Singulares

Page 1

Helena Carvalhosa Marcia Gadioli RogĂŠrio Pinto



SINGULARES “Existe sentido no que parece não ter, algo enigmático no que parece evidente, uma carga de pensamento no que parece ser um detalhe anódino”

Jacques Ranciere

Nomear SINGULARES uma exposição não conota soberba tampouco falsa modéstia; talvez uma incorreção quanto a flexão do plural. Muitas vezes o que é singular surge de maneiras insuspeitadas, provavelmente porque esperamos algo inusitado do que supomos ser uma novidade. Assim sendo, como esperar algo que ainda possa ser singular da pintura e da fotografia? - Uma quase tão antiga quanto nossa própria existência, condição também compartilhada pela cerâmica, e outra envelhecida precocemente pela sua super exposição em tempos recentes. Todavia não é a linguagem ou o meio utilizado que torna um trabalho singular, mas sim como o artista dispõe deste meio, ou de qualquer meio, para levar ao outro as coisas do pensamento de maneira a suscitar uma experiência que se torne relevante. Como na frase do inicio, isto não surge de forma simples ou direta, tampouco no que aspira a priori a sê-lo; é um processo de contraposição entre o estabelecido enquanto padrão e o que temos diante de nós; é o pensamento não pensado do artista e a intuição por parte do espectador de que há algo além do que está a sua frente; é aquilo difícil de ser nomeado mas, ainda que faltando palavras, nossa boca se abra na tentativa de fazê-lo. Marcelo Salles


SINGULARS “There is sense in what it looks like that it doesn’t, something enigmatic in what looks clear, a load of thoughts in what looks like to be an insignificant detail” Jaques Ranciere, in The aesthetic unconscious To name an exhibition SINGULARS it’s not presumption neither false modesty; maybe just making the plural form wrongly. Very often a singular thing comes in unsuspected ways, probably because we suppose that a novelty comes in an unusual way. That being said, how can we wait for something to be unusual in painting and photography? – One almost as old as our own existence, a condition also shared by the ceramic, and the other prematurely aged by its’ super exposure in recent times. Nevertheless it’s not the used language or mean that makes a work singular, but how the artist uses this mean, or any other, to say to another the things of the thought to evoke a relevant experience. As the phrase in the beginning says, this does not come in a simple or direct way, neither in what it aims to be; it’s a counteract process between the standards we have and what we have in front of us; it’s the thought not thought by the artist and the spectator intuition that there’s something beyond what is before him; it’s that difficult thing to name but, even though there are no words, we open up our mouths in an attempt to say. Marcelo Salles


Helena Carvalhosa


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 40x40 cm

sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 40x40 cm


sem t铆tulo 2015 贸leo sobre tela 80x120 cm


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 40x40 cm


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 50x70 cm


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 50x50 cm

sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 40x50 cm


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 30x40 cm


sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 50x70 cm

sem t铆tulo 2014 贸leo sobre tela 20x30 cm


sem título 2015 cerâmica e tela de aço 34x23 cm

sem título 2015 cerâmica e tela de aço 45x24 cm



sem título 2015 cerâmica e tela de aço 40x65x58 cm


sem título 2015 cerâmica e tela de aço 24x52 cm


Helena Carvalhosa Numa recente visita ao ateliê de Helena, após eu ter visto suas novas pinturas, mostrou-me algumas placas de ardósia recortadas e descartadas de uma reforma que ela havia executado: - Fico brincando com elas, com suas formas. Não é bonito? - ela disse. Poucas vezes vi artistas onde o assunto, o tema, ficasse tão em segundo plano perante a alegria do fazer. Essa alegria faz com que sua produção abarque toda e qualquer linguagem que ela julgue necessária. Todavia a alegria por si só não garantiria nada. Algumas das pinturas recentes possuem a mesma temporalidade física e indefinição que são algo constitutivo de sua poiesis, mas estão em companhia de outras telas menos matéricas e mais definidas e surge uma certa ordenação de caráter geométrico em ambas. Um tipo de ordenação também está presente nas cerâmicas (chamarei assim as quatro peças expostas por facilidade; poderia chama-las de esculturas ou mesmo de instalações). Cada pequena peça é associada à outra com características semelhantes (como tipo de queima, cor da argila, se recebe ou não esmaltação) e, então, conformadas por telas de aço. Esse represamento da organicidade explícita da cerâmica faz com que a peça adquira uma latência vigorosa. Porém não seria esse abarcar várias linguagens ou meios algo arriscado quando se tenta produzir um corpo de trabalho vigoroso? – penso que não; Helena sempre deixa claro o quanto gosta de correr riscos, de se sentir insegura, e sua maneira de lidar com isso é ser libertária o suficiente para dar vazão a sua inquietação. Ao olhar atentamente conseguimos entender que o vigor de sua produção vem, em parte, daí; mas é nas relações de trocas nada obvias que ela engendra, que reside o mistério desse interesse despertado em nós. Marcelo Salles


Helena Carvalhosa After I saw Helena’s new paintings, in a recent visit to her atelier, she showed me some cut slate plates that were discarded from a reconstruction. “I play with them, with its shapes. Isn’t it pretty?” she said. Few times I saw artists whose subject, the theme, was in a second plan before the joy of the making. With this joy she can embrace each and every language she judges necessary. However the joy by itself wouldn’t guarantee anything. Some of the recent paintings have the same material temporality and uncertainty that constitutes her poiesis, but are also accompanied by other less mattered and more defined paintings and we have a certain geometric ordinance in both of them. A type of ordinance is also present in the ceramics (I’m going to call that the four pieces in exhibition by ease; I could call them sculptures or even installations). Each little piece is associated with another one with similar characteristics (such as the type of burning treatment, clay color, if it receives enamelling or not) and, then, held by iron net. The explicit organicity of the ceramic repressed causes a vigorous latency in the piece. But wouldn’t this embracing many languages or ways be a risk when you try to produce a vigorous body of work? – I think not; Helena always make it clear that she likes to take risks, to feel insecure, and her way to deal with that is being free enough to vent her uneasiness. When we look attentively we can understand that, in part, that’s where the vigor of her production comes from; but it’s in the least obvious exchange relations that she makes, that this mystery evoked in us lives. Marcelo Salles


Marcia Gadioli


sem tĂ­tulo (da sĂŠrie containeres) 2014 foto digital 110x166 cm


sem tĂ­tulo(da sĂŠrie containeres) 2014 foto digital 40x60 cm


sem tĂ­tulo (da sĂŠrie containeres)2014 foto digital 110x166cm


sem tĂ­tulo (da sĂŠrie containeres) 2014 30x79cm


sem título (da série construções) 2013 foto analógica PB 60x50 cm

sem título (da série construções) 2013 foto analógica PB 60x50 cm


sem título(da série paisagens) 2014 foto analógica PB 60x50 cm

sem título(da série paisagens) 2014 foto analógica PB 60x50 cm


Marcia Gadioli A importância da fotografia na arte contemporânea acabou por coloca-la numa crise de identidade. Passou-se a discutir o que ela não era enquanto o que ela sempre foi ficou relegado à algo datado. Usar a fotografia como registro é faze-la trabalhar ao lado da memória e recuperar seu uso original. Isto não quer dizer priva-la de suas potencialidades, mas sim possibilitar uma reavaliação do que é e do que pode a fotografia na contemporaneidade. Marcia utilizou desde o inicio de sua produção a cidade para poder falar da memória. Nessa trajetória o que era registro com uma camada de leitura mais plana ou una foi adquirindo relevo já que as mudanças urbanas aceleradas tem relação direta com a perda de identidade dos bairros e um apagamento da memória de seus moradores. Este fenômeno recente tem escala mundial e a série paisagens (SP e NY) põem em questão a indistinção de centros urbanos, optando por mostra-las justamente através de visões pouco usuais. É dentro deste conceito que foge ao estereotipado que ela discute o processo de globalização, utilizando um símbolo onipresente dela: o container. Presença tão massificada em qualquer lugar do planeta podem até passar despercebidos mas onde eles estão a uniformização do mundo está ocorrendo rapidamente. Os registros tiram os containeres dessa uniformização para torna-los visíveis, seja em relações diretas com moradias precárias seja através de uma leitura cromática que os aproximam de pinturas . Nestes trabalhos recentes temos a oportunidade de ver que o olhar do artista ainda nos mostra como enxergar o que não viamos mais, o que havia nos cegado. Marcelo Salles


Marcia Gadioli The importance of photography in contemporary art turned out putting it in an identity crisis. We started to discuss what it wasn’t while the things it was stayed relegated to something dated. To use the photography as a register is to make it work side by side with the memory and restore its original use. This doesn’t mean to deprive it of its potentialities, but to make possible a reassessment of what photography is and what it can be in contemporaneity. Since the beginning of her production, Marcia used the city to talk about the memory. In this route what was a single or flatted layer started to enhance as the accelerated urban changes are directly related to neighborhoods identity loss and erasing the memories of it’s inhabitants. This recent phenomenon has a worldly scale and the series “paisagens” [landscapes] (SP and NY) calls into question the indistinguishable urban centers, choosing to show them justly through little used points of view. It’s with this unstereotyped concept that she discusses the globalization process, using her omnipresent symbol: the container. With a mass presence in any part of the globe they can pass unnoticed but where they are a world uniformity is quickly happening. The registers take the containers out of this uniformity to make them visible, in direct relation to precarious housing or through a chromatic reading that brings us closer to paintings. In these recent works we have the opportunity to see that the artist’s view still show us how to see what we didn’t see anymore, what had blinded us. Marcelo Salles


RogĂŠrio Pinto


Cachorros e Mulher 2014 impressĂŁo digital e acrĂ­lica sobre papel 83x124 cm


Nadador e sorriso 2015 mpress達o digital e acrilica sobre papel 61x35,5 cm

Circo e mulher 2015 impress達o digital e acrilica sobre papel 95x40 cm


Cachorro e p達o 2015 impress達o digital e acrilica sobre papel 51,5x83,5 cm


Bicicleta e Homens 2014 impressĂŁo digital e acrĂ­lica sobre papel 70x129 cm


batman 2014 impressĂŁo digital e acrĂ­lica sobre papel 74x56 cm


Circo 2014 impressĂŁo digital e acrĂ­lica sobre papel 145x135 cm


Cogumelo, mulher e paisagem 2015 impress達o digital e acrilica sobre papel 65x130 cm


PĂĄssaro e dinossauro 2015 impressĂŁo digital e acrilica sobre papel 42x56 cm


Rogério Pinto Rogério não se preocupa com questões teóricas ou com a elaboração de um discurso para suas pinturas. Ele anseia pintar. Em um primeiro momento poderíamos pensar que esta ansiedade se traduz numa profusão de temas ou “estilos” e na utilização de elementos reconhecíveis com uma dose de algo, digamos, bizarro. Não é isso. Há uma coerência em seu fazer que vai se desnudando assim que tomamos contato com seus trabalhos. Nesta produção recente o espaço unitário deixa de sê-lo através de uma divisão feita pelas imagens; poderíamos dizer que temos duas pinturas que foram colocadas lado a lado, mas esse procedimento é bem mais complexo e potente, pois confere a uma pintura dita “figurativa” uma outra camada de compreensão e, consequentemente, possibilita uma experiência da ordem que costumamos associar à pintura dita “abstrata”, pois diminui o protagonismo da figuração potencializando-a enquanto ela mesma, ou seja, tinta sobre uma superfície bidimensional. Sua fatura, seu processo de execução, é também algo mais “contemporâneo” de um ponto de vista da mescla de ações: as imagens que ele escolhe de cartazes antigos, almanaques, são compostos num programa, formatados para impressão e impressos em papel com suas cores alteradas em relação à imagem original; é neste suporte que ele trabalhará a pintura. Apesar da diminuição do protagonismo das imagens elas ainda retém algo que acaba por nos atrair. Esta atração que provocam pode ser explicada de maneira mais teórica como está acima, mas gosto de pensar que elas são extremamente atraentes e inusitadas, talvez pela total falta de pretensão ao fazê-las, algo que falta a uma “certa” pintura contemporânea; talvez por possuir uma relação extremamente verdadeira e honesta com o que faz, algo tão mais perceptível quanto menos tentamos nomea-lo. Marcelo Salles


Rogério Pinto Rogério doesn’t worry about theoretical questions or to elaborate a discourse for his paintings. He’s anxious to paint. At first, we could think that this anxiety translates a profusion of themes and “styles” and in the use of recognizable elements with a dose of something, we could say, bizarre. It’s not that. His making has a coherence that is revealed as soon as we make contact with his works. In this recent production doesn’t exist a unit space that happens through a division made by the images; we could say that we have two pictures that were put side by side, but it’s a lot more complex and powerful procedure, because it gives to a “figurative” painting another comprehension layer and, consequently, makes possible to have an experience from what we usually call “abstract” painting, because it decreases the figuration as a protagonist making her powerful by itself, that is, paint over a bidemensional surface. His execution process is also something more “contemporary” from the mixture of actions point of view: The images of old posters, almanacs that he chooses are put together in a software, formatted for print and printed in paper with altered colors in reference with the original ones; it’s on this support that he’ll paint. Even though the images are not the protagonists anymore, they still retain something that attracts us. This attraction can be explained in a more theoretical way as it’s put above, but I like to think that they are extremely attractive and unusual, maybe because of the lack of pretension in the making, something that is missing from some “certain” contemporary paintings; maybe because it has an extremely honest and true relation with what it makes, something a lot more noticeable as less we try to name it. Marcelo Salles


A Exposição










Abertura













Ficha Técnica Curadoria e Expografia Marcelo Salles Organização e Produção Marcia Gadioli Fotografia Vanessa Costa Artistas Helena Carvalhosa Marcia Gadioli Rogério Pinto Desing Gráfico - Convite Rogério Pinto Desing Gráfico - Catálogo Helena Del Mercato



www.casacontemporanea370.com Rua Capitão Macedo 370 - Vila Mariana – São Paulo - SP Telefone: (11) 2337 3015




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.