é necessário para atividades como leitura e escrita. Quando estamos num ambiente sem luz natural, recorrendo por isso a luz artificial, que normalmente é uma luz branca e fria, não são dados os estímulos necessários ao nosso cérebro para que a melatonina seja produzida com o passar do dia, elevando o stress. o VENTILAÇÃO NATURAL A ventilação natural é outro elemento que traz a natureza para o interior, proporcionando a sensação de conforto necessária a uma boa produtividade. 24


Ambientes com janelas amplas que além de promoverem a luz natural possam abrir e proporcionar ventilação natural do espaço e um fator importante a ser considerado. o PERCEPÇÃO DO CLIMA Associado aos dois fatores anteriores surge um outro elemento: a percepção do clima. É muito importante para o ser humano ter noção das condições climáticas que estão a acontecer no exterior, uma vez que lhe dá sentido de orientação. Ao mesmo tempo que climas adversos devem ser controlados. A alta temperatura e/ou a baixa umidade por exemplo pode tornar incômodo a permanência em salas fechadas. Parte do ano no Distrito Federal é caracterizado pelo tempo seco e quente, todos os anos vemos notícias sobre alunos reclamando sobre a perda de concentração durantes as aulas e passando mal nesses ambientes de muito calor, muitas escolas sem infraestrutura chegam a suspender as aulas de educação física durante esses períodos. A temperatura recomendada pela Anvisa é entre 20°C à 22°C. o VEGETAÇÃO A vegetação é outro elemento que nos remete a natureza de forma direta. Contribuindo para uma redução significativa do stress e melhora da saúde física, comodidade, rendimento e produtividade. A pesquisa mundial realizada pela Human Space (2015) mostra, que a vista para a natureza melhora em 6% a produtividade, 15% a criatividade e 15% a sensação de bem estar no ambiente de trabalho. A natureza pode ser experimentada não somente nas florestas e nos parques naturais, mas também nas cidades, nas escolas, em casa, nos quintais, varandas, praças, ruas, hortas, e até mesmo ao cultivar uma planta em um vaso. O contato com áreas verde fomenta a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento de múltiplas linguagens e a melhora da coordenação psicomotora.

25


Além dessas vantagens diretas para o ser humano o uso da vegetação também contribuí para melhora do ambiente, por meio da purificação do ar, da redução do nível de ruído e do controle da temperatura. o CORES Segundo Mazzilli (2018), a cor é um dos elementos da linguagem visual que mais se destacam nos ambientes infantis. Sua presença confere alegria e funciona como um identificador da dimensão lúdica do espaço. Sua percepção não é absoluta, estando vinculada a fenômenos de ordem psicológica, fisiológica e cultural, podendo ser influenciada também pelo ambiente. O efeito da cor no ambiente escolar deve ser harmonioso e resultar numa gama de meios tons balanceados, mas ainda com vários “aromas” cromáticos. Com o objetivo de estimular o processo de conhecimento e identidade do lugar, proporcionando aos usuários variedade e complexidade cromática suficiente e uma percepção rica e global do ambiente. Segundo Tornquist (2008) a cor nas escolas não tem apenas função decorativa, mas ajuda a regular o comportamento dos alunos, favorecendo a orientação e facilitando a identificação do ambiente. Cores mais extrovertidas podem ser usadas em ambientes de recreio e brincadeiras, ajudando a expor as emoções das crianças e aliviar a tensão. Ambientes com tons claros inspiram uma atmosfera mais calma e tranquila, como salas de aula que exigem maior concentração. Saídas, vestíbulos, corredores e passagens podem ter paredes pintadas com cores distintas, para parecerem mais amplos e excitantes, favorecendo também a orientação, que também pode ser auxiliada por pinturas no piso, criando pistas sensoriais. o

TEXTURAS E FORMAS Para as crianças (sobretudo as menores) poder tocar nos objetos é muito

importante. Sentir texturas e temperaturas por meio do tato é enriquecedor ao seu desenvolvimento. Texturas que remetem a natureza também estimulam positivamente o nosso cérebro. Uma análise simples das estatísticas da imagem visual do mundo natural revela que este está repleto de suavemente contornos curvilíneos variáveis 26


(GEISLER, 2008), como as veias de uma folha ou as ondas do mar. Detectamos esses padrões ao longo da evolução humana e os reproduzimos na arquitetura e no design, como por exemplo na forma de padrões de papel de parede, frisos de cornija, ou montantes radiais (ALBRIGHT, 2015), como forma de representar o meio natural no meio construído. o SONS Para o desenvolvimento sensorial da audição das crianças, é essencial preocupar-se com dois parâmetros complementares em ambientes infantis: a música e o silêncio. Há diversos estudos que comprovam os benefícios da música clássica no desenvolvimento fetal e também durante a primeira infância. Por outro lado, o silêncio é essencial para assegurar maior concentração das crianças. O ideal é buscar um equilíbrio entre o som e sua ausência. Ruídos exagerados podem atrapalhar o aprendizado tornando o ambiente menos confortável. A acústica tem interferência direta na produtividade, locais muito barulhentos, onde os sons reverberam demais, causam desconforto. o CHEIROS Muito se fala sobre a memória olfativa ser a mais forte em nosso campo cerebral. Logo, é importante preocupar-se com os cheiros que se tornarão, no futuro, a memória olfativa das crianças. Ambientes que proporcionem cheiros naturais de plantas por exemplo estimulam o relaxamento e proporcionam o contato direto das crianças com outros seres vivos. o EQUIPAMENTOS Além de todas essas características anteriores também é necessário se atentar como espaços pouco ou mal equipados podem gerar sensações de angústia e ansiedade nas crianças. O mobiliário pode favorecer a interação das crianças com o espaço, quando se apresenta mais próximo de sua escala, sendo um bom instrumento para o desenvolvimento de atividades com maior independência, como lavar as mãos e se sentar à mesa. Ao mesmo tempo que espaços amplos e livres de equipamentos permitem o desenvolvimento de atividades motoras, como correr e saltar. 27


4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 ESTUDO DE CASO – ASSOCIAÇÃO CULTURAL NAMASTÊ Figura 1 – Sala de dança, Associação Cultural Namastê

Fonte: Arquivo da Associação, 2020

A Associação Cultural Namastê desenvolve projetos socioculturais com o objetivo de promover a inclusão através da arte e da educação, por meio da linguagem da dança. A Associação, fundada em 2008 pela psicopedagoga Luciana Vitor, atende pessoas de diferentes idades e deficiências.

Sua

metodologia tem por finalidade estabelecer mecanismos que favoreçam a inclusão social por meio da dança, de modo a ampliar possibilidades de relações e descobertas das potencialidade humanas, promovendo que busquem o respeito à dignidade da pessoa e aceitação da deficiência como parte da diversidade e da condição humana, promovendo ações que possibilitam a paz, a cidadania, os direitos humanos e a ética. Situada na 3ª avenida do Núcleo Bandeirante – DF, em um meio predominantemente residencial, com proximidade a outras instituições educativas e culturais, como a Escola Classe 03 do Núcleo Bandeirante e a Casa da Cultura.

28


A sede da associação se encontra em um lote residencial de esquina, que passou por adaptações para atender ao novo uso, como escola de dança, mas ainda apresenta aspectos negativos como planta baixa compacta, a pouca acessibilidade em suas fachadas e não dispondo de entrada de luz nem de ventilação natural, ou de vista para a natureza. Possui pouca ligação com o exterior, principalmente para a vista do canteiro central arborizado da 3ª avenida. O estudo de caso idealizou como prioridade a análise do ambiente escolhido, de forma a distinguir os pontos positivos e negativos do mesmo. Para a análise crítica foi desenvolvido o quadro abaixo dispondo quais os pontos positivos e negativos encontrados no estudo da edificação, com propostas de possíveis soluções, a partir dos fatores levados em consideração ao criar um ambiente rico didaticamente pela NeuroArquitetura e biofilia. Figura 2 – Fotos da Associação Cultural Namastê

FACHADA LATERAL

SALA DE DANÇA

ENTRADA

SALA DE DANÇA Fonte: Própria, 2020

29


Tabela 1 – Análise crítica

Pontos positivos

Pontos negativos

Como solucionar

Luz e

Por ser uma edificação de

A sala de dança não possuí

Criar aberturas na fachada

ventilação

esquina a fachada lateral

iluminação ou ventilação

lateral, voltada para sudeste,

natural

voltada para sudeste, recebe

natural, sendo necessário o

possibilitando a ventilação e

vento do outono / verão e luz

uso de iluminação artificial

iluminação natural.

matinal

durante as aulas.

Percepção

A cobertura em telha de

Troca das telhas para outras

do clima

fibrocimento torna o

de materiais mais frescos

ambiente mais abafado por

como a cerâmica, com melhor

não permitir a troca de calor

dissipação de calor. Ou a

com o exterior. Tornando o

instalação de uma manta

ambiente mais incomodo.

térmica por baixo do telhado existente, tornando o ambiente menos abafado

Vegetação

Posicionada lateralmente a

A sala de dança não possuí

Criar aberturas na fachada

uma avenida com canteiro

vista livre para nenhum

lateral para se ter uma vista do

arborizado, com árvores de

elemento natural

canteiro arborizado. Criar uma

diversas espécies, dentre

horta acompanhando o

elas frutíferas

passeio de pedestres no exterior com ligação a sala de dança. Utilizar elementos naturais na sala de dança como decoração (flores, bancos e piso de madeira...)

Cor

A instituição faz uso de cores vibrantes deste na sua decoração até nas roupas tipicamente ciganas utilizadas durantes as aulas, estimulando positivamente as crianças e tornando o ambiente mais alegre

Texturas e

A sala de dança possuí piso

Em geral é recomendável a

Formas

cerâmico com recortes e

estúdios de dança pisos

podendo ser escorregadio,

amadeirados (trazendo como

30


Som

por ser um piso frio ele

bônus a textura natural da

também se tona incomodo

madeira) ou em linóleo (um

ao contato direto com os

revestimento emborrachado e

pés descalços, o que

menos deslizante).

dificulta a prática de

Para trazer mais texturas

algumas atividades durante

também pode utilizar móveis

a aula.

em madeira.

Por se localizar em um meio

A sala de dança não possuí

O ambiente interno da sala de

predominantemente

tratamento acústico, sendo

dança deve ser isolado e

residencial, não possuí

um potencial gerador de

tratado de forma a evitar as

ruídos externos em nível

ruído na vizinhança durante

transmissões de ruídos para o

elevado

as aulas.

exterior. Por meio de materiais isolantes como madeira maciça, blocos de cimento, tijolos, mantas de borracha, tapetes espessos, vidros, dentre outros.

Cheiro

O ambiente não possuí

Trazer ao ambiente cheiros

cheiro característico, mas

que se tornarão parte da

está próximo de uma via de

memória olfativa de seus

carros que pode trazer

alunos, preferencialmente

poluição.

naturais, como de plantas em uma horta, estimulando o relaxamento.

Fonte: Própria, 2020

31


Figura 3 – Sala de dança, Associação Cultural Namastê. Propostas de enriquecimento do ambiente utilizando a NeuroArquitetura e a biofilia.

Fonte: Própria, 2020

32


4.2

PROBLEMÁTICAS DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS, CULTURAIS E ESPORTIVAS A Associação Cultural Namastê foi escolhida de forma a representar a

situação atual de grande parte das organizações sociais culturais e esportivas, voltadas a atender o público infantil. A maioria destas organizações não possuem sede própria e encontram como única alternativa a ocupação espaços de forma adaptada para realização de suas atividades. A própria Associação Cultural Namastê, objeto deste estudo de caso, se encontra atualmente em uma área alugada de uso originalmente residencial. O impacto de um projeto social na comunidade, assim como a arquitetura, pode ser mensurado pelo bem estar social e melhoria da qualidade de vida da mesma. Um importante público atendido por estas instituições são crianças e jovens em alguma situação de vulnerabilidade e risco, projetos sociais que trabalham com esportes, artes e educação são essenciais para formação destes como cidadãos, gerando a ideia de inclusão, igualdade e respeito ao próximo, valores que contribuem para formação do caráter. Muitas vezes, esses projetos são as únicas oportunidades que os jovens têm de conhecer preceitos importantes como: cidadania, ética, responsabilidade social, integridade, justiça, respeito, família e crescimento humano. Essas organizações fomentam atividades no contraturno escolar de crianças e adolescentes, que de outra forma não teriam acesso a outras atividades extracurriculares. Porém, a grande maioria destas instituições não oferecem espaço físico adequados para a prática de suas atividades. A arquitetura se mostra preocupada em projetar a melhor forma para atender esses usuários. O uso de diretrizes e conceitos da NeuroArquitetura e da biofilia (como iluminação e ventilação natural, tratamento acústico, uso correto das cores, uso de texturas e elementos naturais, equipamentos adequado para a estatura, dentre outros) são uteis para melhorar o espaço físico dessas organizações, melhorando a qualidade de vida dessas crianças e criando um ambiente rico didaticamente para o seu desenvolvimento. O ambiente, seja ele construído ou natural pode afetar o humor, a produtividade ou o foco, impactando tanto o indivíduo quanto a comunidade. 33


Como sociedade, devemos entender melhor e considerar adequadamente as necessidades das pessoas, que podem variar amplamente, dependendo de diversos fatores como, características físicas e mentais, cultura e idade. É necessário ampliar os requisitos e os atributos do design inclusivo, apoiar todos os tipos de usuários e ajudar a desenvolver seu melhor potencial deve ser uma prioridade para a nossa sociedade. O Objetivo desta análise é demonstrar como o ambiente dessas organizações socioculturais devem oferece espaços propícios a atender às necessidades distintas de seus usuários específicos, utilizando os aspectos encontrados na NeuroArquitetura e na biofilia, visando ajudar a integrar melhor as crianças no ambiente de aprendizagem, para que possam alcançar a independência máxima, um senso de segurança e sua integração mais completa na sociedade.

34


5 CONCLUSÃO Em um mundo de urbanização crescente, criada de forma a retira a autonomia das crianças, espaços projetados especialmente para elas podem proporcionar a oportunidade de um desenvolvimento livre, propiciando o reconhecimento e a apropriação do espaço. Por meio do uso dos conceitos fundamentais da NeuroArquitetura e da biofilia em projetos voltados para o público infantil podemos trazer qualidades a estes ambientes, os tornando mais interativos, atraentes, estimulantes e acolhedores, contribuindo para que promovam a relação entre seus usuários e corresponder às necessidades específicas desta fase da vida. Esse campo de estudo não tem como propósito criar uma receita a ser seguida ou a criação de “ambientes perfeitos”. A eficiência de um ambiente e como ele afeta seus ocupantes depende de diversos fatores externos e pessoais. Os conceitos da NeuroArquitetura e da biofilia auxiliam nas diretrizes que definem qual deve ser a essência espacial dessas organizações esportivas, educacionais e culturais: integração com a comunidade; interação com o meio natural;

iluminação

e

ventilação

natural;

ambientes

acolhedores;

sustentabilidade; materiais, texturas e cores como elementos de identidade. O uso dessas diretrizes e conceitos podem mostrar-se úteis quando se deseja melhorar o espaço físico dessas organizações, que buscam acima de tudo melhorar a qualidade de vida dessas crianças e jovens. Ao apresentar espaços com essas características, podem se tornar fontes de estímulos de aprendizado e desenvolvimento. O sucesso da arquitetura sempre exige que olhemos para o edifício como um todo e não apenas para a soma de suas partes. Esperamos criar consciência de que, para projetar esses ambientes e considerar as necessidades de todos os usuários, arquitetos e designers devem renunciar às suas próprias noções sobre o ambiente construído e estar abertos a outras maneiras de perceber e interagir com o espaço.

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