travessia Notícias do São Francisco
JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / MARÇO 2021 | Nº 47
Em Rodelas (BA), povo Tuxá assiste ao avanço das dunas sobre a vegetação nativa
Lapão (BA) é contemplada com viveiro de mudas da Caatinga
CBHSF homenageia as mulheres que lutam pelo Velho Chico
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Editorial O COMETA DOURADO É isso mesmo. Luís Alberto Dourado passou pelas nossas vidas e pela vida do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco como um cometa. Veio rápido, irradiando uma luz de muito brilho e um calor humano intenso. Além de ter deixado, agora, um rastro comprido de muita saudade. Nosso embaixador de Morro do Chapéu e sua voz trovejante farão muita falta em todas as nossas reuniões, do interior da Bahia até os mais distantes rincões das terras e das águas franciscanas. Não veremos mais aquela figura de grande porte, inundando de ideias, de propostas, de temáticas nossos encontros, do café coletivo da manhã até às madrugadas quentes em que as polêmicas da gestão hídrica porventura venham dominar nossas pautas plenárias., Sejam as risadas largas, os abraços efusivos, as réplicas veementes ou aquelas conversas que começavam em tom baixo
que logo se convertiam em assertivas incisivas, era definitivamente impossível ignorar a presença de Dourado em qualquer lugar. Meticuloso em tudo que se propunha executar, leitor voraz, estudioso apaixonado dos temas que pretendia tratar ou defender, Dourado fazia sempre intervenções ricas em detalhes, exemplos e propostas. E se o assunto era objeto de disputa institucional ou teórica, ele se preparava como ninguém para o embate, sempre imbuído da vontade de se fazer ouvir, mas também de convencer seus possíveis oponentes ocasionais. Dono de uma retidão de caráter férrea que parecia alma gêmea do arcabouço de concepções humanistas que carregava, Dourado sempre tomava lado e era incansável defensor e colecionador de causas generosas das quais não arredava o pé, sobretudo quando se tratava da defesa da legislação ambiental e de recursos hídricos, das demandas da sustentabilidade,
da democracia participativa das águas e dos interesses dos mais vulneráveis, os ribeirinhos, os povos tradicionais, a gente trabalhadora do Brasil profundo. E assim, feliz o Velho Chico, felizes as águas e a Mãe Natureza, sortudas as gestões das águas e do meio ambiente, que encontraram no grande Luís Alberto Dourado um dos seus mais notáveis defensores. E feliz o CBHSF em cuja base estão tijolos mágicos feitos com as mãos, com o amor, com o idealismo de ser humano tão peculiar em sua forma apaixonada de viver a vida como foi o caso Luís Alberto Dourado que, daqui por diante, voltará para a companhia das estrelas, lugar de onde certamente empreendeu sua grande viagem até nós. Luís Alberto Dourado, presente!
Anivaldo de Miranda Pinto Presidente do CBHSF
O saneamento básico é um conjunto de serviços que impactam diretamente a saúde, a qualidade de vida e o desenvolvimento da sociedade. Apesar de sua importância, cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a serviços de água potável gerenciados de forma segura, 4,2 bilhões não têm esgotamento sanitário e 3 bilhões não possuem instalações básicas para a higienização das mãos. Quase 100 milhões de brasileiros, o que representa 53% da população, não têm acesso à coleta de esgoto em seus domicílios e os principais receptores desses resíduos são mares e rios. Os dados são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e, na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, essa realidade não é diferente. Na tentativa de minimizar esta situação, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco lançou o Chamamento Público para Procedimento de Manifestação de Interesse destinado aos municípios pertencentes à bacia do Rio São Francisco, que tenham interesse em serem contemplados com a elaboração de estudos de concepção e projetos básico e executivo para sistemas de esgotamento sanitário de uso coletivo. Essa ação está prevista no Eixo II – Qualidade da Água e Saneamento do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco utiliza grande parte dos recursos oriundos da cobrança pelo uso da água em prol do saneamento básico. Já financiou mais de 60 Planos Municipais de Saneamento Básico, e outros mais de 40 estão em execução em municípios da Bacia. Ainda assim, cerca de 35% dos municípios ainda não possuem Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Uma realidade que precisa ser modificada na construção de um país mais digno e igualitário.
Para mais informações acesse https://bit.ly/3cjcs9l ou escaneie o QR Code ao lado
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Projeto de monitoramento remoto das captações de água será implantado na bacia do rio Verde Grande Texto: Juciana Cavalcante / Fotos: Bianca Aun
Durante a manhã do dia 25 de fevereiro, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, acompanhou a reunião de partida com os usuários da Bacia do Verde Grande, onde será replicado o projeto de monitoramento remoto das captações de água. O encontro virtual coordenado pelo superintendente de Fiscalização da Agência Nacional de Águas (ANA), Alan Vaz Lopes, aconteceu com o objetivo de apresentar o projeto que tem entre suas principais metas promover o monitoramento automático das captações feita pelos usuários de recursos hídricos regularizados na bacia do Verde Grande. O trabalho deve garantir, através de um sistema de telemetria, o envio automático dos dados em tempo real, para uma plataforma que ficará disponível via internet para a ANA, responsável pelo projeto em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT), por meio do Instituto de Atenção às Cidades (IAC/UFT) e para os usuários de recursos hídricos com envio de alertas automáticos sobre o cumprimento das regras de uso da água. O projeto já foi desenvolvido pela primeira vez em rio de domínio da União (interestadual ou transfronteiriço), no rio Javaés, que banha Goiás e Tocantins. No final de 2020, uma estação telemétrica foi instalada para o monitoramento remoto de captações das águas. O equipamento foi instalado em Lagoa da Confusão (TO), como parte do projeto Monitoramento Remoto das Captações no Rio Javaés. Na bacia do rio Verde Grande, considerando os recorrentes problemas hídricos com forte influência na implantação de projetos para agricultura irrigada, a gestão e a fiscalização podem garantir a redução dos riscos de escassez hídrica. O projeto, após a mobilização realizada através deste pri-
meiro contato, entrará na etapa de diagnóstico, onde serão feitas visitas de campo por 30 dias para mapear os problemas e avaliar as alternativas de medição das captações por telemetria. De posse destes dados, será possível propor soluções e implantar uma estação piloto para testar os equipamentos de medição e transmissão de dados. “É preciso parabenizar essa iniciativa na bacia do Verde Grande e pensarmos já em avaliar uma possibilidade de fazer o mesmo trabalho nos poços subterrâneos, onde o processo de monitoramento é, hoje, muito complicado. Com essa tecnologia, poderíamos resolver grandes problemas, por exemplo no aquífero Urucuia que é fundamental para a bacia, principalmente em tempos de estiagem”, pontuou o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda. O rio Verde Grande é afluente da margem direita do rio São Francisco e está localizado nos Estados de Minas Gerais e Bahia. Entre os principais usos da água da bacia hidrográfica estão a agricultura irrigada, que conta com uma área irrigada estimada em quase cinco mil hectares, além do abastecimento humano de aproximadamente 380 mil habitantes das cidades de Montes Claros, Verdelândia e Jaíba, em Minas Gerais. “Estamos esperançosos por receber o projeto e conhecer os resultados de toda esta ação. Nós, do Comitê da Bacia do Verde Grande, estamos à disposição para cooperar no que for necessário, porque entendemos a importância e a dimensão que uma ação como esta pode trazer de benefícios para a nossa bacia”, afirmou a representante da bacia do Verde Grande, Maria do Socorro Mendes. As visitas de campo, parte da etapa de diag-
nóstico, devem acontecer já nas próximas semanas de março. “A etapa das visitas é uma das partes fundamentais do projeto, porque é o momento em que podemos conhecer a fundo cada situação e as pessoas que iremos impactar com o projeto”, concluiu o coordenador geral do projeto e presidente do IAC/UFT, Felipe Marques. Com o sistema telemétrico será possível realizar o monitoramento remoto de captações das águas
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Ainda sem acesso à terra, indígenas Tuxá acompanham o avanço das dunas em área de desertificação Texto: Juciana Cavalcante/ Fotos: Azael Góis e Juciana Cavalcante
Resultado de anos de degradação associada às mais diversas intervenções humanas, milhares de quilômetros de vegetação nativa em Rodelas, interior da Bahia, vem sendo engolida pelo avanço das dunas, uma fina camada de areia que se desenvolve principalmente pela ação dos ventos, formando montes ou montanhas de diversas formas e tamanhos. Com mais de 400 hectares, o local é conhecido como deserto de Surubabel, situado na beira do lago da barragem de Itaparica. De acordo com o artigo “O deserto do Surubabel na Bahia”, publicado pelos autores Arlicélio de Queiroz Paiva, Quintino Reis Araújo, Eduardo Gross e Liovando Marciano da Costa, com o passar dos anos, esse local serviu como área de pastoreio excessivo, principalmente de caprinos, e sofreu um desmatamento acentuado, com a retirada de lenha para atender às necessidades da população. Atualmente, a área é reivindicada pela comunidade indígena Tuxá como compensação pelo deslocamento do seu território original, em 1988, devido à construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, também conhecida como Lago de Itaparica, com uma área inundada de 150 quilômetros e superfície de 83.400 hectares dos estados da Bahia e de Pernambuco. Os Tuxá ocupavam diversas ilhas e em especial a Ilha da Viúva, no Rio São Francisco, seu território agrícola. A Ilha da Viúva também foi submersa e, de acordo com o cacique Anselmo Tuxá, até hoje não receberam na totalidade as terras de compensação. “É uma luta árdua a que temos travado todos estes anos. Sem direito a esta terra a gente sequer pode cuidar para preservar a vegetação. E vamos acompanhando o avanço das dunas que embora forme uma paisagem belíssima, vai enterrando a vegetação nativa”, lamentou o cacique. 4
Na Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, aproximadamente 126.336 km² já são áreas desertas ou em fase de desertificação. Um levantamento feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), realizado no período de 2013 a 2017, apontou que cerca de 13% do território do Semiárido brasileiro está desertificado. “Os impactos provocados pelo processo de desertificação na Caatinga são enormes. Esse fenômeno aumenta o carreamento de sedimentos para dentro da calha principal do rio, trazendo graves efeitos já bem conhecidos ao Velho Chico”, afirma o professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Renato Garcia. De acordo com estudos, as áreas de ocorrência de desertificação no Brasil estão enquadradas, principalmente, no polígono das secas no Nordeste Brasileiro. As regiões de Gilbués (PI), Cabrobó (PE), Irauçuba (CE) e Seridó (RN) foram decretadas como núcleos de desertificação após praticamente atingirem um grau
irreversível. Em 2007, a Fundação Grupo Esquel Brasil foi designada para exercer a função de agência implementadora do Plano Nacional de Combate à Desertificação (PNCD), prevendo criar o quinto núcleo de combate à desertificação em Rodelas. No entanto até hoje não foi efetivado. “Assim como outros povos indígenas, cada um com sua luta, aqui os Tuxá continuam na expectativa pelo direito ao acesso às terras para cultivar. Negar esse direito aos indígenas é negar suas tradições e, por isso, o Comitê tem se empenhado em garantir aos povos o acesso a água para seus múltiplos usos, assim como foi feita a obra que hoje é realidade na comunidade de Serrote dos Campos, onde os Pankarás já tem seu sistema de abastecimento de água, financiado pelo CBHSF, funcionando”, completou o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianeli Lima. Em Rodelas, a areia toma conta do que antes era Caatinga
Construção de viveiro visa recomposição da Caatinga em Lapão (BA) Fotos: Manuela Cavadas, Higor Soares e Bianca Aun
Quem chega ao município de Lapão (BA), rapidamente nota a existência do Parque da Cidade, situado às margens da BA432, na entrada da cidade. O local chama a atenção por sua arborização e existe há mais de 20 anos, resultado de intensas mobilizações de moradores engajados ambientalmente e amantes da Caatinga. Agora, em 2021, parte do espaço será utilizada para a implantação e operação de um viveiro de mudas nativas e frutíferas, através de mais um projeto de requalificação ambiental financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). O projeto “Produzindo mudas para a recomposição da Caatinga” está entre os contemplados na região do Médio São Francisco pelo edital de Chamamento Público nº 01/2018, voltado para demandas espontâneas. Proposto pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Irrigação e Agropecuária, a reunião de abertura das atividades aconteceu no dia 23 de fevereiro, no próprio Parque da Cidade, em Lapão, com a presença de representantes do município, do CBHSF, da Agência Peixe Vivo e da FAVENI– Consultoria, projetos e serviços LTDA, empresa contratada para a elaboração do Termo de Referência do projeto. O objetivo do encontro foi promover o alinhamento entre os agentes envolvidos e realizar uma visita de reconhecimento na área. O engenheiro civil e coordenador executivo da FAVENI, Alessandro Loreto, explicou do que se trata essa etapa: “Hoje estamos em uma visita pré-diagnóstica, para analisarmos a área onde será implantado o viveiro, fazermos uma estimativa da quantidade de mudas e conversarmos com os proponentes sobre suas expectativas e objetivos. A equipe chave dedicada a esse projeto conta com sete profissionais, além de outros colaboradores da empresa que estarão em campo na análise diagnóstica, a ocorrer nas próximas semanas”. O valor total disponibilizado para o projeto é de até R$ 1 milhão e o prazo para a finalização e entrega do Termo de Referência pela FAVENI é de dois meses. O documento é responsável por reunir tudo que é necessário para a execução do projeto: equipe, materiais, levantamento de preços, tempo de execução, cronograma das ações, etc. A expectativa é que o viveiro tenha capacidade de produzir mais de 200 mil mudas/ano, atendendo, além do município de Lapão, a outras cidades do Território de Irecê. Manoel Augusto, técnico agrícola e servidor municipal, observou que a implantação do viveiro pretende diversificar a produção agrícola da região: “Queremos produzir mudas frutíferas e com isso incentivar outras culturas entre os agricultores, substituindo a monocultura da cenoura praticada até então. Além de gerar renda, a fruticultura pode otimizar o uso da água no nosso território, uma questão ambiental urgente”. O coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Médio São Francisco, Ednal-
do Campos, destacou que o município de Lapão possui experiências bem sucedidas em construção e manutenção de viveiros, o que sinaliza o potencial e a viabilidade do atual projeto: “Queremos implantar uma estrutura mais moderna, atualizada, para a produção de mudas, com uma área de compostagem, mecanismos de assepsia interna do viveiro e um espaço físico para cursos de extensão e capacitação, especialmente para os pequenos produtores”. Além de incentivar a fruticultura na região, o novo viveiro irá ofertar à população mudas de espécies nativas para a recomposição da Caatinga, estimulando o reflorestamento em áreas degradadas, especialmente em morros e encostas. Trata-se de uma importante medida contra o acelerado processo de desertificação do Semiárido, problema já demonstrado por diversos estudos científicos e acadêmicos, com o agravante de que o Território de Irecê é um dos mais atingidos pelo desmatamento no Estado da Bahia. O projeto também prevê incentivar os produtores rurais a formarem áreas de reserva legal em seus estabelecimentos, fornecendo, além das mudas, apoio técnico. O reflorestamento da Caatinga contribui para a valorização do patrimônio cultural e genético desse bioma que é exclusivo do Brasil. “A agenda ambiental é urgente e o município de Lapão está sensível a essa questão. Esse projeto, financiado pelo CBHSF, é um ganho para o município, pois o viveiro irá envolver atividades com estudantes da rede de ensino, agricultores, equipe técnica e outros grupos interessados”, apontou Raul Silva, superintende de Agricultura Familiar, ao final da reunião.
O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos
O projeto “Produzindo mudas para a recomposição da Caatinga” está entre os contemplados na região do Médio SF
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Grupos de Trabalho para elaboração do PMSB no Submédio São Francisco participam de capacitação Texto e foto: Juciana Cavalcante Com a responsabilidade de subsidiar informações e auxiliar no processo de mobilização das cidades onde o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco está financiado o Plano Municipal de Saneamento Básico, os Grupos de Trabalho dos municípios de Santa Maria da Boa Vista, Ibimirim, Jatobá, Itacuruba (PE) e Água Branca (AL) participaram do primeiro encontro para apresentação do plano de trabalho e de uma oficina de capacitação. Ao todo, 12 cidades do Submédio São Francisco estão em processo de elaboração dos PMSBs, documento necessário às prefeituras para garantir recursos estaduais e federal para investimentos em infraestrutura. Nas quatro cidades pernambucanas e uma alagoana, o Instituto de Gestão de Políticas Sociais (Gesois), empresa contratada pelo CBHSF através da Agência Peixe Vivo, segue com os trabalhos de construção do documento que tem o prazo de conclusão até novembro de 2021. “Este momento é importante porque apresentamos aos grupos de trabalho todas as etapas pelas quais iremos passar até a conclusão do PMSB. Além disso, é também o espaço para expor a importância desse documento, porque já vi muitos municípios que sequer conseguem cumprir as ações emergenciais apontadas. Então o que temos a construir é um documento com a cara da cidade, com ações viáveis e possíveis para resolução dos problemas dos municípios e 6
atendimento real às necessidades das pessoas”, explicou o coordenador da ação, José Luiz de Azevedo Campello. Os grupos de trabalho são criados por decretos municipais e são responsáveis por acompanhar todo o processo de elaboração do plano, propor critérios para escolha de prioridades, analisar e emitir pareceres sobre os produtos propostos e garantir a operacionalização da elaboração do PMSB. “Vale reforçar que o Comitê, como um dos maiores incentivadores e executores de planos de saneamento, trabalha para que os municípios tenham em mãos o documento que lhes garante um crescimento de modo ordenado e sustentável, respeitando nossos recursos naturais, nossa bacia do São Francisco”, afirmou o secretário da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Almacks Luiz. Já na fase de diagnóstico, nas próximas semanas as equipes de engenharia e mobilização social devem retornar às cidades para visitas de campo. Nesta etapa são recolhidos informações e documentos que subsidiam o levantamento da atual situação de cada município. “Estamos felizes por termos sido contemplados com a elaboração do plano e já ansiosos para receber as equipes que estarão na cidade para conhecer as particularidades de cada localidade do nosso município”, concluiu o prefeito de Itacuruba, Bernardo Maniçoba.
GT de Afrânio Ainda durante a última semana, a Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE), empresa contratada para elaboração dos PMSBs das cidades de Umburanas, Ourolândia, Campo Formoso, Sobradinho, na Bahia, e Dormentes, Afrânio, Santa Filomena, em Pernambuco, também realizou a capacitação do GT de Afrânio. A reunião, feita através de videoconferência, ainda apresentou dados preliminares do município sobre os eixos previstos pela Lei de Saneamento: abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e drenagem de águas pluviais. Ao todo, para construção do PMSB, serão executadas seis etapas. Após cumprir a primeira fase com o produto 1, correspondente ao Plano de Trabalho, Programa de Mobilização Social e Programa de Comunicação do PMSB, as empresas entram na segunda fase que é a elaboração do segundo produto: o Diagnóstico da Situação do Saneamento Básico. As próximas etapas serão os produtos 3 (Prognóstico, Programas, projetos e Ações) produto 4 (Mecanismos e Procedimentos para Avaliação Sistemática do PMSB e Ações para Emergências e Contingências), produto 5 (Termo de Referência para a Elaboração do Sistema de Informações Municipal de Saneamento Básico) e o último produto 6, que é o Relatório Final do PMSB – Documento Síntese.
As mulheres que lutam para proteger o Velho Chico Texto: Luiza Baggio / Fotos: Manuela Cavadas e Miguel Aun Mais que uma data de comemoração, o Dia Internacional da Mulher (08 de março), é marcado pela luta, reivindicações de direitos e, principalmente, por uma forma de pensar socialmente justa para todos. Ainda que a realidade esteja longe do almejado, as mulheres vêm protagonizando um cenário de empoderamento em diversas áreas. A participação nas principais lideranças está se tornando cada vez mais comum e essa luta por espaço na sociedade perpassa, também, outras importantes discussões como a defesa do meio ambiente. No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) por meio de quatro mulheres guerreiras, homenageia todas aquelas que contribuem para a preservação ambiental, conscientização social e manutenção da quantidade e qualidade das águas da bacia do São Francisco e de seus afluentes. A pescadora que vive do São Francisco Fundadora e presidente da Colônia de Pescadores Artesanais e Aquicultores da Z34, localizada em Barra do Guaicuí, no encontro do Rio das Velhas com o São Francisco, Vilma Martins Veloso mora na beira do rio desde criança. Sua colônia possui 110 pescadores. Ela é membro do CBHSF e uma das mulheres que preserva e luta por um rio com águas de qualidade e em quantidade. “Conquistamos cada vez mais espaço em todas as áreas e a nossa relação com o meio ambiente é forte, principalmente nas questões que envolvem a sustentabilidade e a preservação”, disse. Vilma Martins ingressou no CBHSF em 2016. “Sempre lutei em prol do meio ambiente! Minha luta pelo Velho Chico começou quando percebi os impactos que a degradação tem causado. Ingressei no Comitê quando o presidente da Federação dos Pescadores, o Raimundo, me convidou para representar a pesca no colegiado. Nós pescadores temos sofrido com a diminuição dos peixes e podemos, assim como os vazanteiros, ficar sem o nosso sustento. Preservar o meio ambiente é tarefa de todos e nós mulheres temos ido à luta”. Uma advogada apaixonada pelo Velho Chico A advogada Larissa Cayres é natural de Salvador e atualmente ocupa a função de especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA). Sua paixão pelo São Francisco teve início em 1998, quando
ainda cursava a faculdade de Direito. “Assisti a uma palestra do professor Paulo Afonso Machado sobre Direito Ambiental e foi quando eu me encontrei. Tive certeza de que a luta pelo meio ambiente era o meu caminho. Formei e fui trabalhar no IBAMA. Em 2003, época em que teve início a mobilização para a criação do CBHSF, fui trabalhar na Secretaria de Meio Ambiente da Bahia e, por uma ironia do destino, minha primeira função foi a acompanhar as ações do Comitê. Daí nasceu uma verdadeira relação de amor”, conta. Larissa Cayres comenta que o Velho Chico faz parte do seu dia a dia. “A história, cultura e as pessoas da bacia do São Francisco me conquistaram e me encheram de esperança em poder construir um mundo melhor. O CBHSF é uma escola que transforma a vida das pessoas. Poder contribuir para a bacia como um todo e para o meu estado é satisfatório. Atuo no São Francisco há quase 20 anos e a minha inspiração é poder transformar a bacia em algo melhor, buscando diminuir a degradação ambiental e promover um resgate da cultura dos ribeirinhos”.
“Preservar o meio ambiente é tarefa de todos e nós mulheres temos ido à luta” - Vilma Martins
“Poder contribuir para a bacia como um todo e para o meu estado é satisfatório” - Larissa Cayres
“Na minha opinião, não importa se é homem ou mulher, a posição do ser humano deve ser de proteger o meio ambiente” - Yvonilde Medeiros
A professora e pesquisadora da bacia do São Francisco Renomada pesquisadora da área de recursos hídricos do país, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Yvonilde Medeiros, foi uma das fundadoras do CBHSF. Já desempenhou a função de secretária executiva, coordenadora, membro da diretoria colegiada entre outras funções no Comitê. Sempre atuante ela comenta sobre os desafios da mulher. “O que atrapalha a mulher na maioria das vezes é a dupla jornada. Conciliar o profissional com o doméstico é uma tarefa difícil. Como optei por não ter filhos essa não foi uma questão na minha vida”, diz. Mas reconhece que existe essa dificuldade. “Além disso, eu fui criada para ser uma mulher forte e conquistar os meus objetivos”. Para Yvonilde Medeiros a diferença de gênero não deve existir. “Formei em engenharia, um ambiente com predominância masculina. Mas, nunca sofri preconceito por ser mulher, sempre me impus e fui respeitada. Fui para a área de hidrologia por uma paixão científica pela água. Foi quando iniciei meus trabalhos no Rio São Francisco. O conhecimento científico me inspirou e me levou a lutar pelo meio ambiente. A importância da vida está na água! Na minha opinião, não importa se é homem ou mulher, a posição do ser humano deve ser de proteger o meio ambiente. Vivemos no planeta Terra, tudo que tem nele é nosso e, por isso, nossa obrigação deve ser preservá-lo! ”, esclareceu.
“Somos vistas como o sexo frágil, mas quem deve decidir o que podemos e queremos fazer somos nós mulheres” - Rosa Cecília
A representante da sociedade civil que luta pelos recursos hídricos Formada em Ciências Biológica e com especialização em Educação Ambiental, Rosa Cecília Santos é representante da ONG OSCATMA, no CBHSF. Nascida e criada em Capela (SE), integra outros colegiados do estado de Sergipe e acredita que a preservação do meio ambiente é uma luta que as mulheres abraçaram. “Somos vistas como o sexo frágil, mas quem deve decidir o que podemos e queremos fazer somos nós mulheres. Preservar o meio ambiente é dever de todos e nós mulheres abraçamos essa causa com orgulho. Em toda a minha vida me envolvi com o meio ambiente. Dentro do CBHSF eu acompanho todas as ações realizadas pela CCR Baixo [Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco]. É muito gratificante ver as ações do Comitê serem executadas e levarem melhorias para a população da bacia”, afirmou.
Ouça o podcast em https://bit.ly/2OiyPnl ou escaneie o QR Code ao lado
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Dois
Sandra Andrade
dedos de
prosa
Entrevista: Luiza Baggio
Foto: Miguel Aun
Sandra Maria da Silva Andrade é mineira, quilombola da Comunidade Carrapatos da Tabatinga, localizada no município de Bom Despacho (MG). Tem mais de 40 anos de ativismo na causa quilombola e é uma das fundadoras da “N’agolo - Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais. Ela representa as mulheres negras rurais e mais de 800 comunidades quilombolas de Minas, pelos direitos dos povos tradicionais à cultura e ao território. Atualmente é coordenadora executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Sandra é filha de Xangô e de Dona Sebastiana Geralda, a reconhecida Mãe Tiana, importante liderança política e espiritual entre o povo quilombola. Com a força da ancestralidade, sob o toque dos tambores, Sandra representa a luta por esses direitos, por justiça social, ambiental e territorial. E em comemoração ao mês da mulher nos conta um pouco de sua luta. Como líder dos quilombolas e uma mulher que luta pelos seus direitos, na sua opinião, qual é o papel da mulher na defesa e preservação do meio ambiente? O papel da mulher na sociedade hoje é diverso. Antigamente elas eram educadas para exercer a função de dona de casa, esposa e mãe. Mas
passou a ser algo extremamente importante na sociedade atual, onde exercem cada vez mais um protagonismo, embora ainda sofram com as heranças históricas do sistema social. Hoje as mulheres cuidam do sagrado, do meio ambiente, da cultura, da agricultura e são essenciais na conscientização dentro das comunidades sobre a preservação ambiental.
gressar no CBHSF. O que me motivou foi ver o rio São Francisco pedindo socorro. Vi o rio sofrer grandes degradações e as comunidades perderem o benefício da água. O meu quilombo fica na beirada do São Francisco e mesmo assim o meu povo começou a passar sede. Fiquei muito tocada e senti que precisava lutar pelos nossos direitos e pela preservação do Velho Chico.
Quais são os maiores desafios para a garantia dos direitos das mulheres quilombolas no Brasil hoje e como vocês os estão enfrentando?
Ingressei no CBHSF por meio da CONAQ [Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas] para representar e proteger os direitos dos quilombolas. Os primeiros a fazerem parte do colegiado foram os quilombolas Cláudio e o Joãozinho. Eles começaram a nossa luta dentro do Comitê. Hoje sou eu que dou continuidade para que os quilombolas tenham voz e lutem pela defesa da bacia do São Francisco.
O principal desafio das mulheres quilombolas no Brasil hoje é o reconhecimento governamental, da sociedade e dentro das comunidades. Infelizmente o machismo ainda impera. As mulheres sempre estiveram à frente de todas as lutas, mas nunca o reconhecimento. Dentro das comunidades o machismo é enorme! Nossa luta como mulher é pelo reconhecimento e representatividade e de ocupar qualquer lugar que nos for de direito e que quisermos. Para mudar essa realidade temos ido à luta! Nós mulheres quilombolas estamos nós projetando nas redes sociais, divulgando as nossas ações, lutas e feitos. Quem tem que falar por nos somos nós mesmas. As mulheres, depois de Deus, representam a vida, protegem e lutam para manter a comunidade com dignidade. O que a levou a ingressar nas causas ambientais e no CBHSF?
travessia Presidente: Anivaldo de Miranda Pinto Vice-presidente: José Maciel Nunes Oliveira Secretário: Lessandro Gabriel da Costa
Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607
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Apoio Técnico
Sonho em ver o nosso Velho Chico revitalizado e preservado, voltando a dar esperança às famílias que há séculos vem preservando esta fonte de vida sempre disposta a enfrentar qualquer ameaça à sua existência. Pois, sem água, meio ambiente e território não existem as comunidades tradicionais. Somos os guardiões da preservação ambiental. O Velho Chico para nós além de água é alimento. Esperamos que ele volte a ser o rio de antigamente. Viva o Velho Chico que faz parte da nossa identidade, nossas raízes e existência!
Iniciei minha luta nas causas ambientais ao in-
Notícias do São Francisco
Comunicação
Qual é o seu sonho em relação ao Velho Chico?
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins Textos: Juciana Cavalcante, Luiza Baggio, Mariana Carvalho Fotos: Azael Góis, Bianca Aun, Juciana Cavalcante, Manuela Cavadas, Miguel Aun Diagramação: Rafael Bergo Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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