travessia Notícias do São Francisco
JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / MARÇO 2020 | Nº 35
CIÊN FUTU CIA RO AMBI ENTE
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III SIMPÓSIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO
Inscrições abertas para a 3ª edição do Simpósio MG terá cobrança pelo uso da água em todas as suas bacias
Confira a entrevista com Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica
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Editorial APOSTA NUCLEAR? Colocada sob “banho maria” depois das repercussões do tsunami que atingiu seriamente os reatores da usina nuclear de Fukushima, no Japão, a ideia da implantação de uma planta nuclear na região semiárida às margens do rio São Francisco voltou a emergir mas, como sempre, revestida de uma espessa cortina de silêncios que não ajudam a esclarecer o conteúdo altamente polêmico da proposta. Desta vez a maior aposta de localização recai sobre o município de Itacuruba, situado no entorno do lago da usina hidrelétrica de Itaparica, em território pernambucano. A razão maior dessa pretendida localização é facilitar a utilização das águas do Velho Chico nos processos produtivos da planta nuclear, algo que, dependendo das tecnologias a serem utilizadas, causará impactos significativos na já altamente estressada vida aquática do chamado “rio da integração nacional. ”
Às voltas com ameaças catastróficas representadas pelas barragens de rejeitos que a partir de rios afluentes podem atingir em cheio a sua calha – como foi o caso recente do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho – o Rio São Francisco, que já sofre com o desmatamento descontrolado dos seus biomas, com a superexploração das águas subterrâneas do Aquífero Urucuia, com as secas cada vez mais prolongadas e com a crescente contaminação de suas águas por esgotos e agrotóxicos, terá agora que encarar, talvez, o mais remoto, porém, potencialmente, o maior de todos os perigos, que é exatamente a possibilidade do acidente nuclear. Ao alimentar ideias tão controversas, o poder público perde de vista completamente que o Rio São Francisco não tem “plano B” e que, consequentemente, qualquer tragédia que atinja suas águas no nível que inviabilizou os rios Doce e Paraopeba
resultará, inevitavelmente, em verdadeira comoção nacional visto que o Velho Chico responde solitariamente por 70% da disponibilidade hídrica de toda a região Nordeste e atende, ainda, ao Norte de Minas Gerais. Detentores de alto potencial de geração de energia eólica e dos maiores espaços nacionais de incidência permanente dos raios solares, a região Nordeste e o Semiárido brasileiro não deveriam necessitar, a rigor, de qualquer solução energética extravagante como é o caso da planta nuclear, a não ser que outros objetivos estranhos aos interesses do povo ribeirinho e sertanejo estejam em jogo e só venham a aparecer na esteira da forte polêmica que o caso inevitavelmente provocará.
Anivaldo de Miranda Pinto Presidente do CBHSF
Confira os últimos podcasts do CBHSF No podcast de número 71 você pode ouvir a entrevista com Altino Rodrigues, secretário da CCR Alto São Francisco, a respeito da cobrança pelo uso dos recursos hídricos em todas as bacias hidrográficas de Minas Gerais. A entrevistada do podcast 72 é Malu Ribeiro, gerente da causa Água e Clima pela Fundação SOS Mata Atlântica. Malu conversa conosco sobre a expedição realizada nos rios Paraopeba e no Alto São Francisco um ano após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). O Podcast Travessia tem por objetivo utilizar essa tecnologia em favor do meio ambiente, principalmente do Velho Chico, divulgando as ações e projetos do CBHSF e da Bacia do Rio São Francisco. E agora você pode acessá-los também no Spotfy através do QRCode abaixo, ou busque por CBH São Francisco.
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Rio Paramirim (BA)
Vale do Paramirim será contemplado com implantação de comportas nos canais de irrigação Texto: Luiz Carlos Cardoso / Foto: Focado em Você O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) segue implementando melhorias para proteger mananciais e contribuir para o desenvolvimento sustentável. Na manhã do dia 06 de fevereiro de 2020, uma equipe técnica esteve no município de Paramirim (BA), para visitar alguns locais às margens do rio Paramirim. Participaram da visita o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Médio São Francisco, Ednaldo Campos e o presidente do CBH dos Rios Paramirim e Santo Onofre (CBHPASO) e coordenador-geral do Fórum Baiano de Comitês de Bacias Hidrográficas (FBCBH), Anselmo Barbosa Caires. A previsão é que as obras comecem já nos próximos dias. O objetivo é aperfeiçoar as comportas em regos de derivação do rio Paramirim. O trabalho vai abranger dezoito comportas em dezoito canais, todas a jusante da barragem do Zabumbão até a divisa com o município de Caturama. As obras
vão impactar diretamente cerca de 250 agricultores e, indiretamente, em torno de 2.000 pessoas, em uma área de 800 hectares de produção agrícola. Esta obra foi demandada pelo CBHPASO, através da CCR do Médio São Francisco e autorizada pelo CBHSF. O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, ressaltou a importância do investimento para uma gestão racional dos recursos hídricos, diminuindo o desperdício e fazendo uma melhor distribuição da água para os usuários. Ednaldo frisou que a área em questão está inserida no Semiárido nordestino, que tem recursos hídricos escassos. A obra foi licitada no valor de R$ 263.751.33 (duzentos e sessenta e três mil, setecentos e cinquenta e um reais e trinta e três centavos), e será executada pela empresa LOCALMAQ LTDA. O prazo para execução dos serviços está previsto para 90 dias.
Para o presidente do CBHPASO, Anselmo Caires, “a obra irá disciplinar o uso da água de irrigação. É uma ferramenta para os irrigantes do Vale do Paramirim terem um melhor aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis para as suas atividades”. Atualmente, as estruturas das comportas em regos de derivação do rio Paramirim são muito precárias, o que dificulta o controle da liberação de água e restringe as boas práticas de eficiência e economicidade na derivação da água para atendimento aos irrigantes. Um melhor controle operacional será um fator de redução do consumo de água e possível ampliação da oferta, diminuindo as possibilidades de conflito entre os usuários. Espera-se, após a execução das obras, com o melhoramento das comportas nos regos de derivação do rio Paramirim, suprir a demanda atual de água por parte dos irrigantes instalados no Vale, com uma quantidade menor. 3
Governo de Minas estende cobrança pelo uso da água à todas as bacias hidrográficas do estado Texto: Luiza Baggio / Foto: Léo Boi O governador de Minas, Romeu Zema, publicou um decreto estendendo para as 36 bacias hidrográficas do estado a implementação de cobrança pelo uso de recursos hídricos. Até este ano, as cobranças eram feitas em apenas 12 bacias do estado. A mudança representada no decreto que foi publicado no dia 07 de fevereiro de 2020 visa o cumprimento da lei que estabelece a Política Estadual de Recursos Hídricos. O presidente do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas de Minas Gerais (FMCBH) e também presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinicius Polignano, vê o decreto como uma medida necessária e positiva. “A cobrança pelo uso dos recursos hídricos é um dos instrumentos de gestão de uma bacia hidrográfica. Os Comitês mineiros acordaram com o IGAM [Instituto Mineiro de Gestão das Águas] que o decreto seria a melhor forma de implementar a cobrança em todas as bacias de Minas Gerais. A medida vai permitir a implementação de ações de melhorias nas bacias, como financiamento de projetos hidroambientais, de planos municipais de saneamento básico, contratação de empresas para monitorar as águas, dentre outras melhorias”, esclarece. O decreto prevê que o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) estabelecerá, no prazo de um ano, as diretrizes gerais para a realização da cobrança. A partir daí, os Comitês de Bacias Hidrográficas terão até dois anos para definir a proposta de meca-
nismos e preços referentes à cobrança pelo uso da água. Também deverão indicar ao CERH a criação da agência de bacia hidrográfica ou entidade a ela equiparada na sua área de atuação. Os comitês que não se manifestarem dentro do período estipulado terão que adotar a metodologia geral e o preço estabelecido pelo CERH. De acordo com o decreto, os valores anuais de cobrança inferiores a R$ 500,00 serão taxados em parcela única. Além disso, os preços definidos nos comitês deverão ser atualizados conforme os parâmetros do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A diretora-geral do Igam, Marília Melo, explica que a publicação do decreto busca alinhar os princípios da administração pública de legalidade, eficiência e isonomia, para promover o tratamento igualitário em todo o estado. “É possível aproveitar as lições aprendidas nesses últimos anos, uma vez que o CERH já apresenta um grupo de trabalho estudando o aprimoramento da cobrança, sem, no entanto, limitar a autonomia dos Comitês, que podem propor metodologias que considerem as especificidades locais”, diz. Somente em 2018, nas 12 bacias em que a cobrança era autorizada no estado, a arrecadação foi de cerca de R$ 39 milhões. Com a extensão às 36 bacias, a estimativa é de que esse montante chegue a R$ 90 milhões. O presidente do Comitê do Entorno da Represa de Três Marias e secretário da Câ-
mara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, do CBHSF, Altino Rodrigues Neto, acredita que o decreto é positivo, mas vê com preocupação alguns itens do documento. “Ampliar a cobrança para os CBHs que ainda não a possuem é necessário. No entanto, vejo com preocupação em especial três questões. A primeira é o prazo para a implementação da cobrança. Se o CERH tem o prazo de um ano para propor a metodologia, restará apenas um ano para os Comitês implementarem a cobrança. Minha preocupação é se o IGAM conseguirá dar suporte aos 24 CBHs que ainda não possuem a cobrança implementada nesse curto prazo. A segunda preocupação é que os valores da cobrança serão recolhidos por meio de DAE [Documento de Arrecadação Estadual]. Sendo assim, os valores vão para o caixa único do Estado, o que pode gerar contingenciamento dos recursos de forma indevida, a exemplo do que vem ocorrendo com os Comitês das Bacias dos Rios das Velhas e Pará”, afirma. “A terceira questão é que o decreto diz que os Comitês terão o prazo de dois anos para indicar ao CERH a criação de agência de bacia hidrográfica ou entidade a ela equiparada que exercerá suas funções na área de atuação. O CBH que não se manifestar no prazo terá o IGAM na função de agência de bacia, o que é um contrassenso. O IGAM não pode exercer essa função. Os Comitês que fazem parte da bacia do Rio São Francisco devem se organizar e propor uma cobrança integrada a este Comitê”, finaliza Altino.
Ouça o podcast sobre o decreto. Acesse o link spoti.fi/38BPiHl ou escaneie o QR CODE ao lado.
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UHE Três Marias (MG)
Hidrelétrica de Três Marias abre comportas após oito anos Pela primeira vez desde janeiro de 2012 as comportas da UHE Três Marias, no rio São Francisco, foram abertas de forma parcial para o vertimento de água Texto: Juciana Cavalcante / Foto: Léo Boi As fortes chuvas que têm caído em Minas Gerais, onde nasce o Rio São Francisco, estão contribuindo para aumentar o volume de água no chamado rio da integração nacional. No reservatório de Três Marias o volume útil já passa de 94%, de acordo com o relatório do último dia 03 de março, divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Por isso, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) abriu, no dia 28 de fevereiro, parte das comportas da usina. A operação está prevista para durar 15 dias. Com isso, o volume do Rio São Francisco tende a aumentar ao longo do seu leito. Em Sobradinho, a usina hidrelétrica armazena 50% do volume útil. Quem sobrevive do Velho Chico está animado com a chegada de mais água. O representante da Associação dos Proprietários Condutores de Barcos da Ilha do Rodeadouro, Israel Barreto, diz que a situação de navegabilidade melhorou bastante no último ano. “Faz um ano que as embarcações conseguem navegar com maior segurança e a gente sente mais tranquilidade. Devido ao longo período de estiagem que vivemos nos últimos tempos, passamos a dispor de dois portos, um para período seco e outro para quando o Rio se recupera e tem mais água. Hoje usamos os dois e com a expectativa da chegada de mais água, estamos felizes porque melhora ainda mais as condições de navegação”, afirmou. A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) emitiu um alerta importante para esse período sobre a ocupação irregular das margens do rio. Leia o trecho da carta circular (Chesf N° 17/2019 disponível no site da Chesf) encaminhada às entidades e usuários da Bacia do São Francisco em 26/11/2019: “...apesar do longo período de baixas vazões vivenciado na Bacia do São Francisco, desde o ano de 2013 até o presente ano de 2020, a prudência nos faz alertar, em caráter preventivo e com o objetivo de mitigar possíveis impactos da elevação de vazões, caso venha a ser necessária durante o período úmido em cur-
so, para a importância e necessidade da adoção de medidas por parte das entidades envolvidas, em cumprimento ao seu papel institucional, inclusive com relação à conscientização da população de que o controle de cheias exercido pelos reservatórios é limitado, devendo, portanto, ser fortemente evitada a ocupação de áreas situadas nas planícies de inundação”. Antes disso, em 2018, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) realizou, em parceria com a ANA, ONS, Defesa Civil Nacional e de Minas Gerais e CEMIG, reuniões públicas para tratar sobre a prevenção quanto aos possíveis impactos das cheias na bacia do Rio São Francisco. Apesar de enfrentar uma severa crise hídrica na bacia do São Francisco, o CBHSF alertou para os possíveis impactos das cheias da bacia, ocasionadas principalmente por ocupações irregulares em áreas de proteção permanente (APP) e também pelas condições de assoreamento e degradação do rio. Para adaptar o Sistema Hídrico do Rio São Francisco a esse contexto hidrometeorológico e promover a segurança hídrica da região em situações de normalidade e em períodos de escassez hídrica, a Resolução 2.081/2017, da Agência Nacional de Águas (ANA), estabelece faixas de operação que definem as defluências a serem praticadas nos reservatórios de Três Marias, Sobradinho e Xingó. Desde o período úmido entre 2012 a 2013, a Bacia do Rio São Francisco apresentou quadro hidrológico de baixa hidraulicidade, o que motivou a ANA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a autorizarem a Chesf a reduzir gradativamente, desde abril de 2013, a vazão de restrição mínima dos reservatórios de Sobradinho e Xingó, de 1.300 m³/s para 550 m³/s. Atualmente o reservatório de Sobradinho vem liberando vazões da ordem de 800 m³/s. Em reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, coordenada pela ANA,
realizada no último dia 02 de março, ficou definido que Três Marias praticará defluência de 1.270 m³/s no período de 02 a 10/03, reduzindo para 650 m³/s no período de 11/03 a 30/04/2020, e o reservatório de Xingó praticará defluência média mensal de 1.000 m³/s em março e 1.100 m³/s no mês de abril. Ao final do período úmido, a partir de 30 de abril, conforme apresentado pelo ONS, a perspectiva de armazenamento para os reservatórios de Três Marias e Sobradinho, são respectivamente de 100% Volume Útil e 66% Volume Útil. “Embora tenha havido uma melhora no volume dos reservatórios, a exceção de Três Marias, que se encontra praticando vertimento, não há ainda indicativo de elevação dos valores das vazões defluentes atuais, uma vez que os demais reservatórios se encontram com volumes abaixo do volume de espera definido para o período”. Geração de energia A Chesf informou ainda que o atendimento energético à região Nordeste está assegurado com a utilização dos recursos disponíveis: geração hidráulica, térmica, eólica, solar e intercâmbio através de linhas de transmissão de interligação do Nordeste com outras regiões do país. “Cabe ressaltar que mesmo com a melhora do volume dos reservatórios mencionados, tendo em vista a situação ainda crítica de armazenamento, não há previsão, no momento, de aumento de geração nas usinas do Rio São Francisco operadas pela Chesf. A prioridade é executar a operação de forma coordenada, de modo a aumentar os níveis de armazenamento dos reservatórios a fim de fazer frente aos múltiplos usos da água da região da Bacia do São Francisco que depende do armazenamento, principalmente, do Reservatório de Sobradinho, pulmão do Submédio e Baixo São Francisco”, concluiu. 5
III Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco: inscrições abertas para submissão de trabalhos Texto: Mariana Martins Os trabalhos a serem submetidos devem estar relacionados a um dos seis eixos que integram o Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. São eles: Governança e mobilização social; Qualidade de água e saneamento; Quantidade de água e usos múltiplos, Sustentabilidade Hídrica no Semiárido; Biodiversidade e requalificação ambiental temáticos; e deverão levar em conta a temática do III SBHSF, que é “A importância da ciência para o futuro do Rio São Francisco”. O Simpósio, que se encontra em sua terceira edição, é promovido pelo Fórum de Pesquisadores de Instituições de Ensino Superior da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FIENPE) e pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Este ano, será realizado nos dias 31 de maio a 03 de junho de 2020, na Associação Médica de Minas Gerais, em Belo Horizonte. A programação do evento contará com apresentações orais e painéis, palestras, conferências, mesas-redondas, exposições e reuniões temáticas. O FIENPE foi criado pelo CBHSF em parceria com várias universidades com o objetivo de aproximar a academia do Comitê. O presidente do CBHSF e membro da Comissão Executiva Organizadora do III SBHSF, Anivaldo Miranda, explica que essa aproximação é muito importante no enfrentamento dos desafios técnico-científicos que uma bacia como a do São Francisco apresenta. “O rio e a sua bacia tem necessidade desse conhecimento porque os desafios são grandes, sobretudo no que diz respeito à conciliação dos diversos usos da água. Ao mesmo tempo, precisamos desse conhecimento para
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fazer com que a economia cresça, mas sem promover a destruição dos biomas”, ressalta. Temas como o cenário atual de condições climáticas extremas e da elevada exploração em um rio cada vez mais degradado em termos socioambientais comporão toda a agenda do evento, resultando na sinalização de deficiências e soluções na busca da qualidade ambiental e articulações em defesa do Velho Chico. De acordo com um dos coordenadores do III SBHSF, o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eduardo Coutinho, “o evento é uma oportunidade muito especial de reunir pesquisadores e profissionais de toda a área de abrangência da Bacia, que são os conhecedores da realidade e das atuais demandas de conservação dos recursos naturais”. Segundo Coutinho, a programação está sendo cuidadosamente preparada pela comissão organizadora e traz temas de extremo interesse para o momento atual, tais como o dilema entre público e privado na gestão das águas, o impacto do saneamento na segurança hídrica, questões climáticas, biodiversidade, mineração e segurança de barragens, entre outros. Para o integrante da comissão técnico-científica do Simpósio e membro do CBHSF, Melchior Carlos Nascimento, a expectativa é consolidar o evento transformando-o em referência para comunidade científica. “A relação institucional ainda carece de ações mais assertivas. Enquanto membro do CBHSF, considero que a criação do Fienpe e a instalação do SBHSF foram iniciativas impor-
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tantes, mas penso que agora seja necessário estreitar esse relacionamento institucional, apresentando para essas instituições as prioridades do CBHSF em termos de demandas e das políticas afirmativas para o fomento no âmbito da ciência e tecnologia”, afirma. O Simpósio, que promete ser tão concorrido quanto o anterior, terá cerca de 500 participantes, entre inscritos e convidados, pesquisadores e técnicos de órgãos que atuam no contexto espacial da Bacia Hidrográfica, bem como representações sociais de comunidades, associações e cooperativas. Entre os palestrantes, especialistas de todo o Brasil e internacionais. O evento está sendo divulgado em todas as universidades da Bacia e conta com o apoio de órgãos como a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), Ordem dos Advogados de Sergipe (OAB/SE), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa/ MG), Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), dentre outros. Confira nossas páginas na web e faça sua inscrição!
www.sbhsf.com.br @simposiobhsf @sbhsf_
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Os interessados podem submeter os seus trabalhos até o dia 20 de março de 2020, por meio do link: sbhsf.com.br/submissao-de-trabalhos. Ou, com o seu celular, escaneie o QR code ao lado
Bacia do Alto São Francisco começa a elaborar Plano Diretor Texto e fotos: Antônio Oliveira O Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do Alto São Francisco – CBH SF1, último comitê da bacia hidrográfica do rio São Francisco no estado de Minas Gerais a elaborar seu Plano Diretor, deu início ao processo no dia 13 de fevereiro, em Lagoa da Prata (MG). O evento foi uma realização do CBH SF1 em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF. O secretário do CBHSF, Lessandro Gabriel, salientou a importância do Plano Diretor no momento atual, diante das mudanças climáticas e dos desastres ambientais, como o rompimento de barragens. Segundo ele, as atividades de elaboração do Plano Diretor serão acompanhadas por um grupo composto pelos conselheiros do CBH SF1, com dois representantes de cada um dos segmentos ali representados: poder público (municipal e estadual), usuários e sociedade civil. O grupo irá analisar tecnicamente os produtos elaborados pela empresa executora, contribuindo com os conhecimentos sobre a bacia. A diretora-geral da Agência Peixe Vivo (APV), Célia Fróes, contextualizou o processo de contratação do Plano, destacando que isto somente foi possível devido ao apoio do CBHSF, que está financiando a execução com os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Célia destacou também o apoio e parceria com o IGAM [Instituto Mineiro de Gestão das Águas] na elaboração do termo de referência.
Membros do CBHSF, do CBH SF1 e da APV se reúnem em Lagoa da Prata (MG) para dar início a elaboração do Plano Diretor
De acordo com Célia Fróes, todo o processo é público e transparente, podendo ser acompanhado pelos sites do CBHSF e da APV. A diretora informou que será criado um site específico do Plano Diretor onde serão disponibilizados os produtos produzidos pela empresa executora. Serão realizadas três reuniões públicas para cada um dos seguintes produtos: plano de trabalho, diagnóstico, prognóstico, alternativa de enquadramento, programa de efetivação de enquadramento, plano de ação, relatório final do plano, relatório final do enquadramento e resumo executivo. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do Alto São Francisco, Dirceu Costa, conclamou todos os presentes a participarem e acompanharem a elaboração do Plano Diretor, contribuindo sempre com o que for necessário, pois, se-
gundo ele, “seremos os maiores beneficiários e queremos que ele fique pronto o mais breve possível”. Participaram da reunião, o presidente do CBH Afluentes do Alto São Francisco, Dirceu Costa; a diretora-geral da Agência Peixe Vivo, Célia Fróes; a gerente de Planejamento de Recursos Hídricos do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), Maria de Lourdes Amaral Nascimento; o coordenador técnico do consórcio das empresas vencedoras da licitação para a elaboração do Plano Diretor (Ecoplan Engenharia e Skil), Alexandre de Carvalho; o Secretário Executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica o Rio São Francisco e Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Lagoa da Prata, Lessandro Gabriel da Costa e representantes do GAT (Grupo de Acompanhamento Técnico). Os trabalhos se iniciaram em 06 de janeiro de 2020 e tem previsão de conclusão em agosto de 2021.
Trecho do Velho Chico na região do Alto São Francisco
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Dois
Malu Ribeiro
dedos de
prosa
Entrevista: Luiza Baggio Conte-nos um pouco da sua trajetória desde sua formação como jornalista até abraçar a causa pela preservação do meio ambiente. O jornalismo me levou a ser ambientalista. Sou natural de Itu (SP) e quando menina aprendi a nadar no rio Tietê, na região da Estrada Parque e Ilha dos Artistas. Os jovens da minha idade iam para o Tietê para nadar e se divertir. Na época, o rio ainda tinha condições de uso pela sociedade, o que hoje não temos. Nós perdemos a qualidade da água do rio em apenas duas décadas e agora para recuperar serão necessários vários investimentos, ações de políticas públicas e muitas décadas. Iniciei no jornalismo como fotógrafa na linha investigativa e a maioria das pautas que eu cobria estavam ligadas a questões ambientais. A partir da Eco 92, a Conferên-
Jornalista por formação com especialização em políticas públicas e gestão de recursos hídricos, Malu Ribeiro é gerente da causa Água e Clima pela Fundação SOS Mata Atlântica. Em janeiro de 2020, coordenou a segunda expedição realizada pela SOS Mata Atlântica às bacias dos rios Paraopeba e Alto São Francisco, um ano após uma das maiores tragédias ambientais do Brasil – o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho.
Também atua como representante da organização no Conselho Estadual de Recursos Hídricos, foi uma das fundadoras do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, em 2000, e é representante paulista do segmento sociedade civil no colegiado coordenador do Fórum na terceira gestão. Foi coautora da primeira estrada parque do país, por meio de legislação específica que serviu de referência para outras áreas de conservação. Confira a entrevista:
cia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, eu me especializei na pauta ambiental e em políticas públicas ligadas ao meio ambiente. Atualmente coordeno o programa Água da Fundação SOS Mata Atlântica. A causa é água limpa para todos e temos uma equipe técnica multidisciplinar que atua para que todos tenham acesso à água limpa em quantidade e qualidade.
raopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo.
Qual foi o objetivo da expedição realizada pela SOS Mata Atlântica em janeiro de 2020 na bacia do Rio Paraopeba? Percorremos entre os dias 07 e 17 de janeiro de 2020 aproximadamente 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, entre Brumadinho e Felixlândia, para analisar a qualidade da água em 356 km do rio afetado pelo rompimento da barragem da empresa Vale. O objetivo foi saber o potencial de impacto à qualidade da água e o alcance do rejeito contaminado para outras regiões. Qual é a real situação do Rio Paraopeba? A água do Paraopeba continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver. De certa forma, a qualidade da água do rio piorou em relação a expedição que realizamos logo após a tragédia em 2019. Houve deslocamento das concentrações de metais pesados para o Baixo Pa-
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Presidente: Anivaldo de Miranda Pinto Vice-presidente: José Maciel Nunes Oliveira Secretário: Lessandro Gabriel da Costa
Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607
Comunicação
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Apoio Técnico
Existe o risco de contaminar o Rio São Francisco? Há um carreamento de contaminantes no São Francisco. Não é na forma de lama, que deixa o rio com aquela cor de ferrugem. Mas os mesmos contaminantes que foram carreados desde o rio Paraopeba já estão no reservatório de Três Marias. Ali já é Alto São Francisco. Especificamente sobre o reservatório de Três Marias, os três pontos analisados apresentaram qualidade regular, portanto, ainda dentro dos padrões legais de uso. No entanto, há desconformidade em níveis muito elevados para metais pesados como cromo, cobre, ferro e manganês. Esses metais foram encontrados nas águas do Paraopeba, ao longo de toda extensão impactada pelos rejeitos de minério. Na sua opinião, que lição pode ser tirada? Os danos ambientais que resultaram em tragédias descomunais aos ecossistemas e às pessoas que vivem e trabalham na bacia do rio Paraopeba deixaram uma enorme ferida aberta, mas também muitas lições. A primeira delas é a de que é infinitamente mais difícil e mais caro – sob todos os aspectos (imateriais e materiais) – recuperar do que prevenir. A segunda lição é ainda mais dura: não será possível restabelecer as vidas ceifadas e devolver aos rios a sua geografia e cursos originais.
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins Textos: Antônio Oliveira, Juciana Cavalcante, Luiza Baggio, Luiz Carlos Cardoso, Mariana Martins Diagramação: Sérgio Freitas Fotos: Focado em Você, Bianca Aun e Léo Boi Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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