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Fundição injetada: qualidade do produto final só é assegurada com aços de excelência
38 FUNDIÇÃO INJETADA: QUALIDADE DO PRODUTO FINAL SÓ É ASSEGURADA COM AÇOS DE EXCELÊNCIA
Helena Silva *
* Revista MOLDE
Durabilidade. Maleabilidade. Elasticidade. Resistência. Condutividade térmica. Resistência à corrosão. Estas são as principais características do aço, fundamentais para os fabricantes de moldes de uma maneira geral, mas que se revestem de especial importância quando esses moldes são para fundição injetada. É que, advertem os fabricantes, o material a injetar mais agressivo que o plástico e a necessidade de manter a alta temperatura do molde são duas das exigências deste processo que obrigam a que as empresas tenham de optar por aços de excelência.
Os responsáveis da Portumolde, são perentórios: “O aço, por si só, não é ‘o garante’ do processo de fundição injetada”. Contudo, a sua importância é inquestionável. Mas, como em qualquer processo, “o aço tem de ser o adequado às características do material a fundir”. De resto, sublinham, é necessário acautelar um conjunto de variáveis, de forma a “garantir a qualidade do processo de fundição injetada”. E o aço é uma delas.
E neste aspeto, a escolha dos clientes e as tecnologias a utilizar têm um peso grande no bom desempenho do aço, quando o material a injetar se caracteriza por uma agressividade (ao aço) maior do que os polímeros.
Salientando que, enquanto alguns clientes “preferem um tipo de aço associado a um tratamento térmico específico, acrescido de um tratamento de endurecimento superficial e ainda, de um revestimento PVD”, outros, por seu turno, “não podem dar-se ao luxo de investir tanto no molde, porque a quantidade de peças a injetar não o justifica”. Caso a caso, enfatizam, “é essencial ouvir o cliente, perceber exatamente o que é pretendido e, propor-lhe o molde ideal”.
Um outro aspeto para o qual chamam a atenção é, nesta matéria, as empresas terem a preocupação de se fazerem rodear de “parceiros fiáveis, tanto ao nível da matéria-prima como dos tratamentos térmicos ou dos revestimentos técnicos”. “Quando não soubermos ou não tivermos uma resposta, temos estrutura para ir à procura, testar, propor, encontrar soluções e continuar a servir o cliente”, salientam, considerando que “este compromisso só é possível com uma relação muito próxima com o cliente, logo na fase de orçamentação e, obviamente, na fase de projeto do molde”.
A ‘comunicação’ é, no seu entender, a palavra-chave para que “se consiga um bom produto final”.
“Quanto mais fácil for a comunicação com o cliente, melhor conseguiremos otimizar tempos e custos de execução, não permitindo que pequenas questões/dúvidas originem erros de interpretação e tenham consequências desagradáveis nos moldes”, acentuam. Até porque uma condicionante que a fundição injetada ainda tem é a escassez de respostas no que diz respeito aos softwares de simulação de injeção. “Comparativamente com os simuladores de injeção para material plástico, os resultados obtidos são ainda muito pobres, quer ao nível da forma dos canais de injeção, fugas de ar, dimensionamento, geometria do ataque e da quantidade de “masselotes”, etc. Há sempre necessidade de recorrer à experimentação, tentativa e erro, para alcançar os resultados pretendidos pelo cliente”, explicam, considerando que, por este motivo, “a nossa experiência (Portumolde e cliente) tem primordial importância”.
O FATOR PREÇO
“O cliente não pretende correr riscos desnecessários” e, por isso, “prefere aços que ofereçam maior garantia de sucesso às suas ferramentas”. No entanto, ressalvam, “não há aços eternos”. Ainda para mais quando estamos perante um processo que é “muito agressivo, abrasivo e as temperaturas praticadas não se podem subestimar”.
“O desgaste vai aparecer no aço”, destacam ainda, adiantando que “aparece tanto mais tarde quanto melhor for o aço, a adequabilidade dos tratamentos e o cuidado que o cliente devotar ao molde durante a produção. Num primeiro ensaio, o melhor molde do mundo (fabricado na Portumolde, se permitem o gracejo), no melhor aço do mundo, pode ser severamente danificado se for indevidamente aquecido”. Por vezes, contam ainda, “até o cliente mais exigente falha neste tipo de procedimentos”.
Quando confrontados com o fator preço, defendem que este está longe de ser o adequado. “O cliente pretende sempre uma solução que lhe garanta o sucesso do seu processo, sem risco e ao menor custo”, explicam.
“Na realidade esta comparação de preços de mercado global é a principal ameaça do momento. No imediato, um fabricante de moldes como nós é o primeiro a perder. Mas, na realidade, o cliente final acaba por ser o mais prejudicado, pois perde qualidade, reprodutibilidade e vê aumentados os seus custos de manutenção e de não qualidade”, frisando que “são os próprios clientes que nos transmitem esta dura realidade, mas ao mesmo tempo veem-se obrigados pelos seus
departamentos financeiros a comprar a outros fabricantes, noutras latitudes, onde os preços são mais competitivos do que os nossos”.
Por isso, no seu entender, é “crucial, mais do que nunca, privilegiar clientes e fornecedores que nos possibilitem continuar a colocarmonos num patamar de cooperação, parceria e partilha de conhecimento que tornem os nossos moldes de fundição injetada (e de injeção de materiais plásticos também) incontornável, mesmo em presença dos tais outros preços de mercado”.
“Aprendemos todos os dias com todos os nossos clientes - que não consideramos apenas clientes, mas sim parceiros”, acrescentam, explicando que “posicionaram-nos num mercado, deram e continuam a dar-nos oportunidade de melhorar e, após todos estes anos, continuam a confiar na Portumolde”. Por isso, “da nossa parte, fazemos dos problemas do cliente os nossos problemas e, esforçamo-nos continuamente para merecer a sua confiança e as suas encomendas”.
DURAMOLDES: EUROPA ASSEGURA QUALIDADE NA ESCOLHA DO AÇO
A escolha dos aços para os moldes de fundição injetada é uma das questões que contribui para o sucesso dos projetos. “Hoje, os fundidores têm isso bem presente, sabem o que querem e optam pelos melhores aços”, conta António Santos, da Duramoldes, adiantando que, no caderno de encargos, essas preferências já estão definidas. A opção é, na maioria dos casos, do próprio cliente. No entanto, o fabricante aponta alternativas sempre que considera serem mais vantajosas para o projeto. “Parceria e troca de ideias e opiniões são muito importantes neste processo”, diz.
E essa escolha do aço impacta em questões como o tamanho, a utilidade ou a complexidade das peças e até mesmo com os equipamentos que serão utilizados. “O grau de exigência é elevado”, enfatiza. Por isso, os aços que a empresa utiliza são oriundos da Europa, habitualmente de Espanha, França, Áustria, Suécia ou Alemanha.
“Sabemos que há aços bons noutras partes do mundo, mas os fundidores querem o aço da Europa” que, no entender de António Santos, “é de muito boa qualidade”.
Apesar disso, esta preferência apresenta algumas dificuldades. É que, sublinha, “nem sempre existem aços no mercado com a disponibilidade que precisamos”. Exemplifica: “pedimos o aço, temos o desenho
pronto, mas temos de esperar e, num momento em que estamos a lidar com uma redução enorme nos prazos de construção do molde, cinco ou sete dias fazem muita diferença”. “O tempo é crucial”, adverte, frisando que, “muitas vezes, os fornecedores de aço não têm o mesmo ritmo que os fabricantes de moldes”.
MELHORIA CONTÍNUA
Um outro aspeto que, no seu entender, deveria ser também melhor acautelado é o fator preço. “Por incrível que possa parecer, temos em Portugal preços de aços mais altos do que, por exemplo, em Itália ou Espanha. E, na atual situação, não conseguimos refletir isso no projeto e acabamos por perder”, explica, adiantando que a adjudicação de projetos de moldes está a ser feita “por valores que se praticavam há quatro ou cinco anos, mas o preço do aço não tem acompanhado isso”. Exemplifica que, no caso de outros materiais também essenciais ao fabrico, o fator preço “está a ser tido em consideração e apresenta valores mais competitivos”.
Se o preço nem sempre agrada, o mesmo não acontece com a variedade. Para António Santos, os aços que “há no mercado estão bem dissecados, com todas as qualidades necessárias”. Adianta que “as empresas que fabricam aços trabalham em consonância com as necessidades e está sempre a haver inovação e melhorias”.
O tratamento térmico é, para si, fundamental neste processo. Lembra que o aço para fundição injetada “morre em pouco tempo”. Ou seja, raramente consegue sobreviver para além das 150 mil injeções. “Um dos principais problemas nem é o desgaste; é o choque térmico, o aquece-arrefece”, afirma, salientando a importância que assume, neste processo, a “boa refrigeração”.
SIMPLAC: BOM AÇO É DETERMINANTE NA FUNDIÇÃO INJETADA
“A seleção do aço para trabalho a quente para os moldes de fundição injetada de alta pressão, é um fator-chave e determinante para a qualidade do processo”. Quem o defende é Luís Machado, diretor geral da Simplac. Adianta que esta seleção é feita “conforme a sua classificação” e que segue “uma norma”. A qualidade do aço é um aspeto essencial e, por isso, conta, a empresa opta por aços europeus, sobretudo franceses, alemães ou italianos. “Esta seleção deve-se à elevadíssima qualidade das acearias europeias”, justifica. Para além da grande experiência que têm, estes fabricantes de aço apresentam uma diversidade de soluções, indo de encontro às mais exigentes necessidades, acrescenta.
Esta classificação é, no seu entender, fundamental como garante de qualidade. Permite selecionar e ajustar os aços a cada aplicação. Considera que, no nosso país, esta é uma questão que ainda não é muito estudada, mas há sobre ela grandes desenvolvimentos, por exemplo, na Alemanha, nos Estados Unidos, Canadá ou na Austrália. “O conhecimento destes requisitos é, nesses países, muito forte”, sublinha.
/ / Luís Machado - Simplac E na sua opinião, o aço é efetivamente um dos aspetos-chave do processo, sendo determinante, por exemplo, “no fabrico de peças de elevadíssima exigência, com espessuras muito finas ou baixos níveis de porosidade”. Uma escolha errada, frisa, “pode pôr em causa a qualidade da produção”.
Por outro lado, salienta, o aço determina também a velocidade da produção. Exemplificando com algumas características, como o coeficiente de dissipação térmica, a resistência ao choque e à fadiga térmica, e acrescentando outras como a sua temperabilidade, estabilidade dimensional, boa maquinabilidade ou polimento, considera que tudo isso influenciará direta e indiretamente o tempo de ciclo e número de paragens não programadas. A juntar a isto, considera que, no caso da fundição injetada, são fulcrais questões como os tratamentos térmicos e os revestimentos.
PRESSÃO
Um dos aspetos que Luís Machado considera que deveria ser revisto diz respeito ao preço. A exemplo de outros produtores de moldes, considera que este é “muitíssimo elevado em algumas acearias europeias que não se representam diretamente em Portugal e, por isso, não assegura a competitividade dos produtores”.
A pandemia de Covid-19 veio também agravar uma situação que, desde 2016, não estava bem. Explica que foi nessa altura que a indústria sofreu devido ao escândalo, na indústria automóvel, da falsificação de emissões de gases poluentes. “Houve muitos projetos congelados, paragens, entre outros fatores, que arrastaram as dificuldades durante três anos”, conta, sublinhando que, no momento em que a situação parecia estar a registar alguma melhoria, em 2020, surgiu a pandemia.
Resultado: “os preços dos projetos têm vindo a ser pressionados e os moldistas e produtores de ferramentas para a indústria estão a ser puxados ao limite”. Por isso, considera que “o somatório da crise criada pela pandemia eliminou a margem que já era baixíssima”. A forma de superar, de algum modo, a situação é, no seu entender, “diversificar o negócio”, uma vez que “os moldes estão muito pressionados”. No caso da sua empresa, exemplifica, “estamos a procurar tomar medidas. Se fossemos apenas moldistas já tínhamos fechado a porta”.