Revista Chico Nº 2 - Dezembro / 2017

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Um balanço da crise hídrica À espera de um comitê, os rios Paraíba do Meio e Mundaú No escurinho do cinema em Penedo E uma entrevista com o ator Irandhir Santos O jovem Chico, há 200 anos: por Halfeld, Saint Hilaire, Richard Burton e Spix e Martius

Piranha Serrasalmus natural do Rio São Francisco, no desenho dos viajantes bávaros, Spix e Martius, no século 19

Revista do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco • Dezembro 2017

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PRESIDENTE: ANIVALDO DE MIRANDA PINTO VICE-PRESIDENTE: JOSÉ MACIEL NUNES OLIVEIRA SECRETÁRIO: LESSANDRO GABRIEL DA COSTA PRODUZIDO PELA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CBHSF - TANTO EXPRESSO IMPRENSA@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR WWW.CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR COORDENAÇÃO GERAL: PAULO VILELA, PEDRO VILELA, RODRIGO DE ANGELIS EDIÇÃO: KARLA MONTEIRO TEXTOS: VITOR LUZ, KARLA MONTEIRO, PRISCILA ATALLA, DELANE BARROS, MARIANA MARTINS, JUCIANA CAVALCANTE, ANDRÉIA VITÓRIO, DAVI DE JESUS PROJETO GRÁFICO: MÁRCIO BARBALHO ASSESSORIA DE IMPRENSA: MARIANA MARTINS FOTOS: ACERVO TANTOEXPRESSO, BIANCA AUN, DELANE BARROS, EDSON OLIVEIRA, EMERSON LEITE, GIULIANA VINCI, HIGOR SOARES, LÉO BOI, MANUELA CAVADAS, MÁRCIO DANTAS ILUSTRAÇÕES: ÂNGELO ABU E CLERMONT CINTRA REVISÃO: ISIS PINTO, MARIANA MARTINS ILUSTRAÇÃO CAPA: PIRANHA SERRASALMUS, LITOGRAVURA COLORIDA POR JOHANN BAPTIST VON SPIX IMPRESSÃO: GRÁFICA ATIVIDADE TIRAGEM: 5000 EXEMPLARES DIREITOS RESERVADOS. PERMITIDO O USO DAS INFORMAÇÕES DESDE QUE CITADA A FONTE. SECRETARIA DO COMITÊ: RUA CARIJÓS, 166, 5º ANDAR, CENTRO BELO HORIZONTE - MG CEP: 30120-060 - (31) 3207-8500 SECRETARIA@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR WWW.CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO: 0800-031-1607 ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: COMUNICACAO@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR

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SUMÁRIO

Expediente


Páginas Verdes A transposição em questão

História

Os viajantes

Economia

O uso da água em debate

Crise Hídrica

Segue seco

06 09 15

20 Política Ambiental

Dois rios

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Comunidade

Cultura

O futuro te pertence

No escurinho do cinema

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Qualidade de vida

Artes Plásticas

Turismo

Água de beber

Águas guardadas

Ai de ti, Copacabana 3


Editorial

A Ararinha-azul, que hoje corre risco de extinção, natural do norte da Bahia, retratada por Spix e Martius

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SOS MUNDAÚ E PARNAÍBA A situação preocupante que os efeitos do processo de aquecimento global estão impondo ao regime de chuvas e aos mananciais de água brasileiros, sejam eles de superfície ou subterrâneos, não é a única fonte da degradação visível desses ecossistemas. Para além dessas causas naturais fica evidente que a crise hídrica é também, e em grande medida, uma crise de gestão. Que a Terra está ingressando em um período de extremos climáticos, caracterizado por secas e enchentes cada vez mais frequentes e desafiadoras não há dúvida, senão entre os mais céticos. Porém, há um grande contingente de formadores de opinião e gestores públicos e privados que, mesmo diante das evidências irrefutáveis desses novos tempos, parecem reagir com perigosa lentidão e conservadorismo frente aos enormes desafios que nos aguardam. Um desses desafios é a urgência com que devemos, principalmente quando se trata do vasto território brasileiro, universalizar a implantação dos instrumentos da gestão hídrica, se é que pretendemos criar as condições mínimas necessárias para dar sustentabilidade e caráter estratégico ao desenvolvimento do nosso país.

Nesse contexto, a criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, só para citar um exemplo, torna-se não somente uma exigência legal que está sendo claramente relegada como, e principalmente, uma necessidade imperiosa para rios importantíssimos que estão morrendo ou se degradando a olhos vistos por falta, pura e simplesmente, de gestão ambiental e da gestão específica dos recursos hídricos. O caso do Rio Parnaíba, cuja Bacia está inserida nos territórios dos estados do Maranhão, Ceará e Piauí, e dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio, que unem as fronteiras entre Pernambuco e Alagoas, são gritantes. Há anos as populações ribeirinhas e a comunidade técnica clamam aos governos estaduais e do governo federal por sua criação e há anos esse processo vem sendo inexplicavelmente delongado. No caso do Mundaú e Paraíba do Meio, por falta absoluta de gestão hídrica e do uso minimamente planejado do solo, cada enchente cobra do Tesouro Nacional recursos bilionários para uma também recorrente reconstrução de cidades destruídas, economias perdidas e vidas sugadas pelo furor das intempéries em leitos de rios assoreados, margens erodidas, matas ciliares devastadas, águas poluídas. Enquanto isso, os poderes públicos se recusam a investir somas expressivamente menores para criar e incubar um Comitê que não somente terá capacidade de se autofinanciar em pouquíssimo tempo, como também fará a diferença para que as velhas práticas da ocupação e exploração predatórias dos rios dêem lugar à longa batalha por sua recuperação hidroambiental e consequente sustentabilidade e resiliência aos novos padrões do clima e das atividades antrópicas. Criar e empoderar os Comitês do Parnaíba e do Paraíba do Meio é hoje uma bandeira que vale a pena levantar para que a região Nordeste, a menos aquinhoada pela disponibilidade hídrica, possa servir de ponto de partida de um processo que, ampliado para todo o Brasil, faça dos Comitês de Bacias os grandes espaços onde poderão ser construídos os consensos e as articulações de uma nova e duradoura cultura das águas, capaz de reverter a crise hídrica e salvar os rios, esses grandes e imprescindíveis patrimônios do Brasil.

Anivaldo Miranda Presidente do CBHSF

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Páginas Verdes

A transposição em questão Há cinco anos atuando na gestão de conflitos e alocação de águas em momentos de escassez, o professor Valmir de Albuquerque Pedrosa, doutor em gestão de recursos hídricos, falou à Chico sobre o Projeto de Integração do Rio São Francisco – PISF, além de dar o panorama sobre como as águas vêm sendo tratadas, dentro e fora do Brasil. Pedrosa é Engenheiro Civil, doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor da Universidade Federal de Alagoas desde 1996. Por Vitor Luz Chico - O que é o Projeto de Integração do Rio São Francisco – PISF e quais estados são atendidos por ele? Pedrosa - O Projeto de Integração do Rio São Francisco – PISF é uma complexa obra de infraestrutura para promover o desenvolvimento regional por meio da oferta de água para os estados de PE, RN, PB e CE, além de ser de total responsabilidade do Ministério da Integração. Com a implantação do PISF como fica a gestão das águas no Brasil? Com as gigantes dimensões lineares e geográficas do Brasil a gestão da água que corre pelo PISF é de grande complexidade. Afinal de contas as águas correm por canais de concreto, leitos de rios naturais de domínio federal e muitas vezes estadual. No meio do caminho esses mesmos recursos hídricos alcançam reservatórios decorrentes de obras da União, águas estas que despertam o empreendedorismo daqueles que sonham em iniciar projetos de irrigação. As águas do PISF também atenderão aglomerados humanos por meio de adutoras capazes de abastecer cidades inteiras, resolvendo assim o severo racionamento hídrico de regiões inteiras. Quais são os verdadeiros desafios da transposição do Rio São Francisco? A transposição do São Francisco possui inúmeros desafios e, para conduzir esses trabalhos, a FGV foi contratada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - Codevasf para criar um modelo de gestão do PISF (Projeto de Integração do Rio São Francisco). Na metodologia utilizada várias oficinas foram realizadas para validação dos documentos contidos em tal modelo e, em outubro, aconteceu a última reunião, cuja missão foi a validação do Guia de Elaboração do Plano de Gestão Anual – PGA, além de tratar de temas complexos, como a necessária articulação da operadora federal do PISF, que é a Codevasf, com os órgãos gestores dos estados que recebem e receberão estas águas. 6

Quais os resultados até agora? Em julho a FGV apresentou suas recomendações, nas quais constava que o trabalho tinha como meta indicar uma metodologia para a definição da tarifa. Em outro momento o Comitê Gestor do PISF, diante do apresentado, criará os consensos necessários para a definição da tarifa e várias outras questões. Quando nos perguntamos se os impostos ICMS, PIS, COFINS, IRPJ, CSLL serão inseridos na tarifa de água, ainda não existe uma resposta e os especialistas em tributos ainda divergem. Como é feito o cálculo das tarifas? Para sentir a importância, a alíquota do ICMS é de 25% sobre o preço da energia, que representa 50% da despesa operacional. Sem inserir todos os impostos, uma estimativa inicial foi feita pela ANA: para uma receita requerida de R$ 418 milhões/ano, as tarifas teriam duas partes, a tarifa de disponibilidade de R$ 0,204/m3 e a tarifa de consumo de R$ 0,459/m3. Em breve, esses valores serão refinados e alcançarão consenso no âmbito do Comitê Gestor do PISF. A receita requerida deve ser igual à soma dos custos fixos, dos variáveis, dos ambientais, das despesas administrativas, da taxa de administração e da depreciação, embora existam muitos consensos a serem alcançados. Qual o significado de cada custo? O custo fixo é o perfil e número de profissionais da operação e administração das estações elevatórias, canais, reservatórios. O custo variável é imposto e suas alíquotas incidentes, valor da demanda de energia contratada, preço de compra do MWh, vazões a serem bombeadas em cada estação elevatória. Os custos ambientais são as condicionantes da licença de instalação/ operação, que serão de responsabilidade integral da Codevasf. As despesas administrativas variam de acordo com o tamanho e perfil da equipe. A taxa de administração é um valor a ser definido. Por fim, a depreciação é o valor da reserva a ser criada para as necessárias atualizações da infraestrutura, como a troca futura de conjuntos elevatórios e os quadros de distribuição elétrica.


Você acredita que o universo acadêmico seria um grande reforço para o desenvolvimento e melhor implantação do PISF? O CNPQ, a FINEP e a CAPES também deveriam participar desse esforço de acumular e produzir conhecimento para o futuro. Acredito na criação de uma rede de pesquisa para a construção da modelagem hidráulica – hidrológica do PISF, com a participação das Instituições Federais de Ensino Superior - IFES de todo o Brasil. Na Califórnia, há vários modelos desta natureza e assim há um rico debate sobre a ótima operação dos sistemas. Como você avalia os dois grandes conjuntos de infraestrutura hídrica da Califórnia, a Central Valley Project e o State Water Project? São compostos por mais de duas centenas de organismos dedicados à gestão das águas, o que exige um considerável esforço científico em pesquisas para a boa gestão dessas águas. Em 2016, cerca de dois bilhões de dólares foram investidos em análises. Lá existe um Norte com mais água, com menos população e menos atividade agrícola. Em contrapartida, um Sul seco, com imensa população e uma gigante atividade agrícola.

Assim, esses dois projetos asseguram que as águas do Norte fluam para o Sul do estado. A quantidade de água transferida depende das demandas hídricas e das demandas ambientais do delta dos rios que formam este imenso e complexo estuário. As demandas ambientais têm sido fator decisivo na definição de quanta água fluirá para o delta e do quanto será transferida para atender as demandas hídricas do Sul do estado. Lá estão, entre outras cidades, Los Angeles e San Diego. Existem grandes diferenças entre a realidade na Califórnia e o Brasil? Não há muitas diferenças entre o caso californiano e o brasileiro. A quantidade de água que o PISF aduzirá dependerá da quantidade de água estocada na Bacia do Rio São Francisco, que dependerá da quantidade de água estocada nos estados receptores, que dependerá das demandas hídricas das Bacias receptoras, e que, por fim, dependerá das demandas hídricas da Bacia do Rio São Francisco, com destaque para as demandas ambientais da foz. Nesse sentido que digo que muita pesquisa, muita discussão, muito estudo e muito consenso precisarão ser atingidos durante a operação do PISF. 7


História

Os viajantes Como era o São Francisco no século 19, quando o Brasil ainda engatinhava? Um mar de água doce correndo no interior do país selvagem? Que sentimentos despertava no marinheiro de primeira viagem? Nestas páginas, você vai conhecer um pouco das histórias de quatro desbravadores, que deixaram um legado imenso, em forma de livros, mapas, descobertas botânicas, zoológicas, etnográficas – e, principalmente, relatos pessoais que narram a vida no Jovem Chico 200 anos atrás: o alemão Heinrich Halfeld, os bávaros Johann Baptist Von Spix e Carl Von Martius, o francês Auguste de Saint Hilaire e o inglês Richard Burton. Por Karla Monteiro 8


Desenho de Spix e Martius

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Heinrich Halfeld “A povoação de Pirapora é composta de 30 a 35 casinhas cobertas de capim ou palha de coqueiro, habitadas por uns pescadores e suas famílias, que se ocupam de apanhar peixe, secá-lo ao sol sobre varais e vendê-lo às tropas. As tropas levam o peixe para as cidades, vilas, arraiais e serviços de mineração do distrito de Diamantina”. Foi assim que o engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld descreveu o povoado que encontrou no norte de Minas Gerais, de onde partiria para uma viagem de dois anos, de 1852 a 1854, encarregado pelo governo imperial de traçar o primeiro estudo aprofundado do Velho Chico, com mapas e relatos. Os mapas de Halfeld são uma obra prima. Não possuem coordenadas geográficas. Mas, elaborados em escala rigorosa, representaram pela primeira vez o desenho do Rio São Francisco. Corria o ano de 1825 quando ele desembarcou no Brasil. Viera a bordo do veleiro “Doris” para integrar o imperial Corpo de Estrangeiros, formado por Dom Pedro I. Onze anos depois, fora nomeado “Engenheiro da Província de Minas Gerais”, fincando

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residência na Vila Rica, hoje Ouro Preto. Sua primeira missão foi construir uma estrada de ferro. No ano de 1852, enfim, chegou ao Rio São Francisco. Percorreu cerca de dois mil quilômetros, 382 léguas. Descreveu os tipos de embarcações e de peixes de cada trecho, detalhou a variação da altura dos barrancos e assinalou os trechos mais estreitos e largos, profundos e rasos, calmos e agitados. As margens eram mais baixas e as águas mais velozes nas proximidades da cachoeira de Paulo Afonso. Diante das dificuldades da navegação, concluiu que o trecho exigia “um corretivo”. O trabalho de Halfeld rendeu o “Atlas e relatório concernente a exploração do São Francisco, desde a cachoeira de Pirapora até o Oceano Atlântico”. Ele terminou de escrever o relato em 1858, na vila de Santo Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora.


Richard Burton “Há algo de majestoso no aspecto do São Francisco, cujas águas turvas, aqui se elevando, ali se abaixando, acolá correndo em silenciosa grandeza, espalhadas pela brisa suave e refletindo o ouro e o azul do céu, assumem um aspecto enraivecido, triste e implacável quando algum obstáculo de excepcional importância barra seu caudaloso curso”. Foi assim que o capitão inglês Richard Francis Burton descreveu o Velho Chico no livro “De canoa de Sabará ao oceano Atlântico”. Sua aventura no Brasil começou em 1865. Dentre os viajantes, talvez seja ele o mais fascinante do século 20. Foi soldado, cientista, explorador, escritor e, durante boa parte da vida, agente secreto. Falava 29 línguas e muitos dialetos. Zanzou pela Índia, pela África Oriental, pela África Central, pisando em lugares nunca antes vistos por um europeu. Também traduziu obras raras que encontrou pelo caminho, como o “Kama Sutra” e “Mil e uma noites”, em 16 volumes. Sua vida foi tão louca e intensa que virara personagem das aventuras do escritor Rudyard Kipling. Ele desembarcou por aqui como cônsul da Grã-Bretanha, indo viver em Santos, no litoral paulista. Não demoraria muito no cargo. Logo se embrenharia no Brasil profundo, partindo de canoa do Rio das Velhas e subindo o São Francisco até encontrar o mar. Sobre o ajoujo em que fez a viagem, escreveu: “Jamais vi embarcação tão decrépita, semelhante a uma carroça de ciganos flutuantes”. A travessia do São Francisco foi dura, marcada por enormes

dificuldades com os acidentes naturais e as tempestades. Ao longo da narrativa fluida, a ideia do país do futuro acompanhou Burton. Para ele, o Velho Chico, correndo terra adentro, representava o encontro com as riquezas e a possibilidade de uma nova civilização. Por outro lado, ele compartilhava do pensamento vigente entre as classes dominantes, de que, para progredir, o Brasil precisava, primeiro, branquear. Navegando entre o sentimento de superioridade racial e a habilidade de viajante experimentado, escreveu uma obra ao mesmo tempo geográfica e antropológica. Em todos os lugares que atracou, Burton conviveu com a população local, trazendo para as páginas do seu relato personagens de carne e osso. Fazia observações curiosas. Em Juazeiro, enxergou alusões civilizatórias nas roupas velhas francesas de um barqueiro. Em Remanso, bebeu cerveja, algo que jamais esperou encontrar no sertão. Em Cariranha, encontrou um médico que lhe proporcionou um luxo inesperado: um sofá. “Aqui a cana de açúcar e o abacaxi crescem naturalmente. O gado e outros animais de fazenda abundam e não haveria dificuldades em aclimatar o camelo. E a região tem um potencial de riquezas minerais que vai muito além do ouro, do ferro e dos diamantes que aqui já são explorados”, escreveu sobre o Vale do São Francisco. No fim da viagem, Burton reclamou: “A hospitalidade é o que mais retarda as viagens no Brasil”.

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Spix e Martius Em 1817, os naturalistas bávaros Johann Baptist Von Spix e Carl Von Martius desembarcaram no Rio de Janeiro. Chegaram na comitiva da princesa Leopoldina, noiva de D. Pedro I, e logo partiram Brasil adentro, numa expedição cujo destino final era a Amazônia. Foram três anos de estrada: quatro mil quilômetros de norte a sul e seis mil quilômetros de leste a oeste. Pelo caminho, a dupla seguiu coletando plantas, animais, artefatos. E produzindo arte: desenhos, gravuras de metal, litografias, diários. A primeira vista do Rio São Francisco ficou registrada. “Cheios de alegria avistamos o São Chico passar suas ondas espelhentas em majestosa calma diante de nós. Depois de tantas atribuições e desventuras, a margem do abençoado rio hospitaleiro”, anotaram no diário que deu origem ao livro “Viagem pelo Brasil”. Exatos duzentos anos depois, sabemos que a produção científica de Spix e Martius sobre o São Francisco foi impressionante. Não se limitaram à taxonomia e à botânica. Escreveram sobre plantas medicinais, fizeram observações fitogeográficas, estudaram etnografia, línguas, os costumes indígenas, além dos incontáveis desenhos da fauna, flora e do povo ribeirinho. Navegar pela obra da dupla é como ultrapassar a barreira do tempo, chegando a uma época em que o Velho Chico vivia o seu esplendor. Era uma movimentada via fluvial, com barcos subindo e descendo as Gerais. No caminho, muitos engenhos: “A produção é quase que exclusivamente de rapadura parda, sendo a maioria despachada rio abaixo para a província da Bahia”, contaram. Eles se impressionaram com a abundância de peixes, tanto no rio “Chico” quanto nos afluentes. E também se assombram com a quantidade “de espécies de animais fantásticos”. 12

Para os viajantes, o Buriti “era um dos mais belos produtos do mundo das plantas”. As caçadas rendiam “caititus, veados, onças e antas”. Sobre as mulheres, fizeram uma anotação curiosa: “a fertilidade delas e o crescimento da população no norte de Minas é um dos fenômenos mais prodigiosos”. De acordo com o texto, entre os Rios Verde Grande e o São Francisco, já viviam “10 mil almas”. Nas centenas de anotações, encontram-se descrições de lugares como Carinhanha, Juazeiro ou Contendas do Sincorá. Spix e Martius escreveram sobre febres endêmicas e inflamações no abdome dos ribeirinhos. Encantaram-se com os tropeiros, que carregavam em estranhos arranjos “açúcar, cachaça, farinha e fumo para trocar por sal”. E ficaram admirados com a navegação frenética de “simples barcaças e ajoujos, canoas amarradas, uma do lado da outra”. “ “Temos certeza que, de São Romão até Juazeiro, na Bahia, logo os povoados vão se transformar em prósperas cidades”, arriscaram uma previsão. Entre reclamações dos mosquitos, das noites incandescentes, da falta de estrutura, acabaram por se deparar com o destino de toda a riqueza que comiam com olhos: a pequena sociedade dos barões de terra. Convidados por uma fazendeira rica, já adentrando o estado de Alagoas, para uma festa, anotaram: “Solenizaram-se, com decoro e pompa. Assistimos a variados festejos da igreja entre outros inteiramente novos para nós. Ao voltarmos da solenidade, deparamo-nos com as mais finas iguarias e vinhos escolhidos. Como são deliciosos os doces do Brasil”.


Saint-Hilaire O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire aportou no Brasil em 1816, com a Missão Artística Francesa. Nos seis anos que se seguiram, viajou pelas províncias de Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia. O encontro dele com o Velho Chico foi um assombro. Na companhia de guias locais, embrenhou-se na mata, seguindo as trilhas na Serra da Canastra. E, de repente, ao ouvir o barulho forte de água correndo, deparou-se com a cachoeira de Casca d’Anta. Ali nascia o Velho Chico: “Um belo lençol de água branca e espumosa que se expandia lentamente, parecendo formar flocos de neve. As suas águas caiam desordenadamente, por uma encosta escarpada para formar o famoso Rio São Francisco”. No livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela província de Goyaz”, Saint-Hilare registrou o momento em detalhes: “O leitor deve imaginar estar vendo em conjunto tudo o que a natureza tem de encantadora: um céu de azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens, as matas virgens, que exibem todo o tipo de vegetação tropical”. Da Canastra, ele seguiu em busca do sertão, onde acreditava estar o futuro do Brasil: “Restar-lhe-ão sempre gordas pastagens, terras férteis, e um rio que navegável em imensa extensão, estabelecerá

úteis comunicações entre o país e o oceano”. Há 201 anos atrás, um francês já percebera a missão do Velho Chico de interligar o país. Gastou longas páginas descrevendo o comércio, a troca entre diferentes regiões, propiciada única e exclusivamente pelo hoje chamado rio da integração nacional. Ao longo do caminho, Saint-Hilaire encontrou a paz e o inferno. No norte de Minas, conheceu Seu Felisberto, que se tornou personagem no seu relato. Morava num casebre, desprovido de qualquer conforto: “Leite e feijão no nosso jantar. E, por leito, me deram um colchão de palha sem lençol. Mas tudo me foi oferecido de tão bom coração que me encantei por esta gente”. Em sua passagem pela comarca de Paracatu, depois de prolongada seca, ele não foi tão benevolente: “Alojamentos detestáveis e hospedeiros ignorantes e estúpidos”. O comércio, os costumes, as diferenças culturais e comportamentais de região a região, a infinidade de espécimes de plantas, o botânico francês observou tudo. Sua obra é vasta – e abrange uma riqueza de detalhes imensurável. Ao se despedir do São Francisco para adentrar o estado de Goiás, deparou-se com o mais lindo pôr do sol que jamais vira: “O céu era da mais bela cor de púrpura, o rio refletia essa cor brilhante, uma calma profunda reinava na natureza, algumas canoas pareciam voar sobre as águas e nem sequer enrugavam a superfície”.

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Economia

Ilustração Clermont Cintra

O uso da água em debate

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Em 2018, o Brasil vai sediar o Fórum Mundial da Água, maior evento internacional sobre o tema, com a participação do CBHSF. O evento acontece em Brasília e deve reunir cerca de 30 mil pessoas, de 100 países Por Priscilla Atalla Dono da maior quantidade de água doce do mundo, o Brasil vai receber, em 2018, o 8º Fórum Mundial da Água. O evento é uma oportunidade única de discutir o modelo de gestão nacional e trocar experiências com os maiores especialistas internacionais sobre o tema. O Fórum Mundial da Água foi criado em 1996 e já passou por sete países. Esta é também a primeira vez em que será sediado por um país da América do Sul. Organizado pelo Conselho Mundial da Água em parceria com o governo brasileiro e diversas organizações mundiais, o Fórum acontecerá em Brasília (DF), de 18 a 23 de março de 2018, e tem o objetivo de contribuir para o diálogo político no processo decisório sobre a água em nível global e para o uso racional e sustentável do recurso. A expectativa de público é de 30 mil pessoas provenientes de mais de cem países. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) participa do evento levando experiências de gestão. “O Fórum será um momento muito importante, sobretudo porque os debates e as contribuições que serão levados para o evento irão alimentar decisões sobre a questão da água no mundo inteiro”, observou Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF. “É importante que todas as visões sobre a questão da água sejam levadas em consideração nesse espaço. Especialmente que prevaleça a visão de que a água é um bem comum, esse deve ser o ponto de partida para qualquer debate sobre o tema”. Segundo Taciana Neto Leme, integrante da Comissão do Processo Cidadão do Fórum, é importante a participação dos Comitês de Bacia no evento. “Os comitês reúnem representantes da sociedade civil e dos espaços privilegiados para a participação social. Nesse sentido, espera-se uma grande mobilização dos integrantes dos Comitês para envolvimento no Fórum. Seja participando de sessões temáticas no centro de convenções ou em atividades que acontecerão na Vila Cidadã”. O Fórum Mundial da Água acontecerá simultaneamente em dois espaços. No Centro de Convenções Ulisses Guimarães, onde serão realizadas as discussões dos Programas Temáticos, Regionais e Políticos. Para participação nesse espaço é necessário o pagamento de uma inscrição. O segundo espaço é a Vila Cidadã, que tem o objetivo de incentivar a participação social no evento. A Vila será montada no Estádio Nacional Mané Garrincha, com acesso gratuito, onde acontecerão debates, exposições, palestras, cinema, artesanato e talk-shows. “A Vila Cidadã é um espaço privilegiado para a participação social porque foi pensado e estruturado para envolver a sociedade, para que ela também possa se expressar e compartilhar suas experiências e opiniões”, contou Taciana.

A programação no Mané Garrincha Filmambiente Festival

Foram inscritos filmes de até quatro minutos, abordando questões relativas à água. Na categoria “A voz dos cidadãos”, as inscrições se encerraram em 3 de dezembro. Um júri internacional escolherá as cinco melhores produções, que receberão 400 dólares cada, cerca de 1.200 reais. Acesse: filmambiente.com/festival/pt/inicio/

Mercado de Soluções

É uma chamada pública que recebeu, até 04 de dezembro, inscrições de experiências comunitárias e sociais que ajudam a enfrentar os desafios globais da água. Serão escolhidas 60 iniciativas para apresentação ao público. O resultado da seleção será divulgado em janeiro de 2018. Acesse: www.worldwaterforum8.org/pt-br/node/309/

Grande Prêmio Mundial para a Água Rei Hassan II

O prêmio recebeu inscrições até o dia 30 de novembro. O tema desta edição é a “Cooperação e solidariedade nas áreas de gestão e desenvolvimento dos recursos hídricos”. Foram aceitos trabalhos nas áreas científicas, econômicas, técnicas, ambientais, sociais, institucionais, culturais ou políticas. O vencedor ganhará um cheque no valor de 100 mil dólares. Acesse: www.hassan2gwwp.org

Plataforma “Sua Voz”

A plataforma é um espaço online que convida a população a enviar sugestões de temas para as discussões do Fórum. As duas primeiras experiências já aconteceram e tiveram mais de 20 mil acessos e 550 sugestões. A próxima rodada do “Sua Voz” acontecerá até março, e será baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para água potável e saneamento. Acesse: www.worldwaterforum8.org/pt-br/sua-voz

2º Seminário Águas pela Paz O Seminário Águas pela Paz é um evento preparatório para o 8º Fórum Mundial da Água, que tem o objetivo de discutir a cooperação e o compartilhamento da água entre os povos e nações em prol de uma cultura de paz. A programação trará debates em torno do conceito da água como um bem público. O evento contará com participação do CBHSF e de palestrantes de diversas nacionalidades e áreas de conhecimento, como o membro do Conselho de Administração da Water Partner Foundation, Henk Van Schaik, a representante da ONU no Brasil, Denise Hamú, e o líder humanitário, Sri Prem Baba. O encontro é aberto ao público e será sediado em Brasília (DF) nos dias 11 e 12 de janeiro de 2018. Inscrições abertas a partir da segunda quinzena de dezembro: www. aguaspelapaz.eco.br 15


Meio Ambiente Volume Útil dos Reservatórios do Sistema Hídrico do rio São Franscisco, desde 1998 para 19 de novembro de 2017 100%

Volume Útil (%)

80%

TOCANTINS

À míngua

50%

O reservatório de Sobradinho, norte baiano, responsável por cerca de 70% da energia transmitida para a região Nordeste, registrou 3,6% do seu volume útil, operando com uma vazão de 550m³/s, a menor da história. A Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho possui uma área de 37.339km² e abrange 11 municípios, com população de 154.766 mil habitantes.

40%

20%

0%

2008

2009

2010

UHE Três Marias

2011 UHE Sobradinho

2012

2013

UHE Itaparica

2014

2015

2016

2017

Reservatório Equivalente

* O volume do Reservatório Equivalente do ano de 2017 é o 1º menor do histórico desde 1998, para 19 de novembro. ** Em 19/11/2017 as defluências foram de 80m³/s em Três Marias, 557m³/s em Sobradinho e 552 m³/s em xingó. Fonte: ANA - Link: http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/sala-de-situacao/sao-francisco/sao-francisco-situacao-atual

RIO

CORRENTINA

São F

GOIÁS

A Bacia Hidrográfica do Rio Corrente, no oeste da Bahia, possui uma área de 34.875 km² e abrange 13 municípios. A escassez hídrica tem causado conflitos pela água do rio Arrojado, um dos rios da bacia. A população total é de 196.761mil habitantes.

R A N CISCO

Disputa pela água

Economia abalada

PARACATU

Um dos mais importantes afluentes do Velho Chico, provedor de 26% de suas águas, o Rio Paracatu corresponde a 17,64% do território da BHSF, num total de 41.371,71 km². Quase sua totalidade corre em Minas, com pequenas áreas em Goiás. A falta d’água tem comprometido a economia local (mineração e agropecuária) e o abastecimento humano, prejudicando uma população de cerca 300 mil habitantes.

TRÊS MARIAS

A conta não fecha

Ilustração Clermont Cintra

Está com o volume útil de água reduzido. O reservatório vem liberando água para Sobradinho, na Bahia. A bacia hidrográfica do entorno da represa de Três Marias tem 18.654,66 km², o que corresponde a 7,95% do território da Bacia do Rio São Francisco, abrangendo 23 municípios.

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Minas Gerais Espirito Santo São Paulo Rio de Janeiro


Crise Hídrica

CEaRÁ

PIAuÍ

PARAÍBA Caiu a luz Entre Alagoas e Sergipe, instalada no São Francisco, principal rio da região nordestina, a usina tem área de drenagem de 609.386 km2 e um grande potencial sendo perdido. Das seis turbinas, tem operado com apenas uma.

PERNAMBUCO

SOBRADINHO XINGÓ

Rio Salitre

ALAGOAS PIAÇABUÇU LAGOA DE ITAPARICA

Não corre mais Afluente do São Francisco, o Salitre nasce no município de Morro do Chapéu, na Bahia, e percorre cerca de 333 quilômetros até desaguar em Juazeiro, norte baiano. Com a falta d’água, deixou de ser perene. A Bacia Hidrográfica do Rio Salitre possui uma área de 14.136 km² e abrange 9 municípios. A população atingida é de 96.951 mil habitantes.

BAHIA Mortandade Na maior lagoa da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o que se vê são milhares de peixes mortos, sob um chão onde antes existia água. Estima-se que cerca de 50 milhões de peixes já tenham morrido. Muito assoreada, compromete o abastecimento humano e a vida na região. Fica entre as cidades de Xique-Xique e Gentio do Ouro, no semiárido baiano.

SERGIPE Salinização O mar tem avançado sobre o rio, salgando a vida da população. O rio vem perdendo força, na divisa de Alagoas e Sergipe, foz do São Francisco, transformando o ecossistema e adoecendo os ribeirinhos, que já apresentam hipertensão.

Segue o seco Em 2017, a escassez d’água ditou o curso do Velho Chico. Nesta reportagem fazemos um balanço de perdas e danos sociais e ambientais – e apontamos a direção do CBHSF para salvar o rio que banha o interior do Brasil Por Andréia Vitório 17


Emerson Leite

Vista aérea do lago de Sobradinho

“É cada vez mais difícil viver da pesca. Ano a ano assistimos o rio secar, formando ilhas onde antes só existia água. Muitos pescadores se viram obrigados a deixar seu ofício porque não tem mais peixe”, disse o pescador Manoel Eduardo Souza, morador da redondeza de um dos maiores lagos artificiais do mundo, o reservatório de Sobradinho, no norte da Bahia, situado na região do Submédio do São Francisco. Tal qual o Velho Chico, Seu Manoel resiste. Dona Amarilda Campos dos Santos também. Há 33 anos vivendo na comunidade de Lagoa dos Gomes, no semiárido baiano, ela acompanha a agonia da Lagoa de Itaparica, a maior da Bacia do São Francisco, situada entre as cidades de Xique-Xique e Gentio de Ouro. Com 24 quilômetros de extensão, cercada de árvores nativas da Caatinga, o que se vê hoje está longe de lembrar a paisagem de outrora. Estima-se que cerca de 50 milhões de peixes já tenham morrido, de acordo com os cálculos do IBAMA. “A lagoa é uma mãe. Dá muita tristeza ver tantos peixes morrendo e os animais de um lado para o outro procurando onde beber. A situação está difícil para todo mundo que vive dessa lagoa”, comentou Dona Amarilda. Em 2017, o São Francisco enfrentou a pior crise hídrica de sua história. Seu Manoel e Dona Amarilda figuram num cenário que atinge diretamente todos os estados cortados pelo rio: Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Goiás, além do Distrito Federal. Isso, sem colocar na conta os locais que sofrem os impactos indiretamente. Para Valmir Pedrosa, pesquisador e professor da Universidade Federal de Alagoas, especialista em recursos hídricos, é difícil mensurar o impacto da seca do Velho Chico. Ele acredita que todos saem prejudicados, direta ou indiretamente, com a baixa produção de peixes, o impacto na agricultura, na geração de energia e no saneamento, por exemplo. “A falta de água do rio afeta todo mundo, do pescador ao morador da cidade grande, passando por agricultores, indústria, empresas geradoras de energia. São muitos os desdobramentos que atingem uma rede gigante de setores e pessoas que se relacionam direta e indiretamente com o São Francisco”, disse Pedrosa. “Há que se pensar: de onde vem a energia, o alimento, a água que consumimos direta ou indiretamente? Um exemplo é que dia desses uma pessoa de Feira de Santana, interior da Bahia, me disse que depende da chuva no São Francisco, pois o milho que alimenta sua criação de frango é comprado de uma região que precisa dessa água para a produção. Comprar o milho em outro lugar seria inviável financeiramente e poderia colocá-la fora do mercado”. Ao listar os pontos mais críticos, o pesquisador destacou a situação de Paracatu, em Minas Gerais, e de todo o território baiano: a barragem de Sobradinho; o rio Salitre, ambos no norte da Bahia; e da cidade de Correntina, oeste baiano, município 18

abastecido pelo Rio Arrojado, afluente do Velho Chico. Para Pedrosa, a solução para a escassez hídrica exige preservação das nascentes, reflorestamento, reuso da água e eficiência no uso, a exemplo da adoção de métodos de irrigação como microaspersão e gotejamento, além do cadastro e controle de usuários. A foz é outro ponto frágil: “Com a salinização já tem 12 quilômetros de água do mar dentro do continente. Piaçabuçu não consegue mais capturar água do rio durante a maré alta, já que o mar avança”, explicou. A união faz a força A capacidade de geração de energia do Velho Chico caiu quase 40% desde 2002. O reservatório de Sobradinho, norte baiano, responsável por cerca de 70% da energia transmitida para a região Nordeste, estava, até outubro, com apenas 3,6% do seu volume útil, operando com uma vazão de 550m³/s, a menor já registrada. Vale lembrar que um importante polo de fruticultura irrigada do país, localizado em Petrolina – Juazeiro é abastecido com a água de Sobradinho. A Barragem de Xingó, entre Alagoas e Sergipe, também teve o funcionamento reduzido. Grande produtora de energia, além de colaborar com a irrigação local e com o abastecimento de água para a sergipana Canindé, chegou a operar com apenas uma de suas seis turbinas. Com 2.683 quilômetros de extensão – percorrendo seis estados e o Distrito Federal, num total de 507 municípios – contemplando 15 milhões de pessoas, pode-se afirmar: a morte do São Francisco representaria a maior tragédia social e ambiental do Brasil. E a solução não vai cair do céu. Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, a seca prolongada é apenas uma gota no oceano de problemas. A agonia do Velho Chico é a crônica de uma tragédia anunciada ao longo dos anos: assoreamento, desmate das matas ciliares, erosão, sobreuso das águas, represamentos e poluição. Para devolver ao rio a água, seria preciso frear ações degradantes e colocar em prática uma gestão mais eficiente – com ou sem chuva. O caminho, para Miranda, é ouvir a população e chamar os diversos órgãos e segmentos da sociedade para debater a questão, num exercício de gestão descentralizada. “É necessário o comprometimento de todos, incluindo os órgãos públicos, os empreendedores da iniciativa privada e os usuários, que devem juntos se empenharem em cumprir o Plano de Recursos Hídricos da Bacia”, enfatizou o presidente do CBHSF. Ele argumenta que “há um enorme descompasso entre a legislação dos recursos hídricos e sua aplicação prática. Os órgãos gestores, principalmente no nível estadual, não conseguiram ainda implementar em grande escala os instrumentos necessários para a eficácia da gestão”. Miranda defende também a implantação mais acelerada dos mecanismos prioritários


previstos na chamada Lei das Águas (9.433/97), tais como: universalização da cobrança e das outorgas para o uso das águas do São Francisco, enquadramento dos mananciais, execução dos planos de bacias e fortalecimento dos Comitês de Bacias. E mais: acredita que é preciso melhorar os instrumentos de monitoramento da qualidade e quantidade das águas e enxergar a água subterrânea como ativo estratégico para o País. Sabe-se, por exemplo, que a maioria dos municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica do São Francisco não possui tratamento de esgotos domésticos e industriais. É tudo lançado diretamente nos cursos d’água. Além disso, várias Sub-Bacias não têm planos diretores, não contam com cadastro de usuários atualizado, nem com um sistema de qualidade das águas. Outra questão é o sistema de cobrança, que ainda precisa evoluir. Água de valor Os danos causados pela escassez hídrica na Bacia do Rio São Francisco dão ideia de como ela é vital para o País. É dessa realidade que emerge uma equação: qual o valor da vida que ela ajuda a prover? A metodologia de cobrança pelo uso de recursos hídricos da Bacia figura como um instrumento imprescindível para a gestão das águas, principalmente num momento de crise e desgaste de anos de sobreuso e exploração ambiental. O diretor técnico da Associação Executiva de Apoio à Gestão de Bacias Hidrográficas Peixe Vivo (Agência Peixe Vivo), Alberto Simon, vem dialogando com diferentes atores envolvidos com o rio sobre o tema. Em sua fala, ressalta a importância de atribuir valor à água como forma de estimular o uso racional por usuários de setores como indústria, mineração, saneamento e agricultura. Na nova proposta estão previstas mudanças como: possibilidade de medir vazões realmente utilizadas; estabelecimento de coeficiente de boas práticas; cobrança do lançamento de efluentes pela vazão que ficará indisponível no curso de água e atualização dos preços públicos unitários (PPU) em 20% que, segundo Simon, estavam defasados. “A ideia da nova metodologia não é arrecadar mais, queremos induzir as pessoas a realizarem boas práticas do uso da água”, explica. Vidas secas Percorrendo o São Francisco, subindo ou descendo o Velho Chico, a situação é de penúria. Na foz, um grave drama: a salinização. Sem forças para correr para o mar, o rio vem sendo invadido por ele. A situação é mais crítica na cidade de Piaçabuçu, a 135 km de Maceió. Ao todo, somam-se 40 mil pessoas afetadas pela salinização das águas. Cada uma delas, com sofrimentos e pelejas individuais. As autoridades sanitárias detectaram até o aumento do número de hipertensos na região, devido ao elevado teor de sal na água. “Sou do tempo em que os pescadores voltavam para casa com o barco forrado. Estamos vendo o rio morto, morto. Antes era canoa cheia de piolombetas, agora nem para comer”, disse o pescador

Durvan Gonçalves, 73 anos, nascido e criado naquela foz. A crise hídrica atinge também os rios afluentes. O Salitre é um exemplo da tragédia que se propaga: ele nasce no município de Morro do Chapéu, na porção norte do estado da Bahia, e percorre cerca de 333 quilômetros até desaguar em Juazeiro. “O Rio Salitre já deixou de ser perene há alguns anos e hoje vemos com grande preocupação a falta de conscientização de muitos que insistem em utilizar esse recurso sem os cuidados necessários. A região da cachoeira é um dos exemplos mais evidentes dos abusos. Aproximadamente 3 quilômetros depois da queda d’água, o rio já não existe mais”, desabafou Maria Angélica Lemos Soares, moradora da comunidade. Correndo em Minas Gerais, o Rio Paracatu é outro triste exemplo. Responsável por drenar mais de 40 mil km², o maior e mais caudaloso afluente do São Francisco está à mingua. Atividades agropecuárias e minerárias, que são o alicerce da economia da região, foram comprometidas. Além disso, tem sido comum o abastecimento ser complementado por caminhõespipa em rodízio entre os bairros de Paracatu, município mais populoso da Bacia. “Nós não temos mais a vegetação que tínhamos no passado e, sem ela, não se tem água infiltrando no subsolo para alimentar as nascentes. Outra problemática são os inúmeros poços artesianos que rebaixam ainda mais o lençol [freático], e usuários que, mesmo tendo autorização para usar uma certa quantidade de água, usam muitas vezes mais”, lamentou o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu, Antônio Eustáquio Vieira, mais conhecido como Tonhão. Para se ter uma ideia dos prejuízos, o território da Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu corresponde a 17,64% do território da Bacia do Rio São Francisco, abrangendo 16 municípios. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 sinalizam que a população total que vive no trecho é de 280.736 mil habitantes. Várias iniciativas estão sendo feitas para reverter esse quadro: “estamos criando ferramentas para contribuir com um uso mais racional das águas e dar condições ao Comitê de desenvolver ações de mobilização da comunidade, de levar conhecimento à sociedade. Além disso, estamos planejando a elaboração do Plano de Gestão de Águas da Bacia do Rio Paracatu”, declarou o Tonhão. Um sonho adiado Há quatro anos, o Sr. José Brasil cumpriu um plano audacioso: fez de um barco a sua casa. E o fez no sentido mais literal da palavra – exceto o casco, comprado na Bahia, e a pintura automotiva, a embarcação foi inteiramente construída por suas próprias mãos. A meta era viver navegando nas águas do Velho Chico, desde Pirapora, em Minas, até Sobradinho, na Bahia. O sonho encalhou na foz do Rio das Velhas, no município mineiro de Várzea da Palma. Este é o quarto verão, estação chuvosa por lá, que Seu José tentará zarpar.

Léo Boi

Rio Paracatu, localizado em Minas Gerais, é um dos principais afluentes do São Francisco e está enfrentando uma seca sem precedentes

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Política Ambiental

Dois rios Há 15 anos arrasta-se a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Paraíba do Meio e Mundaú. Segundo a ANA, a situação dos dois rios que correm entre Pernambuco e Alagoas é crítica Por Delane Barros

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Edson Oliveira


Edson Oliveira

Em 2010, os Rios Mundaú e Paraíba do Meio ficaram famosos. Um temporal os fez transbordar, inundando ruas e bairros inteiros, tanto em Pernambuco como em Alagoas. Foram milhares de desabrigados. De lá para cá, nada foi feito para a recuperação ambiental desses rios que correm entre dois estados. Eles nascem em Pernambuco, ultrapassam a divisa estadual, quando se unem e chegam à Alagoas, até desaguar no Complexo Lagunar MundaúManguaba, em Maceió. A Bacia do Rio Mundaú possui uma área de 4.126 km² distribuídos por 30 municípios, e o Paraíba do Meio abrange uma área de 3.330 km² e banha 20 municípios, entre os dois estados. O cenário segue degradado, triste. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), os dois rios são classificados como sendo críticos nos quesitos de conservação e disponibilidade hídrica e demanda. Há 15 anos, a população labuta na articulação para a criação de um Comitê de Bacias para os Rios Mundaú e Paraíba do Meio. O trabalho não avança. Segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE) e membro do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema), de Pernambuco, Marcos Renato Franzosi Mattos, depois de muita mobilização, o Codema promoveu o “1º Seminário de cooperação técnica entre Alagoas e Pernambuco para uso e preservação das águas dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio”, em abril passado, no município de Garanhuns (PE). Na oportunidade, houve a união de 49 instituições e 36 municípios alagoanos e pernambucanos. “Durante o seminário, foi lida e assinada, após modificações, a Carta dos Rios Mundaú e Paraíba do Meio”, recordou ele.

Igreja às margens do Rio Mundaú, entre os municípios de União dos Palmares (AL) e Corrente (PE) 22

De acordo com Franzosi, além desse documento, a ata da reunião e um requerimento do Legislativo Municipal foram encaminhados aos órgãos executivos de recursos hídricos e de meio ambiente dos dois estados e também para a ANA. “Apenas a agência federal respondeu à documentação em agosto, avalizando a criação do Comitê. Informa a validade do documento técnico da Bacia e considera que o que falta agora é a mobilização conjunta dos órgãos executivos dos dois estados”, relatou. O evento citado por Franzosi contou com a participação do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda. Ele defende que somente uma gestão verdadeiramente participativa e compartilhada das águas comuns será capaz de salvar os Rios Mundaú e Paraíba do Meio. “Devido ao alto grau de deterioração que já chegou aos limites do impensável”, justificou Miranda. Ele recorda que quando exerceu o cargo de secretário de Meio Ambiente de Alagoas iniciou as tratativas para essa finalidade, mas não houve avanço depois que ele deixou o órgão executivo. O secretário municipal de Meio Ambiente de Rio Largo, município de Alagoas, Cláudio Melo, conhece bem o problema. Ele integra o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Maguaba (Celmm) desde o início das atividades e garante que, enquanto o Comitê não se efetiva, o município age sozinho. “Estamos programando um investimento próprio de R$ 270 mil. Contrato nesse sentido já foi assinado com a entidade que irá executar esse trabalho”, anunciou. Em União dos Palmares, outra cidade alagoana, o nível de degradação também assusta. “Tem dono de abatedouro de


galeto que joga as penas e as vísceras no rio. Além disso, muitos moradores jogam lixo e entulho; as margens foram desmatadas e não há quase mais peixes no Mundaú”, reclamou o morador Paulo José Correia. Sobre a mesa Atuando na mobilização para instituir o Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Paraíba do Meio e Mundaú, o diretor de gestão de Recursos Hídricos da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), Gustavo Henrique Ferreira Gonçalves de Abreu, informou que os dois estados retomaram as conversações. Segundo ele, aconteceu uma reunião no início de novembro último, durante o XIX Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob), realizado em Aracaju (SE), reunindo, os representantes dos governos de Alagoas e de Pernambuco com a Agência Nacional de Águas. Ficou definido que os governos estaduais irão oficializar junto à ANA o interesse em criar o colegiado federal. “Diante da demanda apresentada, a direção da agência federal prometeu que irá se manifestar quanto à melhor maneira para conduzir esse processo”, explicou Abreu. Na opinião dele, mesmo sem uma resposta definitiva, é certo que o Comitê sairá do papel. Será apenas uma questão de tempo. Apesar disso, a Agência Nacional de Águas não deixou de expor suas dificuldades para atendimento da demanda. Isso porque há demandas de outros estados para a mesma iniciativa. O assessor técnico da APAC, João Paulo Andrade, também

participou da reunião no Encob e confirma as tratativas. Ele relata que confia na efetivação do Comitê, principalmente porque já houve uma época na qual o colegiado chegou a funcionar do lado pernambucano. “Em 2000, o Comitê chegou a funcionar em Pernambuco, durante um único mandato de três anos”, recorda ele. “Depois, foi revogado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos”, completa João Paulo. O superintendente de Recursos Hídricos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Alagoas (Semarh), Gustavo Carvalho, disse que, durante a reunião promovida durante o Encob, ficou definido que o governo estadual irá instaurar uma comissão para tratar da questão de forma conjunta. Segundo ele, esse é um compromisso comum, ou seja, um estado só dará um passo em comum acordo com o outro. Começar do zero Deixar para trás o que foi discutido e recomeçar a construção desse processo, pensando no futuro. Essa é a proposta do superintendente de Apoio ao Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SINGREH) da Agência Nacional de Águas, Humberto Gonçalves. Foi ele quem reuniu os representantes dos governos estaduais. Apesar do encontro informal durante o Encob, Gonçalves propôs, inicialmente, que o Executivo alagoano e o pernambucano demandem à ANA de forma oficial, com vistas a criação do Comitê. Depois disso, serão estudadas formas para atendimento. Questionado se diante dessas formas de atendimento poderia surgir outra proposta diferente da criação do Comitê, Humberto Gonçalves admitiu que sim. “Tudo depende da sustentabilidade”, justificou. Segundo ele, um colegiado desse tipo depende de fatores variados, para evitar que a representação seja apenas para realizar reuniões. “Talvez, lá na frente, a gente entenda que seja mais eficaz a criação de dois Comitês estaduais ou uma outra estrutura, ou até um Comitê regional. Tudo dependerá de como serão os processos político, de mobilização e de enfrentamento. É preciso definir se haverá cobrança pelo uso da água, quem irá pagar, enfim, são várias questões até chegarmos a uma conclusão. A criação de um Comitê não pode acontecer de forma monocrática por parte da Agência Nacional de Águas”, disse Gonçalves.

O que dizem os moradores O pescador Adenilson Luiz da Silva, de 41 anos, ainda consegue manter parte da renda familiar com o rio: “Aqui em Rio Largo, os maiores problemas são o lixo e o lançamento de esgotos. Vemos muita mortandade de peixe sempre que a usina aqui instalada lança efluentes” Aos 67 anos, também moradora de Rio Largo, Maria Conceição Costa afirma que mudanças têm sido drásticas nos últimos anos. “A população aumentou muito e quem sofre é o rio. Antigamente, as pessoas vinham até aqui para tomar banho, tiravam o dia de domingo para se reunir com a família nas margens do Mundaú, era lindo. Hoje, o mau cheiro aqui é horrível”

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Qualidade de vida

Água de beber O Programa Água Doce, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, beneficia cinco estados – Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Norte de Minas, levando qualidade de vida a cerca de 200 mil pessoas Por Priscila Atalla A água é um direito humano. No semiárido brasileiro, no entanto, as comunidades rurais encontram dificuldades para ter acesso a esse bem fundamental. Fatores climáticos, sociais e políticos são responsáveis pelas torneiras secas. O objetivo do Programa Água Doce é transformar essa realidade, promovendo o uso sustentável de águas subterrâneas e fornecendo água de qualidade para consumo humano. Desenvolvido pelo governo federal, o programa vem promovendo melhorias na vida de 482 comunidades, quase 200 mil pessoas que vivem na região do semiárido brasileiro. Por meio da tecnologia de dessalinização aplicada em poços nas áreas afetadas pela escassez hídrica, a metodologia do programa tem um ciclo que respeita o meio ambiente e conta com a participação das próprias comunidades na sua gestão. O programa é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Pesquisa Geológica do Brasil (CPRM). Segundo o diretor substituto de Revitalização de Bacias Hidrográficas e Acesso à Água do MMA, Henrique Veiga, a viabilidade do programa provém de um acordo de gestão compartilhada entre governo federal, estados, municípios e comunidades, cada um com suas responsabilidades. “Estamos falando da produção de uma água para consumo humano, no qual a própria comunidade define os usos dentro desse acordo de gestão. Normalmente essa água é usada para beber, cozinhar, muitas vezes para dar banho em recémnascidos. Uma parte pode ir para uma fábrica de pipoca, uma 24

escola, um posto de saúde, quem define a distribuição é a própria comunidade”, destacou Henrique. A execução do Água Doce está associada a convênios do MMA com as secretarias estaduais de recursos hídricos e meio ambiente. Os estados ficam responsáveis pela contratação de empresas para execução. São 200 instituições envolvidas no processo. O valor para implantar o sistema fica em torno de 250 mil reais por unidade. Na Bacia do Rio São Francisco, o Água Doce passa por regiões de Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Norte de Minas, os dois últimos ainda em fase de implementação. De acordo com Veiga, um Índice de Condição de Acesso à Água orienta quais são os municípios prioritários para receber o programa. “São levados em consideração fatores como altas taxas de mortalidade infantil, taxa de pobreza e baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, comentou. Mobilização Social A metodologia para mobilização social foi realizada pelo Laboratório de Sociologia Aplicada da UFCG. Questões de operação, distribuição da água, limpeza, tudo é debatido com as comunidades beneficiadas. Segundo a consultora do programa, Solange Amarilis, o processo de mobilização é realizado com identificação de lideranças comunitárias e associações. “Fazemos um diagnóstico prévio, sempre respeitando o saber das comunidades”, esclareceu ela. “Com o acesso à água as comunidades começam a desenvolver outras habilidades e


Edson Oliveira

possibilidades, por exemplo, junto com os pesquisadores da Embrapa, estamos vendo nas comunidades qual é a vocação delas, quais são os cultivos que podem atender suas necessidades”. Sem sal A tecnologia da dessalinização chegou ao Brasil na década de 90, mas só em 2003, com a implementação do Água Doce, foi reconhecida como alternativa para garantir o abastecimento de água das comunidades no semiárido. “Nosso grande desafio foi a gestão dos sistemas, porque o rejeito produzido pelo processo de dessalinização, um concentrado salino, era jogado no ambiente sem nenhum tipo de cuidado, gerando degradação do solo e, em último caso, até desertificação daquelas áreas”, disse Veiga. Segundo o técnico contratado pelo programa, Alexandre Saia, o semiárido brasileiro tem aproximadamente 200 mil poços perfurados e 60% deles são de águas salobras. “A água subterrânea se aloja em fissuras nas rochas e em função disso ela carreia toda a salubridade dessa rocha, então ela normalmente é uma água carregada de sais”. Ele esclareceu que os poços eram perfurados e abandonados nas regiões porque a água não era própria para o consumo. “Então surgiu a proposta de trazer essa metodologia que aproveitaria poços já existentes e implantaria o sistema de dessalinização para fornecer água para as comunidades e dar um destino ambientalmente sustentável para o concentrado que sobra”, disse Alexandre. A Embrapa desenvolveu a metodologia de tanques para evaporação do concentrado, o sistema simplificado o lança para evaporação, para evitar que seja jogado no solo. “Dependendo das características da comunidade ela pode ter

condições de receber o sistema produtivo integrado, em que o concentrado é usado para criação de peixes, aprofundamento dos conhecimentos em plantas halófitas e nutrição de animais”, observou Alexandre. “Um poço não dá conta de abastecer um sistema inteiro, mas ele abastece em média 400 pessoas numa comunidade, com 10 litros de água por pessoa, então já é uma quantidade razoável de água de excelente qualidade que se complementa com outras tecnologias, como a cisterna”, avaliou. O equipamento é uma membrana que tem a capacidade de reter esse sal para que a água passe. Ela retém também vírus, bactérias e purifica a água, conservando apenas os sais essenciais ao elemento. Segundo os gestores do programa, esse é o método mais eficiente de purificação de água disponível na atualidade. Premiações Em auditoria de natureza operacional sobre políticas públicas e mudanças climáticas o Tribunal de Contas da União (TCU) reconheceu, em 2009, o Água Doce como medida e política pública a ser fortalecida no país. Em 2016, a ONU Meio Ambiente identificou o programa como iniciativa de abordagem integrada para o desenvolvimento sustentável e combate à pobreza. A experiência foi levada para a Organização este ano e apresentada para um conjunto de países. O Água Doce também foi destaque no Congresso Mundial da Associação Internacional de Dessalinização (IDA). “A dessalinização não é a solução para tudo, mas a nossa proposta é que ela seja somada a outras tecnologias. Incrementamos a quantidade de água para enfrentar uma crise que se espalha pelo Brasil todo”, concluiu Alexandre Saia. Mais Informações: http://www.mma.gov.br/agua/agua-doce 25


Fala o povo Em oito anos, o Programa Água Doce é uma unanimidade em Ipueiras, distrito de Estrela de Alagoas: “Bem no começo as pessoas ficaram desconfiadas, se perguntando se realmente iria dar certo, mas após o primeiro mês puderam experimentar a água e constataram que tinha tudo para dar certo. Pode chover o que for para encher as cisternas, ainda assim o pessoal prefere a água doce que produzimos aqui”, comentou Cícero Pinheiro da Silva, morador e coordenador do programa. A revista Chico visitou as áreas beneficiadas para ouvir a opinião da população. E encontrou um cenário de esperança. O dessalinizador funciona três dias por semana, por oito horas. Possui nove membranas e dessaliniza 1.800 litros por hora.

Cícero Pinheiro da Silva Coordenador do programa

Edson Oliveira

“O programa gera uma água de qualidade para beber e ainda podemos cultivar Tilápias. Antes a gente disputava a água nos barreiros, junto com insetos e animais”

Ungezivalto Umbelino da Silva Nascimento “Fico muito contente de poder distribuir água. Sinto que devolvo dignidade a cada uma delas. Vejo esse programa maior e mais forte, podendo ajudar a cada dia mais gente”.

Edson Oliveira

responsável pela manutenção diária do programa Água Doce

Valdemir Correia de Lima Edson Oliveira

agricultora

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“Não tínhamos perspectiva de vida. A gente bebia água dos tanques e dos caminhões de abastecimento de água, era tudo muito ruim, mas o que a gente podia fazer? Era nossa única opção. Nossa vida se divide em antes e depois da implantação desse programa. Ele devolveu a dignidade que nos foi roubada no passado”.


Marinilza Leite

Edson Oliveira

dona de casa

“Antes era horrível, a gente tomava água dos tanques, cheia de impurezas, sais, sujeiras, insetos. Contávamos também com as águas das chuvas, que desciam pelo telhado e enchiam nossas cisternas. Agora a vida mudou. Outra coisa que foi muito boa foi essa possibilidade de criarmos peixes, pois gera mais uma forma de subsistência para nós. Antes da implantação desse programa eu e meu esposo estávamos pensando em mudar de cidade, ir para São Paulo e encontrar novos empregos, chegamos até ir algumas vezes, mas com essa água de qualidade, não queremos mais sair da nossa terra

Eliza Correia dos Santos aposentada

Edson Oliveira

“Nosso sofrimento aqui já foi muito grande, lembro-me que uma vez eu estava voltando da Renascença com o meu pote de água na cabeça e, ao me desequilibrar, derrubei ele no chão, me deu uma tristeza tão grande ao ver água escorrendo pela areia. Tive quatro filhos, um deles já morreu, juntamente com meu marido. Não tiveram a chance de ver isto. Estou vivendo os melhores dos meus dias. A parte que eu mais gosto quando venho buscar água é ficar vendo os peixes pulando”.

Inuza da Silva dona de casa

Edson Oliveira

“Antes a gente saía daqui para comprar um quilo de peixe em Palmeira dos Índios, mas hoje a gente pode chegar aqui no programa, mandar pescar e pronto, já temos nosso jantar fresquinho”

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Bianca Aun

O futuro te pertence 28


Comunidade

PROJETO LEGADO

POSICIONAMENTO DO CBHSF

Tema: Segurança e Infraestrutura Hídrica

Capitaneado pela Agência Nacional de Águas – e com a colaboração do CBHSF, o Projeto Legado quer contribuir para que o 8º Fórum Mundial das Águas deixe uma herança para o país Por Mariana Martins O que o Fórum Mundial da Água vai deixar para o Brasil? O que ele pode proporcionar para o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos? Foi a partir dessas perguntas que surgiu o Projeto Legado - Uma Agenda para Aperfeiçoamento dos Marcos Constitucional, Legal e Infralegal da Gestão de Águas no Brasil. Encabeçado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o projeto tem o objetivo de contribuir para que o 8º Fórum Mundial da Água deixe um importante legado para o país, inclusive no que concerne ao aprimoramento do seu modelo de governança. Como ponto de partida, a ANA ofereceu um conjunto de propostas para superação de desafios relacionados à implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Este documento, denominado Documento Zero, já se encontra em sua terceira versão, e vem sendo aprimorado com as contribuições recebidas por meio de consultas dirigidas e abertas ao público em geral. Ainda será consolidada a quarta versão em seminário a ser realizado até o final deste ano. O documento final, Documento 1, será apresentado no Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em Brasília, em março de 2018. A ideia é aproveitar ao máximo as oportunidades de mobilização política e social oferecidas pelo evento para fazer o documento chegar às mãos dos políticos e empresários. Nesse âmbito, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) constituiu o Grupo de Trabalho Projeto Legado, criado para analisar as propostas e apresentar o posicionamento do colegiado. O GT já definiu algumas proposições que serão enviadas à Agência Nacional de Águas, além de ponderações contrárias a alguns itens. Para o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, “o Comitê garante o seu caráter plural e não irá se furtar de apresentar as suas contribuições. Identificamos alguns pontos positivos, como o aumento do percentual para custeio dos comitês, mas outros não contam com nosso apoio e usaremos de toda a clareza para expor nossas posições”, afirma. Integrante do GT Projeto Legado e coordenadora da Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP), do CBHSF, a engenheira Ana Catarina Pires discorreu sobre cada ponto do Projeto, contrapondo cada um com a posição do Comitê. Para ela, é um projeto interessante, bem elaborado, mas que responde aos anseios da ANA. “Em momento nenhum desconsideramos a visão da ANA. Mas a nossa visão é diferente: é participativa e descentralizada. Além disso, verificamos alguns enfraquecimentos na proposta, como revisão da Lei das Águas, que, quando encaminhada para o legislativo estará sujeita a qualquer tipo de interpretação”, disse. Veja o quadro ao lado: O quadro refere-se apenas às propostas do Projeto Legado às quais o CBHSF é contrário. Para conhecer o Projeto na íntegra, acesse o site www.ana.gov.br

- Melhor coordenação regulatória em situações de crise: revisão da Lei de criação da ANA, ampliando suas prerrogativas para atuação em articulação com os órgãos gestores estaduais em toda a extensão da bacia e adoção de medidas excepcionais de caráter integrado.

Incluir os Comitês de Bacias Hidrográficas em situações de crise: a forma proposta centraliza na ANA a tomada de decisão, desconsiderando os órgãos gestores das bacias afetadas. Propõe também a instalação de um núcleo de crise composto por ANA, Estados, DF, Municípios e Comitê da Bacia afetada.

- Criação de Programas Estratégicos de Segurança Hídrica

Para isso será necessária a alteração da Lei 9.433/1997 (Lei das Águas) que, quando encaminhada para o legislativo, estará sujeita a qualquer tipo de interpretação.

- Criação de novos espaços institucionais: • Comitê Interministerial de Segurança e Infraestrutura Hídrica • Conselho Nacional de Segurança de Barragens

As atribuições indicadas aos novos conselhos já competem ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, e, dessa forma, enfraqueceria a atuação do mesmo. A proposta do CBHSF é a criação, em caráter permanente de um Grupo Especial ou Câmara Técnica no âmbito do CNRH para o desempenho das funções que seriam atribuídas a estes Conselhos. (ver artigo 2º da proposta da ANA)

- Aperfeiçoamento da Política Nacional de Segurança de Barragens em pontos específicos

Esse aperfeiçoamento seria elaborado pelo Conselho Nacional de Segurança de Barragens. Tendo em vista o posicionamento contrário do Comitê em relação à criação desse conselho, propõe-se otimizar a aplicação dos meios materiais e humanos já disponíveis no CNRH, fortalecendo-o.

Tema: Modelo Brasileiro de Governança - Papel e funcionamento do CNRH: propõe-se ampliar a representação dos Estados e Comitês de Bacia Interestaduais, incluindo-se, pela primeira vez, representações de municípios, com revisão dos critérios de escolha dos membros do CNRH a partir de cadastramento prévio

A proposta apresentada pelo Projeto Legado mantém a atual estrutura do CNRH, apresentando disparidade quanto à representatividade da sociedade civil em relação ao poder público. Propõe-se a diminuição do número de representantes do poder público ou a ampliação da representatividade da sociedade civil, de modo a alcançar a paridade

- Gestão participativa nas diferentes regiões do país: propõe-se que a implantação de comitês de bacia possa ser feita em recortes geográficos diferentes da totalidade da área de uma bacia hidrográfica, e de forma incremental, se necessário, contemplandose, assim, as especificidades regionais, em especial as do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.

O CBHSF tem posicionamento contrário a essa proposta, uma vez que a Lei 9.433 (Lei das Águas) já prevê a criação de subcomitês. A criação de novos recortes é o mesmo que romper com o conceito basilar de toda a Política Nacional de Recursos Hídricos, que considera a Bacia Hidrográfica como unidade territorial.

- Sustentabilidade financeira dos Organismos de Bacia: ampliação do limite de custeio de 7,5% para até 15%, conforme proposta dos Comitês, e possibilidade de repasse às entidades de natureza privada ou aplicados a fundo perdido, mediante autorização do CNRH ou dos Conselhos Estaduais, para realização de projetos e obras.

O Comitê concorda com a ampliação do limite de custeio, porém observa que é necessário o estabelecimento de critérios claros em relação aos recursos repassados (reembolso, contrapartida). Além disso, foi desconsiderado que os recursos advindos da cobrança são do Comitê e, na proposta, o CBH é excluído da tomada de decisão.

- Estabelecer uma Conferência Nacional das Águas – CONÁGUAS que se configurará como amplo mecanismo de consulta à sociedade brasileira, complementar àqueles já existentes no âmbito dos colegiados do SINGREH.

O CBHSF é contrário a esta proposição, uma vez que já existem outros fóruns, como o ENCOB e o FNCBH. A proposta é fortalecê-los com a efetivação da plena participação da sociedade civil em igualdade de representatividade.

Tema: Instrumentos de Gestão - Implementação da Rede Nacional de Qualidade de Água: viabilização da utilização do Sistema HIDRO pelas Unidades da Federação e o estabelecimento de protocolos de troca automática de dados com aquelas que já possuem banco de dados próprio.

Considerando a gestão integrada de águas superficiais e subterrâneas, o CBHSF propõe um pacto dos gestores estaduais para a inclusão no HIDRO, pelos estados, dos dados e das informações relativas às águas subterrâneas.

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No escurinho do cinema

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Cultura

O vencedor da 4ª Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental foi o curtametragem A Piscina de Caíque Por Vitor Luz

Edson Oliveira

Localizada no sul de Alagoas, a histórica cidade de Penedo foi palco de mais uma edição do Circuito Penedo de Cinema, entre os dias 06 e 11 de novembro, reunindo o 10º Festival do Cinema Brasileiro de Penedo, o 7º Festival de Cinema Universitário de Alagoas, a 4ª Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental e o 7º Encontro de Cinema Alagoano. Cerca de 15 mil pessoas participaram do circuito, que contou com a exibição de filmes já consagrados: “Como os nossos pais”, de Laís Bodansky, “Joaquim”, de Marcelo Gomes, e “Tatuagem”, de Hilton Lacerda. Retomado em 2016, após 34 anos de silêncio, o Circuito Penedo de Cinema foi criado para fomentar o ciclo de produção audiovisual independente, além de abrir uma janela de difusão do cinema brasileiro, em especial para os curtas-metragens, que não são exibidos nas salas de cinema convencionais. Este ano, as produções presentes na Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental entraram na competição oficial. Com o apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), foram exibidos 11 filmes de temática ecológica e social, chamando a atenção para a necessidade de preservação do meio ambiente. Certamente não poderia existir lugar mais poético para a realização do evento. A cidade de Penedo é repleta de encantos, canções, história e ladeiras, conhecida como a “Ouro Preto do Nordeste”, devido ao acervo arquitetônico, cheio de sobrados e igrejas seculares. “Costumamos dizer que nós não escolhemos o festival, a gente acredita que ele se impôs a nós, porque cinema faz parte da história de Penedo. O antigo festival, que deu origem ao atual circuito, acabou nos anos 80, mas ficou presente na memória afetiva da população”, afirmou o coordenador geral do evento, Sérgio Onofre. “Este ano tivemos 357 inscrições, o que representa a consolidação do festival. Quanto maior a quantidade de inscritos, mais difícil fica a seleção e maior o desafio da curadoria”. Cinema engajado Realizada em parceria com o CBHSF, a Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental tem um claro objetivo: fomentar o debate da necessidade de preservação dos mananciais aquíferos, especialmente da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Na abertura desta quarta edição, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, fez uma homenagem ao ator Irandhir Santos, pela atuação em defesa do rio na novela “Velho Chico”, exibida pela TV Globo. “Desejamos que você e todo elenco da novela Velho Chico recebam essa homenagem do CBHSF. Vocês nos ajudaram a explicitar para a opinião pública a situação dramática que o rio 31


Edson Oliveira

está vivenciando. Ele representa 70% da disponibilidade hídrica do Nordeste e ainda atende ao Norte de Minas Gerais. É uma dádiva da natureza e precisamos preservá-lo”, disse Anivaldo, continuando: “Irandhir, o seu trabalho é importante para as futuras gerações, temos um compromisso com aqueles que sequer nasceram. Somos responsáveis pelo mundo que eles irão encontrar. Cultura faz parte da boa gestão dos recursos hídricos e o rio faz parte disso”. Ao agradecer, o ator se emocionou: “Sou grato por essa homenagem e acredito que só quem poderia mexer no rio são todos aqueles que dele dependem, os ribeirinhos, índios e quilombolas, com os quais compartilho esta homenagem”. Cinema na rua O cinema ganhou as ruas de Penedo pela primeira vez em janeiro de 1975, com a então Mostra Competitiva de Super-8”. As exibições aconteceram no Cine São Francisco. Durante os anos que se seguiram, até 1982, o festival foi considerado um dos eventos cinematográficos mais relevantes do país. Em 2016, após 34 anos, surgiu o Circuito Penedo de Cinema, retomando a vocação cultural da cidade. “Eu me lembro das festas antigas. O cinema voltou e quem ganha é o povo”, comentou Jacira Maria da Silva, 56, auxiliar de Serviços Gerais. Aos 79 anos, José de Alencar já trabalhou no cinema de Penedo e também partilhou lembranças: “Várias personalidades do cinema Brasileiro já passaram por aqui. Trabalhei no cinema local durante 10 anos. A tecnologia mudou bastante, até parece que o artista vai dar um murro em você, eu até me abaixo às vezes”, comentou. “Participar do Circuito Penedo de Cinema é relembrar os velhos tempos”. A professora Ivani Maria Mendes de Araújo levou os seus alunos para ver os filmes: “O cinema é capaz de tirar as crianças do foco na tecnologia, no celular. A internet está acabando com o ser humano, ajuda só quem sabe usar. Muito bom que possam ter esta experiência com a cultura. Receber o circuito de cinema é uma oportunidade de evolução da cidade”. 32

Dois dedos de prosa com Irandhir Santos Homenageado pelo CBHSF pelo personagem Bento dos Anjos, defensor do Rio São Francisco na novela “Velho Chico”, o pernambucano Irandhir Santos está no filme “Tatuagem”, do também pernambucano Hilton Lacerda. Passada no interior de Pernambuco, a obra conta a história da trupe Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e nudez, no lusco-fusco da ditadura militar, em 1978. CBHSF - Quais os desafios do personagem Bento dos Anjos na novela “Velho Chico”? Irandhir Santos: O grande desafio foi a proximidade com o Rio São Francisco, essa coisa tão forte na nossa cultura, tão intensa. Tive a sorte de fazer um personagem porta-voz da defesa dele. Para alimentar o Bento dos Anjos, fui ouvir as pessoas, treinar o meu ouvido, ouvindo aqueles que dependem diretamente do Velho Chico. Falei com ribeirinhos, índios e convivi lindamente com os quilombolas, na comunidade Águas do Velho Chico, no interior de Pernambuco. Essas vivências me ajudaram a compor o personagem. De todas as alegrias do personagem Bento dos Anjos, qual foi a maior delas? Ver um tema tão essencial colocado para o Brasil inteiro. A gente falava do rio, dos problemas e também das belezas: a vida, os encantados, os pescadores, a música de artistas como Geraldo Azevedo e Caetano Veloso. Foi um orgulho participar de uma obra com tantas pérolas bonitas. Uma grande alegria foi dividir esse projeto tão bem cuidado pelo Luiz Fernando Carvalho e sua equipe com o Brasil todo. A novela acabou há mais de um ano e até hoje é lembrada. Qual a maior homenagem que o ator Domingos Montagner poderia receber? Olhar para o rio é lembrar dele, se banhar no rio é sentir o abraço dele. Hoje em dia eu trago esse significado comigo. Foi um


grande amigo e um ator que eu admirava. Salve o circo, salve a arte da interpretação, salve o bom pai que ele foi, salve o grande ator que foi e que amou tanto a profissão. O que você acha que pode ser feito para salvar o São Francisco? As autoridades precisam entender que esse rio é parte da nossa formação, é como se fosse um elemento do nosso corpo, vivo, pulsante. Quando mexemos em qualquer parte do nosso corpo, fazemos isso com muito cuidado, esmero, estudo, avaliação, ouvindo opiniões, colocando-se em dúvida e se questionando. Não adianta mexer para depois tentar consertar o que não é consertável. Aqueles que dependem diretamente do rio têm que ser ouvidos.

Na 4ª Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental, foram exibidos 11 filmes: • “A Piscina de Caíque” (Goiás), do diretor Raphael Gustavo da Silva • “Alternância” ( Bahia), com direção de Geilane de Oliveira • “Amargo da Cana”, (Paraíba), de Rosivan Pereira da Silva, Suellen Ramos da Silva e Wellington Faustino de Oliveira • “Animais” (São Paulo), sob a direção de Guilherme Alvernas • “Arrudas” (Minas Gerais), dirigido por Sávio Leite • “Lameirão” (São Paulo), de Gabriel Coimbra, Rafael Rodrigues e Rodrigo Lacerda) • “Latossolo” (Bahia), de Michel Santos • “Manancial” (Paraíba), com direção de Bruno Soares • “Marias” (Goiás), de Edem Ortega • “O Futuro a Deus Pertence?” (Minas Gerais), com direção de Dêniston Diamantino • “Pedro e o Velho Chico” (Minas Gerais), direção de Renato Gaia.

Edson Oliveira

Como você se sente recebendo essa homenagem do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco? Recebo essa homenagem emocionado, fico esperançoso, é o que me alimenta. Quando você faz uma história e recebe reconhecimento de uma forma tão forte, bonita e marcante é maravilhoso. Mostra que valeu a pena.

Igreja de Nossa Senhora da Corrente, constrúida entre 1764 e 1790, em Penedo

Os premiados • Pedro e o Velho Chico, de Renato Gaia, troféu Canoa de Tolda. Júri Oficial: 3º lugar –“Manancial” 2º lugar – “Latossolo” 1º lugar – “A Piscina de Caíque”

Marias

A Piscina de Caíque

Alternância

Amargo da Cana

Arrudas

Manancial

Pedro e o Velho Chico

Latossolo

O Futuro a Deus Pertence?

Vento Forte

Lameirão

Animais 33


Artes Plásticas

Águas guardadas Ele nasceu em Pirapora, Minas Gerais. Filho de pescador, cresceu com os pés plantados fundo no Rio São Francisco. Hoje, um dos expoentes da arte mineira, Davi de Jesus do Nascimento transformou o rio que lhe impregnou a alma em matéria prima para a sua obra. Nestas páginas, ele por ele mesmo, em texto e imagens Por Davi de Jesus 34


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“Quando nasci, em 1997, no fulgor norte-mineiro, banharamme com o mesmo nome de meu pai, Davi de Jesus do Nascimento: pescador, marceneiro, escultor de canoas e termômetro necessário para todos os meus trabalhos. Sou artista plástico, barranqueiro de Pirapora (MG), gerado às margens do Rio São Francisco, curso d’água de minha pesquisa. Velejo num diálogo profundo dos fluxos de correnteza e ponte-travessia das memórias. O todo de um cotidiano e ancestralidade ribeirinha. Nostalgia densa, que aspira despertar, preservar ou trazer de volta o rio de cada pessoa. Correr raso entre as pedras. Há três anos meu trabalho tomou ímpeto, quando me foram herdadas as fotografias analógicas da família, tiradas entre a década de 80 e início dos anos 2000. Registros de acampamentos, pescarias e acontecimentos de quintal com cheiro de terra molhada compõem o acervo. Costumo dizer que são águas guardadas, remendo de memórias estendidas onde houver banho e descamação. À medida que fui garimpando os registros, comecei a restaurar, digitalizar em alta resolução, tratar com as cores de minha paleta terrosa e escrever pequenos fragmentos de texto-delírio molhado. Trajeto de afagos desde onde o fluente Velho Chico torna-se navegável e começa a tomar rumo de desaguar no mar. “Se o rio morrer, haverá ventanias de lascas e um molhado de tamarindos” A relação com a escrita veio desde pirralho, quando minha mãe, bibliotecária, me presenteou com livros de autores peixes, referências. Manoel de Barros e Guimarães Rosa. Amo-vos. Corpos de água e aguaceiro cortado rente à pele-calhau são pontes que ligam todos os suportes que trabalho e possibilitam atravessar nadando também. Nado no raso-rasgo. Um de meus maiores interesses para a nascença na prática primária da pintura é a terra, mãe inicial. A aquarela foi a primeira técnica que utilizei para principiar minha pesquisa de rio na pintura. Fiz os primeiros trabalhos molhando o pincel na proa dos barcos. Percebi que a aguada dialoga profundamente com os fluxos da correnteza que desço boiando. Depois passei para os estudos com tinta a óleo, em fragmentos de vela da canoa de meu pai. Tenho grande influência de meu falecido bisavô João das Queimadas, que foi marinheiro, carpinteiro dos Vapores e escritor. Nas performances, utilizo o meu corpo como instrumento de medida do mundo. Corpo-médium, confrontado e confundido com a natureza. Uma natureza aquática, barrenta e silenciosa. Podendo ser lida como isca, peixe e pedra. Percorro pela fotografia analógica e instantânea. Apanho fragmentos ao andar nas ruas de minha cidade e percebo quase-rios, no árido. Sede de enchente. Partes que se juntam - putrefatas - e tornam-se objetos inteiros das águas saofranciscanas. Esculturas que sangram. É preciso estar atento à resistência e morte do rio. Aos gemidos das carrancas naufragadas. Gritos de alertas de surubins, curimatãs e saruês. O cheiro de matrinchã podre. Uma casa com a marca do nível da última enchente fedendo a pus de semente de tamboril. A manga rosa verde com sal de suor do corpo. Cemitério de corpos mortos boiando embaixo da sombra da ponte”.

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Turismo

Ai de ti, Copacabana A poucos minutos de barco de Petrolina ou Juazeiro, fica a famosa Ilha do Rodeadouro, um espetáculo da natureza. Envolvida pelo Velho Chico, é ela o destino de cerca de quatro mil pessoas todos os fins de semana, em busca do eterno verão da Bahia Por Juciana Cavalcante Petiscar um surubim Maitê, grelhado e temperado com ervas finas, acompanhado de risoto de camarão e purê de banana da terra. Ou um tambaqui assado na folha de bananeira, servido com feijão tropeiro, arroz e vinagrete. A cerveja gelada, a música alta, o sol quente... Partindo das cidades de Juazeiro e Petrolina, o destino do verão são as ilhas do Fogo, do Massagano e do Rodeadouro, sendo a última a mais popular. Um pedaço de terra envolvido pelo Velho Chico, com muitos restaurantes para se entregar ao verão e curtir a vista. Para onde que se olha, é só água doce. 38


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Ilustração Ângelo Abu


Para se chegar a Redeadouro, o freguês tem duas opções: seja pelo lado pernambucano, em Petrolina, pela PE-627, via de acesso à comunidade da Tapera, ou pelo lado baiano em Juazeiro, até o ponto de travessia, onde barcos levam os passageiros pelo Rio São Francisco entre 08h e 18h. O principal atrativo do Rodeadouro é o banho de rio. Quem não gosta de furdunço, o conselho é evitar o lugar. A ilha costuma lotar nos finais de semana, com pontos de aluguel de boias e vendedores ambulantes ganhando a vida. No meio daquele mar de água doce, instala-se, pode-se dizer, a Copacabana do Velho Chico.

Ilha do Rodeadouro é considerada um paraíso natural no Vale do São Francisco 40

A ilha do Rodeador ou Rodeadouro, como é mais conhecida, pertence ao distrito de Junco, a 13 quilômetros de Juazeiro e a 513 quilômetros de Salvador. Ocupa hoje lugar de destaque entre os principais atrativos turísticos na região do Vale do São Francisco. Recebeu esse nome devido ao vai e vem das embarcações, que para chegar em terra firme, faziam voltas em torno da ilha. “A urbanização foi acontecendo e a Ilha do Rodeadouro se firmou como um excelente local para banho. Gradualmente palhoças foram se instalando e oferecendo áreas de alimentação. A Ilha é um lugar


De acordo com a Associação dos Barraqueiros da Ilha do Rodeadouro, há aproximadamente 300 pessoas que trabalham no balneário. No local, também está disponível uma diversidade em pratos típicos em mais de 30 barracas que facilitam a permanência dos banhistas até o pôr do sol, outro espetáculo garantido. Embora os efeitos da crise hídrica tenham mudado um pouco a paisagem, com o alargamento das margens, o local segue uma festa.

Emerson Leite

de beleza indiscutível. Com vista inesquecível do rio, é um convite ao relaxamento e à contemplação”, disse a agente de turismo, Tânia Nogueira. “A ilha é um exemplo de sucesso no que se refere à consolidação de ponto de lazer e turismo no Vale do São Francisco. Aos sábados, domingos e feriados é destino certo para o banho e o consumo de peixes”. No verão, que para a região é praticamente o ano inteiro, a movimentação é intensa, com público que pode variar entre três e quatro mil pessoas por dia nos finais de semana.

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Coluna Social

Aconteceu Por Mariana Martins

Municípios das quatro regionais da Bacia Hidrográfica do São Francisco foram contemplados com Planos de Saneamento Básico

Higor Soares

Médio São Francisco

Bianca Aun

Alto São Francisco

Baixo São Francisco

Uma das formas mais eficazes de oferecer água com qualidade e em maior quantidade para o Velho Chico é adotando medidas de saneamento. Atualmente, 42 Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSBs) estão em fase de elaboração, por meio de investimentos do Comitê da Bacia

Delane Barros

Emerson Leite

Submédio São Francisco

Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), utilizando recursos da cobrança pelo uso da água bruta. São nove municípios do Alto São Francisco, treze do Médio, oito do Submédio e doze do Baixo São Francisco.

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Márcio Dantas

Bianca Aun

XIX Encontro Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas Entre os dias 07 e 11 de novembro, Aracaju(SE) sediou o Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (ENCOB). O evento reuniu representantes de Comitês de Bacias de 22 estados brasileiros, além de enviados da Alemanha, Antíqua, França e Peru. O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, participou de mesa de diálogo com o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) e defendeu a discussão no Congresso Nacional da necessidade de preservação e manutenção dos biomas brasileiros Cerrado e Caatinga. O CBHSF é um dos principais patrocinadores para a realização do ENCOB.


Nova metodologia de Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos é aprovada na XX Plenária Extraordinária do CBHSF

Com o tema Escassez Hídrica na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco aconteceu, nos dias 05 e 06 de outubro, o IV Encontro de Comitês Afluentes do São Francisco, em Salvador (BA). Pela primeira vez os comitês dos estados que receberão águas da transposição – seis no total – participaram do evento. Com adesão de todos os representantes dos Comitês Afluentes do Velho Chico, o encontro, que foi o maior realizado até então, cumpriu o objetivo de promover a integração entre os diferentes atores sociais envolvidos com a gestão dos recursos hídricos.

Comitê reativa Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais

Giuliana Vinci

Manuela Cavadas

IV Encontro de Comitês Afluentes do São Francisco

A inovação da nova metodologia é a definição de um coeficiente capaz de identificar a utilização da água retirada do São Francisco de maneira mais racional, que diferencia as necessidades de cada usuário, ou seja, aponta qual segmento mais retira água do rio e o valor proporcional a essa retirada. A atualização é necessária para chegar aos investimentos programados para a bacia hidrográfica e que constam no seu Plano de Recursos Hídricos, elaborado pelo CBHSF para os próximos dez anos.

Priscilla Atalla

Delane Barros

Ministro do Meio Ambiente recebe presidente do CBHSF em Brasília

A Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais (CTCT) teve suas atividades reativadas no dia 23 de outubro, em reunião realizada em Maceió (AL). O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, considerou importante a reativação da CTCT, devido à representação essencial dos povos e comunidades tradicionais perante o São Francisco. “E mais: defendo que a cada reunião possamos convidar representantes de instituições capazes de oferecer cursos de capacitação para esse segmento”, defendeu Miranda.

Durante o encontro, que aconteceu no dia 1º de novembro, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, entregou ao ministro o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco e o Plano de Aplicação de Recursos na Bacia do São Francisco, que aponta investimentos necessários para revitalização da Bacia até 2026. “Nós viemos pedir o apoio para que o Ministério possa executar os recursos que vêm para a Agenda Verde dentro das metas e diretrizes do Plano da Bacia”, explicou Anivaldo.

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