AS EXPECTATIVAS DE INSERÇÃO DOS JOVENS NA VIDA ATIVA Resumo O objetivo do presente estudo consiste em compreender as expectativas dos jovens na entrada para o mercado de trabalho, através da análise de variáveis como a preocupação dos estudantes e recém-licenciados em relação ao futuro profissional, a importância dos estágios e o poliglotismo. Obtiveram-se os resultados através de inquéritos online, posteriormente tratados no programa LatentGold – modelo de classes latentes. Verificou-se que existem discrepâncias em relação às expectativas de inserção dos jovens na vida ativa de universidades públicas para universidades privadas e/ou politécnicos. Palavras-chave: Inserção dos jovens na vida ativa; Expectativas; Vida profissional; Jovens; Transição para a vida ativa; Emprego. Abstract The aim of the present study is to understand the expectations of young people in the moment of their entry to the labor market through the analysis of variables like the concerns of the students and recent graduates regarding their professional future, the importance of internships and multilingualism. The results were obtained through online surveys subsequently analyzed by the software LatentGold – latent class module. With this study we were able to verify that there are discrepancies between state universities and private universities and/or polytechnic institutes when it comes to the student’s expectations in the beginning of their working life. Keywords: student’s entrance into working life; expectations; professional life; young people; switch-over to working life; employment. Introdução Este artigo foca-se no percurso dos jovens na transição para a vida ativa. Nos últimos vinte anos esta situação tem vindo a alterar-se drasticamente, sendo que as decisões relacionadas com a carreira, família e responsabilidade têm sido adiadas (Arnett, 2000). Assim, pretende-se analisar as expectativas de inserção dos jovens na vida ativa, uma vez que, devido a inúmeros estímulos do meio social, “a dificuldade dos jovens, mesmo daqueles que concluíram uma formação universitária, em acederem a empregos com contratos permanentes tem fragilizado a noção de estabilidade do emprego” (Moreira, 2009). Hoje em dia, é cada vez mais frequente que os jovens adiem a sua entrada no mercado de trabalho, devido a um alongamento das oportunidades de formação, indo contra o modelo tradicional defensor de uma vida quotidiana fundamentada num casamento, numa casa própria e, principalmente num emprego para a vida (Estevinha, 2009). Assim sendo, achou-se pertinente entender melhor este percurso académico que tem posto em causa o antigo modelo de transição dos jovens para a vida ativa, bem como as expectativas assentes na inserção na vida ativa.
Desta forma, partindo da pergunta “quais as expectativas profissionais dos jovens?”, foram delineados os seguintes objetivos de pesquisa: conhecer as intenções dos jovens em trabalhar no estrangeiro; averiguar se o panorama social e económico do país influencia as expectativas dos jovens e se estes tencionam manter o mesmo emprego até ao fim da carreira; de que forma é que os estágios podem ajudar no percurso profissional e como é que o poliglotismo facilita a entrada no mercado de trabalho. Por último, pretendemos comparar as expectativas profissionais dos jovens entre universidades públicas, privadas e politécnicos. 1. Revisão da Literatura A primeira instituição de ensino foi fundada no início do séc. XX, sendo que cresceram de forma abrupta, construindo-se mais de 1000 faculdades (Crookston & Hooks, 2012). Portugal conta com 299 instituições de ensino superior, desde universidades públicas, privadas e politécnicos até instituições de ensino policiais e militares (DGES, 2013), sendo que a taxa de indivíduos com formação académica superior é 53,1% (Pordata, 2013). A entrada no mercado de trabalho era efetuada, muitas vezes, antes dos dezoito anos, uma vez que a importância que se dava à escolarização era mínima (Afonso, 2005). Após a Segunda Guerra Mundial, o fenómeno da formação académica expandiu-se para vários países, começando a ser visto como um caminho para o aumento das oportunidades profissionais, uma vez que os indivíduos possuíam maiores qualificações. Esta situação foi possível devido ao investimento em diversas instituições de ensino (Meyer, Tyack, Nagel & Gordon, 1979), contrariando assim o antigo modelo da sociedade que defendia três etapas: escola, entrada no mercado de trabalho e casamento/saída de casa dos pais, dando lugar a um modelo que se centra na imprevisibilidade (Estevinha, 2009). Na maioria dos países industrializados, os jovens entre os 18-25 anos – Emerging Adulthood são alvo de profundas mudanças e aprendizagens. Nesta fase, muitos dos jovens obtêm uma educação superior e realizações profissionais que lhes permite ter outras visões e prioridades relativas ao seu futuro. Deste modo, a experiência com algumas das tradicionais responsabilidades da vida adulta são atrasadas, tais como o casamento e a paternidade. Assim, os Emerging Adulthood refletem a mudança e exploração, características de um elevado grau de diversidade demográfica e instabilidade (Arnett, 2000). Porém, apesar desta entrada tardia na vida profissional ativa, o trabalho continua a ser tanto a essência do ser humano, como a sua condição (Coimbra & Parada, 2004). Os jovens procuram, portanto, a inserção profissional - “processo social construído no qual são implicados atores sociais e instituições (historicamente construídas), lógicas (societais) de ação e estratégia de atores, experiências (biográficas) sobre o mercado de trabalho e heranças socioescolares” (Bordigoni, Demaziére & Mansuy, 1994 apud Dubar, 2001, p. 34). Até há uns anos atrás, quando se ingressava no mercado de trabalho, o primeiro emprego era, quase sempre, um emprego para a vida, porém isso não se verifica nos dias de hoje. Devido à abundância de jovens com educação e formação superior verifica-se o crescimento de fenómenos
com o desemprego estrutural – fenómeno que ocorre quando as características dos empregos oferecidos diferem das características dos indivíduos à procura de emprego (Costa, 2011, p.62). Contudo, existem ainda empregos acessíveis às camadas mais jovens, os quais apresentam duas características comuns: emprego a tempo parcial e baseiam-se em contractos com um termo certo e uma curta duração. Esta situação parece ser impulsionada tanto pelos processos de globalização atualmente em curso em diferentes partes do mundo - como pela rápida melhoria das tecnologias de informação, pondo assim em causa as perspetivas ocupacionais definitivas e com transições fáceis (Duarte, 2004). Além do aumento exponencial dos empregos sem vínculo permanente, o desemprego jovem é uma preocupação social grave que representa uma mudança nos paradigmas da sociedade, especialmente no que toca à inatividade dos jovens detentores de níveis de qualificação superior (Carvalho, 2012). Assim sendo, os jovens que se encontram no processo de transição para a vida ativa têm ainda a necessidade de adotarem a mudança e a flexibilidade (por exemplo, mobilidade profissional ou interrupções de carreira) como uma condição de vida (Coimbra & Parada, 2004). Esta ideia converge com a definição de “transição”, uma vez que esta ocorre quando um acontecimento obriga a que um sujeito mude as suas perceções e/ou comportamentos sobre si próprio e sobre a realidade envolvente (Costa & Melo, 2003). De acordo com estudos realizados no séc. XX é igualmente importante o desenvolvimento de um espírito crítico para se delinear e explorar as opções existentes, numa fase anterior à transição – “os alunos que olham para a frente e à volta desenvolvem uma maior prontidão para a procura do emprego e ajustam-se mais rapidamente ao mundo do trabalho” (Savickas, 1999). É de reforçar ainda que, muitas vezes, “faltam informações aos jovens e a quem lida com eles para melhor enfrentar os desafios e/ou amenizar o impacto das dificuldades na transição universidade-mercado de trabalho” (Melo, 2007). A questão da mobilidade dos jovens e da flexibilidade, vulgo emigração, entre países diferentes diz respeito a um fenómeno secular que consiste na movimentação das pessoas para diferentes áreas do globo com o objetivo de encontrar melhores condições de vida. Este fenómeno era associado a pessoas com baixas qualificações académicas porém, atualmente, a tendência está-se a inverter e assiste-se a uma mobilidade de jovens profissionais recém-licenciados e/ou dotados de mestrado. Em 2013, a taxa bruta de crescimento migratório foi de -3,5 ‰ (Pordata, 2013). Para além disso, o facto de muitos estudantes realizarem o programa Erasmus, facilita a sua adaptação a essa realidade, evitando os receios sobre o estrangeiro. Uma vez que já estudaram lá fora não se importam de trabalhar lá fora (Pires, 2013). Contudo, para se emigrar existe outro fator fundamental: a questão do inglês e/ou do poliglotismo – fluência em várias línguas. O inglês, desde o final do séc. XX, está presente nos planos curriculares nacionais como disciplina e língua obrigatória, desde o 5º ano de escolaridade. Sendo que, a partir do 7º ano, existe uma segunda língua obrigatória: francês, espanhol ou alemão – possibilidades lecionadas em Portugal (Almeida, 2008). Porém, de acordo com a lei promulgada pelo Ministério da Educação, a partir do ano letivo 2015/2016 o inglês será uma disciplina
obrigatória desde o 3º ano de escolaridade (Carriço, 2014). O objetivo principal dos professores e/ou formadores consiste em fornecer as ferramentas necessárias para que o aluno seja capaz de atingir um nível oral e escrito razoável, mas também de o despertar para a relação entre a língua e a cultura (Silva, 2012). Devido à globalização é necessário que haja uma língua universal para facilitar a comunicação, sendo o inglês a língua reconhecida pelas empresas e meios de comunicação desde o século XX (Almeida, 2008). Portanto, torna-se quase obrigatório que os estudantes saibam inglês quando ingressam no mercado de trabalho, para além de ser fundamental caso o desejo/oportunidade seja emigrar. Apesar de a formação estar cada vez mais acessível a todas as classes sociais, as aprendizagens mais significativas e duradouras não se relacionam diretamente com essas formações, mas sim com as aprendizagens que advêm da experimentação ativa, que implica o envolvimento dos formandos em atividades de contexto reais de trabalho. Assim sendo, em contexto de trabalho o indivíduo apreende todas as ideias e competências que dizem respeito à profissão e aprende a construir uma ideia – “a prática da comunidade” -, bem como todas as limitações e exigências que a esta dizem respeito (Caires, Coimbra & Vieira, 2011). Relativamente ao Ensino Superior, existe a possibilidade do contacto com o contexto profissional através dos estágios curriculares/académicos – unidades curriculares que integram o plano de estudos em vários cursos (Vieira & Coimbra, 2004). Existem cursos superiores que não contemplam esta unidade curricular no seu plano de estudos, todavia não colocam entraves à iniciativa do estudante de procurá-los por si mesmo, uma vez que estes estágios são vistos, entre docentes e entidades empregadoras, como “um marco fundamental na formação e preparação dos estudantes para a entrada no mundo profissional” (Caires, 2011). É de sublinhar ainda que “a experiência de estágio, pela qual estes passam antes de se tornarem profissionais com nível superior, pode favorecer uma visão mais realista do mercado de trabalho e uma avaliação mais crítica da Universidade diante de um momento decisivo para o jovem em decisão” (Melo, 2007). Em suma, o mercado de trabalho tem sofrido inúmeras mudanças nas últimas décadas, impostas pelas tecnologias de informação e comunicação e pela globalização (Kovács, 2013). As incertezas, precariedade e condições adversas do mercado de trabalho que se têm verificado influenciam fortemente as expectativas dos jovens. Existe uma relativização do diploma do ensino superior por porte dos jovens, que já não serve de proteção e entrada direta no mercado de trabalho para quem o possui, mas sim de formação, aprendizagem e aquisição de competências (Carvalho, 20012). A vida dos jovens é marcada por inúmeras descontinuidades, reviravoltas e inconstâncias, visto que encontram e perdem empregos a qualquer momento. Esta vida inconstante muda os valores profissionais, de educação e da família, originando cada vez mais saídas demoradas da casa dos pais e casamentos tardios. Há uma tendência para relativizar tudo, desde os diplomas à própria segurança no emprego (Pais, 2003). As expectativas estão cada vez mais reduzidas, em
detrimento do anseio pela estabilidade profissional: a preocupação, não de ter um bom emprego e que satisfaça os seus gostos pessoais, mas sim de ter sempre emprego (Kovács, 2013). 2. Metodologia Neste estudo a população alvo é o conjunto dos estudantes que frequentam ou frequentaram o Ensino Superior (num espaço não superior a 3 anos). A amostra considerada é do tipo não probabilística ou não aleatória com uma dimensão (n) de 637 participantes. Dados os objetivos de estudo traçados, a metodologia utilizada é maioritariamente quantitativa, sendo que se procedeu à recolha de dados através de questionários aplicados online a alunos do Ensino Superior e recém-licenciados em Portugal. O inquérito começou a ser divulgado no dia 12 de novembro e foi encerrado no dia 2 de dezembro. Desta forma, reunimos uma amostra representativa da experiência e transição para uma carreira profissional. No que diz respeito à recolha de dados, é importante ainda entender que a controvérsia verificada nestes últimos anos relativamente aos questionários via Internet não é de todo significativa. Assim, segundo estudos levados a cabo por Carini et al. (2003), na National of Student Engagement (NSSE), podemos aferir que respostas de estudantes universitários administradas online ou em papel, pouco ou nada afetam os resultados obtidos. Assim sendo, para responder aos objetivos propostos, procedeu-se à análise das variáveis: sexo, idade, tipo de ensino, fator prioritários na transição para a vida ativa, nível da situação profissional dos licenciados, preocupação em relação ao futuro, expectativas sobre o futuro profissional, importância dos estágios académicos e profissionais, importância de saber várias línguas e intenções de trabalhar no estrangeiro.
Tabela 1 – Listagem da recolha e análise de cada objetivo Objetivos
Descrição
Recolha
Análise
– Conhecer as intenções 1
dos jovens em trabalhar no estrangeiro. –
2
Averiguar
se
o
panorama
social
e
Inquérito por
económico
do
país
questionário
influencia as expectativas dos jovens. – 3
Manter
o
mesmo
emprego até ao fim da carreira.
(online)
Análise de frequência simples
Tabela 2 (continuação) – Listagem da recolha e análise de cada objetivo Objetivos
Descrição –
4
Entender
se
Recolha
Análise
os
estágios podem ajudar no percurso profissional. –
Conhecer
poliglotismo
5
se facilita
Análise de frequência simples
o a
entrada no mercado de
Inquérito por
trabalho.
questionário
–
Comparar
as
(online)
expectativas profissionais dos jovens
6
entre
universidades
públicas,
privadas
Modelo de classes latentes
e
politécnicos. Para uma análise aprofundada das respostas obtidas, procederemos ao uso do método de segmentação dos modelos de classes latentes, os quais apresentam vantagens sobre os métodos tradicionais. Nomeadamente, funcionam bem quando aplicados a variáveis mistas (categóricas e em escala de intervalo), selecionam o número de segmentos através do uso dos critérios de informação e usam como medida de semelhança a probabilidade, permitindo a segmentação da amostra em subgrupos homogéneos (Fonseca, 2011). Tabela 3 – Listagem das variáveis analisadas Nome da Variável Sexo Faixa Etária Tipo de Ensino
Estabelecimento de Ensino Fator prioritário
1
Categorias 1 – Feminino 2 – Masculino 1 – 17 – 21 anos 2 – 22 – 26 anos 3 – 27 – 30 anos 1 – Ensino Superior Público 2 – Ensino Superior Privado 3 – Ensino Superior Politécnico 4 – Ensino Concordatário 1 – 401 1 – Maior componente prática na licenciatura 2 – Adaptação do plano de estudos ao mercado de trabalho 3 – Realização de estágio académico 4 – Realização de estágio profissional 5 – Plataforma da faculdade de saídas profissionais 6 – Outro
Tipo de variável Nominal Nominal Nominal
Nominal Nominal
Foram recolhidos dados relativamente aos estabelecimentos de ensino referidos na tabela 4.
Tabela 4 (continuação) – Listagem das variáveis analisadas Nome da Variável Situação profissional no curso Preocupação sobre o futuro
Futuro profissional
Estágio académico
Estágio profissional
Línguas importância Trabalhar no estrangeiro
Tipo de variável Ordinal
Categorias 1 (péssima) a 4 (muito boa) 1 – Crise financeira 2 – Taxa de empregabilidade do curso 3 – O curso não ser reconhecido no mercado de trabalho 4 – Haver muitos licenciados no meu curso 5 – Não tenho preocupações 6 – Outro 1 – Ter um emprego para toda a vida na área de interesse 2 – Ter um emprego para toda a vida numa qualquer área 3 – Mudar de emprego com alguma frequência 4 – Após alguns anos de experiência, ficar fixo num emprego 5 – Não tenho qualquer expectativa em relação ao futuro profissional 1 – Não fiz estágio 2 – Nada útil 3 – Pouco útil 4 – Útil 5 – Muito útil 6 – Essencial 1 – Não fiz estágio 2 – Nada útil 3 – Pouco útil 4 – Útil 5 – Muito útil 6 – Essencial 0 (nada importante) a 5 (muito importante) 1 – Tenciono trabalhar no estrangeiro 2 – Não tenciono, mas não me importaria caso fosse necessário 3 – Não tenciono, mas se surgir a oportunidade vou aproveitar 4 – Não tenciono e mesmo que surja a oportunidade vou rejeitar
3. Resultados e Discussão Tabela 5 - Valores de AIC e BIC LL
BIC
AIC
1-Cluster
-8782,3912
18055,4969
17716,78
2-Cluster
-8340,6725
17630,4901
16975,34
3-Cluster
-8181,124
17769,8237
16798,25
4-Cluster
-8017,1157
17900,2378
16612,23
Nominal
Nominal
Nominal
Nominal
Ordinal Nominal
Gráfico 1 - Valores de AIC
Segundo a tabela 3 podemos aferir que a partir do cluster 2 existe uma estagnação dos valores de AIC e é verificado um mínimo nos valores de BIC. Para além disso, segundo o gráfico 1, verifica-se um cotovelo, no ponto de abcissa 2, logo a utilização do Modelo de Classes Latentes (LatentGold) sugere assim a existência de dois clusters. A Tabela 4 apresenta as estimativas dos parâmetros do modelo, os quais representam probabilidades, simples e condicionais. O cluster 1 engloba 59% dos indivíduos enquanto o cluster 2 engloba 41%. Tabela 6 – Perfis dos inquiridos Nome da Variável
Cluster 1 (%)
Cluster 2 (%)
Sexo
Masculino
Faixas etárias
17 – 21 anos
Tipo de Ensino
Ensino Superior Público
Feminino 22 – 26 anos 27 – 30 anos Ensino Superior Privado Ensino Superior Politécnico Ensino Concordatório Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Escola Superior de Hotelaria e Turismo Escola Superior de Saúde do Alcoitão Instituto de Arte, Design e Empresa – Universitário Instituto Piaget Instituto Politécnico de Beja Instituto Politécnico de Castelo Branco Instituto Politécnico de Coimbra Instituto Politécnico de Leiria
Estabelecimento de Ensino
Instituto Universitário de Lisboa Universidade da Beira Interior Universidade de Aveiro Universidade de Coimbra Universidade de Lisboa Universidade de Trás os Montes e Alto Douro Universidade do Algarve Universidade do Minho Universidade do Porto Universidade dos Açores Universidade Nova de Lisboa
Tabela 7 (continuação) – Perfis dos inquiridos Nome da Variável
Cluster 1 (%)
Estabelecimento de Ensino
Fator prioritário Situação profissional no curso
Preocupação sobre o futuro
Futuro profissional
Estágio académico
Estágio profissional Línguas importância
Adaptação do plano de estudos ao mercado de trabalho Realização de estágio profissional Outro 3; 4 Taxa de empregabilidade do curso O curso não ser reconhecido no mercado de trabalho Haver muitos licenciados no meu curso Não tenho preocupações Outro Mudar de emprego com alguma frequência Após alguns anos de experiência, ficar fixo num emprego Não tenho qualquer expectativa em relação ao futuro profissional Não fiz estágio Nada útil Pouco útil Útil Não fiz estágio Nada útil Pouco útil 1, 2, 3, 4
Cluster 2 (%) Instituto Politécnico de Lisboa Instituto Politécnico de Peniche Instituto Politécnico de Portalegre Instituto Politécnico de Santarém Instituto Politécnico de Setúbal Instituto Politécnico de Tomar Instituto Politécnico de Viana do Castelo Instituto Politécnico de Viseu Instituto Politécnico do Porto Instituto Superior de Gestão Bancária Instituto Superior de Reabilitação Psicomotora Instituto Universitário Universidade Autónoma de Lisboa Universidade Católica Portuguesa Universidade de Évora Universidade Europeia Universidade Lusíada Universidade Lusófona Maior componente prática na licenciatura Realização de estágio académico Plataforma da faculdade de saídas profissionais 1; 2
Crise financeira
Ter um emprego para toda a vida na área de interesse Ter um emprego para toda a vida numa qualquer área Muito útil Essencial Útil Muito útil Essencial 5
Tabela 8 (continuação) – Perfis dos inquiridos Nome da Variável Trabalhar no estrangeiro
Cluster 1 (%) Não tenciono, mas não me importaria caso fosse necessário
Cluster 2 (%) Tenciono trabalhar no estrangeiro Não tenciono, mas se surgir a oportunidade vou aproveitar Não tenciono e mesmo que surja a oportunidade vou rejeitar
Através da análise da tabela 4 é possível aferir que o cluster 1 diz respeito, maioritariamente, aos estudantes do ensino superior público, sendo que o género que mais contribuiu para a divisão destes clusters foi o masculino. Por outro lado, o cluster 2 engloba os estudantes e recém licenciados do ensino superior privado, politécnico e concordatário. Neste caso, o género que mais contribuiu para a divisão dos clusters foi o feminino. Portanto, podemos atribuir a denominação aos clusters de acordo com o tipo de ensino de destaque em cada um – cluster 1: expectativas dos estudantes do ensino superior público; cluster 2: expectativas dos recém-licenciados do ensino superior privado e politécnico. No que diz respeito ao factor prioritário os indivíduos do cluster 1 defendem a adaptação do plano curricular ao mercado profissional e a realização de um estágio profissional. Já o cluster 2 defende maioritariamente a aplicação de uma maior componente prática no curso, a realização de um estágio académico – considerando-o muito útil - bem como a existência de uma plataforma referente a saídas profissionais na faculdade. Na situação profissional inerente ao curso frequentado, os inquiridos classificados no cluster 1 consideram a sua situação “boa” e “muito boa”, enquanto os do cluster 2 consideram a sua condição “má” ou “péssima”. A maioria dos indivíduos do cluster 1 detêm uma grande preocupação em relação ao seu futuro devido à taxa de empregabilidade, ao curso em questão não ser reconhecido no mercado e ainda o facto de existir uma grande quota de licenciados do mesmo curso. Uma pequena parcela não possui qualquer tipo de preocupação sobre o futuro profissional. Por sua vez, o cluster 2 remete a sua preocupação para a crise financeira. Neste contexto, o futuro profissional para o cluster 1 passa por mudar de emprego com alguma frequência, obter alguma experiência profissional para posterior fixação de emprego. Para o cluster 2 possuir um emprego para toda a vida na área de interesse ou qualquer outra. Em termos de poliglotismo, os indivíduos do cluster 1 definem-no de “muito pouco importante” a “moderadamente importante”. O cluster 2 enfatiza a importância das línguas classificando-a como “muito importante.” Relativamente à opção de trabalhar no estrangeiro, o cluster 1 não tenciona fazê-lo mas não se importaria de o fazer caso se verificasse necessário. Os indivíduos classificados no cluster 2 alguns tencionam trabalhar no estrangeiro enquanto outros não tencionam fazê-lo. Ainda assim, dos
indivíduos que não tencionam trabalhar no estrangeiro, alguns aceitam a hipótese de o fazer, enquanto outros a rejeitam completamente. Gráfico 2 - Opinião em relação a trabalhar no estrangeiro
A partir da análise ao gráfico é possível depreender que os estudantes do ensino superior e recém-licenciados, maioritariamente, não tencionam trabalhar no estrangeiro, mas não se importariam de o fazer ou irão aproveitar a oportunidade caso esta surja. É ainda interessante ver que quase 26% dos inquiridos tenciona trabalhar no estrangeiro, levando a concluir que as suas expectativas em relação ao futuro profissional no nosso país são muito reduzidas. Por fim, apenas 5% dos inquiridos afirma que não tenciona trabalhar no estrangeiro e mesmo que a oportunidade surja irá rejeitar. Este fator pode dever-se aos receios em trabalhar no estrangeiro e em fazer uma vida fora daquele que objetivaram, mas também porque ainda têm esperanças no mercado profissional português.
Gráfico 3 - Importância de falar várias línguas
Através da análise deste gráfico, é possível inferir que uma grande percentagem dos estudantes do ensino superior e recém-licenciados (49,92%) considera muito importante para o seu futuro profissional falar-se várias línguas. Pode ainda visualizar-se que cerca de 34,38% e 13,03% dos inquiridos, atenta o poliglotismo como sendo moderadamente importante e importante, respetivamente. Assim, pressupõe-se uma aposta na aprendizagem intra e extracurricular de línguas estrangeiras tais como o inglês. Apenas 0,942% dos inquiridos, vê muito pouca importância quanto ao falar-se várias línguas no seu percurso e futuro profissional. Por último é relevante ainda referir que, nenhum dos inquiridos respondeu à opção “nada importante” no que diz respeito ao poliglotismo. Gráfico 4 – Preocupação com o futuro profissional
O gráfico 4 permite aferir as preocupações dos estudantes/recém-licenciados relativamente ao futuro profissional. Através da análise do mesmo é possível compreender que o fator que levanta mais dúvidas e preocupações é a Crise Financeira, com cerca de 29% das respostas dos inquiridos. A conjuntura económica atual é alvo de inúmeras incertezas, visto que afeta diretamente o mercado de trabalho e a quantidade de empregos disponíveis. As adversidades que a crise económica financeira acarreta, como o aumento dos impostos e a diminuição dos salários, constituem fatores de preocupação na medida em que dificultam a entrada no mercado de trabalho, diminuem a oferta de emprego e aumentam o número de trabalhos precários e temporários. Outro fator de relevo é a Taxa de Empregabilidade do curso, com 27, 47% das respostas. Esta taxa varia bastante de curso para curso e de universidade para universidade, estando muitas vezes associada à própria conjuntura financeira do país e do mercado de trabalho. Numa análise global, é possível perceber que são poucos os estudantes que não demonstram qualquer preocupação com o futuro – apenas cerca de 8,6%. As expectativas dos jovens são, portanto, bastante condicionadas pelas suas preocupações em relação ao futuro.
Gráfico 5 – Expectativas profissionais
Com base no gráfico 5, podemos verificar que a maior parte dos jovens, cerca de 46%, pretende conseguir um emprego fixo após alguns anos de experiência, o que vai de encontro às pretensões e estilos de vida das gerações anteriores. Outra categoria desta variável, também merecedora de destaque, é o objetivo de conseguir um emprego para toda a vida na área de interesse, abrangendo quase 40% das respostas. Podemos considerar esta resposta como algo natural de acordo com o alvo deste inquérito: os estudantes do ensino superior estão a tirar (ou tiraram) um curso numa área do seu interesse, investindo o seu tempo e estudo naquilo que, à partida, gostariam de fazer no futuro. As restantes respostas tiveram percentagens inferiores a 10%. No entanto, devemos ainda referir que a resposta relativa à ausência de expectativas teve uma adesão de quase 7%: a incerteza relativa ao futuro profissional pode levar ao medo de expectativas inalcançáveis, podendo ser considerada como um “jogar pelo seguro” (sem expectativas, sem desilusões). Gráfico 6 – Estágio académico
De acordo com a análise dos gráficos, é possível depreender que parte dos inquiridos não realizou estágio académico (27,47%), contudo dos que realizaram a grande maioria (43%) considera-o essencial para a inserção no mercado de trabalho, uma vez que esta é a única forma de se estar em contacto com o mundo do trabalho e com componentes práticas durante a licenciatura.
Ressalva-se ainda que muito poucos inquiridos consideraram o estágio académico “nada útil” (0,3%). Gráfico 7 - Estágio profissional
Relativamente ao estágio profissional as respostas são semelhantes. A não realização de estágio profissional, neste caso, deve-se ao facto de a maioria dos inquiridos ainda estar a frequentar a licenciatura e este estágio ser realizado após a mesma. Contudo, os inquiridos que já terminaram a licenciatura e realizaram estágio profissional consideram-no, maioritariamente, “essencial” com uma percentagem de 35,2. À semelhança do anterior, apenas 0,6% dos inquiridos não vê nada de útil nesta oportunidade. Conclusão O estudo realizado permitiu compreender as expectativas dos jovens em relação ao seu futuro profissional. Depreendeu-se que o facto de o país estar a atravessar uma crise económica preocupa em grande escala os jovens, na medida em que as oportunidades de emprego são cada vez menos e as que existem são muito precárias. Esta situação foi comprovada pelo facto de grande parte dos inquiridos assumir que espera demorar alguns anos até ficar estável num emprego, apesar de objetivarem e acreditarem que esse mesmo emprego será na sua área de interesse. De forma a ultrapassarem estas barreiras sociais e económicas, a maioria dos jovens não se preocupa caso tenha necessidade de trabalhar no estrangeiro ou caso surja esta oportunidade, havendo ainda uma grande parte que ambiciona fazê-lo, evitando as dificuldades que o país enfrenta. Para que a inserção no mercado de trabalho estrangeiro seja possível é necessário que estes jovens saibam falar algumas línguas, para além da língua materna. Assim sendo, averiguou-se que a maioria dos inquiridos vê no poliglotismo uma ferramenta vantajosa na entrada para o mercado de trabalho. Esta situação é possível de comprovar dadas as inúmeras ofertas de emprego que excluem à priori aqueles que não saibam inglês e/ou outra língua estrangeira. Para além do poliglotismo, outro fator analisado, que se mostra como uma vantagem na inserção no mercado de trabalho, são os estágios académicos e profissionais. De acordo com os
resultados obtidos, parte dos inquiridos, afirma que falta uma maior componente prática na licenciatura e que isto os condiciona na entrada para o mercado de trabalho. Assim sendo, a realização de estágios considera-se essencial, na medida em que, permite ao estudante adquirir conhecimentos práticos e ganhar contacto com o mercado de trabalho. Por fim, constatou-se que o cluster 1 - correspondente às expectativas dos estudantes do ensino superior público – possuem expectativas mais elevadas e optimistas em relação ao seu futuro, em comparação com o cluster 2.
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