Utopia #4

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Fotos | Textos

Francisco Milhorança Teresa Catarino Edição de arte e diagramação Francisco Milhorança Foto da capa Francisco Milhorança

milhorancadesignartesvisuais.com

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(...) La virtud, según el sabio Pitágoras, consistía en la armonía interior del individuo, que le hace elevar su mirada hacia Universo. Y, puesto que la virtud es armonía, la música, y por qué no, la poesía, con su ritmo y su métrica, serán las prácticas más indicadas para purificar el alma y el cuerpo. Quizás porque…. el Universo tiende a un límite. La poesía, no. Minerva Serrano Francisco Milhorança

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Meandros Fui invadida... uma serpente negra, sinuosa e cruel navega no pântano das alamedas de minha alma Geniosa reparte as margens – Morte e vida – Vida e Morte Sina dupla: Vida sobe alamedas e enxerga girassóis Morte corre sem rumo pela várzea Ambas indolentes e imprecisas desconhecem o curso Timoneiras do poeta “quem me navega é o rio” Velhos meandros alagados cegam rápido a serpente que por ora vagueia fundo, muito fundo no lodo da alma perdida Desaguada e ferida vida e morte morte e vida Teresa Catarino Paulo Rossi

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poema do metrô

Soco solto no ar Meia língua de fora Vidas amassadas e rotas Juntas...sempre juntas Escorrem pelas frestas abertas Socadas, espremidas em um grito mudo Peçam por mim em vosso Infinito rosário... Inocente porto onde só atracam Almas vazias, escravas douradas De templos de areia que ecoam no ar o mesmo grito suspenso Brado rouco em ouvidos moucos Ainda assim: Vidas! Muitas vidas penduradas no fio Tecido em tear vaidoso... teias finas Invisíveis e mortas No dia a dia A ilusão da missão cumprida Teresa Catarino + Francisco Milhorança Francisco Milhorança

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Chegou tão mansa a minha aurora Trouxe água de nascente E bolas grandes para estourar Desajeitada não se despe Apaga as velas acesas sobre a mesa – Só tenho meia hora Navegue rápido... Não ouso medidas para partir em seu remanso e ouvir você gemer... – Não se assuste, minha aurora Minha sede é de você! 8

Teresa Catarino


Valentia

Várzea grande e imaculada Encharcada de sal, terra e gotas de suor Choro frequente e sem lamúrias Que seja inteiro (não ouso ouvir) aquele grito de gol Nos lábios do adversário. A lida solta de toda tarde Torna valente todos os Corsários Que vertem lágrimas... teimosas e lentas Mas, não sustentam aquela tardia, distante e breve visão de queria ao menos uma vez... ser campeão Teresa Catarino Francisco Milhorança 9


céu de chumbo vestindo a noite negros anjos descem de seus pedestais palavras mudas entoadas preenchem as almas vazias alguém escuta? 10

no coração do silêncio uma oração rezada por almas destroçadas lembra verdades esquecidas na insensatez derradeira de nossa própria existência no escuro desse eterno eclipse

enterrei o sorriso no campo de flores mortas regado com a chama fraca da fé daqueles que um dia acreditaram Francisco Milhorança


Micro texto

Como sempre eu cheguei adiantado. E ela, como sempre, já está atrasada. Não muda nunca. – Garçom, outra cerveja, por favor. Essa gente toda na rua, indo e vindo… Se fosse um quadro, seria bem um trabalho do Pollock, uma mistura de traços, respingos, cores, num aparente caos ocultando planos e perspectivas. Ela sairá dessa tela como uma grande pincelada, soltando desculpas como grandes gotas coloridas. Ajeitará os cabelos cuidadosamente desalinhados pelos seus passos apressados enquanto se senta pedindo um kir royal ao garçom e sorri pra mim. Será que estará preparada para o que tenho pra ela? Francisco Milhorança

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ave negra de gravata suga a seiva de mortos vivos espalha terror nos inocentes descrentes de toda sorte vendem a alma e nunca morrem contentes dançam abutres sobre o capim por minha familia: digo sim urubus sem memória... vendida sina bandida e sem refúgio o mesmo medo de rapina ciranda louca e alucinada grita alto a estampa fina o medo seduz... e hoje aqui somos todos sedutores feliz a vítima... partiu em asas de andorinha! Teresa Catarino

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No colo, a redenção no rosto, a doce expressão da mãe que estende a mão os fiffiilhos indiferentes a cerca afiffiiada protege separa para merecer o amor há que atravessá-la quem se atreve? Francisco Milhorança

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Teresa Catarino Francisco Milhoranรงa

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O vento norte, forte O andar macio O olhar vadio No meio da escada sussurra um gemido E triste vaga perdido Onde fica o paraíso? Queixume de cera E asa quebrada de querubim Soltarei os sonhos no parque Voarão livres e sem rumo Acharão o paraiso E sem juízo vagarão Sem norte Sem sorte E sem asas Morrerão

Teresa Catarino Francisco Milhorança 18


marte ataca a morte acata o corte sangra a vida escapa a arte impacta a canção encanta a menina dança a fila anda você manda um coração bomba o sangue dança a arte encanta a menina sangra o coração ataca você acata marte manda um menino-bomba Francisco Milhorança

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Teresa Catarino

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A pele solta e enrugada Salta das mangas a revelar O mesmo número de celular O mesmo toque para despertar No tempo: presente parado O vento já não balança os cabelos O sol já não queima o nariz O hino morreu na garganta No tempo: passado parado

Goteja, goteja Muito lenta a esperança Marca na pele a sua presença Risca com giz os espaços vazios Abra os olhos; Empurre o tempo e Conjugue o verbo: O arco íris não te espera! Teresa Catarino 21


Teresa Catarino 22

Olhos esbugalhados Não vislubram cores Exalam odores De dores... Pulam o corrimão e Escorregam pela janela Saltam a distância da fé Distância entre um olho e outro Medida da dor Enclausurada Vida sem luz e pudor Nas mãos um único sentido ainda vive Pulsa e guarda para sempre O perfume da rosa


Sonho — Mãe, é você? — Oi, filho. — Nossa, mãe, há quanto tempo... Que saudade. — Tambem senti, filho. — Sempre sonho com você, mãe. Mas você está diferente. Tá sem óculos, cadê seus óculos? Nunca te vi sem eles. — Não preciso mais usar, filho. — Mas você não via nada sem eles. — Mas agora enxergo bem sem eles, filho. — Puxa mãe, como é bom te ver. — Filho, seu pai também tem muita saudade. Ele não pode vir, mas quer te ver. — O pai, puxa, como ele está? — Está te esperando. — Sabe, mãe, eu e a Narinha, a gente se separou, a gente não tá mais junto. — Eu sei, filho. — O Lucas e a Claudinha ficaram com ela. Ele está tão grande, mãe. Joga no time da escola, é goleiro. E a Claudinha, puxa, ela está linda. Tá fazendo balé. Você precisa ver ela dancando, mãe... caramba, sinto a maior falta deles, só encontro com eles a cada 15 dias. — Eu sei, filho, tenho visto. Mas não fique triste. Venha, vamos ver o seu pai. — Vamos. É longe? Puxa, tá tão claro aqui... (acho que estou sonhando, mesmo). — Para, Fernando, para. Não adianta. Perdemos ele. Tá morto. — Merda! Cara jovem, que droga. — Não tive culpa, gente. Não tive culpa... ele apareceu do nada na frente do carro. Eu nem estava correndo, mas não tive como parar. Francisco Milhorança

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“(...) A vida voa e o futuro pega Quem se firmou, falou Quem não ganhou, o jogo entrega (...)” Racionais MC Francisco Milhorança 24


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