Jornal 20

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JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO | JULHO 2014 | Nº 20

Lupércio Ziroldo fala sobre recursos hídricos Páginas 4 e 5 Cenas de beleza do rio São Francisco Pagina 8

Acontece entre 18 e 20 de julho, em Porto Seguro, na Bahia, o III Seminário dos Povos Indígenas da Bacia do Rio São Francisco. A iniciativa do CBHSF coloca no centro do debate questões que afligem alguns dos povos mais tradicionais do Velho Chico.

Indígenas no centro do debate


Editorial

Visão sobre o Velho Chico

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jornal Notícias do São Francisco retoma o debate sobre a situação ambiental do Velho Chico, desta vez sob a ótica de um dos maiores especialistas em recursos hídricos do país: o atual governador do Conselho Mundial da Água e presidente da Rede Internacional de Organismos de Bacias, Lupércio Ziroldo Antonio. Na página central, Ziroldo fala sobre a gestão das águas no Brasil e em outros países da América do Sul, apontando as medidas emergenciais que devem ser adotadas pelo Estado para a preservação e revitalização dos rios brasileiros. Além disso, aborda a questão das frequentes reduções de vazões na bacia do rio São Francisco. Outro assunto em destaque nesta edição é o anúncio do terceiro Seminário dos Povos Indígenas da Bacia do Rio São Francisco, que será realizado entre 18 e 20 de julho no município de Porto Seguro, no sul da Bahia, mais exatamente na aldeia Barra Velha Pataxó. Os dois seminários anteriores aconteceram nas cidades de Feira Grande (AL) e Petrolândia (PE). O jornal traz ainda uma matéria sobre a iniciativa do Ministério Público de Sergipe em propor medidas práticas para garantir a qualidade hidroambiental das águas do São Francisco. Além disso, fechando a edição, uma abordagem sobre o lançamento do livro Nas Águas do Velho Chico, que reúne imagens feitas pelo fotógrafo francês Alain Dhomé a partir de uma viagem de mais de três mil quilômetros: da nascente na Serra da Canastra (MG) à foz no Oceano Atlântico.

Seminário vai discutir situação dos quilombolas

Métrica social e quilombolas motivam eventos neste semestre

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Oficina de Desenvolvimento de Métrica Social e o I Seminário das Comunidades Quilombolas da Bacia do Rio São Francisco são dois dos eventos agendados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF para o segundo semestre de 2014. O primeiro acontecerá na cidade de Belo Horizonte (MG) no dia 22 de julho. O objetivo da oficina é propor estratégias para promover o debate, a investigação e a pesquisa na área de avaliação social, a fim de conhecer, medir, determinar e julgar os indicadores de atuação do CBHSF frente à política de recursos hídricos da bacia do São Francisco. Participarão da discussão, além do comitê de bacia, conselhos e ór-

gãos gestores de recursos hídricos, bem como representantes que trabalham as políticas públicas ligadas à gestão das águas. Já no mês de agosto, entre os dias 20 e 22, a cidade de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, sedia o I Seminário das Comunidades Quilombolas da Bacia do Velho Chico. O encontro prevê a presença de aproximadamente 150 quilombolas, que estarão representando os estados da bacia (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Os principais temas de discussão girarão em torno da regularização fundiária; organização sociocultural; politicas públicas; impactos dos grandes empreendimentos, além do Pacto pelas Águas do São Francisco.

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF imprensa@cbhsaofrancisco.org.br www.cbhsaofrancisco.org.br

Coordenação geral: Malu Follador Projeto gráfico e diagramação: CDLJ Publicidade Edição: Antonio Moreno Textos: Antônio Moreno, Ricardo Coelho, Delane Barros, André Santana e Wilton Mercês. Fotos: Ricardo Coelho, Delane Barros, João Zinclar e Wilton Mercês.

Este jornal é um produto do Programa de Comunicação do CBHSF Contrato nº 07/2012 — Contrato de Gestão nº 014/ANA/2010— Ato Convocatório nº 043/2011. Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

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Indígenas da bacia do São Francisco se encontram em Porto Seguro

Tuxá: encontro em Porto Seguro visa à integração

O III Seminário dos Povos Indígenas da Bacia do Rio São Francisco já tem data e local definidos. A cidade de Porto Seguro, no sul da Bahia, foi escolhida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF para sediar o evento, que ocorrerá entre os dias 18 e 20 de julho, com início pela manhã na aldeia Barra Velha Pataxó. Os dois seminários anteriores aconteceram nas cidades de Feira Grande (AL) e Petrolândia (PE).

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egundo o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Submédio São Francisco, o cacique Uilton Tuxá, a escolha de Porto Seguro – mesmo não sendo um município da bacia do Velho Chico – se dá por questões de integração. “Queremos interagir com os povos indígenas do litoral e passar para eles a nossa luta em benefício do rio São Francisco”, disse. Na mesma semana, a cidade baiana sediará a Assembleia Geral da APOINME – Articulação dos Povos e Organizações indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. “É uma oportunidade para mostrar o trabalho que vem sendo realizado pelo CBHSF junto aos povos indígenas”, afirmou. No seminário, estão previstas discussões referentes aos problemas de

abastecimento de água que hoje afetam diversas regiões do Velho Chico e suas populações ribeirinhas, incluindo os indígenas. Além disso, o fortalecimento do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico, os projetos de recuperação hidroambiental financiados com recursos da cobrança pelo uso da água em território aborígene e a criação de uma agenda interna dos povos indígenas completam a pauta do evento.

Lideranças Indígenas Uilton Tuxá ressaltou a importância do evento, que faz parte do calendário anual de atividades do Comitê do São Francisco. “É uma reunião que terá a presença de diversas lideranças indígenas, e onde teremos a oportunidade de mostrar o trabalho que nós, como membros do comitê de bacia, estamos

fazendo em prol do rio e do nosso povo. Socializar com a nossa comunidade problemas que hoje afetam não só os povos indígenas, mas todos os ribeirinhos, e buscar formas de elucidação deles”, expressou. Além de Uilton Tuxá, que integra a Aldeia Tuxá – Rodelas, o CBHSF tem em seu colegiado outros três representantes indígenas: Iveraldo Pereira Junior (Aldeia Fulni-ô); Ricardo de Campos (Aldeia Tingui-Botó); e Anália Aparecida da Silva (Aldeia Tuxá – Pirapora). Para o encontro, são aguardadas aproximadamente 115 lideranças de diferentes etnias indígenas, espalhadas entre os estados que compõem a bacia do São Francisco (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), pertencentes a tribos como Xucuru, Tuxá, Aranã, Pankararu e Fulni-ô.

NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO

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Entrevista | Lupércio Ziroldo Antonio

Debate sobre usos múltiplos na bacia do Atual governador do Conselho Mundial da Água e presidente da Rede Brasil e da Rede Internacional de Organismos de Bacias, Lupércio Ziroldo Antonio tem vasta experiência transnacional em assuntos como meio ambiente e recursos hídricos. Nesta entrevista, ele fala sobre a gestão das águas no Brasil e em outros países da América do Sul, aponta os principais desafios e as conquistas no gerenciamento dos recursos hídricos e aborda os principais conflitos pelo uso das águas no mundo. Cita ainda as medidas emergenciais que devem ser adotadas pelo Estado para a preservação e revitalização dos rios brasileiros, além de dizer o que pensa sobre as frequentes reduções de vazões – em atendimento ao setor elétrico – na bacia do rio São Francisco.

Quais têm sido as experiências internacionais mais exitosas na gestão das águas que o senhor tem observado e que podem servir de modelo para o Brasil? O Brasil é um país continental e tem intrínseca relação com os países da América do Sul. Citaria como modelo exitoso a Diretiva Quadro Europeia, que estabeleceu entre os países daquele continente, metas, diretrizes e responsabilidades no trato com os recursos hídricos. É um modelo de gestão que precisa ser desenvolvido entre os Estados brasileiros. Como a Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas, a Rebob, analisa a atuação do Comitê do São Francisco na gestão dos recursos hídricos? Entendo que a bacia do Rio São Francisco é um dos grandes desafios na gestão dos recursos hídricos em nosso país. Pela sua extensão, suas especificidades, sua distinção territorial e, principalmente, por envolver políticas de vários Estados da Federação. Neste cenário, podemos elogiar todos os avanços já ocorridos no processo de gestão que vêm sendo desenvolvidos. Nota-se claramente o engajamento das pessoas, o fomento a ações que integrem os mais variados setores, enfim, há uma sinergia no sentido de que todos devem trabalhar incessantemente pelo equacionamento dos problemas existentes e pela igualdade de trato ao longo de toda a extensão do rio. É através desta discussão ampliada que o modelo de gestão que vem sendo conduzido, com a participação dos usuários, da sociedade civil e do poder público vai, no futuro, revitalizar completamente o rio. Com as reduções de vazões, além de situações climáticas adversas, o rio São Francisco mostra um cenário de escassez de água, extinção de peixes e dificuldades de navega-

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ção. Como o senhor analisa os usos múltiplos das águas no Velho Chico e no Brasil? Em tese, praticar gestão de recursos hídricos numa bacia hidrográfica e disciplinar todos seus usos já se constitui numa grande equação que deve ter muitos atores envolvidos para uma modelagem satisfatória. No caso específico do rio São Francisco, este problema é várias vezes multiplicado, principalmente porque existem muitos fatores que estão envolvidos em cada parte do território da bacia. Assim, penso que a discussão sobre os usos múltiplos, no caso do São Francisco, deve ser intensificada sempre, levando-se em conta, como já salientei, os aspectos gerais do rio, mas também os reais problemas em cada extensão da bacia. O senhor acha que as frequentes reduções de vazão em rios brasileiros por parte do setor elétrico têm alguma relação com as proximidades da Copa do Mundo? Não possuo nenhuma base estatística ou indicação para relacionar um fato

Destaco a importância da ação direta que os organismos de Bacia, em específico os Comitês de Bacia, têm no processo. Esses colegiados têm contribuído muito para uma efetiva gestão de nossas bacias hidrográficas.

com outro. Posso apenas destacar que passamos por um período climático adverso e atípico e que tudo o que está acontecendo aponta para a importância e a necessidade urgente de colocarmos a agenda da água como prioritária em nosso país. Diante da necessidade de preservação e revitalização dos rios brasileiros, quais são as medidas que, em sua opinião, devem ser tomadas pelo Estado, em caráter emergencial? Destaco a importância da ação direta que os organismos de Bacia, em específico os Comitês de Bacia, têm no processo. Esses colegiados têm contribuído muito para uma efetiva gestão de nossas bacias hidrográficas. Neste sentido, citaria como primordial o fortalecimento destes organismos e indicaria como medida necessária o cruzamento dos planos de bacia com os orçamentos municipal, estadual e federal. Necessitamos de ações imediatas para o bem de nossos recursos hídricos. Quais têm sido os conflitos mais latentes pelo uso das águas no planeta? Em geral, dada a prioridade para o uso da água na produção de alimento e energia, estamos percebendo as maiores discussões dentro desta temática. E é justamente essa discussão que tem alavancado o tema água nas principais eventos mundiais, com a inserção dos mais variados atores no processo, permitindo soluções consensuais. O que falta para que o Brasil possa dar passos mais longos rumo ao desenvolvimento da gestão de recursos hídricos e a preservação do meio ambiente? O grande passo a ser dado é colocar em definitivo a água dentro da agenda política do país. Os recursos hídricos, em geral, são tratados de forma periférica dentro dos demais


o São Francisco precisa ser intensificado Qual é o cenário da sustentabilidade dos comitês de bacias nacionais? De que forma é possível comparar esta realidade com a dos países europeus? Inicialmente, é importante destacar que na mudança de governo estadual que ocorre a cada quatro anos, muitas vezes verificamos uma “quebra” na condução do processo de gestão de recursos hídricos que vinha sendo implementado. Muitas vezes esta mudança é benéfica, alavancando o processo, mas em outras ocasiões detectamos um retrocesso. A sustentabilidade dos comitês está intimamente ligada a estes processos de alteração. O que precisamos é do fortalecimento do modelo que vem sendo conduzido em nosso país com os comitês, porque este modelo tem se mostrado eficaz, exitoso. É um modelo de gestão integrada e participativa com pioneiro no mundo e está servindo de exemplo para muitos países.

temas relevantes. A água será o elo de integração no século que vivemos. Integração entre pessoas, integração no desenvolvimento, integração entre territórios. Qual deve ser o papel de uma agência de bacia hidrográfica? As agências nacionais têm cumprido esse papel com eficiência em relação ao que acontece em outros países? Todos os entes do sistema são importantes na condução da gestão dentro de uma bacia, aí destacando o papel das agências de bacia. Em geral, não há como comparar eficiência entre as já implantadas, em especial com este modelo no exterior. O que podemos

O grande passo a ser dado é colocar em definitivo a água dentro da agenda política do país. Os recursos hídricos, em geral, são tratados de forma periférica dentro dos demais temas relevantes. A água será o elo de integração no século que vivemos.

enfatizar é que no Brasil, em geral, as agências têm cumprido o seu papel, porém a grande responsabilidade pela

gestão está nos comitês de bacia, em seus representantes e nos resultados de seu trabalho.

O CBHSF iniciou a cobrança pelo uso das águas do São Francisco no segundo semestre de 2010 e arrecada anualmente cerca de R$ 21 milhões, que são revertidos em ações de melhorias ambientais. Diante da sua experiência e conhecendo a realidade hídrica e de arrecadação de outros países, o que falta para o Brasil ter um volume de recursos mais expressivo? A implementação do instrumento “cobrança pelo uso da água” é precedida em nosso país por ampla discussão dentro dos comitês de bacia. As definições do valor que se cobra, de quem paga e de como devem ser investidos os recursos oriundos da cobrança devem estar claramente colocadas quando da realização destas discussões. Ninguém melhor que o comitê de bacia, através de seus membros escolhidos e eleitos, para apontar a realidade e o grau de investimento que deve ser aplicado na bacia. Ou seja, a equação arrecadação/ investimento é um ponto extremamente importante nos debates dentro de um colegiado.

NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO

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Fluviais Distrito Federal no Pacto pela Gestão das Águas O Distrito Federal aderiu, voluntariamente, ao Pacto Nacional pela Gestão das Águas. A adesão foi confirmada no ultimo mês de junho através do Decreto nº 35.507, publicado no Diário Oficial do DF. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – Adasa foi a entidade indicada para coordenar as ações na região. O Pacto das Águas é uma iniciativa da Agência Nacional de Águas – ANA com o objetivo de estimular a gestão de recursos hídricos no Brasil. Além do DF, mais 23 estados brasileiros já aderiram à iniciativa da ANA. São eles: Paraíba, Acre, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Paraná, Piauí, Mato Grosso, Rondônia, Sergipe, Maranhão, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio Grande do Sul, Amazonas, Rio de Janeiro, Tocantins, Pará, Pernambuco, Ceará, Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Para cada unidade da Federação que aderir, a ANA disponibilizará até R$ 3,75 milhões para fortalecer institucional e operacionalmente a gestão de recursos hídricos e colaborar na garantia da oferta de água em quantidade e qualidade para as populações envolvidas. Informações no site da ANA: http://www2.ana.gov.br

Pesar A comunidade artística do Médio São Francisco lamenta o falecimento precoce do ator e diretor teatral Humbervaque Andrade, ocorrido no dia 28 de junho. Membro do Conselho de Cultura Municipal de Casa Nova, Andrade era titular do Colegiado Setorial de Teatro da Bahia e militava pelo teatro baiano, em especial o produzido na região da bacia do Velho Chico. Aos 44 anos, o artista foi vitimado por um infarto em meio às emoções pela participação da seleção brasileira na Copa do Mundo 2014. Um dos seus importantes trabalhos foi a direção do espetáculo Paixão de Cristo, em Casa Nova. Nas mensagens de carinho postadas em sua página pessoal no Facebook, dezenas de pessoas, entre amigos, artistas e gestores, destacam a importância de Humbervasque como fomentador e incentivador de novos artistas e poetas de Casa Nova.

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Bienal da Bahia chega à Bacia do São Francisco A exposição No Litoral é Assim, uma das atrações da 3ª Bienal da Bahia, inicia em julho uma circulação pelo interior do estado. O roteiro começa no município de Vitória da Conquista, depois irá para Feira de Santana e, finalmente, em agosto, chega ao Submédio São Francisco, onde ocupará o Centro de Cultura João Gilberto, na cidade de Juazeiro, às margens do Velho Chico. A mostra, que esteve em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia, reúne 14 autores de diferentes nacionalidades como Marepe, Ícaro Lima, Lina Bo Bardi, Paulo Nazareth, Juraci Dórea e Yoko Ono, entre outros nomes brasileiros e internacionais. A ideia é que as viagens despertem o público sobre temas, ações e questões levantadas pela Bienal, estabelecendo novas formas de contato com pessoas, comunidades e grupos de artistas de diferentes regiões da Bahia. Informações: bienaldabahia2014.com.br

Cânions em quadrinhos Mais uma vez o rio São Francisco serve de cenário para contar a história de momentos importantes do Brasil. Uma revista em quadrinhos, Rastreadores da Taça Perdida – O segredo da Jules Rimet, do cartunista Giorgio Cappeli, acabou de ser lançada nacionalmente, tendo ações ambientadas nos cânions do São Francisco, entre Bahia e Alagoas. O grande mote da história é o desaparecimento da Taça Jules Rimet, troféu da Copa do Mundo da FIFA de 1970 conquistado pelo Brasil. Na revista, a narrativa se desenvolve em 44 páginas com ação e muito humor, contando a história de uma dupla de aventureiros que percorre o país tentando desvendar o mistério de desaparecimento desse troféu especial para o esporte brasileiro. Informações: www.diariotaubate.com.br

Barca do Forró Os festejos juninos tomaram conta das águas do São Francisco. Navegando pelo rio, a Barca do Forró partiu mais uma vez de Petrolina (PE) no mês de junho, levando animação e muita alegria para as comunidades locais. A famosa barca, que acaba de completar 18 anos, tem a capacidade de transportar 250 passageiros, mas os organizadores garantem que, no próximo ano, um barco maior poderá abrigar até 400 pessoas a bordo. Segundo Vânia Alves, uma das idealizadoras da festa na embarcação, “a iniciativa começou com a vontade de promover um forró no trem de Caruaru, mas nunca surgiu a oportunidade”. Optou-se então por uma embarcação navegando no Velho Chico. O passeio se inicia na orla de Petrolina e passa por localidades próximas, como as Ilhas da Amélia e a do Maroto.

Retratos do Paraiso Lançado recentemente, o romance Retratos do Paraiso, do escritor Dartanham Holanda, narra um passeio de barco pela foz do rio São Francisco, com cenas em uma das mais belas cidades da região do Baixo São Francisco, Piaçabuçu, onde se passam vários acontecimentos políticos e os fatos do cotidiano local. A obra revela ainda os encantos do Velho Chico, mostrando a magia do rio e do estado de Alagoas, assim como o encontro do São Francisco com o Oceano Atlântico. Holanda, o autor, é também membro da Academia de Letras de Maceió.


Sergipe se mobiliza para preservar o São Francisco O projeto piloto do Núcleo de Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de Sergipe objetiva implantar uma sistemática permanente de recuperação hidroambiental do rio São Francisco. Como estímulo, o MP pretende pagar aos produtores que preservarem nascentes. O projeto piloto será desenvolvido no município de Canindé.

A reunião organizada pelo Ministério Público de Sergipe contou com a presença do CBHSF

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núcleo de Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de Sergipe (MP/SE) reuniu diversos entes ligados ao processo de recuperação e preservação do rio São Francisco para discutir a implantação de um projeto permanente de recuperação hidroambiental do manancial. A promotora Allana Rachel Monteiro Batista Soares Costa explicou que o projeto Nascentes do São Francisco está em construção desde o ano passado e irá culminar com a inscrição da iniciativa junto à Agência Nacional de Águas (ANA). O objetivo é pagar mensalmente aos proprietários de terras que tenham nascentes em bacias de rios afluentes do Velho Chico. Com isso, o trabalho de recuperação das nascentes deverá se tornar uma política de Estado, com financiamento do órgão federal. Para a reunião, realizada no final do mês de junho na sede do MP sergipano, foram convidados o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, o

coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco, Melchior Carlos Nascimento, e o membro da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) do CBHSF, Marcelo Ribeiro, bem como representantes de órgãos ambientais públicos, a exemplo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semarh), Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário em Canindé do São Francisco (Emdagro) e prefeituras de municípios de Sergipe. O projeto, na sua estrutura, é interdisciplinar e baseado no pagamento por serviços ambientais. Até o momento, 18 municípios sergipanos já estão cadastrados, podendo chegar a 28. "Ou seja, será um trabalho nos afluentes, porque não adianta trabalhar apenas a calha do São Francisco. Aqui em Sergipe, a primeira a ser enfocada é a bacia do Rio Pirituba; iremos trabalhar as bacias por município", explica a promotora Allana Monteiro. Como forma

de auxiliar na construção do projeto, ela tem mantido reuniões com prefeituras para a construção das legislações municipais relativas ao tema, com a finalidade de garantir o pagamento para quem promover a recuperação e manutenção de nascentes. Assim, os proprietários de áreas com nascentes seriam considerados “produtores de água”. Com isso, o estado sairia na frente da legislação nacional. Projeto de lei tramita há sete anos na Câmara Federal com o objetivo de instituir como política pública o pagamento pela preservação de nascentes. A legislação pretende fixar um valor a ser pago mensalmente ao produtor para cada hectare preservado. A quantia, no entanto, deve variar conforme a realidade de cada região. A matéria, no entanto, não tem previsão para entrar na pauta de votações do parlamento federal.

Reunião de parceiros Durante a audiência, o presidente do Comitê, Anivaldo Miranda, defendeu que durante a realização do

Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob), evento marcado para o mês de novembro, em Maceió (AL), um momento de reunião com os órgãos que promovem a recuperação hidroambiental para que cada um conheça o que vem sendo realizado pelo outro. "O Ministério Público está correto, mas seria salutar esse encontro, porque o Comitê do São Francisco realiza esse trabalho de recuperação em diversos pontos da bacia e informar a todos seria de grande importância", considerou Miranda. O projeto piloto será desenvolvido no município sergipano de Canindé, por ter sido o primeiro a aceitar o desafio. De acordo com a promotora, o trabalho no município está em estado mais avançado e o prefeito encaminhou a legislação municipal para apreciação da Câmara de Vereadores, que já aprovou a matéria. Segundo informações de Allana Costa, há muitos municípios inseridos em bacias de afluentes do São Francisco que enfrentam dificuldades financeiras para arcar com o pagamento proposto.

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Flagrantes do Velho Chico A beleza das águas do rio São Francisco desperta o olhar de artistas brasileiros e de fora do país. Foi assim com o fotógrafo francês Alain Dhomé, que percorreu diversos trechos do rio coletando imagens para o livro Nas Águas do Velho Chico, recentemente lançado em Belo Horizonte.

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bacia do Velho Chico é fonte fértil de inspiração para músicos, literatos, artesãos e artistas visuais. Um dos alvos internacionais do encantamento provocado pelo rio é o fotógrafo francês Alain Dhomé, que percorreu mais de três mil quilômetros pelo rio São Francisco, da nascente na Serra da Canastra (MG) à foz no Oceano Atlântico, entre os municípios de Brejo Grande (SE) e Piaçabuçu (AL). As diversas viagens ao longo de cinco anos (1999–2004) e os milhares de clicks feitos geraram 3,6 mil fotografias. Destas, foram selecionadas 120 imagens que ilustram o livro Nas águas do Velho Chico. A obra bilíngue (português e inglês) foi lançada no dia 26 de junho, em Belo Horizonte. As fotografias de Alain Dhomé já foram apresentadas em uma exposição que esteve em cartaz no Brasil (Belo Horizonte e Brasília), mas também na França e Colômbia. Há dois anos, a exposição atraiu mais de 40 mil pessoas ao Aquário da Bacia do São Francisco, que fica no Zo-

ológico de Belo Horizonte. As fotos coloridas privilegiam os aspectos étnico e antropológico da paisagem, exibindo trabalho, lazer, religiosidade e outros elementos do cotidiano dos povos da bacia, incluindo ribeirinhos, indígenas, pescadores, sítios arqueológicos e pinturas rupestres. Dentre tanta beleza e diversidade, o artista se impressiona com o respeito dos povos da bacia com o Velho Chico. “O amor do povo ribeirinho pelo rio é realmente impressionante. As pessoas têm orgulho de serem ‘barranqueiras’, como gostam de dizer”, ressalta. Já em relação aos aspectos naturais, Dhomé considera difícil destacar um

elemento de unidade, em meio a tanta biodiversidade. “Com uma extensão geográfica tão grande, a paisagem é diferente a todo momento ao longo do curso do rio. Não há algo comum, a não ser a água em si, porque os biomas por si mesmos são diferentes de Minas até a divisa de Sergipe com Alagoas”, explica. Como não poderia deixar de constar, as históricas Carrancas, símbolo da campanha do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico, também foram focos do registro de Dhomé, em diferentes pontos do rio, como em Pirapora (MG), Petrolina (PE), Recife (PE) e cidades sergipanas. Além das fotografias de Alain Dhomé, Nas Águas do Velho Chico traz textos em português e inglês, assinados por estudiosos sobre o rio São Francisco, como Edilson Alkmim Cunha, da UnB, e Denílson Barbosa e Nôila Ferreira Alencar, pesquisadores do Núcleo de História e Cultura Regional da Unimontes.

Degradação As viagens às cidades banhadas pelo rio São Francisco também possibilitaram a Dhomé acompanhar de perto da situação de degradação pelo qual passa o

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Velho Chico, alvo constante de alertas do CBHSF.. “Infelizmente, a situação não mudou, só piorou. Seja no Rio das Velhas, afluente que passa por Minas Gerais, ou na cidade de Xique-Xique, na Bahia, a degradação é visível. Há sete anos, quando me banhei no rio em Petrolina, tive que me ensaboar com força para me livrar da gordura e da poluição do rio”, lembra o fotógrafo. Dhomé espera que os seus registros contribuam para chamar a atenção de toda a sociedade para a importância do Velho Chico. “Quero que as pessoas olhem as fotos e vejam a vida naquelas águas. E entendam que ele é a coluna vertebral do Brasil. Sendo assim, um dos tesouros mais preciosos que o país tem e que merece e deve ser protegido”. Naturalizado brasileiro, o fotógrafo atua no Brasil desde 1987. É autor do livro City of giants, em que reuniu registros de outdoors sobre filmes de Bollywood, na índia, além de integrar as coletâneas Brasília 50 Years – Força e leveza, e Abstrata Brasília concreta, fruto da sua vivência na capital federal. Atualmente, reside em Belo Horizonte e já tem o plano de um novo livro, dedicado à Festa do Divino de Tocantins.


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