Travessia Nº 08 - Notícias do São Francisco - Dezembro/2017

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travessia Notícias do São Francisco

JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / DEZEMBRO 2017 | Nº 08

A 7ª edição do Circuito Penedo de Cinema bateu recorde de público, contando com aproximadamente 15 mil pessoas O XIX ENCOB reuniu representantes de Comitês de Bacias de 22 estados brasileiros, além de enviados da Alemanha, Antíqua, França e Peru

Em Sobradinho, no norte baiano, o cenário é de desolação com a crescente redução no volume de água

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Editorial PACTO DAS ÁGUAS MAIS PRÓXIMO Reunião de grande importância feita por videoconferência a partir da sede da Agência Nacional de Águas (ANA) para os estados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco fixou as bases da minuta final de resolução daquele órgão destinada à adoção de novas e mais apropriadas regras para operação dos reservatórios do Rio São Francisco, tanto em situações de estiagens prolongadas, como em situações hidrológicas favoráveis. A adoção das novas regras atende a uma demanda feita originalmente pelo CBHSF à ANA no sentido do estabelecimento de uma agenda mais estratégica para o gerenciamento participativo e compartilhado das vazões do Velho Chico. Depois de meses de diálogo e negociação conduzidos pela própria ANA, contando com a participação dos principais atores institucionais envolvidos no uso e na gestão das águas do Velho Chico, o CBHSF considera que as novas regras irão constituir um primeiro e determinante passo para a difícil, porém continuada tarefa de consecução do Pacto das Águas na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Prioridade de primeira ordem para o CBHSF, o Pacto das Águas deverá prosseguir sua construção futura com a definição das vazões de entrega dos grandes afluentes à calha principal do São Francisco, mudanças nas matrizes agrícola e energética de sua Bacia Hidrográfica e outras medidas de grande alcance para a segurança hídrica, os usos múltiplos e a gestão sustentável das águas franciscanas, contemplando, inclusive, as demandas da variante ambiental. Anivaldo Miranda Presidente do CBHSF

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CNRH aprova por unanimidade alteração no regimento interno do CBHSF Alteração será feita também na resolução que trata dos Comitês de Bacia Texto e foto: Priscilla Atala O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) aprovou por unanimidade em sua 37ª reunião ordinária, realizada no dia 31 de outubro, em Brasília (DF), alteração no regimento interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que regulamenta os critérios de renovação dos membros do colegiado. A matéria já havia sido aprovada em julho de 2016 pela CTIL, do CBHSF, e entrou em debate no CNRH após a Agência Nacional das Águas (ANA) encaminhar ofício para o Conselho por entender que a alteração estava em desacordo com a Resolução Nº 5 do CNRH. O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, comemorou a decisão e explicou o funcionamento do processo. “Fizemos a alteração no regimento por demanda do próprio plenário do Comitê, o nosso processo eleitoral foi regularmente realizado por toda a extensão do São Francisco”, explicou. Ainda segundo Anivaldo, a decisão

fortalece o sistema de recursos hídricos no país, onde na base da pirâmide estão os Comitês de Bacias e no alto o CNRH. O presidente agradeceu também o empenho e a colaboração do secretário Nacional de Recursos Hídricos, Jair Vieira Tannus Júnior, e do presidente da CTIL, Sérgio Gonçalves, em debater o assunto. Como resultado dessa discussão, o CNRH decidiu também por unanimidade revisar sua Resolução Nº 5, que dispõe sobre o funcionamento dos Comitês de Bacia, o que valerá para todos os Comitês. O presidente da Câmara Técnica Institucional e Legal do CNRH, Sérgio Gonçalves, apresentou a matéria aos conselheiros e ressaltou que a CTIL referendou a alteração realizada pelo Comitê por não encontrar nenhuma ilegalidade no processo. “Tivemos ampla discussão sobre a matéria dentro da CTIL, que achou por bem que a resolução nº 5 fosse revisada, pois já tem mais de uma década”, avaliou.

Ednaldo Campos (CCR Médio São Francisco), Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF, Roberto Farias (CTIL) e Maciel Nunes Oliveira, vice-presidente do CBHSF, na reunião do CNRH

Ministro do Meio Ambiente recebe presidente do CBHSF em Brasília Assuntos relacionados à agenda do Rio São Francisco foram tema da pauta da reunião Texto e foto: Priscilla Atala O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, foi recebido no dia 1º de novembro, no gabinete do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, em Brasília (DF), para tratar de agendas relacionadas ao Rio São Francisco. Anivaldo entregou ao ministro o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco. “Nós queremos que todos os atores da Bacia Hidrográfica tenham acesso ao Plano, pois ele é um grande patrimônio de todos, foi construído com recursos da cobrança pela água bruta e é um instrumento que pode ser utilizado tanto pelo governo federal, quanto pelos governos estaduais”, explicou. Também foi entregue a Sarney Filho o Plano de Aplicação de Recursos na Bacia do São Francisco, que aponta investimentos necessários para revitalização da Bacia até 2026.

Segundo Anivaldo, é necessário o investimento de 30 milhões de reais para que todas as metas do plano sejam cumpridas. “Nós viemos pedir o apoio para que, com os recursos que vêm para a Agenda Verde do Ministério do Meio Ambiente, o órgão possa executar esses recursos dentro das metas e diretrizes do Plano da Bacia”, explicou. O ministro Sarney Filho ressaltou o protagonismo dos Comitês de Bacia na qualificação do debate sobre os recursos hídricos e a importância da participação social. “É imprescindível que as políticas ambientais sejam cada vez mais participativas, para que tenham maior legitimidade e transparência, adequadas às reais necessidades socioambientais de cada região hidrográfica”, avaliou. Encontro do presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, e o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, em Brasília

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20 anos da Lei das Águas foi tema de debate no Encob O fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas entrou na pauta da discussão Delane Barros e fotos: Márcio Dantas Os 20 anos de existência da chamada Lei das Águas foi tema da Mesa de Diálogo no primeiro dia de atividades do Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob), no dia 08 de novembro, entre os presidentes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, e da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo. Durante sua fala, Miranda arrancou aplausos de uma plateia atenta, quando defendeu firmemente a discussão no Congresso Nacional da necessidade de preservação e manutenção do Cerrado e da Caatinga. Miranda defendeu o reforço dos Comitês de Bacias Hidrográficas, desde os estaduais até os federais. “Os Comitês são plurais, não são ONG’s, governo, empresa privada e são tudo isso ao mesmo tempo. É a semente que se lança para uma nova democracia, porque promove a cultura do diálogo e isso deve prevalecer”, afirmou o presidente do CBHSF. Anivaldo Miranda recordou a última

reunião promovida pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em Brasília (DF), na qual defendeu o fortalecimento do espaço desses colegiados dentro do CNRH. “Os Comitês não se sentem representados naquele Conselho Nacional”, concluiu Miranda. O presidente da ANA concordou com a fala de Anivaldo Miranda quanto à necessidade de promover o fortalecimento dos Comitês junto ao sistema de recursos hídricos. Ele aproveitou para solicitar ao Senado que se retire de pauta o Projeto de Lei nº 315, através do qual retira recursos da Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos (Cfurh) para aplicação nos municípios. “Trata-se de um projeto que tramita sem a discussão necessária e, da forma como está, o dinheiro não será devidamente aplicado para o que se destina”, alertou Andreu, sem dar detalhes sobre autoria da proposta e tramitação. Vicente Andreu defendeu o fortalecimento

dos Comitês, a releitura da Lei 9433/97, a chamada Lei das Águas, e a revisão e padronização das outorgas por parte dos Comitês, o que ele considera fundamental. O presidente da ANA também aproveitou a oportunidade para provocar uma reflexão quanto à cobrança pelo uso da água bruta. Segundo ele, a proporção atual nas bacias hidrográficas em que há cobrança é de 5% dos usuários responderem por 95% da arrecadação, o que causa insatisfações. A Mesa de Diálogo contou com a mediação dos presidentes do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH), Affonso Henrique de Albuquerque Júnior, e do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), Eduardo Dantas. Os debatedores responderam às perguntas da plateia. O Encontro Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas aconteceu em Aracaju, entre os dias 07 e 11 de novembro.

O Encob contou com a participação de representantes de 22 estados, além de enviados por Alemanha, Antíqua, França e Peru

Durante o Encontro, Anivaldo Miranda defendeu o fortalecimento dos Comitês de Bacias

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A Mesa foi composta pelos presidentes do FNCBH, Affonso Henrique de Albuquerque Júnior, do CEIVAP, Eduardo Dantas, do CBHSF, Anivaldo Miranda e da ANA, Vicente Andreu


Programação do Circuito Penedo de Cinema 2017 foi um sucesso com recorde de público Filmes, shows, oficinas e outras atividades aconteceram em Penedo entre os dias 6 e 11 de novembro Texto: Vitor Luz e Fotos: Edson Oliveira O Circuito Penedo de Cinema, edição de 2017 bateu recorde de público reunindo aproximadamente 15 mil pessoas. A Praça Doze de Abril, na cidade histórica de Penedo (AL), foi palco do evento entre os dias 06 e 11 de novembro. O Festival teve uma vasta programação que contou com palestras, mesas redondas, mostras de longas e curtas metragens. O Circuito Penedo de Cinema é realizado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em parceria com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas (SECULT), e pelo Instituto de Estudos Culturais, Políticos e Sociais do Homem Contemporâneo (IECPS), com patrocínio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Diversas autoridades participaram da abertura do evento e expuseram a importância de sua realização na cidade ribeirinha. “Eu quero agradecer a todos, quero dizer que Penedo recebe de braços abertos a todos nesse evento e que tenhamos uma semana bem frutífera para que possamos fazer cada vez mais cinema”, declarou o coordenador geral do Circuito Penedo de Cinema, professor Sérgio Onofre. O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, ressaltou que a entidade faz uma gestão sustentável dos recursos hídricos e, nesse trabalho, é importante contar com a relevância da dimensão cultural. “O Rio São Francisco envolve histórias, sentimentos e a criatividade das pessoas. Juntando o imaginário e a tarefa de mudar hábitos, nós chegamos aqui, que é o ponto de confluência para mudar a realidade do dia a dia e as formas de fazer com que isso seja entendido. Então, nada melhor que a arte para fazer isso. Nesse sentido, o cinema pode nos ajudar, e muito, não só na criação de obras de arte, mas em documentários que tratam de ações ambientais. O nosso Comitê também patrocina a Mostra Ambiental e esperamos que a cada ano isso se torne mais conhecido”, disse Anivaldo.

Vencedores do Circuito Penedo de Cinema

Solenidade de abertura do Festival

Mostra infantil teve público animado

Confira os vencedores do Circuito Penedo de Cinema 4º Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental Júri Popular: Pedro e o Velho Chico (Minas Gerais | Direção: Renato Gaia). Vencedor do troféu Canoa de Tolda

Júri Oficial: 3º lugar - Manancial (Paraíba | Direção: Bruno Soares) e Animais (São Paulo | Direção: Guilherme Alvernaz) 2º lugar - Latossolo (Bahia | Direção: Michel Santos) 1º lugar - A Piscina de Caíque (Goiás | Direção: Raphael Gustavo da Silva)

7º Festival de Cinema Universitário Júri Popular: Desaparecido (São Paulo | USP | Direção: GuiliMinki) – Vencedor do troféu Canoa de Tolda

Júri Oficial

Vencedor: Autofagia (Pernambuco | UPE | Direção: Felipe Soares) O Júri decidiu entregar uma menção honrosa aos produtores dos filmes Solito (Rio Grande do Sul | PUC-RS | Direção: Eduardo Reis) e A Rua das Casas Surdas (Rio Grande do Sul | PUC-RS | Direção: Flávio Costa e Gabriel Mayer)

10º Festival do Cinema Brasileiro Júri Popular: Uma Balada para Rocky Lane (Pernambuco | Direção: Djalma Galindo)

Júri Oficial: 3º lugar - Super Frente, Super-8 (Sergipe | Direção: Moema Pascoini) e Teresa (Alagoas | Direção: Nivaldo Vasconcelos) 2° lugar - Frequências (Pernambuco | Direção: Adalberto Oliveira) 1º Lugar - Quando Parei de me Preocupar com Canalhas (São Paulo/Goiás | Direção: Tiago Vieira)

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CBHSF entrega obras de recuperação hidroambiental na Bahia Obras vão promover o acesso à água, melhoria do manejo de solo com redução do processo de salinização e a contenção de processos erosivos Texto: Juciana Cavalcante Fotos: Almacks Luiz Com o intuito de implantar intervenções que promovam a recuperação hidroambiental nas Bacias dos Rios Preto, em Mirangaba, e Veredas da Caatinga, em Jacobina, na Bahia, foram entregues, na primeira semana de novembro, obras que irão promover o acesso à água, melhoria do manejo de solo com redução do processo de salinização e a contenção de processos erosivos. As obras consistiram na colocação de 1.060 metros de cercas, execução de valetas e canaletas de adução, construção de 65 barragens de contenção de sedimentos, 10 barraginhas consociadas a terraços prática mecânica de combate à erosão em Taquarendi, distrito de Mirangaba. Foram construídas também 13 barragens subterrâneas compreendendo 200 metros lineares consociadas a 13 poços amazonas, ao longo do leito do Rio Veredas da Caatinga, para a captação de água na comunidade de Caatinga do Moura, em Jacobina. O trabalho, realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), permitirá uma maior disponibilidade de água na região possibilitando a redução de conflito pelo uso da água. Em Caatinga do Moura, na parte mais baixa do distrito, já não há disponibilidade de água, onde também é evidente o assoreamento, além da salinização e alcalinização do solo. Já em Taquarendi, há a prevalência do carreamento provocado por área em processo erosivo e pelo manejo inadequado de solo praticado pelos produtores locais, comprometendo as nascentes contribuintes do Rio Salitre. “Estas são regiões com sérios problemas onde a água não chega mais. Com a conclusão das obras, a água do escoamento se infiltra lentamente criando e elevando o nível da água subterrânea, melhorando a oferta de água para as famílias dessas comunidades. São obras sem custos tão altos e que se pagam por si, devido ao resultado para o rio, que é o objetivo do Comitê ao financiar obras hidroambientais”, afirmou o secretário da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Almacks Luiz. Incluindo o processo de obras, que durou seis meses, as comunidades também foram envolvidas na mobilização social, integrando os moradores às ações realizadas. A população participou ainda de seminários e oficinas de capacitação e educação ambiental.

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Rio Preto, em Mirangaba

CBH PASO encerra projeto na Bacia do Riacho Caldeirão Texto e fotos: Higor Soares O Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Paramirim e Santo Onofre (CBH-PASO) realizou, no dia 27 de outubro, o encerramento do Projeto de Recuperação Hidroambiental na Bacia Hidrográfica do Riacho Caldeirão, localizado no município de Igaporã (BA). O encontro, que aconteceu na sede da Escola Família Agrícola, contou com a presença de representantes do poder público, sociedade civil, sindicatos, engenheiros e técnicos da LOCALMAQ, empresa responsável pelo projeto, e o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Médio São Francisco, Ednaldo Campos. O projeto teve duração de 13 meses com o objetivo de promover a recuperação hidroambiental das Sub-Bacias Hidrográficas dos Rios Santo Onofre e das Rãs com foco específico na micro-bacia do riacho Caldeirão por meio de ações de proteção do Córrego Caldeiras e do desenvolvimento de trabalhos de mobilização social e capacitações de educação ambiental. Com o custo total de R$ 636.115,88 investidos pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), através da Agência Peixe Vivo, o projeto executou serviços de topografia, recuperação de áreas degradadas, construção de bacias de contenção e de barragens de pedra. Para o vereador Antônio Carlos, o projeto deve ser considerado como patrimônio para o município. “Todo esse investimento de recurso, tempo e trabalho deve ser valorizado

não apenas com o nosso agradecimento, mas com a continuidade do patrimônio físico e educacional que nos foi entregue”, ponderou. O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, complementou a visão do vereador. “O beneficio está feito e implementado, mas não vai dar resultado se não houver manutenção e replicação das ações. O poder público municipal deve ficar atento aos reparos que serão necessários no futuro e a sociedade deve monitorar, zelar e cobrar pelo direito de ter um meio ambiente preservado”, concluiu. Ainda durante o ato de encerramento, representantes do núcleo escolar, em parceria com representantes das comunidades, formalizaram um pedido de complementação do Projeto de Recuperação Hidroambiental para desenvolvimento e implementação de biodigestores.

Reunião de encerramento do Projeto de Recuperação Hidroambiental na Bacia do Riacho Caldeirão


Crise hídrica mostra sua face mais dura no Submédio São Francisco Sobradinho, no norte baiano, reúne cenários de desolação com a crescente redução no volume de água Texto: Juciana Cavalcante e fotos: Emerson Leite Vivenciando um dos piores períodos de estiagem já registrados, o Vale do São Francisco, onde fica situado o maior lago artificial do Brasil, o reservatório de Sobradinho, no norte baiano, reúne, como em toda Bacia Hidrográfica, cenários de desolação com a crescente redução no volume de água. A formação de bancos de areia, o aumento das margens do rio, a diminuição dos peixes, problemas para o abastecimento humano e animal nas cidades, além dos desafios para se tornar possível a irrigação das plantações são os problemas cada vez mais evidentes para todas as comunidades na região do Submédio São Francisco. “O cenário é de devastação. Onde hoje podemos caminhar em solo firme, existia muita água, quase quatro metros de altura e a cena que nos deparamos agora é de muita tristeza. Esse é o resultado não só

da seca que nos assola há 10 anos, mas é também da ausência de medidas contínuas de preservação. Não temos mais tempo, precisamos revitalizar ou, em muito breve, não haverá mais rio”, afirmou o funcionário público Francisco Ivan de Aquino, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho. Operando com uma vazão de 550 m³/s, o reservatório de Sobradinho, que recebe em torno de 310 m³/s, comporta apenas 3,6% do seu volume útil, segundo o último relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado em 19 de outubro. Embora haja uma perspectiva esperançosa em relação ao período de chuva por parte da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), os ribeirinhos seguem em dúvida se esse volume será suficiente para minimizar os efeitos atuais da seca. Pessoas como o pescador Manoel Eduardo Souza, um dos

poucos a resistir na profissão, relata as dificuldades em viver apenas da pesca. “É cada vez mais difícil viver da pesca. Todos os anos vemos o rio secar ainda mais, formando ilhas onde antes só existia água. Muitos pescadores se viram obrigados a deixar seu ofício porque não tem mais peixe”. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) continua atuando para garantir do Governo Federal a execução imediata da revitalização, única forma viável para preservar e recuperar todo o leito do rio. “Precisamos sim discutir políticas públicas viáveis e que possam contribuir para a qualidade do rio e consequentemente para a quantidade e qualidade da água para atender aos múltiplos usos”, concluiu o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianelli de Lima.

Vista aérea do Lago de Sobradinho

Barragem de Sobradinho

Formação de bancos de areia vem aumentando às margens do rio

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Dois

dedos de

prosa

Silvia Freedman “O Alto é a caixa d’água do São Francisco!” Coordenadora da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, Silvia Freedman foi uma das fundadoras do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e conta que é apaixonada pelo rio desde sua infância. Mineira e moradora de Três Marias (MG), às margens do reservatório e do rio, após o seu primeiro barramento, Sílvia sempre vivenciou de perto as belezas e as tristezas do São Francisco, seja brincando em suas águas ou se dedicando aos trabalhos em prol do Velho Chico. A coordenadora do CCR Alto sempre trabalhou com mobilização, sensibilização, implantação de projetos hidroambientais, entre outras ações. Sua atual gestão à frente do Alto é fruto da colaboração de todos os segmentos que compõem o São Francisco. Silvia é graduada em Administração de Empresas e Direito, especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos, Ecologia, Conservação e Manejo sustentável de Recursos Naturais e Direito Público.

Texto: Priscilla Atala e foto: Bianca Aun

Qual a importância do Alto São Francisco para a Bacia? O Alto São Francisco tem uma responsabilidade imensa na produção de água em quantidade e qualidade. Composta por 240 municípios dos 504 de toda a Bacia, contribui com 72% das águas por meio de seus importantes afluentes, como o Paracatu, Pará, Paraopeba, Velhas, Abaeté, Jequitaí e Pacuí, Urucuia,Verde Grande, entre vários outros. Entendo o Rio São Francisco como resultado final e consequência das ações humanas e das políticas públicas exercidas em seus afluentes. Quais são os principais desafios para a gestão das águas na região? O Alto São Francisco, apesar de ser considerada uma região de grande importância hídrica, tem inúmeros problemas, que tendem a se agravar, e também uma contribuição acentuada de vários tipos de poluição e degradação. O nosso maior desafio é executar as diretrizes dos eixos temáticos do Plano Diretor de Recursos Hídricos, que é o norteador dessa gestão. Para tanto, decidimos trabalhar de forma participativa, com um coordenador e seus representantes para cada eixo, o que é fundamental para o sucesso e resultado dos trabalhos.

A água tem a função de promover a vida dessas pessoas. O olhar para a água tem que ser o olhar da sustentabilidade da vida. Os ribeirinhos, por exemplo, precisam do rio para todas as suas atividades diárias. Sejam pescadores, agricultores, pequenos ou grandes usuários. Estamos sentindo a necessidade da água de forma mais acentuada desde 2012, quando começamos a gerenciar imensos conflitos devido ao longo período de estiagem e à diminuição da vazão do rio. Várias cidades não conseguem sequer a captação para o uso prioritário, que é para o consumo humano.

travessia imprensa@cbhsaofrancisco.org.br www.cbhsaofrancisco.org.br

O meu maior medo é a interrupção do curso do rio a partir da barragem de Três Marias. Essa situação pode ser ilustrada pelas atuais ocorrências de seca nos afluentes mineiros, que representam 72% das águas do rio. Nossa contribuição como membros e cidadãos para o futuro do São Francisco está em unir as forças das coordenações do Alto e das demais CCRs para realizar o que propomos. Afinal, o Alto é a caixa d’água do São Francisco.

Silvia Freedman, coordenadora da CCR Alto São Francisco

Foto de Capa: a foto é de Edson Oliveira e retrata totem às margens do São Francisco, em Penedo (AL), durante o Circuito Penedo de Cinema. Impressão: Gráfica Atividade Tiragem: 5000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

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Qual é o futuro do São Francisco?

Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição: Mariana Martins Textos: Delane Barros, Juciana Cavalcante, Higor Soares, Vitor Luz e Priscilla Atala Projeto Gráfico: Márcio Barbalho Assessoria de Imprensa: Mariana Martins Fotos: Acervo CBHSF / TantoExpresso : Higor Soares, Delane Barros, Priscilla Atala, Edson Oliveira, Emerson Leite, Almacks Luiz e Bianca Aun

Acompanhe as ações e os projetos do CBHSF por meio do nosso portal e redes sociais

#cbhsaofrancisco

A falta do acesso hídrico nos ensina a necessidade de racionalização e de valorização desse bem tão precioso que é a água. Também aprendemos que temos que nos unir e agir imediatamente para minimizar os impactos e garantir os usos múltiplos desse recurso. Pois além da água para beber, precisamos aprender a produzir de forma sustentável.

Sabemos que a população que vive às margens do Velho Chico é dependente do rio para viver. Qual é a função social da água para os moradores da região?

Notícias do São Francisco

Presidente: Anivaldo de Miranda Pinto Vice-presidente: José Maciel Nunes Oliveira Secretário: Lessandro Gabriel da Costa Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF - Tanto Expresso

A Agência Nacional de Águas (ANA) instituiu em julho deste ano, com o apoio do CBHSF, o “Dia do Rio”. A medida consiste na suspensão da captação de água todas as quartas-feiras até o fim de novembro. Qual o aprendizado que a escassez hídrica traz para a população?

Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607 Assessoria de Comunicação: comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Comunicação

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