CBHSF dá início à construção do PEA
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Comunidades rurais recebem sistema de esgotamento sanitário
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Dois dedos de prosa com o meteorologista Humberto Barbosa
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65 JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / MARÇO 2023
Neste número do Travessia apresentamos algumas das ações que o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco irá desenvolver este ano.
A capacitação para o manejo da irrigação acontecerá pela segunda vez nas quatro regiões fisiográficas da bacia. Em 2022, o CBHSF promoveu o curso e contemplou aproximadamente 120 produtores. A experiência foi tão positiva que outros irrigantes manifestaram interesse e, este ano, ampliamos o número de contemplados.
Outra ação de grande importância para o CBHSF é a implantação de sistemas individuais de esgotamento sanitário em localidades rurais na bacia do Velho Chico. Durante as visitas técnicas foi detectada uma grande deficiência em relação ao saneamento básico em algumas das localidades. As comunidades foram selecionadas por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse CBHSF 01/2022 e serão contempladas com sistemas individuais projetados.
Há muito almejado e agora finalmente saindo do papel, vamos construir, ao longo deste ano, o Plano de Educação Ambiental da Bacia do Rio São Francisco. Este plano, que agora começa a se materializar, vem atender a uma necessidade constatada ainda na revisão do Plano Diretor de Recursos Hídricos realizada em 2016. Atualmente, o plano está na fase do diagnóstico e o Comitê conta com a participação de maior número de moradores da bacia, que podem ajudar nessa construção respondendo ao formulário disponível no QR Code abaixo.
Abordamos, ainda, o projeto de requalificação ambiental do Rio Paramirim, importante afluente do Velho Chico, que sofre com o desmatamento e a substituição da cobertura vegetal nativa por zonas de pasto. A ideia é recuperar a mata ciliar ao longo de todo o percurso do rio, desde as suas nascentes até o município de Caturama, na Bahia. A saúde do nosso rio da integração nacional depende da saúde de seus afluentes.
Mantemos viva, também, a discussão que acontece ano após ano quanto às cheias e estiagens no Rio São Francisco. Como minimizar seus impactos, quais são as causas de impactos tão violentos, o que nós e o que o poder público podemos e devemos fazer para que tantas famílias não sejam prejudicadas.
Boa leitura!
José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF
Você sabia que o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco conta com uma série de podcasts através dos quais divulga suas ações e projetos?
Já são mais de 100 faixas que tratam sobre meio ambiente, recursos hídricos, entrevistas com especialistas, entre outros assuntos.
Ouça os podcasts Travessia e fique por dentro do trabalho do CBHSF. Disponíveis no spotify e no soundcloud, você também pode acessá-los no site do Comitê – www.cbhsaofrancisco.org.br
Notícias do São Francisco 02
EDITORIAL
CBHSF INICIA CONSTRUÇÃO DO PLANO DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NA BACIA DO SÃO FRANCISCO
Texto: Juciana Cavalcante/Foto: Edson Oliveira
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco iniciou, através da empresa Consominas, contratada pela Agência Peixe Vivo, o trabalho de construção do Plano de Educação Ambiental na Bacia do São Francisco (PEA-BHSF). Além de identificar, fortalecer e fomentar ações de educação ambiental despertando a consciência das populações para a preservação do rio, o PEA tornará possível a implementação de ações e práticas educativas permanentes, sistêmicas e integradas às metas descritas no Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco - PRH-SF.
Os trabalhos, que devem durar 12 meses, começaram no mês de novembro com uma reunião de partida cujo objetivo foi realizar os alinhamentos iniciais. Já em dezembro o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental (GTEA), instituído no âmbito do CBHSF, foi apresentado à equipe de técnicos. O GT, composto por representantes das Câmaras Consultivas Regionais (CCR), da Diretoria Colegiada do CBHSF (DIREC), da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP), além da Agência Peixe Vivo e da empresa Consominas, tem um papel ativo na elaboração do PEABHSF, a partir de um contato direto e estreito com a equipe que vai executá-lo, partilhando e disponibilizando informações, participando das discussões e apoiando as atividades de mobilização social, além de acompanhar a implementação do Plano. “O GT se comunica com regularidade e a partir de um cronograma já estabelecido as reuniões acontecem. Em janeiro tivemos a primeira reunião de 2023 para avaliar o Plano de Trabalho. O próximo produto será o diagnóstico, e acredito ser essa uma das etapas mais importantes de toda a construção do PEA. Na sequência outros produtos virão, até que fechemos com o Resumo Executivo. A partir da entrega, todos os produtos serão avaliados pelo GT e pela DIREC, e é importante que os mesmos sejam refinados não só pelos profissionais da área de educação ambiental, mas que também sirvam como ferramenta estratégica para o CBHSF. Só então serão apresentados nas CCRs e na Plenária”, explicou Altino Rodrigues, membro do GT.
No início deste ano, no dia 09/01, a Diretoria Executiva do CBHSF alinhou com a empresa sobre os produtos que deverão ser entregues, além do direcionamento sobre os públicos a serem contemplados durante a execução do projeto. Foram definidas também diretrizes a serem priorizadas na elaboração do PEA-BHSF. Além disso, ficou acordada a elaboração de uma carta, assinada pela
Diretoria para sensibilização e mobilização dos coordenadores das CCRs que também farão parte do processo.
Objetivos
O PEA deverá englobar toda a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco com seus 505 municípios. As regiões fisiográficas da bacia – Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco – serão as unidades de estudo e planejamento, que terão como foco principal a educação ambiental voltada à gestão de recursos hídricos, elaborada com um horizonte de dez anos. O Plano deve observar ainda as diretrizes constantes na legislação federal e dos estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e DF, assim como os normativos editados pelo CBHSF, as ações desenvolvidas e apoiadas pelo Comitê, com a vertente de educação ambiental e os demais documentos e regramentos pertinentes ao tema a fim de construir um banco de dados difusor da educação ambiental na bacia. “A necessidade de ações de educação ambiental havia sido diagnosticada durante a revisão do Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) do São Francisco ainda em 2016, e que agora começa a se materializar”, explicou Rodrigues.
A construção do PEA-BHSF compreenderá a elaboração de cinco produtos: Plano de Trabalho, Diagnóstico Participativo, Prognóstico, PEA-BHSF Consolidado e, por fim, o Resumo Executivo. Neste momento, as equipes já trabalham na fase do diagnóstico participativo que tem o objetivo de conhecer as dinâmicas do território, fazendo um recorte das ações e dos projetos de educação ambiental, mobilização social e capacitação que estão inseridos na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, assim como identificar os atores que estejam envolvidos para que possa ser realizada a hierarquização das melhores práticas implementadas e seus resultados, visando propor uma seleção daquelas com maior potencial para serem replicadas na bacia, observando as
particularidades de cada região fisiográfica. Para isso, a construção do Diagnóstico Participativo será dividida em cinco etapas visando também facilitar e orientar a coleta e a sistematização de dados e informações sobre projetos, ações e atores envolvidos com as práticas de educação ambiental, mobilização social e capacitação na BHSF.
O Diagnóstico Participativo é composto pela: etapa 1 – Levantamento e Consolidação das Informações sobre Educação Ambiental, Mobilização Social e Capacitação na Bacia do Rio São Francisco – Dados Secundários – Diagnóstico Prático; etapa 2 – Elaboração e Aplicação do Formulário Virtual para Coleta de Informações sobre o entendimento do Tema e Experiências de Educação Ambiental, Mobilização Social e Capacitação na BHSF –Dados Primários; etapa 3 – Hierarquização dos Temas para Educação Ambiental; etapa 4 –Realização de Oficinas Presenciais: apresentação do Plano de Trabalho e proposta de elaboração do PEA BHSF (compilado das Etapas 1 e 3) e etapa 5 – Elaboração de Oficina Virtual de Validação do Diagnóstico, com membros da DIREC do CBHSF, GTEA e Agência Peixe Vivo.
Oficinas
As oficinas presenciais, que têm o objetivo de ampliar e fomentar a participação social no processo de construção do PEA BHSF, serão realizadas nas cidades de Belo Horizonte/ MG (Alto), Barreiras/BA (Médio), Petrolina/ PE (Submédio) e Propriá/SE (Baixo) e terão duração de 8 horas cada. Nessa ocasião, será apresentada à comunidade a proposta de elaboração do PEA BHSF, assim como o compilado do levantamento das Etapas 1 e 2 e validação da hierarquização dos temas para Educação Ambiental (Etapa 3).
Ouça o podcast: bit.ly/PodTrav144
Notícias do São Francisco 03
A educação ambiental conscientiza e sensibiliza as pessoas sobre os limites da exploração dos recursos naturais do planeta
COM SISTEMAS
COMUNIDADES RURAIS NAS QUATRO REGIÕES DO SÃO FRANCISCO SERÃO BENEFICIADAS
INDIVIDUAIS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Visitas técnicas foram realizadas em nove comunidades da bacia para avaliar as localidades escolhidas para a implantação de sistemas individuais de esgotamento sanitário
Texto: Luiza Baggio, Juciana Cavalcante e Mariana Carvalho / Fotos: Guilherme Guerra
comunidades para avaliar as localidades escolhidas para a implantação de sistemas individuais de esgotamento sanitário. O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, que acompanhou as visitas, lembrou que o grande objetivo das ações realizadas pelo CBHSF é a preservação do Rio São Francisco. “Entendemos que saneamento é uma obra de revitalização e ressalto que o Comitê considera importante não somente os municípios da calha, mas todos da bacia com seus afluentes. Além disso, a gente tem priorizado também as comunidades tradicionais, principalmente aqueles municípios com menor IDH e famílias com menor fonte de renda”.
Na região do Baixo São Francisco, os municípios de Traipu e Santana de Ipanema, em Alagoas, e Pedro Alexandre, na Bahia, receberam as equipes técnicas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e da Agência Peixe Vivo, com o objetivo de elaborar um parecer técnico sobre a viabilidade da execução das intervenções.
Os sistemas individuais de esgotamento sanitário terão como soluções individuais a serem priorizadas os Tanques de Evapotranspiração (TEvap’s), considerando a viabilidade técnica e financeira para a sua execução. Inicialmente serão contratados os estudos e projetos e, posteriormente, por meio de novas licitações, será contratada a execução dos sistemas individuais projetados.
No alto São Francisco, as visitas aconteceram nas comunidades Tamboril, município de Jaíba, Várzea da Conceição, município de Mamonas e na comunidade quilombola Cachoeira dos Fornos, no município de Passa Tempo. De acordo com a coordenadora técnica da Agência Peixe Vivo, Flávia Mendes, que acompanhou as visitas, foi constatada deficiência no saneamento básico. “Na comunidade Tamboril predominam as ´casinhas` que eles chamam de ´privada`. Algumas casas não possuem sequer banheiro. O acesso ao local é bem difícil, então eles ficam em uma situação bem isolada e carente de tudo. A comunidade Mamonas também é bastante carente de adequação nas estruturas e serviços de saneamento existentes”, explicou.
Os municípios baianos de Lapão, João Dourado e Paratinga, no Médio São Francisco, serão os contemplados com a implantação de sistemas individuais de esgotamento sanitário, financiados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) com recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Durante a visita técnica às localidades, o coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, explicou que “entre os anos de 2014 e 2022, o CBHSF entregou 103 Planos Municipais de Saneamento Básico, quando constatou na maioria dos municípios contemplados enorme carência em relação à coleta e disposição dos efluentes domésticos, especialmente nas áreas rurais onde ainda predominam soluções inadequadas para o tratamento do esgoto, por isso o Comitê decidiu contemplar algumas dessas localidades”.
Os municípios de Jaguarari, na Bahia, e Inhapi e Pariconha, em Alagoas, receberam as equipes técnicas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, da Agência Peixe Vivo, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), acompanhados de representantes das
As comunidades foram selecionadas por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse CBHSF 01/2022, publicado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), com o objetivo de selecionar localidades rurais para serem beneficiadas com a implantação de sistemas individuais de esgotamento sanitário. A elaboração dos projetos e posterior implantação dos sistemas individuais de esgotamento sanitário serão financiadas pelo CBHSF
A iniciativa está de acordo com as metas de incremento do acesso aos serviços de esgotamento sanitário nos municípios da bacia estabelecidas no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco para o período de 2016 a 2025.
Notícias do São Francisco 04
Precariedade das instalações sanitárias no Baixo SF
Comunidade rural no Baixo SF
RIO PARAMIRIM É CONTEMPLADO COM OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL
Texto: Mariana Carvalho
Moradores de Paramirim, Érico Cardoso e Caturama, na Bahia, participaram do seminário inicial do projeto de requalificação ambiental das margens do Rio Paramirim. O evento ocorreu no início de fevereiro na Câmara Municipal de Paramirim e dá início à execução das obras de recuperação da mata ciliar do Rio Paramirim, desde as suas nascentes na Serra das Creoulas, no município de Érico Cardoso, até a sede do município de Caturama. Representantes do CBHSF, ONG Zabumbão, Agência Peixe Vivo (APV) e poder público municipal prestigiaram a cerimônia, organizada por profissionais da empresa Aplicar Engenharia.
O projeto foi elaborado pela ONG Zabumbão, sediada no município de Paramirim, e selecionado pelo Edital de Chamamento Público N°01/2018 do CBHSF. Após financiar o diagnóstico das áreas de intervenção, o Comitê está investindo na execução das obras, que envolvem medidas como cercamento das Áreas de Preservação Permanente (APP’s), recomposição florestal das APP’s cercadas, instalação de sistemas para dessedentação animal, recomposição florestal de nascentes, entre outras. Igor Santos, coordenador técnico da Aplicar Engenharia, empresa contratada para execução dos serviços, fez uma apresentação com os principais pontos do Termo de Referência (TDR) do projeto.
O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, destacou que o desmatamento e a substituição da cobertura vegetal nativa por zonas de pasto representam uma ameaça ao regime de vazão dos corpos hídricos. “Essas alterações têm contribuído para a degradação progressiva das nascentes e consequente perda da qualidade da água. Por isso a importância de ações para proteção e recuperação das matas ciliares, que também
contribuem para o aumento da disponibilidade hídrica”, explicou Campos.
A moradora de Paramirim e presidente da ONG Zabumbão, Bárbara Leão, celebrou o início das obras que concretizam o objetivo de proteger e reflorestar o rio que dá nome à cidade. “Um dos problemas é que, em diversos trechos do rio, existem propriedades rurais em que o gado acessa livremente o curso d’água e pasteja nas margens. Já foi demonstrado que o pisoteio e a alimentação desregulada dos animais nessas áreas impacta negativamente o solo. É preciso repensar certas práticas e buscar o desenvolvimento sustentável das comunidades inseridas na região”, defendeu Leão.
Ao todo, o projeto representa um investimento de R$1.070.970,09, arrecadados através da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco. “A cobrança viabiliza a execução de projetos hidroambientais, elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico e ações de educação ambiental. O CBHSF está comprometido em divulgar, sempre que possível e de forma didática para a população, como funciona a política nacional dos recursos hídricos no Brasil”, pontuou Ednaldo Campos.
O secretário de Agricultura, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Saneamento de Érico Cardoso e representante do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Paramirim e Santo Onofre, Anselmo Caires, ressaltou a importância do rio Paramirim para milhares de famílias. “O Paramirim é o maior afluente da margem direita do Rio São Francisco e fundamental para quem quer continuar vivendo e produzindo no Vale do Paramirim”, avaliou Caires.
O prazo de execução das obras é de 19 meses, contados a partir de janeiro de 2023. O escopo do projeto envolve, além de intervenções destinadas à recuperação ou conservação da cobertura vegetal, ações de mobilização social, como seminários, oficinas e ações de educação ambiental. “A mobilização social será cotidiana, durante todo o tempo de duração dos serviços faremos ações para conscientizar a população local sobre a importância de se preservar a nascente”, explicou Igor Santos. “Serão realizadas três oficinas de Capacitação e Educação Ambiental, uma em cada município beneficiado”, complementou Paula Silva, da equipe técnica da Aplicar Engenharia.
A trabalhadora rural e membro do sindicato dos trabalhadores rurais de Paramirim, Edelsute Abreu Ramos, saudou a iniciativa. “A população irá participar e contribuir para que esse projeto, que trata de um patrimônio natural e cultural da região, seja executado da melhor forma possível”, disse Ramos. O secretário da CCR Médio São Francisco, Claudio Pereira, reforçou os compromissos necessários à gestão sustentável dos múltiplos usos da água. “Cabe lembrar que a água é um bem de domínio público, um recurso natural limitado e que seu uso tem sido normatizado para garantir que seus diversos usos sejam assegurados”, afirmou Pereira.
O seminário de abertura promoveu, ainda, a escuta da população sobre as etapas apresentadas. Os participantes contribuíram com sugestões, sanaram dúvidas sobre os próximos passos e confraternizaram entre si.
Notícias do São Francisco 05
Seminário Inicial do projeto de requalificação ambiental do Rio Paramirim
MESMO COM DOIS ANOS CONSECUTIVOS DE CHEIA, OS PROBLEMAS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO NÃO DEVEM SER MINIMIZADOS
Texto e foto: Juciana Cavalcante
Desde 2020, o Rio São Francisco tem vivido tempos menos difíceis devido às intensas chuvas que possibilitaram maiores volumes de água ao longo do seu leito. Em 2022 e no início deste ano a bacia esteve sob o decreto de situação de cheia, realidade bem diferente da última estiagem, considerada a pior em cem anos, e que chegou a provocar a seca da principal nascente do Velho Chico em 2014, na Serra da Canastra, em Minas Gerais.
Embora o cenário seja animador, não é possível afirmar que essas fortes chuvas possam repor o que está se perdendo de superfície de água na bacia, é o que afirma o pesquisador e coordenador da Expedição Científica do Baixo São Francisco, Emerson Soares. Segundo ele, o problema da bacia vai além da falta de chuva, tratando-se ainda do balanço hídrico, ou seja, repor o que se retira. “E essa equação não fecha, porque se tira mais água do que se repõe. Ademais, os rios contribuintes para formação do Velho Chico passam por problemas ambientais graves como desmatamento, assoreamento, consumo de água muitas vezes desregrado e dificuldade de gestão”, destacou Soares.
Depois da mais recente e forte estiagem, registrada entre os anos de 2012 e 2018, em 2019 houve uma pequena melhora no regime de chuvas e em 2020 a vazão do rio aumentou, ficando com média anual de 1.450 m³/s, permanecendo estável em 2021. Já em 2022 e 2023 aconteceu um aumento considerável da vazão, quando, no ano passado, houve três meses de vazões oscilando entre 2.800 e 4.200 m³/s, com mais de 30 dias na média de 4.000 m³/s. Já este ano, foram mais de 15 dias com vazões de 4.000 m³/s, devido ao período chuvoso nas cabeceiras dos afluentes do São Francisco.
Mesmo assim, a bacia do São Francisco continua inspirando sérios cuidados já que, até hoje, as obras de revitalização, quase que em sua totalidade, têm sido feitas e financiadas apenas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Em 2014, quando a nascente do São Francisco chegou a secar, a informação era de que o volume do rio não seria afetado devido à água dos seus afluentes. No entanto, a estiagem se prolongou e atingiu a maioria dos quase 200 afluentes.
O secretário da Diretoria Colegiada do CBHSF, Almacks Luiz Silva, lembra que nos últimos anos a bacia do São Francisco tem vivenciado os impactos das mudanças climáticas e um dos resultados sentidos é a mudança no padrão de cheias. “É preciso reforçar que as mudanças climáticas já têm afetado também a bacia do São Francisco. Antigamente, a cada 30 anos se registrava cheia, a exemplo de cheias históricas, e agora tivemos no ano passado e este ano novamente. Isso deve ser cada vez mais recorrente, ou seja, as cidades que se acostumaram com as longas estiagens e acabaram permitindo a invasão de áreas pertencentes ao Rio, precisam se adaptar às cheias e entender que o rio requer o seu espaço sempre que tem maiores volumes. Além disso, o Comitê alerta que não pode ser atribuído ao rio o despejo de esgoto, restos de obras e tantos outros poluentes que assoreiam, degradam e provocam os problemas que temos visto ao longo do tempo: precisa-se de conscientização, educação ambiental, respeito ao rio, porque se perdemos o rio, não existe plano ‘B’”, conclui.
Mas com a melhora no regime de chuva nos últimos anos, será que esse seria um novo padrão para a bacia? A resposta, de acordo com o professor Emerson Soares, é de que esse dado é impreciso. “É muito embrionário falarmos que este é um novo padrão para bacia, pois os modelos têm seus erros. Além disso, devido às mudanças climáticas a
nível mundial, é muito arriscado dizermos que isso irá se manter já que o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevê secas mais intensas e chuvas mais torrenciais. Não sei dizer se este padrão se manterá ano que vem. Na minha opinião, qualquer modelo para embasar períodos chuvosos encontrará muitos erros e terá dificuldades nessa previsão. O certo é que o Velho Chico vem perdendo um grande percentual de volume de água nas últimas décadas e não podemos confiar que o rio dará conta das atribuições de gerar energia, irrigar, abastecer municípios, entre outras, com a alta demanda imposta, além do aumento do desmatamento dos seus afluentes, mudanças climáticas e aumento da necessidade de água devido ao aumento do adensamento populacional no entorno de sua calha”, destacou.
Período
úmido
em 2023
De acordo com o Diretor de Operação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), João Henrique de Araújo Franklin Neto, o reenchimento dos reservatórios na bacia do São Francisco, deve ocorrer no final do período úmido, ou seja, até abril. Em março de 2020 a usina hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, atingiu, depois de 11 anos, 100% de sua capacidade. Já a UHE Sobradinho, na Bahia, chegou ao volume máximo no ano passado, em abril de 2022, marca alcançada pela última vez em 2009, há 13 anos.
Com isso, de acordo com dados da Chesf, a região Nordeste foi, pelo terceiro ano consecutivo, exportadora de energia, sendo que no ano de 2022, a região foi exportadora em todos os meses do ano, perfazendo um valor de 3.733 MW médio no ano de exportação de energia para as demais regiões do País, correspondendo a um aumento de 37% em relação à exportação do ano de 2021.
“Essa condição de Nordeste exportador de energia é decorrente da expressiva expansão da fonte de geração eólica e solar na região, associada à melhoria das condições hidrológicas da bacia do Rio São Francisco, tendo como consequência maior acúmulo de água no Reservatório de Sobradinho, que possibilita a utilização plena dos recursos hídricos dos reservatórios das usinas operadas pela Eletrobras Chesf nesta bacia. Atualmente, a região tem se mantido exportadora de energia para o Sistema Interligado Nacional – SIN, em virtude das condições favoráveis. Essa também é a tendência futura para o Nordeste”, afirmou o Diretor de Operação da CHESF, João Henrique.
Notícias do São Francisco 06
Ponte que liga Juazeiro e Petrolina, sobre o Velho Chico
CBHSF PROMOVERÁ, PELA SEGUNDA VEZ, CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA O MANEJO DA IRRIGAÇÃO NAS QUATRO REGIÕES DA BACIA
A agricultura irrigada se destaca na paisagem da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco: quase 80% de toda a água captada é destinada ao suprimento de sistemas de irrigação (PRHSF 2016-2025). Observando esse cenário e a crescente pressão sobre a disponibilidade hídrica na bacia, o CBHSF decidiu realizar investimentos de forma continuada na capacitação de usuários de água. Em 2023, produtores de dois municípios por região fisiográfica da bacia serão contemplados com o curso de capacitação para o manejo da irrigação.
No Médio São Francisco, os municípios selecionados foram Presidente Dutra e Bom Jesus da Lapa, ambos na Bahia. Em janeiro, o coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, e o coordenador técnico da Agência Peixe Vivo (APV), João Paulo Coimbra, visitaram os locais onde os cursos serão realizados. “O objetivo dessa primeira visita é apresentar as ações de capacitação para atores chaves e pontos focais, e verificar as condições dos locais onde acontecerão as aulas teóricas e práticas. Em seguida, será publicado o ato convocatório para contratação da empresa que irá realizar a capacitação”, explicou Coimbra.
As cidades de Lagoa Grande, em Pernambuco, e Abaré, na Bahia, receberam a visita da coordenação da Câmara Consultiva Regional
do Submédio São Francisco para iniciar os procedimentos que resultarão no curso que deve atender pelo menos 60 irrigantes. O coordenador, Cláudio Ademar, esteve nos dias 14 e 15 de janeiro, junto com o coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, Guilherme Guerra, nas cidades onde se reuniram com prefeitos e secretários. O objetivo foi dar as orientações primárias para a seleção dos irrigantes, que será realizada pelas prefeituras. “Queremos envolver irrigantes das mais diversas áreas e culturas porque assim eles podem replicar para os demais os conteúdos aprendidos de modo que as informações atinjam ainda mais pessoas”, afirmou o prefeito de Lagoa Grande, Vilmar Cappellaro.
“Quando realizamos pela primeira vez a capacitação no ano passado, sentimos o anseio que a população tinha por esse tipo de conteúdo e, aliada a essa demanda dos ribeirinhos, decidimos transformar a ação em um programa continuado para atender a bacia como um todo”, explicou o coordenador da CCR, Cláudio Ademar.
As visitas ainda serão realizadas nas regiões do Alto e do Baixo São Francisco, que também terão municípios contemplados.
As capacitações para o manejo da irrigação serão práticas e teóricas, com carga horária mínima obrigatória para obtenção do
certificado de participação. O material didático aborda conceitos básicos sobre irrigação, relação entre solo, água, clima e plantas, importância do manejo e suas principais metodologias, sistemas de irrigação e o uso de tensiômetros. Nas aulas práticas, serão realizados exercícios de manuseio e operação de tensiômetros e cada participante será contemplado com duas unidades de 20cm e 40cm de profundidade. A expectativa é que cada turma tenha, aproximadamente, 30 alunos.
A ação promovida e financiada pelo CBHSF faz parte do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (PRH-SF 2016-2025), que apontou um déficit quanto à capacitação de usuários de água na bacia, o que levou o Plano de Metas do PRH-SF 20162025 a recomendar investimentos de forma contínua a fim de capacitar usuários de água. O diagnóstico apontou ainda que quase 80% de toda a água captada na bacia é destinada ao suprimento de sistemas de irrigação. Dentre os principais polos de agricultura irrigada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco destacam-se como grandes usuários de água a região do Vale do São Francisco com cidades como Petrolina/Juazeiro na fruticultura irrigada; o oeste da Bahia, pela produção de algodão e cereais; o noroeste de Minas, com a cana-de-açúcar e cereais; e a região de Propriá, pela rizicultura (cultivo agrícola do arroz).
Notícias do São Francisco 07
Texto: Juciana Cavalcante e Mariana Carvalho
Visita da CCR Submédio à Lagoa Grande
DOIS DEDOS DE PROSA
Entrevista: Juciana Cavalcante
A bacia do São Francisco ficou sob estado de cheia nos últimos dois anos. Essas cheias podem contribuir com a saúde do Rio São Francisco, já tão fragilizada pela degradação e secas severas?
Os períodos secos são relativamente comuns no Rio São Francisco. Apesar disso, há uma crescente preocupação sobre a capacidade de esse rio responder a esses eventos. Isso em razão da tendência de essas secas se tornarem mais frequentes e extremas, devido aos efeitos da mudança climática. Um acentuado esgotamento dos níveis de água subterrânea, simultâneo ao aumento no teor de umidade do solo, foi observado durante as secas mais severas do período, indicando uma intensificação da captação de água subterrânea, para irrigação de áreas agrícolas. Além disso, uma quantidade de detritos e produtos químicos é espalhada pelo fluxo, poluindo não apenas o ecossistema do rio, mas também as águas subterrâneas na área de captação. Esse processo acelerado de erosão ribeirinha ameaça um número crescente de habitats naturais ribeirinhos, promovendo deslizamentos de terra e liberação de substâncias tóxicas no meio ambiente.
Humberto Alves Barbosa
Nascido em Campina Grande (PB), Humberto é professor universitário e meteorologista, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS), do qual é coordenador na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Geoprocessador e Treinador no Curso de QGIS “Mapa da Mina”.
Graduado em Meteorologia pela então Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande, em 1995, é mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 1998, e Doutor em Água, Solo e Ciências Ambientais, pela University of Arizona, em 2004.
Realizou estágio pós-doutoral na University of Bergen, na Noruega, em 2009, e atuou como pesquisador na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), no período de 2005 a 2006.
Segundo o estudo de sua autoria, “Drought Assessment in the São Francisco River Basin Using Satellite-Basedand Ground-Based Indices” (Avaliação de Secas na Bacia do Rio São Francisco por meio de Índices Terrestres e de Satélite) publicado pelo periódico suíço Remote Sensig, o Rio São Francisco perdeu, em 35 anos, mais de 30 mil hectares de superfície com água e, no ano passado, o MapBiomas reforçou a perda de 50% da superfície de água natural entre 1985 e 2020. É possível que em se confirmando períodos regulares de cheia, esse volume possa ser reposto em parte?
Em um cenário de mudança climática e aumento das secas, é fundamental fortalecer a governança compartilhada das águas, com participação dos vários setores sociais, visando atender aos usos prioritários e garantir a gestão sustentável deste recurso escasso. De acordo com a pesquisa, em 35 anos o maior reservatório do Nordeste, o Rio São Francisco, perdeu mais de 30 mil hectares de superfície com água – o que corresponde a cerca de 4% do seu volume total. Isso decorre do impacto do desmatamento da Caatinga no entorno da bacia, que deixa o solo desprotegido e ainda o torna mais vulnerável ao processo de desertificação.
Há alguma influência das mudanças climáticas nas últimas cheias de 2022 e 2023? É possível que tenhamos mais cheias a partir de agora devido às mudanças climáticas? Se sim, quais seriam os impactos para a bacia?
O padrão de circulação atmosférica em 2022-2023 foi especialmente favorável para o aumento do nível anual de água na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. A maior parte do São Francisco experimentou chuvas torrenciais durante vários dias e semanas. Todavia, a ameaça da mudança climática, desertificação e intensificação das secas coloca em questão a sustentabilidade desse manancial. Prevê-se que a precipitação em 2023 seja igualmente alta, se não maior. Parte disso se deve à variabilidade natural, mas certamente parte se deve às mudanças climáticas.
Acostumados com o padrão de secas e estiagem comuns à bacia do São Francisco, é possível que períodos mais frequentes de cheia alternados com a previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de secas mais severas possam estabelecer um efeito de contrabalança? Ou podemos ter mais problemas na bacia nos próximos anos?
As grandes secas que afetaram o Rio São Francisco estiveram historicamente mais concentradas na região do Baixo São Francisco. No entanto, de acordo com a pesquisa do Lapis, há sinais de condições crescentes de seca, nas demais áreas da bacia, como é o caso do Alto e Médio São Francisco. Na avaliação de secas agrícolas e hidrológicas, em toda a bacia do Rio São Francisco, os pesquisadores evidenciaram uma tendência maior de ocorrerem secas na área de drenagem que abrange desde a Bahia até Minas Gerais (regiões do Médio e Alto São Francisco). Isso foi observado pelos pesquisadores durante o período de 1980 a 2015, coincidindo com o fenômeno El Niño ou quando houve maior resfriamento nas águas do Atlântico Sul. Também houve tendência de aumento dos eventos de secas extremas de longo prazo, em termos de severidade e duração, na área do Rio São Francisco, mas essa característica não foi observada em escala sazonal, durante 1980-2015. Ou seja, houve variação na frequência desses eventos climáticos. O fato é que o futuro do Rio São Francisco está nas mãos de todos os cidadãos. Precisamos de um projeto abrangente que inclua todos os envolvidos: municípios, estados, União, comunidade científica, sociedade civil, empresas, bem como as comunidades locais que vivem ao longo do rio.
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