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7.3.4 Considerações sobre a disponibilidade hídrica superficial

Figura 7.46 – Hidrogramas, no período entre 1990 e 2020, observado (azul) e simulado (vermelho) na minibacia da estação fluviométrica 45260000, na bacia do rio Carinhanha.

7.3.4 Considerações sobre a disponibilidade hídrica superficial

Além das vazões geradas e informações localmente relevantes, a principal mensagem que este item busca passar é que existem dois processos distintos ocorrendo nas bacias dos rios Carinhanha, Corrente e Grande.

O primeiro é a significativa redução da precipitação que vêm ocorrendo ao longo das últimas décadas e que provoca a redução das vazões observadas em todas as ordens de grandeza, sejam nas máximas, mínimas ou médias. As reduções observadas nas estações fluviométricas, principalmente nas máximas, mas também nas mínimas, não podem ser explicadas somente pelo aumento das demandas das bacias uma vez que a irrigação tem pouca influência sobre as vazões máximas. Ainda, as reduções apresentadas são superiores às demandas levantadas no item 7.1.

O segundo processo é o impacto de fato que as vazões demandadas têm capacidade de causar sobre as vazões mínimas. Ao longo da apresentação dos resultados das simulações, em diversas vezes observou-se que o modelo representava bem as vazões médias e os hidrogramas no início das simulações, mas que ao chegar em 2010 passava a haver uma distância entre simulado e observado. Em várias estações esse efeito foi observado especificamente no

período a partir de 2018. Além disso, mostrou-se que as diferenças entre as vazões de referência Q90 e Q95 do simulado para o observado eram similares às demandas hídricas superficiais a montante de alguns locais e no exutório das bacias. Isso significa que as projeções das demandas têm potencial para agravar ainda mais a redução das vazões mínimas caso o regime pluviométrico não se altere ou piore.

Deve-se ainda considerar possíveis modificações na disponibilidade hídrica ocasionadas pelas intensas mudanças no uso do solo da bacia, algo que não foi explorado no presente estudo pela restrição de aplicação temporal do MGB, sem a avaliação anterior a 2004, e pela utilização de apenas um mapa de URHs em um ano intermediário do período de calibração. Outras possibilidades de expansão do estudo incluem estudos sobre impactos da variabilidade climática além da precipitação, como mudanças na insolação que podem levar ao aumento da evapotranspiração. Como mostrado, vêm ocorrendo a diminuição da precipitação ao longo dos últimos 40 anos e, com isso, é provável que tenham aumentado as horas de sol ao longo dos dias, o que também contribui para a redução da vazão.

De maneira geral, também fica clara a importância do aquífero Urucuia para a disponibilidade hídrica nas bacias e que, na mesma medida em que há o aumento das projeções das demandas superficiais, possivelmente também aumentará as vazões retiradas do aquífero. Essas retiradas somadas à redução da recarga pela redução do regime de precipitações têm potencial para causar diminuições gradativas das vazões superficiais.

Dessa maneira, conforme mostrado na análise da precipitação, não se pode descartar a hipótese de que o cenário atual de precipitações na bacia permaneça assim durante alguns anos, ainda que também não há como prever que um cenário de altas vazões como as observadas na década de 80 não possam vir a ocorrer novamente. Porém, em um cenário de gestão integrada e voltada para o manejo hidrologicamente sustentável das fontes de água, deve-se estar preparado para o pior cenário, que seria uma redução ainda maior do volume precipitado. Para se estar preparado para esse cenário, é necessário pensar no melhor aproveitamento dos recursos hídricos e de maneira otimizada. Nesse sentido, é fundamental a interlocução com os irrigantes da região, que são os maiores consumidores e beneficiados pelas águas superficiais e subterrâneas.

Com relação à aplicabilidade do modelo MGB para as bacias avaliadas, observou-se o mesmo foi capaz de representar de maneira satisfatória as séries

de vazões e as vazões de referência. Para a maioria das estações fluviométricas foram obtidas medidas de desempenho superiores a 0,5 para as métricas Nash e Nash-log. Além disso, os erros volumétricos também ficaram bem baixos e próximos a zero.

As vazões de referência atualmente afluentes ao rio São Francisco foram calculadas buscando-se não considerar e, também, considerar as demandas. Também foram fornecidas as vazões de referência em locais de interesse nas bacias, além ter sido possível, pelo uso do modelo, gerar as vazões de referência para todos os trechos das redes de drenagem, nesse caso, sem buscar embutir os efeitos das demandas superficiais.

Espera-se que os resultados obtidos possam ajudar a esclarecer a dinâmica hidrológica atual das bacias, bem como servir aos propósitos dos diferentes agentes tomadores de decisão.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA O APERFEIÇOAMENTO DA GESTÃO E USO SUSTENTÁVEL DO AQUÍFERO URUCUIA

O Relatório 5 apresenta os principais resultados obtidos ao longo da execução do contrato em vigência, os quais foram detalhadamente explicados nos Relatórios 2 ao 4. Tais resultados possibilitaram responder alguns questionamentos realizados: • As vazões superficiais, com 90% de permanência, na foz das três principais bacias correspondem a, aproximadamente, 170 m3/s no rio Grande, aproximadamente 125 m3/s na foz do rio Corrente e, aproximadamente, 70 m3/s na foz do Rio Carinhanha. Estas vazões indicam a ordem de grandeza da contribuição firme (com alta permanência) de cada bacia para o rio São Francisco. Estas indicações estão detalhadamente analisadas no item 7.3. • Os resultados do presente estudo apontam para uma demanda total de água de, aproximadamente, 47,5 m³/s na Bacia do rio Grande, 20,45 m³/s na Bacia do rio Corrente e 5,01 m³/s na Bacia do rio Carinhanha. A demanda para a irrigação compreende percentualmente a mais de 95% do uso da água. Os estudos de demanda estão detalhados no item 7.1 do presente relatório final. • O mapeamento atualizado do uso do solo, descrito no item 6 apontou que a extensão de área irrigada é ligeiramente maior no período úmido (maio) do que no período seco (setembro), o que pode estar relacionado com o fato de que, em muitos casos, a irrigação é utilizada de forma complementar à precipitação. Cerca de 2.233 hectares de área são irrigados no primeiro período (maio), representando 1,53% da área total, e, aproximadamente, 2.497 hectares são irrigados no segundo período (setembro), representando 1,71% da área total. Importante destacar também que outras áreas de 1.263 hectares (0,86%) e 1.000 hectares (0,68%) foram classificadas nos dois períodos como “pivô sem vegetação”, ou seja: áreas que dispõe de pivôs central e podem indicar uma certa variabilidade da área irrigada calculada em anos distintos. Acrescente-se que, além desta área irrigadas, a região de

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