
10 minute read
Qualidade do aço é requisito essencial para eficácia na injeção
Helena Silva *
* Revista MOLDE
35
É certo que quando pensamos na indústria de moldes, o aço é um dos primeiros materiais que temos em consideração. É essa liga metálica que, desde há décadas, é esculpida para criar as mais diversas peças, em vários tipos de polímeros. A exigência de indústrias como a médica ou a alimentar, bem como a necessidade de assegurar ciclos cada vez mais rápidos, têm levado os fabricantes a ser mais seletivos na escolha dos aços. É que estes são diferentes em função da sua origem. E essa diferença pode sair cara a quem produz. Algumas empresas de moldes para plásticos dão-nos conta do papel que tem o aço no processo de fabrico.
Quando a temática é aço, a diferença faz-se pela escolha de fornecedores. Estes devem ser altamente qualificados, de forma a dar segurança aos produtores de moldes. Em síntese, é desta forma que Jorge Gaspar, da VL Moldes, olha para esta questão.
Ao longo dos últimos anos, salienta, a indústria de moldes (portuguesa e mundial), “tem sido confrontada com o surgimento e a utilização massificada de polímeros cada vez mais técnicos e complexos”, sendo, por isso, imprescindível a “utilização de aços que garantam as propriedades exigíveis ao processamento desses mesmos materiais”. Por outro lado, para além desses novos requisitos, “também se tem vindo a assistir, por parte dos clientes, a um incremento no valor do número de ciclos de moldação como garantia do molde”, destaca ainda, concretizando que “para as mesmas condições em que há uns anos era exigida uma garantia entre 500 mil ou um milhão de ciclos, hoje estão a ser exigidos milhão e meio ou dois milhões de ciclos ou até mais”.
Face a isto, a forma que os fabricantes de moldes têm para diminuir os seus riscos é “socorrerem-se da utilização de aços provenientes de fornecedores qualificados”. E como garantem essa qualidade? “Mediante a emissão de um certificado de origem de produção”, esclarece, adiantando que são ainda anexadas informações sobre a composição do aço, a barra/lote da qual foi cortada a peça, permitindo desta forma “uma correta rastreabilidade, caso surja algum problema durante a vida do molde”.
No caso da VL Moldes, essa garantia é assegurada pelos aços europeus e, por isso, é neles que recai a escolha da empresa.
COMPETITIVIDADE
A qualidade é fundamental, mas tem de se aliar um preço justo, sob pena das empresas de moldes perderem competitividade. O custo do aço, salienta Jorge Gaspar, é “em alguns casos, uma parcela relevante do custo do molde”. Exemplifica: “num mercado global, cada vez mais competitivo, em que o fator ‘baixo custo’ tem cada vez mais um papel fulcral na seleção do fornecedor do molde, uma diferença de preço de fornecimento do aço de 1€ ou 2€/Kg, pode significar um incremento de vários milhares de euros no custo final do molde”. A diferença é de tal forma significativa que deixa “em desvantagem concorrencial a empresa que tem de suportar os custos de aquisição da matéria-prima mais elevados”.
Por vezes, é o próprio cliente que, na sua análise, não tem presente a diferença entre um aço de maior ou menor qualidade, olhando apenas ao fator preço. “Ambos [os tipos de aço] cumprem as mesmas normas internacionais, mas apresentam desempenhos diferentes e consequentemente têm custos de aquisição também diferentes”, enfatiza.
E o papel do cliente neste processo de seleção, lembra, tem crescido. “Ao dia de hoje, cada vez mais, os clientes têm cadernos de encargos de execução de moldes mais completos, onde definem de uma forma clara o tipo de aço a ser utilizado, consoante o tipo de polímero a ser processado”, explica. Contudo, e reportando-se à sua empresa, são sugeridos aços alternativos, “caso não concordemos com a opção do cliente e tendo por base a nossa vasta experiência na execução de moldes para peças e materiais de elevada complexidade e características técnicas”.
E isto é imperioso porque a qualidade do aço, recorda, tem um enorme impacto no processo de injeção. E concretiza: “a sua incorreta seleção, por exemplo, no caso das zonas moldantes, pode comprometer o acabamento final desejado para a peça plástica, potenciar um indesejável aumento no tempo de ciclo na obtenção de um produto de acordo com os requisitos do cliente, assim como, diminuir a longevidade da ferramenta”.
/ / Jorge Gaspar - VL Moldes
Quanto melhores as características do aço, maior a qualidade que o fabricante de moldes pode assegurar ao seu cliente, defende ainda, considerando que esta escolha permite “cumprir os requisitos previamente definidos, diminuindo o risco de falha/intervenção em produção, potenciando a diminuição do tempo de ciclo e a longevidade da própria ferramenta”.
Olhando para o contexto do fabricante, considera que “se essas melhorias potenciarem um melhor e simples processamento, garantindo as mesmas propriedades mecânicas, isso levará a uma redução dos prazos e custos envolvidos”.
Mas há uma outra questão que Jorge Gaspar considera que tem de ser tida em conta: os prazos de fornecimento. No seu entender, estes “não se coadunam com o tempo cada vez mais reduzido para o fornecimento de primeiras amostras, havendo situações em que esse período é cerca de metade do prazo de execução do molde, inviabilizando a seleção desse material, apesar de ser o mais indicado para determinada aplicação”.
“Uma melhoria significativa da oferta disponível (especialmente em termos de prazos) e dos seus custos, iria aumentar a competitividade dos fabricantes de moldes portugueses”, conclui.
IMOPLASTIC: GARANTE DE QUANTIDADE E LONGEVIDADE
“O aço tem de ser escolhido em função de quatro questões essenciais: a quantidade de peças a produzir, se o molde necessita de ter mais ou menos longevidade, a configuração da peça plástica e, fundamentalmente, o material plástico a injetar”. Quem o defende é João Moita, da Imoplastic, para quem, numa escala de zero a cinco, o aço terá uma importância de um patamar abaixo do máximo. É, pois, de uma importância fulcral.
E para além da seleção ‘básica’ do tipo de aço, o processo de fabrico é complexo e exige outro tipo de decisões, que recaem noutros tipos de materiais metálicos. Exemplifica com o caso de alguns postiços, feitos por sinterização. “Têm de ser feitos e não pode ser pelo processo ‘normal’; tem de haver uma escolha de aço, mas em pó”, adianta. Aponta um outro exemplo de uma liga metálica que também entra nesta ponderação: “Utilizamos muito, também, o Ampcoloy, que permite a refrigeração mais rápida e eficaz de determinadas zonas”.
A escolha do tipo de aço a utilizar é feita, logo na fase inicial, pelo cliente, salienta. No entanto, e no caso da Imoplastic, “contrapomos outras soluções quando entendemos que a escolha não é a mais acertada”. Mas, sublinha, “normalmente, são os clientes quem maior conhecimento tem do processo de injeção, pelas experiências por que passaram e têm uma opinião mais concreta sobre os tipos de aço”.
São também os clientes quem, por norma, tem uma posição mais sustentada sobre as características das ligas dos aços. João Moita refere que os fabricantes desenvolvem essas características que vão melhorar a performance do aço, procuram dá-lo a conhecer aos produtores de plásticos e é, normalmente, a partir destes que esse conhecimento chega aos produtores de moldes. Esta etapa, no seu entender, teria ganhos se os fornecedores apresentassem, com maior regularidade, essa gama de inovações aos produtores de moldes. “Normalmente, a informação é-nos transmitida, mas nem sempre com a velocidade que seria desejável”, afirma, defendendo sentir o mesmo em relação ao desenvolvimento dos polímeros. Se houvesse melhorias nesta comunicação com fornecedores, defende, “seria vantajoso para nós, produtores de moldes, porque podíamos sugerir outro tipo de materiais aos nossos clientes que mais favorecessem o processo de fabrico”.
“No caso dos aços, a oferta hoje é bastante grande”, esclarece, sublinhando que essas ligas acabam por introduzir melhorias no processo final, mas encarecem o aço. “Desde sempre, mas sobretudo neste período de dificuldade pelo qual estamos a passar, tentamos ao máximo que o fornecedor do aço nos faça um preço o mais baixo possível e dilate os prazos de pagamento”.
Os preços, no seu entender, têm aumentado, mas de forma bastante gradual. Ou seja, o preço do aço acaba por “não ter uma expressão muito elevada na competitividade das empresas, exceto quando os moldes são de grandes dimensões”. Em números, considera que esse custo representará, normalmente, entre 7 a 8% do total. Mas salienta que há exceções e casos em que esse valor poderá ascender a 40%.
CERTIFICAÇÃO
O mais importante, defende João Moita, é a qualidade do aço. Esse fator, salienta, tem “um impacto enorme” no processo de produção. Por isso é que no seu entender, é extremamente relevante a origem do aço a utilizar. No caso da sua empresa, os fornecedores são normalmente europeus, sobretudo alemães. O aço é acompanhado pelo certificado de qualidade, que garante segurança a quem o compra.
E esta é uma questão muito relevante, não só porque os clientes a valorizam, mas porque atesta que, em caso de problemas, o fornecedor assume a sua responsabilidade. “No nosso caso, tentamos trabalhar com duas ou três entidades cuja origem seja a mais fiável possível”, afirma.
João Moita chama ainda a atenção para uma outra questão que tem enorme importância no que diz respeito ao aço: os tratamentos de superfície. “Há muitos tratamentos de superfície que estão a ser cada vez mais utilizados, como complemento ao aço ou para melhorar o atrito entre as zonas mecânicas do molde, ou proteção para as zonas moldantes, entre outras características”, salienta, considerando que se trata de uma questão que vai encarecer o processo e que, por isso, tem de ficar definida numa fase inicial da negociação do projeto.
JETMOL: EVOLUÇÃO TEM MELHORADO PERFORMANCE
António Anacleto, da Jetmol, considera que o aço tem um papel muito importante no processo de produção de um molde, destacando que as melhorias introduzidas pelos fornecedores de metais têm tido um peso significativo na qualidade. “Tem havido uma evolução na composição dos aços no sentido de melhorar a homogeneidade, a tenacidade, polimento e a maquinabilidade”, afirma, exemplificando que, “neste sentido, os aços 2343/2344ESR introduziram uma mais valia no mercado”.
Explicando que a composição química do aço “deve ser adequada ao tipo de matéria-prima a injetar - tendo em consideração se é corrosiva ou abrasiva -, à dimensão da peça plástica, ao tipo de acabamento
pretendido e também à cadência e produção prevista”, António Anacleto defende que “todos estes fatores são determinantes na seleção do aço mais adequado a cada projeto e, muitas vezes, decisivo na seleção de fornecedores”.
No caso da Jetmol, diz, “adquirimos o aço a empresas certificadas, maioritariamente com origem europeia”. E isto porque, sublinha, são essas que garantem uma maior qualidade e esse ponto é fulcral para a sua empresa.
No caso do preço, o aço tem, na Jetmol, um impacto “entre os 5 e os 10% no produto final”. Esta variação, adianta, “é determinada pelo tipo de ferramenta, dimensão e grau de complexidade”. E destaca que num mercado altamente competitivo, como é o caso da indústria de moldes, “todas as diferenças de preço são muito importantes, desde que não influam na qualidade do produto final”.
A seleção do aço a utilizar é feita, na sua maior parte, pelos clientes. “Operamos, essencialmente, no sector automóvel, pelo que os pedidos de cotação indicam, maioritariamente, a norma e até a referência do aço a utilizar”, conta, sublinhando que estas acabam por ser, algumas vezes, “meramente indicativas”. “Em qualquer dos casos, é da nossa competência e interesse, sugerir as melhores opções”, acrescenta.

/ / António Anacleto - Jetmol
QUALIDADE
Independentemente das características e das aplicações do aço, o aspeto fundamental é que este tenha qualidade assegurada. Um aço de menor qualidade pode colocar em risco todo um processo produtivo, no qual a excelência é a meta a alcançar. “As regiões moldantes são essenciais pois interagem com os polímeros e circuitos de regulação térmica”, recorda, considerando que “as propriedades mecânicas, condutividade térmica, tratamento térmico, etc, são essenciais na durabilidade do molde e otimização dos ciclos”.
No seu entender, “é necessária uma conjugação de fatores para otimizar os ciclos e garantir uma qualidade elevada da peça injetada”. Por isso, sustenta, “a seleção do aço é fundamental”.
Em relação à oferta de aço, considera que, “na sua essência, parece adequada às necessidades do mercado”. E conclui considerando que “obviamente, todas as melhorias qualitativas e quantitativas são bemvindas”.