A trilha de Luiz e Malvina Englert e seus filhos
Renato Mendonรงa
2 Textos e edição: Renato Mendonça Diagramação e projeto gráfico: Carolina Porto Ruwer
Sumário
Sumário..........................................................................................................3 Agradecimentos................................................................................................5 Prefácio...........................................................................................................7 Luiz Englert..................................................................................................13 Hilda............................................................................................................47 Gaston...........................................................................................................63 Irma..............................................................................................................81 Victor............................................................................................................97 Clotilde.......................................................................................................109 Rudi............................................................................................................143 José Carlos...................................................................................................159 Índice Onomástico.......................................................................................179 Apêndice......................................................................................................185
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Agradecimentos Gostaríamos de manifestar nosso agradecimento a pessoas e entidades que nos auxiliaram durante a construção deste livro: André Cezar Zingano (Fundação Luiz Englert), Biblioteca Borges de Medeiros (Assembleia Legislativa do RS), Heinrich Theodor Frank (Museu de Mineralogia e Petrologia Luiz Englert), Hugo Hammes, Luiz Osvaldo Leite, Marcos Pérez (secretaria de Agricultura do RS), Memorial do Legislativo do Rio Grande do Sul e Pastor Manfred Hasenack. Dedicamos este livro In Memoriam a: Cláudio Bins, Frederico Barbosa, José Fernando Luce, Maria Luiza Englert e Telmo Bins. E muito especialmente a Carmen Englert, a Quita, a quem se deve o impulso inicial para “A Trilha de Luiz e Malvina Englert e seus filhos” entrasse nos trilhos. Todas as imagens deste livro são de arquivo da Família Englert, exceto pg.22 (crédito do Memorial do Legislativo do RS), p.25 e p.26 (crédito Fotos Antigas/Família Englert).
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Prefácio
São as raízes que nos movem Quem acredita em coincidências? Depois de 20 anos de jornalismo, posso afirmar que nada acontece por acaso – basta estar de olhos e coração abertos. Uma das comprovações mais eloquentes disso tive na manhã de 28 de agosto de 2011, quando a Família Englert se reuniu para cumprir um pacto feito há mais de 70 anos. O compromisso era simples, mas pleno de significados. Ainda na década de 1940, os filhos de Luiz e Malvina Englert – Gaston, Victor, Lulu, Rodolpho e José Carlos – acordaram de serem enterrados juntos. A decisão perpetuava uma afinidade que se estendia ao campo prático - quando um dos irmãos tinha uma decisão importante para tomar, era imediatamente convocada uma reunião de todos os cinco. Naquela manhã de chuva fina, o acordo estava concluído. No Memorial dos Englert, a comunhão de uma família se completava: Luiz e Malvina repousando juntos de seus cinco filhos homens e ao lado dos pais de Luiz. Mas é importante que se perceba a mensagem além da sóbria laje de granito que sela o memorial. Afinal, do que é feita uma família? Ou melhor, como se sustenta, como se perpetua uma família? No caso da Família Englert, a resposta surge naturalmente. Na missa rezada antes da visita ao Memorial, houve religiosidade, mas também a harmônica de Jorge Englert, e o canto coletivo de uma família, verbalizando os laços que nascem no sangue, mas que têm de ser cultivados na vida. O frei Cláudio Oliveira Jr., que oficiou a celebração eucarística, fez sua parte, apesar da juventude de seus 23 anos de idade. O religioso lembrou a condição de todos nós como peregrinos, como forasteiros na terra, e convocou à leitura das palavras do Senhor. Estava escrito: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.
Talvez não haja maneira melhor de descrever a vida de Luiz, Malvina e sua prole como a busca dedicada pelo que é perfeito aos olhos de Deus, sem hesitar ante a exigência de se transformar, de lutar, de buscar forças em si e na família para esta superação, que é também aprendizagem. Na pequena capela, percebi a grandeza do conceito de família. Estavam ali, à vista, o prazer de rezar e de cantar juntos, a fé incondicional em Cristo e a opção consciente de acreditar e desenvolver a união familiar. Não pude deixar de lembrar de um dos principais protagonistas daquela cena: o tempo. O passar do tempo. O deter-se no tempo. O deter o tempo. Todos ali, e no mundo todo, em qualquer época, vassalos do tempo. Pensei em como contar a história de algumas gerações de uma família com a dos Englert significa um passeio pelo tempo. Um passeio que alterna atrações prazerosas com obstáculos a serem ultrapassados, em que necessariamente se sucedem o riso e a lágrima. Um itinerário do qual ignoramos a parada final e que ensina aos de coração livre que estamos embarcados em uma viagem à qual, no final, só importa o amor que levamos na bagagem. Não é por acaso que a capa de nosso livro traz a imagem de uma estrada de ferro, área da construção civil na qual Luiz Englert foi um dos pioneiros no Brasil. A estrada de ferro é praticamente um sinônimo das tantas histórias que poderão ser conferidas nas páginas seguintes. Estrada que leva em frente, sem medo de enfrentar o desconhecido, de se afirmar como empreendedor. Estrada com sólidos trilhos, que podem ser entendidos como a fé em Cristo e na instituição da família. Estrada que rompe o desconhecido, trilha de quem se entende como um homem ou mulher que busca seu destino. Estrada que pode significar a atitude de quem se dispõe humildemente a servir de base para que outras pessoas sigam suas próprias viagens.
Prefácio
Nosso livro também é como uma estrada. No capítulo dedicado a Hilda, encontramos a narrativa épica de uma mulher empenhada em superar a perda precoce de seu marido, Bruno, que a Gripe Espanhola lhe arrancou apenas quatro anos depois do casamento. Quando se relembra a história de Gaston, é a chance de acompanhar a trajetória que ele seguiu de caixeiro-viajante a deputado mais votado nacionalmente na Constituinte de 1946 e secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul. É a oportunidade de conferir também o enfrentamento corajoso que Gaston e Victor fizeram frente aos apetites totalitários que afloraram durante a II Guerra Mundial. Falando de Victor, vale a pena ler como um homem apenas pode reunir tantas facetas: de goleiro do São José a empresário competente, com uma capacidade de se solidarizar com as pessoas que lhe valeu o apelido simples mas significativo de “o nosso pai”, com que as freiras franciscanas o reconheciam. Histórias como a de Clotilde, a Clotilde de belas mãos e belos sentimentos, ensinam como o amor pelo marido, pelas filhas e pela família pode ser tão grande a ponto de compensar uma vida tão breve. José Carlos encarou uma responsabilidade enorme: a falta de recursos, fez com que a família Englert o escolhesse como o único a concluir um curso superior. E ele fez bonito, como competente advogado, como inspirado poeta e – por que não? – como talentoso jogador de bridge. Lulu, sempre sedento pelas inovações, sejam elas tecnológicas ou de marketing, teve a vida profissional truncada por um dos mais antigos sentimentos da humanidade – a inveja. Mas soube reconstruir o seu
mundo em torno da família. No caso de Rodolpho, saber que ele era conhecido por quase todos como Tio Rudy já indica a afetividade e a confiança que inspirava naqueles com que convivia. Sem falar, claro, na destreza de bailarino do “capitão das polonaises” e na capacidade de aglutinação que ele promovia na colônia alemã, como dirigente da Sociedade União Popular. Irma escreveu uma história baseada na fé cristã e no incansável impulso de participar da vida, seja na forma de atividades benemerentes, seja como professora seja como cidadã atenta ao que se passava no país. O patriarca Luiz sintetiza e inspira todas essas histórias. Foi empreendedor na condição de um dos engenheiros pioneiros na construção de linhas férreas no Brasil. Foi participativo na missão de representante na Assembleia do Rio Grande do Sul, atuando politicamente junto à colônia alemã. Foi corajoso ao cruzar o oceano e buscar a formação superior na Bélgica. Foi amoroso com sua família. Foi intelectual de respeito ao tornar-se um dos maiores mineralogistas de nosso estado, peça fundamental na consolidação do que hoje conhecemos como a UFRGS. Talvez a lição mais significativa que Luiz e Malvina nos legaram, entretanto, vem de um desastre: a destruição completa da casa do casal, no Natal de 1909, devido a um incêndio. Das cinzas da Vila Olga, mesmo comprometidas as finanças familiares, Luiz e Malvina ensinaram que a vida é luta a ser enfrentada sem medo. Depois de assistir à missa, à homenagem frente ao memorial e à reinauguração da herma com o busto de Luiz Englert, honrosamente instalada
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Prefácio
junto ao campus central da UFRGS, na rua batizada com o nome do patriarca, lembrei de duas frases que, cada uma a sua maneira, servem para descrever a importância de se registrar a história dos que vieram antes de nós. A primeira foi escrita por Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão: Veredas” - um mergulho nas veredas da alma brasileira. Ele escreveu: “O que me lembro, tenho”. E não é isso que este livro pretende? Assegurar a quem o lê a posse da memória, que não se resume à revisitação do passado, mas significa autoconhecimento e antecipação do futuro. O outro autor é Jean Cocteau. O romancista, dramaturgo e cineasta francês alinhava-se com a linha surrealista, mas soube fazer a leitura perfeita do
mundo real quando afirmou: “Cada pássaro canta melhor na sua árvore genealógica”. Tomemos a liberdade de explicar o que Cocteau queria dizer: impossível viver, criar, mesmo sentir na árvore da vida sem que se saiba de que são feitas nossas raízes. A manhã de 28 de agosto de 2011 e a proximidade com a fé e a união da Família Englert me serviram para refletir sobre vida, família e destino. Que os que embarcarem na viagem que significa ler este livro ao final compartilhem comigo a certeza de que não há vida fora da solidariedade, do amor, da coragem. Não custa repetir: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos”. Transformemo-nos.
A herma de Luiz Englert em três etapas: na página ao lado, o molde em gesso e a peça em bronze; acima, a peça instalada na Avenida Luiz Englert
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PrefĂĄcio
A herma de Luiz Englert, junto Ă avenida de mesmo nome, ...
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PrefĂĄcio
... foi reinaugurada por sua famĂlia no dia 28 de agosto de 2011
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Descendentes de Luiz Englert
Maria Luiza Brunilde Englert Bruno Alberto Sehl Luiz Adolpho Gaston Englert Maria Hildegard Kroeff Irma Malvina Anna Englert Rodolpho Bins Lino Ignacio Victor Englert Luiz Englert Malvina Englert
Thereza Edith Kroeff Wiltgen Clotilde Maria Paula Englert Vicente Nedel Luiz Maria Nicolau Englert Lucinda Alzira Friederichs Rodolpho Jose Antonio Englert Dolorita Bernd Flach JosĂŠ Carlos Albano Englert Helga Diva Friederichs
Luiz Englert
Uma vontade de ferro Prepare-se para descobrir as vidas de Luiz Englert. No esforço de explicar o uso de vidas no plural, nada melhor que comparar a trajetória de Matheus Aloysio Leopoldo Englert a uma estrada de ferro. Uma ferrovia original e impossível, com estações na sofisticada Europa, mas também nos sertões do Interior gaúcho; uma estrada que atendeu tanto à família quanto à sociedade, e que logrou aproximar a fé e o conhecimento científico sem paradas nem conflitos; uma via por onde Luiz trafegou com naturalidade na condição de filho, engenheiro, pai, industrial, marido, político, amigo e pesquisador. Prepare-se para descobrir vários Luiz Englert, um só homem cujas várias vidas, mesmo contidas pela retidão e pela dureza dos trilhos de ferro, souberam encontrar seu caminho na História do Rio Grande do Sul e na história daqueles que o amam. O problema agora fica com quem tem o desafio de contar-lhe a história. Começar por onde? De qual estação sairá o trem da história de Luiz Englert? Começaremos rindo com as confusões de um sábio distraído que às vezes saía de casa usando meias de pares diferentes? Ou lembrando que Luiz Englert foi um dos mais destacados políticos gaúchos da virada do século 19 para o 20? Ou pela sua façanha de ser o primeiro engenheiro de minas do Rio Grande do Sul? A solução talvez seja encarar a vida de Luiz Englert como uma viagem, que tem seu início na antiga Feitoria Velha, hoje São Leopoldo. Adolpho En-
glert e Maria Luiza Daudt Englert saudaram o nascimento do filho batizando-o como Matheus Aloysio Leopoldo Englert. O filho de Adolpho era neto do imigrante alemão Johann Cornelius Franz Englert e de sua mulher, Katharina Phillippina Klein, originários de Wiesental, uma cidadezinha no sudoeste da Alemanha que hoje em dia conta com singelas 8,5 mil almas. Wiesental, entretanto, na segunda década dos anos 1800, foi ponto de partida para vários alemães que decidiram trocar o presente de privações e guerras na velha Alemanha pelo futuro incerto no Novo Continente, rumo à América do Sul, Estados Unidos e Austrália. A Feitoria Velha é um dos primeiros sítios a abrigar os imigrantes alemães no Rio Grande do Sul. Sua origem está ligada à Real Feitoria do Linho Cânhamo, espécie de empresa estatal que a Coroa portuguesa mantinha para fornecer linho cânhamo, a matéria-prima usada na produção de produtos vitais como velas e cordoamentos de navios. Na província de São Pedro, a Real Feitoria foi fundada em 1783 em Canguçu Velho, no sul do estado, mas a pouca fertilidade do solo fez com que a “estatal” se transferisse em 1788 para a margem direita do Rio do Sinos, onde funcionou até 1824. No início dos anos 1820, a antiga Feitoria se tornou o novo lar, ou ao menos o ponto de passagem, dos imigrantes que vinham especialmente da Alemanha. Adolpho e Maria Luiza, ambos nascidos em São Leopoldo, casaram-se em 10 de novembro de 1860, e o primogênito Luiz Englert chegou logo em
Luiz Englert Na segunda metade do século 19, o Continente de São Pedro experimentava uma situação de ambiguidade. A agricultura vivia um momento de entusiasmo - os produtos agrícolas gaúchos recebiam sua justa valorização, até porque eram indispensáveis para sustentar o estômago da soldadesca que deambulava em armas pelo sul do país movendo as guerras contra o argentino Rosas (1852) e contra o paraguaio Solano Lopez (1864-1870). O Banco da Província e o Theatro São Pedro, ambos fundados em 1858, eram sinais eloquentes de vitalidade econômica e cultural da província que se queria algo mais. Mas a indústria do charque e dos couros vivia mal das pernas, ressentindo-se dos impostos cobrados pela Côrte, cuja impiedade já havia sido um dos principais motivos da Revolução Farroupilha algumas décadas antes. Luiz Englert carregava esse conflito, agravado ainda pelo desafio de iniciar a carreira de engenheiro de minas em uma terra que sequer tinha ouvido falar desse ofício. Em carta a um tio, na Alemanha, o engenheiro recém-formado confessou sua ansiedade (leia abaixo).
seguida, em 29 de agosto de 1861, primeiro dos quatro filhos do casal. Não demorou muito, e o destino impôs um desvio na vida da família Englert, com a morte de Adolpho quando Luiz ainda não tinha completado nove anos de idade. A difícil vida de imigrante tornou-se ainda mais árdua, e o remédio foi uma viagem ao contrário, um retorno ao Velho Continente. Com o apoio da comunidade católica, o promissor adolescente Luiz Englert seguiu para a Bélgica, onde completou seus estudos de grau médio e ingressou na Universidade Católica de Louvain, onde se formou em 12 de março de 1884. O diploma do filho de Adolpho e Maria Luiza estampava o título vistoso de Ingénieurs Des Arts Et Manufactures, Des Génie Civil e Des Mines (que pode ser traduzido como Engenheiro de Artes e Manufaturas dos ramos Civil e de Minas), devidamente avalizado por Manuel Antônio Barcellos, cônsul-geral do Brasil em Bruxelas, e pelo Barão de Cabo Frio, funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Tal formalidade, no entanto, não escondia as dificuldades que aguardavam pelo recém-formado Luiz no Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul.
2 Porto Alegre, 10 de agosto de 1885 Querido tio, Tu talvez já tenhas ouvido falar que eu, há 3 meses, me encontro novamente na minha Pátria. Saí-me muito bem no exame de habilitação e agora me falta o principal: um bom emprego. Talvez na República haja mais trabalho do que aqui – onde todas as pessoas estão empregadas e até encontram boas perspectivas. Se tu, querido tio, achares que no país onde agora te encontras existe mais futuro, por favor, me comunica o mais rapidamente possível. Então eu me convencerei disto. A avó esteve às vezes indisposta, mas felizmente está um pouco melhor agora. Tio Heinrich está com boa saúde e está muito contente com sua fábrica – assim como Daniel. Conforme ouvi dizer, tu e Reinhold fundaram uma fábrica a qual deve proporcionar muito bons negócios, notícia que muito me alegrou. Na esperança de em breve obter uma carta tua, envio saudações de mamãe e Olga para ti e Reinhold. Do teu caro sobrinho,
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Luiz Englert
Os pais de Luiz Englert, Adolfo e Maria Luiza Daudt Englert
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Luiz Englert
Luiz foi o primogĂŞnito de uma famĂlia de quatro filhos
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Luiz Englert no tempo em que estudava na Bélgica A Estação Ferroviária de São Leopoldo veio pré-montada da Inglaterra. É a única no seu gênero no Brasil. É toda de madeira e coberta de zinco pelo lado de fora. Acreditavam os construtores da primeira estrada de ferro que os índios brasileiros iam agir como os peles-vermelhas norte-americanos que rodeavam a galope a estação e atiravam flechas incendiárias. O zinco foi colocado para impedir que a estação fosse incendiada.
O passo à frente na vida de Luiz Englert foi novamente feito de um retorno. Desta vez, a inspiração veio da profissão de seu pai, respeitado ferreiro na região de imigração alemã do Vale do Sinos. Ferro: Luiz Englert seria o jovem engenheiro responsável pela implantação de centenas de quilômetros de estradas de ferro que passaram a cortar o Rio Grande do Sul, unindo o estado. Os primeiros trilhos foram inaugurados em 1874, ligando Porto Alegre e São Leopoldo graças a um empreendimento da conhecida Companhia Brasileira Ltda (não se enganem pelo nome - a razão social completa era The Porto Alegre and New Hamburg Brazilian Railway Company Limited, dirigida pelo inglês Johan Mac Ginity). Uma curiosidade apontada pelo site do Museu do Trem:
Os indígenas do Rio Grande do Sul certamente não eram empecilho. Em 23 de dezembro de 1877, decidiu-se pela construção da ferrovia que uniria a Capital a Uruguaiana, uma obra gigantesca que se estendeu por mais de 700 quilômetros e por 30 anos. Luiz Englert não escondia sua admiração pelo futuro Barão de Mauá, e
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são inegáveis algumas semelhanças entre eles. Irineu Evangelista de Souza (1813-1889) nasceu no município gaúcho de Arroio Grande, ficou órfão ainda criança e construiu carreira como empresário, industrial e político, sendo pioneiro na implantação de ferrovias no Brasil. O Barão pregava também o mínimo intervencionismo do Estado na economia, com as palavras “O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”. Esse ideário, Englert o defenderia em sua vida política ao longo de mais de 20 anos, mas isso é assunto para daqui a pouco. Tão logo retornou ao Brasil, os interesses de Luiz Englert voltaram-se à afirmação profissional e à propaganda republicana. Não se pode dizer que Porto Alegre, então com uma população em torno de 20 mil habitantes, não oferecesse outros interesses. No atual bairro da Cidade Baixa, funcionava uma Arena de Touradas, que recebia também números de circo, de música e de ginástica, grande atração dos domingos. A partir de 1896, a arena serviu para apresentação de cinematógrafos em concorridas sessões à noite. Outro ponto alto do entretenimento da Capital dos gaúchos eram os velódromos, que reuniam os amantes do ciclismo. A vida de Luiz experimentou uma série de transformações no início da década de 1890. Em 1891, ao lado de Alfredo Clemente Pinto e Lacerda de Almeida, Englert foi eleito com o apoio do Centro Católico e assumiu como um dos representantes da Assembleia Constituinte estadual. De acordo com a legislação na época, a eleição não era proporcional - como obteve mais votos, o Partido Republicano Rio-grandense (PRR), liderado com mão de ferro por Júlio de Castilhos, preencheu as 41 vagas da Constituinte. Ao lado de Englert, estavam nomes que despontariam na política rio-grandense, como Protásio Alves, Carlos Barbosa, João Abott e Pinto Bandeira. Englert não escondia sua amizade com Júlio de Castilhos, um líder autocrático que, inspirado pelo ideário positivista, redigiu praticamente sozinho o texto da Constituição gaúcha
de 1891, impondo princípios como a não participação do Estado no ensino médio e superior, liberdade profissional ampla, sem privilégios aos diplomas de grau superior, e a limitação da autonomia da Assembleia dos representantes, restrita à discussão e aprovação do orçamento e de temas tributários. A consulta aos anais da Assembleia Constituinte e da Assembleia de Representantes revelam Englert assumindo uma posição relativamente independente, apesar da férrea disciplina que Júlio de Castilhos impunha ao PRR. A defesa dos interesses dos produtores locais fica clara no ataque que Englert fez em plenário a um acordo firmado entre o governo Deodoro da Fonseca e o governo dos Estados Unidos. O SR. ENGLERT: - Pedi a palavra, sr. Presidente, para mandar à mesa a seguinte moção: “A Assembleia Constituinte do Rio Grande do Sul, considerando prejudicados os interesses agrícolas e industriais deste Estado, com o convênio aduaneiro celebrado pelo governo federal e o governo dos Estados Unidos da América do Norte, em nome do povo rio-grandense pede ao Congresso Nacional a não ratificação do mesmo convênio (assinados) – Englert, Lacerda de Almeida, Alfredo Pinto” A exportação, sr. Presidente, é em todos os países o indicador de sua atividade, da prosperidade e da riqueza. Infelizmente, o Rio Grande do Sul não tem ainda a exportação que devia ter, e as medidas próprias tendentes a aumentar ou desenvolver esta exportação devem merecer toda a atenção e cuidados dos membros desta casa. O convênio que o governo provisório celebrou com a América do Norte prejudica enormemente a nossa indústria e a nossa agricultura. Tanto assim é, sr. Presidente, que produtos nossos, que podiam concorrer com os similares dos Estados Unidos, em breve serão banidos dos mercados brasileiros, matando, por conseguinte, este convênio a nascente indústria do nosso país (aplausos) e tornando inútil e desnecessária a atividade industrial.
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Englert foi destaque do PRR na Constituinte estadual nas a vapor, livros, material para estrada de ferro com redução de 25%, banha natural e artificial, presuntos, manteiga, queijos, carnes, couros, madeiras, obra de madeira, mobílias, seges, etc. Têm entradas livres de direitos nos Estados Unidos os seguintes artigos: açúcar, café, couros, etc. Ontem, o simpático representante da classe operária de Pelotas, sr. S. Lopes, pretendeu que esse convênio é favorável à indústria rio-grandense e hoje o sr. Steenhagen referiu-se à exportação de couros. Neste, como noutros pontos, não vejo que nos favoreçam no convênio norte-americano, porquanto os couros sempre tiveram entrada livre de direitos nos portos dos Estados Unidos. Quanto ao nosso açúcar e café, os Estados Unidos os importam, não por simpatia, mas por forçosa necessidade (Aplausos. Muito bem!)
Em outra sessão da Constituinte, Englert volta à carga contra o danoso acordo com os norte-americanos, trazendo comprovação de suas afirmações: O SR. ENGLERT: - Lastimo, sr. Presidente, que pela segunda vez tenha de ocupar a atenção da casa. Ontem disse que o convênio norte-americano prejudica enormemente a nossa indústria. Sustento-o e vou prová-lo. O convênio aludido deixa entrar no Brasil, livre de direitos, os seguintes artigos: cereais, inclusive milho, farinha de milho, amido de milho, etc., batatas, ervilhas, feijão, palha, carne salgada de porco, toucinho, peixe salgado e seco, óleo, carvão de pedra, piche, terebentina, instrumentos de agricultura, máqui-
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A exportação de produtos para os Estados Unidos, segundo o retrospecto comercial publicado no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, foi o seguinte (lendo): Valor oficial dos artigos exportados (no porto do Rio de Janeiro) no ano de 1888: reis 58.488:132$000. Valor oficial dos artigos importados (no porto do Rio de Janeiro) no ano de 1888: 7.322:077$000. Os dados publicados pelo anuário estatístico de Gotha são os seguintes (lendo): Exportação do Brasil para os Estados Unidos, 1888-1889, 60.404.000 dólares. Importação do Brasil dos Estados Unidos: 9.277.000 dólares. O Brasil exporta, pois, anualmente, cerca de 190.000 contos, importando somente 23.000 contos. Por estes dados, veem os nobres colegas que nós não precisamos dos Estados Unidos, mas, ao contrário, eles é que precisam de nós. Disse eu, sr. Presidente, que este convênio ia matar muitas indústrias que já existem e tornar inútil a iniciativa particular. Todos sabem que a cidade de Chicago é um porto exportador de toucinho e de banha. Para dar-vos ideia de quanto ele é importante, dir-vos-ei que lá matam-se todos os anos cinco milhões de porcos com o peso de seiscentas mil toneladas. O Rio Paraná, que é um dos nossos maiores navios, só em 1300 viagens pode transportar produtos com tal peso. Conheço um industrialista que pretendia estabelecer aqui uma indústria igual, mas espera a não ratificação desse convênio, porque, ratificado, ficará ele na impossibilidade de concorrer com os produtos similares norte-americanos. Tenho dito.
tificar o meu voto e os meus apartes. Seguirei unicamente nestas minhas poucas palavras o meu bom senso e os ditames da minha consciência. Não faço nem farei oposição sistemática ao projeto de Constituição que ora se discute, mas faço oposição a princípios antagônicos com a nossa doutrina. A Constituição de um país livre deve ser o pacto fundamental que respeite os direitos dos cidadãos, garantindo a paz de liberdade e de prosperidade. Bem longe de mim o supor que os autores e defensores deste projeto não tivessem por mira a grandeza e a prosperidade desta grande pátria rio-grandense, mas, a meu ver, foram mal inspirados, querendo por em prática os princípios de uma escola filosófica. Os filósofos, meus senhores, são muito boas pessoas, quando em seus gabinetes tratam de questões científicas, e não quando querem felicitar o público traduzindo na prática as suas teorias filosóficas. Legislar é prever: não é uma ciência, é uma arte. Os autores desse projeto e os defensores dele são inimigos do parlamentarismo, mas eu, entre dois males – o parlamentarismo e a ditadura científica – escolho o menor. Tomou-se como protótipo do parlamentarismo o parlamento inglês, e um dos membros desta casa referiu-se até à maneira por que os ingleses assistem às sessões, mas isto, longe de ridicularizá-los, tem o seu lado prático. Conservando – como os deputados ingleses o fazem – o chapéu de copa alta na cabeça, têm eles o fim de fixar suas ideias concentrando o pensar prático, impedida a procura de felicidades lá onde não existem. Tomáramos nós, sr. Presidente, que o estado do Rio Grande ocupasse entre os estados brasileiros o lugar que a Inglaterra ocupa entre os Estados europeus. Dizem os defensores deste projeto que o presidente do Estado é responsável pelos seus atos. Esta responsabilidade, como eu disse em aparte, é superficial. Vamos explicar: Balmaceda também é responsável pela guerra civil que devasta o Chile, mas nem um milhão de Balmacedas será capaz de enxugar o sangue do povo chileno derramado numa luta fratricida, nem as lágrimas da viúva e do órfão chilenos (Apoiados. Muito bem.) Quando se trata do bem estar, da felicidade, do
A independência de Englert se mostra por inteiro quando ele assume uma posição clara pelo parlamentarismo - cabe lembrar que o regime parlamentar era uma das bandeiras do grupo político que se opunha ao castilhismo, liderado por Gaspar Silveira Martins. O SR. ENGLERT: - Quero, sr. Presidente. Jus-
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futuro do Rio Grande, eu sou pessimista. A mim me parece mais fácil de admitir-se um rio-grandense mau do que a maioria da Assembleia rio-grandense. Dizem também os defensores deste projeto que as municipalidades impedem o mau legislar do presidente. Eu, sr. Presidente, sou o primeiro a dizer que o povo rio-grandense tem os seus brios, mas também tem – como todos os povos – os seus grandes defeitos. Tenho visto, sr. Presidente, neste país ganharem as eleições os partidos que representam o governo. Assim, o partido liberal em situação liberal, o conservador em situação conservadora, o republicano num governo republicano. Não quero ser profeta, tenho bases para crer que todas as leis hão de ser aprovadas pelas municipalidades, se o Intendente municipal for nomeado. Poderia ainda criticar vários pontos do projeto, onde vejo muito nativismo – pouco altruísmo para as minorias – mas não o faço porque creio que a maioria desta casa já tem o seu pensamento a respeito do mesmo projeto. Antes, porém, de sentar-me, tenho um grande dever a cumprir. É pedir aos membros desta casa que votem comigo a emenda apresentada pelo nosso distinto colega sr. Miranda, emenda que indica a eleição do intendente. Aceita esta emenda, poderemos dizer: o Rio Grande tem a paz da liberdade e prosperidade. (Muito bem! Muito bem!)
Julio Moreira, Luiz Englert e Heráclito Americano, e datada de 6 de novembro de 1891. Importante notar que Júlio de Castilhos agia sutilmente desencorajando manifestações mais fortes contra Deodoro. O texto da moção, entretanto, não deixa dúvidas: “A Assembleia dos Representantes do Estado do Rio Grande do Sul, estranhando o ato inconstitucional pelo qual o general Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso Nacional e deu poderes constituintes ao novo Congresso, que convocou, protesta contra semelhante violência e apela para os Congressos dos outros Estados, convidando-os a fazerem o mesmo.” A posição antimilitarista e a favor do setor da produção também valeu a Englert assumir uma posição diversa de seus companheiros do PRR. Em 16 de fevereiro de 1892, ele terçou falas com o representante Adolpho de Alencastro ao propor a redução das verbas destinadas à Brigada Militar. O que ocorria, na época, era uma militarização progressiva do estado gaúcho, já antecipando o sangrento confronto da Revolução Federalista, que se iniciaria no ano seguinte. LUIZ ENGLERT: - Sr. Presidente, pedi a palavra para justificar em singelas explicações uma emenda que eu e meu distinto colega e amigo sr. Tenente-coronel Kroeff [pai de Hildegard, que depois casou com Gaston, filho de Luiz Englert. Kroeff e Luiz chegaram a criar o Partido Católico de Centro, formado logo após a proclamação da República e de curta duração] temos a honra de enviar à mesa. Refere-se ela à verba que vamos votar para a Brigada Militar. Entendo que deve-se reduzir essa verba para a mesma ser empregada na diminuição das taxas de exportação, assim como para a abolição do imposto sobre o gado abatido para consumo. Diz a emenda: Fica reduzida a verba da Brigada Militar a 500 contos de réis, sendo empregado o saldo de 800 contos para compensar a diminuição das taxas de exportação e também para a abolição do imposto sobre o gado abatido para consumo. Vou explicar por quê:
Na culminância de uma crise política que persistia desde a proclamação da República, opondo militares, que defendiam um governo centralizado, e civis, que exigiam a volta das forças armadas para os quartéis e um governo federalizado, Deodoro da Fonseca dissolveu o congresso em 3 de novembro de 1891. Júlio de Castilhos assumiu uma posição dúbia, o que acabou lhe custando o governo logo em seguida, mas Englert e alguns colegas foram claros, como se pode conferir nos anais, quando Alvaro Baptista submeteu à Assembleia uma moção censurando o presidente da República. A moção foi assinada por Marçal Pereira de Escobar, Alvaro Batista, Francisco Miranda, Alfredo Clemente Pinto,
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Parece-me, sr. Presidente, que o estado do Rio Grande do Sul marcha na vanguarda da República, e por isso devemos ser os primeiros a pedir essa redução... UM SR. DEPUTADO: - Devemos pedir mais. O ORADOR: - ... para ser uma realidade o princípio republicano que não quer exércitos permanentes. Prefiro, sr. Presidente, que o governo se firme em intenções puras, do que sobre as baionetas. O SR. ADOLPHO DE ALENCASTRO: Peço a palavra. O ORADOR: - Estamos em paz, o orçamento que discutimos é de paz, não precisamos de maior número de soldados, e, se estamos em guerra, não necessitamos do orçamento; eu estou pronto a dar ao Governo do Estado verba para manter a ordem, mas não quero ver incluída no orçamento verba tão grande para manter uma brigada militar com caráter permanente. O SR. A. ALENCASTRO: - O nobre deputado não sabe que estamos em paz (Apartes) O ORADOR: - Eu estou pronto a votar pela verba do orçamento, se V. Excia me declarar que a brigada militar vem garantir a paz. O SR. A. ALENCASTRO: - Não a posso garantir com 100 homens; garanto somente a paz aqui na Capital. O ORADOR: - Devo declarar que não sou oposicionista ao governo, nem à maioria desta casa; enviando esta emenda à mesa, cumpro unicamente um dever, dever manifestado como republicano e rio-grandense.
blica, diariamente ameaçada pelos nossos desleais adversários que não trepidaram em ir ao estrangeiro armar o braço mercenário. Para exterminar o nosso Partido e, com ele, a República. O SR. ENGLERT: - Mas já não temos o exército federal? (…) O SR. A. ALENCASTRO: - O meu nobre colega se mostra sempre infenso à força armada, entretanto não tem razão para isso, pois o nosso exército, que é força da paz, tem se colocado sempre ao lado das causas justas e patrióticas, das causas nobres, das causas da Pátria (Apoiados. Muito bem); e quem se der ao trabalho de consultar toda a história de sua existência, há de forçosamente ter a prova do que venho de afirmar. UM SR. DEPUTADO: - Como já tem feito. O SR. ALENCASTRO: - O meu nobre colega, o sr. Englert, que nunca vi de arma ao ombro, nem espada à cinta, defendendo a República, diz que o governo deve apoiar-se na opinião. Mas, sr. Presidente, quando é que o legendário governo republicano deixou de estar apoiado na opinião sensata e esclarecida do povo? (…) O SR. ENGLERT: - O governo deve chamar a si as simpatias das classes produtoras e não da força armada (Apartes) O SR. ALENCASTRO: - O nobre deputado sabe, tanto ou mais do que eu, que a situação do Rio Grande é gravíssima; que o inimigo está ameaçando invadir as nossas fronteiras e que é urgente e imprescindível esmagá-lo, e para isso precisamos não só da força armada estadual, como ainda do concurso de todos os bons patriotas. O SR. ENGLERT: - Se eu marchar para lá, V. Excia vota pela minha emenda? [em 1893, Englert foi nomeado tenente-coronel da Guarda Nacional, mas não há registro de que tenha participado de combates.] O SR. ALENCASTRO: - Estou convencido, sr. Presidente, que os únicos deputados que votam por esta emenda são os que a subscrevem. O SR. LARA ULRICH: A Alemanha tem se mantido com a força armada. O SR. ENGLERT: - E o socialismo que lá existe?
A discussão ganha força, opondo especialmente Englert e Alencastro O SR. A. ALENCASTRO: - Admiro-me, sr Presidente, que o nobre deputado [referindo-se ao dr. Englert], que é um dos mais ilustres representantes do partido republicano e que deve estar a par da situação em que se encontra o Rio Grande do Sul, e das enormes dificuldades contra as quais luta o honrado e patriótico governo do Estado, venha apresentar uma emenda que reduz a brigada militar do Estado a um único corpo, quando os quatro que ela se compõe, são, atualmente, insuficientes à manutenção da ordem pú-
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O SR. PINTO DA ROCHA: - Mas aqui não há socialismo, o que há é o gasparismo e o cassalismo. (Apoiados e apartes)
pel timbrado do Gabinete do Governador com a observação de “reservado”, datada de 19 de dezembro de 1896:
A proximidade com Júlio de Castilhos pode ser confirmada com a leitura de uma carta assinada pelo próprio presidente da Província, convocando Englert a intervir na política local de Santa Cruz do Sul, fazendo valer seu trânsito e influência junto à comunidade católica. Confira o teor da missiva datada de 28 de setembro de 1896, timbrada pelo gabinete do governo do Estado e com a observação de “reservada”:
Amigo Dr. Englert: Perguntei para a Estrela como irão conosco nos católicos na eleição, sabendo que ali devia efetuar-se a dois ou três dias uma reunião para entrarem eles em acordo com os republicanos. Tive esta resposta urgente e reservada: “Pouca esperança temos nos auxiliem, malgrado pelo compromisso tomado por algumas influências. [ilegível]” Peço-vos que faleis quanto antes ao padre Trappe no sentido do vigário da Estrela prestar-nos os serviços que puder, aconselhando a votar nos candidatos do governo, pois, não tendo os católicos elementos para eleger o seu candidato, ficarão com a derrota deste colocados em crítica situação junto ao governo, que os não terá mais por amigos. O momento é de sacrifícios e de atividade. Peço, portanto, vossa ação pronta e eficaz. Poupemos aos católicos uma futura posição insustentável. Do vosso amigo Aurélio de Bittencourt
Ilustre amigo Sr. Dr. Luiz Englert: Aproximando-se a eleição municipal de Santa Cruz, designada para o dia 9 de outubro vindouro, e constando-me terem surgido divergências e dificuldades, uma das quais é a apresentação de candidato contrário ao do partido republicano, pedi ao capitão Chachá Pereira para transportar-se àquela localidade com o fim de promover um acordo que impeça ganho de causa ao candidato hostil Carlos Trein. [Acabou vencendo o candidato republicano Galvão Costa.] Seria, porém, da maior vantagem, que também fosseis à referida vila, onde o vosso autorizado conselho e influência são de imenso valor no seio do mencionado elemento católico, que [ilegível] não seja iludido com as cantilenas de adversários confessos da situação política do Rio Grande. Se acederes ao desejo que vos manifesto podereis embarcar amanhã à noite com o capitão Chachá, em cuja dedicação e patriotismo confio tanto como nos nossos. Aguardo resposta que, na minha ausência, farei chegar ao meu oficial de gabinete. Sou com distinto apreço Vosso amigo e colaborador
A colaboração de Englert à causa republicana também se dava na forma pecuniária. Em carta datada de 12 de novembro de 1898 e assinada pelos dois pesos-pesados do partido Republicano Rio-grandense - Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros -, o engenheiro e empresário é instado a colaborar com 50 mil réis para a manutenção do jornal Gazeta da Tarde, arauto das causas castilhistas. Os ânimos exaltados na tribuna e na lide política não impediram Luiz Englert de cuidar de sua vida sentimental. Em 18 de agosto de 1892, na Igreja São José, de Porto Alegre, Luiz casou-se com Malvina Carolina Issler, filha de Julius Issler, natural de Birkenfeld, Alemanha, e de Carolina Johanna Scheck, nascida em São Leopoldo. A noiva de Luiz, terceira de nove filhos, foi batizada como Malvina, mesmo nome do veleiro que trouxe Julius para o Brasil. Luiz Englert e Malvina iniciariam sua própria viagem, permanecendo casados por mais de 40 anos.
Júlio de Castilhos Aurélio de Bittencourt, braço direito de Júlio de Castilhos e de seu sucessor político, Borges de Medeiros, pediu a colaboração de Englert no “enquadramento” de Estrela, conforme se pode verificar na carta que reproduzimos a seguir, em pa-
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Em 1891, Englert e os outros constituintes se reuniam na Assembleia Provincial al Voluntários da Pátria) e atingindo a estonteante marca de 1 milhão de garrafas vendidas no ano de 1898. Apesar da concorrência — no final do século 19, funcionavam mais de 20 cervejarias em Porto Alegre —, Christoffel construiu a fama de sua cerveja esmerando-se nos ingredientes, importando cevada de Hamburgo e lúpulo da Baviera. Entre as principais marcas estavam a Lager Bier, a Export, a Culmbacher e a Sogra (sim, esse nome mesmo, uma cerveja forte o suficiente para fazer jus a seu nome). Um dos principais responsáveis pela qualidade e pela competitividade das cervejas Christoffel era Englert, que, em agosto de 1891, iniciou uma inédita campanha de lançamento de ações para uma companhia que fabricaria cerveja pelo método frigorífico. A proximidade de Luiz Englert com os Christoffel não se dava apenas nos escritórios e nas
O casal teve os filhos Maria Luisa Brunhilde (Hilda) (1/6/1893 – 9/6/1953), Luiz Adolfo Gaston (Gaston) (2/3/1895 – 8/11/1965), Irma Malvina Anna (Irma) (2/3/1895 – 3/3/1972), Lino Ignacio Victor (Victor) (23/9/1898 – 20/6/1993), Clotilde Maria Paula (Clotilde) (9/2/1902 – 6/2/1938), Luiz Maria Nicolau (Luiz) (6/12/1905 – 27/5/1983), Rodolpho José Antônio (Rodolpho) (16/03/1908 – 04/08/1999) e José Carlos Albano (José Carlos) (19/2/1911 – 18/12/1988). Englert colocou seu talento de engenheiro no ramo da cerveja, uma das atividades econômicas mais concorridas no final do século 19, tornando-se químico industrial e em seguida diretor da Cervejaria Christoffel. A fábrica de cerveja foi fundada em 1864 por Friederich Christoffel, chegando a ocupar um prédio na Avenida Cristóvão Colombo e um depósito no Caminho Novo (atu-
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Malvina Carolina Issler Englert: sozinha e com com os gêmeos Gaston e Irma guiu ontem o sr. Edmundo Bastian, com sua exma família, devendo seguir no dia 22 o sr. Frederico Christoffel e o dr. Luiz Englert e, no dia 27, o dr. Carlos Wallau, todos com suas famílias, Seguirão também, em carretas, os srs Carlos Daudt, Luiz Voelcker, Augusto Raether, Jorge Petersen e Leopoldo Bastian.
oficinas da cervejaria. O casal Englert, mais Olga, irmã de Luiz, e os sete primeiros filhos moravam na chamada Vila Olga, uma ampla casa dotada de amplo jardim e de cancha de tênis onde hoje começa a Rua Mostardeiro. Vizinha à Vila Olga, erguia-se também imponente a Vila Christoffel, residência de Alberto Bins. A proximidade certamente facilitou o casamento de Irma e Rodolpho, irmão de Alberto Bins, mas isso é assunto para alguns capítulos adiante. O destaque na sociedade local e a inserção na comunidade, especialmente de ascendência germânica, pode ser atestada pela participação ativa na Sociedade Germânia, na Sogipa, na Blitz e na Regatas-Guaíba Porto Alegre, e ainda por uma notícia veiculada no Correio do Povo de 17 de fevereiro de 1904: Nota-se, este ano, muita animação para a praia de Cidreira. Pela diligência daquela linha se-
No início do século, Luiz Englert exibia forte atuação na Assembleia de Representantes, ocupando com frequência lugar na Comissão de Orçamento. E mantinha sua verve afiada na defesa da economia do Estado, como se pode ver na disputa a seguir, registrada em 27 de outubro de 1905, opondo-o a Vasco Bandeira, que defendia a anistia fiscal ao instituto musical de Soler. O SR. LUIZ ENGLERT: Sr. Presidente. Pedi a apalavra para agradecer ao ilustre colega dr. Vas-
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co Bandeira as referências feitas à fábrica [Cervejaria Christoffel] de que sou diretor e para justificar meu voto contrário ao parecer que releva do pagamento do imposto o Instituto Soler. Não conheço seu diretor; entendo que quem ganha dinheiro deve pagar o imposto correspondente. Não se trata de institutos musicais e escolas de belas artes com seus fins definidos, para isentá-los do imposto. O caso é referente a só um instituto e a lei não deve tratar de uma só pessoa. Deve abranger o geral. Sou, por isso, contrário ao parecer. O SR. VASCO BANDEIRA: - Sr. Presidente, o parecer elaborado pela comissão de petições e reclamações não precisaria maior justificativa do que os argumentos exarados nos considerandos que precederam a resolução; Instituto único no seu gênero nesta capital... O SR. ENGLERT: Tem certeza ou consta? O SR. VASCO BANDEIRA: - Por mim é o único conhecido aqui; se sabe o colega da existência de outro, deve informar à Assembleia. Existem, sim, vários professores de música nesta capital que percorrem as casas particulares ensinando piano e outros instrumentos e não pagam imposto; o sr. Soler, porque colocou uma tabuleta na frente de seu edifício, foi lotado. O SR. ENGLERT: - Pois eu não tenho tabuleta na frente da fábrica de que sou diretor e pago imposto... O SR. VASCO BANDEIRA: - Não se pode comparar um estabelecimento com o Instituto Soler. Que em troca de lições de música recebe uma remuneração razoável a um estabelecimento comercial ou industrial como a fábrica de cerveja Christoffel, por exemplo, que já deu três fortunas a seus antigos proprietários e está dando a quarta. (…)
dente, por julgar que este imposto virá ferir injustamente as indústrias rio-grandenses. Voto contra porque entendo que este imposto não coibirá os malefícios da devastação das matas. Para justificar o meu voto, vou recorrer a alguns dados que me são fornecidos pela física industrial e a climatologia. Depois de considerar conceitos como capacidade calorífica da lenha e do carvão, de comparar o carvão gaúcho com o europeu, e de citar a relação consumo lenha/carvão em vários países, Englert conclui estimando quanto de mata teria de ser derrubada para garantir lenha ao Rio Grande do Sul. O SR. LUIZ ENGLERT: - A superfície necessária será, pois, de 120.000.000 de metros quadrados ou um quadrado com cerca de 11.000 metros de lado: 120 quilômetros quadrados são suficientes para fornecer de lenha todo o Rio Grande. Temos uma superfície de 250.000 quilômetros quadrados. Calculando somente 5% de matos - o que corresponde a um país pobre de matas -, teremos 12.500 quilômetros de matos, reservando-se um por cento destas matas para o combustível lenha, não se poderá falar em devastação produzida pelas indústrias se o corte e o replantio forem convenientemente executados. (…) Aqui em Porto Alegre, o carvão nacional de má qualidade vale 20$000 e o seu equivalente e, lenha – dois mil quilos – 12$000. É evidente que o industrial queimará lenha. Se o nobre deputado e relator da comissão de orçamento fosse industrial... O SR. JOÃO VESPÚCIO: - Se eu fosse industrial colocaria os interesses do Estado acima dos interesses industriais. O SR. LUIZ ENGLERT: - E fecharia a fábrica para fazer versos debaixo das árvores. O Natal de 1909 trouxe um presente indesejável à Família Englert - a Vila Olga foi completamente destruída por um incêndio, que se suspeita tenha sido causado por uma fagulha que teria partido da hidráulica instalada próxima da residência [onde hoje funciona a Hidráulica do Moinhos de Vento]. O sinistro interferiu forte-
A questão da utilização da lenha como fonte de energia, e o decorrente impacto ambiental, encontrou esclarecimento na capacidade técnica e no fino e devastador senso de humor de Englert durante sessão realizada em 9 de novembro de 1905: O SR. LUIZ ENGLERT: - Voto contra o imposto de 1$000 por metro cúbico de lenha, sr. Presi-
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Imagem da Villa Olga em 1909, mesmo ano em que foi destruĂda por um incĂŞndio
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A Cervejaria Christoffel (E) e a Vila Christoffel (abaixo) fizeram parte da vida dos Englert
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Irma, José Carlos, Malvina, Rudi, Lulu, Clotilde e Hilda reunidos em 1913 ado, a 20 de março, Professor da Escola de Engenharia, então recentemente criada, passando a exercer a Cátedra de Botânica, Geologia e Petrografia e, mais tarde, também de Química. Foi ainda professor destas disciplinas no Instituto Borges de Medeiros, Escola de Agronomia, Instituto Montaury e Ginásio Anchieta. Isso marcou o início da carreira acadêmica de Luiz Englert, selando seu passaporte como um dos patriarcas da então Universidade de Porto Alegre (que em 1947 seria chamada de Universidade do Rio Grande do Sul, e em 1950 seria rebatizada como Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Em junho de 1926, passou a lecionar no Instituto de Química Industrial, para onde foi transferido o Gabinete de Mineralogia e Geologia, assumindo a chefia. No primeiro exame vestibular para o curso de Químicos Industriais, coube a Luiz o papel de examinador de Química, Geologia e Mineralogia. Englert foi ain-
mente na estabilidade financeira da família Englert - a menina Clotilde, por exemplo, teve de ser abrigada pelas Irmãs Franciscanas, que mantinham na época uma pequena escola a algumas dezenas de metros da Vila Olga, o Colégio Bom Conselho. O fogo incendiou ainda a maledicência de alguns, que acusaram Luiz Englert de ter provocado o desastre para usufruir de um seguro. Para que não restasse nenhum óbice a sua conduta, Luiz reconstruiu sua vida sem descontar o seguro, malgrado o prejuízo que isto significou. O ano de 1909, entretanto, tinha reservado um golpe ainda mais forte: em 31 de julho, morria em São Leopoldo Maria Luisa, mãe de Luiz, que desempenhava um papel importante na administração e na aplicação das economias da família Englert. 1909 trouxe, porém, o vislumbre do que seria a realização definitiva de Luiz Englert. Neste ano tão cheio de acontecimentos decisivos, ele foi nome-
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da membro vitalício do Conselho Universitário. Sua coleção de minerais e suas anotações, posteriormente doadas à Universidade, eram ponto de parada obrigatório para qualquer pesquisador que se interessasse pela geologia e pela mineralogia do Rio Grande do Sul. Algumas cartas provam o prestígio de Englert como pesquisador e profissional. Dada a sua especialidade em Geologia e Petrografia, o então intendente de Porto Alegre, Octávio Rocha, em 1926 e 1927, solicitou a ele exames sobre a utilização do carvão para fabricação de gás. Em outra carta, datada de 31 de março de 1926, contestando carta que acompanhava amostras de pedras empregadas no calçamento da cidade, Octávio Rocha escreveu “Vou inteirar-me de vosso estudo na certeza pela vossa grande competência de que foi o assunto francamente esgotado”. Seus alunos, embora reconhecendo a vastidão do conhecimento do mestre, apontavam como outra de suas qualidades o humor sempre de prontidão. É de Luiz Englert a frase que advoga a busca incansável pela perfeição: “Merece nota 10 o livro, nota 9 o professor, e nota 8 o aluno”. Em 25 de fevereiro de 1914, Luiz Englert foi nomeado Delegado Regional de Seguros da 6ª Circunscrição. Além disso, desempenhava papel vital intermediando conflitos que envolviam a comunidade alemã no Rio Grande do Sul durante a I Guerra Mundial (1914 — 1918). Incansável, colocava também sua militância católica a serviço da Comunidade de São José e, mais tarde, da Igreja dos Passos. Durante 23 anos fez parte da Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa, exercendo vários cargos até vice-provedor, falecendo no exercício interino da Provedoria. Englert está ligado ainda aos primórdios do futebol no Rio Grande do Sul. Em 1903, logo após a passagem por Porto Alegre do Sport Club Rio Grande, um grupo de ciclistas da Sociedade Radfahrer Verein Blitz resolveu trocar as bicicletas pela bola de futebol e criar o Fussball Club Porto Alegre no mesmo dia em que o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense tam-
Malvina e Luiz Englert cercados pelos
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netos durante a festa de 70 anos do patriarca. TambĂŠm na foto, Olga, irmĂŁ de Luiz
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bém era fundado - 15 de setembro de 1903. E quem viabilizou a primeira sede do pioneiro Fussball? A honra é de Luiz Englert, que doou ao clube um terreno situado na atual Dr. Timóteo, ao lado do velódromo da Sociedade Blitz. O Fussball funcionou até 1944. Englert seguiu sempre, compenetrado e firme como uma estrada de ferro, na realização de suas várias vidas, desdobrando-se como marido, pai, irmão, político, católico, cidadão, acadêmico, pensador. Se conseguiu ou não, isso fica claro ao lermos duas poesias, extraídas das tradicionais Horas
de Arte da Família Englert. Na primeira delas, criada na comemoração dos 25 anos de casamento de Luiz e Malvina, no dia 17 de agosto de 1917, netos e filhos exprimem que, se as bodas são de prata, a presença de casal vale ouro para a família. A longa poesia leva o nome de “Recordações de Família”: A morte de Luiz Englert, ocorrida em 9 de dezembro de 1931, teve impacto no Estado. No dia seguinte ao passamento do ilustre gaúcho, um jornal da Capital gaúcha descreveu a comoção:
2 Recordações de Família 1 — Gatte und Gattin Zwei Augen blicken mit milder Macht Sich immer traulich zu. Des Tags schläft keins; in dunkler Nacht Zwingt nur die Mühe zur Ruh.
1 – Esposo e Esposa Dois olhos com suave força Amorosamente sempre se fitam Durante o dia não dormem; na escura noite Somente com a fadiga descansam.
Zwei Augen leuchten mit sanfter Glut Gleich hell bei Freud un Leid. Sie führen sich sicher, ob hoch die Flut Ob glatt die See ringsweit.
Dois olhos brilham com delicado ardor Igualmente iluminados na alegria ou na dor Se conduzem com confiança Na alta ou baixa maré.
Denn zwischen ihnen im Busen schlug Ein Herz, das gern vergass; Wie sie die Opfer mutig trug, Wo er ihr Treue Mass.
Dentro deles no peito bate Um coração que gentilmente esquece Os sacrifícios que com coragem suportou E onde a fidelidade sempre reinou.
2 — Gattenfreude Verglühte im Westen der müde Tag Nach schwerer rauher Fahrt Entrang der Brust sich bitter Klag’, Strich er den dichten Barth! Dann bot sie ihm den Augenstern Und froh entklang’s der Brust: O Seele, harre! harr’ des Herrn. Er segnet den Verlust.
2 - Alegria de Marido Desaparecia no poente o fatigado dia Após rude e difícil jornada Saiu do peito amarga queixa Ele coçou sua espessa barba. Então, ela lhe ofereceu o estrelado olhar E alegre sussurrou a seu peito Ó alma; aguarda, aguarda o Senhor Ele abençoa a dor!
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Nach Tagen lag im Mutterschoss Ein Röslein knospenvoll. Sie blickte den Vater in’s Auge gross. Und ihm eine Träne entquoll.
Após alguns dias repousava no colo da mãe Um botão de rosa Que seu intenso olhar no seu pai fixou E uma lágrima lhe aflorou.
3 — Die Jüngsten Dort sitzen drei Finken und flöten Sich lustig ihr Konzert, Am Morgen, am Abend, ohn’ Nöten So lang die Jugend fährt.
3 - Os jovens Lá estão sentados três jovens Que contentes com a flauta fazem seu concerto Pela manhã, à tarde, sem preocupações Enquanto a juventude passa.
Sie ritzen und Spitzen die Zungen, Wie Got es ihnen gab, Gab’ Gott! Es enttöne den Lungen Harmonisch bis zum Grab.
Eles rolam e afiam a língua Ao Deus dará Queira Deus que seus pulmões entoem Harmoniosamente até o final.
Taktfrei sie solfeggieren So ganz nach Lust und Herz Ensemble doch sekundieren Sie sich Oktav und Terz.
Sem cadência eles solfejam Segundo sua vontade e coração No conjunto se sucedem As oitavas e terças.
Das gibt dann Merlodien In Lenz und Sommernacht, Inzwischen die Blumen glühen Wo Gottes Sonne lacht.
Acontecem então as melodias Nas noites da primavera e verão Entretanto as flores brilham Onde sorri o sol do Senhor.
4 — Der Kleinste Wie’s Vöglein auf dem Baume Hinauf zum Himmelsraume Vergnügt uns selig blickt: So seh’ ich alltag gerne In meiner Mutter Sterne Und weiss mich reich beglückt.
4 - O mais moço Assim como o passarinho na árvore Olha contente e feliz ao alto o firmamento Eu vejo em minha mãe estrelas E me sinto muito gratificado.
Wie’s Vöglein früh am Morgen Sich pfeift so ohne Sorgen; Sein Liedchen durch den Wald: So ruf ich: Mutter grüsse! Ich liebe dich, herzsüsse, O bleib mir Heim und Halt!
Assim como o passarinho cedo pela manhã Entoa sem preocupação Seu canto pelo mato, Assim eu clamo: Mãe, te saúdo! Eu te amo, querida, Me acolhe e protege!
Wie’s Vöglein denn gesellig, Ganz lieb und dienstgefällig Mit andern singt und springt, Umwogt vom Sonnenscheine Im duftig frischen Haine
Assim como o passarinho em convívio Amoroso e serviçal Com outros canta e pula Envolto pelos raios de sol No perfumado fresco bosque
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Von Ast zu Ast sich schwingt! So spring ich unverdrossen Mit andern Spielgenossen Gern über den Wiesengraben; Ich spiel auf allen Wegen, Denn meiner tut noch pflegen Die Mutter wohlgetan.
De galho em galho se lança; Assim eu pulo descontraído Com outros companheiros Com prazer pelos vales; Eu brinco de qualquer maneira Pois sob tutela da mãe ainda estou.
5 — Die älteste Tochter Am Ufer sass ich noch allein, Und blickte hinau zum Schloss. Das Bächlein floss, der Mond ergoss Manch blassen Strahl hinein. Viel Sterne spiegelten im Fluss Zwei grüssten augenhell. Vorüber schnell rauscht Well um Well’War das nicht Gruss und Kuss?
5 - A irmã primogênita Eu estava sentada na margem, ainda só, E olhava ao alto para o castelo. O arroio fluía, a lua nele derramava Um pálido raio de luz. Muitas estrelas se espelhavam no regato Duas cruzavam seu claro olhar. Por cima rapidamente onda com onda borbulham – Isto não foi saudação e beijo?
Er sann und trank vom kühlsten Wein Mit lieblichen Bouquet. – “Wenn ich sie hätte! An dieser Stätte “Senkt’ einen Trunk ich ein.”
Ele meditou e tomou do mais especial vinho Com agradável “Bouquet” – “Se eu a tivesse!” nessa circunstância “Eu tomaria um trago.”
Und eine Perle untersank. “Mir dünkt, mein Glück nicht säumt.” Das Bächlein schäumt! “Wie mir schon träumt Von Händedruck und Dank!” Ein Mägdlein aus den Wellen stieg, Die Perle in ihrer Hand, Mich Namens nannt, jetzt vor mir stan… “Mein Schatz!” ein Wort – ein Sieg!
E uma pérola afundou. “Me parece, minha sorte não demora.” O arroio borbulha! “Como eu já sonho Com aperto de mão e agradecimento!” Uma donzela surge das ondas A pérola em sua mão, Meu nome pronunciou, na minha frente se colocou... “Meu tesouro!” – uma palavra – uma vitória!
6 — Jubeltag Am Strande einst einsam Ich fürbass ging, Das Steinchen zu suchen Für meinen Ring. Da sprach ein Jüngling Mich herzhaft an, Als ob er wüsste, Worauf ich sann.
6 - Dia de Jubileu Certa vez, solitária, Eu caminhava na praia A procurar a pedrinha Para o meu anel. Então um jovem Resoluto me abordou Como se ele soubesse O que eu cogitava.
“Was blickst du, Schöne In Wasser und Sand. “Zur Mitgift geb ich
“O que fitas, bela, Na água e na areia? Como dádiva te dou
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Dir Haupt und Hand. –“ “Und ich mein Herze Ganz true wie Gold.-“ Wir fasten die Hände Und blieben uns hold.
A cabeça e a mão.” “E eu meu coração Seguro como o ouro” Nos demos as mãos E nos afeiçoamos.
Ich zog ihm ein Gärtchen Recht muttergut Er schlug den Amboss Und schürte die Glut.
Eu lhe cultivei um jardim Com muita dedicação. Ele bateu na bigorna E atiçou a paixão.
Manch Knospe knickte, Sie blühte nicht. Viel Hoffnung verglomm Trotz Lenz und Licht.
Algum botão rachou E não desabrochou Muita esperança foi desaparecendo Apesar da primavera e da luz.
“Doch Treugeliebte! Verzage nicht. Heut prangt die Sonne, Und Glück in Sicht,
“Mas, bem amada, Não desanimes. Hoje brilha o sol, A felicidade está à vista,
Du suchtest am Strand einst. Ich küsste dich hold. Noch glänzt dir im Ringe Dein bestes Gold.”
Tu certa vez a procuravas na praia. Eu te beijo afetuosamente. Ainda brilha no teu anel Teu mais valioso ouro.”
2 Foram expressivas as homenagens prestadas, na manhã de ontem, à memória do dr. Luiz Englert, por ocasião do sepultamento desse conhecido mineralogista e político rio-grandense. Desde a hora de seu trespasse, dezenas e dezenas de pessoas de todas as classes sociais compareceram à câmara mortuária a fim de velar o seu corpo e externar seu grande pesar à família enlutada. Isso veio demonstrar como o dr. Luiz Englert, não só pelo seu saber, pelo amor à sua terra natal, pelo seu interesse à educação de nossa juventude, soubera se tornar merecedor de tão grande estima. Eram mais de 9 1/2 horas, quando o esquife saiu da casa mortuária, à rua Garibaldi n.
1035, acompanhado por um número incalculável de pessoas. Entre estas, viam-se altas autoridades federais, estaduais e municipais, médicos, advogados, engenheiros comerciantes e industrialistas. A mesa administrativa da Santa Casa de Misericórdia, tendo à frente o seu provedor, dr. Luiz Blessmann, recebeu o corpo de seu vice-provedor à porta do templo São José, situado á rua Senhor dos Passos. As cerimônias de encomendação foram celebradas pelo exmo. sr. arcebispo d. João Becker e estiveram tocantes e solenes. Terminada essa cerimônia, organizou-se extenso préstito de automóveis que seguiu o auto fúnebre até o cemitério.
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Englert liderando seus alunos do curso de Engenharia de Minas em visita
Legenda Legenda Legenda Legenda Legenda...
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No ano de 1926, o severo professor Englert integrando excursĂŁo com alunos
... legenda Legenda Legenda Legenda Legenda
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Em 1922, Englert estava na comissão que inspecionou as obras da Igreja São José dezembro de 1965, a partir da iniciativa de um grupo de professores do curso de Engenharia de Minas da UFRGS, para atuar junto às entidades privadas e aos órgãos oficiais que se dedicam à mineração e atividades afins e abrigar o Museu de Mineralogia e Petrologia Luiz Englert. O que diria Luiz Englert sobre essas tantas homenagens? Talvez, fazendo jus ao título que está gravado em bronze sob seu busto, qualificando-o como “sábio rio-grandense”, o filho de Adolpho e Maria Luiza respondesse que a vida - ou as vidas - de um homem não são medidas em ferro, em bronze, em honrarias ou títulos. Um homem se mede pela qualidade da memória que dele fica entre os que o amam e respeitam. E Luiz Englert deve ter se considerado mais que recompensado quando, no dia 29 de
Por meio de comissões, fizeram-se representar todos os departamentos da Escola de Engenharia, Centro Republicano Julio de Castilhos e outras corporações das quais o extinto fazia parte. Em todos os institutos da Escola de Engenharia foi hasteada a bandeira em funeral, o mesmo se dando na Santa Casa. As homenagens seguiriam em 7 de agosto de 1934, quando a Estação Parada Araújo, na cidade de Sertão, foi rebatizada como Estação Luiz Englert. E ganharam a dureza do bronze em 9 de dezembro de 1939, quando inaugurou-se uma herma com o busto de Luiz Englert junto ao quarteirão universitário e foi batizada a Avenida Luiz Englert. E se reforçaram com a criação da Fundação Luiz Englert, em 27 de
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Luiz Englert participando de programa de luxo nos anos 20: andar de bonde herdeiros mirins se esforçaram por demonstrar. O maior espetáculo para o engenheiro certamente foi a confirmação de que sua vida tinha seguido até uma estação segura e feliz, contando com alicerces e estruturas reforçadas o suficiente para enfrentar os temporais que a vida reserva a todos nós. Um espetáculo estrelado por ele, Malvina, seus filhos e seus netos. Depois de tanto já escrito, talvez as vidas de Luiz Englert ganhem a sua tradução mais fiel nos versos escritos pelos seus filhos celebrando os 70 anos do patriarca, que reproduzimos abaixo. E é quase possível ver o sorriso de Luiz Englert por trás da barba ao constatar que sua viagem seguiria eternamente na figura e no amor de seus descendentes. E que ele certamente agradeceu a Deus.
agosto de 1931, por ocasião de seu 70º aniversário, alguns meses antes de falecer, ele se tornou a inspiração para mais uma animada Hora de Arte dos Englert. A programação incluía um discurso oficial a cargo de Jorge Englert, um teatro estrelado por oito netos, uma poesia declamada por Werner Bins, canto nas vozes de Jorge, Luiz Adolfo e Paulo, uma pequena encenação com Werner e Helga nos papéis de Grosspapa e Grossmama, um prólogo lido por Ellen Sehl, um recital de música erudita interpretada por Lulu, Rudi e José Carlos, e a história infantil “Die 10 Kleinen Negerlein” sendo encenada por 10 netos (ainda bem que a Família Englert é numerosa, senão isso seria impossível). O principal espetáculo para Luiz, entretanto, não foi a arte ingênua e divertida que seus
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Luiz Englert com as filhas Hilda, Irma e Clotilde (acima)
A famĂlia Englert reunida (Ă direita)
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Acima, Malvina com os filhos Rodolpho, JosĂŠ Carlos, Gaston, Victor e Lulu (sentido horĂĄrio)
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Guter Vater! (Bom Pai!) Zu diesem grossen Festtag heute Siehst du viele Leute Die Gattin, die Schwester, die Kinder Und die Verwandten nicht minder Die Enkeln so froelich da Denn Geburtztag hat der Grosspapa Darum trete ich als Benjamin So ganz bescheiden auch for dich hin Und bringe dir n’kleine Gabe Das Einzigste was ich habe.
Neste dia de grande festa Vês reunidas muitas pessoas: A esposa, a irmã, os filhos E também teus parentes, E os netos muito contentes Aqui se encontram Para teu aniversário festejar, Por isto chego a tua presença Te brindo com um pequeno presente O único que posso te dar.
Vor siebzig Jahren kamst du zur Welt Die Taschen ganz leer und ohne Geld Das war ja immer so mal Gebrauch Und die andern tuen es ja auch
Há 70 anos vieste ao mundo, Bolsos vazios e sem dinheiro Como costuma acontecer Com todos os outros ao nascer.
Mit sieben Jahren gingst in die Schul Musstest feste sitzen auf dem Stuhl Fingst an zu lernen, zu studieren Floete spielen, und musizieren Das alles lerntes du mit viel Fleiss Und noch vieles mehr was man nicht weiss Mit zwanzig Jahre warst du Student Da passier’n Sachen die man schon kennt Karten spielen und Kneipe sitzen Bier zu trinken bei guten Witzen Dies alles hat nichtz zu sagen Man muss es eben nur vertragen Nachdem du Engenieur geworden Belasteten dich viele Sorgen Du fand’st die Welt so oede und leer Du warst allein und spuertest es sehr Wie du dann sahst deine Malvine Wurdest so wild wie eine Biene Du liebtest sie dann auf einem mal Und sagtest ihrs am Lanternenpfahl Bald darauf gabs Hochzeit oh wie schoen Schade das wir’s nicht mitangesehn Nach wenig Zeit kamen die Kinder Und die Zahl war garnicht minder Alles hast du muehsam durchgemacht Und wie oft hast du uns in der Nacht Rumgetragen auf deinem Schoose
Com sete anos foste à escola Num banco ficavas sentado Começaste a aprender, a estudar Tocar flauta e musicar Tudo isto aprendeste com muita aplicação E muitas outras coisas que não sabemos, não. Com 20 anos foste estudante Quando aconteceram coisas que a gente bem sabe: Jogar cartas e frequentar tabernas Tomar cerveja com divertidas conversas Isto nada quer dizer Temos que apenas entender. Depois engenheiro te tornaste Muitas preocupações apareceram Achaste o mundo vazio e despovoado Sentias-te só e abandonado. Então tua Malvina encontraste E logo assanhado ficaste Amaste-a, e isto lhe disseste de vez, O casamento aconteceu com rapidez. Pouco tempo depois vieram os filhos Cujo número não foi modesto. Tudo com coragem enfrentaste E seguidamente à noite No teu colo nos carregaste. E por nossas fraldas trocar
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Reingemacht die dreckige Hose Oft musstest du uns trockenlegen Und wurdest dabei nicht verlegen Ueberall ist es ja so mal Brauch Und in der Biebel steht es ja auch Denn Vater werden ist garnicht schwer Doch Vater zu sein dagegen sehr
Ou nossas calças limpar Não costumavas te embaraçar, Pois isto da tua vida fazia parte, Pois na Bíblia escrito está: Tornar-se pai é fácil Ser pai, ao contrário, é difícil.
Als deine Kinder groesser waren Dachtest du jetzt kann man wohl sparen Das war aber nicht der Fall oh weh! Sie alle fanden dein Portmonne Sie pumpten dich an bald hier bald dort Von Tag zu Tag gings in einem fort Immer hattest du viele Sorgen Bis wir alle dann grossgeworden
Quando teus filhos cresceram Achaste que poderias começar a poupar, Mas não era isto que acontecia: Todos os dias, aqui e ali, Com tantas necessidades O dinheiro desaparecia. E tu te preocupavas muito Até que teus filhos se tornaram adultos.
Vater! Wie soll ich es nur sagen Alles was du fuer uns ertragen Die Arbei die Sorgen und noch mehr Wie oft wohl war die so manches schwer Der Kinder dank soll dich begleiten
Pai, como posso te dizer? Tudo por nós fizeste Trabalho, dificuldades, preocupações E por tudo mais que passaste Teus filhos querem AGRADECER.
Helga e Werner caracterizados como os avós nos 70 anos de Luiz Englert
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Inauguração da herma, em 9 de dezembro de 1939, reuniu grande público
Os inspiradores da família: Malvina e Luiz em fotografia do ano de 1931
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Hilda
Receita de vida da guerreira Quando batizaram sua primogênita com o nome de Maria Luiza Brunhilde, Luiz e Malvina certamente estavam prestando reverência a um costume da época, homenageando a avó paterna do bebê, Maria Luiza. O resto do nome, entretanto, encerrava não somente uma homenagem, mas uma premonição: Brunhilde denomina uma das principais Valquírias da tradição germano-escandinava, a venerada filha do deus Odin e guardiã do Valhala, cuja coragem e determinação é associada à figura de uma Guerreira. Não há imagem melhor para descrever Hilda. Desde que nasceu, a 1º de junho de 1893, em Porto Alegre, ela cumpriu sua vocação de guerreira, amparando-se na família e na fé cristã para enfrentar os tantos desafios que a vida lhe impôs. Primeiro, Hilda assumiu com decisão sua condição de primogênita e ajudou na criação dos irmãos: a saúde de Malvina era frágil e inconstante, insuficiente para dar conta sozinha das exigências de oito filhos — não esquecer o desafio que deve ter sido a chegada dos gêmeos Gaston e Irma logo em seguida a Hilda... Por vocação e por necessidade, a Guerreira logo assumiu um papel de frente na criação dos irmãos, o que lhe prejudicou a possibilidade de avançar nos estudos, mas seguramente a ajudou a desenvolver uma notável capacidade de administrar os problemas domésticos. As responsabilidades se manifestaram no corpo e no espírito de Hilda, que cultivava a sobriedade nas roupas e nos gestos, economizando su-
as palavras da mesma forma como economizava os mil réis, tão importantes para uma família tão grande como a dos Englert. Mas energia e o entusiasmo também estavam lá, emoldurados por um olhar vivaz, por uma determinação evidente. Hilda guardava sua eloquência para situações mais íntimas, como quando trocava ideias sobre o mundo com a irmã Irma, imaginando por certo como e quando viria o seu Siegrified. Como de hábito, o amor se manifestou associando almas complementares. O Siegrified de Brunhilde respondia pelo nome de Bruno Sehl e era um dos expoentes da juventude de origem alemã que frequentava as festas da Comunidade de São José, flanando pelos salões da exuberante sede em estilo neo-clássico alemão que o Clube Germânia mantinha na rua Dr. Flores (depredado e queimado pela turba em 16 de abril de 1917, quando o Brasil rompeu relações com a Alemanha). O jovem Bruno, filho de Mathias Jacob Sehl e Guilhermina Otilia Eichenberg, nascido em 30 de janeiro de 1889, na Capital gaúcha, era um dos diretores da prestigiada Casa Pimenta, destino certo para quem estava em busca de ferramentas e ferragens. A Brunhilde e o Siegrified rio-grandenses não podiam ser mais diversos em espírito e em estilo: ela era católica fervorosa, contida e disciplinada, enquanto ele era expansivo, ansioso por viver, comunicativo. Bruno exibia um humor irreverente: por exemplo, gabava-se de usar um alfinete escondido na fatiota para conferir se as moças portavam
Hilda
A babá de Hilda se chamva Eva, descendente de escravos que falava alemão
As irmãs Hilda e Irma reunidas em imagem feita no anos de 1901
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