Revista Chico Nº 1 - Agosto / 2017

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01 Revista do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco • Agosto 2017

O Cerrado e a Caatinga não podem morrer Matopiba: a última fronteira Um comitê para o Parnaíba As inacreditáveis cavernas do Peruaçu

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Expediente PRESIDENTE: ANIVALDO DE MIRANDA PINTO VICE-PRESIDENTE: JOSÉ MACIEL NUNES OLIVEIRA SECRETÁRIO: LESSANDRO GABRIEL DA COSTA PRODUZIDO PELA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CBHSF - TANTO EXPRESSO IMPRENSA@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR WWW.CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR COORDENAÇÃO GERAL: PAULO VILELA, PEDRO VILELA, RODRIGO DE ANGELIS EDIÇÃO: KARLA MONTEIRO TEXTOS: LUIZA BAGGIO, VITOR LUZ, DELANE BARROS, MARIANA MARTINS, KARLA MONTEIRO, CHRISTIANE TASSIS, PEDRO FERREIRA PROJETO GRÁFICO: MÁRCIO BARBALHO ASSESSORIA DE IMPRENSA: MARIANA MARTINS FOTOS: ACERVO TANTOEXPRESSO, MARCELO ANDRÊ, EDSON OLIVEIRA, MIGUEL AUN, FERNANDO PIANCASTELLI, ANDRÉ FOSSATI, BIANCA AUN, ANDRÉ BERLINCK, JUSCEL REIS, SAMUEL BRANDÃO E ACERVO RONALDO FRAGA ILUSTRAÇÕES: CLERMONT CINTRA REVISÃO: ISIS PINTO, MARIANA MARTINS FOTO CAPA: MARCELO ANDRÊ – PARQUE NACIONAL CAVERNAS DO PERUAÇU IMPRESSÃO: GRÁFICA ATIVIDADE TIRAGEM: 5000 EXEMPLARES DIREITOS RESERVADOS. PERMITIDO O USO DAS INFORMAÇÕES DESDE QUE CITADA A FONTE. SECRETARIA DO COMITÊ: RUA CARIJÓS, 166, 5º ANDAR, CENTRO BELO HORIZONTE - MG CEP: 30120-060 - (31) 3207-8500 SECRETARIA@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR WWW.CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO: 0800-031-1607 ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO:

SUMÁR SUMÁ Páginas Verdes Debate sobre gestão brasileira das águas mobiliza o Comitê do São Francisco

COMUNICACAO@CBHSAOFRANCISCO.ORG.BR

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AGRADECIMENTO ESPECIAL: RONALDO FRAGA

Economia

O que será, que será?

Cultura

“Francisco, Francisco”

Coluna Social

Aconteceu 2

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RIO ÁRIO

08 Meio Ambiente

Quem cuida, tem

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Meio Ambiente

Política Ambiental

Comunidade

A Caatinga e o Cerrado

Um comitê para o Parnaíba

Todo dia é dia de Índio

34 Moda

O menino e o rio

38 Turismo

Beleza Pura

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Marcelo AndrĂŞ

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Edi torial TIRAR A LEI DA GAVETA Na esteira dos preparativos para o 8° Fórum Mundial da Água, previsto para março de 2018 em Brasília, o Ministério do Meio Ambiente, através da Agência Nacional de Águas e da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos, desencadeou um processo de debate e reflexões sobre a gestão dos recursos hídricos no Brasil, mobilizando uma ampla gama de instituições e organizações com envolvimento nessa temática cada vez mais importante no contexto do século atual. O debate suscitará, como é natural, um grande leque de análises críticas e muitas proposições, todas supostamente endereçadas à melhoria da legislação e da política pública da água. A dificuldade, como é natural, residirá na possibilidade bastante complexa de fazer convergir essas proposições dadas as diferenças de opinião que os problemas a serem tratados inevitavelmente suscitarão. No centro dessas diferenças estará inevitavelmente a avaliação da Lei 9.433, sobre cujo aperfeiçoamento todos concordam. Porém, a concordância termina sobre o que deverá ser aperfeiçoado. Do ponto de vista majoritário dentre os comitês de bacias hidrográficas a lei deveria ser modificada apenas em alguns detalhes, porque que se trata de um dos mais avançados diplomas legais do país e porque o verdadeiro cerne do problema não reside na Lei 9.433, mas sim nas resistências políticas e corporativas à sua efetiva aplicação no vasto território nacional. Enquanto os poderes públicos, sobretudo os estados brasileiros, não implementarem na prática a universalização dos instrumentos da gestão hídrica no vasto território brasileiro, é sem dúvida exercício de fantasia, para não dizer demagogia, falar em gestão hídrica sustentável e eficiente no Brasil.

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Páginas Verdes

Debate sobre gestão brasileira das águas mobiliza o Comitê do São Francisco O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, conversou com a Revista Chico sobre o tema Por Revista Chico

No último mês de abril, a Agência Nacional de Águas – ANA divulgou um documento dirigido à opinião pública e, sobretudo, às instituições integrantes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, contendo uma série de proposições para “superar lacunas legais e institucionais”, com vistas ao aperfeiçoamento da gestão das águas no Brasil e como contribuição brasileira ao 8º Fórum Mundial da Água, previsto para acontecer em Brasília, Distrito Federal, em março do próximo ano. As propostas da ANA vieram em forma de minutas de projetos de lei, decretos presidenciais e resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, decorrentes de discussões feitas internamente na própria ANA com base em estudos e diagnósticos promovidos por seu corpo técnico e dirigentes. Segundo a ANA, essa é a versão zero daquilo que chama de “Legado para a gestão das águas no Brasil”, que deverá ser aprimorada ao longo de 2017 em discussões e encontros com governos, comitês de bacias, organizações ambientais e da sociedade civil, associações técnicas e instituições de ensino e pesquisa, além de especialistas renomados. Ao tomar conhecimento do assunto, o CBHSF decidiu, através de sua Diretoria Colegiada, criar um Grupo de Trabalho para esmiuçar essas propostas e elaborar um parecer contendo análises, complementações, críticas ou propostas novas e 6

alternativas ao documento apresentado pela ANA. Em breve entrevista para a Revista Chico, o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, adiantou suas primeiras impressões sobre o assunto. Chico - O que o Sr. acha dessa iniciativa da ANA? Anivaldo - Sem dúvida a ideia é oportuna e deve ser valorizada e trabalhada com responsabilidade. Observamos apenas que ao elaborar isoladamente uma “versão zero,” a ANA deve estar preparada para acolher visões que nem sempre são coincidentes com as suas, inclusive, propostas inovadoras que não fizeram parte do seu horizonte de prioridades. Chico - Por falar na possibilidade de visões não coincidentes, como será recebida a sugestão de alterar os atuais critérios de composição do CNRH? Anivaldo - Haverá divergências. Se por um lado a proposta apresentada pela ANA avança fazendo dos comitês interestaduais de bacias hidrográficas o conduto através do qual se daria a escolha dos representantes de usuários das águas e da sociedade civil, fortalecendo a coesão interna entre a base e cúpula do Sistema Nacional dos Recursos Hídricos –SINGREH, por outro lado detona o princípio da paridade entre poder público, usuários da água e sociedade civil quando propõe um Conselho


abusivamente “chapa branca”, onde sobretudo os governos estaduais irão dar as cartas, apesar de, em vários casos, esses governos terem uma performance sabidamente resistente à verdadeira implementação dos instrumentos da gestão hídrica em seus territórios. Chico - E essa ideia de criar minicomitês modulares em áreas de conflitos ou de estudos de impacto ambiental de interesse de empreendimentos, sobretudo na região amazônica? Anivaldo - É uma ideia preocupante, em nossa opinião, porque poderia ser utilizada exclusivamente para justificar aprovação mais rápida de megaprojetos polêmicos, sobretudo em áreas de conflito territorial ou de grande interesse para a preservação ambiental. Ademais, o argumento de que a adoção da totalidade da bacia tem, como unidade básica de gestão, “inviabilizado” a criação de comitês, chega a ser afrontosa à realidade dos fatos, além de contrariar claramente a Lei Nacional das Águas (Lei 9.433/97) em um dos seus fundamentos basilares. Chico - Há uma proposta que altera os critérios gerais para a cobrança dos recursos hídricos. O que acha dela?

públicos e limites a serem cobrados a cada ano, conforme índice e mecanismos a serem estabelecidos pelo CNRH, e outras, a nosso ver, questionáveis, como aquela que dá ao CNRH a prerrogativa de estabelecer os limites mínimo e máximo para a cobrança pelo uso da água bruta por região hidrográfica. Ora, se o CNRH já é a segunda instância para homologação dessas matérias, porque retirar dos comitês de bacias a prerrogativa de estabelecer eles próprios esses limites? Chico - Todas as propostas são polêmicas como parece à primeira vista? Anivaldo - Não. Algumas delas refletem posicionamentos que eu diria são consensuais já há um longo tempo como, por exemplo, as que dispõem sobre uma melhor integração da política de recursos hídricos com a política de meio ambiente e as políticas públicas setoriais, a implementação da Rede Nacional de Qualidade da Água (RNQA), novas diretrizes para conservação e reúso de água e a ideia da Universidade Aberta da Água desde que esta última incorpore de forma mais incisiva os comitês de bacia.

Anivaldo - É uma proposta com diversas inovações, algumas propositivas, como é o caso da correção automática dos preços 7


Quem cuida, tem Meio Ambiente

Com projetos de recuperação hidroambiental e planos de saneamento básico, o CBHSF celebra cinco anos de investimentos na saúde do rio São Francisco Por Luiza Baggio

A

Bacia do São Francisco é enorme. Supera o tamanho da maioria dos países europeus. Ocupa uma área onde vivem cerca de 15 milhões de pessoas. Embrenhando no seu leito, são 2.863 km de extensão, que atravessa seis estados e o Distrito Federal. Nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra e, quando se entrega ao Atlântico, na divisa de Alagoas com Sergipe, o rio já foi – ou pareceu – um mar chegando a outro mar. No entanto, o São Francisco está empobrecendo. Não produz mais peixe, não irriga, nem produz eletricidade como antes. A capacidade de geração de energia, por exemplo, caiu quase 40% desde 2002. Hoje, fica até difícil apontar a principal entre tantas causas da degradação do rio. A maioria dos 505 municípios inseridos na Bacia Hidrográfica do Velho Chico não possui tratamento de esgotos domésticos e industriais, lançando-os diretamente nos cursos d’água. Os despejos de garimpos, mineradoras e indústrias aumentam a carga de metais pesados, em níveis acima do permitido. Na cabeceira principal, o maior problema é o desmatamento para produção de carvão vegetal utilizado pela indústria siderúrgica na região de Belo Horizonte. O uso intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas também tem contribuído para a poluição das águas. Além disso, os garimpos, a irrigação e as barragens das usinas hidrelétricas são responsáveis pelo desvio do leito dos afluentes, alterações da vazão, alteração na intensidade e época das enchentes, entre outros, com impactos diretos sobre os recursos pesqueiros. Sem contar que o Velho Chico tem perdido forças na foz, onde tem sofrido com a salinização. 8

Projetos do CBHSF Não faltam motivos para que se comece a prestar efetiva atenção na necessidade de revitalização do São Francisco: ele precisa viver para que tudo o mais que depende dele também viva, o homem e a natureza. Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, é preciso se firmar um conceito do que, afinal, é revitalização: “Revitalizar é empreender ações e práticas que redundem em produção de água em maior quantidade e qualidade crescente. Revitalizar é recompor matas ciliares, recarregar aquíferos, proteger nascentes, combater o assoreamento do leito dos mananciais, evitar a destruição dos grandes biomas, investir em tecnologia e fazer o uso racional da água”, enumerou Anivaldo. “Também é melhorar os instrumentos de monitoramento da qualidade e da quantidade das águas, evitar os processos erosivos, tratar a água subterrânea como ativo estratégico para o Brasil, bem como todas as demais atividades que convirjam para o objetivo comum do desenvolvimento sustentável”.


Bianca Aun

Os benefícios da revitalização são muitos, entre eles: mobilização, conscientização e participação da sociedade, ao lado da busca pela recomposição das funções ambientais dos ecossistemas que envolvem o corpo d’água. “Um desafio é incluir a sociedade na gestão dos projetos. Revitalizar um corpo d’água não é um trabalho solitário e sim coletivo”, afirma Anivaldo Miranda. O presidente do CBHSF completa: “Ações pontuais em pequenas áreas ajudam a preservar suas condições naturais”. Desde 2012, o Comitê vem desenvolvendo projetos de recuperação hidroambiental e elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB), financiados pelos recursos obtidos com a Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos. Os projetos, implantados em diversos pontos da bacia, surgiram de reivindicações comunitárias, motivadas por graves problemas de degradação. Voltados para a recuperação e conservação de nascentes, cursos d’água e todo o ecossistema que alimenta e mantém vivos os nossos rios, buscam a manutenção da quantidade e qualidade das águas da bacia do São Francisco,

preservando as condições naturais de oferta de água. As primeiras obras hidroambientais tiveram início no segundo semestre de 2012, quando o Comitê aprovou um conjunto de 25 projetos. A gestão de 2013/2016 executou 38 projetos hidroambientais e, em 2017, oito projetos foram iniciados e seis finalizados na bacia do Velho Chico. Outra importante ação executada pelo CBHSF são os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB). Em 2007, foi criada a Lei de Saneamento Básico (Lei n.º 11.445/07), que obriga as prefeituras a elaborarem o Plano Municipal de Saneamento Básico, sem o qual, desde 2014, o município não pode receber recursos federais para projetos de saneamento. Em apoio às comunidades, o CBHSF investe no financiamento para elaboração desses planos. O objetivo do Comitê é contribuir com os municípios para a erradicação de lançamento de esgotos no Rio São Francisco. Até o momento, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco já financiou 32 planos de saneamento, tendo outros 42 em andamento.

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Projetos do CBHSF ao longo da Bacia

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Alto São Francisco 01 - Moema (MG) 02 - Papagaios (MG) 03 - Lagoa da Prata (MG) 04 - Pompéu (MG) 05 -Abaeté (MG) 06 - Bom Despacho (MG)

Médio São Francisco 5

07 - Angical (BA)

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08 - São Desidério (BA) 09 - Catolândia (BA)

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10 - Barra do Mendes (BA) 11 - Carinhanha (BA)

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12 - Barra (BA)

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SubMédio São Francisco 13 - Afogados da Ingazeira (PE) 14 - Flores (PE) 15 - Pesqueira (PE) 16 - Miguel Calmon (BA) 17 - Mirangaba (BA)

SP

18 - Jacobina (BA)

RJ

Baixo São Francisco 19 - Igreja Nova (AL) 20 - Telha (SE) 21 - Propriá (SE) 22 - Ilha das Flores (SE) 23 - Feira Grande (AL) 24 - Belo Monte (AL) 25 - Traipu (AL)

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de Recuperação ProjetosProjetos de Recuperação Hidroambientais Hidroambientais em 2013em 2013

GO GO

Bacia do Rio das Pedras e Córrego 01 - Bacia do 01 Rio- das Pedras e Córrego Buritis - MG Buritis - MG - Baciado doOnça Córrego do Onça 02 - Bacia do 02 Córrego

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Bacia do Rio Jatobá 03 - Bacia do 03 Rio- Jatobá - BaciaCanabrava do Ribeirão Canabrava 04 - Bacia do 04 Ribeirão

05 -Represa Entornodeda Represa de Três Marias 05 - Entorno da Três Marias - BaciaSão do Pedro Ribeirão São Pedro 06 - Bacia do 06 Ribeirão

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Bacia do Rio Santana 07 - Bacia do 07 Rio- Santana Bacia do Rio Bananeiras 08 - Bacia do 08 Rio- Bananeiras

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Bacia do Rio Itaguari 09 - Bacia do 09 Rio- Itaguari Bacia do Rio Jatobá 10 - Bacia do 10 Rio- Jatobá

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Barra do Rio Santo Onofre 13 - Barra do 13 Rio- Santo Onofre Bacia do Rio Salitre 14 - Bacia do 14 Rio- Salitre Bacia do Rio Mocambo 15 - Bacia do 15 Rio- Mocambo - BaciaOnça do Córrego Onça 16 - Bacia do 16 Córrego

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11Piranhas - Lagoa das Piranhas 11 - Lagoa das Barra do Rio Pituba 12 - Barra do 12 Rio- Pituba

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17 - Nascente17do- Nascente Rio Pajeú do Rio Pajeú - Margem Esquerda doda Açude 18 - Margem 18 Esquerda do Açude Poço Cruz Poço da Cruz

19Irrigado - Perímetro Irrigado na Moxotó bacia do Rio Moxotó 19 - Perímetro na bacia do Rio Bacia do Rio Jacaré 20 - Bacia do 20 Rio- Jacaré Bacia do Rio Boacica 21 - Bacia do 21 Rio- Boacica Bacia do Rio Piauí 22 - Bacia do 22 Rio- Piauí

de Recuperação ProjetosProjetos de Recuperação Hidroambientais Hidroambientais em 2014em 2014

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Bacia do Rio(Divinópolis Itapecerica-(Divinópolis - MG) 23 - Bacia do 23 Rio- Itapecerica MG) Bacia do Rio Jacaré (Lagoa da Prata - MG) 24 - Bacia do 24 Rio- Jacaré (Lagoa da Prata - MG) Bacia do Rio(Bocaiúva Guavinipan (Bocaiúva - MG) 25 - Bacia do 25 Rio- Guavinipan - MG) 26 -Represa Entornodeda Represa de(Três Três Marias Marias -(Três 26 - Entorno da Três Marias MG) Marias - MG) Bacia doExtrema Rio Ribeirão Extrema Grande- (Felixlândia - MG) 27 - Bacia do 27 Rio- Ribeirão Grande (Felixlândia MG) 28 - Bacia do 28 Córrego dos Bois (Uruana de Minas - MG) - BaciaPasto do Córrego Pasto dos Bois (Uruana de Minas - MG) 29 - Bacia do 29 Rio- São Desidério (São Desidério - BA) Bacia do Rio São Desidério (São Desidério - BA) 30 - Bacia do 30 Rio- Boa Sorte (Catolândia BA) Bacia do Rio Boa Sorte- (Catolândia - BA) 31 - Bacia do 31 Riacho Brejão (SantoBrejão Maria (Santo da Vitória - BA) - Bacia do Riacho Maria da Vitória - BA) 32 - Bacia do 32 Riacho Riachão (Junqueiro - AL) - Bacia do Riacho Riachão (Junqueiro - AL)

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O que serรก, que serรก?

Bianca Aun

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Economia

Na região do MATOPIBA, considerada a última fronteira agrícola do mundo, a natureza e o agronegócio tentam encontrar um equilíbrio para coexistir Por Vítor Luz

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alvez você nunca tenha ouvido esta palavra: MATOPIBA. Trata-se de um acrônimo, que une numa sonora sigla a área produtiva das divisas de quatro estados brasileiros: Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. Embora pouca gente saiba exatamente o que é, o MATOPIBA vem alterando, para o bem e para o mal, o cenário agrícola do país. Abrange 337 municípios, em um total de 79 milhões de hectares e 5,9 milhões de pessoas. A cada ano, a produção ali cresce: o salto de 2014 para 2015, por exemplo, foi de 18 milhões de toneladas de grãos para quase 20 milhões. O território que atende por este estranho nome vem sendo coberto de soja e agora também se achegam outras culturas, como o algodão e o milho. O MATOPIBA carrega um superlativo: é a ultima fronteira agrícola em expansão do mundo. “Já estamos assistindo ao desaparecimento de várias comunidades e povos tradicionais, devido à desapropriação de terras”, ressaltou a professora Eliane Maria Souza Nogueira, doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal da Paraíba. “As comunidades perdem elos importantes com a terra e não possuem sentimento de pertencimento com as novas localidades estabelecidas. Os jovens migram para os grandes centros urbanos em busca de empregos e não mais retornam às suas origens”. O que o MATOPIBA tem a ver com o São Francisco? Na cadência perfeita da natureza, o Velho Chico é uma das pontas desta história, que envolve quatro personagens: o agronegócio, o Cerrado, o aquífero do Urucuia e o rio. Com o desaparecimento galopante da vegetação nativa, a água das chuvas deixa de infiltrar adequadamente no solo, comprometendo o aquífero do Urucuia. Sem o Urucuia, também explorado diretamente para irrigação, estará em risco todo o ciclo hidrológico que mantém vivo o Velho Chico. Segundo especialistas, somando-se o desmatamento e o sistema de irrigação, o agronegócio já consumiu cerca de 75% do aquífero. Para quem não sabe, um aquífero é uma formação geológica subterrânea, que funciona como um reservatório de água, sendo alimentado pelas chuvas que infiltram no subsolo. O Urucuia distribui-se por 120 mil quilômetros quadrados. O Rio das Fêmeas e seus afluentes integram um dos sistemas de correntes perenes que drenam áreas de chapadas situadas à margem esquerda do São Francisco. São rios e riachos que compõem o balanço milenar do ciclo hidrológico. 13


O Cerrado Para pesquisadores, o Cerrado é a floresta invertida, pois a exuberância está debaixo da terra, nas poderosas raízes. O bioma tem 11.627 espécies de plantas catalogadas, grande variedade de aves (837 espécies), peixes (1.200 espécies), répteis (180 espécies) e de anfíbios (150 espécies). Além de nascentes, que abastecem as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: a do São Francisco, do Tocantins-Araguaia e do Paraná. Segundo o WWF Brasil, organização internacional de proteção ambiental, o avanço da fronteira agrícola no MATOPIBA é um risco ambiental que não se pode ignorar. Por um lado, pequenos e médios produtores estão realizando plantios sem o manejo adequado e ações ilegais de desflorestamento do Cerrado. A AgroSatélite registrou um crescimento de 61% no desmatamento, entre 2000 e 2014, enquanto nos outros estados que também contemplam o Cerrado, o ritmo do desmate caiu em 64%. Outro dado importante vem da consultoria Agroicone, que informou que a área reservada ao cultivo da soja na região aumentou 253%, também entre 2000 e 2014, sendo que 68% dessa expansão ocorreu em áreas de vegetação nativa.

André Berlinck. José do Patrocínio Tomaz

“Essa é uma estratégia de sobrevivência do ecossistema para um período de seca muito longo, como o que ocorre no Cerrado, e na fronteira Amazônia-Cerrado”, declarou o pesquisador. Por ser um dos ambientes mais antigos da Terra, o Cerrado já chegou no ápice da evolução e, uma vez degradado, dificilmente se recuperará, o que é diferente da Mata Atlântica ou da Mata Amazônica. É possível reproduzir em viveiro algumas espécies arbóreas da região, cerca de 180 espécies, das 13 mil existentes, mas dificilmente sobreviverão, pois não encontrarão as condições ideais para desenvolvimento. Para a professora Eliane Maria Souza Nogueira, da Universidade Federal da Paraíba, a Caatinga já percorreu o caminho que agora se coloca à frente do Cerrado: “No caso da Caatinga, faltou interesse político nas esferas estadual e federal, o que favoreceu a implementação de empreendimentos impactantes, com prejuízos para a biodiversidade, solo, vegetação e, consequentemente, alterações na fisionomia vegetal, do solo e clima”, concluiu a professora. André Berlinck. Marcos Heil Costa

“A mudança de uso do solo pode levar à erosão, emissões de CO2, aumento da intensidade de enchentes, perda de biodiversidade e mudanças climáticas, principalmente aquecimento regional”, comentou Marcos Heil Costa, engenheiro agrícola e Ph.D. em Climatologia pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ele continua: “Esses efeitos dependem da interação com outros fatores. Por exemplo: a erosão aumenta mais se a mudança de uso de solo ocorrer em topografias inclinadas, e pode não mudar em nada no caso de topografias planas. Ou a perda de biodiversidade só é relevante se a mudança de uso do solo ocorrer em regiões de endemismo de alguma espécie. Ou seja, existem consequências genéricas, mas que devem ser avaliadas individualmente por região. No caso do MATOPIBA, onde a mudança do uso do solo é mais recente, essas avaliações estão muito atrasadas em relação a outras regiões onde ocorre desmatamento há mais tempo, como a Mata Atlântica ou a Amazônia.” Não é obra do acaso o fenômeno natural da “floresta invertida”. Ainda de acordo com Heil Costa, o papel das raízes é trazer água das camadas mais profundas do solo para as mais superficiais e, em seguida, devolvê-las para o solo, onde passam a ficar à disposição de outras espécies que não têm um sistema radicular tão profundo. 14

O Urucuia Com o galope do agronegócio no MATOPIBA, o Sistema Aquífero Urucuia - SAU está penando. Para lembrar mais uma vez, ele é um dos grandes alimentadores da Bacia do Rio São Francisco, possuindo 120 mil quilômetros quadrados, espalhados por seis estados, com 80% da área localizada no oeste da Bahia. Considerado como um dos aquíferos interestaduais mais importantes do país, 50% das vazões médias dos rios da região precisam do Urucuia para sobreviver. O Velho Chico recebe permanentemente deste aquífero uma vazão correspondente a 40% de seu volume. O golpe no Urucuia vem de dois lados. Além do desmatamento que come a mata nativa, impossibilitando a absorção das chuvas pela terra mal tratada, o agronegócio utiliza poços cada vez mais profundos para captação de água para irrigação. O estoque do subsolo foi tão prejudicado que mesmo se fortes chuvas caírem na região não serão suficientes: 75% do volume que foi retirado destinou-se à irrigação da agricultura, o que revela como a captação subterrânea afeta a disponibilidade de águas superficiais na bacia. “A exploração dessa reserva renovável, no todo ou mesmo em parte, através de poços tubulares de quaisquer diâmetros e profundidades, vai inviabilizar ou reduzir o escoamento de base, modificando o regime dos rios para efêmeros ou intermitentes”, comentou o geólogo e pesquisador das ciências hidrogeológica e hidrológica, José do Patrocínio Tomaz.


Segundo ele: “O aquífero Urucuia é o principal componente do sistema São Francisco, representando, segundo a ANA, cerca de 58% da vazão de base produzida por todo o sistema aquífero. A exploração descontrolada dessa condição de supridor principal da vazão de base já está acontecendo com os afluentes, como o Rio Verde Grande e outros, que estão deixando de ser perenes e passando a ser efêmeros, fluindo apenas, quando ocorre a precipitação direta de chuvas sobre suas bacias hidrográficas”. Movimento antropofágico As plantas do cerrado possuem um terço de sua estrutura acima da superfície o que faz com que suas ramificações sejam profundas, para que possa sobreviver em um ambiente com um solo pobre em nutrientes. Quando existia excesso de água na região as raízes viravam verdadeiras esponjas encharcadas, vertendo todo o líquido não absorvido para lençóis freáticos, que posteriormente elas passavam para os aquíferos. Tal dinâmica foi alterada em 1970, com a chegada da expansão agropecuária e as plantações de grãos e algodão pelo Cerrado. Os desmatamentos deram espaço para uma nova vegetação, com raízes curtas e incapazes de transportar a água para os aquíferos, sem falar que entre uma colheita e o replantio as terras ficam descobertas, fazendo com que as águas das chuvas evaporem antes de serem absorvidas pelo solo. Estudos apontam que em 2030 o planeta vai possuir 10 bilhões de habitantes e o potencial hídrico será 40% menor do que temos hoje. O Brasil detém 12% de toda a água doce do mundo, o que deixam claros os grandes motivos e interesses pelo Cerrado. O Agronegócio Vilão ou mocinho? Não existe resposta para tal pergunta. O setor representa 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos nos país. Em 2015, empregou 19 milhões de trabalhadores e, no ano seguinte, gerou mais de 75 mil novos postos de trabalho. De acordo com estudo realizado pelo Centro de Estudos de Economia Agrícola, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba, SP, atualmente o agronegócio emprega mais de 19 milhões de pessoas, o que representa 20% do total de colocações no país. Tais dados referem-se ao total de trabalhadores que atuam nas empresas ligadas ao segmento e a todos aqueles que trabalham no campo. “Se houver mudança de uso do solo, dentro da legislação (Código Florestal), em áreas onde essa mudança não é potencializada por interações com outros fatores locais, e se for efetivamente usada para produzir alimentos e trazer segurança alimentar, então, o agronegócio não é um problema”, disse Marcos Heil Costa.

De acordo com o engenheiro: “O problema é quando ocorre o desmatamento e, em poucos anos, a área é abandonada e não produz mais nada, como é o caso das pastagens degradadas, que totalizam aproximadamente 60 milhões de hectares no Brasil hoje, ou uma área do tamanho de Minas Gerais. Nesse caso temos o ônus ambiental do desmatamento, mas não temos o bônus econômico ou de segurança alimentar da mudança de uso do solo”. Para o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, Celestino Zanella, a atividade agrícola é vital para o desenvolvimento do país: “Temos um código florestal em vigor, um dos raros no mundo. Deixamos as reservas de 20%, as áreas de preservação permanentes, e o restante é utilizado para a produção de alimentos de forma que gere uma sustentabilidade econômica. Desconhecemos algum estudo científico sobre a utilização sustentável do solo que tenha ocasionado danos ao meio ambiente. Também podemos deixar de produzir, mas precisaremos parar de comer”. O São Francisco – e outros rios O geólogo Eduardo Antônio Gomes Marques, pós-doutorado pela The University of Queensland, na Austrália, levantou outra ponta desta equação: a água é um bem finito e o ciclo hidrológico é um sistema fechado para o planeta Terra, o que significa que não há perda nem entrada de água no sistema ao longo do tempo. O que há é água sendo retirada de um ponto e transferida para outro, por processos antrópicos diversos: transposição de rios, exportação de água, mineroduto, bombeamento de águas em poços para agricultura e etc. Celestino Zanella, ressaltou a importância de estudos científicos para a preservação do aquífero Urucuia e, em consequência, do São Francisco e afluentes: “A utilização do aquífero Urucuia deve ter um estudo científico, mensurando o volume, a recarga, a profundidade, qualidade da água, o teor de matéria orgânica no Cerrado nativo e nas áreas de lavouras, para que possamos assim, de forma transparente e segura, fazer políticas públicas perenes, sem paixões”. Segundo Zanella, a convivência do agronegócio com a natureza é possível, desde que haja investimento em pesquisas. Ele cita o exemplo positivo ocorrido no estado de Nebraska, nos Estados Unidos. Lá, o aquífero Ogalala, explorado por mais de 100 mil poços, desde 1895, irrigando 3,5 milhões de hectares, tem um volume de água hoje superior ao que tinha em 1920. “No Nebraska, as políticas de uso das águas são decididas entre os 23 comitês regionais e só depois são debatidas com os comitês vizinhos, tornado assim políticas públicas sem intervenção do Estado, que supervisiona o decidido. A federação só interfere se chamada”, concluiu Zanela.

Plantação de soja

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Meio Ambiente

Ameaçados pela galopante devastação, os dois biomas guardiães do Velho Chico são patrimônios que o Brasil precisa aprender a amar e respeitar Por Pedro Ferreira

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errado é o nome dado às savanas brasileiras. Sua vegetação é caracterizada pela presença de árvores baixinhas, arbustos espaçados e gramíneas. Também pode ser chamado de cerradão, campo cerrado, campo sujo, dentre outros. Caatinga, em tupiguarani, significa mata branca. É o único bioma exclusivamente brasileiro. Estende-se por todo o Ceará e ocupa partes da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Alagoas, Sergipe, além de pequenas porções de Minas Gerais e Maranhão. Desses dois biomas, depende a sobrevivência do Rio São Francisco – e do Rio São Francisco dependem a Caatinga e o Cerrado. Na simbiose da natureza, a vida é coletiva. Nos últimos 15 anos, cerca de 40 mil quilômetros quadrados de Caatinga se transformaram em deserto devido à ação do homem. O alerta é da WWF-Brasil, organização não-governamental dedicada à conservação da natureza. Já o Cerrado, o segundo maior bioma da América do Sul, também sofre as consequências do desrespeito aos recursos naturais, como o desmatamento para a pecuária extensiva e produção de carvão vegetal. Em junho, o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) lançou um abaixo assinado cujo objetivo é transformar os dois biomas em Patrimônios Nacionais. Caatinga Levantamentos feitos por 100 autores de 40 instituições de pesquisa do país, que resultaram no livro “Flora das Caatingas do Rio São Francisco”, do professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), José Alves de Siqueira Filho (Editora Andrea Jakobsson/2012), identificaram 1.031 espécies de plantas na Caatinga ao longo e no entorno do Velho Chico. O trabalho é resultado de 212 expedições, entre julho de 2008 e abril de 2012. A Caatinga pode ser encontrada na região do semiárido nordestino, no extremo Norte de Minas Gerais e nos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Maranhão e Piauí. É uma vegetação aberta, também conhecida como savana estépica. Predomina em regiões de baixo índice de chuva e de solo muito seco, de pouca fertilidade e pedregoso. A vegetação é composta basicamente por arbustos, com galhos retorcidos e raízes profundas. Em período de seca intensa, os arbustos perdem suas folhas estrategicamente, para evitar a perda de água por evaporação. 16

Miguel Aun


A Caatinga e o Cerrado 17


Miguel Aun

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Cerrado O Cerrado, também denominado “Savana Brasileira”, pelas semelhanças ao clima, relevo e vegetação, é o segundo maior bioma da América do Sul e ocupa aproximadamente 22% do território nacional. Essa vegetação predomina em regiões que abrigam nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazonas/Tocantins, São Francisco e Prata. Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo. Abriga 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. São mais de 220 espécies que têm uso medicinal. Outras 416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados, como barreiras contra o vento, proteção contra erosão ou para criar habitat de predadores naturais de pragas. O Cerrado também é um verdadeiro pomar natural, fonte de alimentação para humanos e animais. Fornece mais de 10 tipos de frutos comestíveis, como pequi, buriti, mangaba, cagaita, bacupari, cajuzinho do Cerrado e araticum. A estimativa é que cerca de 20% das espécies nativas e endêmicas do Cerrado já não ocorram mais em áreas protegidas, e que pelo menos 137 espécies de animais que vivem nessas áreas também estão ameaçados pela devastação provocada principalmente pela ocupação humana, expansão da fronteira agrícola e exploração predatória da madeira para produção de carvão. “Precisa ser urgente, ou se perde tudo” Para o professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Ecologia Evolutiva & Biodiversidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há várias formas de diminuir a devastação do Cerrado e da Caatinga. Ele aponta a necessidade de políticas públicas sólidas para frear a devastação, restaurar as riquezas naturais e mostrar ao público a beleza desses biomas. Uma das primeiras providências a serem tomadas, de acordo com o professor, é parar de plantar espécies exóticas como pinus e eucalipto na área do Cerrado, como também educar quem toma as decisões. “Precisa ser urgente, ou se perde tudo”, alertou. “O Cerrado é visto como um verdadeiro lixo se pensarmos que ele não tem prestígio algum para o nosso governo, muito embora seja o berço das águas do país, o local onde mais se produz riquezas na agropecuária, de onde saiu muito ouro, pedras e minerais preciosos”, lembrou Wilson Fernandes. “Do Cerrado foram afugentados vários dos nossos povos indígenas. É o bioma que mais perdeu área, se comparado a todos os outros do país”, disse. Segundo Geraldo Fernandes, nossos governantes ignoram a luta pela conservação e preservação do Cerrado para gerações futuras. Ele considera “burrice” deixar toda essa biodiversidade e serviços ambientais serem convertidos em plantios monótonos de florestas de eucalipto, soja, algodão e pastagens com gramíneas exóticas, que, embora de grande relevância, ressalta, beneficiam um público menor do que deveriam. “Uma pena essas políticas terem como alvo apenas parte da população e não a população brasileira como um todo. Mas hoje, com os meios de comunicação mais rápidos e eficientes, terão, mais cedo ou mais tarde, que se curvarem diante do conhecimento científico e das necessidades das populações já massacradas das terras gerais”, reforçou.

Segundo José Pires, a Caatinga e o Cerrado estão muito pressionados. “A população cresceu muito e a expansão do agronegócio foi brutal e continua sendo, com desmatamento, substituição do Cerrado por vastas áreas que se plantam eucalipto, pecuária, agricultura”, ressaltou o professor, lembrando que algumas regiões de Minas, como Paracatu e Unaí, onde os rios fazem parte da bacia do São Francisco, estão todas tomadas pela expansão agrícola. “A transformação do Cerrado em área de agricultura é muito grande”, lamentou. Segundo José Pires, quando você substitui a vegetação natural por atividade agrícola, além de ameaçar a biodiversidade, essa prática é acompanhada de outro tipo de pressão, que é a utilização de agrotóxico. “E tem a história da água. Muita agricultura dessa região é feita debaixo do pivô central, que é a irrigação, que utiliza água da bacia”, disse. Para o botânico, a ocupação antiga do Cerrado, como também da Caatinga, tem como base o “casco do boi”, com pecuária tradicional e exploração extensiva, conforme relata Guimarães Rosa em seu livro Grande Sertão Veredas. “Mas, você tinha poucas cabeças de gado por hectare. Tinha uma pressão muito pequena na vegetação natural. Era um sistema que promovia um dano ambiental muito pequeno”, comparou. Porém, acrescenta, a população foi aumentando e mudando as atividades. “Na Caatinga, no Cerrado nem tanto, a presença do sertanejo tradicional era adaptada ao ambiente. Vivia naquilo. Agora, não”, completou. Depois de tantas modificações políticas, segundo o professor, a população rural foi atraída pela melhor qualidade de vida das cidades. As atividades tradicionais do campo foram substituídas por outras de “grande produtividade” e o ambiente natural foi degradado cada vez mais. Em muitas regiões, reforça, a madeira do Cerrado vem sendo usada ilegalmente para produção de carvão. E não é de hoje que as matas ao longo da calha do Rio São Francisco vêm sofrendo o processo de degradação, segundo José Pires. “Você tem que considerar que não existe somente a mata no rio. Você tem que pensar nos tributários, nos riachos, nascentes e afluentes. Tem que considerar toda a bacia, todos os tributários e pequenos cursos d’água que vão manter o aporte de recurso hídrico do São Francisco”, disse. O professor também recomenda políticas públicas e aplicação de leis como formas de salvar a Caatinga e o Cerrado. Ele cita exemplos como o de Extrema, no Sul de Minas, onde pequenos produtores recebem pagamento pela proteção ambiental e recuperação de nascentes. “É uma política que deveria ser utilizada em toda bacia do São Francisco para preservar veredas e nascentes, proteger matas ciliares e pequenos cursos d’água que vão ser tributários de outros rios maiores, afluentes do São Francisco. Educação ambiental, política pública e aplicação da lei para conter o desmatamento”, recomendou o professor.

Crescimento populacional Professor do departamento de botânica da UFMG, José Pires de Lemos Filho lembra que o Rio São Francisco atravessa o Cerrado e a Caatinga e é responsável por drenar os dois biomas. “O Cerrado tem outras bacias importantes, assim como a Caatinga também tem, como o Rio Parnaíba e outros rios do Nordeste do país. Aqui em Minas Gerais, na Bahia e em parte do Nordeste, nós temos o São Francisco”, disse. 19


O que a Caatinga tem

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Mandacaru

Juazeiro

Mulungu

Catingueira

Aroeira-do-sertão

Favela

Umbu do sertão

Umburana

Coroa de frade

Xique-xique

(Cereus jamacaru)

(Ziziphus joazeiro Mart)

(Erythrina verna)

(Caesalpinia pyramidalis)

(Myracrodruon urundeuva)

(Cnidoscolus phyllacanthus)

(Spondias tuberosa L.)

(Amburana Cearensis)

(Melocactus Zehntneri)

(Pilosocereus polygonus)

Planta da família das Cactaceae, também conhecido como cardeiro e jamacaru. Mandacaru vem do tupi mãdaka'ru ou iamanaka'ru, que significa "espinhos em grupo que fazem mal". Nasce e cresce no campo, sem trato cultural. A semente é espalhada pelas aves e pelo vento. Pode atingir até seis metros de altura. As flores medem até 12 centímetros de comprimento, desabrocham à noite e murcham ao nascer do sol. A beleza do Mandacaru inspirou Luiz Gonzaga no “Xote das Meninas”.

A árvore, também conhecida por Joá e laranja-de-vaqueiro, está tão presente na vida do nordeste que deu nome à cidade baiana, às margens do Velho Chico, na divisa com o Pernambuco. É típica do semiárido. Os frutos, do tamanho de uma cereja, são comestíveis, utilizados para fazer geleias. A casca também é usada para fazer sabão. Há relatos de que o bando de Lampião já utilizava a raspa do juá, para limpar os dentes. Pode chegar a 15 metros de altura.

Também conhecida como amansa-senhor, capa-homem, canivete, corticeira, bico-de-papagaio, eritrina, sapatinho-de judeu, sananduva, suinã. As flores são alaranjadas e a casca possui diversas propriedades: calmante, analgésica, diurética, hipotensiva, antibacteriana e anti-inflamatória. Também é eficaz no tratamento de estresse, pois estabiliza o sistema nervoso central. Árvore espinhenta, que pode chegar a 15 metros de altura.

Também conhecida como pau-de-rato ou catinga-de-porco. É da família das leguminosas. As folhas são consumidas pelos animais no início das chuvas, mas, depois, o cheiro é tão desagradável que passam a ser rejeitadas. Durante o período seco, as folhas secas caídas no chão são um prato cheio para diversos rebanhos. Árvore atinge de quatro a oito metros de altura. Já em várzeas e matas ciliares, a árvore pode atingir até 16 metros de altura.

Famosa pela propriedade cicatrizante. Suas folhas são usadas no combate a dores de garganta, úlceras e no tratamento ginecológico. O "banho de assento" era comum entre as mulheres no pós-parto. A planta hoje ganhou amparo científico e é receitada por médicos. Habita terrenos secos e rochosos. Dominante na Caatinga, está desaparecendo. Atinge até 30 metros de altura. Sua copa é larga e o tronco chega a 80 centímetros de diâmetro.

Também conhecida como faveleira, faveleiro ou mandioca-brava. Presente nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. O arbusto deu origem ao termo "favela", na Guerra de Canudos. O fruto é uma cápsula que contém sementes oleaginosas semelhantes às sementes de fava. Possui espinhos e flores brancas. Chega a oito metros de altura.

Popularmente conhecida como umbuzeira ou jique. Árvore de pequeno porte, de até seis metros de altura. Pertence à família das anacardiáceas, de copa larga (até 15 metros de largura). É originária dos chapadões semiáridos do nordeste brasileiro. Chamada de "árvore sagrada do sertão" pelo escritor Euclides da Cunha, por conservar até mil litros de água na sua raiz. Produz uma batata que, em época de estiagem, mata a fome de muita gente. O umbuzeiro vive em média 100 anos.

Árvore nativa da Caatinga. De tão explorada, a árvore, que pode chegar a 20 metros de altura, não existe mais em grande porte. Está classificada como "em perigo" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Segundo a medidicina popular, é uma planta aromática balsâmica. A madeira é considerada nobre, usada na produção de móveis.

Cacto de forma cilíndrica, também conhecido como coroa-de-frade ou cabeça-de-frade. Apresenta costelas bem acentuadas, muitos espinhos marrons, curtos e direitos. Entre os espinhos nascem pequenas flores rosadas ou vermelhadas.

É uma cactácea, presente em grande parte do nordeste. A formação pode ser arbustiva ou arbórea, podendo chegar a quatro metros de altura. Nasce em solos rasos e pedregosos, e apresenta numerosos espinhos, fortes e pontiagudos em suas auréolas. As flores são brancas e o fruto tem coloração avermelhada quando maduro. O xique-xique é comestível, saboroso e rico em sais minerais. Fazendeiros têm utilizado o xique-xique para alimentar o gado em épocas de pouca chuva, o que coloca o bioma ainda mais em risco.


O que o Cerrado tem 4

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Ipê

Baru

Murici

Pau dóleo

Cagaita

Pequi

Mangaba

Alecrim-do-campo

Buriti

(Tabebuia impetiginosa)

(Dipteryx alata)

(Byrsonima crassifolia)

(Copaifera langsdorffli)

(Dalbergia nigra)

(Eugenia dysenterica)

(Caryocar brasiliense)

(Hancornia speciosa)

(Baccharis dracunculifolia)

(Mauritia flexuosa L.f.)

Também conhecido como pau-d'arco, peúva, ipé e ipeúna. São muitas as espécies de ipês, com diferentes flores: amarelas, brancas, roxas, rosas. Em 1978, a Lei 6.507 oficializou a flor do ipê como a flor nacional do Brasil. Quando as flores nascem, as folhas caem.

A árvore da família das leguminosas também é conhecida como Cumaru, barujo, bugueiro, cambaru, castanha-de-bugre. Pode chegar a 25 metros de altura e o tronco atinge 70 centímetros de diâmetro. Possui copa densa e arredondada, com madeira muito resistente. As flores pequenas, de coloração esverdeada, surgem de outubro a janeiro. As sementes são uma iguaria cada vez mais apreciada. A polpa aromática do fruto também é muito apreciada pelos animais silvestres e o gado.

Árvore nativa do Norte e Nordeste do Brasil. Existem variados tipos: murici-amarelo, murici-branco, murici-vermelho, entre outros. Chega a 16 metros de altura, com folhas lisas e simples. As flores são em forma de cachos e o fruto é pequeno, usado para sucos, doces, licores, geleias e sorvetes. A árvore é mais frequente em terrenos úmidos, próximo a rios e lagoas. Não é muito usada em paisagismo, apesar da sua beleza, principalmente quando está florida.

Conhecida como copaíba, planta que cura, bálsamo dos jesuítas. Tem copa encorpada, folhas pequenas e verde-brilhantes. Armazena óleo no caule. Os índios utilizavam o pau dóleo para a cura de ferimentos. Chamavam-no de “cupa-yba” (árvore com depósito, em referência ao óleo). Pode chegar a 50 metros de altura e o tronco até 2 metros de diâmetro. No uso medicinal, tem ação anti-inflamatória, antibacteriana e antifúngica. Ótimo cicatrizante, combate dermatites, eczema, psoríase e úlcera estomacal.

Adorado pelos índios, o jacarandá se popularizou no império, como madeira nobre usada no mobiliário. Além da beleza, a madeira é perfumada. Encontrado na América intertropical e subtropical. No Brasil, foi muito extraído, principalmente no extremo sul da Bahia, e vendido a exportadores. Castelos italianos foram construídos com o jacarandá brasileiro. Pode chegar a 25 metros de altura.

Popularmente conhecida como cagaiteira, tem casca grossa, típica do cerrado. A copa é frondosa e coberta de folhas verdes e brilhantes. Pode chegar a oito metros de altura. Ocupa áreas de cerrado da Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul. O fruto, com textura macia, tem sabor ácido, muito rico em vitamina C e oxidantes.

Também chamado de pequizeiro, piqui, piquiá e pequiá. O fruto é popular na culinária sertaneja. Está na lista de espécies ameaçadas. A árvore tem um tronco grosso e as flores são grandes. A cor amarelada da sua madeira se destaca. O pequi é conhecido como o “ouro” do cerrado mineiro.

Mangaba é o fruto da mangabeira. O estado de Sergipe é o maior produtor brasileiro de mangaba, vindo quase toda a sua produção da vegetação nativa. A mangabeira é uma árvore de tronco tortuoso e ramificado, que pode chegar a sete metros de altura. Seu látex é usado para fazer uma borracha de cor rosada. Sua madeira tem cor avermelhada, com folhas em formato elíptico, e flores brancas, grandes e perfumadas. É uma árvore nativa do Brasil, mas também encontrada no Paraguai e no leste do Peru.

Quem nunca ouviu a música? "Alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo, sem ser semeado (...)”. Aí está uma importante informação: a espécie restaura naturalmente áreas degradadas. É arbustiva, ramificada e perene - podendo chegar a três metros. O alecrim-do-campo chegou a ser considerado uma planta invasora e erradicada de muitas regiões.

Palmeira de caule solitário, que pode chegar a 30 metros de altura. O tronco atinge 50 centímetros de diâmetro. A espécie habita terrenos alagáveis e brejos, muito encontrada nas veredas. Floresce quase o ano inteiro, gerando um fruto de polpa saborosa e com várias utilidades, de óleo para fritura a vinho.

Jacarandá

FONTES: UFMG/INTERNET

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Um comitê para o Parnaíba Política Ambiental

Desde o ano 2000, a comissão encarregada batalha para criar o CBH Parnaíba, que compreende a segunda mais importante bacia da região nordeste. Com o apoio da ANA e do CBHSF, o processo aproxima-se do fim Por Delane Barros 22

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omitê é o termo empregado para dar significado à comissão, à junta, à delegação, à reunião de pessoas para debate e execução de ação de interesse comum. Essa é a definição do Dicionário Houaiss, de 2001. Bacia hidrográfica é a região compreendida por um território e por diversos cursos d’água. Juntando os dois conceitos, comitê de bacia hidrográfica (CBH) significa o fórum em que um grupo de pessoas ligadas à sociedade civil, usuários de água e aos órgãos públicos se reúne para discutir sobre um interesse comum: o uso d’água. Há quase duas décadas, desde o ano 2000, a comissão encarregada de criar o Comitê do Rio Parnaíba peregrina pelos corredores da burocracia. Aguardando a finalização do processo, o CBH Parnaíba vem para ocupar um importante lugar: a sua bacia compreende 280 municípios, divididos entre os estados do Ceará, Maranhão e Piauí, numa área de 331.441 quilômetros quadrados. Equivale a 3,9% do território nacional, e é considerada a segunda mais importante da região nordeste. O rio principal percorre uma extensão de 1,4 mil quilômetros. Sofrendo um processo acelerado de desmatamento, assoreamento e falta de saneamento básico, o Parnaíba aguarda, assim, a chegada do seu CBH. O nascimento de um comitê de bacias é um rosário a desfiar. De acordo com informações do governo federal, para a instituição de um CBH, cujo rio principal é de domínio da União, o primeiro passo é uma proposta subscrita por pelo menos três das seguintes


categorias: secretários de Estado responsáveis pelo gerenciamento de recursos hídricos, de, pelo menos, dois terços dos estados contidos na respectiva bacia. Prefeitos, cujos municípios tenham território na bacia hidrográfica no percentual acima de quarenta por cento. No mínimo cinco entidades representativas de usuários, legalmente constituídas, de pelo menos três dos seguintes setores usuários: agropecuário, hidroelétrico, hidroviário, pesca, turismo, lazer e outros usos não consuntivos. E, no mínimo, 10 entidades civis de recursos hídricos, que poderão ser reduzidas a três, a critério de regras do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Cumpridas essas etapas, o próximo passo é encaminhar uma justificativa sobre a necessidade e oportunidade de criação do colegiado; caracterização da bacia hidrográfica; e a indicação da diretoria provisória. Encerrado este passo, cabe ao CNRH analisar a documentação e decidir se aceita ou não a proposta de criação do comitê. Benvindos A Agência Nacional de Águas (ANA) entrou no páreo para acelerar a criação do CBH Parnaíba, assumindo a coordenação dos trabalhos na alçada burocrática. “Inclusive, enviamos representantes para participar de audiências públicas, sendo uma delas realizada na Câmara

Federal, além de seminários”, afirmou o superintendente de Apoio ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos da ANA, Humberto Gonçalves. “Somente depois do Pacto de Gestão, a ser assinado pelos estados, é que será possível estabelecer um prazo para a existência do colegiado”. Humberto Gonçalves destacou que até mesmo a Codevasf participa da organização do CBH Parnaíba. “O que cabe à ANA, a partir do aporte do governo cearense, é o encaminhamento do Pacto de Gestão para análise do CNRH”, ressaltou. O coordenador da Comissão Interestadual pró CBH Parnaíba, Avelar Damasceno Amorim, participa do processo desde o início. Segundo ele, de 2000 a 2005, foram realizados diversos encontros e reuniões em vários municípios da Bacia Hidrográfica do rio Parnaíba para discutir a Política Nacional e a Política Estadual de Recursos Hídricos. Neles, estavam representantes da sociedade civil, usuários e órgãos públicos, mas sem nada de concreto formalizado. Ainda conforme Damasceno, em 2012, foram criadas três subcomissões estaduais do Piauí, Ceará e Maranhão, onde foram eleitos 30 representantes institucionais, sendo cinco titulares e outros cinco suplentes de cada setor representado no Comitê, sociedade civil, usuários de água e órgãos públicos. Essas comissões estaduais vêm se reunindo constantemente com vistas a garantir a aprovação de um programa de mobilização social. 23


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O Parnaíba e o São Francisco

Morro da Arara Samuel Brandão

O vice-presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, contou que, em 2012, participou de um evento promovido pela representação estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Piauí. Na época, no cargo de secretário do Comitê, iniciou a articulação institucional para cobrar a implementação do CBH Parnaíba. “Começamos, então, os contatos com os estados que são banhados pelo Parnaíba e também levamos o pleito para conhecimento da Agência Nacional de Águas”, relatou Oliveira. Mais recentemente, Damasceno Amorim voltou a procurar o CBHSF com a mesma pauta exposta anteriormente. “Nós, do Comitê do São Francisco, buscamos sempre fortalecer a atuação dos comitês, porque reconhecemos a importância desses colegiados em defesa de suas bacias hidrográficas e, principalmente, da população inserida na bacia, então convidamos o Avelar para participar da mais recente plenária do Comitê do São Francisco”, explicou Maciel Oliveira. Na plenária do CBHSF, realizada em maio em Recife (PE), foi aprovada por unanimidade uma Moção de Apoio para ser encaminhada tanto à ANA quanto aos estados que compreendem a bacia do Parnaíba.

Entrave Apesar do desejo dos diversos segmentos inseridos na bacia, Damasceno aponta a principal causa do entrave para o desenvolvimento das atividades integradas e para a construção dos documentos exigidos pelo CNRH: o desconhecimento pelas entidades ligadas a sociedade civil, os usuários e os órgãos públicos quanto ao modelo de gestão preconizado pela Política Nacional de Recursos Hídricos. “A cultura do centralismo administrativo, a falta de conhecimento sobre os princípios, instrumentos de gestão e o sistema de gerenciamento integrado, participativo e descentralizado representam grandes dificuldades para a efetivação do Comitê”, avaliou Damasceno. O coordenador está otimista com a contribuição da ANA: “É aguardar a análise dos documentos, com a devida conferência pela assessoria jurídica da agência para que se encaminhe para apreciação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos”. O rio não pode esperar Enquanto o comitê não é criado, a bacia do Parnaíba sofre. O bioma enfrenta a ação humana sem que haja um organismo para desenvolver ações de preservação. Entre os principais problemas: desmatamento de sua bacia hidrográfica devido à venda de madeira para fins comerciais; instalação de projetos agropecuários; exploração de minério de ferro magnetítico e pedras preciosas; queimadas; e produção de carvão. Apesar das dificuldades, o trabalho começou a avançar desde o início do ano. A área jurídica da Agência Nacional de Águas enviou, para os estados do Piauí, Ceará e Maranhão, o convênio padrão de cooperação técnica para análise da procuradoria de cada um. Depois disso e com o aval dos governos, é hora de providenciar a assinatura dos governadores, secretários estaduais de Meio Ambiente e dos presidentes dos comitês afluentes. Enquanto os governos piauiense e maranhense já emitiram pareceres favoráveis para a criação do colegiado, apenas o governo do Ceará não se posicionou. De acordo com o secretário-adjunto de Meio Ambiente do Maranhão, Diego Matos, seu estado já contribuiu com o processo. “A nossa gestão reconhece o papel dos comitês e temos trabalhado para até o próximo ano criar cinco comitês estaduais de afluentes, sendo dois deles até o final de 2017”, contou Matos

Cânion do Rio Poti

Samuel Brandão

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Comunidade

Morando a sete quilômetros das margens do São Francisco e abastecidos por caminhões pipa, os índios da etnia Pankará acabam de assinar um termo de cooperação técnica com o CBHSF para a construção de uma adutora, que vai levar água potável para a aldeia Serrote dos Campos, no interior de Pernambuco Por Vitor Luz

A

pós décadas de batalhas ganhas e perdidas, o povo Pankará reconquistou o seu território, no município de Itacuruba, em Pernambuco. A Aldeia Serrote dos Campos assenta-se hoje sobre o solo sagrado dos antepassados, povoado de encantos, histórias, tradições, memórias e solidariedade. Composta por 480 índios, a comunidade tradicional passa os ensinamentos e crenças de geração em geração, permitindo que os preceitos indígenas não se percam como as águas do Rio São Francisco. Há cinco anos os Pankarás lutam pela construção de uma adutora. Mesmo morando a 7,5 quilômetros das margens do rio, não têm água potável em casa. O caminho para chegar à Aldeia Serrote dos Campos é ladeado por paisagens que mudam de acordo com o passar das horas e a velocidade do carro. O inverno traz consigo as chuvas e o brilho intenso e vivo da Caatinga, que no verão foi colorida em tons de cinza. Nesta mesma estrada passamos pelo Rio Pajeú e somos embalados pela música Riacho do Navio, de Luiz Gonzaga, que em seus versos falam: “Riacho do Navio corre pro Pajeú. O rio Pajeú vai despejar no São Francisco. O rio São Francisco vai bater no “mei” do mar”. Ao chegar à Aldeia, o visitante se depara com o chão de terra batida, casas de taipa, pequenas estações de roça, crianças correndo de um lado para o outro, bodes com chocalhos no pescoço andando soltos pela Caatinga, sorrisos largos e olhares repletos de expectativa de um povo acolhedor. A recepção é alegre. As cerimônias de boas vindas são iniciadas com orações, invocando os “Encantados de luz” e a “Mãe Natureza”. Com os pés bem plantados no chão, os Pankarás dançam, fortificando a tradição. 26

Edson Oliveira


Todo dia é dia de Índio 27


O Velho Chico é o sustento desse povo, que o tem como um guardião da sabedoria ancestral. Da aldeia à margem, os Pankará percorrem mais de sete quilômetros. A paisagem encanta. E o cenário é marcado por árvores secas, solo pisoteado por animais em busca de água – e também por resquícios do tempo de fartura. Há seis anos a região não vê fortes chuvas, o que afetou a lavoura e a pesca. A luta do povo Pankará agora é pela construção de uma adutora, que vai levar água potável à aldeia. Atualmente o abastecimento hídrico é feito por meio de carro pipa. Na XXXII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que aconteceu no hotel Golden Tulip, em maio de 2017, em Recife (PE), Cícera Cabral, representante dos Pankará, assinou um termo de cooperação técnica que autoriza a construção de uma adutora para o povo Pankará. “Estamos sonhando que vamos ter água descendo por nossas torneiras. A adutora vai possibilitar uma melhor qualidade de vida para nossa comunidade, pois não é fácil ver sua filha acordar à noite com fome e você não ter água em casa para preparar uma mamadeira. Estamos muito esperançosos e acreditamos que logo chegará”, disse Cícera. Serrote dos Campos Nos idos do século 17, o povo Pankará iniciou sua saga pela sobrevivência, na fuga eterna para escapar da colonização. Na incessante busca por lugares de difícil acesso aos portugueses, encontrou a Serra do Arapuá. Para sobreviver nos períodos de seca, desciam a serra para dar nas centenas de ilhas de Itacuruba, enfeitadas por árvores frutíferas que, anos depois, seriam alagadas pelas águas da barragem de Itaparica, em 1988. Todos os esforços não foram suficientes e os Capuchinhos vindos da Itália, juntamente com o Governo de Pernambuco, conseguiram catequisar os indígenas. Nos séculos seguintes, Serrote dos Campos funcionou como um ponto de encontro entre o povo Pankará e os Tuxas, que seguiam para lá para os rituais sagrados, para descansar e cultuar os Encantados, longe dos olhos cristãos e às margens do São Francisco. Com o passar dos anos os Pankará foram ficando pela região, plantando, pescando e estabelecendo residência. “Durante nossa busca incessante por território chegamos aqui. Foi como se os Encantados de Luz e a Mãe Natureza estivessem nos recepcionando e abraçando. Todos ficamos arrepiados, inclusive os cabelos da cabeça, e, naquele momento, nós tivemos certeza de que era nosso lugar: nos sentimos acolhidos”, disse a cacique Lucélia Cabral. Cultura & Costumes Em Serrote dos Campos, a atual geração do povo Pankará construiu uma Oca que, logo no começo, ainda sem energia, abrigou mais de 15 famílias. As redes ficavam penduradas sobre colchões no chão. Conhecida também como “Mãe Oca”, o lugar é agora a casa das tradições, onde os índios realizam os “Torés”. A construção foi, segundo a crença indígena, guiada pelos “Encantados de Luz”, que deram sabedoria aos mais velhos. As mulheres cuidaram das palhas que compõem o telhado e os homens ficaram com o restante da edificação. Há 12 anos a Oca está de pé. Sempre que um índio adentra a Oca, diz, revelando o sincretismo religioso: “Louvado seja o Senhor Jesus Cristo” e todos os que já estão no recinto respondem “para sempre seja louvado”. As cerimônias iniciam com orações. As lideranças indígenas acendem seus Caquis e o ritual de purificação é iniciado. Os homens devem ficar juntos, assim como as mulheres. Os cânticos são entoados em uníssono. Após as orações, começa a dança. 28

Educação A Aldeia possui um centro de educação. A Escola Estadual Indígena Josefa Alice da Conceição conta com 12 professores e atende 99 alunos. As aulas são compostas por ensinamento “dos brancos” e por conhecimentos indígenas, para que as crianças possam crescer conhecendo a história de seu povo. As crianças chegam animadas para as aulas, com livros, cadernos e bolsas de Caroá. Antes do início da programação letiva os alunos rezam o Pai Nosso, uma Ave Maria e agradecem aos Encantados de Luz, a Mãe Natureza e todos os seres viventes por estarem ali. De pés descalços cantam e dançam. “Sempre começamos o dia assim, nossas crianças precisam ser ensinadas desde muito pequenas, para que nossa cultura possa ser fortalecida em seus corações e para que eles nunca venham a se esquecer de suas raízes”, afirma o contra-mestre, Geraldo Leal. Com o cair da noite as crianças vão para casa e novos alunos chegam à escola: é a hora do projeto de Educação de Jovens e Adultos - EJA. Aproximadamente 25 alunos estão buscando terminar os estudos e uma delas é a índia Odete Margarida de Santos, 58: “Não tive oportunidade de estudar quando criança, meus pais eram muito rígidos e não me permitiam ir a escola. Comecei a escola com 58 anos. Hoje consigo ler e estou achando ótimo”.

“Conheço

o São Francisco há mais de 50 anos. Até a década de 70 vivíamos de vazante, tínhamos época de plantar, época de colher e época de não fazermos nada, pois era o tempo dele se recuperar. Quem morava na beira do rio não conhecia a seca, pois a gente tinha tudo, éramos ricos e não sabíamos”. (Juremeira Fernando, ex-pescador)

“No passado, quando não tínhamos barragens, a gente ia

pescar e o peixe não vinha, então jogávamos um pedaço de fumo para o Nego D’agua, aí os peixes apareciam. Acreditávamos que isso era verdade, os mais velhos faziam e a gente procurava fazer”. (Jorge Leal, liderança indígena)

“Conheci

esse rio mais cheio, os peixes existiam em fartura, mas hoje não consigo pescar o suficiente. Os peixes nativos não existem mais e só encontro peixes que são criados em cativeiro e soltos aqui. Essa realidade me deixa triste”. (Claudiano Carvalho, pescador)

“Sempre

escuto meu pai falar dos tempos do São Francisco e fico triste. O rio era farto, água abundante. Moramos na beira do rio e não temos acesso a água. Se não fizermos nada hoje, não teremos um amanhã”. (Edson Leal, professor)


“O

rio guarda a memória dos antigos, tem encantados que moram no fundo dele, que cuidam da água e da mata. O rio é povo, ele é ar, ele é terra, ele é um ecossistema em que prevalece a vida”.

A cacique Lucélia Cabral, liderança e luta

Edson Oliveira

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“Francisco, Francisco” 30


Cultura

Na literatura e na música, no cinema e nas artes plásticas, o Velho Chico percorre importantes obras de um célebre rol de artistas brasileiros Por Christiane Tassis

“Q

uando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no Rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem”, disse certa feita o escritor mineiro João Guimarães Rosa. Não é exagero afirmar: o Velho Chico é o rio que mais inspira os artistas brasileiros. Da nascente à foz, protagoniza histórias, lendas, músicas, poemas, em uma diversidade de manifestações artísticas, da cultura popular à erudita. Na literatura Uma das maiores obras da literatura brasileira, “Grande Sertão Veredas” (1953), de Guimarães Rosa, tem o São Francisco e o sertão como metáforas: “Agora, por aqui, o senhor já viu: rio é só o São Francisco, o rio do Chico. O resto pequeno é vereda. E algum ribeirão”, escreveu ele. O rio atravessa o romance de diversas formas: é um elemento geográfico e também simbólico. O narrador, Riobaldo, tem o rio no nome. Como um rio, Riobaldo traça o próprio rumo, sua travessia, mergulhando nas correntezas da alma. E é no São Francisco que ele e Diadorim se banham, adolescentes, numa passagem emblemática da história: a partir daquele dia tudo muda na vida de Riobaldo, que dirá: “O São Francisco partiu minha vida em duas partes”. O Velho Chico acompanha o personagem até o final do romance: nas últimas linhas, Riobaldo, “quase barranqueiro”, volta a mencioná-lo: “O rio de São Francisco – que de tão grande se comparece – parece é um pau grosso, em pé, enorme...”. Outro gigante da nossa literatura que homenageou o Velho Chico foi Graciliano Ramos. No conto “Canoa Furada”, presente na obra “Alexandre e outros heróis”, escrito nos anos 40, o autor alagoano narra a história do vaqueiro Alexandre, que faz a travessia do rio em uma canoa, literalmente, furada. “É o maior rio do mundo. Não se sabe onde começa, nem onde acaba, mas, na opinião dos entendidos, tem umas cem léguas de comprimento”, conta o personagem aos amigos. 31


Jorge Amado também se inspirou no São Francisco como cenário em “Seara Vermelha” (1946): castigados pelo sol do sertão, os personagens retirantes partem para Juazeiro, onde pegam um barco para São Paulo. O romance de estreia do escritor mineiro Lúcio Cardoso, “Maleita” (1934), passa-se na Pirapora do final do século XIX, narrando as viagens dos tropeiros às margens do São Francisco e a fundação da cidade.

inundadas e a população expulsa pela construção das usinas hidrelétricas de Sobradinho, na década de 1970. A letra fala também da profecia de Antônio Conselheiro, de que “o sertão vai virar mar e o mar irá virar sertão”. Em 1984, Caetano Veloso tratou simbolicamente da rivalidade entre Juazeiro e Petrolina em “O ciúme”: “Velho Chico vens de Minas / De onde o oculto do mistério se escondeu / Sei que o levas todo em ti, não me ensinas / E eu sou só, eu só, eu só, eu”. Mais recentemente, em 2011, Geraldo Azevedo, nascido nas margens pernambucanas do rio, fez o álbum temático “Salve o São Francisco”, com a participação de Djavan, Maria Bethânia, Dominguinhos, Geraldo Amaral, Alceu Valença, Ivete Sangalo, Moraes Moreira, também nascidos em estados banhados pelo Velho Chico, e Fernanda Takai, que nasceu no Amapá. Maria Bethânia viajou pelo universo folclórico e afetivo das águas dos rios do interior do Brasil em seu CD “Pirata”, sem se esquecer, é claro, do Velho Chico. Na bela “Francisco, Francisco”, canta “barrancos, carrancas, paisagens, tantas águas corridas, lágrimas escorridas, despedidas, saudades”. A canção encerrou a novela global “Velho Chico”, de Luiz Fernando Carvalho, num adeus emocionado ao ator Domingos Montagner, que interpretou o personagem “Santo”, levado pela correnteza do rio num trágico acidente que lhe custou a vida, na região de Piranhas (AL). No cinema

Na primeira parte do clássico “Os sertões” (1902), “Terra”, Euclides da Cunha estuda o povoamento das regiões banhadas pelo rio e a sua influência na formação étnica do sertanejo. Fala também sobre o papel do homem como agente da destruição, com as queimadas que arrasaram as florestas. O poeta Carlos Drummond de Andrade não demonstrou muito otimismo sobre o futuro do Velho Chico: no poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco”, ele fala dos “desencantos, males, ofensas e rapinas que no giro de três séculos fazem secar e morrer a flor de água de um rio”. Na música O São Francisco também é cantado por grandes nomes da Música Popular Brasileira. Luiz Gonzaga fez o “Pajeú”, aquele que “vai despejar no São Francisco”, ficar famoso no Brasil inteiro, através da canção “Riacho do Navio”, que compôs com Zé Dantas, em 1955. É da dupla Sá & Guarabira uma das mais conhecidas canções sobre o rio, “Sobradinho”, que cita as cidades 32

A região de Piranhas também serviu de cenário para filmes emblemáticos do cinema brasileiro. Em 1979, a “Caravana Holidei”, do filme “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues, teve a sua primeira parada por ali. “O baile perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas (1997), um dos marcos da chamada retomada do cinema nacional, aborda o cangaço e mostra um sertão verde, à beira do Rio São Francisco. Uma das cenas mais marcantes do filme é uma tomada aérea sobre o cânion do rio São Francisco, ritmada pela trilha de Nação Zumbi. Em Piranhas também foram rodadas cenas das novelas “Cordel Encantado” e “Velho Chico”, e a minissérie “As Brasileiras – o Anjo de Alagoas”, da TV Globo. Já a minissérie global “Amores Roubados” aproveitou a exuberância das parreiras, adegas e vinhos do Vale do São Francisco em seu cenário. No filme “O espelho d’água”, dirigido por Marcus Vinícius César (2004), Fábio Assunção é um fotógrafo em crise que decide viajar pelo Rio São Francisco, quando conhece as lendas do rio e as pessoas que dependem dele para sobreviver.


Já “Girimunho (2011)”, de Clarissa Alvarenga e Helvécio Martins, tem uma abordagem mais intimista. Passado em Minas, na região de São Romão, o filme conta a história de duas mulheres que acompanham os redemoinhos do São Francisco, onde o tempo parece andar ao ritmo do rio. Muitos documentários foram feitos ao redor da bacia - o São Francisco é um manancial de histórias e pessoas cujas vidas “dão um filme”. No documentário “Cinco vezes Chico - o velho e sua gente” (2015), cinco diretores - Gustavo Spolidoro, Ana Rieper, Camilo Cavalcante, Eduardo Goldestein e Eduardo Nunes - fazem uma jornada afetiva pelas águas e histórias das comunidades ribeirinhas, em cada um dos cinco estados banhados pelo rio. Na fotografia As paisagens do São Francisco inspiraram importantes fotógrafos, como João Zinclair, Cláudio Edinger, José Caldas, Cafi, Adriano Gambarini, Miguel Aun, entre outros. Os belorizontinos Leo Drumond e Gustavo Nolasco viajaram por toda bacia, fotografando e colhendo relatos para o livro “Os Chicos - Prosa e Fotografia”. O trabalho foi vencedor do prêmio Jabuti, em 2012. Nas artes plásticas e no design As carrancas, expressão única do Velho Chico, surgiram no Médio São Francisco por volta de 1880 e tornaramse verdadeiras obras de arte nas mãos de escultores como Mestre Afrânio (final do século XIX, Barreiras, BA) e Mestre Guarany (1882-1985, Santa Maria da Vitória, BA). A ceramista popular pernambucana Ana das Carrancas (1923-2008) criou singularíssimas carrancas de barro com olhos vazados, em homenagem ao seu

marido, que era deficiente visual. De origem humilde, suas obras ganharam reconhecimento nacional e internacional. Em Petrolina há hoje um museu com o seu nome, o “Centro de Arte e Cultura Ana das Carrancas”. Ao longo de toda a bacia, são encontradas esculturas em madeira, assim como o bordado, com a diversidade e a riqueza de técnicas como rendendê, ponto-cruz e “boa noite”, exclusivo da Ilha do Ferro (AL). Em Pirapora, a família do “Matizes Dumont” borda o rio, as águas, o curupira, o barco, as carrancas e os peixes do São Francisco, que encantam pela singularidade e riqueza de detalhes. Maria Bethânia, Portinari, Rubem Alves, Jorge Amado e Marina Colasanti foram alguns dos artistas que os escolheram para ilustrar suas capas de livros e discos. As bordadeiras do São Francisco também inspiraram os “Irmãos Campana”, um dos designers brasileiros de maior projeção global. Eles as convidaram para serem protagonistas da coleção “Retratos Iluminados”, cujas belas luminárias exibem os rostos bordados e iluminados das artesãs. Mesmo com a diversidade de autores e propostas, há um denominador comum nas obras que tem o Rio São Francisco como fonte de inspiração: elas falam e mostram um Brasil real, profundo, verdadeiro. São obras que nascem de sentimentos que só os brasileiros conhecem, como um espelho que reflete nossa identidade e cultura mais genuína. Ariano Suassuna, um dos defensores da cultura brasileira autêntica, costumava citar o crítico Alceu Amoroso Lima em seus discursos: “Do Nordeste para Minas corre um eixo que, não por acaso, segue o curso do São Francisco, o rio da unidade nacional. A esse eixo o Brasil tem que voltar de vez em quando, se não quiser se esquecer de que é Brasil”. 33


O menino e o rio

Moda

O mineiro Ronaldo Fraga herdou do pai histórias do Velho Chico. Ao se tornar um dos estilistas mais conhecidos do país, foi lá ver de perto o que ainda existia daquele mundo fantástico. Da jornada, nasceu arte Por Christiane Tassis Fotos: Acervo Ronaldo Fraga

O

pai dizia: “Não conheço o mar, mas não me faz falta porque eu tenho o Rio São Francisco”. E o menino imaginava o rio, não apenas um rio, mas um mundo encantado, misterioso, povoado por criaturas doutro mundo. O pai voltava das pescarias trazendo histórias de realismo fantástico misturadas aos peixes grandes, presentes e brinquedos. Até o nome das coisas alimentavam sua imaginação: Pirapora, boitatá, tutu marambá, ex-votos, uiara, maritaca, caboclo d’água, caixeiros viajantes, rendendê, carrancas, casca d’anta. Palavras mágicas, parte dos seres mitológicos. Como a cobra que ria. O tamanduá que abraçava, o rio que dormia. O Velho Chico se fazia bordado de palavras, tecia tramas na imaginação do menino que se tornaria um dos estilistas mais inovadores do mundo, não por acaso se inspirando na cultura popular brasileira para criar suas coleções: Ronaldo Fraga. 34


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Mais um detalhe da exposição, representando a agricultura ribeirinha

Seu pai, José Rodrigo Fraga, faleceu quando ele tinha 11 anos, deixando-lhe de herança todas estas histórias. Ele as manteve guardadas no baú de memórias, que por muito tempo receou abrir. E se abrisse e uma cobra pulasse lá de dentro, como na caixa de madeira que o pai um dia trouxe de presente? E se fosse tudo “história de pescador?” E se tivessem destruído aquele trecho da memória do seu pai e da sua? Como lidar com a inexorável destruição do meio ambiente, quando essa atravessa também os nossos afetos? Durante muitos e muitos anos, Ronaldo teve medo de conhecer o São Francisco. Ouvia tantas histórias de seca, de maus tratos, que não se arriscava a encarar a possível decepção. O tempo foi passando, a vontade guardada, até que ouviu falar da transposição. Chegara a hora de ver de perto a paisagem imaginária da infância, reviver o espírito do pai. Recordar: trazer de volta ao coração Foram dois anos viajando pelo São Francisco, entre 2007 e 2008. Começando pela nascente, em Casca D’anta. De lá, Pirapora. Navegou no vapor Benjamin. E, fascinado, viu que a mágica ainda estava ali. Seguindo, encantando-se, atingiu a foz. Terminada a viagem, decidiu espalhar a magia do rio. Da jornada, nasceu arte. Em 2009, lançou a coleção de verão inteira inspirada no rio. Deu forma às cores das águas e dos barcos; recriou os olhos, escamas e espinhas dos peixes; a aurora e o pôr-do-sol, contou lendas, absorveu as cores do pequi, da rapadura, as texturas das embalagens de juta e das sacas de café, a delicadeza dos bordados, a estranheza das carrancas. A coleção de afetos pelo Velho Chico se transformou na coleção do verão daquele ano. Seu rio imaginário se tornou real em corpos, corações e mentes de milhares de pessoas. Mas, como dizem os ribeirinhos, quando se bebe do São Francisco, este nunca mais sai da gente. Ronaldo sentiu que tinha muito mais o que dizer. Nem tudo cabia numa coleção, nem tudo era de se vestir. Anos depois, realizou outro sonho: a exposição “O Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga - Cultura Popular, Moda e História”. Em dez ambientes, simulou um percurso pelo rio a bordo do imaginário Benjamim Guimarães. Recriou a paisagem da sua infância, misturada com a paisagem que vira, adulto: o cheiro 36

e os sabores do mercado, as histórias de amor, as carrancas, a devoção das salas de ex-votos, as cidades submersas, os bordados, os mercados, as malas dos caixeiros viajantes, as redes, os barcos, as tramas dos tecidos. O mundo encantado também ganhou vida em vestidos que cantavam, na voz de Maria Bethânia recitando “Águas e mágoas do São Francisco”, de Carlos Drummond de Andrade. Vestidos não para vestir, mas para ouvir. Um documentário do ator Wagner Moura relatou a história de Rodelas (Bahia), sua colonial cidade natal, inundada para a construção da hidrelétrica de Itaparica, nos anos 1970. O sal grosso espalhado pelo chão pedia proteção para o Velho Chico, e o cardume de peixes de garrafas PET e a sala de pescaria de espécies em extinção alertava sobre a importância da preservação do rio. O cheiro de pequi, coquinho azedo, farinha, tapioca, acarajé e cajá lembraram os


mercados e sabores do Velho Chico, assim como uma sala cheia de malas antigas homenageava os caixeiros viajantes. A exposição bateu recorde de público no Palácio das Artes, principal casa de espetáculos de Belo Horizonte, e fez sucesso em diversas cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Pirapora, Juazeiro, Montes Claros e Ipatinga. Ronaldo Fraga é hoje citado como um dos mais criativos designers brasileiros, cujo trabalho reduz a distância entre o “Brasil feito à mão” do Brasil industrial. Se somos um combinado de aprendizados e afetos, a magia do Velho Chico, trazida pelos casos do pai, certamente teve influência nisso. Pois, mais que um estilista, ele é um contador de histórias. Histórias brasileiras, que só um artista apaixonado pelo Brasil seria capaz de contar, criar e recriar.

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Turismo

No norte de Minas, escondem-se as cavernas do Peruaçu, ainda desconhecidas do grande público e uma das mais intrigantes paisagens da bacia do São Francisco Por Karla Monteiro 38

Beleza Belez


a Pura za

Marcelo AndrĂŞ

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Fernando Piancastelli

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A nossa guia nos conduz por uma trilha bem sinalizada, segura, cuidada. A primeira impressão é de que se chegou ao

começo do mundo. Cavernas gigantes, de proporções que nem mesmo o catalão Antoni Gaudí imaginou ao compor a Sagrada Família, vão se abrindo, iluminadas por fendas esteticamente recortadas. A formação rochosa parece obra de escultores caprichosos. Ora se vê uma pedra desenhando um cacho de cogumelos monstros, ora uma estalactite de quase 30 metros de comprimento, em forma de uma perna de bailarina. Correndo entre as rochas, riachos azuis. Se não bastasse, os homens destas cavernas deixaram paredões de grafites pré-históricos. Estamos no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, unidade de conservação criada em 1999, que agora luta pelo reconhecimento da UNESCO como patrimônio mundial. Localizado na bacia do São Francisco, o parque é superlativo: 56.500 hectares, compreendidos entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, no Norte de Minas. São mais de 140 cavernas, 80 sítios arqueológicos e paredes de pinturas rupestres, que datam de 11 mil anos atrás. A jornada é longa – e o calor castiga. Aberto a visitações há pouco mais de três anos, a estrutura do parque oferecida aos caminhantes ainda é precária. Na partida, uma sede em construção, com bons banheiros – e só. Dali em diante, a grandiosidade da natureza o espera. Nosso primeiro destino foi a Gruta do Janelão, o principal atrativo do parque, uma sucessão de salões magníficos, precedidos por um paredão de pinturas rupestres. É possível passar horas olhando para os desenhos na pedra, tentando viajar no imaginário ancestral. A trilha da Gruta do Janelão tem 4.800 metros, ida e volta, o tempo estimado de caminhada é de 5 horas e meia. Com tempo para apreciar, claro. A próxima parada foi a Lapa dos Desenhos, uma galeria de arte a céu aberto. Os antigos habitantes usaram diferentes pigmentos, em desenhos que cobrem as alturas, como os modernos grafiteiros que se arriscam em arranha-céus. Até lá, a trilha margeia o Rio Peruaçu, um ex-rio, que hoje só corre em tempos de chuva. A Lapa dos Desenhos fica a 2.600 metros de distância da sede. O tempo estimado de caminhada é de duas horas e vinte minutos. Mas a trilha sombreada permite acelerar. No trajeto, a mata de galeria se mistura à mata seca. Ao fim do dia, a sensação é de se ter embrenhado por um mundo a parte, de silêncio, introspecção, passado. A melhor pedida depois da experiência, é comer um tambaqui na brasa à beira do Velho Chico, em Itacarambi, o pouso mais perto.

. O paredão da Lapa do Caboclo expõe uma grande concentração de pinturas do estilo Caboclo, exclusivas do Vale do Peruaçu. No Caminho da Lapa do Carlúcio, o visitante encontrará mirantes onde é possível observar as variações da mata seca em diferentes épocas do ano, os cactos e a vegetação rupestre. Distância: 2.650 metros (ida e volta). Tempo estimado: 3h50 min (ida e volta).

Marcelo Andrê

Outros passeios no parque . A Lapa Bonita é uma das mais belas e ornamentadas grutas do parque. A atração é o Salão Vermelho, coberto por sedimentos avermelhados. Também chamada de Lapa do Índio, possui painéis de pinturas rupestres que cobrem paredes inteiras e até mesmo o teto. Distância: 1.500 metros (ida e volta). O tempo estimado de caminhada é de 2h20 min. . Na Lapa do Boquete encontra-se um dos principais e mais estudados sítios arqueológicos do conjunto, onde foram encontrados alguns sepultamentos. É possível verificar a presença de um silo pré-histórico. Distância: 1.200 metros (ida e volta). Tempo estimado: 1h30 min (ida e volta). . A Lapa do Rezar reúne a grandiosidade do cânion do Rio Peruaçu à riqueza da arte rupestre pré-histórica. Abriga um sítio rupestre com pinturas e gravuras bem conservadas. Destacamse também as dimensões do seu salão de entrada, que alcança 90 metros de largura e mais de 40 metros de altura. Distância: 2.400 metros (ida e volta). Tempo estimado: 3h30 min (ida e volta).

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Quando: De novembro a outubro, estação de chuvas, a paisagem é verde. No resto do ano, predomina a mata seca.

Onde: BR-135, Km-155, Comunidade do Fabião I, Januária – MG

De avião: o aeroporto mais próximo fica na cidade de Montes Claros, a 200 quilômetros da entrada do parque.

De ônibus: É possível chegar a Januária ou Itacarambi, vindo de Brasília, Belo Horizonte ou Montes Claros.

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Coluna Social

Aconteceu Por Mariana Martins

CCR Alto A coordenadora da CCR Alto São Francisco, Silvia Freedman, tem muito a comemorar. Neste primeiro semestre foram entregues dois grandes projetos de recuperação hidroambiental no Norte de Minas, em Chapada Gaúcha e Uruana de Minas, e iniciado outro em São Sebastião do Oeste. Nove municípios mineiros foram contemplados com a elaboração de Planos de Saneamento Básico. Em Patos de Minas, um viveiro de mudas do Instituto Estadual de Florestas vai receber investimentos do CBHSF, triplicando a sua capacidade de produção para o reflorestamento do Alto São Francisco. E o município de Três Marias recepcionou a II Expedição Aérea do Rio São Francisco, que sobrevoou o rio de sua foz até a nascente, registrando as suas belezas naturais.

CCR Médio O Médio São Francisco foi contemplado com duas importantes entregas: o Projeto de Recuperação Hidroambiental da bacia do riacho Santa Rita, em Bom Jesus da Lapa e o Plano de Ações para o Manejo e Uso do solo na Bacia do Açude, na comunidade de Açude, município de Macaúbas. Coordenada por Ednaldo Campos, a CCR Médio São Francisco está com três projetos em andamento: um na bacia do Riacho Tinguis, também em Macaúbas, outro na bacia do riacho Caldeirão, em Igaporã e o terceiro na bacia do rio Branco, Barreiras, todos localizados na Bahia.

CCR Submédio Já está sendo realizada licitação para a construção de uma adutora para o povo indígena Pankará, que vive na Aldeia do Serrote, localizada no município de Itacuruba, PE. Quem está à frente do projeto é o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianeli Tolentino. Além disso, a CCR Submédio vem realizando uma série de reuniões, mesas redondas e seminários com a participação de especialistas convidados, para a discussão de temas relativos a recursos hídricos, saneamento básico, recaatingamento, revitalização, dentre outros. 42


CCR Baixo Honey Gama, coordenador da CCR Baixo São Francisco, está prestes a entregar o Projeto de Revitalização Hidroambiental da bacia do rio Curituba, vencedor do Prêmio CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público). O projeto-piloto, denominado Nascentes do São Francisco: o MP salvando rios, e executado pelo CBHSF em parceria com o MP de Sergipe, ficou em primeiro lugar na categoria “Transformação Social”. O Prêmio CNMP foi criado para dar visibilidade aos programas e projetos do Ministério Público brasileiro que mais se destacaram na concretização dos objetivos do Planejamento Estratégico Nacional do MP. A solenidade de entrega aconteceu em Brasília, no dia 02 de agosto.

Em Ibotirama (BA), no Médio São Francisco, foram realizadas caminhadas ecológicas, audiência pública, shows e apresentação da peça Carranca

Eu viro carranca para defender o Velho Chico No dia 03 de junho, quando se comemora o Dia Nacional em Defesa do rio São Francisco, foi lançada, nas quatro CCRs, a 4ª edição da campanha Eu viro carranca para defender o Velho Chico. A programação aconteceu em cinco cidades: Pirapora (MG), Ibotirama (BA), Paulo Afonso (PE), Propriá (SE) e Traipú (AL).

No Baixo São Francisco, o dia foi celebrado em duas cidades: Propriá (SE) e Traipu (AL). Teve caminhada, plantio de mudas, atendimentos de saúde à população, peixamento, missa, lançamento de livro e exibição de filme

Em Paulo Afonso, Submédio São Francisco, o dia foi comemorado com palestras, debates e distribuição de plantas nativas

Abaixo-Assinado Em Pirapora (MG), Alto São Francisco, os festejos foram marcados por apresentações culturais, procissões, benção das águas do Velho Chico, exibição de filme, barqueata e peixamento

Este ano, a campanha lançou o abaixo-assinado em prol de uma lei federal para transformar os biomas da Caatinga e do Cerrado em patrimônios nacionais. O objetivo é conseguir dois milhões de assinaturas. Para participar, acesse http://cbhsaofrancisco. org.br/abaixo-assinado-caatinga-e-cerrado/ e ajude a viabilizar a proposta. 43


Para fortalecer o sentimento de pertencimento e de identificação com a bacia do rio São Francisco, o CBHSF vem desenvolvendo amplo projeto de comunicação, com o objetivo de agregar e disseminar informações e conceitos, utilizando várias mídias articuladas entre si.

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Porque o Comitê reconhece a importância de ser parceiro dos 505 municípios da Bacia na sua integração e interação

Porque a busca é pela construção compartilhada do conhecimento

Porque o foco está na democratização do conhecimento e informação

Porque a comunicação tem um papel importante a desempenhar no processo de conscientização e de mobilização para a sustentabilidade

Porque mobilização, comunicação e informação são os pilares básicos para o funcionamento do Comitê

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