travessia Notícias do São Francisco
JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / JULHO 2022 | Nº 61
Campanha #VireCarranca aconteceu em quatro cidades da bacia, simultaneamente População de Macaúbas (BA) recebe 80 cisternas do CBHSF
CBHSF começa a execução dos projetos de esgotamento sanitário
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Editorial Sempre em frente Nesta 61ª edição do informativo Travessia, venho agradecer, em nome do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o imenso apoio que tivemos para a realização da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. Além das entidades, ONGs, universidades, escolas, órgãos públicos, entre outros, que aderiram à campanha nos ajudando a espalhar a mensagem, este ano contamos com o apoio massivo da imprensa, e a repercussão bateu recorde de mídia. As prefeituras das cidades-sede Pirapora, Buritizeiro, Ibotirama, Glória e Gararu, nossas parceiras de sempre, foram fundamentais para o sucesso do evento. Estiveram conosco em todas as etapas, desde o planejamento, a organização, até a execução das festividades. Todo esse apoio nos dá forças para seguirmos trabalhando em prol do nosso Velho Chico. E assim, entregamos 80 cisternas para consumo de água da população da cidade de Macaúbas, na Bahia, que tem acesso basicamente à água de poços artesianos, que é uma água muito salgada, ou fica dependente dos caminhões-pipa. A expectativa é que aproximadamente 400 pessoas sejam diretamente beneficiadas com a implantação das cisternas, entre moradores dos distritos de Curralinho Santo Antônio, Curralinho São Sebastião e Canto. Da mesma forma, demos início ao processo de execução dos projetos de esgotamento sanitário em Pompéu (MG) e em outras três cidades da bacia – Xique-Xique (BA), Chorrochó (BA) e Traipu (AL). O Comitê, que já financiou a elaboração de PMSB [Planos Municipais de Saneamento Básico] para mais de 100 municípios da bacia, agora avança em suas ações com a elaboração dos projetos básicos e executivos de esgotamento sanitário. Retirar o esgoto da calha do São Francisco é uma ação estratégica para o futuro do rio. Nesta edição, abordamos também o estudo sobre os Aquíferos Urucuia e Cárstico, contratado pelo CBHSF com o objetivo de apresentar uma avaliação do conhecimento existente sobre a utilização das águas na região das bacias hidrográficas dos rios Carinhanha, Corrente e Grande, especificamente os trechos nos domínios dos Sistemas Aquíferos Urucuia e Bambuí (cárstico). O estudo foi tema de webinário realizado pelo Comitê. O nosso entrevistado é Marcelo Ribeiro, membro da Câmara Técnica Institucional e Legal do CBHSF, e que acaba de assumir o cargo de superintendente de Recursos Hídricos da SEMARH – AL.
IV SBHSF
Com a temática “Gestão hídrica no Rio São Francisco: desafios e soluções”, o principal objetivo do IV Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é reunir pesquisadores e acadêmicos de todo o país para a apresentação de estudos que contemplem a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e, dessa forma, identificar produções científicas sobre a bacia, que possam auxiliar o CBHSF na busca por melhorias socioambientais. Este ano, o evento será realizado em formato híbrido, entre os dias 14 e 16 de setembro. A parte presencial será na capital mineira, Belo Horizonte. A Palestra Magna, no dia 14/09, será realizada por Aílton Krenak, e o simpósio contará com a participação de diversos estudiosos relacionados à gestão dos recursos hídricos.
Boa leitura!
José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF 2
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Seminário de encerramento do projeto reuniu cerca de 120 pessoas
CBHSF entrega 80 cisternas familiares de água para consumo em Macaúbas (BA) Texto: Mariana Carvalho / Fotos: Construtora Joamar Ltda O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) entregou, em maio deste ano, 80 cisternas familiares de água para consumo no município de Macaúbas (BA), no Médio São Francisco. O projeto “Colhendo água de chuva e resgatando a cidadania da população do Semiárido na bacia do Paramirim” foi elaborado pela Associação do Semiárido da Microrregião de Livramento (ASAMIL) e contemplado pelo Chamamento Público CBHSF N° 02/2019, voltado para a sustentabilidade hídrica no Semiárido. O seminário de encerramento aconteceu na sede da Associação de Curralinho de Santo Antônio e reuniu cerca de 120 pessoas. As famílias contempladas foram definidas pela Associação dos Agricultores Familiares e Aposentados de Macaúbas (AAFAM) de acordo com maior necessidade e com estrutura adequada para o funcionamento das cisternas. A expectativa é que aproximadamente 400 pessoas sejam diretamente beneficiadas, entre moradores dos distritos de Curralinho Santo Antônio, Curralinho São Sebastião e Canto. As cisternas foram instaladas ao lado das casas e possuem capacidade de armazenar 16 mil litros de água potável. Leidilene dos Santos Silva, agente comunitária de saúde, participou do seminário de encerramento como representante dos beneficiários e destacou a importância do projeto: “muitas famílias já fazem uso da água da chuva guardada em baldes e outras formas improvisadas e sabem a melhoria na qualidade de vida que as cisternas representam. Além disso, o processo foi abraçado pela comunidade, que estabeleceu boas relações com os pedreiros responsáveis pelas construções, que se tornaram nossos amigos”. Gilberto Agostinho, presidente da Associação Comunitária do Canto, mediou a cerimônia que simbolizou o encer-
ramento de um ciclo: “décadas atrás nós ainda tínhamos algumas nascentes na região, que, por causa da degradação ambiental, não existem mais. Nos últimos dez anos, a população tem acesso basicamente à água de poços artesianos, que é uma água muito salgada, ou fica dependente dos caminhões-pipa. No ano passado, a Associação cadastrou 156 famílias sem acesso à água potável, mas o número na região é muito maior. Nesse contexto, as cisternas se tornam um bem precioso e esperamos que a entrega de hoje seja sucedida por outros projetos que queremos desenvolver”. Agostinho celebrou, ainda, a parceria com o CBHSF, que financiou a construção das cisternas com recursos advindos da cobrança pelo uso da água na Bacia do Rio São Francisco. Ednaldo Campos, coordenador da CCR Médio São Francisco, em sua fala, observou que os projetos para sustentabilidade hídrica estão entre as prioridades da instituição: “desde 2020, oito projetos piloto foram concluídos ou estão em andamento, totalizando mais de R$8 milhões em investimentos. Pesquisas mostram que as cisternas contribuem para o desenvolvimento sustentável de forma simples e eficiente, incluindo o beneficiado e aumentando, inclusive, a autoestima dos homens e das mulheres do campo”. Campos assegurou novos investimentos para contemplar mais famílias e falou sobre o programa de implantação de fossas ecológicas que o CBHSF está desenvolvendo. A coordenadora da Defesa Civil de Macaúbas, Edinaide Oliveira, ao comentar a entrega das cisternas, contou que sua família é do distrito do Canto, mas que decidiram se mudar para a sede devido aos problemas de abastecimento de água: “minha família morava no final da rede e tinha que levantar às 4 horas da manhã
para conseguir água, então eu sei exatamente o que significa esse benefício e o quanto ele pode ser transformador para a comunidade”. A empresa responsável pela construção das cisternas foi a Construtora Joamar Ltda, que também promoveu três oficinas de capacitação e gerenciamento de recursos hídricos para a população local. Mário Silva Souza, representante da Joamar, relembrou o seminário de abertura do projeto, que aconteceu em dezembro de 2021 no mesmo local: “quando estivemos na sede da Associação pela primeira vez, encontramos muitos moradores desacreditados quanto ao prazo de execução do projeto, mas naquele dia nós firmamos um compromisso e, logo após, a equipe técnica já estava encaminhada. Alugamos uma casa para o escritório da equipe, outra casa para os pedreiros e o trabalho começou imediatamente. Foram seis meses de convivência com uma população muito acolhedora e que possibilitou a troca de vários saberes”. A necessidade de ações de educação ambiental de forma complementar à construção das cisternas foi abordada pelo gerente da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (BAHIATER), Lindolfo Santos. “É fundamental que os moradores valorizem, de fato, o benefício que está sendo entregue pelo CBHSF e cuidem, além da cisterna que vai armazenar a água da chuva, das matas, da floresta, para que os córregos e riachos das comunidades dessa região possam renascer”, declarou. Durante o seminário de encerramento e nos dias seguintes à cerimônia, um caminhão pipa abasteceu parcialmente as cisternas para que fossem entregues sem riscos de rachaduras. Ao final do evento, os presentes participaram de um café de confraternização.
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Em sua 9ª edição, a campanha ‘Eu viro carranca para defender o Velho Chico’ volta com as ações presenciais Texto: Deisy Nascimento, Juciana Cavalcante, Mariana Carvalho, Tiago Rodrigues Fotos: Bianca Aun, Edson Oliveira, Emerson Leite, Kel Dourado Depois de dois anos sem atividades presenciais, devido à pandemia da Covid-19, a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico” levou às cidades ribeirinhas de Buritizeiro e Pirapora, ambas em Minas Gerais, Ibotirama e Glória, na Bahia, e Gararu, em Sergipe, uma série de eventos em comemoração do Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, 03 de junho. Com o mote ‘O Velho Chico são muitos!’, a campanha busca chamar atenção para os rios afluentes do São Francisco, que contam em 168 e são as veias capilares da bacia. As atividades nas quatro regiões da bacia envolveram educação ambiental, exposições em totens educativos, exposições fotográficas, caminhadas, barqueatas, corrida de canoa, apresentações teatrais e musicais, entre outras. Os eventos foram realizados em parceria com as prefeituras municipais, que apoiaram todas as etapas, desde o planejamento, a organização e execução das festividades. A campanha contou ainda com a adesão de diversas ONGs, entidades, prefeituras, universidades e escolas que ajudaram a divulgar e a espalhar a mensagem de preservação e cuidado com o Velho Chico. A imprensa também teve um papel fundamental para fazer ecoar essa mensagem e a repercussão da campanha bateu recorde de mídia este ano. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco agradece a todas e a cada um que tirou um pedacinho do seu dia para ajudar o Velho Chico, chamando a atenção para este que é a principal fonte de recursos hídricos para o Nordeste brasileiro. Veja um pequeno resumo de como foram as comemorações nas quatro regiões da bacia: PIRAPORA E BURITIZEIRO (MG) Na Praça das Mangueiras, em Buritizeiro, alunos do ensino médio e fundamental foram recebidos com atividades culturais e educacionais. Os estudantes também puderam interagir com os totens educativos da campanha, além de visitarem uma belíssima exposição fotográfica sobre o Rio São Francisco. Na parte da tarde foi a vez de Pirapora receber, na Praça Cariris, os totens educativos e interativos e a exposição fotográfica, visitados por estudantes da cidade. Os alu-
nos também contaram com apresentações teatrais com temáticas voltadas para a educação ambiental. Para o coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, “nesta 9ª edição tivemos o privilégio de realizar atividades educacionais em duas cidades ribeirinhas, numa parceria com as prefeituras, escolas e demais agentes locais. Um esforço coletivo para defender o nosso rio, pois este ano nossa campanha é maior. A diversidade da bacia do São Francisco nos permite mostrar todas as faces dele, por isso, a pergunta ‘O Velho Chico são muitos, qual deles é você?’”. No dia 04/06, às margens do Velho Chico, em Terezinha de Babau, no lado de Buritizeiro, os presentes receberam a Benção Sanfranciscana e, em seguida, numa barqueata, com auxílio da Marinha do Brasil, a imagem de São Francisco de Assis partiu navegando em direção à Pirapora. Na cidade, uma procissão acompanhou o Santo até a Igreja da Matriz de São Sebastião. GLÓRIA (BA) As atividades na cidade começaram cedo, com um café da manhã às margens do Rio São Francisco, na orla da cidade, no Balneário Canto das Águas. A campanha, que trouxe como tema central a multiplicidade que é o Velho Chico, abriu espaço para que os povos originários apresentassem toda sua força e tradição. As comunidades indígenas Tuxá, de Rodelas, e Pankararé, de Glória, realizaram os rituais sagrados do Toré e Praiá, símbolos de resistência e união entre os povos. O coral da CHESF e os estudantes da rede pública também se apresentaram homenageando o Velho Chico. A programação incluiu a distribuição de mudas de árvores nativas e a ação de peixamento, liberando nas margens do rio 20 mil alevinos que irão ajudar no povoamento do manancial. Como forma de levantar o debate sobre a importância da bacia do São Francisco, foram realizadas as palestras “Água: Direito Humano Fundamental”, pela advogada Roberta Casali e “Água como sujeito de Direito”, pela promotora do Ministério Público da Bahia, Luciana Khoury. Já nas cidades de Rodelas e Abaré, também na Bahia, a poucos quilômetros de Glória, as etnias indígenas Tuxá e Tuxí participaram, na manhã de sábado, de oficinas de
educação ambiental. “Levar as oficinas para as comunidades indígenas é uma forma de levar discussões importantes para os povos tradicionais, valorizando também seus saberes, e essa será uma ação ainda mais constante do Comitê junto a eles”, afirmou o coordenador da CCR Submédio São Francisco, Cláudio Ademar. Encerrando as atividades, o CBHSF e a Ordem dos Advogados do Brasil/Bahia, subseccional Paulo Afonso, assinaram um Termo de Cooperação Técnica que vai possibilitar ao Comitê um assessoramento especializado da OAB em questões inerentes à bacia. GARARU (SE) Mesmo com a chuva, centenas de pessoas marcaram presença na abertura do evento, que ocorreu no centro de Gararu. A exposição itinerante do Museu Ambiental Casa do Velho Chico foi uma das atrações e trouxe uma diversidade de esculturas, pequenas amostras de como o Rio São Francisco vem sendo degradado e de como ele deve receber os cuidados para continuar dando o sustento que os ribeirinhos precisam. Ainda durante a manhã, os membros do CBHSF destacaram a importância do debate acerca do Velho Chico e a necessidade de mantê-lo preservado para que as próximas gerações possam fazer uso dele de forma responsável. Estudantes de escolas municipais e estaduais marcaram presença no museu que trouxe exemplos de como o rio vem sendo degradado e o que é necessário fazer para mantê-lo limpo, preservado. Estudantes receberam folhetos que falam sobre a campanha e sobre o Velho Chico, bem como ganharam máscaras, bonés, adesivos e vestiram, literalmente, a camisa da campanha. Logo após o início da solenidade, os membros do Comitê, políticos e outros representantes foram à Câmara de Vereadores de Gararu para a entrega do título de cidadão gararuense ao coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda. Para Maciel Oliveira, presidente do CBHSF, “a homenagem demonstra o quanto Anivaldo Miranda representa para o Rio São Francisco. Ele que lutou sempre por uma melhor gestão das águas e por sua proteção. Com certeza Gararu ganha muito com a escolha de um nome de tamanha relevân-
cia para a preservação das águas do Velho Chico”, pontuou. No período da tarde, o museu recebeu o Coletivo Gararu das Artes, composto por nove integrantes que realizaram uma apresentação teatral para os estudantes, que ainda visitaram o Ônibus do Saneamento, levado pela Deso, e a exposição de totens educativos e fotografias. Os eventos foram encerrados no dia 04 de junho com uma corrida de canoa à vela. IBOTIRAMA (BA) Em Ibotirama, sede do evento no Médio São Francisco, ao uso prudencial das máscaras de proteção, somaram-se coloridas máscaras em formato de carranca, símbolo de salvaguarda em várias culturas ribeirinhas. As atividades tiveram início pela manhã no Centro Territorial de Educação Profissional (CETEP) Velho Chico, onde foram mobilizados aproximadamente 400 alunos dos cursos técnicos de Administração, Agropecuária e Informática, que saíram em caminhada até o cais da cidade com faixas em defesa da conservação do rio e mudas de árvores que foram doadas para a população. Estudantes dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), do campus Barra do Rio Grande, aderiram à campanha e levaram para a praça do evento estandes preparados pelos graduandos com pesquisas sobre as principais doenças enfrentadas pelas culturas do maracujá, banana e tomate produzidas em Ibotirama, e uma apresentação da anatomia de animais domésticos, com peças construídas pelos universitários. Alunos dos ensinos médio e fundamental visitaram os totens educativos e a exposição fotográfica. O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, ratificou o propósito da campanha: “há décadas o São Francisco sofre com ações antrópicas que devastam suas matas ciliares, retiram exageradamente sua água e comprometem seus afluentes. O CBHSF, através da campanha, reforça o compromisso de promover a sensibilização para mudanças de valores e atitudes em comunidades da bacia e integrar, de forma participativa e corresponsável, governo, sociedade e usuários de água”. A programação do evento seguiu com apresentações de músicos e poetas de Ibotirama e outras cidades da região, organizadas pela Fundação de Desenvolvimento Integrado do São Francisco (FUNDIFRAN).
Acesse a programação em: www.virecarranca.com.br ou escaneie o QR Code ao lado.
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CBHSF dá início ao processo de execução de projeto de esgotamento sanitário em Pompéu (MG) e em outras três cidades da bacia Texto: Arthur de Viveiros / Fotos: Ricardo Braga
Visita técnica realizada em Pompéu (MG)
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) assinou, por meio da Agência Peixe Vivo, o termo para contratação de empresa executora para elaboração do projeto de esgotamento sanitário da cidade de Pompéu (MG), na região do Alto São Francisco. O contrato foi firmado, no dia 7 de junho, com a empresa Sarsan Engenharia e Saneamento, vencedora do processo seletivo. A reunião, que contou com a presença de representantes do poder público municipal, da Sarsan e da Agência Peixe Vivo, foi realizada na cidade mineira, no último dia 10. Assim como em Pompéu, o CBHSF fará a elaboração dos estudos de concepção, projetos básico e executivo para sistemas de esgotamento sanitário de uso coletivo em outras três cidades da bacia, uma em cada região fisiográfica. Os municípios contemplados são Xique-Xique (BA), que está em fase de licitação, Chorrochó (BA) e Traipú (AL), ambos já com contrato assinado com empresa vencedora da licitação. Estes últimos estão com a assinatura do termo prevista para os dias 13 e 14 de julho, respectivamente. Segundo Ricardo Braga, coordenador técnico da Agência Peixe Vivo e fiscal do contrato de Pompéu, as cidades foram escolhidas com base em critérios norteadores, sendo eles a elaboração do próprio PMSB do município, e as necessidades ali indicadas;
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índice de coleta de esgoto; Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); Produto Interno Bruto (PIB); cobrança pelo serviço de água e esgoto. Avaliações no município mineiro A diretora técnica da Sarsan Engenharia e Saneamento, Sandra Parreiras, ressaltou a importância desse primeiro encontro para o início da elaboração do projeto. “Esse é o primeiro passo, estamos fazendo o levantamento de toda a cidade, de forma que a gente possa fazer um bom projeto de saneamento, sendo que o objetivo principal é a retirada dos lançamentos de esgoto no corpo receptor de água que corta a cidade e criar interceptores, captando esse esgoto nas margens e levando a um ponto único, ondel faremos todo o processo de tratamento”, finalizou. Breno Henrique, membro do CBHSF, também avaliou a elaboração do projeto de esgotamento como um ganho significativo no que se refere à qualidade de vida e ao desenvolvimento sustentável em Pompéu. “A destinação adequada do esgoto sanitário trará uma maior qualidade de vida aos munícipes, com menor risco de contaminação e transmissão de doenças, um acréscimo no bem-estar, diminuição de custos públicos, aumento da renda local, lazer, turismo, preservação cultural, educação ambiental, enfim, trará alegria. Além dos benefícios para
os moradores, teremos um ganho ambiental enorme com a melhoria da qualidade da água do córrego Mato Grosso, recurso hídrico que sofre há anos com o lançamento de esgoto in natura, e estamos dando esse passo importantíssimo para sua recuperação, preservando o solo, a fauna e a flora da nossa região”. Por fim, Breno ainda destacou o importante papel do CBHSF nessa, e em outras parcerias com o município. “O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, por meio da Agência Peixe Vivo, é parceiro antigo do município de Pompéu, sempre trazendo melhorias na qualidade de vida e preservação dos recursos naturais, tendo, portanto, um papel fundamental para a gestão dos recursos hídricos e também no que se refere à melhoria da qualidade e quantidade de água para as gerações futuras. O processo de esgotamento sanitário de Pompéu está sendo conduzido com muita seriedade e transparência, por meio de equipes técnicas muito qualificadas e sempre com o apoio dos membros do comitê”. “O CBHSF, a Agência Peixe Vivo e a Prefeitura esperam receber projetos de qualidade que possam ser utilizados na execução das obras, garantindo assim o atendimento às metas de saneamento e a qualidade de vida da população do município de Pompéu”, avaliou Ricardo Braga, que representou a Agência Peixe Vivo na reunião realizada no município.
Estudo contratado pelo CBHSF aponta principais impactos nos aquíferos Urucuia e Cárstico Texto: Juciana Cavalcante
Com o objetivo de apresentar uma avaliação sobre a utilização das águas na área de influência dos aquíferos Urucuia e Cárstico na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o CBHSF contratou um estudo com foco na disponibilidade hídrica e nos diversos usos nas bacias dos Rios Carinhanha, Corrente e Grande. A pesquisa busca responder questionamentos sobre a quantidade da vazão consuntiva em cada uma das bacias de interesse, a dimensão da área irrigada e a contribuição hídrica das bacias para o lago de Sobradinho, um dos maiores lagos artificiais do mundo, com 4. 214 km² de área e 32,2 km³ de água. Foram apresentados cinco relatórios com a compilação dos principais resultados obtidos durante os estudos desenvolvidos ao longo de um ano, além de recomendações relativas a possíveis continuidades em termos de pesquisas a serem contratadas pelo Comitê. “Trata-se de um trabalho importante para fazer um raio X dos aquíferos, que têm papel fundamental para a bacia do São Francisco, por isso é importante acompanhar esse processo e verificar minuciosamente as análises feitas pelo estudo para que possamos conhecer as águas subterrâneas e a sua interligação com águas superficiais, assim como os cuidados que precisamos adotar para mantê-los vivos”, afirmou o professor e membro da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas (CTAS), João Pedro da Silva Neto. De acordo com o documento, verificou-se que os usos destinados à irrigação constituem mais de 90% de toda a água outorgada nas bacias, equivalente a 121,72 m³/s de volume total outorgado para essa finalidade. “O resultado obtido mostra que esse tipo de uso deve ser analisado atentamente em programas que visem o uso consciente e a correta gestão das águas nas bacias. O volume total outorgado para essa finalidade seria na ordem de grandeza de toda vazão média da bacia do Corrente, ou ainda metade da bacia do Grande. Isso indica que é muito provável que as outorgas não representem o volume real de água sendo efe-
tivamente utilizada nas bacias e que, caso fosse de fato adotada, as consequências para a disponibilidade hídrica poderiam ser severas”, afirma o diretor da Profill Engenharia e Ambiente, Sidnei Agra. Em seguida, vêm as retiradas voltadas à dessedentação animal, com 2,1% (1,196 m³/s), e abastecimento humano, com 1,6% (0,937 m³/s). Nesse caso, as projeções para o ano de 2035 mostram que pode haver um aumento de aproximadamente 50% nas demandas da irrigação, o que também leva o consumo total a aumentar na ordem de 50%. Já para o ano de 2050, a previsão é elevar para 65% o consumo da irrigação nas bacias do Grande e do Corrente e de mais de 156% na bacia do Rio Carinhanha, concentrado principalmente nas sub-bacias Alto Carinhanha, Itaguari e Do Meio. O estudo indica que, nesse cenário, as demandas no Grande superariam em aproximadamente 17,6 m³/s as vazões outorgadas atualmente. Nas projeções para 2050, o consumo total subterrâneo projetado é de 26,201 m³/s, valor que se aproxima do dobro das captações atuais. Desse total, 63% seriam utilizados exclusivamente para irrigação, porcentagem essa que aumenta para 89% se considerados consumo humano, irrigação e uso não definido. Em relação às demandas superficiais, a projeção mostra que especialmente as cabeceiras da bacia do Rio Grande poderiam ser muito afetadas pela expansão das captações voltadas para a irrigação. Isso porque as demandas superam as outorgas existentes atualmente, o que pode levar a uma alta concentração em uma mesma região. “Contudo, ressalta-se que é provável que não se alcancem as projeções máximas, pois nessas regiões a outorga de uso da água já está próxima ao limite máximo permitido em alguns rios, o que limitaria a expansão do uso nessas localidades”.
manutenção do volume da UHE Sobradinho através do Rio São Francisco. “Parece estar ocorrendo uma diminuição da disponibilidade nas bacias dos Rios Grande, Corrente e Carinhanha em relação às últimas décadas. Essa diminuição das vazões dos rios associada às projeções das demandas apresentadas indica que as vazões outorgáveis, no futuro, poderão necessitar ser revistas a fim de garantir o consumo otimizado e sustentável das águas nas bacias. Como a irrigação é a grande responsável pelo consumo de água na região, políticas de gestão voltadas aos irrigantes podem ajudar a garantir um futuro mais hidricamente seguro caso a tendência de redução das vazões naturais permaneça”, pontuou Agra. Além disso, pesa também o fator da redução das chuvas como sendo um dos principais condicionadores para a redução da vazão média. Com isso, a redução da precipitação e dos volumes dos rios deve servir de alerta para a gestão dos recursos hídricos. O documento ainda aponta que as “importantes iniciativas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco devem potencializar resultados de conservação e preservação das águas em toda a área do Aquífero Urucuia, no entanto, são indutoras e não finalísticas’’, ou seja, as ações do CBHSF podem ser potencializadoras, mas não terão condições de atingir os substanciais investimentos que precisam ser realizados em revitalização de bacias hidrográficas que visa o aumento na quantidade e qualidade das águas da bacia do Rio São Francisco.
Influência sobre a UHE Sobradinho O estudo indica que é possível ver claramente a redução das vazões de base nos três principais rios que contribuem para a
Sidnei Agra, Diretor da Profill, empresa que realizou o estudo
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Dois
dedos de
prosa
Em 2022, o SBHSF chega à quarta edição. Qual é a importância desse evento para a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco?
car soluções viáveis, principalmente para a bacia do Rio São Francisco. E o Simpósio traz exatamente essa proposta!
O Simpósio abre espaço para pesquisadores e acadêmicos apresentarem e debaterem estudos que contemplam a bacia. Serão apresentados resultados de pesquisas e difundidas informações que poderão trazer melhorias no futuro.
O que é preciso para avançarmos na melhoria das águas da bacia do Rio São Francisco?
Além dos eixos do Plano Diretor da Bacia, este ano o SBHSF terá como destaque o tema das mudanças climáticas, visto que o ciclo hidrológico tem apresentado alterações, o que representa um problema não só para a para bacia do São Francisco como para diversas outras. Também incluímos temas como o contexto rural, semiárido, educação ambiental e energia. As mudanças climáticas são, sem dúvidas, um dos maiores problemas da sociedade atual. Como a ciência pode auxiliar com essa questão?
Eduardo Coutinho Texto: Luiza Baggio
Evidências científicas constatam que os efeitos das mudanças climáticas já são uma realidade em muitas regiões. Ao conhecer melhor o problema e seus impactos adversos, conseguiremos propor soluções. A ciência tem um papel fundamental nesse debate.
O IV Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (SBHSF) acontecerá entre os dias 14 e 16 de setembro, em Belo Horizonte, em modalidade híbrida. Com o tema “Gestão Hídrica do Rio São Francisco: desafios e soluções”, o evento reunirá pesquisadores e acadêmicos de todo o país para apresentação de estudos sobre a bacia.
A gestão das águas é um grande desafio. Qual é o papel da ciência para o futuro da gestão das águas?
Entrevistamos o coordenador do IV SBHSF, Eduardo Coutinho de Paula, para saber mais sobre a relação da ciência com a gestão das águas. Ele é professor no Departamento de Engenharia Sanitária Ambiental (DESA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Também é graduado em Engenharia Química, com mestrado em Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Itajubá, Minas Gerais, e doutorado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG.
A ciência tem um papel importante nos avanços tecnológicos e sociais ao longo da história. Quando tratamos a água sob uma visão abrangente, existe uma situação crítica conhecida mundialmente que é a escassez. Portanto, as pesquisas podem bus-
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Presidente: José Maciel Nunes Oliveira Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano Secretário: Almacks Luiz Silva
Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607
Comunicação
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Apoio Técnico
O Velho Chico sofre com questões históricas como a falta de saneamento básico, por exemplo. As ações do CBHSF não são suficientes para a revitalização da bacia do Rio São Francisco, apesar de todo o esforço empregado. Esperamos por ações de revitalização! No geral, o que venho percebendo é que a temática de gestão das águas tem sido preterida em relação a outras. Então espero que o tema e as ações do Comitê sejam mais valorizados para conquistarmos avanços. Um titui põe sos trará
projeto recente do governo inso Novo Marco Hídrico que promudanças na política de recurhídricos do Brasil. A proposta benefícios para a gestão das águas?
O Novo Marco Hídrico é um tema delicado que trará uma complexidade, principalmente com a “privatização das águas”. Sem dúvidas a sessão onerosa coloca em risco os usos múltiplos ao criar o “mercado das águas”. A meu ver, com essa proposta o Brasil está caminhando na contramão de outros países que tiveram sucesso na gestão dos recursos hídricos. Em caso de aprovação, o Marco Hídrico pode neutralizar a participação da sociedade civil na gestão das águas, colocando em risco a atuação dos Comitês de bacias. Para ouvir a entrevista acesse: bit.ly/PodTrav129 ou escaneie o QR CODE ao lado.
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins Textos: Deisy Nascimento, Juciana Cavalcante e Luiza Baggio Fotos: Deisy Nascimento, Juciana Cavalcante e Seletiva Consultoria e Projetos Diagramação: Rafael Bergo Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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