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Projeto humanizado

N o H ospital G eral de s ão C arlos , arquiteto l elé equilibra soluções do partido arquitetô N i C o ao bem - estar dos usuários

Uma edificação de saúde voltada ao estUdo deve facilitar a relação entre o médico e o residente e garantir o conforto indicado à recuperação de pacientes. Foi partindo desta premissa que a Prefeitura de São Carlos (SP) encomendou um hospital-escola para a Universidade Federal ao arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), reconhecido por seus projetos para a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Além do aço, utilizado nas estruturas, um dos traços marcantes deste projeto são os telhados sheds e o sistema de ventilação natural controlado por acionamento mecânico no forro. Estas soluções são recorrentes nos trabalhos de Lelé e, neste caso, colaboram para a redução do índice de infecção hospitalar e economia com ar-condicionado.

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A partir do estudo realizado pelo arquiteto para a criação do Hospital Geral de São Carlos, um escritório parceiro, o Apiacás Arquitetos, desenvolveu o projeto executivo. De acordo com o arquiteto Anderson Freitas, do escritório Apiacás, a área de implantação do hospital tem aproximadamente 45 mil m2. “Trata-se de um terreno público, pertencente ao município que optou por incluir nele a rede

Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que ocupa uma pequena área do local.”

Foi prevista a construção de quatro edifícios em duas etapas: a primeira contempla 6 mil m2, e já foi entregue. A segunda, iniciada em 2008, prevê mais 20 mil m2 e ainda está em fase de execução. Esta última deve abrigar 14 salas de cirurgia, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 220 leitos, salas administrativas, centro de estudo e auditório.

Construção

O arquiteto Anderson Freitas conta que na parte mais leve do projeto, como térreo e subsolo de ventilação, onde estão os setores de espera e atendimento e as salas cirúrgicas, as fundações são diretas no solo. Já no setor de internação, as fundações são do tipo strauss

A estrutura é, em parte, metálica, pré-fabricada e montada in loco. “O projeto possui um embasamento que tem como função criar uma caixa de ventilação por convecção. Este embasamento é executado em concreto com pilares a cada 2,5 m para apoiar as lajes pré-fabricadas, que vencem o mesmo vão. O vão com eixos de 2,5 m foi deliberadamente desenhado para evitar que o subsolo se tornasse um estacionamento de automóveis. Sobre este embasamento, a estrutura é executada em aço, com vãos maiores conforme a resistência da estrutura primária”, explica.

O aço trouxe facilidade de montagem e velocidade na execução das obras dos edifícios do Hospital São Carlos, que devem abrigar centro de estudo, serviços técnicos, emergência, centro cirúrgico, internação e serviços gerais. Abaixo, vista externa do jardim com espelho d´água, recurso para tornar o clima mais ameno

Segundo Freitas, o aço trouxe ao projeto benefícios como facilidade de montagem e velocidade na execução. Foram utilizados perfis em viga I para as vigas de travamento (dos setores de espera e pronto atendimento). Além disso, a cobertura em arco é executada em treliça metálica. A estrutura mista da área de internação (edifício de quatro pavimentos) possui vigas em perfil I metálicas e lajes em concreto, com a vedação, cobertura e brises, estruturados por um arco metálico em perfil I.

Quando perguntado sobre o componente principal da obra, o arquiteto Freitas responde que “o principal componente é o projeto em si”. Ou seja, um edifício hospitalar que tira partido da ventilação natural controlada por um sistema permanente de acionamento mecânico, localizado no forro. “O fato de possuir ventilação natural reduz drasticamente o índice de infecção hospitalar”, destaca. Ele acrescenta que o sistema de ventilação também reduz o uso do ar-condicionado, gerando economia para a administração.

Além disso, optou-se por telhado sheds, com grandes aberturas para iluminação e ventilação. Os sheds ficam acima dos caixilhos basculantes em policarbonato translúcido, que guarnecem os tetos e, desta maneira, cria-se um grande colchão de ar ventilado

> Projeto arquitetônico: João Filgueiras Lima (Lelé)

> Desenvolvimento: Brasil Arquitetura e Apiacás Arquitetos

> Área construída: primeira etapa: 6 mil m²; segunda etapa: 20 mil m²

> Volume de aço: 1.300 t

> Projeto estrutural: Eleve Engenharia

> Fornecimento e execução da estrutura metálica: Ala Coberturas

> Execução da obra: MVG Engenharia e Construart

> Local: São Carlos, SP

> Data do projeto: 2004

> Conclusão da obra: sem previsão oficial

O formato em arco das estruturas em aço deu origem ao prédio destinado à internação protegido do sol e da chuva, possibilitando o controle de ventilação cruzada em cada ambiente, de acordo com o posicionamento dos basculantes.

Os fechamentos do hospital-escola foram executados em alvenaria, com painéis metálicos e naturalmente em vidro onde existem caixilhos. Já os revestimentos selecionados resultaram do sistema construtivo adotado. “Se o fechamento é metálico, fica aparente; se é alvenaria, é revestido com argamassa e pintado. Nos casos das áreas molhadas, foram aplicados azulejos. O piso é sempre cerâmico de alta resistência, com exceção da área cirúrgica, onde é eletrostático”, explica.

Em relação às dificuldades de execução da obra, o arquiteto afirma que todo o projeto possui suas peculiarida- des. “Lógico que por se tratar de um hospital, isso toma uma proporção maior em função das muitas tecnologias disponíveis para o bom funcionamento de um equipamento deste porte”, conta. Uma das definições dadas pelo arquiteto Lelé para edificações voltadas à saúde é que “um projeto de um hospital, por sua complexidade técnica e, principalmente, por sua função de abrigar o ser humano em um momento de fragilidade física e psíquica, exige a integração de fatores que determinarão a qualidade da obra e o retorno social do investimento”.

De certa maneira, esta é uma das características do projeto do Hospital Geral de São Carlos, ou melhor, das obras com essa tipologia assinadas por Lelé. “O projeto previu a humanização dos locais de maior permanência de pacientes ou de funcionários, tais como esperas, boxes de observação, descanso de médicos e de enfermeiras, administração, entre outros setores. Isso ocorreu por meio da integração de terraços, solários e áreas ajardinadas internas ou externas”, conclui Anderson Freitas. Apesar da obra se encontrar em estágio avançado, devido à necessidade de paralisação dos trabalhos, o projeto não tem data exata de entrega. ( m c s .) M

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