Utopia #7

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Resiliência é a capacidade de superar as adversidades, transformando os momentos difíceis em oportunidades para aprender, crescer e mudar. É sobreviver nos momentos mais improváveis sem perder a esperança. Superar, com otimismo, situações que te jogam no mais profundo desalento e sair delas melhor que antes.

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Passado o espanto inicial diante do quadro que se apresenta cinzento, agora é a hora de encarar essa distopia e fazer florescer a vida mesmo dentro do mais duro concreto de ódio e de intolerância. Nesse ponto, a arte se reapresenta como ferramenta imprescindível. Ela nos ensina a perceber que o mundo é plural (graças por isso) e mostra que viver é muito mais do que ficar bovinamente diante da tela do celular com a boca cheia de emojis, esperando uma curtida chegar. Será difícil, e provavelmente ninguém sairá ileso. Que seja uma transformação redentora. Para todos nós.

Francisco Milhorança | Teresa Catarino

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ano 3 • 2019 Fotos | Textos Francisco Milhorança Teresa Catarino Edição de arte | diagramação Francisco Milhorança foto da Capa Francisco Milhorança {Poste em rua de Suarão, praia de Itanhaém, litoral Sul de São Paulo}

milhorancadesignartesvisuais.com

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o tempo voa na velocidade da luz do fim do túnel que nunca finda se o voo é rasante mesmo veloz, um espírito incauto acaba presa fácil então, voe alto, muito alto pois lá de cima tudo se torna pequeno e a velocidade é o que menos importa Francisco Milhorança\texto e foto

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O vento que me beija Vem do norte Suspira suspiros de cana de açúcar Doce veneno que me entorpece — oh, beijo doce, levA a secura E traga gotas de chuva que me dissolvAm Quero morrer assim: Entorpecida e doce Semblante de quem voa à toa Suspirando em qualquer norte teresa catarino\texto Francisco Milhorança\foto

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ASA NEGRA Sem saber que era ninguém abriu os olhos sonhando ser um anjo Acordou em desespero Tinha de si somente as asas Negras, escuras... Absurdo desejo ignorante de cerrar os olhos e sentir-se o dono do mundo ­—Voa Raimundo!!

teresa catarino \ texto Francisco Milhorança\foto

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Sonho Quintana Crio nuvens de fumaça e algodão Não obstante, creio nelas Mas o céu não está para os sonhos dos crentes Valentes solitários Sonhadores de algodão Passarinhos neste céu Não passarão

teresa catarino\texto Francisco Milhorança\foto

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teresa catarino\texto e foto 12 utopia

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corte preciso e a lâmina afiada sangra a palavra pele agora maculada a escrita, à mão firme,livre, acila precisa ferida marca fundo no coração tatua s verdades temporárias que os olhos não escutam Um cor t corte preciso e a lâmina afiada sangra a palavra e p r eciso e a lâmina afiadescrita, pele agora gramaculada à mão firme,livre, a ra av pal a san a d a l acila precisa ferida marca fundo no coração tatua u c a m a r o g a e na pel doloridas as verdades que os olhos não escutam , a t i r c A ese a lâmina afiada sangra a palavra corte preciso à mão firme, pele agora maculada a escrita, à mão firme,livre, a l i c a v o ã n , e r v i l acila precisa ferida marca fundo no coração tatua marca fundo as verdades doloridas que os olhos não escutam precisa ferid a corte preciso e a lâmina afiada sangra a palavra o d a u t a t o pele agora a escrita, à mão firme,livre, açã no cormaculada pelas verdades acila precisa feridadoloridas marca fundo no coração tatua m a t u c s e o ã n as verdades que os olhos não escutam olhos que os doloridas corte preciso e a lâmina afiada sangra a palavra pele agora maculada a escrita, à mão firme,livre, Francisco Milhorança\texto e ilustraçÃo

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Mar ritmado Pulsa acelerado o desejo por grandes ondas aรงoitam rancores revelam amores abrigam desertores outrora navegantes... nรกufragos entregues ao beijo da primeira onda que passou teresa catarino\texto francisco milhoranรงa\foto

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um dia, um

gato Certo dia, meu amigo Jorge achou que tinha tirado a sorte grande. Encontrou um apartamento no Centro, no Edifício Alvorada, na Av. São Luiz, por um aluguel pra lá de camarada (parece que o dono estava com as finanças meio apertadas e precisava alugar com urgência). Era enorme, com uma sala que daria pra colocar até um piano de cauda – ou jogar um futebolzinho, como pensou Jorge. Os vizinhos, segundo o porteiro Sebastião, eram tranquilos e reservados. A exceção, disse ele, era Dona Eugênia, uma senhora com seus 70 e tantos anos, ardorosa guardiã dessa tranquilidade e que não poupava reclamações contra outros moradores. “Carne de pescoço, seu Jorge”, confidenciou Sebastião. Dona Eugênia morava no 54, bem abaixo de Jorge. E lá foi o Jorge morar num imenso apê, junto com Mané, seu gato. Muito sapeca, Mané tinha uma peculiaridade. Uma de suas patas dianteiras era voltada pra dentro, lembrando um ancido sco Milhoram pouco as__Fr pernas Garrincha. Talvez ça por isso ele conseguisse fazer uns movimentos incríveis e escapar das mais alopradas maneiras quando alguém tentava pegá-lo. 16 utopia

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Rapidamente se adaptaram à nova morada e passaram os primeiros meses sem nenhum acontecimento digno de nota. Até que um dia ao sair pra levar o lixo na garagem, Jorge deixou a porta entreaberta, oportunidade que Mané não desperdiçou pra fazer um reconhecimento no território externo. Voltando ao apartamento Jorge ouviu um grito apavorante no prédio. Percebeu movimentação no andar de baixo e ao descer correndo se deparou com uma senhora colada na parede, com os olhos esbugalhados e o dedo apontando para o canto. Atrás de um vaso grande que decorava o hall do andar, Mané se esgueirava encolhido, tão apavorado quanto aquela mulher. Jorge conhecia finalmente Dona Eugenia e sua fobia de gatos. A partir desse incidente, não passava uma semana sem Jorge receber uma visita do síndico relatando um reclamação da vizinha com relação ao seu gato. Mané foi acusado de comer uma samambaia de mais de 30 anos, de espalhar seus pelos pelos corredores do edifício e até de afiar suas garras na porta de entrada do apartamento dela. De nada adiantava Jorge dizer que o gato nunca mais saíra de casa. Levara o bichano ao veterinário para ser castrado, justamente para sossegá-lo de vez. Até uma rede protetora ele havia colocado em sua área de serviço a fim de evitar que pulasse dali pra alguma outra unidade (o que também gerou uma reclamação de Dona Eugenia, que o acusou de modificar a fachada do prédio). Encontros fortuitos com sua vizinha no elevador ou no corredor rendiam espirros causados por pelos do gato e queixas sobre barulho causado pelo Mané, “que não parava quieto o dia todo”. Cansado da situação, Jorge decidiu mudar. Encontrou um apartamento próximo dali – mais modesto em um edifício bem menos charmoso – e para lá foi morar, junto com Mané. Mais de mês após a mudança, Jorge voltava pra casa quando encontrou Sebastião, o porteiro do Alvorada. “Seu Jorge” – chamou alto – “tudo bem? Ô seu Jorge, o senhor faz muita falta lá. Depois que o senhor se mudou, o apartamento foi alugado prum músico, um tal de MC Neném. É um tal de festa todo dia, um entra e sai danado, aquelas músicas estranhas, um barulhão. O cara é maluco, seu Jorge. Além disso, tem uns dez gatos naquele apartamento”. Francisco Milhorança\texto e ilustração poesia, foto & sonhos

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Ando nú pelas ruas vazias do meu passado em cujas esquinas escuras não mais me reconheço nem encontro meu nome outrora gravado nos seus muros Busco apenas encontrar seus olhos (nos quais um dia imaginei viajar) para neles agora, mergulhar por inteiro Na bagagem, apenas o desejo de pegar sua mão e caminhar contigo numa rua de um futuro qualquer Francisco Milhorança\texto e foto 18 utopia

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O círculo prende o sonho e o anseio Qualquer linha fora disso é ponto de fuga

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iv a teresa catarino\texto Francisco Milhorança\foto

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Na caverna escura e sem fim ecoa o uivo exultante da matilha com os olhos injetados de ódio e a intolerância escorrendo pelas bocas cheias de baba vive na sombra da sua própria ignorância Francisco Milhorança\texto e foto

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Do que você precisa? Viver você. Todos os dias. Sempre! Francisco Milhorança\texto e foto 24 utopia

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