Lugar Parar Estar - Intervenção Topofilica na Praça das Corujas | Moisés Bressan

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LUGAR PARAR ESTAR Intervenção topofilica na Praça das Corujas

Moisés de Melo Aiello Bressan orientadora Prof. Dr. Myrna Nascimento

Trabalho de Conclusão de Curso Centro Universitáro Senac Santo Amaro Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo São Paulo 2019


AGRADECIMENTOS Foram inúmeras noites em claro em que ela me oferecia algo para comer, algo para beber e despertava do seu sono para ver se eu estava bem. Agradeço primeiramente a minha avó, que hoje não está mais aqui, mas que participou de todo o processo para que eu estivesse agora, escrevendo este trabalho. Agradeço a minha familia, que me proporcionou fazer escolhas e sustentaram meus sonhos sempre de forma impecável, sem falhas, eles são e foram o melhor que eu poderia ter. Agradeço a minha orientadora, Myrna Nascimento, por todo o apoio prestado durante a graduação, especialmente no ano de orientação.




Introdução

A paisagem urbana é construída por desenvolvimento no campo cultural das civilizações, os hábitos e as condições espaciais criam atmosferas, lugares e desenham o ambiente. Dentre tantos espaços possíveis e construídos, as áreas verdes estabelecem relações com o mundo vegetal, que por vezes, é tratado com distanciamento pelas ações racionais. A geografia é conectada ou segmentada por visões e percepções humanas; o homem traz dentro de si, espaços inabitáveis e imagéticos que o ajudam a construir, o mundo que habita. As relações com o mundo que nos cerca são próprias e individuais de cada ser, mesmo que parte delas, tenda a ser aprendida com os exemplos que temos desde o início de nossa trajetória como seres pensantes. O espaço verde e livre de edificações apesar de importante, foi tratado de forma negligenciada nos últimos tempos no Brasil, entretanto, é notável a tentativa de retomada e de reestruturação desses espaços no contemporâneo; a palavra sustentabilidade nunca foi tão disseminada nas ideias quanto na atualidade, e essa tendência é observada no mundo inteiro. O homem busca esses espaços cada vez mais, na tentativa de fugir da vida agitada dentro dos grandes centros urbanos, e recentemente, busca fazer a integração de ambos; os espaços naturais viram fomentadores das ideias do que é ter uma boa qualidade de vida, atribuindo valores econômicos e ideológicos aos lugares. Apesar do grande movimento em busca do ‘’verde’’, essas áreas ainda permanecem pouco exploradas; as inovações nesse campo caminham muito bem nos ideais de consumo e por parte da iniciativa privada do mercado imobiliário, porém nos espaços públicos, percebemos pouca atividade dos órgãos correspondentes, o que gera uma sucessão de espaços projetados e verdes mas com baixa utilização e pouca atratividade, apesar do potencial imenso.


No livro “O pequeno príncipe”, o autor conta uma história que, quando criança, fez um desenho para causar medo nas pessoas, porém, estas, ao verem o desenho, questionaram porque ter medo de um chapéu. Intrigado, pois o desenho não era um chapéu, mas de uma jiboia que engoliu um elefante inteiro, ele resolveu fazer outro desenho para esclarecer o primeiro, e “fez um corte” (como denominaríamos em arquitetura) no seu desenho, mostrando o que havia no interior do primeiro (Figura 1).

Não sei se foi o interesse por esse episódio o primeiro sinal para mim de que eu tinha interesse pelo desenho, pelo que ele pode representar, por desenhar espaços, projetar, arquitetura. O desenho, a arte e a mente humana criam inúmeras possibilidades para decifrar aquilo que estão vendo, com os olhos ou com o pensamento.

O Pictórico

Figura 1 - O chapéu, o elefante engolido e a jibóia

Um símbolo é uma parte, que tem o poder de sugerir um todo: por exemplo, a cruz para a Cristantandade, a coroa para a monarquia, e o circulo para a harmonia e perfeição. Um objeto também é interpretado como um símbolo quando projeta significados não muito claros, quando traz à mente uma sucessão de fenômenos que estão relacionados entre si, analógica ou metaforicamente. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 26.)

Alguns chamarão isso também de sensibilidade


O projeto de arquitetura é desenvolvido pelo arquiteto de acordo com os meios que ele possui para expressar suas ideias, dentre eles desenhos, maquetes volumétricas, pinturas, qualquer coisa vale como forma de visualizar o que se processa durante a concepção da ideia. A linguagem é uma operação codificada no cérebro das pessoas e então interpretada de acordo com um repertório construído por toda a sua existência; aprendemos lendo, vendo, conversando, observando, escutando, sentindo e vivenciando.

Duas pessoas não vêem a mesma realidade. Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente. A própria visão cientifica está ligada à cultura. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 7.)

1.1 Analogias

Contudo, todo objeto de linguagem simbólica ou não, pode receber inúmeras interpretações, mesmo que o objetivo da mensagem tenha sido direcionado para algo, ainda mais quando discutimos questões humanas e artísticas, nas quais a percepção pode ser redescoberta de acordo com os elementos e padrões de uma cultura particular, e mudar com a quantidade e o aprimoramento das experiências vivenciadas, com o passar do tempo. Tomaremos como exemplo para discutir essa questão, o projeto terraço jardim (Figura 2 e 3) do Palácio Gustavo Capanema 1947, do arquiteto Le Corbusier com paisagismo de Burle Marx, paisagista brasileiro (04/08/1909 – 04/06/1994), que desenvolvia parte de seus projetos através de pinturas, o que justifica sua formação em artes plásticas.

Figura 2 - Terraço jardim Palácio Capanema

Figura 3 - O projeto em pintura


Neste projeto, manchas curvas pintam o plano e sugerem caminhos e espaços, entretanto é difícil dizer até que ponto assumimos esta interpretação por conhecimento da existência do projeto do jardim e de sua execução. Pinturas abstratas, como esta aparenta ser, por vezes não transmitem essa mesma sensação. A possibilidade de traduzirmos imagens “bidimensionais” em “formas tridimensionais” é infinita. Insinuando formas alternativas de projetar, tais como os exemplos a seguir (Figuras 4 e 5), levando em conta ou não, padrões, concordância de formas, cores e texturas representadas, não é difícil perceber o quão são sugestivas e inúmeras as possibilidades de se imaginar alternativas e destinos para o desenho.

As cores, que desempenham um papel importante nas emoções humanas, podem constituir os primeiros símbolos do homem. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 27.)

1.1 Analogias

Figura 4 - Modelo tridimensional vista 1

Figura 5 - Modelo tridimensional vista 2


2 Estudos de caso

Para exemplificar e ampliar discussões que o projeto da Praça das Corujas traz aos espaços e áreas publicas e abertas na cidade de São Paulo, apresento a seguir 4 (quatro) estudos de caso.


A Praça Villaboim (Figura 6) está localizada em Higienópolis e foi inaugurada em 21 de setembro de 1937, denominada na ocasião Praça Piauí. Surgiu do loteamento de um grande sítio e foi tombada como patrimônio pelo CONPRESP em 23 de julho de 2007.

A Praça foi alvo de uma grande reforma após a tentativa de remoção de uma árvore centenária central, gerando a comoção da população que ali vive, e tendo como mediador um grupo que se chama Praças ( www.praças.com.br), criado por Marcelo Rebelo, no qual ações colaborativas com moradores da região são fomentadoras para a transformação do espaço.

2.1 Praça Villaboim

Figura 6 - Caminho central da Villaboim

O grupo desenvolve projetos de melhorias em espaços públicos através da vontade popular, instruindo formas de se conseguir verba, patrocinadores e mão de obra para desenvolvimento dos projetos. As etapas das obras são divididas na mobilização de pessoal, co-criação do projeto entre moradores, profissionais e prefeitura e depois são organizadas para que ocorra a transformação do espaço.


As ações realizadas na ocasião da intervenção na Praça Villaboim foram a reforma do parquinho, a troca de todos os bancos da praça, o novo paisagismo removendo espécies vegetais com problemas e colocando outras que se adaptam ao lugar, a recuperação da iluminação e do pavimento. (Figuras 7 e 8)

2.1 Praça Villaboim

Figura 7 - Praça Villaboim

Figura 8 - O parquinho

Tal reforma fez com que a praça se tornasse mais viva, com que as pessoas tivessem mais desejo em por ali trafegar. O parquinho reformado trouxe novamente as crianças ao espaço, tornando a praça um lugar mais agradável e seguro, onde os pais gostam de levar seus filhos, e principalmente, onde os filhos gostam de se divertir e fazer novas amizades com outras crianças da região.


O espaço público deve permitir que as trocas aconteçam, sejam elas entre as pessoas e pessoas, entre as pessoas e a cidade e também nas esferas individuais, onde o individuo se faz silencioso perante o espaço e penetra universos talvez desconhecidos.

2.1 Praça Villaboim Figura 10 - Praça em 2004

Figura 11 - Praça em 2017

A praça Villaboim foi reformada (Figuras 10 e 11) graças a um sentimento comum entre as pessoas que ali frequentam, o de responsabilidade pelo espaço, dos valores que possuem e dos que atribuem ao lugar.

[...] os seres humanos respondem ao seu ambiente físico – a percepção que dele tem e os valores que nele colocam. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 3.)


A Praça da Fonte Nova (Figura 12) está localizada em Lisboa, conta com área de 35 mil metros quadrados, espaços que na década de 60 eram caracterizados por atividade agrícola, que se transformaram com um projeto de rodovias que por ali foi feito. A rodovia cortou na metade esse espaço (Figura 13), criando um viaduto por cima de uma estrada já existente, entretanto desconsiderando o percurso e fluxos de pedestres que todos os dias ali estavam. O resultado foi uma área de entorno de má qualidade, e o espaço sob o viaduto acabou se transformando em um grande estacionamento que permaneceu assim por 50 anos.

2.2 Praça da Fonte Nova

Figura 12 - Praça da Fonte Nova

Portugal lançou então um projeto em 2015, ‘’ Uma praça em cada bairro’’, onde a área em questão ganhou um projeto que gerou maior qualidade para a vida urbana pública, reduzindo o espaço do antigo estacionamento e ampliando áreas de convívio social.

Figura 13 - Vista aérea


O projeto setorizou alguns usos e fez do mobiliário elemento de desenho e controle de fluxos (Figura 14 e 15), criando por vezes barreiras que dão origem a belos bancos e outras vezes aberturas para as pequenas praças que ali existem, reestabelecendo antigas conexões que não estavam mais vivas no lugar.

2.2 Praça da Fonte Nova

Figura 16 - Banco pré-moldado Figura 14 - Vista aérea 2

Figura 17 - O Parquinho

Figura 15 - Pessoas interagindo na praça

Figura 18 - O parque dos cães

O mobiliário implantado é de concreto pré-moldado, mostrando que mesmo o elemento mineral pode dispor de um design arrojado e convidativo (figura 16). As pequenas praças criadas pelo projeto propiciam diferentes usos e funções dentro do grande complexo, sendo parcialmente isoladas por elementos baixos que dialogam com a linguagem do mobiliário, em seu traçado (Figura 17 e 18) . A Praça da Fonte Nova mostra a intenção de retomada dos espaços públicos, através de intervenção projetual, onde o ser humano e suas relações são foco do desenvolvimento de projeto. O espaço existente merece atenção e adequação aos usos do tempo em que estamos, para que a vida dentro dele não se esvaia e continuem perpetuando e possibilitando troca entre os principais agentes da cidade, as pessoas.


A Casa de Chá ‘’Tuin van Noord’’(figura 19) , do grupo de arquitetos GAAGA, está localizada na Holanda, e é um projeto do ano de 2015. Surgindo da proposta de revitalização de um parque local, um grupo sem fins lucrativos apoiou e viabilizou o projeto, e qualquer lucro provindo dele é convertido para o bairro (Leida) e para a manutenção de das áreas verdes da região. Os usos do projeto sugerem a interação das pessoas, locais ou não, contando com um programa de apoio pequeno e eficiente, como a cozinha, que prepara e fornece os alimentos que ali são comercializados; um espaço para empréstimo de jogos, que fomentam atividades de união e interação entre pessoas; um pequeno espaço multifuncional para exposições, incentivando o aprendizado; espaços ao ar livre que promovem o contato com a natureza; uma área de estar e sanitários; o projeto como um todo, inspira confiança e carinho.

As imagens da Topofilia são derivadas da realidade circundante. As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram respeito ou lhes prometem sustento e satisfação no contexto das finalidades de sua vida. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 26.)

2.3 Casa de chá Tuin Van Noord Figura 19 - Casa de chá Tuin Van Noord

Figura 20 - Espaço de convivência integrado

O projeto possui traços arquitetônicos intrigantes, além de compatibilizar ideais sustentáveis como: A planta é disposta em três faces com aberturas, o que possibilitam a vista para o parque em quase todos os lados do projeto, criando concomitantemente a ideia de não existir fundo ou frente (figuras 20 e 21).

Figura 21 - Esquema tridimensional


A cobertura do projeto conta com painéis solares que dão suporte a um menor gasto energético além de uma cobertura vegetal que contribui para o isolamento térmico em dias quentes (Figura 22). As grandes aberturas envidraçadas permitem também um menor consumo energético, não se fazendo necessário o uso de energia elétrica durante o dia para a iluminação, além disso, o telhado foi calculado para evitar o aquecimento pelo sol em contato com o vidro, criando uma zona de tolerância e de anteparo para os raios solares diretos na construção (figura 23 e 24) O projeto da Casa de Chá Tuin van Noord contribui para a revitalização do parque, cria um centro de atenção e de vitalidade, além de ter seus impactos ambientais reduzidos e seu lucro convertido em investimentos para o lugar, se mostrando um equipamento que nasce a partir de necessidades especificas e de sentimentos comuns.

2.3 Casa de chá Tuin Van Noord

Figura 22 - Estrutura do telhado

Figura 23 - Lateral sombreada

Figura 24 - Raios de sol previstos


Ludwig’s Roses (Figura 25) é o nome de uma fazenda de rosas na África do Sul, em Pretória que teve início em março de 1971. O espaço apesar de comercializar espécies vegetais, abriga um programa que faz com que o lugar seja mais do que uma fazenda comercial, torna-o um espaço de aprendizagem, brincar e de se relacionar. Eles contam com a área de produção, onde é possível visitar e avistar os belos campos formados pelas roseiras, de diversas espécies; um restaurante que promove refeições e bebidas feitas com as rosas produzidas e espaços de convivência e brincar para crianças e adultos. O espaço que começou com a catalogação de 180 espécies, hoje conta com mais de 1.000 variações, dentre aromas, cores e sabores. A fazenda funciona como um grande jardim sensorial, onde emoções e sensações são despertadas além dos estímulos visuais causados pelos canteiros (Figura 26), pelas florações e também pelos próprios maciços verdes; eles afloram os táteis através do toque e interação com a vegetação, na questão da percepção de texturas; os olfativos com os aromas provenientes das flores e do alimento preparado com elas e os gustativos também, onde é possível saborear as cores e os aromas dentro da boca, através de bebidas e pratos.

2.4 Ludwing’s Roses Figura 25 - Ludwig’s Roses

Figura 26 - Canteiro de rosas


As crianças também são contempladas no projeto, possuindo áreas de brincar, entretanto para essa faixa etária é mais difícil dizer o que é e o que não é área de brincar, elas possuem habilidade extraordinária de ressignificar (Figura 27).

Acredito que o jardim contemporâneo deva abranger todas essas características, além da adequação de usos e atrativos para todas as idades, o jardim contemplativo e visual funcionou em épocas mais distantes, entretanto, hoje, seu uso exclusivo não supre totalmente as necessidades atuais.

2.4 Ludwing’s Roses

Figura 27 - Crianças brincando

Ver não envolve profundamente nossas emoções. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág. 12.)

Acredito que o jardim contemporâneo deva abranger todas essas características, além da adequação de usos e atrativos para todas as idades, o jardim contemplativo e visual funcionou em épocas mais distantes, entretanto, hoje, seu uso exclusivo não supre totalmente as necessidades atuais.

O desuso e abandono de praças em São Paulo muitas vezes se dá por conta de seus limites construídos, ou na verdade, pela ausência dos elementos que não foram (construídos) ; bancos e caminhos, apesar de sua função, não geram atratividade necessária para manter uma praça ocupada por grandes períodos, ela (atratividade) aumenta a medida que as pessoas se sentem conectadas com o lugar e com intenções de usufruir de algo que lhes é interessante, como por exemplo, uma quadra, um lugar para comer, para praticar esportes, para brincar, e os elementos apesar de possíveis de construção física, podem também possuir outros atributos, que preencham necessidades despercebidas que são sensíveis a outros órgãos do sentido que não somente a visão e o tato, o corpo em movimento, o olfato, o paladar e audição podem ser também, sentidos explorados para criar intenções.

Uma pessoa que simplesmente ‘’vê’’ é um espectador, um observador, alguém que não esta envolvido com a cena. O mundo percebido através dos olhos é mais abstrato que o conhecido por nós através de outros sentidos. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág. 12.)


Além de determos nosso interesse pela análise de estudos de caso semelhantes ao caso de projeto que elegemos neste TCC, os estudos e reflexões sobre proxêmia, neologismo criado pelo antropólogo Edward Hall, apresentado e discutido em sua obra “A Dimensão Oculta” (1966), segundo o qual há uma linguagem entre e o espaço e o tempo que é invisível, porém, é o sentido primário da comunicação. Preocupado em analisar o espaço e como o ser humano o percebe e se apropria dele, Hall detém-se sobre interações invisíveis, porém sensoriais, propondo-se a estudar as razões que organizam o universo do “não tangível”, possíveis de serem analisadas através de relações elaboradas por uma linguagem de comportamentos, não traduzidos em palavras. Usamos como exemplo de fenômenos desta ordem uma instalação artística, visitada pelo autor deste trabalho na 33 ª Bienal de São Paulo, em 2018 cujo tema é Afinidades Afetivas. A obra, do artista Alejandro Corujeira, segundo seu autor

2.5 Te doy una esfera de luz dorada

Eu gostaria que os materiais que utilizo – tanto a madeira quanto o cobre do solo – atuassem como materiais de modulação afetiva, de forma que as pessoas se encontrem em relação direta com eles. Considero o desenho a semente, o germe de qualquer atividade artística. Para mim, desenhar pode ser, inclusive, caminhar de um lugar até o outro. Esse trajeto pode se manifestar como um percurso de desenho. É uma atividade de contemplação que leva, implicitamente, a uma atitude respiratória, uma meditação. Há momentos em que acho difícil falar, pois não quero carregar o espectador com um conceito que anteceda seu encontro com a obra. Sempre penso que esse encontro deve se dar a partir de um lugar mais despido, de contemplação. Um lugar no qual os olhos de quem contempla estejam um pouco calados, silenciados de conceitos, para que posa surgir, daí, uma experiencia inédita. (Alejandro Corujeira, 33 Bienal de Arte de São Paulo, 2018)


Na obra em questão, fitas de cobre riscam o chão de madeira, e se entrelaçam criando um desenho no chão; seus percursos são curvos e, por vezes, interrompidos (Figuras 28, 29,30 e 31). A interrupção se dá a medida que volumes em madeira criam uma relação de perpendicularidade com estas linhas; partindo do desenho original traçado no chão, as curvas, antes bidimensionais ganham volume e cor em certos pontos, aparentemente aleatórios. Graças à interação destas com o elemento tridimensional correspondente, criam-se paredes e percursos livres, que poderiam variar de acordo com a intenção do artista. As paredes criadas possuem diferentes alturas, desempenhando funções também diferentes: uma mais baixa, na altura do joelho pode ser uma simples contenção; uma mais alta na altura do peito de indivíduos de altura padrão poderia ser uma mureta; uma mais alta do que uma pessoa poderia ser um muro que impedisse a visualização de algo além do alcance da visão. Tais volumes se dispõem de acordo com a vontade do artista, ora representando uma coisa, ora outra, ficando suscetível também à interpretação de cada pessoa. Existem exemplos mais concretos e outros mais pictóricos do assunto abordado na obra: a percepção da bidimensionalidade em um mundo tridimensional; a sensibilidade individual de cada um diante dos elementos apresentados, e dos signos percebidos, como no capitulo 1.

2.5 Te doy una esfera de luz dorada

Figura 29 - Obra de arte

Figura 28 - Obra de arte

Figura 31 - Obra de arte

Figura 30 - Obra de arte


O ser humano é por si um ser social e, desde a Antiguidade, seus relacionamentos e interação com os demais se desenvolvem majoritariamente em espaços públicos; é lá que ele inicia seu processo de fazer amigos, aprender a trocar e conviver, criar os primeiros laços com aqueles que não fazem parte do seu círculo familiar. Dentre tantos espaços possíveis para discutirmos essa vivência, o foco deste trabalho, em particular, é a Praça, lugar urbano que serve de palco para diversas atividades, do comércio ao lazer, passando por diversas transformações quanto a usos, materiais e atividades oferecidas, que variam de acordo com a época em que foram projetadas. Elas possuem os mais diversos tamanhos, formatos, desenhos, e reúnem usuários distintos e itinerantes; atende e tem demandas que variam muito do lugar onde a praça está localizada e, principalmente, da época em que existe. Em São Paulo temos uma grande quantidade de praças, entretanto seu funcionamento não acompanhou o desenvolvimento da cidade e as transformações da cultura, o que produz um grande número de espaços ociosos, vazios, perigosos e com infraestrutura de baixa qualidade. Porém, embora frequente, o quadro apresentado não se torna regra: os bairros privilegiados acabam possuindo espaços melhores, como parques e centros de atividades ao ar livre, mas não necessariamente programados e organizados, e estes acabam sendo alvo de uma população maior gerando sua superlotação.

3 A exaustão dos espaços Infra Estruturados

Figura 32 - Parque do Ibirapuera

Os espaços com pouca atratividade acabam criando fluxos para os que detém mais opções e ofertas de atividades, gerando a superlotação, como é o caso do Parque do Ibirapuera em São Paulo (Figura 32) , no qual se torna evidente excesso de usuários nos finais de semana, e onde mal há espaços e possibilidade para se andar de bicicleta em sua ciclovia, graças ao número excessivo de pessoas que estão caminhando pelas vias internas (Figura 33).

Figura 33 - Final de semana no parque


Por ser o maior parque de São Paulo o Ibirapuera certamente atrai mais pessoas, afinal, também é um dos principais cartões postais da cidade, entretanto, o uso excessivo poderia ser controlado se a distribuição de bons espaços públicos na cidade fosse eficiente; as praças poderiam surgir como um recurso para o desafogamento do lugar, além de auxiliar na gestão do lugar. O Parque do Ibirapuera, entretanto, detém pouco fluxo de pessoas durante a semana (Figura 33 e 34), demonstrando que o deslocamento até o parque é dado primordialmente aos sábados, domingos e feriados, onde as pessoas dispõe de maior tempo livre para ser gasto com locomoção, abrindo o leque para outras discussões de mobilidade urbana e de baixa infraestrutura espalhada pela cidade e de boa infraestrutura concentrada.

3 A exaustão dos espaços Infra Estruturados

Figura 33 - Manhã de uma quarta feira no Ibirapuera

Figura 34 - Manhã de uma quarta feira no Ibirapuera


O que mantem vivos os espaços, são as pessoas que nele estão, elas ativam as funções de acordo com sua imaginação, conhecimento, cultura e limitações físicas. Os espaços devem possuir elementos de atratividade que instiguem e aflorem as mais diversas faixas etárias a usufruir do lugar, considerando também as pessoas que necessitam de equiparações especiais, no caso, as que possuem diferenças físicas consideradas limitantes quando comparadas a uma pessoa considerada normal. O despertar interesse pode ser obtido através de inúmeras maneiras, desde o tratamento da memória, com objetos que retomem antigas lembranças de quem ali já viveu e o instigar das novas descobertas. Os grupos etários possuem diferentes formas de vivenciar o espaço, a classificação pode ser muito extensa, analisarei 2 faixas que me instigam: as crianças e os idosos. A Criança Os pequenos, possuem singularidade ao explorar; tudo é novo, tudo praticamente é digno de curiosidade, suas ações comportamentais estão em construção nessa fase da vida; o investigar deles é feito através de todos os sentidos, sua imaginação é de potencial imenso pois seus preceitos ainda não estão formados.

4 O espaço para todas as idades

As crianças vivem em um meio ambiente; elas têm apenas um mundo e não uma visão do mundo. A visão do mundo é a experiencia conceitualizada. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 4.) As crianças, como dito anteriormente, possuem habilidade extraordinária de ressignificar, a imaginação faz com que arbustos virem selvas, escadas virem grandes castelos e o simples chão, pode se transformar em qualquer coisa, elas são os seres que mais exploram os potenciais ocultos na dimensão dos objetos.

[...] a criança mais velha não fica presa aos objetos mais próximos nem aos arredores; ela é capaz de conceituar o espaço em diferentes dimensões; gosta das sutilezas na cor e reconhece as harmonias na linha e no volume. Ela tem muito da habilidade conceitual do adulto. Pode ver a paisagem como um segmento da realidade ‘’la de fora’’, artisticamente arranjado, mas também a conhece como uma força, uma presença, sem as cadeias da aprendizagem, livre do habito enraizado, negligente do tempo, a criança está aberta para o mundo. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 65.)


O Idoso

4 O espaço para todas as idades

Agradabilíssimos são os frutos de fim de estação; a infância é mais bela quando está por terminar; o último gole de vinho é o mais agradável aos que gostam de beber, aquele que entorpece, que dá à embriaguez o impulso final. De cada prazer, o melhor é o fim. É doce a idade avançada, mas não ainda sob a decrepitude, e também eu penso que o período extremo da vida tem os seus prazeres ou, ao menos, no lugar dos prazeres, não sentir mais necessidade deles. Como é doce ter se cansado e abandonado os desejos! ‘’É triste, porém, ter a morte diante dos olhos’’, dizes. Em primeiro lugar, tanto os velhos a têm diante dos olhos quanto os jovens. Não somos chamados de acordo com a idade e, além disso, ninguém é tão velho que não possa esperar mais um único dia. Um único dia é o tamanho da vida. (Sêneca- aprendendo a viver- Da velhice. pág. 21) Me emociono ao pensar nos idosos, tão frágeis e tão desconsiderados; assim como as famílias, os espaços não os abraçam, não consideram que o homem envelhece; todos os usos e atributos são feitos para os sadios, os que possuem o vigor da juventude. A desconsideração com a acessibilidade nos espaços públicos, apesar de prevista em lei, é negligenciada, tratada de forma a obter certificados e prosseguir com os projetos. Os idosos que por vezes foram crianças, também precisam de seu lugar para viver, para interagir com os demais, para passar o tempo que por vezes é tão livre e tão limitado, a função de espectador é também necessária, eles por vezes, se contentam com o apreciar de belas floradas em arbustos e arvores, sob a sombra dos galhos altos, sentados em um banco ao ver e ouvir crianças, o sentimento topofílico com o espaço pode ser ampliado assim, para essa faixa etária; não só isso, é necessário investir em alternativas para recreação. O segredo não está em projetar espaços especificos, mas sim, universais.


LUGAR PARAR ESTAR LUGAR PARA R ESTAR LUG PAR EST AR AR AR LUGAR PARA ESTAR LUGAR

5 Lugar Parar Estar

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5 Lugar Parar Estar

Andar é uma atividade que nos permite experimentar. Quando você caminha, o corpo se conecta com o espaço, texturas, imagens, sons e aromas, que completam o que chamamos de ambiente, que traduzem o que por vezes, sentimos. Andar, caminhar e perceber, é também uma tradução do interior, você vê o que é, o que viveu e o que aprendeu. Por isso, viver é sempre uma experiencia diferente seguida de outra também diferente, aparentemente semelhantes, mas sempre irrepetíveis. Em São Paulo os lugares pipocam das mais variadas formas, dos mais variados conceitos, dos mais variados usos, ocupações e propriedades físicas. As construções em concreto, as construções em madeira, as construções em metais e as construções em paisagem natural, diversificam o lugar na cidade, no mundo.


Como chegamos aqui

Sábado de sol, manhã de fevereiro, 2018. Caminho por Pinheiros, bairro de São Paulo, acompanhado. As ruas por lá são predominantemente ortogonais Caminhamos sem destino, buscando inicialmente, as ruas com sol O que deveria ser um trabalho universitário Se transformou em uma experiencia que aos poucos, tomou outras proporções Um vinho, uma boa amiga e encontros inesperados Rumamos subindo as ladeiras, ao norte Sobe, desce, sobe, desce, vira, sobe e desce As ruas até então mistas e com razoável arborização foram tomando outra característica O sol, elemento até então verdadeiramente norteador Passou a ser menos encontrado As árvores o filtravam, tamanha eram suas existências, os ritmos aceleraram Árvores aqui, ali e lá O chão que antes era asfalto, duro, cinza e impermeável, se transformou Marrom, fofo, verde, cheiroso e acolhedor, fresco. A cidade, em meio a tantas paisagens, nos mostrou uma outra dimensão O espaço sugeria comunhão, descanso e uma fuga do caos cotidiano ‘’Furgere urbem’’ é o que dizem né? Furgerimos rapidamente, em instantes já não estávamos em São Paulo É realmente uma delícia aproveitar essas descobertas Entretanto, os olhos, as bocas e os ouvidos não se calam quando você pensa universalmente É necessário que todos possam desfrutar É necessário que os espaços sejam mais bem aproveitados É necessário que os espaços sejam mais receptíveis É necessário que um dia, todos possam desfrutar da liberdade que eu desfrutei A praça é tão linda, mas ainda assim, inatingível para determinados grupos de pessoas Nasce meu famigerado TCC


Localizada no Sumarézinho em São Paulo, a Praça das Corujas surgiu da união sentimental dos moradores da região, ações comunitárias de ordem não governamental impulsionaram a criação de elementos particulares no lugar, explorados neste trabalho. A Praça Dolores Ibarruri e a Praça Rui Washington Pereira são os nomes oficiais do lugar, que hoje é conhecida por seu apelido popular, Praça ou Horta das Corujas (Figura 35). A Praça das Corujas é um respiro verde dentro de São Paulo, seu uso é predominantemente diurno e abriga uma série de atrativos, como, por exemplo, uma horta comunitária, a Horta das Corujas, onde é possível participar de atividades desde o plantio até a colheita de espécies que ali existem. Dentro da horta também existe: um apiário, onde algumas abelhas sem ferrão dividem o espaço com outros animais e seres humanos; uma pequena construção improvisada fazendo as vezes de um centro educacional, onde acontecem pequenas palestras e atividades voltadas também ao público infantil. As atividades são criadas em geral pelos próprios moradores da região, com a ajuda de uma associação também criada por eles, em que são discutidas ações comunitárias de gestão e de atividades para o espaço.

A Praça das Corujas

Figura 35 - Localização da Praça das Corujas

A praça também conta com espaços para caminhada, abertos e demarcados no chão, dois parquinhos e um grande descampado aberto, onde as pessoas brincam com seus filhos e cães.


Distribuição espacial - atual Figura 36 - Situação existente da praça em 2019 ( 1 - Horta comunitária; 2 - Clareira; 3 - Descampado da cota mais alta; 4 - Parquinho; 5 - Córrego

A Praça das Corujas possui alguns elementos mais expressivos, como os apontados na imagem a cima (Figura 36). 1 - Uma horta comunitária, onde qualquer pessoa pode plantar e participar de eventos esporádicos organizados pelos próprios moradores; 2 -Um descampado onde as pessoas costumam brincar com seus cães e filhos; 3 – Um segundo descampado com em uma cota mais alta da topografia, onde também existe um parquinho; 4 – Um parquinho infantil e 5 – Um córrego que permeia toda a cota inferior do terreno e se desdobra em um parque linear, explorado futuramente neste trabalho.


A Praça das Corujas, assim popularmente conhecida e adotada desta forma neste trabalho, se localiza no Bairro Sumarézinho, em São Paulo. Possui uma área de aproximadamente 27.000 m², dotada de árvores de grande e pequeno porte (Figura 37 e 38).

Figura 37 - Entrada pela rua Juranda

Situações gerais atuais

Figura 38 - Caminhos curvos sob as árvores

Seu entorno é de uso residencial e os comércios das redondezas passam a existir algumas ruas depois da praça, não oferecendo seus serviços aos frequentadores. É comum encontrar pessoas por lá fazendo piquenique, pois o lugar não oferece infraestrutura para que alguém possa comprar alimentos e bebidas na Praça, o piquenique chama atenção não pelo mau uso, mas pela resposta dada das pessoas para com o lugar, ou seja, se quer comer, tem que trazer. A infraestrutura da Praça das Corujas é precária; apesar de possuir grande potencial, o lugar não é dotado de banheiros e a acessibilidade é muito mal resolvida, pois os grandes desníveis ali presentes são vencidos por escadarias e, vez ou outra, por um percurso mais curto criado pela ação pedonal não prevista, produzindo um rastro de terra pisada na vegetação.(Figuras 39 e 40)

Figura 39 - Escadarias

Figura 40 - Caminho de terra pisada


Situações gerais atuais

Em uma das suas entradas laterais e extremas, a praça abriga uma horta comunitária, a Horta das Corujas (Figura 40), que surgiu da vontade da comunidade em criar ali um espaço colaborativo para a prática da jardinagem, e da pequena agricultura. A horta é livre e qualquer um pode ter acesso a ela. Ao entrar no espaço cercado por baixas telas de metal, nota-se uma grande quantidade de avisos a novas pessoas que não conhecem seu funcionamento. Os recados instruem as pessoas que não é permitido plantar árvores e levar mudas das espécies; deve-se apenas colher o alimento e as ervas, permitindo assim que as espécies continuem por ali. Dentro do espaço permitido para cultivo você ainda encontra um apiário e um improvisado espaço de ensino (Figuras 41 e 42), com bancadas e algumas lousas penduradas, onde frequentemente são observados avisos sobre a programação do lugar, como, por exemplo, a jardinagem. Constata-se a inserção das crianças em atividades voltadas a essas ações. A horta é cercada para preservação do espaço porque todos que ali frequentam costumam dividir o espaço com cães levados por moradores, então, para que não haja a destruição do espaço, há um cuidado em manter essa separação.

Figura 40 - Entrada da Horta das Corujas

Figura 41 - Apiário

Figura 42 - Espaço de ensino


A Praça conta também com parquinhos infantis em dois espaços, um maior na cota inferior e outro menor na cota superior da Praça (Figuras 43 e 44) . Esse último está relacionado com um jardim de agaves, plantas espetadas e com espinhos não condizente com as crianças que o utilizam.

Situações gerais atuais

Figura 43 - Parquinho maior

Figura 44 - Parquinho menor

A praça possui caminhos curvos (Figura 45) que se entrelaçam, sendo um deles composto por piso intertravado e outro por pedrisco, que hoje é praticamente inexistente, transformado em um percurso de terra aparente , tendo provavelmente desaparecido em virtude das chuvas e da sua intensidade no fluxo que corre pela terra, acompanhando a alta declividade da topografia.

Figura 45 - Caminhos curvos de difrentes materiais


A praça possui um espaço de clareira central (Figura 46) onde as pessoas levam os cães para brincar. Uma área maior e aberta, sem árvores no meio, onde os animais podem correr atrás de bolas e de seus donos. Um caminho de pedrisco também foi ali projetado, mas hoje não existe mais, é apenas terra pisada. É evidente que os espaços descampados, abertos, fechados ou cobertos, despertam diferentes sentimentos no ser, seja humano ou não, provocando mudanças de hábitos, de comportamento e de relacionamento entre seus semelhantes e com o espaço explorado.

Agorafobia e claustrofobia descrevem estados patológicos, mas espaços abertos e fechados também podem estimular sentimentos topofílicos. O espaço aberto significa liberdade, a promessa de aventura, luz, o domínio do público, a beleza formal e mutável; o espaço fechado significa a segurança aconchegante do útero, privacidade, escuridão, vida biológica (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 31.)

Situações gerais atuais

Os grandes problemas enfrentados pelos usuários do lugar são a falta de acessibilidade, a baixa infraestrutura de suporte, como banheiro e alimentação, e uma proposta de usos muito fragmentada e pouco conectada com o potencial que a praça poderia ter.

Figura 46 - Espaço descampado


Durante os estudos e levantamentos, o trabalho se desdobrou e acabou abraçando uma outra área próxima, o Parque linear das corujas, também existente, com características e necessidades quase que semelhantes com o objeto de intervenção inicial. O Parque Linear das Corujas possui área de 2.300m² e uma extensão linear de aproximadamente 160m, seu uso é predominantemente diurno, assim com a Praça, e o espaço, que já recebeu diversas intenções de projetos não executadas hoje funciona apenas como lugar de passagem e estadia curta.

A extensão O Parque linear

Figura 47 - Localização da Praça e Parque linear das corujas


As relações estabelecidas dentro do parque linear, diferem um pouco das de dentro da praça, ao começar pelo córrego, que acaba fazendo jus ao nome de ‘’parque linear’’, atrelando a existência de um a existência de outro, entretanto as formas e os tratamentos estabelecidos são quase os mesmos, a negação deste elemento. Na Praça das Corujas, o córrego percorre praticamente toda a sua extensão da cota inferior do terreno, de ponta a ponta e o mesmo acontece no parque linear (Figura 48), entretanto no último, a contenção do córrego torna-se um elemento mais visível, sendo alvo de pichações que acabam por trazer o olhar para este elemento tão importante (Figura 49 e 50), o que não acontece na Praça das Corujas, onde o córrego é praticamente escondido pela vegetação e pelo traçado do desenho do lugar, que não faz vistas a ele (Figura 51 e 52).

O Córrego

Parque Linear

Figura 48 - Localização do córrego na Praça e no Parque

Praça das Corujas


Figura 49 - Parque linear e relação com o córrego

Figura 51 - Praça das Corujasr relação com o córrego

Figura 50 - Intervenção no córrego

Figura 52 - Córrego na Praça das Corujas

O Córrego

Por mais que a Figura 52 mostre um ambiente aparentemente mais agradavel, o córrego acaba sendo escondido e evitado, e por consequencia, abandonado e esquecido.


O contato com a água, sempre foi fator importante para o crescimento e desenvolvimento de civilizações, desde a antiguidade até os tempos contemporâneos o homem busca proximidade com fontes de água para produção, transporte, consumo e muitas outras atividades que proporcionam mesmo que inconscientemente, a condição da vida; a relação de homem e água, sempre foi apontada, mesmo em fatos históricos como o desenvolvimento dos Fenícios até na projeção de cidades como Brasília.

Na verdade, aí não existia um lago. Foi criado artificialmente para propiciar um ambiente agradável e também para abastecimento de água para a capital. O lago foi planejado antes da própria cidade. (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág. 197.) Em São Paulo e em muitas outras grandes cidades do mundo, os rios e córregos são tratados com desprezo, entretanto é notável uma onda forte de conscientização para com este assunto, é possível avaliar tanto em aspectos científicos e incentivos projetuais ao redor do mundo, onde recuperam rios poluídos a fim de reestabelecer conexões deles com as cidades. O homem busca contato e conforto no alternativo, busca reestabelecer conexões ancestrais celulares da natureza dentro do seu novo padrão de vida, o que é observado através de práticas simples, porém não menos importantes (Figura 53).

A água

Figura 53 - Mulher praticando Yoga na beira do córrego


A Praça das Corujas, possui uma frente que não se comunica com a cidade, justamente a frente onde o córrego faz margem. Durante toda a sua extensão, não existem caminhos que conectem o espaço interno com o espaço externo do lugar, transposições também não acontecem, é necessário caminhar muito para acessar alguma das entradas, aliás, é necessário caminhar muito pelo outro lado da rua, pois a praça não possui caminhos periféricos (calçadas) que margeiem sua implantação (Figura 54), dificultando ainda mais o processo de locomoção de quem por ali passa e gostaria de ter uma trajetória ou um fluxo mais direto, não existem opções. Hoje os acessos são feitos onde mostra o diagrama a baixo (Figura 55), nos circulos em vermelho.

As comunicações

Figura 54 - Falta de comunicação com a cidade

Figura 55 - Acessos na praça e parque linear das corujas


As áreas dentro da Praça e Parque das Corujas, se dispõe entremeando seus grandes taludes, é possível observar na topografia existente, espaços pelos quais a apropriação se torna mais eficiente sem um tremendo deslocamento de terra. Entretanto, como dito anteriormente, sua acessibilidade é mau trabalhada, as áreas não possuem conexões que estabeleçam diálogos suaves onde a caminhada possa ser universal, como mostram os proximos diagramas e corte esquemático ( Figura 56, 57 e 58).

As áreas

áreas de interesse

Figura 56 - Localização de áreas citadas no texto


Talude Talude

A topografia

Figura 57 - Taludes

Figura 58 - Corte esquemรกtico dos taludes


Lugar Parar Estar

As folhas dentro deste compartimento servem de guia para a explicação e acompanhamento das discussões dentro deste projeto, você está recebendo uma folha com indicações técnicas e outra sem elas, para que a visualização do projeto como um todo não seja interrompida. O suporte que esse trabalho recebeu (a pasta com divisórias) foi idealizado para que as folhas maiores, presentes neste compartimento, pudessem ser removidas sem esforço, ao modo que todas as demais páginas, aqui transformadas em fichas, seguem o mesmo principio. A facilidade atribuida é a de possuir em mãos, quaisquer fichas que sejam necessárias para a compreensão do trabalho como um todo, sendo um fácil elemento de ‘‘monta e desmonta’’ onde analises próprias podem ser aferidas sem a necessidade de voltar páginas, mas sim de consultar ao mesmo tempo, os capitulos que o leitor considerar relevante. Você encontrará também neste compartimento varetas aromáticas para que sua leitura seja o mais agradável possível, imergindo na ideia que lhe será apresentada nos próximos desdobramentos.




LOCALIZAÇÃO DE ÁREAS 1 - CINE 2 - CASA DE CHÁ 3 - CLAREIRA 4 - HORTA COMUNITÁRIA 5 - CONCHA 6 - PARQUINHO 7 - PRAÇA SECA 8 - BOSQUE

8

2

7

3

4

6

5

1

Figura 59 - Localização de áreas


ACESSOS CRIADOS

Figura 60 - Acessos criados


O Chão

A pavimentação nas cidades sempre foi um tema polêmico, em grande parte, as calçadas e os espaços públicos são feitos única e exclusivamente de concreto, o que acarreta uma série de problemas ambientais como por exemplo a drenagem da água, que acaba sendo captadas apenas pelos bueiros e bocas de lobo presentes nas ruas, isso quando não estão entupidas e geram alagamentos por todos os lados. O lixo também é carregado pela água nas chuvas, o que atrapalha as estações de tratamento de esgoto, a chuva que deveria ser um dos menores problemas, acaba sendo coadjuvante no entupimento quando carrega o lixo que os humanos descartam inadequadamente para os lugares de recepção da água. Hoje, entretanto, já existem alternativas para a captação da água da chuva, como por exemplo, os pavimentos drenantes, que recebem a água dos céus sem que se tornem uma barreira impermeável, deixando que a água flua para o solo, o que contribui também para evitar empoçamentos causados pelo bloqueio do concreto e consequentemente, na redução do escoamento de água pelas valetas nas ruas. Os pavimentos drenantes possuem algumas vantagens, como a de fácil manutenção de tubulações ou redes subterrâneas, pois sua aplicação é fácil e sua remoção também, não necessitando de quebra do pavimento, como acontece nos de cimento; outra vantagem é que sua recolocação após a manutenção raramente deixa rastros, o que contribui para uma paisagem mais agradável aos olhos, sem gerar calçadas tão feias esteticamente pelo quebra-quebra das obras civis. O Chão, ganha tratamento especial na intervenção, sendo utilizado amplamente na Praça e Parque linear das Corujas, com intenção de pavimentar sem prejudicar o ambiente, reduzindo assim, as ações brutas no projeto. É possível analisar na implantação do projeto, que manchas de piso drenante foram espalhadas por algumas calçadas, o primeiro motivo é criar um incentivo para que as calçadas sejam também colaboradoras das áreas drenantes na cidade. Consequentemente pela alta aplicação do pavimento no projeto, as manchas espalhadas surgem como sinais no piso de que você está se aproximando da Praça e do Parque linear das corujas (Figura 61 e 62), criando assim, uma identidade forte de projeto, onde as pessoas inconscientemente e conscientemente saberão que estão de aproximando de um lugar que já identificam. A cor do pavimento alterna entre o bordo e o cinza claro. O cinza claro (representado em branco, por linguagem e peso do projeto) foi escolhido para ser um elemento neutro, que faça parte da mescla entre as calçadas existentes e os convencionais de concreto. O bordo é uma cor relacionada ao vermelho, que sugere atenção, fora da praça ele avisa as pessoas de que uma área verde se aproxima; dentro da praça ele está posicionado sempre próximo as áreas onde existem a interface entre o concreto e a vegetação, sugerindo como um manifesto (Figura 63), a atenção para as áreas verdes, um olhar necessário para o espaço natural e o que estamos fazendo com ele.

As cores primárias designam emoções fortes (Yi-Fu Tuan – Topofilia – Um estudo da percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente, pág 27.) Figura 61 - Detalhe de piso em calçada externa a praça

Figura 62 - Detalhe de piso em calçada externa a praça

Figura 63 - Detalhe de piso interno a praça


Os espaços públicos são alvos de diversas atividades durante o dia, que acaba sendo o seu principal período de vida, entretanto, as cidades precisam de mais atrativos noturnos. Os atrativos noturnos são em gerais encontrados dentro de bares, restaurantes ou casas de show, lugares de iniciativa e controle privado, raras são as exceções que fogem dos shows programados gratuitos quando o governo disponibiliza, como por exemplo, a Virada Cultural, o Sp na rua e outros. O que acontece é que esses eventos são tão esporádicos que quando acontecem, geram uma superlotação, as pessoas tem fome de entretenimento público e gratuito, e nessas explosões, os gastos acabam sendo enormes, e se espalhados devidamente, sua administração poderia quem sabe, ser outra. As cidades precisam estar mais preparadas para oferecer entretenimento, de uma forma saudável, e isso não significa apenas festas e shows o tempo inteiro. É dessa vontade de criar um espaço público, que utilize a escuridão da noite como mote para sua instalação, que surge o Cine das Corujas.

O Cine

Figura 64 - Ampliação do Cine das Corujas

Figura 65 - Simulação volumétrica 3d do cine

Figura 66 - Croqui cine


O Cine se aproveita do desnível natural entre o córrego e a pavimentação existente para criar uma espécie de arquibancada, voltada para fundos de lote que criam empenas no Parque Linear das Corujas onde projeções acontecem. EMPENA EXISTENTE

+739.5

+738

+736 PAVIMENTO DRENANTE

CÓRREGO

CORTE AA 1m

3m

5m

Figura 67 - Corte AA - Cine


O Caminho

Caminhar sempre foi uma das atividades que gosto de fazer, quando pequeno, aos finais de semana, caminhava com meu pai pelas ruas de Taboão da Serra rumo a loja de animais. Acho que aprendi com ele a experiencia do andar, de caminhar, de prestar atenção nas atmosferas, ainda que não entendesse disso. Nosso caminho era longo para uma criança de 6 anos de idade, por vezes, precisava sentar na calçada e descansar um pouco, ou sentar sobre seus ombros enquanto ele me levava, uma atividade muito bonita entre pai e filho, eu diria. O caminho era muito agradável, passávamos pela banca de jornal, pelo riozinho próximo a minha casa, por um lago artificial onde viviam perus grugulejando o tempo inteiro até que após cruzar uma grande avenida, lá estava ela, a loja de animais. O destino por mais prazeroso que fosse, não era a experiencia que meu pai me proporcionava, mas sim o caminho até lá, nos divertíamos muito. O caminho é um elemento de extrema importância, ele tem o poder de influenciar emotivamente as pessoas; por vezes nos sentimos irritados ao pegar um caminho que não gostamos, entretanto, quando fazemos disso uma pratica prazerosa, o caminho pode mudar por completo nossos sentimentos diários, fazendo com que surjam comentários inesperados do tipo ‘’ eu gosto de tomar café ali’’, ‘’ali tem uma pracinha muito linda’’ ou ‘’essa é a rua da minha casa’’, como se atravessar tais espaços fosse nos preenchesse com um orgulho do espaço que habitamos, o caminho é um dos espaços que mais habitamos no nosso cotidiano. No Feng Shui o caminho também recebe devida atenção em suas práticas, é importante estabelecer boas conexões, criar identidade, perceber onde estamos. O Feng Shui recomenda que você possa identificar sua casa através do caminho, qualquer símbolo pode trazer essa conexão, mesmo morando em um apartamento, por exemplo, você pode pendurar em sua porta algo que você veja quando saia do elevador, e quando seus olhos mirarem o objeto, seu cérebro identificara que você está chegando em um lugar de paz, de descanso, a sua casa, é hora de parar. Os Caminhos estabelecidos dentro deste projeto buscam criar identidade, acontecimentos e uma boa experiencia no caminhar resultante de toda ação projetual.


A Identidade

A identidade dos espaços é criada a partir do momento em que fazemos conexões dos espaços com o que eles são, com o que eles nos fazem sentir. A importância desse elemento único estabelecido individualmente pode ser abordada de uma forma física também. Quando vamos a algum lugar e queremos nos encontrar com alguém, normalmente estabelecemos um ponto de encontro, um ponto em que sabemos a identidade, que reconhecemos o espaço, um referencial. Quando estamos inseridos no meio urbano, esses referenciais se tornam por vezes, as construções, as ruas ou elementos criados pelos homens, por exemplo, ao se encontrar com um amigo na Avenida Paulista, você provavelmente combinará em frente ao MASP, ao Conjunto Nacional, em frente a Casa das Rosas, ou quando está no Centro Universitário Senac Santo Amaro que marca de encontrar alguém em frente a ‘’Arvore grande da entrada’’, ou na praça 2, o ponto é, criamos identidade com o lugar e assim nos apropriamos dele. Dentre as iniciativas criadas para identificação dentro deste projeto temos as construções, O Cine, O Caminho, A Concha, O Canto e A Casa, alguns destes explorados nas próximas partes deste trabalho, entretanto existe uma mais sutil, que faz associação direta com a Horta das Corujas, os canteiros das entradas. Cada entrada deste projeto possui uma massa vegetativa de uma espécie característica e específica aromática, um canteiro onde a vegetação cria o nome da entrada (Figura 68) . Na entrada 1 o plantio de Hortelã – A entrada Hortelã Na entrada 2 o plantio de Alecrim – A entrada Alecrim Na entrada 3 o plantio de Tomilho – A entrada Tomilho Na entrada 4 o plantio de Lavanda – A entrada Lavanda Na entrada 5 o plantio de Manjericão – A entrada Manjericão Na entrada 6 o plantio de Funcho – A entrada Funcho Na entrada 7 o plantio de Orégano – A entrada Orégano Na entrada 8 o plantio de Erva cidreira – A entrada Erva Cidreira Na entrada 9 o plantio de Capim Santo – A entrada Capim Santo Na entrada 10 o plantio de Salsa – A entrada Salsa


ENTRADAS ÁROMATICAS Figura 68 - Diagrama de localização das entradas aromáticas

9 10 8

7

4

3

1 2

5

6


Os caminhos curvos no projeto são feitos do mesmo pavimento drenante experimentado nas calçadas do entorno, entretanto, por vezes nos deparamos com uma segunda situação de caminhos, as transposições dos córregos, feitas em quatro momentos, no primeiro por uma ponte existente e não alterada, no segundo pela extensão de uma calçada elevada metálica perfurada, na terceira por um deck de madeira e na quarta e última, uma segunda continuação da calçada feita de material metálico perfurado (Figura 69, 70 e 71) .

Figura 69 - Ampliação da transposição 1

As transposições

Figura 70 - Ampliação da transposição 2

Figura 71 - Ampliação da transposição 3 e 4


TRANSPOSIÇÕES DO CÓRREGO

Figura 72 - Diagrama de localização das transposições

4

3 2

1


Como dito anteriormente, a praça não possui uma comunicação com a cidade em sua cota inferior, criando uma barreira e utilizando o córrego para reforçar ainda mais esse abismo existente entre elas, para a resolução deste problema, foi elaborada uma calçada elevada do solo, feita de material metálico perfurado. A calçada elevada faz com que a intervenção no solo natural seja menor, apenas apoiando onde for necessário para estrutura-la. O material metálico perfurado utilizado como ‘’pavimento’’ da calçada permite a entrada de luz para a vegetação existente e consequentemente a de água também, não sendo um elemento que interfere prejudicialmente na questão das águas pluviais. Criar passagens em cima do córrego faz com que ele se torne um elemento que é visto, o integra dentro da programação local, retoma a proposta do contato com a água, com o natural.

A calçada elevada

CÓRREGO

Figura 73 - Croqui da calçada elevada metálica


CALÇADA ELEVADA METÁLICA

Figura 74 - Diagrama de localização da calçada elevada metálica


Ao entrar pela entrada lavanda, nos deparamos com o primeiro acontecimento do Caminho, (Figura 75) bancos percorrem os primeiros metros do espaço até se transformarem em uma arquibancada que se volta para uma escada, que desce em direção ao córrego, essa escada se desdobra em um pequeno deck-mirante que se volta para o córrego, este espaço foi pensado a partir da imagem onde a mulher que pratica Yoga tenta se conectar com a água.

O acontecimento da água

Figura 75 - Ampliação entrada lavanda


BANCO ARQUIBANCADA PAVIMENTO DRENANTE

+741

DECK

CALÇADA ELEVADA

+740

+740 + 739.28 +738.5 CÓRREGO

CORTE BB 1m

3m

5m

Figura 76 - Corte BB - Caminho


A topografia da Praça das Corujas é fortemente acidentada, e para vencer seus grandes desníveis, foram criadas rampas com inclinação de 6% seguindo a norma brasileira e uma escadaria (Figura 77) para um fluxo mais direto no local onde havia o caminho de barro pisado gerado pelo fluxo de pessoas que por ali passam.

As Colinas

Figura 77 - Ampliação acessibilidade construída


CURVAS DE NÍVEL Figura 78 - Curvas de nível

+763 +766 +760

+753

+740

+740

+745


A imagem anterior ( Figura 78) mosra as principais cotas de nível do espaço, e para vencê-las, como vemos na próxima imagem (Figura 79) foram projetadas : 1 - Escadão, que conecta 3 níveis da praça 2 - Rampa que conecta 2 níveis 3 - Rampa que conecta 2 níveis 4 - Escada e Plataforma de elevador que conecta 2 níveis

4

As Colinas

3

1

2

Figura 79 - Diagrama de localização das rampas e escadas - Ampliação


Por conta de um alto desnível de um plano para o outro, algumas estratégias foram adotadas, a escadaria conecta os 3 níveis para uma passagem mais rápida, as rampas conectam apenas 2 para que possuam uma inclinação suave e agradável ao caminhar. A rampa número 3 é posicionada para chegar em uma cota intermediária e fazer conexão com uma escada menor e uma plataforma com elevador para vencer o último nível, criando fluxos distintos (Figura 80).

As Colinas

Figura 80 - Diagrama de fluxos criados


PAVIMENTO DRENANTE

+764 PAVIMENTO DRENANTE

+753 PAVIMENTO DRENANTE

+744 +741

CORTE CC 5m

10m

15m

Figura 81 - Corte CC - Escadão


Figura 82 - Ampliação e detalhamento da rampa -2


2

1

3

4

A B

11

9

10

7

8

5

12

6

13 C

22

D 21

E F 14 5m

10m

16

15

17

18

20

19

15m

+760

+760

+754

+759 S +758 S

S +757

S

+756

S

S

+755

Figura 83 - Ampliação e detalhamento da rampa -3


O traçado curvo das curvas de nível induziram o traçado dos caminhos, que por consequência, infectou também a arquitetura, curvas! Foi desenhado então uma linha básica de mobiliário que também auxiliasse em um problema alarmante na praça, a Iluminação. A Iluminação na Praça e Parque das corujas é escassa, e em uma conversa com habitantes do lugar, muitos me contaram que tem medo de entrar na praça a noite, porque na verdade os postes que existem, não funcionam, se tornando um ambiente amedrontador. O mobiliário conta com uma fita de led acoplada no objeto, que acendem ao anoitecer.

LED

Figura 85 - Banco

NOITE

O Corrupiar - Banco

Figura 86 - Banco iluminado

Figura 84 - Croquis banco

NOITE

Figura 87 - Bancos iluminados


Mesas também recebem a fita de tecnologia led, tornando-se um conjunto que contribui na iluminação dos espaços e torna o ambiente de sentar também possível durante a noite.

LED

LED

Figura 88 - Mesa

NOITE

O Corrupiar - Mesa Figura 89 - Mesa iluminada

NOITE

Figura 91- Croqui mesa e banco

Figura 90 - Mesa iluminada


LED LED

Figura 92 - Gangorra de frente

Figura 93- Gangorra de cima

Figura 94- Gangorra

Figura 95 - Gangorra iluminada

NOITE

O Corrupiar - Gangorra

NOITE

Figura 97 - Croqui Gangorra

Figura 96 - Gangorras iluminadas


NOITE

Figura 98 - Poste

O Corrupiar - Poste

Figura 99 - Poste aceso e iluminado Figura 101- Croqui Poste - Passaros

Por se tratar de um ambiente de alta variedade de fauna e flora, o design do poste de luz buscou acompanhar o do restante do mobiliario, com uma intenção predominante, de que o foco de luz fosse exclusivamente voltado para o piso, para o pedestre, evitando o foco principal nas årvores, que resultaria no estresse de animais que moram ali.

NOITE

Figura 100- Postes acesos e iluminados


Continuando pelo caminho, encontramos outro equipamento, a Concha. A Concha é uma espécie de pavilhão, que faz o intermédio entre o espaço externo descoberto e o espaço externo coberto, ela não possui barreiras mas sim possibilidades de permear seu espaço. Ainda dentro da concha, um grande e longo banco faz a passagem do meio externo para o interno, voltando sua curvatura para dentro, como uma arquibancada, pronta para assistir qualquer coisa. Paralelamente, do outro lado, um sanitário faz costas com a arquibancada, unindo o equipamento de cobertura para ambos os usos.

A Concha Figura 102 - Concha interno

Figura 101 - Croquis Concha

Figura 103 - Concha externo interno


Figura 104 - A Concha - detalhamento e ampliação

As costas do banheiro se transformam em pias, prontas para prestar apoio a oficinas de jardinagem ou qualquer outra atividade que necessite de água para funcionamento, contanto também com dois armários, um de apoio e outro para a manutenção dos sanitários. A circulação dentro do espaço de espetáculo na concha não vai de encontro com a do sanitário, possibilitando usos que não interfiram durante um funcionamento simultâneo.


Figura 105 - Concha detalhamento construitivo


PISO DRENANTE

+742

PISO DRENANTE

+742

+741.46

+742

CORTE DD 1m

3m

5m

Figura 106 - Corte DD


PAVIMENTO DRENANTE

PAVIMENTO DRENANTE +760

PAVIMENTO DRENANTE +752

+742

CORTE EE 5m

10m

15m


Continuando ao norte pelo caminho rumamos ao canto, e nos deparamos com o parquinho, rodeado de grandes e longos bancos onde os idosos e os pais podem assistir o efervescer da juventude. As crianças são o reflexo do que um dia fomos, um resquício de um tempo onde se era permitido perguntar sem restrições, imaginar sem ter limites, ou ao menos, sem os conhecer.

O Canto

Figura 107 - Ampliação Parquinho


PAVIMENTO DRENANTE

PAVIMENTO DRENANTE +747

+743

+743

CORTE FF 1m

3m

5m

Figura 108 - Corte FF


O que era parquinho então se desdobra em uma grande área de pavimento drenante, na entrada Erva-Cidreira e Capim Santo, uma praça seca que segue a topografia existente dá ao canto, uma multifuncionalidade, onde eventos de quaisquer tipos podem acontecer, desde uma feira de frutas, legumes, artesanatos, até shows. A Praça seca comporta uma grande arquibancada de concreto, com largos patamares onde é possível deitar, sentar e subir e assistir de cima. A Praça seca é um convite para expor, abre espaço ao ambulante, ao artista a cidade. Na sua extremidade, ainda se preserva um espaço arborizado, o bosque, onde mesas estão dispostas para piqueniques e pequenas reuniões.

O Canto

Figura 109 - Ampliação do canto


+746

+744

CORTE GG 1m

3m

5m

Figura 110 - Corte GG


PAVIMENTO DRENANTE

MOBILIÁRIO +747

CORTE HH 1m

3m

5m

Figura 111 - Corte HH


Por fim o caminho leva à casa, a casa sob os eucaliptos, um evento que surge da necessidade de um ambiente onde se possa estar, comer, sentar, relaxar, a fuga do caos, um lugar de experimentações, onde assim como nos estudos de caso, a iniciativa empreendedora comercial contribua para a manutenção do espaço como um todo. Com a intenção de unir o uso comercial, o lazer e a horta, surge a Casa de Chá, um lugar onde as pessoas podem aprender um pouco mais sobre essa bebida ancestral, participar de eventos e oficinas relacionadas ao universo da jardinagem.

A Casa

A casa se encontra na cota mais alta do terreno, seu lugar de pouso foi escolhido por alguns fatores: 1 – O plano da cota mais alta possui uma via de acesso direto a ele, facilitando assim, a chegada de pessoas através do uso do automóvel; pessoas com problema de locomoção se beneficiam deste acesso. 2 – O plano mais alto possui a melhor vista da praça, voltada a vila Madalena.


As situações

Figura 112 - Croqui situações


ESCOLHIDA

Figura 113 - Situação 1

As situações

Na situação 1 o humano se concentra na cota mais alta da topografia do terreno, a +766. Lá a vista é a mais ampla, onde conseguimos ver toda a praça de cima e ainda a cidade do outro lado.

Figura 114 - Vista situação 1

Figura 115 - Situação 2

Na situação 2 o humano se concentra na cota intermediária da topografia do terreno, a +753. Lá a vista ainda é ampla, porem mais baixa e com mair influencia das copas das arvores que bloqueiam parte da visão.

Figura 116 - Vista situação 2


Figura 117 - Situação 3

Na situação 3 o humano se concentra na cota inferior da topografia do terreno, a +740. Lá a vista é interrompida, é uma imersão dentro do plano vegetal, ainda que interessante, não dentro da proposta para a Casa de Chá.

As situações

Figura 118 - Vista situação 3

Figura 119 - Situação 4

Na situação 4 o humano se concentra na cota inferior da topografia do terreno, porém fora da praça também na cota +740. Lá a vista é suprimida e menos interessante, além de estar fora do terreno..

Figura 120 - Situação 4


ÁREAS VERDES

Figura 121 - Ampliação Casa de Chá


A Casa de Chá possui 3 formas de acesso: Pela Praça das Corujas - Escadaria Pela Rua Gumercindo Fleury - Escadaria e Plataforma elevatória Pela Rua Pirajibe - Nível da Rua Acesso através da Praça das Corujas

O Acesso

Acesso através da Rua Gumercindo Fleury Figura 122 - Acessos Casa de chá

Acesso através da Rua Pirajibe


PROGRAMA EXTERNO LEGENDA 1 - ACESSO PELA RUA ALFREDO PIRAJIBE 2 ACESSO PELA RUA GUMERCINDO FLEURY 3 - ACESSO PELA ESCADARIA DAS CORUJAS 4 - BANCO ESPREGUIÇADEIRA 5 - BANCOS HORIZONTE MADEIRA 6 - DECK DE MADEIR 7 - ESPELHO D’ÁGUA

5

3 4

6

3

2

Figura 123 - Programa externo

1 RUA ALFREDO PIRAJIBE


PROGRAMA INTERNO

4 5 3 15 LEGENDA 1 - HALL DE ENTRADA 2 - SALA MULTIUSO 3 - SALÃO INTERNO 4 - SALÃO EXTERNO 5 - SANITÁRIO UNISSEX LOJA 6 - LOJ 7 - DEPÓSITO DA LOJA 8 - CAIXA 9 - BALCÃO/ BAR 10 - COZINHA 11 - DEPÓSITO DA COZINHA 12 - ESCRITÓRIO SERVIÇO 13 - CIRCULAÇÃO DE SE 14 - VESTIARIO 15 - SANITÁRIO FUNCIONÁRIOS UNISSEX

14

13

Figura 124 - Programa interno

9

10

6

8 7 11 12

1

2


LAYOUT

Figura 125 - Layout bรกsico


Os fluxos públicos da Casa de Chá são diversos, possibilitando que você permeie seu interior passando diretamente pela casa escolhendo entrar no salão de alimentação ou não.

Os Fluxos públicos

Figura 126 - Fluxo direto

Há também um fluxo onde é possível um caminho mais curto do ambiente externo diretamente para o banheiro, sem cruzar o salão de alimentação para chegar até lá, o contrário também é possível.

Figura 127 - Fluxo sanitário


A casa de chá contempla uma sala multiuso onde é impossível distinguir o que é frente e o que é fundo, em um momento ela se abre para a imensidão da Praça e em outro se abre para um jardim dotado de uma fonte. Ela possui grandes portas de vidro que se recolhem umas nas outras, criando uma abertura onde for necessário, inclusive de um espaço aberto para o outro, os fluxos alternam entre espaço aberto – espaço fechado e entre espaço aberto – espaço aberto.

Os Fluxos públicos

Figura 128 - Fluxo da sala multiuso

Os Fluxos públicos são muitos e nenhum deles interferem nos fluxos de serviço.

Figura 129 - Fluxos possíveis


Os fluxos de serviço acontecem de forma independente, permitindo que as áreas administrativas e de serviço funcionem sem interferir no público. É possível acessar o bar e o salão por estes fluxos e sua saída também é correspondente.

Os Fluxos de serviço

Figura 130 - Fluxos de serviço

A entrada dos acessos de serviço também está mais próxima das entradas das vias, facilitando o acesso para transporte de materiais.

Figura 131 - Fluxos de acesso serviço


Fachadas

Figura 132 - Referencia de fachada


Ao acessar a casa de chá pela Rua Alfredo Pirajibe você se depara com a fachada 1 e 2, fachadas que expressam grandes empenas cegas, onde as aberturas não são evidentes, a ideia desse espaço é criar uma zona de compressão, onde a pessoa que por ali chega, tem sua visão restringida pela arquitetura e os muros do jardim. Ao atravessar essas zonas de quebra de visão e adentrar na casa de chá, uma dilatação visual acontece; o que era bloqueado se abre para o vale reforçando ainda mais a ideia de amplidão da vista existente.

Fachadas

EMPENA

EMPENA APARENTE

MURO

MURO VISÃO

PESSOA

Figura 133 - Bloqueio visual


A Fachada 1 faz intermédio dos depósitos das áreas internas, suas janelas são mais próximas do chão e são escondidas pela vegetação do jardim

Figura 134 - Simulação volumétrica da experiencia

Fachadas

Figura 135 - Croqui aberturas escondidas Figura 136 - Zona de compressão e dilatação


A fachada 3 possui comunicação direta com a 5, possibilitando uma integração de diversos ambientes como dito anteriormente nos fluxos públicos. Isso se dá devido a suas grandes portas instaladas sob trilhos que possibilitam um recolhimento de 50%

Figura 137 - Fachada 3 - sala multiuso

Fachada 3

Figura 138 - Fachada 3 - sala multiuso aberta


Nas fachadas 5,6 e 7 uma diversidade de possibilidades de usos existe, ao começar pela própria caixilharia da fachada 5, que pode ser recolhida assim como na fachada 3, criando fluidez no espaço; a fachada 6 possui uma caixilharia que por vezes funciona como fechamento da edificação e por vezes como próprio objeto de ocupação, tendo uma peça que gira em torno de um eixo 90 graus e se transforma em mesa; na fachada 7, o próprio fechamento de madeira do edifício ganha formas e se transforma em uma grande espreguiçadeira que corre junto com as curvas projetadas.

Figura 139 - Fachadas voltadas para a vista da praça

Fachadas 5,6,7 e 8

A figura 140 mostra um tratamento diferente das paredes, dos fechamentos, onde o elemento de divisão serve também como objeto de experiencias, no caso, a parede externa se transforma em espreguiçadeira.

Figura 140 - Fachada da espreguiçadeira


Figura 141 - Fachada 6 completamente fechada

Fachada 6

Figura 142 - Fachada 6 parciamente aberta

Figura 143 - Fachada 6 aberta e ressignificando uso

Figura 144 - Fachada 6 transformada em mesa - fachada viva


ESTRUTURA - EIXOS Estruturas de concreto protendido

3

2 1

6

4 5

A

B

Figura 145 - Eixos estruturais primรกrios

7

8


ESTRUTURA - EIXOS SUPERIORES Estruturas de concreto protendido

11 10 9

12

13

C

D

Figura 146 - Eixos estruturais secundรกrios

14


BRISE BANCO ESPREGUIÇADEIRA FLOREIRA TELA BANCO

A Arquitetura da Casa de Chá contempla as possibilidades de ventilação cruzada e convecção térmica, visando maior conforto ambiental para a edificação e para os usuários, que além de contarem com ar renovado, não ficam sujeitos ao uso continuo do ar condicionado, sendo benéfico tanto para frequentadores quando para funcionarios

CORTE II 1m

3m

5m

Figura 147 - Corte II


+766

VENTILAÇÃO CRUZADA 1m

3m

4m

Figura 148 - Diagrama de ventilação cruzada


ar quente

ar frio

CONVECÇÃO TÉRMICA 1m

3m

4m

Figura 149 - Diagrama de convecção térmica


Figura 150 - Experiência sensorial

aroma

Experiencia na fachada Paralelamente as pessoas deitadas na espreguiçadeira, um canteiro de ervas aromáticas se forma no seu espaldar, entre o espaço externo e o espaço interno da casa, sendo divididas por uma tela metálica onde só se é possível passar o ar. Essa experiencia busca desenvolver os sentidos e as experimentações em torno do paladar, olfato e audição (enquanto a pessoa come, sente o cheiro e as vozes que vem de fora da casa), fazendo com que a ausência da visão desenvolva curiosidade e sensibilize a pessoa que está comendo no balcão de que é necessário sair para sentir por completo, de que necessário assumir posturas para experimentar por inteiro, estar fora do edifício constrói uma outra linguagem, a da abertura, a da comunicação com o principal elemento, a Praça.


Considerações finais

As áreas verdes e livres possuem papel importante na manutenção da vida urbana, tais espaços possuem o poder de reestabelecer o contato do homem com a natureza, mesmo que por alguns instantes, fazendo com que a estressante rotina das metrópoles seja atenuada ao entrar em contato com tais espaços. Diversos estudos e livros abordam a importância do contato humano com a natureza, como por exemplo, o livro ‘’The Nature Fix’’ que fundamenta toda uma discussão baseada em estudos científicos do quão benéfico é o contato do ser humano com o meio natural, influenciando diretamente em questões metabólicas e biológicas dos humanos, trazendo melhoras abruptas. O livro ‘’Topofilia – Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente’’ traz a tona a discussão da relação direta do homem e o espaço em que ele vive, onde cria laços e desenvolve sua cultura, gerando uma linha de conexão direta entre o bem estar da vida e dos espaços onde ela acontece. Entretanto, tais espaços necessitam de apoio e qualidade para que se sustentem e possam oferecer seus benefícios a todos os frequentadores. O projeto buscou a revitalização e ressignificação dos espaços através de intervenções pontuais dentro da Praça e Parque Linear das Corujas, permeando universos da arquitetura, do paisagismo, do urbanismo e até mesmo do desenho do objeto. O assunto não termina por ai, é importante ressaltar que os meios de reestabelecer laços humanos com o ambiente são muitos, sendo muito subjetivos e variando de acordo com a cultura local. Ao considerar a criação de laços afetivos entre espaço e homem e sendo esse, um fator decisivo na qualidade e sucesso do desenho do espaço público, é importante ressaltar que existem diretrizes universais, como a acessibilidade, a criação de identidade, o atendimento as necessidades básicas do individuo e a oferta de diversidade na ocupação do espaço, este trabalho desenvolveu uma série de alternativas para que essa universalidade fosse alcançada, buscando sempre observar as respostas reais das pessoas no ambiente já existente.





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