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A campanha https://www.catarse.me/pt/umpraum













A arquitetura u3liza um 3po de notação em seus desenhos, também conhecidas como “plantas”, ou maquetes que serve para estabelecer uma relação com o que é, ou pretende tornar-­‐se, real. Essa notação que denominamos escala é baseada em uma divisão/mul3plicação de uma unidade de medida (cenDmetros, metros, quilômetros). Assim quando vemos 1:5 significa que a medida cotada no desenho deve ser a medida real de, por exemplo, um móvel ou detalhe constru3vo. Porém, no desenho, enquanto representação orienta3va abstrata do real, o tamanho está dividido por cinco; da mesma maneira 1:100 pode servir para o desenho de uma casa ou prédio e 1:2.500 para representar uma cidade ou grande porção de terra. … Espera-­‐se de uma exposição, até pelo significado do substan3vo, que ela mostre algo, ponha à vista, revele. Não será diferente com esta, porém o modo como ela irá se configurar não é usual. No dia da abertura Shima entrará na Casa Contemporânea com alguns apetrechos, alguma comida, um saco de dormir. Sua presença será o primeiro trabalho a ocupar os espaços exposi3vos vazios, totalmente vazios. E assim durante trinta dias outros trabalhos surgirão originados da relação com o espaço da Casa, do confinamento, da interação (ou não) com visitantes, amigos e com as questões poé3cas que o acompanham nestes 10 anos. … O nome de uma exposição pode dizer muito, ou nada, sobre ela. 1:1 se encontra no primeiro caso. Em arquitetura a notação 1:1 é rara, pois ela corresponderia ao real. É como se para construirmos uma casa ou prédio fizessemos uma maquete em tamanho natural; a própria construção. 1:1 guarda esse significado de imagem semelhante ao real, mas aqui não são móveis, construções ou cidades que estão sendo representados; é a própria vida ou co3diano de um ar3sta que passa a acontecer em tempo real e torna-­‐ se, na verdade, o principal trabalho a ser exposto. O limite entre o que denominamos real e o acontece no espaço e nas relações que serão tecidas durante o tempo de duração da exposição serão apagados sem sabermos o que surgirá ou se surgirá. … em abril de 1958 o ar3sta Yves Klein fez uma individual em uma galeria onde o espaço exposi3vo estava completamente vazio; no dia da abertura o escritor Albert Camus deixou escrito no livro de assinaturas: “ com o vazio, plenos poderes”. Diferentemente, Shima usará o vazio como local de plenas possibilidades. Como também é a vida que se pretende plena. Marcelo Salles


A abertura 06/09/2014



Sobre bordar vínculos e tecer a várias mãos Yudi Rafael “Nas noites de sábado os imigrantes veteranos e novatos reuniam-­‐se na casa de um deles para conversar. É que 3nham necessidade de reunir-­‐se em algum lugar”1. Um viajante retorna à sua cidade natal, dez anos após sua par3da, e estabelece sua morada: “a casa é uma das maiores (forças) de integraçãoo para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem... o passado, o presente e o futuro dão à casa dinamismos diferentes... sem ela, o homem seria um ser disperso. Todo espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa... a casa não vive somente no dia-­‐a-­‐dia, no curso de uma história, na narra3va de nossa história... [mas] pelos sonhos, as diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam os tesouros dos dias an3gos”2. “Ao rememorar, não há pessoa que não se encontre consigo mesma. É o que está acontecendo agora”3. Aqui as conexões se fazem matéria: “meu corpo conta-­‐se entre as coisas, é uma delas, está preso no tecido do mundo, e sua coesão é a da uma coisa. Mas, dado que vê e se move, ele mantém as coisas em circulo a seu redor, elas são um anexo ou um prolongamento dele mesmo, estão incrustadas em sua carne, fazem parte de sua definição plena”4. Das coisas que se precisa para habitar um espaço durante um período de tempo, “as roupas indispensáveis e objectos de uso diário”5, o ar3sta produz “uma linguagem plás3ca que se desenvolve atrelada ao corpo... seja construindo, ves3ndo, viajando, desenhando, é a vivência integral do acontecimento arDs3co e a reinvenção das formas de vida que estão em jogo na poé3ca fragmentada e múl3pla”6. A bagagem carrega algo das relações estabelecidas, memória de experiência, trocas e laços contruídos nos encontros, antes e depois da par3da, e que, de alguma forma, agora se atualizam. Ao se fixar num determinado local, torna-­‐se possível desenhar um mapa do entorno, dos nós que se ligam a par3r de um ponto (eu, nós) e “traçar, a par3r dali (...) linhas e vetores... buscar o que essas linhas alcançam”7. “Queremos experimentar, pesquisar e ver o que acontece”8, “refazer economia dos desejos, desconfiar das ideologias escondidas na cons3tuição in3ma das situações que se repetem no dia a dia”9 “a par3r do mesmo eco escuro em que ressoam as dúvidas e as certezas cinzas da existência: a densidade arquipelágica da vida: seu lugar e seu não lugar: seu entre-­‐dois”10.


1.Tomoo Handa em Memórias de um imigrante japonês no Brasil. 2.Gaston Bachelard em A poé3ca do espaço. 3.Jorge Luis Borges em O outro. 4.Merleau-­‐Ponty em O olho e o espirito. 5.Tomoo Handa em Memórias de um imigrante japonês ao Brasil. 6.Luis Camillo Osorio em Eu sou apenas um! As experiências de Flávio de Carvalho. 7.Luis Pérez-­‐Oramas em A iminência das poé3cas (ensaio polifônico a três e mais vozes). 8.Mariana Marcassa e João Angelini (Grupo EmpreZa) em entrevista concedida à Renato Rezende e Felipe Scovino, publicada em Cole3vos. 9.Ana Luisa Lima sobre SHIMA em Caderno Performance, Abril 2014, SESC Campinas. 10.Luis Pérez-­‐Oramas em A iminência das poé3cas (ensaio polifônico a três e mais vozes).















Feijoada pra quem? 13/09/2014










A exposição de 06/09 a 04/10/2014


Quando abrimos a Casa Contemporânea, queríamos um espaço com o espirito de experimentação dos espaços independentes, que viabilizasse sua existência econômica sem, para isso, sacrificar seu posicionamento cri3co; um local que 3vesse nossa visão pessoal nos projetos desenvolvidos, mas fosse aberto a propostas com diferentes abordagens de pensamento; que trabalhasse de forma colabora3va buscando maneiras para viabilização dos projetos sem ficar a mercê de editais ou de restrições do mercado de arte.

Esta exposição guarda um significado especial para nós: o modo como ela foi concebida e viabilizada ra3fica nossos princípios. Agora um pra um não é mais um projeto; ela existe, ou começa a exis3r e isto não seria possível sem a coordenação e curadoria de Yudi Rafael, a produçãoo de Raphaela Melsohn, as pessoas que contribuíram através do Catarse, os amigos que auxiliaram das mais diversas formas e que acreditaram no projeto. Não seria possível, claro, sem o Shima, pois ele e seu trabalho foram o mo3vo de todo este empenho, que só adquire sen3do porque você esta aqui. Entre e seja bem vindo. É um prazer tê-­‐lo em Casa.

Marcelo Salles e Marcia Gadioli Casa Contemporânea






























Churrasquinho de curador 20/09/2014
















Metrópolis no churrasquinho de curador 20/09/2014

http://tvcultura.cmais.com.br/metropolis/videos/metropolis-­‐23-­‐09-­‐14



massa pra massa 27/09/2014















A Quarta Raça projeção de filmes 28/09/2014













1:1 Shima na Casa Contemporânea Sou de uma geração que leu Big Brother como expressão de um apocalipse tenso, onde uma cúpula governamental espiaria tudo, com o intuito de aniquilar as vivências e desejos pessoais. Pré 1984 esperávamos o futuro com certo temor, mas cheios de vontade de aportar em Marte... 2000 era um ano/meta para estarmos nos tele transportando. Mas isso passou. O século virou, George Orwell, o autor do livro, virou filme com trilha pop do Eurythmics... Mais recentemente, nas emissoras de televisão, proliferaram os reality-­‐shows onde bobagens são espiadas e transmi3das em tempo integral para todo o mundo, a troco de alguns dinheiros. Contrata-­‐se corpos bem definidos ou sub-­‐ personalidades exó3cas para se exporem em rede nacional. E, ali, vivem durante algum tempo, criando situações de tensão, relações como campeonatos em acampamentos juvenis ou de putaria. Mas, ontem, 3ve a oportunidade de visitar a exposição/performance/instalação do meu amigo ar3sta Shima, na Casa Contemporânea! Como um reality do contra, durante um mês, o cara se propôs a viver confinado, em residência arDs3ca, sem contato com a internet, sem acesso direto com o exterior, a não ser pelas chamadas telefônicas na linha fixa do espaço, ou pelas visitas que recebe dia-­‐a-­‐dia ou em encontros pré-­‐programados pela curadoria/ produção. Sem exibição ou transmissão selfie vazia de egos que não tem o que dizer, o ar3sta está ali para, em introspecção, refle3r e relembrar alguns itens de sua vida: pessoas que conheceu assim como cidades que visitou e morou são escritas a lápis na parede da sala/quarto onde roupas e objetos de primeira necessidade estão espalhados pelo chão. A cada final de semana foram programados encontros/refeições com nomes engraçados e provoca3vos para o mundo da arte. Com muita generosidade o performer prepara as refeições pedindo aos visitantes que tragam o que lhes agradam ao paladar. No domingo 28/9 assis3 trechos de falas que ques3onavam a iden3dade das gerações nipo-­‐brasileiras que aqui viveram e ainda vivem, assim como outras histórias mes3ças de nossa formação. Uma experiência única, para ser vivenciada, em um ritmo fora do tempo da rede do agora! Quase um retrocesso no tempo para, como disse o curador Yudi Rafael: “bordar vínculos ou tecer a várias mãos”. Se você se interessar por relações presenciais verdadeiras, não perca. Esta é a úl3ma semana!

Renato de Cara



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