Vôlei
em Montenegro uma história de paixão e glórias
Vôlei em Montenegro uma história de paixão e glórias
Edição, textos e pesquisa: Cláudia Coutinho Pesquisa de apoio: Alisson Coelho e Elaine Lerner Preparação de texto: Alisson Coelho Fotografia da capa e reproduções fotográficas: Daniel Nunes Projeto gráfico e design: Carolina Porto Ruwer Revisão: Press Revisão Impressão e acabamento: Gráfica Palotti
Patrocínio
Projeto cultural
Realização
Cláudia Coutinho
Vôlei em Montenegro uma história de paixão e glórias
Porto Alegre, RS 2017
Em 1980, o Riograndense já era visto como uma equipe perigosa e com possibilidades de lutar pelo título. Na foto, de pé, da esquerda para direita, Celso Orth, Armando Dutra, Cilon Orth, Eloi Heinz, Alexandre, Dirceu, Fernando, Túlio, Américo e Leomar; agachados, Cristiano Heinz, Jorginho, Marcelo Dutra, Marco Antônio Heinz, José Streb e Gerson.
Prefácio
Quando a Cláudia Coutinho me convidou para estar nesta página, vibrei com a mesma emoção que vi a Frangosul vencer a Pirelli, por 3 sets a 2, em Santo André, num jogo que invadiu a madrugada e que levou o time gaúcho à sua primeira final de Liga Nacional. Tive logo a certeza que só o fato de ler antecipadamente esta obra me emocionaria. Reviver momentos e lembrar amigos. Mas Vôlei em Montenegro nos traz muito mais do que recordações e intensidade. É o retrato do crescimento do vôlei brasileiro, seus saltos e seus tombos, ataques e bloqueios, “viagens” e saques táticos, visto do ponto de vista de uma cidade gaúcha e seus empreendedores. Podemos chamá-los de visionários. Ou de malucos. E talvez neste país inconstante, as duas características sejam necessárias para quem quer empreender, para quem quer fazer. Em dezenas de viagens que fiz, acompanhando a Frangosul país afora, ouvi muitas histórias do vôlei em Montenegro. Desde os tempos do lendário Clube Riograndense, os clássicos contra a Sogipa e o União e a rivalidade Montenegro-Novo Hamburgo. De um período de aventuras à fase madura, de conquistas e enorme repercussão. Em jantares, esperas em aeroportos e saguões de hotel ou mesmo no ônibus indo para o treinamento, tinha prazer em escutar de Cilon Orth, Adriano Oliveira e Paulo Tremea um pedaço desta história, agora narrada com ainda mais riqueza pela Claudinha, como a conhecem todos aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com a detalhista autora em uma redação.
Mais do que narrar vitórias, este livro fala de sacrifícios. De como é preciso ter coragem para investir no esporte. De como é preciso ter coragem para ensinar algo novo neste país. De como é preciso ter coragem para treinar, treinar e treinar e nem sempre alcançar o resultado imediatamente. Este livro anda de mãos dadas com a emoção de empreender, de quebrar paradigmas, de fazer o novo. E, mais do que vencer, de contagiar pessoas, de contagiar uma comunidade e de mostrar que o esporte é o caminho eficaz para uma sociedade saudável. O vôlei já estava no DNA de Montenegro. O Riograndense fez despertar este código genético, forte o suficiente para conviver com o amadorismo da época. A empolgação persistiu e recebeu de braços abertos o profissionalismo, ancorado pela marca Frangosul, com um projeto exitoso e eficaz, liderado por pessoas competentes, e que jamais perdeu a essência – a paixão pelo vôlei. Montenegro faz parte da história do vôlei brasileiro. Leiam. Emocionem-se. E descubram por quê.
Leonardo Meneghetti Jornalista, ex-setorista de vôlei no jornal Zero Hora e atualmente Gestor do Grupo Bandeirantes
Mensagens
Competência A equipe de vôlei da Associação Atlética Frangosul, depois Frangosul/Ginástica, foi, sem sombra de dúvida, um dos maiores representantes do vôlei do Rio Grande do Sul e elevou o nome deste estado com conquistas marcantes na história do vôlei brasileiro e internacional. A Frangosul foi fundadora da Liga Nacional, tendo participado da primeira Liga Nacional 1988/1989, obtendo o sexto lugar e dando início a participações bem representativas. Em 1990/91, foi vice-campeã e, com essa colocação, veio a participar do Sul-Americano e do Mundial de Clubes, no Brasil, que teve uma das sedes em Porto Alegre. A Frangosul/Ginástica foi a primeira campeã da Superliga, criada em 1994/1995. Nesta trajetória, sempre à frente de todas as ações, tivemos a competência de Adriano Oliveira e dos técnicos Cilon Orth e Jorge Schmidt, em suas respectivas épocas, e equipes formadas por atletas excelentes. Destaco alguns que participaram da seleção brasileira e foram medalhistas olímpicos: Paulão, Carlão, André Heller, Gilson, Jaílton, Max, entre outros. José Roberto Miranda Perillier – Peri Gerente-Geral de Integração Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
Maestria Falar sobre o vôlei de Montenegro é lembrar a importância desta modalidade no cenário estadual e nacional. Montenegro escreveu com maestria uma boa parte da história do vôlei gaúcho. A relevância vai desde a participação em JIRGS – Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul –, nos campeonatos estaduais das categorias de base e do adulto masculino até a vitoriosa equipe da Frangosul, que se sagrou campeã da Superliga. Parabéns a todos os personagens que exerceram as funções de dirigentes, técnicos e atletas, que souberam, com sua garra e determinação, traduzir em resultados toda a paixão a este esporte. A Federação Gaúcha de Vôlei sente-se honrada por tudo que Montenegro representou e representa para nossa modalidade. Parabenizamos a ideia deste livro, que registra em suas páginas a união de esforços de um grupo de pessoas engajadas e comprometidas em transformar sonhos em realidade e exemplos de vida. Carlos Alberto Cimino Presidente da Federação Gaúcha de Vôlei
Agradecimentos
Naquele 18 de junho de 2016, um dia bem característico de inverno, com muita neblina pela manhã, frio e ameaça de chuva, tive a grata oportunidade de participar de um dos encontros da turma do vôlei masculino do Riograndense. Mais do que a possibilidade de escutar dos protagonistas as histórias de paixão e glórias, aproveitei a chance de vivenciar o troféu mais valioso que todos conquistaram a partir da união que construíram dentro da quadra: a amizade. Após o almoço, e durante boa parte da tarde, em uma das salas do Clube Riograndense, decorada com camisetas de diferentes épocas, medalhas, troféus, recortes de jornais e fotos, ouvi muitas recordações, dei boas risadas e, assim como todos que ali estavam, reverenciei o Professor Cilon Orth. A todos que estiveram naquela tarde – nem todos aparecem na foto da página ao lado –, meu muito obrigada. Sem este encontro, talvez o saque necessário para colocar esta edição em andamento não teria sido dado e, possivelmente, o entendimento de que todas as conquistas do vôlei de Montenegro tiveram como ponto de partida o amor pelo que se faz viria fragmentado. A autora
Na fileira acima, da esquerda para direita, José Streb, Fred, Carlinhos Roese e Peixoto; ao centro, Carlos Becker, Adriano Oliveira, Fernando Oliveira, Cilon Orth, Túlio Soares, Celso Orth, Bidico e Roberto Cardona Filho; e, agachados, Gerson Müller, Irineu Marques e Jeff Orth.
Apresentação
A ideia de escrever um livro que contasse a trajetória do vôlei em Montenegro, que mostrou toda a sua garra com a conquista do bicampeonato estadual em 1981/82, ultrapassou fronteiras ao levantar o vice-campeonato da Liga Nacional, o vice Sul-Americano e se classificar entre os quatro melhores do Mundial de Clubes em 1991; e novamente fazer história ao vencer a primeira edição da Superliga em 1994/95, é antiga. Veio a público quando o Professor Cilon Orth recebeu merecida homenagem ao dar seu nome ao ginásio do Clube Riograndense, em 2004. E voltou a ganhar força em 2014, quando o jornalista Leandro Utzig comandou um talk-show na sede do clube com alguns dos personagens desta longa caminhada. Por isso, quando o Adriano Oliveira me chamou para uma reunião com o objetivo de apresentar um projeto que concretizasse o sonho do livro, fiquei muito, muito feliz, mas ciente do enorme desafio que teria pela frente. Recuperar parte dessa história sobre o vôlei do Riograndense e, na sequência, da Frangosul e, depois, da Frangosul/Ginástica foi também um reencontro com a minha trajetória profissional como jornalista esportiva, iniciada em 1982 no jornal Zero Hora, justamente no ano em que o time do Cilon comemorou o bi gaúcho. Acompanhei de muito perto a transição do esporte amador para o profissional e também o surgimento, seguido da consolidação, do marketing esportivo no Brasil. No caso de Montenegro, a marca que conquistou espaço nas quadras, nos corações de muitos torcedores
e na mídia, indo além da Região Metropolitana de Porto Alegre, foi a da Frangosul. Já como assessora de imprensa da Frangosul/ Ginástica, muito me emocionei com a conquista do primeiro título gaúcho na Superliga. Para escrever Vôlei em Montenegro: uma história de paixão e glórias, além de reviver minhas memórias e desengavetar anotações, tive o apoio incondicional do Adriano Oliveira, Fernando Oliveira, Gerson Müller, Leomar Hommerding, Túlio Soares e Carmen Langaro e o suporte dos colegas Alisson Coelho, Elaine Lerner e Marco Vencato para realizar algumas das pesquisas, sem falar na competência da designer Carol Ruwer e do fotógrafo Daniel Nunes. Contei também com a generosidade de muitos personagens presentes neste livro que, comigo, dividiram suas lembranças. Foram 22 entrevistas, totalizando quase 20 horas de gravação, além de pesquisas em recortes de jornais e revistas, guardados em pastas ou caixas de camisas, e também as realizadas no Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, no Arquivo de Jornais Correio do Povo, na Biblioteca Pública Municipal Hélio Alves de Oliveira (Montenegro), no Museu de Comunicação Hipólito José da Costa e no Centro de Documentação e Informação de Zero Hora. Este livro não tem o compromisso de ser a versão oficial da história do vôlei em Montenegro, tampouco de respeitar cronologicamente todos os fatos e registrar todos os acontecimentos. Reflete uma memória coletiva, mas com a pretensão de ser um resgate de
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importante capítulo do esporte gaúcho e brasileiro. E, desde já, me desculpo por algum equívoco em datas, nomes, resultados de jogos ou até mesmo na exatidão dos fatos. Nem sempre encontrei documentos oficiais para tirar a prova de tudo que me foi relatado. A trajetória do vôlei em Montenegro não deixa de refletir muito das histórias vitoriosas do esporte do nosso país, que não o futebol. A determinação e a paixão de um técnico se transformaram na energia necessária para encarar desafios, vencer obstáculos, formar campeões e levantar títulos, até então imaginados possíveis somente em sonhos. No Riograndense, os irmãos Cilon e Celso Orth contagiaram outras famílias com sua resiliência e paixão e escreveram um capítulo que merece os aplausos de todos nós. Vôlei em Montenegro: uma história de paixão e glórias é, para mim, também uma reverência aos técnicos, atletas e gestores de todos os Esportes com quem tive a oportunidade de conviver nestes mais de 35 anos de jornalismo e que conquistaram o meu respeito. É ainda uma saudação a meus colegas jornalistas, que, com muito empenho, fizeram da nossa profissão uma missão encantadora. Esses estão representados pelo Leonardo Meneghetti, que, generosamente, aceitou o convite para escrever o prefácio desta publicação, e por todos que aqui deixaram seus depoimentos sobre a trajetória do vôlei em Montenegro, do Riograndense à Frangosul/Ginástica. Por fim, sinto que toda esta história de paixão e conquistas aqui destacada não tenha deixado um legado à altura, nem nas quadras escolares, nem nos ginásios de Montenegro, cidade que foi palco de tantas glórias. Não vai aqui nenhuma pretensão, mas o respeito a tudo o que foi feito e conquistado: quem sabe essas memórias não poderão servir de exemplo e estímulo a outros protagonistas? Cláudia Coutinho
Sumário
Prefácio 6
Mensagens 8
Agradecimentos 10
Apresentação 12
Influência alemã
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Legado americano
27
Orth como sobrenome
37
Dos pátios para as quadras
49
Título histórico
63
Profissionalismo em quadra
81
Uma questão de marca
103
Vice no Brasil, quarto no mundo
113
Conquista do título inédito
127
Depoimentos de jornalistas
145
Referências 161
Vista aĂŠrea da Rua Ramiro Barcelos, em Montenegro, nos anos 1960
Influência alemã
Ibi a, escrito assim mesmo, sem acento, significa caminho entre pedras na língua dos índios Ibiraiaras, os primeiros habitantes da região onde Montenegro surgiu e se transformou em cenário para histórias de muitos personagens que ali nasceram ou passaram, deixando suas marcas. Nesse local, se construiria uma história de conquistas a partir das quadras de vôlei, sob o emblema do Riograndense e, depois, da marca Frangosul.
Os difíceis caminhos traçados pelos indígenas e, mais tarde, desbravados por tropeiros portugueses e espanhóis abriram portas para colonizadores do além-mar que, por necessidade, mas também de forma generosa, compartilharam seus sonhos e suas culturas, incluindo a prática esportiva. Eram meados do século XVII. E o vôlei nem existia. As terras de Ibia, entre os Campos de Cima da Serra e o Rio Jacuí, e que se estendiam entre as bacias do Taquari e do Caí, eram férteis e atraíram os desbravadores europeus. Já os índios, explorados para diferentes trabalhos, acabaram expulsos ou dizimados da região. Os primeiros portugueses se instalaram à margem direita do Caí nas décadas de 1730 e 1740. A primeira casa do povoamento, a Casa de Pedras, edificada por José de Araújo Vilela, pertenceu à sua filha, Leonarda Maria de Araújo, e o marido, Estevão José de Simas. A morada estava localizada na área próxima onde hoje se encontra a Escola Estadual de Ensino Médio Delfina Dias Ferraz. É dessa época que, pela primeira vez, apareceu a denominação Faxinal de São João, sendo que faxinal significa campo de pastagem ou lugar de vegetação baixa. O primeiro loteamento, no entanto, foi atribuído a uma das filhas do casal, Bernardina, e ao marido, Tristão José Fagundes. O local ganhou o nome de Passo das Laranjeiras. Passo é o lugar destinado ao transporte de pessoas de uma margem à outra em função de uma corrente de água. O empreendimento iniciado pelo casal é a atual Rua Dr. Flores, já chamada de Rua da Praia. Mais adiante, o Passo tornou-se Porto das Laranjeiras. Era 1824 quando os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul. O pequeno grupo de 39 desbravadores veio no navio de nome Anna Louise e foi levado para a Real Feitoria do Linho Cânhamo, mais tarde conhecida como Colônia Alemã de São Leopoldo. A privilegiada posição geográfica, à beira do Rio dos Sinos, fez com que o desafio da colonização fosse vencido com sucesso. Em alguns anos, regiões mais distantes, porém próximas, como o Vale do Caí, do Taquari e do Jacuí, também foram conquistadas.
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A presença alemã se intensificou na região a partir de 1857, anos antes de ser criada a Freguesia de São João do Montenegro. Ainda no final do século XIX, foram os imigrantes italianos que aportaram no Rio Grande do Sul. As famílias francesas chegaram no início do século seguinte. Essa mistura de diferentes culturas segue presente no cotidiano da cidade, especialmente em manifestações como os grupos de Terno de Reis, tipicamente açorianos, e os kerbs, eventos que resgatam e difundem aspectos culturais germânicos.
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Os imigrantes alemães trouxeram consigo a prática de formar sociedades, culturais, esportivas ou religiosas, a fim de se reunir nos momentos de lazer. Na Alemanha, ainda antes da Revolução de 1848, era comum a criação dos clubes de ginástica, não apenas para realizar o turner (a prática da ginástica), mas, principalmente, para discutir ideias políticas, já que partidos políticos estavam proibidos. No Brasil, a primeira associação desse tipo que se tem registro surgiu em Joinville, Santa Catarina, em 1852. No Rio Grande do Sul, foi a Germânia, em 1855. Foram nessas sociedades teuto-brasileiras que os imigrantes compartilharam seus conhecimentos sobre a prática de diferentes esportes. Além da ginástica, trouxeram o tiro ao alvo, atividade que também vinha ao encontro da necessidade de saber manipular armas para a caça e para a defesa de suas casas. Era comum se deparar com uma linha de tiro nas áreas próximas das vilas. Outra atividade igualmente comum era o passeio a pé, em geral, aos domingos. Os grupos se reuniam para longas caminhadas pela vizinhança. Costumavam sair pela manhã, realizavam um piquenique ou uma churrascada na hora do almoço e retornavam antes do anoitecer. O bolão também veio na bagagem dos imigrantes alemães.
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A atual grafia do nome Montenegro pode ser considerada uma síntese da harmonia que sempre mesclou as relações das imigrações portuguesa e alemã em território brasileiro. Quando os primeiros açorianos ocuparam
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as terras à margem direita do Caí, vindos da uruguaia Colônia do Sacramento, em 1740, logo chamaram de Monte Negro a escura elevação de cerca de 70 metros de altura, a apenas quatro quilômetros do atual centro da cidade. O que parecia ser uma encosta de basalto – rocha geralmente de coloração cinza-escura a preta – era, na verdade, uma formação de arenito coberta por densa vegetação. A junção das duas palavras – monte e negro – seguiu o padrão da língua alemã de escrever juntas palavras que signifiquem uma única ideia. Uma das mais conhecidas e que confirma a regra é oktoberfest, que vem de oktober = outubro e fest = festa ou festival. Outro exemplo, nem tão familiar entre os brasileiros, é bushaltestelle, parada de ônibus, resultado de halten = parar, com stelle = vaga ou local junto com der bus = ônibus. Historiadores ressaltam que o nome oficial da cidade continua sendo São João do Montenegro, conforme a Lei nº 885, de 5 maio de 1873, data de fundação do município. Nesse dia, a Freguesia de São João do Montenegro foi elevada à categoria de vila, desvinculando-se de Triunfo. Na época, vila equivalia a município. Bem mais tarde, o Decreto nº 7.199, de 31 de março de 1938, cortou o nome do padroeiro. Juridicamente, no entanto, asseguram os estudiosos, leis não podem ser revogadas por decreto.
DATAS HISTÓRICAS • 18 DE OUTUBRO DE 1867 – A partir da Lei nº 630, o Porto das Laranjeiras, que pertencia à Vila de Triunfo como 2º Distrito, passa a se chamar Freguesia de São João do Montenegro. • 5 DE MAIO DE 1873 – A Lei nº 885 cria a Vila de São João do Montenegro. A instalação da Vila, no entanto, só ocorre em 4 de agosto do mesmo ano, com o desmembramento da Vila de Triunfo. • 14 DE OUTUBRO DE 1913 – O Decreto nº 2.026 eleva a vila para a categoria de cidade, que passa a se chamar São João de Montenegro. • 31 DE MARÇO DE 1938 – Já denominado Montenegro, o município é dividido em 11 distritos por meio do Decreto nº 7.199. São eles: Montenegro, Barão, Bom Princípio, Brochier, Estação São Salvador, Harmonia, Maratá, Pareci Novo, Poço das Antas, São Vendelino e Tupandi. Este mapa foi modificado outras vezes em função de emancipações.
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O Caí, que desagua no Jacuí, e seus afluentes – arroios da Cria, Montenegro, Alfama e São Miguel – tiveram papel decisivo no desenvolvimento do município, o qual, em 1904, inaugurou o segundo cais construído no Rio Grande do Sul. Boa parte dos produtos que chegava aos centros consumidores ali desembarcava. Tanto que, no começo do século XX, Montenegro só perdia em importância comercial para Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Os vapores Germânia, São João, Montenegro e Caçador foram essenciais para o transporte de pessoas e de mercadorias. Nas margens do Caí, era comum haver volumes de lenha (combustível para as máquinas a vapor dos barcos), além de armazéns para o recebimento e o escoamento de mercadorias vindas das colônias italianas, instaladas na Serra gaúcha. A navegação fluvial só perdeu força em 1910, com a implantação da estrada de ferro que ligava Porto Alegre-Novo Hamburgo-Montenegro e Caxias do Sul e com a consequente construção da Estação Ferroviária. Hoje, Montenegro, que faz parte da Região Metropolitana de Porto Alegre, é cortado por duas rodovias federais (BR-116 e BR-386) e três estaduais (RS-124, RS-240 e RS-287). Ainda no final do século XIX, o município ajudou a escrever parte da história da indústria gaúcha. Abriram suas portas a Casa Wolf, indústria de móveis, a cervejaria de Gustavo Jahn, entre outras, e o Frigorífico Renner. Gustavo Jahn chegou a receber medalha de ouro como a melhor cerveja gaúcha, distinção conferida durante a famosa exposição comemorativa ao Centenário da Revolução Farroupilha, no Parque da Redenção, em Porto Alegre, em 1935. Já Anton – depois mudou o prenome para Antônio – Jacob Renner, mais conhecido como A. J. Renner, embora nascido na localidade de Santa Catarina da Feliz, na Serra gaúcha, criou-se em Montenegro, onde trabalhou na fábrica de banha do pai, e, posteriormente, em sociedade com o sogro e concunhados, abriu em São Sebastião do Caí uma pequena fábrica de têxtil, a qual se tornou famosa pela produção da Capa Ideal, que lembrava um poncho, feita em tecido impermeável para enfrentar o rigoroso clima do Sul. Foi o berço das indústrias e das Lojas Renner.
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Inauguração do cais
Fábrica de banha do pai de A. J. Renner
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As primeiras indústrias de tanino no município, como a Tanino Mimosa e a Tanac, começaram a era da acácia-negra, pouco antes dos anos 1950. A Frangosul, fundada em 1970 por iniciativa das famílias Wallauer e Müller, esteve entre as líderes do segmento gaúcho de avicultura. A empresa foi vendida para o grupo francês Doux, em 1998. Nos campos, destaque para a bergamota montenegrina, resultado de mutação espontânea, desenvolvida com sucesso nos anos 1940 e carro-chefe da produção de cítricos iniciada pelos imigrantes alemães.
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A forte influência da colonização alemã deixou frutos também na vida cultural de Montenegro. Desde o final do século XIX, as famílias tinham o costume de se reunir em clubes para se dedicar especialmente à música. A Sociedade de Canto Germânica – ou Gesagverein Germania –, resultado da fusão de dois grupos de cantores da cidade, o Eintracht e o Brüder-Bund, foi criada no dia 20 de agosto de 1881, com a intenção de venerar o canto, especialmente as apresentações de corais e as atividades de regência. No começo do século seguinte, as diretorias também se preocuparam em promover encontros de lazer entre os associados e suas famílias, a fim de cumprir com outro propósito da instituição, que era o da recreação. A nacionalização do nome do clube veio em 3 de maio de 1917, sendo rebatizado de Clube Riograndense. O Clube Freischütz, por sua vez, criado em 1893, reuniu, por muito tempo, os adeptos da prática esportiva, com atenção quase que exclusiva para o tiro ao alvo e a bocha. O Clube Grêmio Gaúcho Montenegro surgiu em 1906, com o objetivo de reunir as famílias portuguesas e cultuar as tradições. A Sociedade Esportiva Recreativa Montenegrina, a SER Montenegro, fundada em 1911, como Fussball Mannschaft, reuniu os primeiros jogadores de futebol do município. Décadas depois, foi incorporada pelo Clube Riograndense.
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Colégio São José
Apesar da proximidade da bacia da região do Caí, os esportes náuticos pouca atenção receberam dos montenegrinos. Mas, em 26 de fevereiro de 1932, um grupo de amigos, entusiasmados com o remo, criou o Clube de Regatas Cruzeiro do Sul. Anos depois, em 1974, foi feita a fusão com o Clube de Caça e Pesca Montenegrino, originando o Clube de Regatas, Caça e Pesca Cruzeiro do Sul. Com o passar dos anos, as atividades culturais, incluindo as esportivas, conquistaram os jovens de Montenegro.
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Fernando sobe para atacar sob o olhar atento de Dirceu, Fernando Orth, José Streb, Tadeu Finger e Fred.
Legado americano
O vôlei surgiu nos Estados Unidos, mais precisamente no ginásio da Associação Cristã de Moços (ACM) da pequena cidade de Holyoke, localizada no Condado de Hampden, em Massachusetts. O ano, 1895. O inventor, William G. Morgan, então diretor de Educação Física da instituição. Formado em Springfield College da ACM, o jovem de 25 anos encarou o desafio de desenvolver e coordenar um programa de exercícios e práticas esportivas direcionado para adultos.
As aulas de Morgan foram muito bem aceitas. Mas logo percebeu que precisava criar, para os mais velhos, um jogo recreativo e competitivo, que não tivesse o contato físico que existia no basquete, esporte imaginado por seu ex-professor James Naismith, em 1891. Inspirado no tênis e com base em seus métodos de treinamento, o jovem deixou as raquetes de lado e subiu a rede para um pouco acima da cabeça de um homem de estatura mediana. Estava criado o vôlei. Na época, chamado de mintonette ou mitonette. No ano seguinte, durante conferência em Springfield, reunindo todos os responsáveis pela Educação Física da ACM, Morgan foi convidado a fazer uma demonstração do novo jogo. Montou duas equipes de cinco homens, cada uma, e realizou a exibição dentro do ginásio. No entanto, explicou que a atividade poderia ser feita em diferentes ambientes fechados, como salões, e o número de participantes por time era ilimitado, desde que fosse observada a igualdade. Quanto ao jogo, o desafio era manter a bola em movimento, e no ar, passando de um lado a outro da rede, com as mãos. Apresentação encerrada, o professor Alfred T. Halstead sugeriu um novo nome para a prática do mintonette: volley ball. Somente a partir de 1952, as duas palavras passaram a ser escritas juntas. No Brasil, o termo em inglês poderia receber ou não o hífen. Depois, foi aportuguesado para voleibol ou volibol. E, hoje, é simplesmente vôlei. Naquela mesma conferência da ACM, em 1896, uma comissão foi nomeada para estudar as regras propostas por Morgan, sugerir adaptações e mudanças. Em julho, a edição da revista Physical Education, publicada em Nova York, trazia artigo de J. Y. Cameron, descrevendo o novo jogo e suas regras. Um ano depois, as regras oficiais do vôlei foram publicadas no livro da Liga Atlética da ACM da América do Norte. A rede de unidades da Associação Cristã de Moços nos Estados Unidos e também em outros países permitiu que o vôlei fosse conhecido e, posteriormente, praticado em outras localidades. Os primeiros países
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que receberam o esporte foram Canadá (1900), Cuba (1905), Filipinas e Japão (1908). As Forças Armadas norte-americanas também contribuíram para a difusão da modalidade, especialmente durante a I Guerra Mundial. A Federação Internacional de Vôlei (FIBV), instituída em 20 de abril de 1947, teve Brasil, Bélgica, Checoslováquia, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Israel, Líbano, Polônia, Portugal, Romênia, Turquia e Uruguai como países fundadores. Hoje, reúne 220 federações nacionais e está presente em todos os continentes do mundo, sendo responsável pelo vôlei e pelo vôlei de praia.
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A chegada do vôlei ao Brasil gera controvérsias. Alguns acadêmicos relatam que o primeiro torneio do qual se tem registro foi disputado na ACM de Recife, em Pernambuco, na década de 1910, e que o esporte era praticado no Colégio Marista, também na capital pernambucana. Outras fontes, porém, asseguram que o vôlei foi introduzido no país em torno de 1916/17 na ACM de São Paulo. Documentos mostram ainda que nos Jogos Olímpicos Latino-Americanos disputados no Rio de Janeiro, em 1922, em comemoração ao Centenário da Independência – por isso também chamados de Jogos do Centenário –, o vôlei teria integrado a programação. A unanimidade existe quando o assunto é o campeonato aberto realizado com os clubes filiados à Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) em 1923, no Rio de Janeiro. A organização ficou sob a responsabilidade do Fluminense Football Club. No ano seguinte, com a fundação da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), a qual contava com um departamento de vôlei, outros torneios passaram a ser disputados. Estudos apontam também que, em 1926, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, sob a coordenação do professor de Educação Física Frederico Guilherme Gaelzer, promovia eventos direcionados para a recreação pública e que, entre outras atividades, disponibilizavam a prática do vôlei para mulheres, tanto adolescentes como adultas.
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Independentemente de datas e locais precisos, o vôlei foi um dos esportes que mais cresceu no Brasil, ganhando adeptos e conquistando aficionados. Muito dessa popularidade se deve às conquistas internacionais das seleções brasileiras masculina e feminina e a jogos inesquecíveis realizados nos campeonatos nacionais. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) foi criada em 16 de agosto de 1954. Até então, o vôlei estava sob a responsabilidade da Confederação Brasileira de Desportos, que também atuava com outros esportes, como atletismo, futebol, natação, tênis e remo.
OS PÓDIOS DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS:
NOS CAMPEONATOS MUNDIAIS:
SELEÇÃO MASCULINA
SELEÇÃO MASCULINA
• LOS ANGELES 1984 – prata • BARCELONA 1992 – ouro • ATENAS 2004 – ouro • PEQUIM 2008 – prata • LONDRES 2012 – prata • RIO 2016 – ouro
• ARGENTINA 1982 – prata • ARGENTINA 2002 – ouro • JAPÃO 2006 – ouro • ITÁLIA 2010 – ouro • POLÔNIA 2014 – prata
SELEÇÃO FEMININA
SELEÇÃO FEMININA
• ATLANTA 1996 – bronze • SYDNEY 2000 – bronze • PEQUIM 2008 – ouro • LONDRES 2012 – ouro
• BRASIL 1994 – prata • JAPÃO 2006 – prata • JAPÃO 2010 – prata • ITÁLIA 2014 – bronze
O vôlei estreou como esporte olímpico nos Jogos de Tóquio em 1964. Desde então, o time masculino do Brasil participou de todas as 14 edições e conquistou seis medalhas. A equipe feminina entrou em quadra nos Jogos de Moscou em 1980 e vem participando de todas as edições seguintes, subindo ao pódio em quatro competições.
A primeira participação das seleções masculina e feminina foi no Mundial de 1956, em Paris, na França. Desde lá, o time masculino nunca ficou de fora e já conquistou cinco medalhas, sendo três de ouro e duas de prata. A equipe feminina soma uma participação a menos e tem quatro medalhas.
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A Federação Gaúcha de Vôlei (FGV) foi criada em 27 de setembro de 1954, pouco mais de um mês depois da instituição da CBV. No entanto, a história do esporte no Rio Grande do Sul é bem mais antiga. Mas, assim como ocorre no cenário nacional, existem dúvidas. Alguns pesquisadores registram que as primeiras iniciativas aconteceram na Associação Cristã de Moços, que chegou oficialmente ao Estado em 1901. Outros afirmam que o vôlei sempre foi um esporte “desconhecido”, até que, em 1916, uma delegação de atletas uruguaios veio a Porto Alegre para participar de um campeonato de ginástica. Aproveitaram a ocasião para fazer uma exibição do novo esporte. Após essa apresentação, fatos importantes marcaram a trajetória do esporte no Rio Grande do Sul, conforme destaca um informativo publicado pela FGV especialmente para comemorar os 50 anos da entidade. Em 1925, foi organizada a Liga Atlética Rio-grandense (LARG) para supervisionar o vôlei, o basquete, o atletismo e a esgrima. Três anos depois, a Liga realizou o primeiro campeonato oficial de vôlei na capital gaúcha, reunindo as equipes da ACM, do Clube de Regatas Porto Alegre (atual GPA), do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e da Sogipa. Nos anos 1930, o Grêmio Náutico União construiu uma quadra externa de cimento para a prática do vôlei. O primeiro campeonato metropolitano aconteceu em 1942, e o primeiro estadual, em 1945. Os dois eventos foram disputados no masculino e no feminino. Durante os anos de 1940, o time masculino da ACM dominou o vôlei porto-alegrense, conquistando o campeonato citadino por oito anos consecutivos.
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Durante o Estado Novo (1937-1945), de Getulio Vargas, o esporte em todo o Brasil passou por um processo de regulamentação. Era interesse do Governo ter maior controle sobre todos os esportes. O Decreto-lei nº 1.056, de 21 de janeiro de 1939, instituiu a Comissão Nacional de Desportos, composta por cinco membros, todos indicados pelo presidente da República, com o objetivo de fazer um estudo sobre o tema e apresentar um plano de oficialização. Como resultado, o Decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941, criou o Conselho Nacional de Desportos (CND), com a função de “orientar, fiscalizar e incentivar a prática dos desportos em todo o país”. A partir desse
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momento, cada modalidade esportiva ou grupo de modalidades precisava se organizar em uma única confederação no âmbito nacional, sendo que essa, necessariamente, deveria estar vinculada a uma entidade internacional. E, nas unidades federativas, os esportes deveriam se organizar em federações, por sua vez, vinculadas às suas respectivas confederações. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) surgiu como forte entidade esportiva. No Rio Grande do Sul, o Decreto-lei nº 3.199 criou a Federação Atlética Rio-grandense (FARG), sendo que o vôlei ficou a ela vinculado. Essa relação se rompeu 13 anos depois com a criação da FGV. O primeiro campeonato oficial organizado pela Federação Gaúcha foi o Metropolitano Masculino, em 1955. O título ficou com o Grêmio Náutico União, que venceu o Grêmio por 2 sets a 1, em uma partida muito disputada. Nesse mesmo ano, o Rio Grande do Sul conquistou o quinto lugar no Campeonato Brasileiro Juvenil de Seleções, em Salvador, Bahia. Aos poucos, o vôlei gaúcho cresceu e conquistou o respeito e espaço no cenário nacional.
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Os campeonatos brasileiros de vôlei eram disputados entre seleções. Contudo, a CBV decidiu que, a partir de 1962, também ocorreria uma competição interclubes. Seria essa uma ótima oportunidade para popularizar o esporte e possibilitar o descobrimento de novos talentos. A primeira Taça Brasil de Vôlei Masculino reuniria os principais campeões estaduais do país. O evento, entretanto, enfrentou mais dificuldades do que as projetadas pelos organizadores. A primeira foi a distância entre as capitais, fazendo com que o sistema de disputa adotado levasse em consideração as regiões e que os campeões estaduais – e, portanto, as equipes com maior qualidade técnica – entrassem em fase mais adiantada. Outro obstáculo foi a disputa do Mundial, em Tóquio. Como os atletas estavam defendendo a seleção, o torneio nacional foi interrompido e retomado somente no final do ano. Depois de idas e vindas e jogos aqui e acolá, o confronto final entre o Grêmio Náutico União (RS) e o Comercial (CE) foi programado para os dias 22 e 23 de dezembro, em Porto Alegre. O time cearense pediu que
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novas datas fossem marcadas em função da proximidade do Natal e do Ano-Novo, o que, certamente, dificultaria a compra das passagens. As partidas foram adiadas para 12 e 13 de janeiro na capital gaúcha. Porém, o Comercial não viajou. O time gaúcho entrou em quadra, venceu por W.O. e levantou a taça de campeão. Após duas temporadas, o União sagrou-se vice. O outro título nacional de uma equipe gaúcha viria 32 anos depois, quando a Frangosul/Ginástica venceu a primeira edição da Superliga Masculina em 1994/95. Antes disso, em 1990/91, a Frangosul chegou muito perto, levando para casa o vice-campeonato e conquistando o direito de disputar o Sul-Americano, onde comemorou mais um vice e a vaga no Mundial de Clubes, classificando-se entre os quatro melhores do planeta.
GAÚCHOS NOS BRASILEIROS 1962/1963 – 1ª TAÇA BRASIL • Campeão – Grêmio Náutico União 1963/1964 – 2ª TAÇA BRASIL • Semifinalista – Grêmio Náutico União 1964/1965 – 3ª TAÇA BRASIL • Vice-campeão – Grêmio Náutico União 1968 – 4ª TAÇA BRASIL • 4º lugar – Grêmio Náutico União 1969 – 5ª TAÇA BRASIL • Rio Grande do Sul não participou 1971 – 6ª TAÇA BRASIL • 5º lugar – Cruzeiro 1972 – 7ª TAÇA BRASIL • Rio Grande do Sul não participou. Só três equipes disputaram o torneio
1984/1985 – 7º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 5º lugar – Sulbrasileiro • 13º lugar - Grêmio Náutico União 1985/1986 – 8º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 9º lugar – Grêmio Náutico União 1986/1987 – 9º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 8º lugar – Frangosul 1987/1988 – 10º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 6º lugar – Frangosul • 8º lugar – Grêmio Náutico União 1988/1989 – 1ª LIGA NACIONAL • 6º lugar – Frangosul
1973 – 1974 – 1975 – 8ª/9ª/10ª TAÇAS BRASIL • Rio Grande do Sul não participou
1989/1990 – 2ª LIGA NACIONAL • 8º lugar – Frangosul • 10º lugar – Amapá/Ginástica
1976 – 1º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 11º – ACM
1990/1991 – 3ª LIGA NACIONAL • Vice-campeão – Frangosul • 6º lugar – Ravelli/Ginástica
1978 – 2º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 5º – Sogipa
1991/1992 – 4ª LIGA NACIONAL • 3º lugar – Frangosul • 8º lugar – Try On/Ginástica
1980 – 1981 – 3º/4º CAMPEONATOS DE CLUBES CAMPEÕES • Rio Grande do Sul não participou
1992/1993 – 5ª LIGA NACIONAL • 4º lugar – Frangosul/Ginástica
1982/1983 – 5º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 19º lugar – Sogipa • 24º lugar – Riograndense 1983 – 6º CAMPEONATO DE CLUBES CAMPEÕES • 5º lugar – Sulbrasileiro
1993/1994 – 6ª LIGA NACIONAL • 4º lugar – Frangosul/Ginástica 1994/1995 – 1ª SUPERLIGA • Campeão – Frangosul/Ginástica 1995/1996 – 2ª SUPERLIGA • 3º lugar – Frangosul/Ginástica
Obs.: a história deste livro se encerra nesta temporada, mas é importante destacar que o vôlei gaúcho conquistou mais três títulos na Superliga Masculina: a Ulbra foi três vezes campeã em 1997/98, 1998/99 e 2002/03 e foi vice em 2000/01 e em 2003/04.
Cilon, à esquerda, e Celso, à direita, estavam à frente do vôlei do Riograndense. Na foto, de pé, da esquerda para direita, também estão Túlio, Bidico, Leomar, Fred, Dirceu e Tadeu Finger; agachados, Fernando, Gino, Fernando Orth e José Streb.
Orth como sobrenome
Cilon Renato Orth foi apresentado ao vôlei quando estudante da Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no início dos anos 1960. Antes, sua atenção estava direcionada para o futebol. Era centroavante e, segundo ele mesmo, do estilo “matador”, veloz e oportunista. Jogava no time de Montenegro, nome de sua cidade natal, quando, em uma partida amistosa contra o Internacional, chamou a atenção de Abílio dos Reis.
O técnico colorado tinha o dom de descobrir talentos sem precisar observar o possível futuro craque por mais de 90 minutos. Terminado aquele jogo, Abílio conversou com Cilon e o convidou para ir a Porto Alegre fazer um teste. Impasse criado. Na época, garoto de 17 anos, Cilon cursava o último ano do Científico (um dos cursos oferecidos pelo equivalente ao Ensino Médio de hoje) e se preparava para prestar vestibular. Sonhava em ser médico. Mas cursar uma faculdade na Capital também implicava em arranjar um lugar para morar. Depois de algumas idas e vindas, Cilon ingressou na ESEF e conquistou vaga no Grêmio, maior rival de seu time do coração. Foram cerca de dois anos e meio defendendo o Tricolor. Porém, quando chegou a hora de “subir” para os profissionais, o atleta de Montenegro foi emprestado para o São José. No Grêmio, as chances de alcançar a titularidade eram remotas, porque teria que disputar vaga com atletas como Alcindo, Paulo Lumumba e Joãozinho. A passagem pelo Zequinha, contudo, foi muito rápida. Ainda em seu primeiro treino, Cilon trombou com alguém que buscava cabecear a mesma bola. Resultado: com um enorme corte no supercílio e uma baita sangueira, foi parar na enfermaria. A diferença de estrutura do clube da que vivenciara no Grêmio chamou a atenção. Quando à noite, voltou para jantar no Tricolor, já tinha tido tempo suficiente para pensar e concluir que era hora de retornar a Montenegro. Mas logo depois veio a oportunidade de jogar no Cruzeiro, indo e voltando de ônibus, e com as condições necessárias para terminar a faculdade. Formou-se na ESEF em 1965. Diplomado, Cilon Orth passou a dar aula de Educação Física no Colégio Estadual A. J. Renner, em Montenegro. Desde o começo, procurou apresentar o vôlei a seus alunos. Na época, o mais comum era que os meninos jogassem futebol e as meninas, newcomb (ou nilcon, aportuguesado). Também deu aulas na Escola Estadual Técnica São João Batista e no Instituto de Educação São José, também em sua cidade natal. Nas três instituições, aguçou os olhos para descobrir jogadores apaixonados pelo vôlei e, dessa forma, montar equipes que se tornaram quase que uma família e referências para várias gerações.
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°°° Celso Antônio Orth seguiu os passos do irmão sete anos mais velho. Também estreou no esporte pelo futebol, jogando na zaga do time de Montenegro, mas sem maiores pretensões no cenário profissional. Atento ao movimento que Cilon protagonizava com o vôlei na cidade e já estudante de Educação Física, no IPA, em Porto Alegre, logo começou a atuar junto ao irmão nas quadras do Riograndense. Ao longo de sua trajetória, foi técnico das equipes femininas tanto em sua cidade natal como na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. Além disso, se dedicou à preparação física e chegou à supervisão da futura equipe da Frangosul. Apesar da paixão pelo vôlei, no entanto, Celso nunca se descuidou do curso de Odontologia na UFRGS. Anos depois, já formado como cirurgião-dentista, precisou encarar uma árdua rotina, dividindo-se entre o consultório, em Montenegro, e a equipe feminina da Ginástica, em Novo Hamburgo. Até às seis e meia da tarde, era dentista. Depois, assumia o papel de treinador e só retornava para a casa após as onze da noite. Foi muita estrada para se dedicar ao esporte. – O vôlei me encantou – assegura Celso. – Com ele, eu permanecia ligado ao esporte e dentro de um cenário competitivo. Além disso, se fosse comparar ao futebol, sabia que no vôlei nós tínhamos a perspectiva de crescimento. Das quadras, levou aprendizagens que até hoje utiliza em sua clínica odontológica: – O esporte muito ajudou na minha profissão. O relacionamento que tenho com minha equipe de trabalho é muito forte. Todos buscam um objetivo comum, aprendem a importância da disciplina, do ganhar e do perder, do ser criticado, do ser substituído. Quando comecei a trabalhar com gestão, vi que muitos dos conceitos que trabalhava com minha equipe de trabalho, eu já aplicava desde os tempos do vôlei.
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Enquanto o vôlei conquistava adeptos em Montenegro sob o comando dos irmãos Orth, no cenário nacional, o esporte vivenciava momentos importantes, os quais se tornariam fundamentais para o crescimento da modalidade no país. Em 1977, o Brasil organizou o 1º Campeonato Mundial Juvenil Masculino de Vôlei, no Rio de Janeiro. Paralelamente ao evento, foi promovido o 1º Curso Internacional de Treinadores da Federação Internacional de Vôlei (FIVB, sigla em inglês), sob a coordenação do professor Célio Cordeiro Filho, então presidente da Comissão Nacional dos Treinadores. Os dois eventos já eram consequência da gestão de Carlos Arthur Nuzman, eleito presidente da Confederação Brasileira de Vôlei pela primeira vez em 1975.
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Os atestados dos cursos de técnico Nível II e Nível III realizados por Cilon
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°°° O curso, que tinha o objetivo principal de amenizar a falta de intercâmbio internacional para os treinadores brasileiros, foi realizado no período de 17 de setembro a 2 de outubro de 1977, na Escola de Educação Física do Exército, e ministrado pelos professores Yasutaka Matsudaira, Hiroshi Toyoda e Josef Vojik. Cilon recebeu o certificado de Nível II. Entre os outros técnicos gaúchos que participaram do curso, estavam Cláudio Behrend, João Batista dos Santos, Luiz Delmar da Costa Lima, o Duda, Modesto Caetano, Paulo Francisco Juchem, Pedro Ernesto Baungarten e Neusa Barcellos. Na edição de 3 de outubro daquele ano, reportagem do Jornal do Brasil destacou parte do discurso de encerramento feito por Matsudaira, uma das mais relevantes referências do vôlei internacional, por sua trajetória como atleta, técnico e dirigente no Japão: – O técnico internacional deve ter um comportamento exemplar e ter sempre um objetivo, considerando os elementos mais importantes e criando um método para atingi-lo. Jamais desistir e jamais perder devem ser nossos lemas, não só no vôlei, como em qualquer outra atividade da vida. Celso também esteve no Rio de Janeiro, não para participar do curso, já que as vagas eram limitadas, mas para assistir aos jogos do Mundial Juvenil, em busca de informações e aprendizagem. Seis anos depois, Cilon participou de outro curso internacional de treinadores, coordenado por Célio Cordeiro Filho e ministrado por um time qualificado de professores: os brasileiros Antônio Carlos Moreno, Paulo Sevciuc, o Paulo Russo, e Paulo Sérgio Oliveira da Rocha, o canadense Lorne Wawulla, o italiano Carmelo Pittera e o búlgaro Elenko Elenkov. O evento ocorreu de 03 a 16 de setembro de 1983, na Escola de Educação Física do Exército. Cilon recebeu a certificação de Nível III.
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O certificado da FIVB para o técnico Cilon Orth do curso realizado no Rio de Janeiro
O atestado de participação no curso (à esquerda) e a capa do programa do curso com a assinatura de Cilon
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Cilon sempre foi um autodidata e nunca se furtou de buscar novas informações. Aprendeu até mesmo a reger a torcida, especialmente em momentos cruciais da partida: bastava levantar do banco e, com os braços, incitava a turma a participar do jogo de forma mais intensa. Além disso, ficou conhecido pela superstição. Certa vez, em entrevista para o jornal Zero Hora, edição de 18 de julho de 1982, o técnico assentiu a fama de supersticioso: – Sempre uso a mesma toalha em todos os jogos e levo sempre a toalha no momento que a gente faz a corrente positiva no início das partidas. Quando a equipe está perdendo, peço para que os atletas do banco de reserva se levantem. E a gente sacode o banco para afastar o azar. A carreira vitoriosa do técnico, entretanto, ganhou outra marca: a de ser personagem de histórias que são sempre lembradas e recontadas em todas as reuniões que se repetem com frequência, para rever os amigos formados dentro das quadras.
.................................................................................. Eterna rivalidade O Campeonato Mundial Masculino de Vôlei de 1982 foi realizado na Argentina, no ginásio Luna Park, em Buenos Aires, em outubro. Cilon e Celso Orth estavam lá. Mas, com orçamento apertado, ficaram em um hotel que não recomendariam a ninguém. Cilon também não se importava de ficar na frente do ginásio para vender os ingressos que ganhava, já que estava credenciado para assistir à competição. Assim que os irmãos Orth chegaram a Buenos Aires, foram ao Luna Park buscar as tais credenciais que lhes abririam os portões para assistir aos treinos e jogos. A passos rápidos, Cilon não viu o cordão da calçada, pisou em falso e se estatelou. Celso fez que não o conhecia e seguiu em frente, sem olhar para trás. Foi quando cruzou por dois jovens, brasileiros, que comentavam entre si: – Tomara que aquele argentino se dê mal (nota do editor: a expressão utilizada não foi exatamente essa). Naquele Mundial, o Brasil, do técnico Bebeto de Freitas, conquistou a medalha de prata ao perder para a poderosa União Soviética por 3 sets a 0.
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.................................................................................. Mal-entendido na rodoviária Certa vez, lá se foi Cilon Orth ministrar um curso de vôlei na capital paraguaia, Assunção. De ônibus. Cerca de 1.400 quilômetros de Montenegro. Ou seja, a cochilada era inevitável. Ao parar em Soledade, depois de três horas de estrada, o motorista avisou a todos os passageiros que o intervalo para o café, lanche, o que fosse, seria de 20 minutos. Nada mais. Cilon desceu, escolheu uma ponta do balcão e viu que na outra estava o motorista. Situação sob controle. Bastava ficar observando. Uma taça de café e um pastel foram a pedida. O motorista, do lado de lá, preferiu um completo. Mais um pastel. Bem quentinho. Mais outro. E o motorista lá, saboreando a refeição. Foi então que Cilon decidiu ir até o condutor para tirar satisfação, perguntando se os tais 20 minutos já não tinham passado. Afinal, que horas o ônibus sairia? Surpreso, o motorista olhou para Cilon: – O senhor está falando comigo? Eu moro aqui em Soledade, e estou jantando. O motorista que me substituiu no ônibus já partiu faz tempo. Quase uma situação de pânico. A saída foi telefonar para a Polícia Rodoviária, sensibilizar a todos que não existia a possibilidade de aguardar pelo próximo ônibus, porque havia urgência para desembarcar na capital paraguaia. O ônibus foi interceptado em Erechim e lá ficou. Cerca de duas horas e meia depois, Cilon chegou para a “alegria” dos demais passageiros.
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Além de conquistar o hexacampeonato gaúcho – sendo o bi com o Riograndense em 1981/82 e os demais títulos à frente da Frangosul –, o vice-campeonato da Liga Nacional, o vice Sul-Americano e o quarto lugar no Mundial de Clubes em 1991/92, entre tantos outros títulos, Cilon se dedicou a compartilhar seus conhecimentos e sua experiência em cursos para estudantes e professores de Educação Física e para treinadores em diferentes cidades brasileiras e também pela América Latina. Foram mais de 150, somando ainda participações em seminários e congressos, nacionais e internacionais. Não por acaso, o ginásio do Clube Riograndense trocou de nome no dia 7 de setembro de 2004. Deixou de ser conhecido como Taquarinha para passar a ser chamado de Professor Cilon Renato Orth. A homenagem, registrada em placa, ocorreu durante o primeiro encontro oficial da equipe bicampeã estadual de vôlei do Riograndense, marcado pela emoção e por muitas lembranças.
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A placa registra o reconhecimento de todos que cresceram com o vôlei no Riograndense ao técnico Cilon Orth.
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Por muitos anos, Celso Orth se dividiu entre a odontologia e o vôlei. Depois de passar pelo Riograndense e pela Ginástica, foi trabalhar com a equipe da Frangosul, ao lado do irmão. O desafio de conciliar as agendas continuava. Trabalhava no consultório até as 11 e meia da manhã. Na sequência, assumia o papel de preparador físico, até uma e meia da tarde. Voltava para o consultório e, mais tarde, retornava ao ginásio para mais quatro horas de treinamento. Na época, o retorno profissional como dentista nem era tão significativo. Mas chegou o momento em que foi preciso tomar a decisão: ou o vôlei ou a odontologia. Optou pelo consultório, deixando as quadras na temporada 1987/88. O rompimento com o vôlei foi definitivo, tanto que passou a selecionar as partidas que assistiria pela TV, mas manteve e cultivou as amizades construídas nas quadras.
Partida disputada na quadra aberta que ficava nos fundos da Prefeitura Municipal. No ataque, Cilon cortava. Albino, número 13, e Nick Prass, número 10, também contribuíram para o sucesso do vôlei em Montenegro.
Dos pรกtios para as quadras