travessia Notícias do São Francisco
“Eu viro carranca pra defender o Velho chico” A escassez de água e a transposição do São Francisco foram os assuntos em debate na XXXII Plenária Ordinária do Comitê
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No Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, 3 de junho, os moradores de cinco cidades ribeirinhas, Pirapora (MG), Ibotirama (BA), Propriá (SE), Traipú (AL) e Paulo Afonso (BA), tomaram as ruas para celebrar o rio da integração nacional. Organizada pelo CBHSF, com o apoio
da Bacia Hidrográfica do Rio São
da Agência Peixe Vivo, o mote da campanha, em 2017,
Francisco (CBHSF), que aconteceu
é a transformação do Cerrado e da Caatinga em
em maio, em Recife
Patrimônio Nacional
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jornal do comitê da bacia HidroGrÁFica do rio são Francisco / junHo 2017 | nº 02
Este mês, o Travessia clama por reflexão: o que podemos fazer pelo rio São Francisco? Desde que o Brasil é Brasil, é ele, o Velho Chico, quem faz por nós. Durante o ciclo do ouro, fora o caminho para a interiorização do país. Hoje, é luz: Três Marias, Sobradinho, Paulo Afonso, Itaparica, Moxotó e Xingó. Também é alimento. Dele dependem grandes e pequenas plantações. Dele depende a vida de 505 municípios ribeirinhos de seis estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Diante de uma crise hídrica sem precedentes, torna-se cada vez mais urgente pensar soluções para a sua sobrevivência e sustentabilidade. Nos dias 18 e 19 de maio, mais de 200 convidados participaram da XXXII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). A escassez de água e a transposição foram os assuntos colocados nas mesas, de onde surgiram diretrizes para ações eficientes. No dia 3 de junho, o CBHSF, com o apoio da Agência Peixe Vivo, celebrou o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, com atividades em Pirapora (MG), Ibotirama (BA), Propriá (SE), Traipú (AL) e Paulo Afonso (BA). A campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” lançou um abaixo-assinado, para transformar os biomas da Caatinga e Cerrado em patrimônio nacional. Eis aí algo que podemos fazer pelo nosso rio: participar. Só o nosso engajamento pode salvar o Velho Chico.
Encontro em Recife vira palco de discussões em busca de soluções para a crise hídrica e também para a gestão da transposição do rio São Francisco Texto: Delane Barros Nos dias 18 e 19 de maio, no hotel Golden Tulip, em Recife (PE), mais de 200 convidados participaram da XXXII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Diante de uma das maiores crises hídricas da história, a busca de soluções permeou o encontro, que foi aberto pelo vice-presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, substituindo o presidente, Anivaldo Miranda, afastado para tratamento de saúde.
Abertura da Plenária
Foto: Marcelo Andrê
josé maciel nunes oliveira Presidente em exercício do cbHsF
a escassez de água em debate
Foto: Victor Jucá
o são Francisco precisa de nós
Em Carinhanha, na Bahia, em alguns pontos é possível atravessar o São Francisco caminhando
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A crise hídrica na mesa Representantes de órgãos relacionados à questão participaram da mesa “Crise Hídrica na Bacia do São Francisco”. O superintendente da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Gondim, fez uma explanação sobre novas ações para a gestão das águas. Segundo ele, o quadro atual exige discussão clara e transparente sobre medidas de redução da demanda. De acordo com Gondim, caso não viessem sendo aplicadas medidas restritivas de vazão, o Velho Chico já teria secado. A posição da ANA é de preservar o volume morto do reservatório de Sobradinho, na Bahia. Se estivesse sendo praticada a vazão de 700 metros cúbicos por segundo (m³/s), o nível do reservatório chegaria ao final do ano com índice negativo, em pouco mais de 8%. Caso chegue a prática da defluência de 600 m3/s, o nível ficaria em 5%. “E o pior é que os estudos apontam que o nível adequado seria de 540 m3/s”, esclareceu Gondim. Ele sugeriu a instituição do chamado Dia do Rio, que seria um dia fixo na semana em que o segmento que mais consome água, suspenderia a captação.
Entenda a crise hídrica • Desde 2013, a vazão dos reservatórios ao longo do São Francisco vem sendo reduzida. No reservatório de Sobradinho, na Bahia, passou de 1.300 metros cúbicos por segundo (m3/s) para 1.100 m3/s.
O segundo e último dia da Plenária Ordinária do CBHSF colocou em debate a transposição. Na mesa, José Almir Cirilo, exsecretário de Meio Ambiente de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), João Abner, doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento, bem como representantes do CBHSF, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e Ministério da Integração. José Almir Cirilo alertou para os aspectos legais da obra e defendeu uma gestão adequada. “Existem muitos inconformismos nas procuradorias dos estados e é preciso chegar a um entendimento. Não podemos fechar os olhos para os conflitos potenciais que podem existir pelos usos da água na bacia”. Já o assessor da Codevasf, Athadeu Ferreira, explicou a gestão do Programa de Integração do São Francisco, conhecida transposição, e apresentou as atividades concluídas ou em execução no âmbito da bacia do São Francisco. Ferreira também apresentou o modelo de gestão que está sendo elaborado pela empresa a fim de padronizar a forma de atuação da Codevasf na transposição. Athadeu Ferreira afirmou ainda que o controle de outorgas precisa ser acompanhado de forma mais efetiva: “É preciso envolver a sociedade. Nós temos uma situação que não podemos esquecer, que é o fato de que a água do rio é essencial para a população”. A mesa redonda também contou com a participação do professor da área de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Abner Guimarães Júnior. “É importante discutir, agora, porque surgirão impactos na bacia. Com exceção de uma parte de Fortaleza, o atendimento humano é muito pequeno”. Ao analisar o Eixo Leste, que leva água para a Paraíba, Abner disse que se trata apenas de um projeto politizado. “A realidade é que não alterará o quadro de seca da região e vai aumentar o risco de colapso histórico no São Francisco e nas bacias receptoras”.
Joaquim Gondim, superintendente da ANA, participou da mesa sobre crise hídrica
José Almir Cirilo, ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em debate sobre a transposição
Entenda a transposição • A ideia da transposição começou a ser discutida em 1847, por Dom Pedro II e intelectuais do Império. • O modelo atual prevê o desvio de 1% a 3% das águas do São Francisco para abastecer rios temporários e açudes. • Está prevista a construção de mais de 700 quilômetros de canais.
Foto: Victor Jucá
Foto: Victor Jucá
• Em 2015, duas novas reduções nas barragens de Sobradinho e Xingó: 1.000 m3/s e, em seguida, 900 m3/s. Em 2016, mais duas restrições: de 800 m3/s e 700 m3/s. Atualmente o nível é de 600 m3/s.
Foto: Victor Jucá
Falando da transposição
Foto: Victor Jucá
O superintendente de Regulação da ANA, Patrick Thadeu Tomas, apresentou números relacionados às retiradas, os quais apontam para o setor de irrigação como sendo o que mais consome água. “Com isso, o setor de irrigação suspenderia a captação um dia na semana, o que resultaria em mais água no reservatório”, apontou Patrick. Desde o dia 21 de junho, as captações de água foram suspensas no rio São Francisco. A medida da ANA, que institui o Dia do Rio, tem o objetivo de preservar os estoques de água nos reservatórios da bacia do Velho Chico. Além dos representantes, também falaram no encontro o procurador federal Antônio Arthur Barros Mendes, sobre a judicializaçao dos conflitos de água; a professora Yvonildes Medeiros, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apontou a necessidade de reativar o Grupo de Trabalho Permanente de Acompanhamento da Operação Hidráulica na Bacia do Rio São Francisco (GTOSF); o superintendente de Negócios da Companhia de Abastecimento de Alagoas (Casal), Roberto Valois Lôbo, apontou o desabastecimento na região da Foz do São Francisco, como um dos pontos críticos da crise, com a salinização das águas. “A Casal trabalha, atualmente, com o auxílio de 22 caminhões-pipa para atender a população e não consegue arrecadar. A situação é realmente dramática.” A promotora Luciana Khoury defendeu um sistema de gestão e a constante fiscalização, apontando a importância das ações da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), executada pelo Ministério Público dos estados. “Mas é insuficiente”, concluiu. De forma mais contundente, Almacks Luis Silva, membro do CBHSF e representante do Comitê do rio Salitre, um dos afluentes do São Francisco, questionou a eficácia das propostas da revitalização do Velho Chico.
Assinatura do termo de cooperação que garante a construção de adutora com o povo indígena Pankará
• Iniciada em 2007, a obra se divide em dois grandes eixos: Eixo Norte, para captar as águas em Cabrobó (PE) e levá-las ao sertão pernambucano, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste, realiza a captação em Fortaleza (PE) a fim de beneficiar territórios de Pernambuco e Paraíba. • O Eixo Leste da transposição foi inaugurado em março. 3
oração para o são Francisco No Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, a população de cinco cidades ribeirinhas, Pirapora, Ibotirama, Propriá, Traipú e Paulo Afonso, virou carranca para pedir pela revitalização do seu rio, que hoje sofre com a seca prolongada e a degradação ambiental Texto: Karla Monteiro, Luiza Baggio, Vitor Luz e Juciana Cavalcante da Caatinga e Cerrado em patrimônio nacional. O objetivo é conseguir dois milhões de assinaturas. Para o CBHSF, a recuperação e preservação destes dois biomas são ações fundamentais para salvar também o São Francisco. A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e percorre 850 mil quilômetros, cerca de 10% do território brasileiro. Apesar da importância fundamental, tem sido desmatada de forma acelerada. Quase toda a vegetação das áreas mais úmidas foi substituída por pasto e plantações. O Cerrado cobre 197 milhões de hectares, sendo o segundo bioma mais produtivo do país. Acredita-se que seja o bioma brasileiro mais rico em biodiversidade do planeta, com cerca de 4 mil espécies vegetais endêmicas,
Foto: Bianca Aun
Foi um dia de festa, mas, sobretudo, de luta. Em Traipú (AL) a comemoração aconteceu na noite do dia 2 de junho e em Pirapora (MG), Ibotirama (BA), Propriá (SE) e Paulo Afonso (PE) os moradores acordaram com a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” nas ruas. O dia 3 de junho, instituído pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), já se inseriu no calendário do país como a mais importante data para se lembrar que o São Francisco, um dos mais importantes cursos de água do Brasil e da América Latina, com quase três mil quilômetros de extensão, está pedindo atenção. Este ano, a campanha lançou o abaixo-assinado em prol de uma lei federal para transformar os biomas
Em Pirapora, uma barqueata foi um dos pontos altos da comemoração em defesa ao São Francisco
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837 espécies de aves e 161 espécies de mamíferos. Hoje o Cerrado conserva apenas 20% de sua área total. “Hoje, 78% da bacia do Alto São Francisco precisa de proteção, por isso, temos que preservar o Cerrado, pois sua destruição impacta diretamente na crise hídrica que estamos passando”, disse Silvia Freedman, coordenadora da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Alto São Francisco. Além do lançamento do abaixoassinado, o dia 3 de junho contou com uma programação diversa nos cinco municípios escolhidos este ano para espalhar a mensagem. “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico”. A realização do evento ficou por conta dos representantes do CBHSF, com o apoio da Agência Peixe Vivo.
Foto: Bianca Aun
O Grupo Araçá abriu as comemorações em Pirapora com a peça “O Barco Dos Sonhos”, no Vapor Benjamim Guimarães
Em Pirapora...
disse o capitão Alessandro Anilton Nonato. Em seguida, os padres de Pirapora realizaram a bênção das águas e os participantes seguiram por uma caminhada pelo rio São Francisco até o Centro de Convenções José Geraldo Honorato Vieira, onde ocorreu a abertura oficial do evento. A deputada federal e representante da Comissão da Transposição e Revitalização, Raquel Muniz (PSD/ MG), explicou que a transposição é importante para as regiões de seca, mas não existe transposição sem água. “Precisamos revitalizar o São Francisco para que os nossos vizinhos nordestinos recebam a água”, ressaltou a deputada. A solenidade oficial foi encerrada com lançamento do curta metragem “Pedro e o Velho Chico”, inspirado no livro infantil de mesmo nome, da autora Evelyn Zajdenwerg, patrocinado pelo CBHSF. Com duração de 20 minutos, o filme mescla cinema de animação e live
Foto: Bianca Aun
Foto: Bianca Aun
Foto: Bianca Aun
Sinônimo do São Francisco em Minas Gerais, Pirapora, cidade que nasceu à beira do porto fluvial do ciclo do ouro, parou para celebrar o Dia Nacional em Defesa do Rio São Framcisco. Dois momentos especiais marcaram os festejos. Na noite do dia 2, as boas vindas, com a apresentação da peça teatral “O Barco dos Sonhos”, do Grupo Araçá, no vapor Benjamim Guimarães. Um espetáculo de poesia, canto, dança e toda a magia das barrancas. E, no fim da tarde do dia 3, seguindo a velha tradição, embarcações saíram em procissão pelo rio, carregando a imagem do santo padroeiro. A cidade acordou com a campanha “Eu viro carraca pra defender o Velho Chico” nas ruas. O primeiro evento foi o hasteamento da bandeira do Brasil na Capitania Fluvial do São Francisco. “O São Francisco tem uma importância estratégica por ser uma hidrovia e também uma fonte de riqueza e insumos para a sociedade”,
action. Conta a história do garoto Pedro e do catador de material reciclável “Seu Chico” que empresta seu diário ao garoto e o convida para uma viagem mágica pelo São Francisco. Ao longo do dia 3, o filme foi exibido em todas as cidades sede da campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico”. No fim da tarde, os barcos e caiaques ganharam as águas do São Francisco, num espetáculo de fé e tradição. Outro momento importante foi o peixamento, com a introdução no rio de Curimatãs e Alevinos, disponibilizados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Com simplicidade e delicadeza, terminaram as comemorações do Dia Nacional em Defesa do São Francisco em Pirapora (MG). A Orquestra Sinfônica Jovem do município encantou, deixando a mensagem de esperança: cuidar, preservar e revitalizar o São Francisco.
Benção dos padres, caminhada e peixamento também foram destaque da programação em defesa do São Francisco em Pirapora
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Foto: Marcelo Andrê
“Tenho 15 anos e nunca banhei no São Francisco. O esgoto cai direto no rio, no centro da cidade. Isso não é direito. Estou aqui para pedir às autoridades pelo menos isso: uma rede de esgoto”, disse Stephanie Gabriella. “Por que estou aqui? Porque o rio é nossa fonte de vida. Sem ele, a gente não cozinha, não lava, não banha, não vive”, ressaltou Vanessa Souza de Oliveira, também de 15 anos. “Se a gente não lutar, a nossa água vai acabar”, completou Gisele Santos, 14 , ao lado da irmã Mirele Santos, 16: “o São Francisco precisa de nós”. Em Ibotirama, cidade de 25 mil habitantes, no oeste da Bahia, a caminhada ecológica foi o ponto alto do Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco. Carregando cartazes e entoando hinos ao Velho Chico – de Luiz Gonzaga e Mastruz com Leite, a turma partiu animada da Câmara Municipal em direção ao cais. Crianças e adolescentes, como Stephanie, Vanessa, Mirele e Gisele, ou idosos, como dona Maria das Dores Alves, 76, todos estavam ali dispostos a virar carranca. “Nunca vi o rio deste jeito. Se continuar assim, meus netos vão ver o fim do São Francisco. E o fim dele, é o fim da gente”, afirma dona Maria das Dores. O dia 3 de junho já amanheceu com a campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” agitando a cidade. O primeiro evento aconteceu na Câmara Municipal. Em audiência pública, foi apresentada à população, que lotou os assentos do plenário e se derramou nas calçadas, o projeto de lei aprovado no dia 26 de maio, instituindo, no calendário de eventos de Ibotirama, o Dia Municipal em Defesa do Rio São Francisco. “Nosso intuito é tornar notória a nossa causa, que é a defesa do nosso rio. Indiretamente até o governo estadual contribui para a poluição do rio, quando a Embasa trata de forma inadequada o esgoto”, declarou o vereador Jean Charles Alexandre, presidente da Câmara. Um apaixonado defensor da Caatinga, o diretor da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, Ednaldo Campos, aproveitou a solenidade para lembrar o mote da campanha de 2017. “A Caatinga chegou no limite. Temos que recatingar as áreas desnudas. Gosto de usar o termo recatingar, para enfatizar que este é o único bioma exclusivamente brasileiro e está desaparecendo”. Além de celebrar a Caatinga, Ednaldo também apontou um dos algozes do São Francisco. “Com o uso de água subterrânea para irrigação, estão acabando com os nossos aquíferos”. No começo da tarde, duas horas antes do início da caminhada ecológica, o público voltou a ocupar a Câmara de Vereadores. Uma audiência pública reuniu a diretoria da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco com autoridades locais e CBHs baianos: Verde e Jacaré, Corrente, Parnamirim e Santo Onofre e Grande. A
Foto: Marcelo Andrê
Em Ibotirama...
Em Ibotirama, caminhada ecológica e apresentação da peça de teatro “Carranca”
reunião teve o objetivo de juntar forças para garantir a sustentabilidade do São Francisco e afluentes. Por volta das quatro da tarde, assim que terminou a audiência pública, uma pequena multidão se juntou para seguir para o cais, à beira do Velho Chico, onde uma série de shows de artistas locais e a apresentação da peça “Carranca” encerraram o dia de luta. “Nasci em Ibotirama, passei a vida em São Paulo e, há 10 anos, voltei. Sou artista visual e, quando cheguei aqui, vendo os mestres trabalharem as carrancas, decidi me dedicar ao ofício de carranqueiro. Linda uma campanha intitulada “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, declarou o artista Eugênio Oliveira, 28 anos.
Em Propriá... Conhecida como a “princesinha do São Francisco”, Propriá (SE) celebrou o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco com caminhada pelas ruas da cidade, plantio de mudas, atendimentos de saúde à população e introdução de cinco mil peixes no rio. A campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” mobilizou os moradores num grito uníssono pela conscientização ambiental. “Desde 2013 estamos enfrentando uma escassez hídrica sem precedentes. A vazão do rio é a mais baixa da história e na foz a população
peixamento foi realizado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf). “Temos apenas 170 quilômetros de rio e duas grandes barragens, a de Xingó e a do mar, que impedem a evolução das espécies no período da Piracema. E o Chira é um dos peixes mais pescados”, ressaltou Paulo Passos, chefe da estação de piscicultura da Codevasf (SE). O prefeito da cidade de Propriá, Iokanaan Santana, nasceu às margens do rio e, em meio a versos de poesia, declarou seu amor. “Esse rio é a riqueza do nordeste, representa as lágrimas de Deus socorrendo o povo. O São Francisco é conhecido como o
rio da integração nacional, arca com a responsabilidade de ser o pai de milhões e milhões de seres humanos”. Durante o evento, foi feito ainda o plantio de mudas. A deputada estadual Ana Lúcia (PT/SE), coordenadora da Frente Parlamentar Mista de Meio Ambiente, Segurança Alimentar e Comunidades Tradicionais de Sergipe, reforçou a importância do compromisso com a preservação do rio. “Este é um ato simbólico. Além de reflorestar todo o rio, precisamos também de políticas públicas para que o esgoto não caia mais in natura nas águas”, afirmou a deputada.
Foto: Edson Oliveira
Foto: Edson Oliveira
Foto: Edson Oliveira
já está privada de água potável”, disse Honey Gama, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco . A programação começou com uma caminhada de sete quilômetros, partindo da Igreja Matriz da cidade. A cada quarteirão percorrido, mais e mais pessoas se juntaram à manifestação. Com carro de som, faixas, camisetas e bonés com o slogan da campanha, a população virou carranca. Quando a animada procissão chegou ao mirante do São Francisco, deparou-se com a ação de peixamento, que introduziu nas águas cinco mil peixes Curimatã – ou Chira. O
Em Propriá, foram introduzidos 5 mil peixes no São Francisco, além do plantio de mudas e caminhada
Foto: Edson Oliveira
Em Traipú, no estado de Alagoas, a celebração do Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, aconteceu na noite do dia 2, com uma missa na paróquia da cidade e um encontro no ginásio Helenildo Ribeiro, o Ribeirão, às margens do rio. “Quem ama, cuida”, disse o padre José Eduardo. “Pecamos quando sujamos a obra criada por Deus. Precisamos dar as mãos para que possamos, unidos, ajudar a obra da criação”. A missa foi encerrada com um momento de oração e clamor pela preservação do São Francisco. De mãos dadas, os fiéis clamaram por um futuro repleto de vida para o Velho Chico. O prefeito de Traipú, José Eduardo Tavares, esteve presente durante toda a programação da noite. “Esse momento nos faz parar para refletir. Eu me pergunto: o mundo mudou? Muita coisa mudou e acredito que nem todas elas foram para melhor. Nossos recursos naturais não são infinitos e precisamos ter consciência disso”.
O prefeito recordou que o São Francisco adentrava três léguas mar adentro, na sua foz, e os pescadores conseguiam tomar banho em água doce no meio do oceano. Hoje, sem força, o São Francisco está sendo invadido pelo mar na cidade de Piaçabuçu.“Já é comprovado que os rios morrem pela foz, pois vão perdendo força e começam a correr para os lados. O futuro depende do presente e precisamos fazer a nossa parte”, afirma. A população de Traipú também pode conhecer um pouco mais o trabalho do CBHSF, representado no evento por Honey Gama , coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco. “O Comitê possui um alto compromisso com a defesa do Velho Chico e durante o ano inteiro se preocupa com a sua preservação. Precisamos do apoio de cada cidadão que acredita em um futuro com mais água”, afirmou Gama. Durante a programação, foi lançado o livro “História de Traipú”, do historiador Jenner Glauber Torres, e os participantes assistiram o curta-metragem “Pedro e o Velho Chico”.
Foto: Edson Oliveira
Em Traipú...
Uma missa marcou o início da comemoração em Traipú
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Presidente: Anivaldo de Miranda Pinto Vice-presidente: José Maciel Nunes Oliveira Secretário: Lessandro Gabriel da Costa Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF - Tanto Expresso imprensa@cbhsaofrancisco.org.br www.cbhsaofrancisco.org.br
Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição: Karla Monteiro Textos: Karla Monteiro, Luiza Baggio, Vitor Luz, Delane Barros e Juciana Cavalcante. Projeto Gráfico: Márcio Barbalho Assessoria de Imprensa: Mariana Martins Fotos: Acervo CBHSF / TantoExpresso : Bianca Aun, Edson Oliveira, Marcelo Andrê, Juciana Cavalcante, Victor Jucá. Foto capa: Evandro Rodney Impressão: Gráfica Atividade Tiragem: 5000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.
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Foto: Juciana Cavalcante
Em Paulo Afonso, o dia foi dedicado ao debate
travessia Notícias do São Francisco
Foto: Juciana Cavalcante
Preservar para continuar iluminando, foi a principal mensagem dos moradores de Paulo Afonso, no Dia Nacional em Defesa do São Francisco. Na cachoeira de Paulo Afonso, foi implantada a primeira usina subterrânea instalada no Brasil. Suas turbinas encontram-se a mais de 80 metros abaixo do nível do rio. Marco da engenharia, o Complexo Hidréletrico de Paulo Afonso, literalmente, expande luz. São 4.279,6 megawatts de energia que sem o São Francisco apaga. Integrando a programação, o Seminário “Recursos Hídricos, Outorgas e Reuso de Águas”, ministrado pelo professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Abelardo Montenegro, apresentou experiências de convivência com a escassez e o desafio da eficiência, propondo aspectos que envolvem abastecimento, saneamento, conservação, produção e reuso. “Esperamos oferecer melhores condições e oportunidades à sociedade em um futuro próximo, que depende de segurança hídrica e alimentar”, explicou Montenegro. Com o debate, surgiram novas abordagens do reuso doméstico da água e além de linhas de crédito de incentivo. “O tema é muito oportuno e mostra ser possível reutilizar a água de maneira relativamente simples. É necessário investimento, tanto para criar essa cultura e para o seu subsídio”, afirmou Antônio Jackson Borges, membro do CBHSF. O encontro contou com a distribuição de plantas nativas, um incentivo a arborização da cidade, e com uma reunião dos membros da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Submédio São Francisco, contando com a presença de representantes das cidades de Petrolina, Cabrobó, Lagoa Grande, Serra
Talhada, Juazeiro, Jacobina, Chorrochó, Sobradinho e Paulo Afonso. Também estiveram presentes representantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A (Embasa), Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha), Fundação Nacional do Índio (Funai), Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Paulo Afonso (Ascopa), 1ª Companhia de Infantaria, comunidade indígena Pankará da Aldeia Serrote dos Campos, no município de Itacuruba (PE) e servidores municipais das cidades de Paulo Afonso, Glória e Delmiro Gouveia. “Temos muito interesse em acompanhar o desenrolar do planejamento e alinhamento do que é proposto nesses encontros. É a partir daqui que acreditamos reunir todos em uma luta que precisa ser considerada como prioridade”, afirmou a estudante universitária Karoliny Passos, que acompanhou todo o dia de debate.
Foto: Juciana Cavalcante
Em Paulo Afonso...
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