travessia Notícias do São Francisco
JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / MARÇO 2022 | Nº 59
Canal do Sertão alagoano: CBHSF busca parcerias para complementar estudos do modelo de gestão Município de Alagoas recebe viveiro de mudas
Mais 12 cidades da bacia são contempladas com PMSBs
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Editorial Março: mês das águas e das mulheres No dia 22 de março comemoramos o Dia Mundial da Água, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de colocar em pauta questões essenciais que envolvem os recursos hídricos. No mesmo mês, comemora-se o Dia Internacional da Mulher, um dia para se refletir sobre a desigualdade de gênero e celebrar a luta por direitos, uma luta que está longe de chegar ao seu fim. As duas agendas podem e devem ser trabalhadas juntas. O CBHSF tem, entre seus membros, mulheres que lutam pelos seus direitos, pelo direito ao acesso à água e em defesa do meio ambiente. De acordo com a ONU, são as mulheres as mais prejudicadas pela falta de água e saneamento básico em regiões sem infraestrutura e com gestão ineficiente de recursos hídricos. Seja na imagem da mulher com a lata d’água na cabeça, no trabalho das lavadeiras do rio São Francisco ou no cuidado para evitar o desperdício, atribui-se às mulheres papel central na proteção e gestão da água. Como uma espécie de matéria essencial para a vida doméstica, costuma-se dizer que essa é uma das tarefas do feminino: a atenção de um recurso tão necessário. Infelizmente, a preocupação com os recursos hídricos, que deveria fazer parte do cotidiano das pessoas, vem tardia, como forma de desespero quando é decretada, por exemplo, uma situação de crise hídrica ou fase de escassez. Por isso, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco tem buscado, com os poucos recursos disponíveis, intervir no saneamento básico, investindo em Planos Municipais de Saneamento Básico para os municípios da bacia. Em fevereiro foram entregues mais 12 planos, nas regiões do Alto e do Baixo São Francisco, conforme destacado nessa edição. O CBHSF está financiando também a execução do modelo de gestão do Canal do Sertão alagoano, uma das maiores obras de infraestrutura hídrica da região, que prevê como devem ser geridos os múltiplos usos da água. Ainda nesta edição, Eduardo Lanna, consultor na área de recursos hídricos nos concede entrevista em que fala da importância da água e de sua preservação. Boa leitura!
IV Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco O Fórum de Pesquisadores de Instituições de Ensino Superior da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – (CBHSF) promovem, nos dias 14 a 16 de setembro de 2022, o IV Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – IV SBHSF.
As submissões de artigos vão até o dia 16 de maio e as inscrições para participar estão abertas! Acesse o site https://sbhsf.com.br/ e veja todas as informações sobre o simpósio.
IV SIMPÓSIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO
GESTÃO HÍDRICA NO RIO SÃO FRANCISCO: DESAFIOS E SOLUÇÕES
14 a 16 SET 2022 em Belo Horizonte - MG
Período de submissão de trabalhos: 10 de janeiro a 16 de maio Acesse www.sbhsf.com.br e se inscreva!
FÓRUM DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO
José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF 2
Santana de Ipanema (AL) é contemplada com viveiro de mudas Texto e fotos: Deisy Nascimento Foi entregue, no dia 10 de fevereiro, o viveiro florestal de produção de mudas em Santana do Ipanema, município localizado no Sertão alagoano. O viveiro será irrigado com sistema de reuso da água tratada na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Este é um dos projetos de requalificação ambiental realizado no Baixo São Francisco, financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), e que conta com o apoio técnico da Agência Peixe Vivo (APV), e a parceria da Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL. A empresa responsável pela sua execução é a LOCALMAQ, contratada através de licitação pela APV. Para o engenheiro agrônomo Paulo Sérgio, representante da Agência Peixe Vivo, é importante focar na continuidade do projeto. “Toda entrega de projeto é motivo de comemoração. Agora é pensar em sua manutenção e fazer com que ele dê frutos. Esse é o principal objetivo”. O representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Santana do Ipanema, Fábio Leite, disse já visualizar os benefícios da ação. “Um projeto deste tamanho vai beneficiar, e muito, o meio ambiente. A prefeitura está à disposição e quer dar continuidade a ele”. “O viveiro é muito importante para a comunidade e toda a região. Que ele sirva de exemplo para novas ações, pois é a concretização de um sonho”, pontuou a representante da CASAL, Valeska Cavalcante. O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, comemorou a concretização do projeto. “É uma grande emoção, principalmente nos tempos atuais, onde o meio ambiente vem sendo destruído, desvalorizado. Poder colaborar para o desenvolvimento de ações que visam a melhoria do meio ambiente é uma grande vitória para nós do Comitê. Tratamos o Comitê como política pública e não partidária. Nossa equipe está alinhada e investiu nos últimos anos em projetos importantes, inclusive junto a CASAL, que é grande parceira”. Oliveira ainda disse se sentir orgulhoso de fazer parte dessa história e trajetória do CBHSF: “Queremos muito o viveiro, mas pensamos também no pós. Estamos fazendo a primeira etapa com a sua construção e a capacitação da comunidade rural. Entretanto, precisamos prosseguir com dedicação para que ele seja referência. O Comitê está aqui para mostrar que com o valor da cobrança pelo uso da água há como investir em projetos ambientais”, finalizou.
Visita técnica ao viveiro
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Canal do Sertão alagoano: CBHSF e pesquisadores da UFAL discutem modelo de gestão Texto: Deisy Nascimento O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e o coordenador do Baixo São Francisco, Maciel Oliveira e Anivaldo Miranda, se reuniram com o reitor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Josealdo Tonholo, e com pesquisadores da instituição e representantes da empresa HIDROBR, para tratar do modelo de gestão do Canal do Sertão. O encontro aconteceu no dia 02 de fevereiro, em Maceió (AL). O consultor da HIDROBR, – empresa contratada pela Agência Peixe Vivo através de licitação - Rodrigo Flecha, informou, durante a reunião, que a UFAL vai avaliar a possibilidade de apresentar uma proposta sobre dois aspectos: o de capacitação e treinamento para os produtores rurais, sobretudo os pequenos, e o zoneamento das áreas potencialmente irrigáveis. O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, destacou os avanços da proposição. Segundo ele, “apesar do canal estar posto, a sua gestão é um tema extremamente complexo, até porque envolve não só o Governo, mas a comunidade, particularmente os usuários que por vezes são desprovidos de representação, a exemplo da agricultura familiar”. Outro ponto discutido na reunião foi a falta de um mapeamento dos solos que seja compatível com o planejamento do modelo de gestão. Em relação ao assunto, Tonholo disse que “a UFAL tem competência técnica para ajudar no estudo, mas não pode
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assumir o compromisso individualmente porque o custo operacional é elevado e não há orçamento para isso. Sem o mapa de solo, não há como avançar no modelo de gestão. Então é fundamental que se foque na contratação de serviços que permitam fazer o diagnóstico da margem do Canal do Sertão, bem como de seu entorno, para que tenhamos uma ideia de quais terrenos devem ser utilizados na agricultura familiar, plantation, hidroponia, entre outros. Daí, poderemos ter um planejamento adequado da quantidade de água e onde ela tem que ser revertida”. Anivaldo Miranda, coordenador da CCR Baixo São Francisco do CBHSF, explicou que o modelo de gestão do Canal do Sertão alagoano faz parte de um esforço que o CBHSF está fazendo para criar uma aliança institucional envolvendo a academia, os municípios, os conselhos profissionais e outras representações da sociedade, inclusive de usuários das águas e outros segmentos da sociedade civil, no sentido de dar continuidade, depois da conclusão do modelo de gestão do Canal do Sertão, a outras tarefas que serão necessárias para que o modelo possa ter plena vigência. “Dentre essas tarefas está a intenção de complementar estudos, por exemplo, sobre as características da natureza e qualidade dos solos, as melhores culturas a serem implantadas nas manchas de solos férteis, parcerias no intuito de ampliar a
capacitação dos irrigantes no uso racional da água. O Comitê também tem uma segunda preocupação na construção dessa ampla aliança para que o modelo não seja futuramente engavetado, ou seja, é necessário que de fato o Canal do Sertão possa ter esse modelo porque ele será um instrumento fundamental para a gestão do próprio canal. Foram feitos diversos investimentos em obras físicas, mas praticamente nada se investiu em um modelo de gestão eficaz. O encontro com a universidade tem essa importância, já que pode emprestar sua inteligência e o Comitê financiará estudos e pesquisas”, afirmou o coordenador. O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, reforça que é importante ficar de olho no que já está sendo cumprido por parte do Comitê com o Governo de Alagoas. “O Estado de Alagoas é o mais privilegiado neste momento com relação a projetos e ações feitas pelo Comitê. Não estamos fechando portas, mas precisaremos segurar um pouco. Cobraremos para que os investimentos feitos pelo CBHSF saiam do papel e precisaremos do apoio da UFAL, da HIDROBR. Irei participar de todas as ações futuras e ficar ainda mais por dentro dos próximos passos que serão realizados de forma planejada. O Governo de Alagoas tem suas responsabilidades também e precisa cumpri-las”, finalizou.
Municípios das regiões do Alto e do Baixo SF recebem PMSBs Texto e fotos: Arthur de Viveiros e Deisy Nascimento No mês de fevereiro, 12 municípios das regiões do Alto e do Baixo São Francisco foram contemplados com Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) financiados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. No Alto SF, receberam seus planos início da tarde desta terça-feira (22), seis municípios do Alto São Francisco receberam seus planos os municípios de Martinho Campos, Bambuí, Diamantina, Japaraíba, Moeda e Santa Rosa da Serra, todos localizados em Minas Gerais. No Baixo, os municípios contemplados foram Poço das Trincheiras (AL), São José da Tapera (AL), Senador Rui Palmeira (AL), Águas Belas (PE), Olivença (AL) e Porto da Folha (SE). As cerimônias de entrega dos PMSBs contaram com a participação de membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), da Agência Peixe Vivo, das empresas executoras, representantes do poder público das cidades, além de membros da sociedade civil. O coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Alto São Francisco, Altino Rodrigues Neto, destacou, durante a solenidade realizada em Martinho Campos (MG), a importância dos PMSB’s para cada município. “Os planos são desenvolvidos com a participação da comunidade, do poder público e esses produtos, importantes ferramentas de gestão, vão auxiliar nas ações voltadas ao saneamento básico desses municípios”. O prefeito de Martinho Campos, Wilson Diretor (Avante), também destacou a relevância da cerimônia de entrega e dos PMSB’s. “O plano nos ajudará a realizar investimentos necessários para a melhoria da qualidade de vida da população de Mar-
tinho Campos, com a participação da sociedade civil e com muita transparência”. Já no Baixo São Francisco, o prefeito de Poço das Trincheiras (AL), José Valmiro, agradeceu ao presidente do Comitê pelo plano e garantiu a execução do mesmo. “Estou muito feliz e satisfeito de fazer parte desse processo relacionado ao PMSB. Com certeza daremos seguimento a ele em outras esferas porque consideramos de grande importância para o meio ambiente e o desenvolvimento do nosso município”, disse. O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, participou da entrega no Baixo São Francisco, realizada em Maceió. De acordo com ele, “já entregamos mais de cem Planos Municipais de Saneamento Básico e este grande presente que estes seis municípios nordestinos estão recebendo hoje são frutos de um trabalho detalhado e de muita dedicação pelo bem do rio São Francisco, de comunidades ribeirinhas, fauna e flora. Para colocar o plano em prática é preciso que os gestores das cidades contempladas deem prosseguimento. O Comitê coloca-se à disposição para ir às regiões e dar apoio no que for necessário. É importante o comprometimento de cada um que se encontra aqui”. O PMSB contempla quatro eixos do saneamento básico, sendo eles o abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais, e é financiado pelo CBHSF, com recursos advindos da cobrança pelo uso da água na bacia.
Solenidade de entrega dos PMSB no Alto São Francisco
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Igreja de Nossa Senhora da Abadia, Martinho Campos (MG)
Cerimônia de entrega dos PMSB no Baixo São Francisco
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Efeitos das mudanças climáticas já são sentidos na Bacia do São Francisco Texto: Juciana Cavalcante
Quando se falava nos efeitos da ação humana sobre o meio ambiente e mudanças climáticas em 1972, na primeira conferência ambiental do mundo, a Conferência de Estocolmo, na Suécia, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), os discursos pareciam citar uma realidade distante de muitas gerações. Mas a conta chegou. As mudanças climáticas já são um fato consumado e repensar as atitudes individuais e coletivas se tornou ainda mais urgente. Na Bacia do Rio São Francisco, única inteiramente brasileira, é possível perceber como estes efeitos têm determinado a mudança de alguns padrões naturais e influenciado tudo à sua volta. Desde o final do ano de 2021, a intensidade das chuvas registradas em toda a bacia do São Francisco, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), esteve acima da média, resultando no atual cenário de cheia. O fenômeno natural que não se via há muito tempo é provocado pela combinação de diferentes fatores como a ocorrência da La Niña, o aumento da temperatura dos oceanos e a ocorrência da Zona de Convergência do Atlântico Sul. A situação de cheia na bacia do São Francisco, bem-vinda para todos que dependem das águas do Velho Chico, emite ainda um alerta importante. De acordo com o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Almacks Luiz Silva, essa cheia quebra um ciclo histórico de pelo menos quatro outros eventos naturais acontecidos exatamente em intervalos de 30 anos. “Com essa cheia, já percebemos que o cenário mudou. Em 1919, 1949, 1979 e 2009 ocorreram as grandes cheias em toda a bacia, sem considerar o trecho incremental do rio. Por exemplo, no estado de Pernambuco, há uns 12 anos houve uma grande cheia no rio Ipanema, que nasce em Pernambuco e
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deságua em Alagoas. Quando ocorre cheia nos rios afluentes, como o Paracatu e outros que estão a jusante de Três Marias, pode também ocorrer nesse trecho incremental, mas não em todo rio. Os afluentes baianos, como o Carinhanha, o Grande e o Corrente podem contribuir com cheias para Sobradinho, mas não no rio todo. É por isso que separamos as grandes cheias das cheias incrementais, e é exatamente nesse aspecto que temos vivenciado uma mudança. Da última cheia, em 2009, para a atual, em 2022, passaram-se 13 anos apenas, muito menos do que os habituais 30 anos, e isso mostra uma tendência de que a bacia tenha, a partir de agora, períodos irregulares de cheia”, explicou. De acordo com documento elaborado pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em 1949, antes da construção da hidrelétrica de Sobradinho, o rio São Francisco atingiu uma vazão de 14.983m³/s e, em 1979, ano de inauguração da UHE Sobradinho, a maior cheia que ainda habita a memória de muitos ribeirinhos, atingiu o volume de 17.800 m³/s. A partir daí, com a possibilidade de controle de vazão realizada pela usina, a cheia de 2009 atingiu a vazão de 4.900m³/s. Para o secretário, as cidades devem se adaptar e se preparar para lidar com as mudanças climáticas. “As cidades têm que se preparar, não para reverter, porque já está sinalizado em todas as cidades ribeirinhas o nível que a água pode atingir de acordo com a quantidade de vazão liberada. Então, é preciso que as cidades cumpram com as normas e não permitam construções ou ocupação da agricultura nessas áreas. É preciso realizar educação ambiental de modo a conscientizar as pessoas de que as áreas inundáveis pertencem ao rio e quando ele enche, tudo volta a ser ocupado pelas águas”, pontuou. No final do ano passado, o estudo “Avaliação de Secas na Bacia do Rio São Francis-
co por meio de Índices Terrestres e de Satélite”, publicado pelo periódico suíço Remote Sensig, mostrou que a bacia hidrográfica do Rio São Francisco já havia perdido, em 35 anos, mais de 30 mil hectares de superfície com água. O dado científico é perceptível para quem lida com o Velho Chico rotineiramente. É o caso do balseiro Ildeu Novais Pinto. Com 96 anos, navegou desde cedo com o pai pelo rio São Francisco e lembra que as chuvas que ocorriam com mais frequência, agora acontecem menos, mas com maior intensidade. “Dos meus tempos, quando navegava com meu pai com a barca de Paracatu a Pirapora, as chuvas eram constantes, mas elas se espaçaram muito, dando muito tempo ao sol para fazer o aquecimento da terra. As chuvas diminuíram muito e hoje há uma diferença extraordinária em relação a temperatura”.
“Da última cheia, em 2019, para a atual. em 2022, passaram-se 13 anos apenas, muito menos que os habituais 30 anos, e isso mostra uma tendência deque a bacia tenha, a partir de agora, períodos irregulares de cheia” Almacks Luiz Silva Secretário do comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF)
Semiárido brasileiro passa por nova delimitação e tem mapa aumentado Comportamento climático da última década, marcado predominantemente por secas intensas, fortaleceu a mudança no delineamento do Semiárido Brasileiro Texto: Juciana Cavalcante/ Foto: Manuela Cavadas O Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) alterou a delimitação das fronteiras do Semiárido brasileiro com base na Resolução 150/2021. A lista dos municípios que integram a região, reconhecida pela legislação como sujeitos a períodos críticos de prolongadas estiagens, com várias zonas geográficas e diferentes índices de aridez, agregou mais 215 municípios e excluiu outros 50, passando de 1.262 para 1.427 municípios que atingiram pelo menos um dos critérios para classificação de pertencimento ao Semiárido. Esses critérios foram estabelecidos em 2005, e consideram a média de precipitação pluviométrica anual abaixo de 800mm como alto índice de aridez. O cálculo é feito pelo balanço hídrico relacionando precipitações e evapotranspiração potencial, risco de seca igual ou maior que 60% e continuidade territorial. Os municípios que fazem parte da fronteira oficial do Semiárido têm acesso a alguns benefícios, como recursos públicos específicos para ações de adaptação à seca. De acordo com as recomendações do relatório do
GTI-2005, em razão de possíveis mudanças climáticas, a delimitação do Semiárido deveria ser revista a cada década. Segundo o meteorologista Humberto Barbosa, a delimitação do Semiárido possui uma dinâmica histórica. “Periodicamente essa delimitação é atualizada pelo Conselho. O primeiro mapa foi definido em 1936, quando foi delimitado o antigo ‘Polígono das Secas’, dando início a políticas mais sistemáticas de adaptação à seca”. A Bacia do São Francisco possui mais de 50% da área do polígono das secas ou região semiárida e, de acordo com o relatório final da Sudene, o comportamento climático da última década, marcado predominantemente por secas intensas, fortaleceu a mudança no delineamento do Semiárido brasileiro. Pensando nisso, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco aprovou, no final do ano de 2019, a contratação de projetos voltados à sustentabilidade hídrica no Semiárido que, associado ao bioma Caatinga, está presente em todos os estados do Nordeste e em parte do Sudeste (norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo).
Municípios excluídos A nova demarcação excluiu 50 municípios situados no Litoral do país, em microrregiões também afetadas por secas que, segundo o relatório oficial, não atingiram os critérios técnicos estabelecidos para 2021. Os gestores das cidades afirmam que a exclusão vai dificultar o acesso a recursos públicos específicos. Com a conclusão dos trabalhos de revisão da delimitação do Semiárido, a Sudene, em conjunto com os órgãos parceiros, recomendou que se promova a revisão dos critérios técnicos e científicos em 2031 e a cada década, a partir de então, para buscar possíveis aperfeiçoamentos nos métodos utilizados para obtenção dos critérios técnicos e científicos utilizados. A Sudene propõe também incentivar o uso de técnicas de sensoriamento remoto como recurso auxiliar no delineamento dos municípios integrantes do Semiárido, contribuindo na construção de políticas públicas diferenciadas para a região.
Caatinga, bioma típico do Semiárido
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Dois
Prestes a se completar três décadas da instituição do Dia Mundial da Água (22/03), como você avalia a disseminação e conscientização pública sobre a conservação dos recursos hídricos? As Nações Unidas sempre estiveram muito atentas à questão das águas. Hoje, o foco que antes era na formação técnica e científica, está voltado para a sociedade, para motivá-la, especialmente, no nexo entre água, energia e alimentos, mostrando que está tudo interconectado. Se não há água, especialmente em países como o nosso que depende muito da energia hidráulica, não há energia. Se não há água, não há alimento e a sociedade sem água, alimento e energia, não encontra condições de sobrevivência. O fato é que todas essas iniciativas são válidas. Elas devem fixar no público em geral, em todos os segmentos sociais a mensagem de que a água é finita e que mesmo sendo um recurso renovável, a quantidade disponível que pode ser utilizada se torna cada vez menos suficiente para atender os diferentes usos e, por isso, a necessidade de se usar a água com parcimônia e racionalidade e, especialmente, evitar a sua degradação.
dedos de
prosa
Discute-se muito os usos múltiplos da água, como geração de energia, segurança alimentar, abastecimento humano. Como estas discussões têm evoluído para ações concretas no Brasil? Eu diria que existem muitas discussões, mas poucas ações concretas relacionadas a esse tema. No meio técnico, entre especialistas, existe considerável movimentação, no meio político, menos, e na população em geral, muito pouca discussão, a não ser durante as crises de excesso ou de falta de água. A evolução para ações concretas passa, na minha visão, pela politização da água, ou seja, que os investimentos relacionados à segurança hídrica entrem no discurso e nas decisões políticas. Isso é fundamental. Os eleitores devem considerar que a insegurança hídrica que leva à perda de vidas e de bens durante as cheias e à perda de condições de sobrevivência durante as secas, não são unicamente fenômenos naturais. A falta de investimentos públicos para a convivência com cheias e secas é a principal causa dos problemas. Cabe a demanda de investimento, portanto para superar os impactos de insegurança hídrica na sociedade e isso só ocorrerá quando a população cobrar dos governantes e representantes políticos medidas concretas de mitigação e culpá-los quando os problemas ocorrerem, e não achar que secas e cheias tem causas naturais contra as quais pouco se pode fazer.
Antonio Eduardo Leão Lanna Texto: Juciana Cavalcante Há 50 anos atuando nas áreas de hidrologia, planejamento e gestão de recursos hídricos, Antonio Eduardo Leão Lanna é graduado em Engenharia pela UFRJ, mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela UFRS e doutor em Engenharia Civil pela Colorado State University. Possui grande experiência na elaboração de Planos de Recursos Hídricos, entre eles: Plano Nacional de Recursos Hídricos, os Planos Estaduais de Recursos Hídricos do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Distrito Federal, Espírito Santo e Pernambuco, e Planos de Bacia Hidrográfica em diversas unidades da federação.
travessia Notícias do São Francisco
Presidente: José Maciel Nunes Oliveira Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano Secretário: Almacks Luiz Silva Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607
Comunicação
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Apoio Técnico
O CBHSF está em franco processo de desenvolvimento do Pacto das Águas, instrumento político cujo escopo e metodologia já foram aprovados pelo colegiado. Como avalia a importância da construção deste instrumento? Parece-me que o Pacto das Águas da Bacia do São Francisco pode ser um exemplo para todos os processos de planejamento de recursos hídricos no Brasil, que deveria, nos seus âmbitos, estabelecer Pactos das Águas ou Manuais Operativos, como os que a ANA tem exigido como parte dos planos que elabora ou o Plano Mandatório, como na Austrália Ocidental. Em todos os casos, além de indicar o que deve ser feito para resolver todos os problemas hídricos da bacia, dos estado ou do país, os planos devem incorporar a definição de ações a serem realizadas e por quem, com prazo e orçamentos, que se tornem obrigatórios por parte das entidades envolvidas nas suas implementações. Caso contrário, eles continuarão sendo promessas a serem cumpridas por outros, no discurso da OCDE, ou resmas de papel que valem o quanto pesam, ou seja o peso do papel, cujo destino será, fatalmente, o arquivo morto. As mulheres estão, cada vez mais, ocupando espaços no debate político e de importantes discussões. Sua participação é ativa no âmbito da gestão da água. Como as questões ambientais vêm ganhando com a presença feminina? Cada vez mais a gente as encontra assumindo cargos de direção. Estou encerrando o plano estadual de recursos hídricos de Pernambuco, que coordeno, e o acompanhamento tem sido feito por duas organizações públicas das quais o comando é feminino: a APAC, pela doutora Susana Montenegro, e a Secretaria de Recursos Hídricos e Infraestrutura, cuja titular é a Dra. Fernanda Batista. Cada vez mais as mulheres têm ocupado esses espaços de direção e com muita competência, tanto em termos de sua formação, todas essas com titulação de doutorado e com expressivas contribuições à área, além da competência gerencial. Por isso falo que o ideal de qualquer organização é a alternância entre homens e mulheres. Acho que com isso nós teríamos organizações modernas e organizadas. De toda maneira vejo com muita alegria a participação feminina. Acho que realmente há avanços expressivos quando a liderança é feminina tanto na direção de comitês e agências quanto na direção de entidades contratantes, entidades gestoras, ou seja eu sou fã das mulheres. Ouça o podcast da entrevista. Acesse bit.ly/PodTrav122 ou escaneie o QR CODE ao lado.
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins Textos: Arthur de Viveiros, Deisy Nascimento e Juciana Cavalcante Foto de capa: Diego Barros/CASAL Fotos: Arthur de Viveiros, Deisy Nascimento, Juciana Cavalcante, Manuela Cavadas Diagramação: Rafael Bergo Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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