travessia Notícias do São Francisco
Mar avança sobre o São Francisco e afeta o abastecimento da população ribeirinha em Piaçabuçu. Fenômeno conhecido como salinização é provocado pela seca prolongada Página 2
Campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” terá como mote a preservação do Cerrado e da Caatinga
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Em Petrolina, Pernambuco, o casamento entre a revitalização da orla urbana do Velho Chico e a prática de esportes náuticos atrai turistas e renda para a cidade
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jornal do comitê da bacia HIDROGRÁFICA do rio são francisco / Maio 2017 | Nº 01
Dentre essas tarefas, a difusão, a articulação das ações e a execução do novo Plano Diretor de Gestão dos Recursos Hídricos ocupa um lugar de inamovível prioridade pelos próximos 10 anos. Para tanto, o colegiado do CBHSF e as instituições que representa deverão ser chamados a fazer do Plano não um documento cartorial, mas sim um instrumento vivo de ação coordenada dos governos, da sociedade civil e do variado universo de usuários da águas do Velho Chico na direção de desenvolvimento sustentável de nossa bacia hidrográfica. Do conjunto das ações planejadas, algumas funcionarão como carro-chefe ou marca da nova gestão, a começar pela longa, complexa, mas decisiva batalha pelo recadastramento dos usuários das águas da calha do São Francisco, ação imprescindível para dotar a gestão de um instrumento insubstituível de manejo racional e pedagógico dos recursos hídricos, além de ferramenta que vai manter atualizada a cobrança justa e equilibrada pelo uso da água bruta. Além do acompanhamento cotidiano do gerenciamento da extensa e profunda crise de escassez hídrica que ainda vai se estender durante 2017, vai caber também ao CBHSF construir com todos os atores da bacia hidrográfica os pactos da alocação de águas, universalização da implementação dos instrumentos de gestão hídrica e de revitalização hidroambiental que o rio São Francisco e seus rios afluentes reclamam há muito tempo.
Anivaldo de Miranda Pinto Presidente do CBHSF
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Moradores de Piaçabuçu, na foz do São Francisco, contam como é sobreviver à salinização das águas
Texto: Vitor Luz Aos 73 anos, nascido e criado em Piaçabuçu, onde o São Francisco encontra o mar, Durvan Gonçalves é, ele próprio, uma foz – de memórias. Aposentado há uma década, passou a vida dentro do rio: “Sou do tempo em que os pescadores voltavam para casa com o barco forrado”. A fartura era tanta que Seu Durval, como é conhecido no município de 19 mil habitantes, em Alagoas, criou 12 filhos. “Estamos vendo o rio morto, morto... Antes era canoa cheia de pilombetas, agora nem pra comer”, afirma. A situação na cidade é crítica. Piaçabuçu encontra-se entre os municípios mais afetados pela salinização das águas, ocasionada pela baixa vazão do São Francisco. Sem forças para correr para o mar, o rio vem sendo invadido por ele. No dia 5 de abril, em Salvador, a direção do CBHSF reuniu-se com membros da Comissão Processante do Conflito pelo Uso, representantes dos órgãos nacionais competentes e representantes dos moradores, em Salvador. Foram mais de cinco horas de debates na audiência de conciliação. Ao todo, uma população de 40 mil habitantes é afetada pela salinização. Cada uma destas pessoas com sofrimentos pessoais e pelejas individuais. A dona de casa Regiane Vieira sempre lavou roupa no rio. Antes até dava para lavar de “ganho”, mas, agora, um pacote de sabão não é suficiente para uma trouxa. “Quando esprememos a roupa sai uma espuma amarela, a água fica parecendo uma nata de leite, toda cortada”, lamenta. Outro problema é a necessidade de correr toda vez que a maré baixa. Na vazão, a água fica menos salgada e é, nesta hora, que se enchem os baldes. “Sinto falta de água boa, da fartura de peixes. Rezo para que chova bastante para o rio encher”, desabafa.
“Quando esprememos a roupa sai uma espuma amarela, a água fica parecendo uma nata de leite,”. Regiane Vieira, dona de casa
“Os próximos anos serão disso a pior, pois o mar vai invadir mesmo”. Durvan Gonçalves, 73 anos, pescador aposentado
Foto: Edson Oliveira
Começando pela área da comunicação, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco entrou, a pleno vapor, nos desafios a serem vencidos pela nova e recém eleita gestão. De cara e proposta refundada, o jornal, a revista, o portal e as informações do CBHSF estão de roupa nova para dar apoio consistente às novas tarefas do comitê.
Quando o rio não corre para o mar Foto: Edson Oliveira
NOVA GESTÃO, NOVOS DESAFIOS
A profissão de pescador, em Piaçabuçu, é passada de pai para filho. Assim foi com Pedro Lucas, 17, que recebeu-a de herança do pai, Tadeu dos Santos, 51. O pai tira – literalmente – o chapéu para falar do velho Chico: “Er a fundo, fundo, agora a gente anda a pé por ele. Nem enchente temos mais. O peixe está difícil, antes dava muita manjuba, pegávamos 150kg a 200kg de uma vezada, hoje só conseguimos 2kg no máximo”.
Foto: Edson Oliveira
Pedro Lucas é o último dos herdeiros de Tadeu e, há 10 anos, aprendeu o ofício. De acordo com o garoto, “a pescaria está ruim mesmo e a água está salobra. Essa profissão foi passada para mim pelo meu pai, mas não desejo passar para meus filhos, inclusive estou me interessando mais pelos estudos, para deixar de ser pescador, pois não consigo mais visualizar futuro no rio”.
“Antes era fundo, fundo, agora a gente anda a pé por ele. Nem enchente temos mais.”. Tadeu dos Santos, pescador
Contra a correnteza
Enquanto todo mundo se preocupa com a água, Cícero se preocupa com as florestas: “Sem madeira, não tem barco bom, e estão desmatando tudo. A gente se preocupa com o rio e com a terra, mas o que podemos fazer?”.
Questão de saúde A salinização vem se tornando um problema de saúde pública em Piaçabuçu. Para a técnica em enfermagem e diretora do Programa Saúde da Família, Ana Maria Santos, o índice de hipertensão aumentou. “O sal está contribuindo pra isso. Daqui a 10 anos vai ser muito difícil, não teremos como sobreviver”.
Para ele, a solução seria cuidar ao invés de apenas explorar: “Meu sonho é que os governantes parassem de focar na transposição e focassem na revitalização do São Francisco. Desejam tirar até a última gota de água daqui. Uma empresa dessas, tão rica, que sustenta 50% dos nordestinos e que dá o sustento para todos eles, deveria ser tratada com mais respeito, dignidade e amor”.
Foto: Edson Oliveira
O carpinteiro Cícero Cruz é o responsável pela construção de boa parte das embarcações de Piaçabuçu. Segundo ele, o negócio não minguou: “A construção de embarcações não está parando, não tem como parar, o pessoal não tem outra opção de sustento. Estão indo mais para o mar agora”.
A agente comunitária de Saúde, Suely Soares, conta que a hipertensão só era percebida em idosos e atualmente apresenta-se até em jovens. “Estamos com muitos gastos com remédios para hipertensão. As pessoas não podem comprar água mineral. Acredito que seja mais barato cuidar do rio do que comprar os remédios”, ressalta.
Futuro De acordo com o secretário de Turismo e Meio Ambiente de Piaçabuçu, Otávio Augusto, há pelo menos duas boas novas no cenário de caos em que se encontra o município: a instalação de uma estação de tratamento compacta de água, bancada pelo CBHSF, em Potengy, o povoado mais afetado, e o reconhecimento pelo Ministério da Integração do estado crítico, o que gerou um aporte de aproximadamente dois milhões de reais para obras de captação.
Ana Maria Santos, técnica em enfermagem e diretora do Programa Saúde na Família em Piaçabuçu 3
Projeto de recuperação hidroambiental do rio Pardo beneficia Buraquinhos, comunidade de remanescentes quilombolas Texto: Mariana Martins
fotos: Bianca Aun
CBHSF inaugura obra em Chapada Gaúcha
Depois de 18 meses de trabalho, o CBHSF entregou, no dia 12 de abril, as obras de captação de águas pluviais e recuperação do rio Pardo, em Chapada Gaúcha, norte de Minas. O rio, que nasce ali, segue por 165 quilômetros, até desaguar no São Francisco, na divisa entre Januária e São Francisco. Executado com recursos oriundos da Cobrança pelo Uso da Água, o projeto trouxe uma série de benefícios para a região, tanto ambientais quanto urbanísticos. Um dos povoados contemplados foi Buraquinhos, quilombo onde vivem 25 famílias, reconhecido, em 2008, pela Fundação Cultural Palmares. “Quem está conhecendo a estrada hoje não sabe das dificuldades que enfrentamos. Agora passa carro. Se a gente dependesse somente da prefeitura, nunca que sairia essa obra. Nosso município não tem recursos”, agradece João Teixeira, morador do quilombo há 51 anos. A reforma da estrada que liga Buraquinhos à Chapada Gaúcha foi um dos importantes benefícios da obra. A via, de cerca de 1 km, carreava uma quantidade significativa de sedimentos para o rio Pardo, provocando o assoreamento e, até mesmo, interferindo no seu curso. Em época de chuva, os moradores da comunidade chegavam a ficar isolados, com o trânsito interrompido em diversos trechos. Para resolver o problema foram construídas barragens de contenção e infiltração ao longo da estrada, que além de eliminarem uma das causas dos processos erosivos, permitem maior infiltração da água no solo, aumentando a recarga das nascentes e do lençol freático nas chapadas e planícies. “Precisamos de novos projetos e recursos, principalmente para as pequenas veredas que estão assoreadas em consequência da devastação causada pelas plantações de eucalipto”, comenta o secretário municipal
de Agricultura e Meio Ambiente, Francisco Fernando, durante a cerimônia de entrega das obras, que aconteceu em Buraquinhos, com a presença do prefeito de Chapada Gaúcha, Jair Montagner, e da coordenadora da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, Silvia Freedman.
Além da via de acesso a Buraquinhos, a Localmaq, empresa encarregada pelas obras, construiu seis bacias de captação de água de chuva, cuja função é alimentar o lençol freático, e recuperou a área degradada da localidade de Resfriado, onde foram construídas 17 paliçadas e um aterro para condução de água de chuva em local seguro.
“Os moradores da comunidade demonstraramse gratos e conscientes da importância da preservação dos recursos hídricos. O que nos recompensa é saber que, além de estarmos contribuindo diretamente com ações de recuperação física nas sub-bacias, estamos enchendo os corações das pessoas de esperança e fé para juntos revitalizarmos o rio São Francisco”, diz Silvia Freedman. “É uma grande realização pra nós membros do CBHSF entregar mais uma obra hidroambiental em uma comunidade tão necessitada de ações práticas para a melhoria do meio ambiente e, consequentemente, da qualidade de vida”.
Silvia Freedman, coordenadora da CCR Alto São Francisco e Francisco Fernando, secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente 4
Estudantes em defesa do São Francisco
Abaixo-assinado com mais de cinco mil assinatura em prol da revitalização do rio é entregue ao CBHSF Texto: Delane Barros Estudantes de agronomia encerraram, no dia 30 de abril, o 16º Encontro Regional de Agroecologia do Nordeste (ERA-NE), em Maceió. Os alunos apresentaram um abaixo-assinado, com mais de cinco mil assinaturas, com o pedido de revitalização imediata do São Francisco, devido a sua importância econômica, cultural e regional. O documento, com assinaturas de cidadãos de diversos estados, como Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Pará e São Paulo, entre outros, foi entregue ao presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, na orla da capital alagoana. Miranda prometeu dar conhecimento do abaixo-assinado na plenária do CBHSF, que acontecerá nos dias 18 e 19 de maio, em Recife. Além disso, o presidente do Comitê também prometeu encaminhar cópia do documento aos ministérios da Integração Nacional e o de Meio Ambiente; Agência Nacional de Águas (ANA) e Secretaria Nacional de Recursos Hídricos (SNRH). “Essa iniciativa dos estudantes irá se juntar a uma campanha que iremos iniciar na plenária, para reunir dois milhões de assinaturas para encaminhar um projeto de lei ao Congresso Nacional, para transformar a Caatinga e o Cerrado em patrimônio nacional”, diz Miranda, diante do grupo de alunos.
afim de tratar a cultura local e deliberamos pela coleta de assinaturas”, explica o organizador do evento, Eugênio Lessa Bulhões. No encerramento da caminhada, na praia de Jatiúca, um dos pontos turísticos de Maceió, os acadêmicos ainda recolhiam assinaturas para apoiar o pedido de revitalizar já o rio da integração nacional. Bulhões reforçou a importância da área da agroecologia em todo o processo de luta em defesa do Alto, Médio, Sub-médio e Baixo São Francisco. A agroecologia é uma vertente agronômica que engloba técnicas ecológicas de cultivo com sustentabilidade social e incorpora fontes alternativas de energia. Sua principal preocupação é sistematizar todos os esforços num modelo tecnológico socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Durante o encontro, Anivaldo Miranda também esteve acompanhado do ex-presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Alagoas e um dos defensores do São Francisco, Antônio Gomes dos Santos, conhecido Toinho. Ele ressaltou o seu amor pelo manancial, lembrou do período em que ficou órfão de pai e sustentou a família com a pesca. “Hoje, dá uma dor ver a realidade do São Francisco”, lamenta.
Com rostos pintados caracterizados de carrancas, símbolo do Velho Chico, portando cartazes e animados por um carro de som, os estudantes decidiram encerrar o encontro pedindo a revitalização. “Desde o ano passado, quando iniciamos a construção desse encontro, escolhemos o tema ‘Na rota do Velho Chico: A agroecologia e os movimentos sociais na luta contra as opressões no campo e na academia’,
Curtas Caravana de Saneamento A Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) congratulou o CBHSF pela realização do evento “Caravana de Saneamento”, que aconteceu entre os dias 20 e 24 de março, no município de Propriá (SE). A ação ocorreu em comemoração à Semana da Água e contou com a parceria do Centro de Apoio Operacional do Rio São Francisco e Nascentes, do Ministério Público de Sergipe e do Ministério Público Federal.
CTIL Em reunião realizada no dia 06 de abril, a Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) discutiu sobre as solução do conflito na foz do São Francisco com base no debate da Comissão Processante pelo Conflito de Uso em Piaçabuçu. A partir da data da reunião, a CTIL tem 180 dias para se manifestar e o processo voltará a ser pauta na próxima reunião da Câmara.
CTOC Os membros da Câmara Técnica de Cobrança e Outorga (CTOC) analisaram a proposta de atualização de valores e cobranças planejada pela Gama Engenharia – empresa responsável pelos estudos que irão embasar a nova metodologia da Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos. Também foi discutida a contribuição de quem paga, setores usuários representados pelos grandes irrigantes, setor de saneamento e outros envolvidos nesta matemática de custo.
CTPPP A Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP) do CBHSF elegeu como nova coordenadora Ana Catarina Pires de Azevedo Lopes e como secretária Larissa Alves da Silva Rosa. A definição ocorreu em reunião realizada no dia 25 de abril, em Maceió (AL). Como meta dos trabalhos da CTPPP, Ana Catarina considera fundamental a implementação do plano de recursos hídricos da bacia do rio São Francisco.
Eugênio Bulhões, estudante de agroecologia, Antônio Gomes dos Santos, pescador e defensor do Velho Chico e Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF 5
“Orla Nossa”
A primeira etapa das obras de revitalização do trecho urbano do São Francisco, em Petrolina, já retirou do fundo do rio pelo menos 3.500 toneladas de sedimentos
Em mais de quatro quilômetros da orla, as baronesas reinam, plantas aquáticas que se proliferam em ambiente de poluição pelo despejo de esgoto. Funciona como uma espécie de filtro, por se alimentar dos dejetos e, quando encerra seu ciclo, toda poluição absorvida é devolvida para a água. “Realizamos como primeira etapa um estudo técnico que nos norteia na linha de ação. Após isso, iniciamos a retirada das baronesas e raspagem de dejetos acumulados no fundo do rio nas proximidades da margem, logo em seguida começaremos o processo de oxigenação da água”, explica o gerente de projetos da Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), Victor Flores. O projeto “Orla Nossa” também conta com a parceria do Instituto Federal do Sertão, de onde vem uma nova técnica para a retirada das baronesas com o mínimo de danos ao meio ambiente. De acordo com o gerente da AMMA, a nova tecnologia desenvolvida permite que a planta seja puxada sem necessitar que maquinário de grande porte entre na água, evitando o aumento da contaminação. Em consonância com a primeira ação, os entes públicos envolvidos no projeto também estão realizando o mapeamento dos pontos de descarte irregular de esgoto. Ainda de acordo com as primeiras informações da Agência, foram identificadas ligações clandestinas na região central da cidade, onde o esgoto desaguava nas galerias exclusivamente para o escoamento de águas pluviais.
Com o mapeamento em execução, a primeira etapa do projeto deve durar mais 30 dias. Até o momento já foram extraídos do rio cerca de 3.500 toneladas de sedimentos. Todo o material das baronesas passará pelo processo de compostagem, transformando-se em adubo. “Logo que concluirmos a segunda fase do projeto, as demais serão imediatamente iniciadas com a oxigenação da água e também iremos colocar alevinos que vão ajudar nesse processo aos anos de recuperação. Mas é importante ressaltar que devido ao anos de maus tratos, a recuperação desse trecho só começará a se firmar daqui a 10 anos, enquanto isso, faremos o trabalho de manutenção”, conclui Flores. Além dos alevinos que serão cedidos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), também está prevista a recomposição da mata ciliar com o plantio de 5.500 mudas. Todo o processo deve durar 90 dias e a manutenção será feita pelos próximos três anos.
foto: Juciana Cavalcante
Resultado de muitos anos de maus tratos com o despejo irregular do esgoto sem nenhum tipo de tratamento no São Francisco, o trecho que envolve a área urbana de Petrolina, em Pernambuco, finalmente começou a ser revitalizado. Uma ação, reunindo parcerias entre órgãos competentes como a prefeitura do município e a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), após estudo realizado pelo IFSertão, iniciou a limpeza das margens com a retirada das baronesas.
foto: Juciana Cavalcante
Texto: Juciana Cavalcante
Saúde e lazer são palavras de ordem em Petrolina. Há cerca de cinco anos, os moradores começaram a povoar as águas do São Francisco com esportes aquáticos: caiaque, stand up paddle e kite surf. A prática esportiva virou atração turística, trazendo a cada ano mais visitantes. O novo olhar para o rio despertou a preocupação com a revitalização. Os moradores acreditam que a limpeza trará, além dos benefícios ambientais, também benefícios para a economia da cidade 6
Seminário impulsiona criação dos Comitês dos rios Mundaú e Paraíba do Meio Texto: Delane Barros
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) continua sua colaboração com vistas a criação do comitê dos rios Mundaú e Paraíba do Meio, localizados entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Para isso, o presidente do colegiado, Anivaldo Miranda, participou do I Seminário de Cooperação Técnica entre Alagoas e Pernambuco para Uso e Preservação das Águas dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio com o objetivo de criar Comitês de Bacias, no dia 27 de abril, em Garanhuns (PE). O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, fez uma apresentação sobre a experiência do colegiado na gestão de bacias. Ele aproveitou o momento para reforçar que somente a criação de um Comitê, aliado à implementação de uma gestão verdadeiramente participativa e compartilhada das águas comuns, pode salvar os rios Mundaú e Paraíba do Meio.
Conduzido pelo professor Marcos Renato, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Seminário de Cooperação Técnica, cuja organização contou com forte apoio do gerente local da Companhia Pernambucana de Águas, Neemias Melo, contou com painéis sobre “A situação Ambiental dos rios Mundaú e Paraíba do Meio”, apresentado pela professora Marina de Sá Leitão, da Universidade de Pernambuco (UFPE), “Manejo de Bacias Hidrográficas”, apresentado pelo professor doutor Vicente de Paulo, da UFRPE, e “Conflitos de Usos das Águas” pelo professor Valmir Pedrosa, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Durante o evento, o presidente do CBHSF também representou o Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH), do qual é vice-presidente.
“Devido ao alto grau de deterioração que já chegou aos limites do impensável”, diz. A preocupação de Miranda foi comum a vários participantes do Seminário, dentre eles Gustavo Carvalho, superintendente de Recursos Hídricos da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Alagoas (Semarhn) e o professor João Paulo Leitão, que falou em nome da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), os quais prometeram todo apoio às comissões de mobilização que estão se replicando nos municípios, tanto do lado alagoano, como do lado pernambucano.
Mesa de debate do I Seminário de Cooperação Técnica entre Alagoas e Pernambuco para Uso e Preservação das Águas dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio
CBHSF vai lutar pela preservação da Caatinga e Cerrado
O CBHSF defende a declaração da Caatinga e Cerrado pelo Congresso Nacional como patrimônio nacionais. Por isso, os dois biomas serão tema da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” de 2017. O CBHSF concentrará esforços na coleta de assinaturas para viabilizar uma Pproposta de projeto de lei Constitucional que institua a Caatinga e o Cerrado como patrimônio nacional, como já ocorre com a Mata Atlântica e Floresta Amazônica. As assinaturas serão recolhidas em eventos da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” que acontecerão, no dia 03 de junho, Dia Nacional de Mobilização em Defesa do Rio São Francisco, nos seguintes municípios: Pirapora (MG), Ibotirama (BA), Paulo Afonso (BA), Traipú (AL) e Propriá (SE). Participe e contribua para a preservação do Cerrado e da Caatinga!
Caatinga e Cerrado Um terço do território brasileiro é ocupado pela Caatinga e Cerrado. Esses dois biomas estão presentes em 14 estados e o Distrito Federal. A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, tendo um terço de suas plantas e 15% de seus animais como espécies exclusivas. É também o bioma mais degradado, depois da Mata Atlântica e do Cerrado, tendo hoje 45% de sua área desmatada. Já o Cerrado é considerado o segundo maior bioma brasileiro, área prioritária para a conservação do planeta e, por outro lado, um dos mais ameaçados do globo terrestre. Possui as maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo, que abastecem as principais bacias hidrográficas do Brasil. Por isso, é considerada a “caixa d’água” do país. O Cerrado, cobre praticamente metade da bacia do rio São Francisco. 7
Dois
dedos de foto: Delane Barros
prosa
Anivaldo Miranda Em sua segunda gestão à frente do CBHSF, o jornalista e ambientalista Anivaldo Miranda conversou com o TRAVESSIA sobre as mazelas do rio e as propostas para revitalizar e preservar o São Francisco. E também sobre Luiz Gonzaga, “esse gênio que, como ninguém, apresentou ao Brasil a profunda beleza e, ao mesmo tempo, a pungente realidade do semiárido brasileiro”. Quais as questões Francisco hoje?
prioritárias
do
São
Desmatamento dos biomas do cerrado e da caatinga; uso desordenado das águas superficiais e subterrâneas que alimentam os principais aquíferos da bacia hidrográfica, notadamente o aquífero Urucuia; baixíssimo grau de implementação, pelos governos estaduais, dos instrumentos de gestão hídrica no contexto da bacia; falta de saneamento básico nas cidades ribeirinhas.
pelo poder de Estado. A grande batalha pela educação ambiental é como todas as outras: só será vencida se os governos derem as mãos aos usuários das águas e à sociedade civil para tornar realidade o princípio da gestão hídrica e ambiental compartilhada, com forte abertura da burocracia, do poder econômico e da sociedade civil rumo a uma cultura participativa na solução dos problemas da água e do meio ambiente, com forte acento nas iniciativas da educação ambiental massiva e sistemática.
O senhor está no começo de um novo ciclo. Quais os pilares da nova gestão?
O que, afinal, o cidadão comum pode fazer para ajudar a preservar o São Francisco?
O foco principal da nossa gestão é fortalecer o CBHSF para que possa, de fato, assumir todas as prerrogativas que a ele estão assinaladas na Lei 9.433, a Lei das Águas. Para este objetivo, temos feito uma bela construção coletiva. Com pouco mais de uma década de existência, o CBHSF começou a implementar seu segundo plano de gestão hídrica, implantou a cobrança pelo uso das águas do São Francisco, está em seu segundo plano plurianual de aplicação dos recursos oriundos dessa cobrança, elaborou e está aplicando uma eficiente metodologia para tratar dos conflitos de uso das águas em primeira instância, é o maior investidor na elaboração de Plano Municipais de Saneamento Básico na bacia hidrográfica e um sem fim de outras conquistas.
Se o ribeirinho lutar pelo saneamento básico de sua cidade ou povoado; se o agricultor melhorar as técnicas de irrigação e uso com preservação dos solos e das águas sem contaminação; se o acadêmico orientar as pesquisas para recuperação hidro-ambiental; se o político exigir do governo federal a “Revitalização do Velho Chico”; se o industrial tratar adequadamente os efluentes de sua indústria; e assim por diante...
No Brasil, foca-se muito na doença e pouco na causa. Qual a postura do Comitê diante do desafio de educar a população para a preservação? Cada dia mais ganha corpo a percepção de que os grandes desafios da crise ambiental mundial não poderão ser resolvidos isoladamente
O São Francisco é, no imaginário coletivo do país, um personagem, com alma, voz, sentimento. Qual o artista que melhor representa este rio para o senhor? Luiz Gonzaga, esse gênio que, como ninguém, apresentou ao Brasil a profunda beleza e, ao mesmo tempo, a pungente realidade do semiárido brasileiro. Quando compôs “Riacho do Navio”, talvez nem imaginasse que dia essa canção viesse a ter tanto significado. E muito menos imaginaria que, agora, o Velho Chico já não bate mais “no meio do mar.” Infelizmente é o mar que está “batendo” cada vez mais no rio.
travessia Notícias do São Francisco
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