Travessia 55 – Novembro 2021 - Notícias do São Francisco

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travessia Notícias do São Francisco

JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / NOVEMBRO 2021 | Nº 55

Expedição Científica realiza estudos e leva assistência para comunidades ribeirinhas no Baixo São Francisco CBHSF doa Sistema de Captação de Água ao SAAE de Pirapora (MG)

Dois dedos de prosa com o secretário do CBHSF, Almacks Luiz. Confira!

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Editorial EM DEFESA DA POLÍTICA PÚBLICA DAS ÁGUAS! O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – (CBHSF), vem a público manifestar sua profunda estranheza e preocupação com os anúncios de fontes ligadas ao Ministério do Desenvolvimento Regional – MDR, dando conta do envio, nos próximos dias, de matéria legislativa a ser assinada pelo presidente da República estabelecendo aquilo que vem sendo chamado de novo “Marco Hídrico” para o Brasil. Patrocinado sobretudo pelo Ministério do Desenvolvimento Regional - MDR, o “Marco Hídrico” vem sendo elaborado de forma completamente alheia às instâncias que compõem o Sistema Nacional dos Recursos Hídricos, configurando um estilo de condução institucional hostil aos princípios basilares da política pública das águas brasileiras, dentre eles o princípio da gestão participativa, compartilhada e descentralizada dos recursos hídricos conforme os ditames da Lei 9.433, a Lei Nacional das Águas.

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populações ribeirinhas, povos tradicionais, membros do poder judiciário e parlamentares que se dedicam à temática das águas. Essas preocupações decorrem da expectativa inevitável de que vem por aí mais uma ofensiva de desmonte dos grandes consensos nacionais que, nas duas últimas décadas, foram construídos em torno da política nacional dos recursos hídricos. Dentre os anúncios feitos veladamente chamam a atenção sobretudo ideias esdrúxulas que sinalizam ataques ao princípio legal da água como um bem comum de todos os brasileiros e brasileiras, tais como terceirização e negociação de outorgas, privatização das funções de fiscalização do uso das águas e ataques aos princípios participativos da gestão hídrica através de mudanças que, dentre outras finalidades, pretendem transformar os comitês de bacias hidrográficas em colegiados apenas consultivos.

Aliás, ao deixar entrever para a mídia regional que o objetivo desse “Marco Hídrico” é promover mudanças normativas que supostamente irão “revolucionar a maneira como o brasileiro se relaciona com a água”, os anúncios feitos por porta-vozes do MDR suscitam vivas preocupações em toda a vasta comunidade de técnicos, gestores públicos, estudiosos, usuários das águas,

Articulada com essa ofensiva aos princípios legais, sobretudo aqueles inscritos na Lei Nacional das Águas, o “Marco Hídrico” também pretenderia operar mudanças nos normativos incidentes sobre obras hídricas para viabilizar, principalmente na região semiárida e nas bacias hidrográficas dos rios Tocantins, São Francisco e Parnaíba, sem qualquer processo de discussão com a sociedade, um pacotaço de novas transpo-

Vem aí o Circuito Penedo de Cinema!

De 22 a 28 de novembro a cidade de Penedo (AL) recebe a 11ª edição do Circuito Penedo de Cinema. O Circuito, composto por três festivais competitivos, mostras não-competitivas e pelo 11º Encontro de Cinema Alagoano, é uma realização do Instituto de Estudos Culturais, Políticos e Sociais do Homem Contemporâneo (IECPS), da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), com patrocínio do Comitê da Bacia Hidrográfica

sições de bacias, desvios de cursos d’água, barramentos e eixos de integração. Convicto de que legislações sempre podem ser aperfeiçoadas, de que investimentos em obras hídricas são sempre necessários e que os normativos da gestão pública sempre podem ser melhorados, o CBHSF adverte, no entanto, que promover essas ações de forma unilateral, sem aderência aos planos diretores de recursos hídricos, sem ampla consulta às populações a serem afetadas, aos entes do SNRH, aos comitês de bacias hidrográficas objeto das intervenções e aos Estados poderá reproduzir os mesmos erros, prejuízos absurdos e impasses que ainda hoje emperram o polêmico projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Ainda há tempo para que o Ministro Rogério Marinho repense essa inciativa equivocada e, ao invés desse “Marco Hídrico”, construa com a sociedade civil e os usuários das águas um ciclo virtuoso e amplamente democrático de aperfeiçoamento da legislação já consagrada das águas, de reforço e democratização das instâncias do SNRH e de investimentos em obras de fato prioritárias, sustentáveis e de interesse amplo da população.

José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF

do Rio São Francisco (CBHSF), da Prefeitura de Penedo e do Sebrae Alagoas. Não perca!!!

Ouça o Podcast da entrevista. Acesse: bit.ly/PodTrav113 ou escaneie o QR CODE ao lado.


CBH do Rio Grande e CBH do Rio Corrente aprovam Planos de Recursos Hídricos

Texto: Mariana Carvalho / Fotos: Kel Dourado

Os Comitês de Afluentes do Rio São Francisco, CBH do Rio Corrente e CBH do Rio Grande, aprovaram seus Planos de Recursos Hídricos, respectivamente, nos dias 31 de setembro e 5 de outubro, em reuniões plenárias realizadas através de videoconferência. O documento, também conhecido como Plano de Bacia, é inédito na história dos dois comitês e representa um importante avanço na gestão dos recursos hídricos das Bacias. No último dia 31, o CBH do Rio Grande, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA-BA) e o consórcio Águas do Oeste realizaram, através de plataforma virtual, a XXVI Reunião Plenária Extraordinária para apresentação do Plano de Recursos Hídricos e da Proposta de Enquadramento dos Corpos de Água da Bacia do Rio Grande. O encontro contou com a participação de 75 pessoas, entre representantes do poder público, sociedade civil e usuários em geral. Para o presidente do CBH do Rio Grande e secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Barreiras, Demósthenes Júnior, o Plano de Bacia e o Enquadramento dos Corpos de Águas são instrumentos que permitem ao Comitê, ao INEMA e aos demais componentes do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos gerirem os recursos hídricos superficiais e subterrâneos de modo a garantir os usos múltiplos de forma racional e sustentável. “Hoje vivemos um momento histórico pois concretizamos a elaboração desses dois instrumentos da Política Nacional de

Recursos Hídricos, aprovados pelo colegiado, com forte caráter democrático e participativo na sua elaboração. É a realização de um sonho que se iniciou desde a criação do Comitê em 2008. Agradecemos os esforços de todos envolvidos nessa luta”, disse Demósthenes. Na plenária foram apresentados e debatidos os produtos da fase diagnóstica e prognóstica do Plano de Bacia e sua Proposta de Enquadramento, com destaque para os tópicos de disponibilidade hídrica, demanda hídrica, balanço hídrico, uso e ocupação do solo e ações para enfrentar os problemas identificados. Ao término das contribuições, os membros do CBH do Rio Grande deliberaram sobre o documento com 13 votos a favor, 2 votos contrários e 2 abstenções e a Proposta de Enquadramento foi aprovada por unanimidade. Em 5 de outubro, o CBH do Rio Corrente promoveu reunião virtual com a presença de 56 pessoas, com integrantes da Codevasf, Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), Prefeituras Municipais, usuários da água, representantes de comunidades tradicionais e convidados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Ministério Público. A apresentação do Plano de Recursos Hídricos foi feita pelo consórcio de empresas contratado pelo INEMA, que irá disponibilizar o documento em seu site assim que forem concluídas as revisões finais. Larissa Caires, representante da Sema e também membro do CBH do Rio Grande,

acompanhou a elaboração de ambos os Planos de Bacia, e conta que todos os segmentos contribuíram no processo de construção dos planos e que a grande maioria das propostas foi acatada. “Os planos foram submetidos às Consultas Públicas e à avaliação da Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos dos comitês. Somente após parecer das CTPPP’s foram encaminhados para deliberação das Plenárias. Foram várias rodadas de consultas públicas com boa participação da sociedade em geral”, observou Caires. Os Planos de Recursos Hídricos têm horizonte temporal de 15 anos, mas seu processo de implementação prevê atualizações quando necessário. Sua finalidade é fundamentar e orientar a implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos, compatibilizando os aspectos quantitativos e qualitativos do uso das águas, de modo a assegurar as metas e os usos neles previstos, na área da bacia ou região hidrográfica considerada. Os planos combinam uma ampla análise das condições atuais, visão geral da bacia hidrográfica para detectar deficiências e potencialidades e projeções da realidade socioeconômica da região, possibilitando estabelecer um conjunto de ações de curto, médio e longo prazo para solucionar os problemas existentes e prevenir problemas futuros relacionados à água.

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Sistema de captação de água beneficia 60% da população de Pirapora (MG)

Sistema de captação de água de Pirapora (MG) é doado pelo CBHSF ao SAAE do município Texto: Luiza Baggio / Fotos: Luiza Baggio O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), José Maciel Nunes de Oliveira, assinou o termo para doação do sistema de captação de água de Pirapora (MG) ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município. A assinatura aconteceu na sede da Agência Peixe Vivo, em Belo Horizonte, no dia 15 de outubro. A obra, subsidiada pelo Comitê com os recursos provenientes da cobrança pelo uso da água na bacia do Rio São Francisco, e o projeto executivo de responsabilidade da Agência Peixe Vivo, também responsável pela administração dos recursos do CBHSF, custou R$ 3 milhões. O novo sistema fica localizado no Distrito Industrial e atenderá a população da parte alta da cidade de Pirapora - aproximadamente 36 mil pessoas - e as empresas instaladas na região. De acordo com o diretor do SAAE de Pirapora, Bruno Santos Guimarães, o novo sistema permitirá dobrar a captação de água. “Esse sistema é um projeto importante para o município, pois possibilitará uma melhora significativa no abastecimento da população de Pirapora. Atualmente o SAAE capta 150 l/s para abastecer a população e o novo sistema nos permitirá aumentar para 300 l/s”, esclareceu. O presidente do CBHSF, afirmou que a captação de água de Pirapora vai levar qualidade de vida para a população. “A capta4

ção foi um investimento feito pelo CBHSF em Pirapora que vai melhorar a qualidade da água em toda a bacia do São Francisco, além de melhorar a qualidade de vida da população de Pirapora. É com grande satisfação que aplicamos o recurso da cobrança em projetos como esse”, disse Maciel Oliveira. O CBHSF entregou a Captação Água II ao SAAE de Pirapora em outubro de 2020.

de Tratamento de Água II (ETA), para tratamento e distribuição”.

Reivindicação antiga O sistema era uma reivindicação antiga do município e do SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Pirapora. Em agosto de 2018 o SAAE-Pirapora procurou o CBHSF e demostrou preocupação com as reduções de vazões que estavam acontecendo do rio São Francisco e, diante da diminuição do nível de água, apresentou o projeto da nova captação, que iria beneficiar 60% da população do município. O Comitê prontamente aprovou a demanda do SAAE e, em outubro de 2018, foi assinado um Termo de Cooperação Técnica na cidade de Pirapora. Em meados de janeiro, a autarquia repassou à Agência Peixe Vivo o projeto executivo dessa obra, que consistiu na implantação de uma captação flutuante no rio, no Distrito Industrial do município e a construção de uma adutora de aproximadamente um quilômetro, que leva água bruta até a Estação.

Presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, assina termo de doação do sistema de captação de água para o município de Pirapora

Membros da Direc e da Agência Peixe Vivo na solenidade de assinatura do termo de doação


Termo de referência é apresentado para elaboração de projeto de requalificação ambiental em Curaçá (BA) Texto: Juciana Cavalcante / Fotos: Manuela Cavadas Resultado da seleção realizada através do Edital de Chamamento Público nº 01/2018 publicado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) com o objetivo de receber demandas espontâneas para a seleção de propostas de projetos relativos à Biodiversidade e Requalificação Ambiental concernente ao Plano de Recursos Hídricos da Bacia (PRH-SF), foi apresentado, no dia 07 de outubro, o Termo de Referência de elaboração do projeto de Revitalização da Microbacia do Riacho Mocambo e Afluentes, no município de Curaçá (BA). De acordo com o documento, elaborado pela ASL Consultoria, projetos e serviços LTDA, empresa contratada pelo CBHSF através da Agência Peixe Vivo, a obra a ser realizada no município deve contribuir para a perenização de riachos e promover a recuperação de áreas degradadas e ameaçadas pela desertificação. Para isso, será necessário recuperar três áreas comunitárias de cinco hectares degradadas, construir barramentos dentro dos riachos e passagens molhadas, delimitar e construir passagens molhadas, recuperar reservatórios de água dentro de riacho (cacimbas de bogó), além de mobilizar a comunidade local para a conservação hidroambiental da microbacia e fortalecer a Comissão de Microbacia Mocambo. As intervenções consistem em construir barragens de pedras sucessivas que podem contribuir para retenção de sedimentos no leito do rio e auxiliar no armazenamento de água, barreiros, trincheira para armazenar a água da chuva, barragens de

Sertão nordestino sofre com a pouca oferta hídrica

pedra argamassada a montante das cacimbas, passagens molhadas nas estradas que cruzam os afluentes e cercamento de três áreas comunitárias, destinadas à restauração florestal. Como o documento ainda receberá contribuições até a entrega da sua versão final, o secretário da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Abelardo Montenegro, sugeriu incluir ações que visem também eliminar a erosão. “O estudo foi bem detalhamento e apresentado. Sugeri apenas, considerando o grande desafio que é a erosão laminar, silenciosa, que assoreia corpos hídricos e estruturas existentes recebendo carga de sedimentos e forte carreamento, o investimento para recomposição mínima da mata ciliar, área de proteção de vegetação em locais estratégicos. Pode começar como ação demonstrativa em uma área pequena selecionada visando ainda a educação ambiental através de oficinas para que, depois, os próprios moradores repliquem a ideia”, destacou. As contribuições para o documento serão enviadas para a Agência Peixe Vivo e o documento será revisado para entrega do último produto. Após este procedimento será aberta licitação para contratação de empresa especializada para execução dos serviços. Projetos de Requalificação Ambiental Os projetos de recuperação hidroambiental realizados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco surgiram de reivindicações comunitárias que viviam

com graves problemas de degradação do rio. As intervenções têm caráter demonstrativo, com foco em micro ou pequenas bacias e visam controlar a erosão e proteger as nascentes, promovendo a melhoria hidroambiental. As ações realizadas consistem em proteção de nascente e áreas de proteção permanente, conservação de solo, restauração florestal, recuperação de áreas degradadas, entre outros. Ao todo, de 2016 até julho de 2021, foram concluídos 81 projetos de requalificação ambiental, outros nove estão em elaboração e oito em execução, totalizando um investimento de mais de R$ 30 milhões. Entre ações executadas desde 2016, o CBHSF beneficiou oito mil bacias de captação (barraginhas) implantadas, 300 km de terraços, 400 km de cerca instalados e 50 mil mudas de espécies nativas plantadas e mantidas. As ações são financiadas com recursos provenientes do uso das águas do São Francisco. “Aqui no sertão temos vários problemas com a oferta hídrica, então o Comitê busca aplicar recursos na construção de projetos demonstrativos que visam soluções técnicas, com alternativas de conservação e manutenção da água, ou seja, o objetivo é guardar a água e fazer um trabalho de recuperação hidroambiental para melhorar a quantidade e a qualidade da água”, concluiu o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar.

Cláudio Ademar, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco

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Piranhas - AL

Em sua 4ª edição, a Expedição Científica do Baixo São Francisco realizou, em novembro, mais uma jornada de pesquisas Texto: Deisy Nascimento e Juciana Cavalcante / Fotos: Edson Oliveira Desta vez, 66 pesquisadores de todo país irão realizaram pesquisas em 35 áreas que abrangem desde a análise da água, da fauna, da flora, até das condições socioeconômicas das comunidades ribeirinhas. A intenção é gerar um relatório que servirá como base para a cobrança, junto aos órgãos públicos, de políticas que visem a melhoria das condições hidrológicas do rio São Francisco e daqueles que estão em contato direto com ele. A expedição começou em Piranhas e vai passar por Pão de Açúcar, Traipu, São Braz, Propriá, Igreja Nova, Neópolis, Penedo, Brejo Grande e Piaçabuçu, e conta dois barcos laboratórios e com o apoio de cinco lanchas. O programa surgiu com o objetivo de bioprospectar, conhecer e divulgar a situação do Baixo Rio São Francisco, observando aspectos sociais das comunidades ribeirinhas, comunidades de pescadores, situação da pesca, além de identificar os impactos e a qualidade da água do rio, ictiofauna, problemas ocasionados pelo represamento, assoreamento, desmatamento, avaliar os poluentes presentes no ambiente aquático e 6

uso de agrotóxicos, os efeitos da cunha salina, que ocorre a partir da redução da vazão de do rio, sobre as comunidades ribeirinhas e o ambiente, e ainda propor ações mitigadoras através de programas de educação ambiental. Iniciativa da Universidade Federal de Alagoas, a Expedição conta com o apoio financeiro do CBHSF. O presidente do Comitê, Maciel Oliveira, falou do orgulho que é fazer parte de um Comitê que apoia a produção científica e que a Expedição é uma das melhores e maiores apostas dos últimos anos. “Nós precisamos de conhecimento científico, de informações técnicas, concretas acerca do rio São Francisco e a Expedição Científica tem construído isso com suas pesquisas. Essa é a maior expedição científica do Brasil e nós teremos, mais uma vez, informações valiosas que serão obtidas pelos pesquisadores durante estes dez dias, para a produção e a cobrança de políticas públicas, em especial na busca por melhoria da qualidade da água do rio São Francisco e também da vida do seu povo. O Comitê aposta muito na expedição e inclusive colo-

cará este grande projeto no próximo Planejamento Orçamentário Anual, para que em 2022 ela ocorra não só no baixo, mas também nas outras regiões da bacia”. O coordenador e idealizador da Expedição Científica, o professor da UFAL Emerson Soares, revelou que este ano o evento contou com a cooperação de todas as prefeituras do Baixo São Francisco nas áreas de saúde e de meio ambiente. “Essa edição conta com oito financiadores, entre os quais o CBHSF, que é o nosso grande patrocinador e que acreditou nessa proposta desde o princípio. Acreditamos nessa parceria e em somar esforços em defesa do Velho Chico e esse trabalho em conjunto trará ações mais robustas e efetivas em prol da qualidade ambiental do rio”. A pesquisa não termina quando finda a expedição. Os pesquisadores trabalharão ainda durante seis meses em laboratório, realizando análises e comparando dados. As ações nas comunidades também serão continuadas. “Continuaremos com as ações nas colônias de pescadores, junto às prefeituras, secretarias de meio ambiente e


As pesquisas buscam identificar os impactos da qualidade da água na ictiofauna

educação, para implementar um modelo de educação ambiental que chegue às crianças e aos adolescentes e que consigamos replicar esse trabalho para toda região. Nossa expectativa é levar a expedição para outras regiões do Velho Chico para que a bacia toda seja contemplada com a pesquisa”, disse Emerson. CCRs do Submédio e Médio São Francisco devem replicar a Expedição em 2022 As Câmaras Consultivas Regionais do Submédio e Médio São Francisco deram o primeiro passo para construir as estruturas e alinhamentos necessários para replicar nestas regiões a Expedição do São Francisco, ação que acontece há quatro anos na região do Baixo. A Expedição do Baixo São Francisco tem atingindo resultados e, por isso, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, um dos investidores e incentivadores do programa, quer ampliar a ação levando para as demais regiões da bacia. De acordo com o coordenador da CCR Submédio, Cláudio Ademar, os trabalhos para replicar o programa se iniciam agora para que, em 2022, a expedição possa ser realizada. “Estamos dando o primeiro passo para que em 2022 a Expedição Científica aconteça. O programa tem se mostrado extremamente eficiente gerando dados que possibilitam a realização de ações por qualquer ente. Esse primeiro momento serve para ouvir a experiência das expedições desde o início, o diagnóstico e a evolução. A ideia é conhecer um pouco, reunindo pessoas estratégicas do Médio e Submédio com interesse direto em fazer este programa obter resultados importantes para a bacia”, afirmou.

As Expedições Científicas no Baixo São Francisco se iniciaram em 2018, com duração de cinco dias, reunindo aproximadamente 40 pesquisadores de temáticas diversas, entre elas educação ambiental, pesca, socioeconomia, ictiofauna, análise de água e de metais pesados, assoreamento. A Expedição passou por cinco municípios do Baixo São Francisco (Traipu, Porto Real do Colégio, Igreja Nova, Penedo e Piaçabuçu), e como resultado do estudo foi publicado um diagnóstico referente a 2018, e em junho de 2019 a publicação de um artigo científico sobre os dados desta primeira edição. Em 2019, a II Expedição Científica, realizada em 10 dias, contou com 50 pesquisadores e técnicos de 16 instituições, atuando nos municípios de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu, Porto Real do Colégio, Propriá, Igreja Nova, Penedo, Neopólis, Piaçabuçu e foz do São Francisco. Em 2020 o trabalho foi realizado com 53 pesquisadores em 30 áreas de pesquisa. Neste ano, o programa acontecerá no final de outubro avaliando 35 áreas de pesquisa. “É um processo que demanda muito trabalho, mas que dá muito resultado”, esclareceu o professor Emerson. O Secretário da CCR Submédio, Abelardo Montenegro, também professor e pesquisador da UFRPE, destacou a importância da mobilização de pesquisadores que possam contribuir com a bacia do São Francisco. “É essencial, neste processo, a mobilização para que os pesquisadores estejam juntos e possamos contribuir aqui na região do Médio e Submédio atingindo resultados tão expressivos e de interesse como já tem acontecido no Baixo”, concluiu.

Coordenador e secretário da CCR Submédio, Cláudio Ademar e Abelardo Montenegro, pretendem ampliar expedição para a região

Uma das ações da expedição foi o peixamento de alevinos. Na foto, a gerente de Integração da APV, Rúbia Mansur, e o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira

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Dois

da Bacia, não só da calha do rio, mas também das 34 sub-bacias e principalmente com aquele povo que vive no anonimato, nos invisíveis da Bacia, a população difusa, aqueles que às vezes estão tão próximos de um canal de transposição e dos diversos outros canais para irrigação e não foram contemplados com a água do São Francisco. Quanto às questões nas flexibilizações das leis federais para os Conselhos, das leis estaduais, vamos dialogar e provar que se for seguir esse script como os governos têm pensado, não vamos fechar a conta para termos água em quantidade e qualidade para os usos múltiplos.

dedos de

prosa Almacks Luiz

Este ano o CBHSF completou 20 anos de existência, e você sempre fez parte do colegiado desde o início desta construção. Como avalia a trajetória de um comitê tão grande e com tantos problemas na bacia a serem pautados? Faço parte há mais de 20 anos, desde o início, ainda quando o comitê era provisório. Foi uma trajetória meteórica. Outros comitês já estavam instalados e em bem pouco tempo o Comitê do São Francisco passou a ser a vanguarda dos comitês do Brasil, sem querer desmerecer os demais, referindo-me ao potencial desse comitê e pelo valor arrecadado anualmente. É a maior arrecadação dos comitês federais pela sua atualizadíssima metodologia de cobrança, dando “descontos” ao usuário que passa a ter eficiência em seus processos de captação e emprego desse bem coletivo que é água. Inclusive esse “desconto” serve para as empresas de saneamento, para os Serviços Autônomos de Água e Esgoto (SAAE) de toda bacia quando diminuem a perda em seu processo.

Com uma larga experiência em questões ambientais, Almacks Luiz Silva foi eleito para a Diretoria Executiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, mandato 2021/2025, e assumiu a missão de ser o novo secretário da Direc. Tecnólogo em Gestão Ambiental com especialização em Gestão de Bacias Hidrográficas e Saneamento Básico, Almacks já foi presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre por seis anos e na última gestão do CBHSF esteve como Secretário da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco e membro do Grupo de Acompanhamento do Contrato de Gestão. É também membro da Câmara Técnica de Segurança de Barragens do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Este ano, você foi eleito secretário da diretoria executiva. Quais são os desafios de uma nova gestão, que assume em um momento com sérias questões no país, passando pelas mudanças nas políticas ambientais até as decisões do setor energético que podem gerar uma nova crise hídrica na bacia do São Francisco? O nosso desafio é implantar uma administração 2021/2025 que dialogue com o povo

Texto: Juciana Cavalcante Foto: Bianca Aun

Ouça o Podcast dos membros da Direc. Acesse: bit.ly/PodTrav110 ou escaneie o QR CODE ao lado.

travessia Notícias do São Francisco

Presidente: José Maciel Nunes Oliveira Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano Secretário: Almacks Luiz Silva

Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607

Comunicação

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Apoio Técnico

Quais são as perspectivas em termos de articulação e defesa do CBHSF para os próximos anos? Implantar o verdadeiro e único Pacto das Águas que foi iniciado na gestão do presidente anterior, Anivaldo Miranda, e, sem dúvida, acender a discussão da real necessidade de revitalização na Bacia. Não a revitalização política - em época de eleição usam, como pano de fundo, o Rio São Francisco e na realidade não revitalizam de fato e de direito. Mas sim a revitalização respeitando o Rio como um Sujeito de Direito. Como a Direc pretende dar continuidade aos diálogos com as Câmaras Consultivas Regionais, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho que são os braços do CBHSF nas quatro regiões da bacia e os locais de discussões profundas sobre os principais problemas vivenciados pelas comunidades? Já devíamos ter implantado o tão sonhado Comitê de Integração, porém essa discussão precisa ser absorvida pela Câmaras Consultivas Regionais que em sua formação tem um membro de cada Comitê afluente, trazendo o seu respectivo estado, via órgão gestor, para um entrelaçamento maior, porque rio não separa, rio une. E as CCRs, as Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho, principalmente a Câmara Técnica de Articulação Institucional – CTAI, que tem em sua composição um membro de cada uma das sete unidades da federação que compõem a Bacia do São Francisco, tem esse desafio com a Diretoria Colegiada, para essa nova era no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins Textos: Deisy Nascimento, Juciana Cavalcante, Luiza Baggio, Mariana Carvalho e Mariana Martins Fotos: Bianaca Aun, Edson Oliveira, Kel Dourado, Léo Boi, Luiza Baggio e Manuela Cavadas Diagramação: Rafael Bergo Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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