Adriana Pupo Cecilia Pastore Cyra de AraĂşjo Moreira Elisa Bueno Fabio Hanna Helena Carvalhosa Lilian Camelli Mariana Mattos Marina de Falco Renata Pelegrini Roberto Fabra Rosana Corte-Real Pagura Vera Toledo
Pigmento em Campinas:
Pigmento em Campinas (ou buscando entender o caos)
buscando entender o caos
Palavras tem significados. Algu-
Nota Introdutória: o PIGMENTO
treze artistas, treze maneiras de
existe há 5 anos, formado por ar-
ver o mundo através de pinturas,
tistas que se encontram quinze-
gravuras, instalações, performan-
nalmente para discutir sua produ-
ce, objetos, desenhos e esculturas.
ção, arte contemporânea, enfim,
Nesta exposição mas como estí-
sobre o que faz com que conti-
mulo ao olhar e ao pensamento
nuem a produzir arte em tempos
tanto dos artistas como dos visi-
confusos como o nosso. O PIG-
tantes”.
MENTO é mais que um grupo ou um coletivo ou uma reunião periódica de artistas: PIGMENTO são
“Não o pensamento , mas a
mas trazem um peso maior deri-
potência do pensar”
vado não tanto do que sabemos
Giorgio Agamben
desse significado, mas da carga
(em referência à Aristóteles)
adquirida. Caos normalmente é associado ao descontrole, catás-
“...mas não é o caos a pura
trofes naturais, mudanças não
potência do porvir?”
planejadas em nossas vidas; seria,
autor anônimo indiano
portanto, aquilo que nos surpreende porque não fomos capazes de prever ou pensarmos a respeito escapando, desta forma, a qualquer controle ou dominação possível. Talvez isto derive do fato de
ou a dissolução de regras democráticas em nosso país tomam forma. A representação do real ou do penhumana, possa ser abalado à sim-
samento abstrato e as questões de
ples menção de determinadas pa-
gênero também estão presentes, de
lavras. Há pessoas que não mencionam dor, morte ou caos, por que a espécie humana foi capaz
exemplo, pois estas palavras tem
de exercer um controle sobre qua-
aquela carga citada acima, como
se todas as coisas com as quais
se, ao nomeá-las, elas tornar-se–
ela entrou em contato. Foi esse
iam de pensamentos em atos e daí
aspecto diligente e criativo que
em algo estabelecido que não po-
possibilitou sermos mais de oito
demos controlar. Por isso quando
bilhões de pessoas no mundo. Se
o inusitado acontece ele nos sur-
não dominássemos a natureza não
preende. Deveríamos olhar para o
poderíamos ocupar praticamente
caos não como um descontrole,
qualquer região do globo terrestre
mas como uma ordenação da qual
ou sobreviver a doenças através de
ainda não nos demos conta.
drogas sintéticas ou intervenções cirúrgicas e não seriamos mais do que algumas dezenas de milhões. Soa estranho que o sentimento de onipotência, advindo desse domínio conquistado pela inteligência
Acredito que justamente aí a
arte pode nos ajudar singularmente; o objeto ou obra de arte é um pensamento transformado em ato, mas ainda guarda a potência de transformar-se em pensamento de novo, cabendo àquele que vivencia a experiência a escolha de torná-lo ato novamente. Essa indefinição, ou caos, é apenas uma aparência. O caos é apenas uma ordenação que ainda não entendemos. Esta exposição desenvolve-se exatamente assim: da aparente desordem questões contemporâneas e atemporais emergem com toda força. Abordagens políticas como o esgotamento dos recursos naturais, o consumismo, o problema dos refugiados e das guerras
maneira usual ou nem tanto. Talvez nos chamem a atenção mais fortemente trabalhos que lidem com as questões atemporais como a memória, laços familiares, vida, morte, superação. Através da arte a potência do pensar pode colaborar para nossa compreensão daquilo que nos surpreende ou que nos assusta, daquilo que nos entristece ou nos deixa atônitos. Pode, inclusive, fazer com que aceitemos o caos e perceber que ele apenas antecede tempos vindouros. Marcelo Salles
Adriana Pupo A paixão crescente pela pintura ao longo de muitos anos, faz das minhas investigações ainda mais fascinantes.
Assim nesta fase, estou envolvida a trabalhar a pintura além do suporte tradicional, como telas de tecido de algodão, linho, papéis.
Há muito tempo, tenho trazido questões em relação ao equilíbrio do ecossistema. Além do que o mundo está fazendo em reciclar os materiais, tenho tentado transformar de uma forma positiva dentro do meu trabalho.
Mas também em outros materiais possíveis como suporte.
Iniciei então, a reutilização de materiais descartáveis como suporte para a pintura. Desde a caixa de fósforo, caixas de perfume, cremes, caixas transparentes para alimentos e outros .
Para mim, a inquietação de transformar em positivos os materiais de refugo em suporte para a tão maravilhosa pintura tem sido muito enriquecedora. Simplesmente, por sair da zona de conforto e me desafiar em situações de dificuldades , tem trazidonovos caminhos e confirmado a paixão pela pintura. Não importa o suporte é pintura!
Sem título 2016 50 x 60 cm Têmpera a ovo sobre tela
Sem título 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21 2016 medidas variáveis Têmpera a ovo sobre caixa transparente
Cecilia Pastore
Comecei escolhendo as caixas pois contém inúmeras figuras geométricas do meu interesse, depois veio a cor, elemento exclusivo da pintura, e que é uma das dimensões da obra. A instalação na parede faz com que o observador abandone a procura do centro, e passe a se deslocar em torno do objeto. Vou citar alguns itens que constam da Teoria do Não objeto de Ferreira Gullar, que são características das obras aqui expostas: - o Não objeto não se esgota nas referências de uso e sentido porque não possue utilidade, ao contrário dos objetos,
- é um ser íntegro, que dispensa intermediários na relação, - não é representação de nada, é uma apresentação, aparecimento primeiro de uma forma, - transcende o espaço que o insere, trabalha e refunda o mesmo espaço transformando-o, - só se completa com a ação do espectador, que passa de passivo para ativo.
Série Impermanências II, nº 1 2016 medidas variáveis Acrílica sobre papelão
Projeto Impermanência - Conjunto I, nº 2 2016 40 x 60 cm Monotipia e colagem sobre papel
Projeto Impermanência – Conjunto II, nº 1 2016 40 x 60 cm Monotipia e colagem sobre papel
Cyra de Araújo Moreira Trabalho Criação nesse momento minha pintura se aproxima do desenho. não é o momento do jorro, do manejo do pincel e tinta como num jogo de esgrima apaixonante é o momento do relacionamento meu com o traço, a forma, a cor o desenho no papel corre solto, é leve, é alegre o desenho e a pintura exigem mais pintar o desenho, jamais apenas a liberdade não pode ser perdida, fora isso, a incerteza é fértil. sobre as esculturas: fazer esculturas é como escrever poemas
Díptco Ícaro e a Queda de Ícaro 2016 60 x 40 cm cada Acrílica sobre tela
Sem título 2016 70 x 90 cm Óleo e acrílica sobre tela
Noite e lua cheia 2016 41 x 27 cm Acrílica sobre tela
Elisa Bueno
Ultimamente tenho pintado principalmente paisagens, interessada mais no percurso do que no resultado. Busco luz, cor, matéria,recortes. Tento captar o silêncio da paisagem para transmiti-lo na pintura, deixando nela os vestígios do trajeto.
Sem título 02 2016 50 x 35 cm Monotipia sobre papel
Mangue 2016 50 x 80 cm AcrĂlica sobre tela
Fabio Hanna
Um pouco de coerência, um tanto de harmonia do mistério que nos cerca. Sem que os procuremos ou explicitamente desejemos, espaço e tempo revelam se no fazer. Não à grandiloquência e às revoluções. Um pequeno brilho, uma breve luz é o que basta. Muita seriedade não, Alegria !
Sem título 2016 medidas variáveis Gravura sobre papel
Sem tĂtulo 2016 medidas variĂĄveis Gravura sobre papel
Helena Carvalhosa Os tempos são outros, mas eu continuo a mesma. O que eu percebo através de meus desenhos antigos, é que o que me move permanece: o desejo de transformar, olhar o mundo de outras maneiras, seja através do desenho, da pintura ou da tridimensionalidade, para isso não tenho o pudor de lançar mão do que me pertence.
Como disse Mário Pedrosa: a Arte é o exercício experimental da liberdade“. Sem título Dimensões variadas Mista sobre papel
Sem tĂtulo DimensĂľes variadas Mista sobre papel
Lilian Camelli
Para a exposição do grupo Pig-
tos de meus trabalhos. São frag-
mento em Campinas selecionei
mentos de memórias, mistura de
três séries de pinturas em diferen-
imagens e emoções que materia-
tes suportes, tela, papel e cerâmi-
lizo em composições impregnadas
ca, de modo a evidenciar minha
de silêncio e mistério.
busca constante de experimentação , sempre escolhendo a melhor maneira de dar forma ao que estou sentindo. A ausência, o tênue limite entre vida e morte e os processos humanos são temas presentes em mui-
Mis meses tienen diez dias 2016 Instalação: Mesa de madeira 70 x 70 x70 cm com vidro Placas de cerâmica com girassóis desenhados manualmente
Trauma II 2012 50 x 60 cm Ă“leo sobre tela
La despedida 2012 80 x 90cm Ă“leo sobre tela
Mariana Mattos
Os trabalhos que participam desta
pela ausência desta sobre o supor-
exposição são baseados em trechos
te, busco uma linguagem capaz de
de paisagens, lugares onde estive e
traduzir um pensamento onde a
que de alguma maneira me trou-
realidade já pouco importa.
xeram um momento de reflexão. Volto então a estes fragmentos de paisagens, e, pela pintura resgato este tempo passado, como se abrisse uma janela, e dali pudesse trazer à tona a memória. Pelo uso de cores, pela sobreposição de camadas de tinta ou até mesmo
Sem título 2016 90 x 110 cm Óleo e acrílica sobre papel
Refúgio 1 2015 50 x 70 cm Óleo e acrílica sobre tela
Paisagem Amarela 2015 50 x 70 cm Óleo e acrílica sobre tela
Pequenos Trechos de Vastas Paisagens n.5 47 x 35 cm Óleo e acrílica sobre tela
Marina de Falco
Dança das Cores (Pintura Performática) Na abertura da exposição do MAC de Campinas, uma música é iniciada: “It might as well be spring”, e a artista com luvas brancas, começará a colocar compassadamente os 15 painéis, um a um, nos lugares já determinados pelos 30 pregos fixados na parede. Após finalizado o processo de colocação dos painéis, a artista muda de lugar dois painéis entre si na grade. Recria-se outra possibilidade de sentido na obra inicial. De-
pois, mais três trocas, a artista convida uma pessoa do público para participar da troca de painéis: oferece as luvas e propõe uma nova troca, e outras com outras pessoas, inferindo assim uma interação complexa entre a obra artística e o espectador. A última troca é a que permanecerá durante todo o período da exposição. Para registrar a performance foi realizado um vídeo, e apresentado no mesmo dia da abertura da exposição.
Stills do vídeo da performance Dança das Cores
Dança das Cores 2015 96 x 112cm total / 30 x 20 cada Óleo sobre painéis de linho
tes de tudo, a idéia da experiência do momento se deixa ser simplesmente aquilo que é possível: ser experiência condutora de potências e igualmente de vazios: ou seja, uma tentativa.
Renata Pelegrini Uma das características do meu fazer de artista é também uma das questões que mais me atrai para a arte: a experiência do presente plasmada na tela, no papel ou em outro suporte. Essa experiência pode ser um gesto ou uma elaboração de imagem. O que os trabalhos tem em comum é o registro do instante ou da presença do meu fazer. E mesmo sendo uma condição importante na realização das obras, o instante se apresenta como concentrador de energia, e por isso, pensar nele como registro de um ato heróico seria um equívoco. An-
As obras, mesmo que ‘precárias’ em suas representações, mostram-se possíveis de existir, como transposições importantes para a próxima travessia; isto é, para a próxima obra. Para a proposta de uma exposição de trabalhos com caráter experimental - como foi a ‘provocação’ que o curador apresentou ao Pigmento - trabalhei ineditamente com um grande rolo de papel onde pude criar a experiência de representar minhas tentativas, quase sempre tentativas de criar um lugar. Fui surpreendida com o rítmo que as imagens ganharam quando finalmente vi o papel desenrolado. E encontrei nesse rolo uma idéia contígua à idéia de novelos de lã – também representados nos meus trabalhos expostos aqui. Sem título Rolo com 17 imagens 2016 113 x 900 cm Acrílica, carvão, giz, grafite, nanquim e pastel sobre papel
Sem título 2016 60 x 50 cm Acrílica e grafite
Sem título 2016 60 x 50 cm Acrílica e grafite
tidiano, mas é na esfera das Artes que eles podem ser observados com mais frequência.
Roberto Fabra
Stupendum Mirum: a harmonia de contrastes Em definição de dicionário, encontramos: -harmonia é o substantivo feminino com origem do idioma grego e que indica uma concordância ou consonância. - contraste é o substantivo masculino de origem do idioma latim e é o que sinaliza a oposição ou a distinção entre coisas ou pessoas quando comparadas. Harmonia e contraste são dois conceitos que co/existem no co-
Rudolf Otto, em seu livro O Sagrado: os Aspectos Irracionais na Noção do Divino e sua Relação com o Racional, diz: “o sublime, juntamente com o belo, faz parte da estética, por mais que difiram entre si”. Na afirmação acima, a intenção de Otto é de explicar a Harmonia de Contrastes que ele vê no mundo, e ao aproximar o conceito de divino com a experiência humana cotidiana, ele diz que o ”mistério tem seu teor positivo, duplo, que se revela nos sentimentos”. A ligação que se estabelece é entre o esforço humano e o sentimento que impulsiona este fazer ou resulta dele. Ferro e papel, tinta e transparência, pensar e sentir, material e conceito, peso e leveza: são binômios que se relacionam dentro de um jogo de conexões/oposições nos trabalhos que aqui apresento. Não são conexões e oposições que se excluem, talvez elas se complementem ora se sobrepondo, ora se juntando, ora se contrastando.
Numinous Abstract (Hanging) 01, 02 e 03 2016 110 x 190 cm cada Acrílica e verniz sobre papel
Numinous/Abstract 03, 07, 12, 17 e 27 2016 35 x 39 cm cada Grafite e verniz sobre papel
Numinous/Abstract (Long History) 09, 27, 54 e 632016 35 x 79 cm cada Grafite e verniz sobre papel
Rosana Corte-Real Pagura O processo Como artista, tento aguçar minha percepção do Mundo, crescendo na Arte através de estudo e trabalho contínuos. Desenvolvo meu trabalho partir de cenas do cotidiano, registrando pelo desenho ou clic fotográfico, momentos inusitados que despertam meu interesse (a figura humana, o lugar, o objeto). Realizo minha pintura através dessas referências, como registros acumulados. O processo de pintura vem a partir da forma e da cor; em minha palheta, procurando preservar a
luz, vinda da matéria e da cor, ou das camadas que ora geram transparências, ora deixam o branco da tela aparecer. O processo é o fator determinante de minha pintura, funcionando como co-autor, ele determina o final de um trabalho e a partida para outro. Entendo que pinto o que me toca, e o próprio processo artístico dá o impulso ao que vem a seguir, seja na forma pictórica, no desenho ou do próprio pensar a pintura.
Karina 30 x 40 cm Óleo sobre tela
A obra Para esta coletiva, apresento uma serie de pinturas à oleo, em pequenas dimensões/cenas do cotidiano envolvendo pessoas de meu convívio. Também em pequenas dimensões, obras em que me aproprio de formas obtidas a partir da desconstrução de velas, construindo paisagens e naturezas mortas imaginarias, em sua maioria na tecnica à oleo, e desenhos no grafite e carvão sobre papel, sempre procurando explorar formas ambíguas. Melissa e Dimi 30 x 40 cm Óleo sobre tela
Memórias IV 30 x 40 cm Óleo sobre tela
Sem título 2016 34 x 32 cm Carvão sobre papel
Vera Toledo Alguns anos atrás assumi a vontade de trabalhar figurativos. A figura foi entrando lentamente até o ponto onde ela se tornou o motivo principal. Procurei, então, imagens que me tocassem. Busquei uma beleza oculta ou um algo a mais que pudesse ter em determinada imagem. A questão dos refugiados sempre me tocou. O tamanho da dificuldade vivida só pode ser contada por quem já passou por essa experiência. Não é pouca coisa! Então, como eu, aqui no Brasil,
posso ajudar de alguma maneira? Quais são as minhas armas? Comecei a pesquisar o assunto. Encontrei imagens muito tocantes e escolhi aquelas que me faziam pensar. E aqui vão os trabalhos que iniciam este assunto. Espero que as imagens possam tocar o espectador da mesma maneira que me tocaram.
Mulher de preto com filhos 2016 50 x 103 cm Óleo sobre tela
Refugiados na cerca 2016 72 x 94 cm Ă“leo sobre tela Acampamento 2016 113 x 148 cm Ă“leo sobre tela
Ficha Técnica Curadoria: Marcelo Salles Expografia: Marcelo Salles Arquitetura Fotografia: Edouard Fraipont Produção: Marcia Gadioli Projeto gráfico/Designer: Roberto Fabra Realização: MAC Campinas Casa Contemporânea