INDÚSTRIA NO FEMININO UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO DE ALTO DESEMPENHO EM PROBLEMAS INDUSTRIAIS COMPLEXOS
PLANEAMENTO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E A GESTÃO DE RECURSOS AUTÓNOMOS DE PRODUÇÃO O FINANCIAMENTO DE INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS, UMA BREVE ABORDAGEM
Nº ISSN 1647-6557
ANO 33 . 04 2022 . N 133
04.2022 ANO 33 . N 133 . €4,50
CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES
Periodicidade Trimestral
ESPECIAL /
ÍNDICE / CONTENTS
03
Editorial
04
Notícias CEFAMOL
18
Notícias dos Associados
25
O sector fala de… Indústria no feminino
30
Dificuldade de conciliar família e profissão afasta mulheres da indústria
33
“Se a indústria se desse a conhecer mais, as mulheres gostariam de cá estar”
36
‘Arrumar a casa’ para melhorar desempenho
40
O lugar das mulheres é na indústria
43
Mudar a cultura das empresas para integrar mais mulheres
46
Áreas produtivas da indústria atraem número reduzido de mulheres
51
Utilização de computação de alto desempenho em problemas industriais complexos
56
Injeção de materiais magnetizáveis para a indústria de plásticos
58
Importância da simulação do processo na integração de filmes funcionais e decorativos em componentes para indústria automóvel
60
IN-MOLD Decoration Process – O caso de estudo do Projeto WoodShape 4.0
64
Sistema inovador de manutenção preventiva e monitorização avançada para máquina ferramenta de furação profunda e fresagem, integrando novos avanços em tecnologia indústria 4.0
67
CENFIM apto para formar na tecnologia de fusão de pó metálico a laser
TECHNOLOGY
69
Fabricação aditiva – impressão de um postiço de um molde
EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENT . PROCESSES . EXPERTISE
73
Planeamento na indústria de moldes e a gestão de recursos autónomos de produção
76
Aumento de produtividade na moldagem por injeção plástica usando aços de ferramenta de alta condutividade térmica
78
CIBERSEGURANÇA – Para uma navegação segura no ciberespaço
83
O financiamento de iniciativas sustentáveis, uma breve abordagem
88
Competitividade e cibersegurança na indústria
91
A romantização do trabalho
92
Desenvolver (novos) líderes, um caminho… uma necessidade!
24 INDÚSTRIA NO FEMININO DESTAQUE / HIGHLIGHT
50 INOVAÇÃO / INNOVATION O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY
66 TECNOLOGIA /
82 NEGÓCIOS / BUSINESS
ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS
90 GESTÃO DE PESSOAS / PEOPLE MANAGEMENT
FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes • CONTRIBUINTE 500330212 • SEDE DO EDITOR, REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Centro Empresarial da Marinha Grande - Rua de Portugal, Lt. 18 - Fração A / 2430-028 MARINHA GRANDE - PORTUGAL / T: 244 575 150 / F: 244 575 159 / E: revista_omolde@cefamol.pt / www.cefamol.pt • FUNDADOR Fernando Pedro • DIRETOR Manuel Oliveira • CONSELHO EDITORIAL António Rato, Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Manuel Oliveira, Maria Arminda • TEXTOS Ana Pires, Ana Sampaio, Ana Timóteo, António Malaquias, António Pontes, Artur Ferraz, Carlos Manuel Silva, Carina Peixoto, Cátia Araújo, Diana Dias, Florindo Gaspar, Francisco Diz, Helena Silva, Hélio Santos, João Ribeiro, J. F. Caseiro, Liliana Gouveia, Liliana Ramos, Lourenço Bastos, Luís Carlos Moreira, Marco Rodrigues, Miguel João, Nânci Alves, Nuno Boavida, Nuno Oliveira, P. Alberto, Pablo Thiago Valentim, Rita Marques, Sérgio André, Sílvia Cruz, Vítor Ferreira • PUBLICIDADE Rui Joaquim • PRODUÇÃO GRÁFICA Colorestúdio – Artes Gráficas, Lda / Zona Industrial Casal da Azeiteira, Pav. 3 - Quintas do Sirol - 2420-345 St.ª Eufémia Leiria / T: 244 813 685 / E: colorestudio.lda@gmail.com • PERIODICIDADE Trimestral • TIRAGEM 500 exemplares • DEPÓSITO LEGAL 22499/88 • REGISTO ERC 113 153 • Nº ISSN 1647-6557 • Estatuto Editorial encontra-se disponível em www.cefamol.pt
ANUNCIANTES AHP Merkle 2 / Cheto 11 / S3D 13 / Schunk 15 / Inovatools 17 / Newserve 19 / Moldmak 21 / Eurocumsa 23 / Open Mind 27 / Oerlikon Hrsflow 29 / Millutensil 31 / Norelem 33 / HPS 35 / Metalcobre 37 / Maq Center 39 / Cadsolid 41; 59 / Sew Eurodrive 43 / Arburg 45 / Oerlikon Balzers 47 / ISTMA 48 / TTO 49 / Knarr 51 / TCA 53 / Simulflow 55 / FerrolMarinha 57 / SB Molde 61 / Sinmetro 63 / Fuchs 67 / DNC Técnica 71 / Hotel Mar & Sol 72 / Fluxoterm 73 / Isicom 75; 79 / Hasco 81 / Sigmasoft 83 / Tecnirolo 87 / GrandeSoft 89 / Sqédio capa interior / CEFAMOL contracapa interior / Tebis contracapa
REVISTA MOLDE CEFAMOL
CEFAMOL NEWS /
EDITORIAL Manuel Oliveira Secretário-geral da CEFAMOL
03
INDÚSTRIA NO FEMININO
O sexo feminino tem vindo a conquistar um papel cada vez mais importante na estrutura organizacional das empresas, seja na indústria, nos serviços ou outras atividades económicas que fundamentam e constituem a nossa sociedade. A indústria de moldes não é uma exceção a esta tendência e é com orgulho e satisfação que vemos um sector, ainda que maioritariamente masculino, a integrar cada vez mais mulheres nos seus quadros e em diferentes áreas funcionais, desde a produção à engenharia, da qualidade à área comercial, não esquecendo a gestão e administração das empresas. Os dados estatísticos mais recentes demonstram que apesar deste movimento, o equilíbrio de género está ainda distante, uma vez que o sexo feminino apenas representa 15% (dados de 2019) do total dos colaboradores do sector. Apesar de ser difícil encontrar uma tarefa ou uma área de intervenção que não tenha a participação, direta ou indireta, das mulheres, há ainda um longo caminho a percorrer nesta matéria. Numa época em que o número de estudantes do sexo feminino é superior ao masculino em diversas áreas do ensino, em que o conhecimento é disseminado de forma igualitária, em que as oportunidades de emprego e carreira estão ao alcance dos interessados, independentemente do seu género, continua a ser difícil a mobilização ou contratação de mulheres para diversas áreas das empresas, nomeadamente, as mais ligadas aos processos de produção. É certo que a tradição de uma indústria masculina, conotada com esforço físico, não se altera de um dia para o outro, mas a verdade é que as empresas são hoje em dia detentoras de tecnologia de última geração, que facilita a operacionalização e realização de tarefas, onde
a importância da engenharia, da organização, do pensamento critico, assume uma importância estratégica e determinante para conseguir valor acrescentado e tal está ao dispor e ao alcance, tanto de homens como mulheres. Há que demonstrar estas oportunidades ao mercado, aos jovens que estudam no ensino secundário, profissional e superior. Há que dar a conhecer que a digitalização, a robótica e automação geram novos postos de trabalho, onde o papel das mulheres poderá ser determinante para a competitividade internacional que o sector busca como foco para a sua sustentabilidade. As empresas terão que desmistificar (pre)conceitos existentes e transmitir esta perspetiva inclusiva no sentido de apresentar a sua modernidade (tecnológica e organizacional), demonstrando às nossas jovens, que esta é também uma indústria para elas. A indústria de moldes, quer pelo seu posicionamento atual, quer pelas suas perspetivas de desenvolvimento, apresenta condições para se poder tornar um excelente exemplo da igualdade de oportunidades e da relevância da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho. O número crescente de empresas que integram mulheres na produção, nos seus quadros intermédios, e nas suas lideranças é disto exemplo. Sendo este um sector que se relaciona e interage com cadeias de fornecimento globais e de alto valor acrescentado, contribuindo para o incremento e valorização da imagem de Portugal a nível internacional, é fundamental que a sua atividade se alicerce numa coexistência equilibrada entre os dois géneros. É este o caminho a seguir para contribuirmos para uma sociedade moderna e inclusiva que compete em áreas e mercados cada vez mais desafiantes e competitivos.
/ NOTÍCIAS CEFAMOL
N 133 ABRIL 2022
CEFAMOL ELEGE ÓRGÃOS SOCIAIS PARA 2022-2024 04
Desenvolver uma estratégia de crescimento e desenvolvimento sustentável do sector e, ao mesmo tempo, reforçar a proximidade e a ligação com os associados, são duas das prioridades da nova Direção da CEFAMOL, eleita no dia 23 de março, para o período entre 2022 e 2024 e tendo como Presidente João Faustino, da TJ Moldes, reconduzido para mais um mandato. Uma das grandes apostas para este ano de 2022 será a realização do XI Congresso da Indústria de Moldes, potenciando-o para ser, uma vez mais, o principal palco de reflexão e debate de ideias do sector. Sustentabilidade, Mercados e Pessoas serão os principais temas nesta edição, agendada para ter lugar no mês de novembro. Para além de João Faustino, fazem parte da Direção, como vicepresidentes, Rui Paulo Rodrigues (Simoldes Aços), Pedro Pereira (SET), Nuno Silva (Moldit) e Cláudia Novo (Erofio). José Carlos Gomes (GLN), Guida Figueiredo (Carfi Tools), Paulo Ferreira Pinto (Moldworld) e João Cruz (Neckmolde) são os vogais. A Assembleia Geral é presidida por Carlos Silva (Moldoplástico), tendo Ricardo Ferreira (Intermolde) como vice-presidente e Ana Ferraz (Planimolde) como secretária. Já o Conselho Fiscal é presidido por Armindo Soares (Azemoldes) e tem como vogais Carla Ferreira (Dexprom) e Hugo Carlos (Tecnimoplás). No novo mandato, a CEFAMOL terá ainda como objetivos reforçar a sua representatividade na indústria, através da angariação de novos Associados; promover ações e iniciativas que agreguem as empresas em torno de objetivos comuns; estimular o networking através da realização regular de visitas, workshops, seminários, debates e encontros entre empresas do sector; acompanhar as dinâmicas e tendências de mercado e o posicionamento do sector através da realização de estudos e ações prospetivas.
Ao nível da representação institucional, a associação pretende também reforçar a sua intervenção junto do Governo, instituições oficiais e autarquias, no sentido de apresentar e colocar em prática intervenções e medidas que apoiem as empresas a ultrapassar os constrangimentos acumulados nos últimos anos; enquanto, ao nível da promoção internacional, tem como metas definir uma estratégia de comunicação que reforce a notoriedade e visibilidade do setor em torno de novos fatores de competitividade: sustentabilidade, digitalização, transição energética, economia circular, valor acrescentado, entre outros; impulsionar a campanha de imagem e promoção internacional ‘Engineering & Tooling from Portugal’, nomeadamente ao nível da organização da participação conjunta em feiras, missões empresariais, missões inversas ou encontros bilaterais e apostar na vertente da comunicação e marketing digital para a promoção do sector e das suas competências. A CEFAMOL tem também planeado para os próximos dois anos, garantir a realização de ações e planos de formação adequados às necessidades e requisitos da indústria; sensibilizar e incentivar políticas ativas de gestão de pessoas nas empresas com o objetivo de atrair e manter talento nas organizações e dinamizar a colaboração e interação com as instituições de ensino, no sentido de sensibilizar e atrair jovens técnicos qualificados para o sector, reforçando a relação entre indústria e universidade/escola. A recém-eleita Direção tem ainda previstas no seu plano de ação a revisão e atualização dos estatutos da CEFAMOL, bem como o reforço de competências internas e o estabelecimento de parcerias que permitam apoiar a atividade das empresas em diferentes vertentes.
CEFAMOL MUDA A SUA SEDE PARA O ‘CORAÇÃO’ DA INDÚSTRIA
REVISTA MOLDE CEFAMOL
CEFAMOL NEWS /
05
A CEFAMOL mudou a sua sede, no final de fevereiro de 2022, passando a funcionar no Centro Empresarial da Marinha Grande, localizado na Rua de Portugal, na Zona Industrial de Casal da Lebre, em pleno ‘coração’ da indústria. Esta mudança vai permitir, sobretudo, uma maior proximidade às empresas do sector, passando a Associação a estar mais acessível a uma parte considerável dos seus associados. Com a nova localização, junto ao CENTIMFE, à incubadora Open, ao Centro de Desenvolvimento Rápido e Sustentável do Produto (CDRSP), do Politécnico de Leiria, entre outros, a CEFAMOL passa a estar também mais próxima das principais instituições e organismos da indústria de moldes. Com esta aproximação, fica facilitada também a comunicação. A mudança de instalações surgiu no âmbito da celebração de um acordo com a Câmara Municipal da Marinha Grande, em regime de comodato, por um período de 25 anos. O novo espaço, situado no rés-do-chão do Centro Empresarial dispõe de diversas salas amplas, que permitem uma melhoria significativa das condições de instalação da Associação e dos seus colaboradores.
Permite ainda a utilização de espaços comuns do edifício, como salas de formação que possibilitarão a realização de ações, workshops ou reuniões. Para além disso, o edifício dispõe também de um auditório com capacidade para uma assistência de cerca de 90 pessoas, o que possibilitará a realização de ações de diversas tipologias e com condições que as anteriores instalações não permitiam. “É uma mudança que permite, por um lado, melhorar os serviços que prestamos aos nossos Associados e, por outro, pela proximidade física com um conjunto de instituições do sector e das empresas, programar e realizar novas atividades e projetos”, explicou Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL. A zona envolvente permite ainda uma melhor oferta no que diz respeito a lugares de estacionamento e até serviço de transportes públicos. Assim, de porta aberta para receber os seus Associados (e demais entidades e visitantes), todos os dias úteis, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00, a nova morada da CEFAMOL é agora: Centro Empresarial da Marinha Grande Rua de Portugal, Lote 18 - Fração A • 2430-028 Marinha Grande
N 133 ABRIL 2022
/ NOTÍCIAS CEFAMOL
NOVO PRESIDENTE DA ISTMA EUROPE ELEITO EM REUNIÃO REALIZADA EM PORTUGAL
06
Os membros da ISTMA Europe reunidos no passado dia 24 de março, de forma presencial (na Marinha Grande) e online elegeram Markus Heseding, em representação da VDMA (Alemanha), como Presidente da Associação para o período 2022-2024. Esta reunião, que encerrou a Presidência Portuguesa, a cargo de Joaquim Menezes em representação da CEFAMOL, juntou representantes de nove países-membros da Associação (Alemanha, Eslovénia, Finlândia, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Turquia e África do Sul) e seis empresas internacionais que integram o programa de Global Partners da ISTMA. Bob Williamson, presidente da ISTMA World, mostrou-se satisfeito com a eleição, manifestando o seu apreço pelo novo presidente que irá liderar a Associação na Europa, mostrando-se convicto de que esta “ficará em boas mãos”.
VALORIZAR FABRICO DO MOLDE Além da eleição do novo Presidente da ISTMA Europe, o encontro na Marinha Grande, teve ainda como objetivos debater o momento atual da indústria no contexto europeu e global, e partilhar informação relativa a condições atuais de negócio nos diferentes países. Bob Williamson chamou a atenção para o desafio que, no seu entender, vai marcar este ano com as alterações que estão já a acontecer nas cadeias de fornecimento. Mas, considera, por outro lado, que haverá uma mudança naquilo que diz ser a “a propriedade intelectual do fabrico do molde”. No seu entender, “há um maior reconhecimento desse aspeto e, por isso, os compradores vão estar mais conscientes disso e serão mais seletivos quando escolherem os seus fornecedores no futuro”.
Em relação a Joaquim Menezes, que conta ter sido o seu “mentor” em muitas situações, ao longo dos anos, considera que deixa um “trabalho extraordinário”. Um dos pontos que destacou foi a forma como, com a sua liderança, conseguiu “unir as pessoas do sector, não apenas na Europa, mas no mundo, em torno de questões essenciais para a indústria” e num momento “particularmente delicado”, quando o mundo era assolado pela pandemia de Covid-19. Já para Joaquim Menezes, o período à frente da ISTMA Europe (que já tinha assegurado no passado) permitiu comprovar que “vivo intensamente a indústria de moldes, principalmente a nossa, e sempre que tenho possibilidade, num âmbito mais internacional, de promover a indústria portuguesa de moldes, com certeza que o faço”. Mas nestes dois anos, salientou, procurou, sobretudo, dar relevância ao sector a nível internacional: o seu papel e importância por todo o mundo. Apesar da Covid-19 e, mais recentemente, da guerra na Ucrânia, Joaquim Menezes considera que nenhuma dessas questões impediu a concretização das metas estipuladas à partida. “Tem sido sempre assim: há períodos bons e outros maus. Mas temos de conseguir concretizar o que planeamos”, explica, adiantando que apesar das restrições impostas pela pandemia, “mantivemos o contacto entre as Associações que sentem verdadeiramente a indústria de moldes”. Sublinha ainda que apesar de “ter deixado esta missão” (à frente da ISTMA Europe) mantém a sua ligação à Associação e a sua disponibilidade para continuar a apoiar a ISTMA, onde está desde a década de 1980, sendo membro do Board of Directors.
Para o Presidente da ISTMA World, o papel da Associação continuará a ser o de “tornar cada vez mais reconhecido o trabalho dos fornecedores da cadeia de moldes e plásticos, uma vez que nem sempre há a devida valorização das empresas deste sector”. E diz ainda, manifestando-se muito agradado com isso, que um dos objetivos da ISTMA para este ano, será o de “restabelecer o contacto físico com os membros da Associação, após os dois anos de privação impostos pela pandemia”. Presente neste encontro, de forma presencial, Reeta Luomanpää, representando a Finlândia na ISTMA, considera que os produtores de moldes portugueses são reconhecidos naquele país, pela “sua elevada qualidade”. Na Finlândia, contou, a indústria de moldes tem a sua expressão, sobretudo nos moldes de pequena e média dimensão. A Rússia tem sido o principal mercado destes fabricantes finlandeses que, face a este momento de guerra com a Ucrânia, “passam por um período de apreensão”. “Este não será um ano fácil. Precisam de novos mercados”, considerou.
JANTAR CONFERÊNCIA DEBATEU “DESAFIOS DA SUCESSÃO”
REVISTA MOLDE CEFAMOL
CEFAMOL NEWS /
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“O primeiro empreendedor tem de pensar o futuro e a sucessão da empresa, com propósito, visão e uma gestão alinhada nessa direção”. Esta foi uma das principais conclusões do jantar-conferência ‘Os Desafios da Sucessão’ que, organizado pela CEFAMOL, reuniu mais de meia centena de profissionais do sector, no passado dia 23 de março, no Hotel Cristal, na Marinha Grande.
A IMPORTÂNCIA DAS PESSOAS Por outro lado, a empresa é composta por pessoas e estas têm de acompanhar esse processo, de forma a não se sentirem receosas com a mudança. Carlos Ribeiro enumerou também alguns dos que considera serem fatores críticos da sucessão: “o sucessor não pode ter dúvidas daquilo que se espera dele, é importante a comunicação a toda a estrutura, sucessor e empreendedor têm de estar muito alinhados, é fundamental calendarizar e definir critérios e datas e a importância de dar início ao novo ciclo”. “As pessoas são o desafio, mas também o potencial e a chave para o futuro”, afirmou. A conferência foi um momento bastante participado, com os presentes – alguns deles representando atuais e futuras gerações de algumas empresas – a colocarem questões e a trocarem ideias e experiências.
O evento, o primeiro realizado no âmbito da preparação do XI Congresso da Indústria de Moldes (agendado para novembro de 2022), teve como orador convidado Carlos Ribeiro (CEO / Managing Partner na P&D - Performance and Development). Lembrando que “os empreendedores não são eternos”, Carlos Ribeiro salientou que, muitas vezes, a questão da sucessão é um assunto que vai sendo adiado e “isso acaba por trazer problemas”. Destacou ainda que a segunda geração de uma empresa “não é menos empreendedora”, mas tem “uma visão e objetivos diferentes”. Por isso, considerou que “quanto mais sólido for o projeto, maior a possibilidade de conseguir sobreviver à sucessão”. “O momento de passagem de testemunho tem de ser planeado”, defendeu, considerando que o sucedido tem de deixar a empresa sem sentimentos de amargura, mas com confiança no sucessor e orgulho no trabalho realizado. Para um processo de sucessão correr bem, adiantou, “é necessário criar condições para a saída condigna do sucedido e não apenas para a entrada do sucessor”. À medida que vai fazendo crescer a empresa, o seu fundador tem de ir criando condições para que outras pessoas se associem, de forma a pensar o futuro e poder vir a assegurá-lo. Ou seja, no seu entender, “a sucessão não é um momento: é um processo”. E, como tal, tem de ser planeado, de forma que o sucessor seja preparado e, no momento em que segura o leme, a empresa mantenha (ou ganhe) velocidade. Para isso, o sucedido tem de “definir o que é crítico para o processo de sucessão, de forma a facilitar a aprendizagem do seu sucessor e garantir o sucesso do processo”.
Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, no inicio da sessão explicou que este foi o primeiro evento inserido no programa de preparação do Congresso da Indústria de Moldes. Para além das Pessoas, estarão em reflexão vários aspetos ligados com as tecnologias, os mercados e uma questão premente nos nossos dias, a sustentabilidade.
SUCESSÃO - TESTEMUNHOS A chave para o futuro das empresas Virgílio Barbeiro e David Barbeiro PMM Virgílio Barbeiro, da PMM, gostaria que a empresa se mantivesse nas mãos da família, depois da sua saída. Em parte, conta, essa é uma situação que está a ser solucionada e isso tranquiliza-o. Tem três filhos e dois deles já integram a gestão da empresa, diz. A solução que ainda procura diz respeito à parte produtiva, uma vez que os dois sucessores já asseguram as outras áreas. “Temos mesmo de encontrar uma resposta para esta questão porque tenho receio de, em vez de deixar uma coisa boa, deixar um presente envenenado e isso não é, de todo, o que quero fazer”, explica. A passagem de testemunho, conta, é uma questão que tem vindo a ser pensada e tratada ao longo do tempo. “A empresa está boa, está muito consistente e sólida”, relata, explicando que essa foi a sua prioridade e foi, desde sempre, o legado que procurou deixar. David Barbeiro, um dos filhos, considera que neste processo de sucessão é fundamental “planear atempadamente e definir um plano que seja muito concreto e que tenha objetivos mensuráveis, de forma que, atempadamente, consigamos avaliar se a sucessão
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vai ser bem-sucedida ou não”. E isso, adianta, passa por “definir critérios o que nem sempre é fácil, mas acho que, no fundo, é isso que permite a um fundador sentir-se confortável para terminar essa sucessão e, por outro lado, aos sucessores conseguirem perceber se estão a ir na direção certa”. David Barbeiro explica ainda que ao decidir integrar a empresa fê-lo por sentir que poderia dar o seu contributo. “Decidi ajudar a empresa que os meus pais fizeram crescer para garantir que ela continua, durante mais uma geração, pelo menos”, afirma, acrescentando que ao fazer parte da gestão, neste momento, participa nas decisões e “sinto que essa transição já está a acontecer, apesar de não existir ainda um plano bem concreto com objetivos mensuráveis”. Lino Ferreira Pearlmaster Preparar a empresa para ter valor de mercado, independentemente de a sucessão vir a ser assegurada, ou não, pela família. Esta é a prioridade de Lino Ferreira, da Pearlmaster, para quem é fundamental que a empresa esteja “muito bem organizada, com os processos bem conhecidos e a estratégia definida, porque caso contrário é muito difícil que venha a ser bem-sucedida na geração seguinte”. Se atinge esse patamar de organização, adianta, “isso facilita muito a entrada da segunda ou terceira geração, seja de forma mais interna, seja através de uma venda”.
E considera que isso poderá passar por vários modelos, ainda a decidir pelos sócios que, assegura, “gostariam que a sucessão passasse pela família”. Telmo Ferraz e Ana Ferraz Planimolde A prioridade de Telmo Ferraz, da Planimolde, foi uma: “deixar a empresa em condições de poder haver continuidade sem grandes sobressaltos”. Este foi o trabalho da sua vida. E no seu entender, a empresa tem “um nome no mercado, tem clientes e uma situação económica que não seja impeditiva da sua continuidade”. Por isso, manifesta-se confiante de que a geração seguinte “saberá prosseguir este trabalho, mantendo aquilo que ela tem de bom e melhorando o que tem de menos bom”. Não esconde que o seu desejo é que se mantenha na família. Mas ressalva, contudo, que isso “não é absolutamente importante”. O fundamental, considera, “é a defesa intransigente da empresa”. E isso significa que, se a sua continuidade passar por uma venda, essa será a opção.
“Os donos das empresas têm de estar focados em geri-las, de forma que elas sejam rentáveis, para que tenham valor de mercado”, afirma, considerando que este deverá ser o ‘Plano A’ de qualquer organização, uma vez que “estando bem organizada, o risco da empresa morrer é menor”. E a última coisa que um empresário deseja, sublinha, “é que a empresa, aquilo que construiu toda a sua vida, acabe por morrer”.
Ana Ferraz integra a empresa, mas ainda não se sente preparada para se afirmar na perspetiva de uma segunda geração. “O facto de estar na empresa leva-me a conhecer a sua realidade, saber o que é importante, conhecer o negócio porque é tudo uma novidade para mim”, explica, considerando que, tal como o pai, defende que o fundamental é assegurar as condições para que a empresa se mantenha. “O mais importante é garantir que a empresa continua, que se mantém o emprego de todas as pessoas que lá estão. O melhor caminho para que isso aconteça, teremos de ver qual será”, salienta. No entanto, sublinha que um dos pontos fundamentais está confirmado: é saber que “se vier a decidir assegurar a gestão, a empresa é um projeto sólido e tem uma equipa consolidada”.
Hugo Carlos Tecnimoplás
Joaquim Menezes Grupo Iberomoldes
Hugo Carlos, da Tecnimoplás, conta que a empresa está a prepararse para a terceira geração de administradores. O seu pai foi um dos dois sócios fundadores e, no seu entender, por uma conjugação feliz de coincidências, os dois sócios da primeira geração conseguiram fazer uma transição de sucesso.
“Não há receitas para a sucessão”. Assim o entende Joaquim Menezes, do Grupo Iberomoldes, defendendo que a sua prioridade tem sido encontrar a pessoa ou as pessoas que consigam emular a sua referência de administração. E essa referência, essa pessoa, conta, foi sempre Aníbal Abrantes. Por isso, sustenta, “tenho assumido as empresas numa lógica de legado, procurando desenvolvê-las numa perspetiva fortemente social e humanista, mas na qual o negócio tenha a prioridade”.
Cada um deles tinha dois filhos. Estes foram sendo preparados desde cedo; conviveram todos na empresa, conheciam a empresa e foi, por isso, natural que viessem a assumi-la. “Os nossos pais conseguiram sair ainda novos para nós seguirmos o negócio. Foi um voto de confiança grande da parte deles, mas resultou”, conta. A passagem à geração seguinte não será, no seu entender, tão fácil. “Não temos as mesmas felizes coincidências: temos números diferentes de filhos, todos com idades diferentes e com escolhas pessoais a nível profissional que não passam, necessariamente, pela empresa”, relata, acrescentando que, por outro lado, “a empresa não tem dimensão, não gera valor para ter um conjunto de administradores”. É que, sublinha, os quatro administradores que hoje a empresa tem, asseguram as várias áreas da atividade. “O nosso papel na empresa vai para além da administração”, sublinha. Por isso, a sucessão “está a começar a ser pensada agora. A questão preocupa-nos já há algum tempo e temos de encontrar a solução”, conta.
Para Joaquim Menezes, a empresa nunca foi um projeto familiar da forma como tradicionalmente o vemos. No entanto, salienta que as 1400 famílias que trabalham consigo nas dez empresas do grupo são, afinal, a sua família. “A minha preocupação não é para mim. É como é que fica tudo depois de mim”, explica. Por isso, a sucessão tem sido o desafio de uma vida: encontrar as pessoas certas que defendam os mesmos princípios. “Encontrar pessoas que vão nesse caminho e não numa lógica meramente individualista, do seu próprio interesse, é muito difícil”, adianta, frisando que, para além dessa característica, é preciso juntar o espírito empreendedor. No entanto, acrescenta, “felizmente que neste momento temos alguns, nas empresas do grupo, que têm essas características”.
EMPRESAS NACIONAIS FAZEM BALANÇO POSITIVO DA FEIRA PLASTIMAGEN
REVISTA MOLDE CEFAMOL
CEFAMOL NEWS /
09 Saldou-se pela positiva a participação das empresas portuguesas na feira Plastimagen, que decorreu na Cidade do México, entre os dias 08 e 11 de março. Organizada pela CEFAMOL, no âmbito do projeto ‘Engineering & Tooling from Portugal’, apoiado pelo Compete 2020, a participação coletiva contou com as empresas Frumolde, Moldit, Moldoplástico, Moldworld, Plásticos Joluce, Ribermold, Simoldes, Socem, TJ Moldes e VL Moldes. “As empresas nacionais tinham grande expectativa em relação a esta feira, que surge numa fase posterior ao confinamento imposto pela pandemia de Covid-19. Foi uma das primeiras feiras presenciais e, apesar de todas as medidas de segurança muito apertadas ainda existentes, a feira atraiu um número interessante de potenciais clientes e, nesse sentido, permitiu contactos muito promissores às empresas portuguesas”, contou Patrício Tavares, da CEFAMOL, que acompanhou a realização desta iniciativa. Esta feira, um dos eventos mais importantes da indústria transformadora de plásticos na América Latina, voltou à sua versão presencial, tendo contado com a participação de 400 expositores de cerca de 20 países e contando com cerca de 20 mil visitantes, oriundos, sobretudo, desta região do globo. Apesar de se tratar de um número interessante de visitas, Patrício Tavares destacou que ficou aquém de outras edições do certame o que, atendendo à situação pandémica, é, no seu entender, “compreensível”. Muitas das empresas aproveitaram esta oportunidade para retomar o contacto presencial com fornecedores, clientes e parceiros e, salientou, “notou-se um esforço por parte das grandes empresas em estarem presentes ou fazerem-se representar”. “Isso foi muito interessante” e, destacou, traduziu-se depois em “bons contactos para os produtores de moldes portugueses”. De uma maneira geral, a conclusão que retiraram é que, face ao contexto económico global, o mercado europeu é visto com bons
olhos e apresenta possibilidades de vir a ganhar competitividade, o que se afigura como uma boa oportunidade para as empresas portuguesas.
SUSTENTABILIDADE Um dos principais temas em evidência nesta edição do certame foi a ‘sustentabilidade’, uma questão que é transversal, a nível global, a todos os sectores da indústria. A grande maioria dos painéis de reflexão e debate que decorreram em paralelo com a feira tiveram como destaque temas relacionados com a economia circular. Num desses espaços de reflexão dinamizado pela Câmara de Comércio Luso-Mexicana, no dia 11 de março, João Faustino, Presidente da CEFAMOL, foi o orador convidado para fazer uma apresentação da Indústria Portuguesa de Moldes e dar nota das soluções inovadoras e diferenciadoras que as empresas nacionais aportam ao mercado. A feira integrou uma panóplia enorme de soluções para a indústria de plásticos, como maquinaria e equipamentos, matérias-primas e sua transformação, moldes e serviços diversos. Quanto ao México, Patrício Tavares sustenta que se se trata de um mercado muito interessante, com um elevado potencial, que já vinha a ser demonstrado desde alguns anos a esta parte, mas que, devido à pandemia, estagnou um pouco. “As empresas que acompanharam a CEFAMOL já conhecem este mercado e consideram que continua a ser uma boa aposta para os moldes nacionais”, salientou, lembrando, contudo, que “é preciso trabalhar numa lógica de médio-longo prazo”. “No México, continua a notar-se uma dinâmica empresarial muito forte, com a criação de novas zonas industriais, instalação de empresas estrangeiras e com fortes apoios ao investimento”, concluiu.
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EMPRESAS DO SECTOR UNEM ESFORÇOS NA ABORDAGEM AO MERCADO DOS EUA Promovido pela CEFAMOL e dinamizado no âmbito do projeto “Engineering & Tooling from Portugal”, foi constituído um Grupo de Trabalho dedicado à abordagem ao mercado norte-americano, numa parceria que visa a criação de sinergias para a promoção local, com um foco especial nas regiões do Southeast e do Midwest.
Com o objetivo de identificar oportunidades e investir na visibilidade e reconhecimento do sector nos EUA, o Grupo de Trabalho é constituído por 15 empresas: Bormat, E&T, Ecotool, Informoldes, Mold World, Moldes 2000, Moldoplástico, Moliporex, Ribermold, SET, Socem ED, Steelplus, Tecnijusta, TJ Moldes e VL Moldes.
Não sendo um mercado novo para as empresas nacionais, as mudanças económico-sociais registadas ao longo dos anos, onde se salientam a deslocalização de várias indústrias, as questões cambiais, crises económicas, novos modelos de negócio ou, mais recentemente, a situação pandémica, dificultaram o relacionamento comercial e o aumento das exportações nacionais. Contudo, as políticas económicas alteraram-se e a indústria local tem vivido um forte crescimento, relacionado, em muito, com os investimentos realizados em indústrias chave como o automóvel, médica e aeronáutica.
A abordagem destas empresas ao mercado terá uma componente híbrida, composta por ações de caráter presencial e digital. Neste último nível, destaca-se a campanha de marketing digital que será promovida junto de potenciais clientes e opinion makers no mercado. Em complemento a esta estratégia digital, serão também promovidas em 2022 duas missões empresariais e presenças coletivas nas feiras Injection Moulding & Design Expo e na Plastec South.
EMPRESAS DESAFIADAS A PARTICIPAR NO PROGRAMA “BOLSAS + INDÚSTRIA” As empresas da região foram desafiadas a associarem-se à nova edição do programa “Bolsas + Indústria”, promovido pelo Politécnico de Leiria, pela CEFAMOL – Associação Nacional da Indústria de Moldes e pela NERLEI – Associação Empresarial da Região de Leiria, através da atribuição de bolsas aos melhores estudantes e do desenvolvimento de atividades conjuntas que proporcionem aos mesmos um contacto mais próximo com o tecido empresarial desde o primeiro ano e, desta forma, promovam a sua integração no mercado de trabalho.
«Este é um programa único no nosso país, que permite estabelecer uma aproximação entre as indústrias, os estudantes, professores e investigadores, e criar formas de cooperação tendo em vista o aproveitamento recíproco das suas potencialidades científicas, técnicas e humanas, criando-se sinergias de transmissão de conhecimento entre o meio empresarial e o meio académico, que potenciem a investigação e a inovação. A promoção deste programa é um compromisso claro com a valorização do ensino superior em Portugal, a valorização da empregabilidade qualificada
e a responsabilidade social», afirma Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria. «Esta iniciativa permite, por um lado, valorizar o desempenho dos estudantes e, por outro, criar uma maior interação e ligação com as empresas que investem nesta iniciativa. Tendo como génese a aproximação da academia à indústria, a mesma apoia as empresas a enfrentar novos desafios que só com conhecimento e novas competências poderão ser ultrapassados», refere João Faustino, presidente da CEFAMOL. As “Bolsas Politécnico de Leiria + Indústria” enquadram-se na vertente da responsabilidade social do protocolo assinado pelo Politécnico de Leiria, CEFAMOL e NERLEI em 2013, permitindo a atribuição de bolsas aos melhores estudantes, motivando-os para o sucesso escolar e a empregabilidade. Desde a edição anterior, agregam ainda a vertente da formação em contexto empresarial, prevendo que os estudantes contemplados realizem uma experiência de imersão em contexto empresarial promovida pela empresa mecenas, cuja duração aumenta com o ano curricular em que se encontra o estudante. «Para as empresas é muito relevante a adesão a este programa, na medida em que é uma forma privilegiada de aproximação ao sistema científico e tecnológico e de ensino superior. A possibilidade
dos estudantes, bem como os seus professores, poderem ter contacto com a realidade empresarial é seguramente um fator de desenvolvimento de competências e conhecimento mútuo, do qual todos beneficiam», defende António Poças, presidente da NERLEI. Financiadas pelo tecido empresarial da região, as “Bolsas Politécnico de Leiria + Indústria” permitem aos estudantes do Politécnico de Leiria um conhecimento do mercado de trabalho, potenciando uma futura integração nesta região de mão de obra qualificada e consciente da realidade do mercado, enquanto aumentam a proximidade entre as empresas, transformadoras ou de serviços, e a academia, potenciando a partilha e valorização do conhecimento, assim como a inovação e a capacidade competitiva destas empresas. Em termos de valores acumulados, desde a data de assinatura do protocolo, foram já atribuídas 223 bolsas, representando um apoio que ascende a 216 mil euros por parte de 62 empresas da região de influência das várias Escolas Superiores do Politécnico de Leiria. Até à data, foram contemplados 14 cursos diferentes no leque de oferta formativa disponibilizada pelo Politécnico de Leiria.
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APOSTA NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS CRIA EMPRESAS RESILIENTES
12 O Programa Talentum começou o ano de 2022 com uma reflexão sobre um tema que faz parte do dia-a-dia das empresas, na sequência da pandemia: como tornar uma organização resiliente? E a resposta é uma aposta no desenvolvimento das pessoas, de forma que consigam colocar as empresas a superar as adversidades. Esta foi uma das principais conclusões do webinar ‘Desenvolver uma Organização Resiliente’ que, organizado pela CEFAMOL, decorreu no dia 31 de janeiro. Patrícia Baptista (Diretora de Recursos Humanos na Vitacress) foi a convidada desta sessão que, em conjunto com Artur Ferraz (Consultor na área de Gestão de Pessoas), o orador residente nestas “CAOS Sessions”, protagonizaram uma interessante partilha de opiniões e experiências, perante uma plateia virtual constituída por mais de quatro dezenas de profissionais do sector. Diversidade, flexibilidade, motivação, integração e sucessão foram as principais ideias-chave no decorrer da sessão. São, no entender dos dois especialistas, as questões fundamentais num momento em que a pandemia deixou marcas a nível económico, social, alterou a vida das pessoas e acelerou tecnologias, estimulando novas formas de organização do trabalho. Para Artur Ferraz, a resiliência é “a habilidade de antecipar, se preparar e adaptar a transformações graduais para sobreviver e prosperar”. As empresas têm de “saber preparar-se, ser flexíveis e, dessa forma, responder a mudanças inesperadas”, explicou, sublinhando que “é preciso trabalhar o presente, mas olhando para o futuro”. E isto centrando as prioridades em seis áreas-chave: finanças, operações, tecnologias, organização, reputação e modelo de negócio. No processo de mudança, é preciso dar autonomia às pessoas, recrutar os melhores talentos, desenvolvê-los e manter planos de sucessão robustos em toda a organização. Já Patrícia Baptista defendeu que, para ser resiliente, a empresa tem de ser constituída por pessoas com capacidade de se adaptar e serem flexíveis a mudanças extremas. Aqui, sublinhou, a Gestão de Recursos Humanos tem um papel fundamental: ajudar a organização a captar e reter talento.
SOBREVIVER E CRESCER Isto, no seu entender, é fulcral sobretudo nesta atualidade póspandemia. Lembrou o fenómeno designado por ‘The Great Resignation’ que se nota, por exemplo, nos Estados Unidos, onde mais de 20 milhões de pessoas deixaram os seus empregos em busca de um novo sentido para as suas vidas. “A pandemia fez-nos ficar numa espécie de teatro, a assistir à nossa vida e a pensar no que vale a pena manter”, explicou, frisando que “o propósito da vida mudou com a pandemia”. Ora, sublinhou, “isto sente-se nas pessoas e reflete-se nas empresas”. Por isso, defendeu, é fundamental que as pessoas se sintam integradas, que tenham liberdade de errar e aprender com os erros, que desenvolvam as suas competências e que sejam reconhecidas.
A pandemia evidenciou as pessoas que, nas organizações, fazem a diferença, sendo mais flexíveis e que se adaptam de forma mais rápida às mudanças, afirmou, lembrando que “tudo roda em volta das pessoas porque todas as dimensões das organizações têm pessoas e não existem sem elas”. Depois, destacou a importância de mudar a forma como se olha para as lideranças. “São fundamentais, mas têm de conseguir realizar leituras rápidas das equipas e dos mercados, fazer com que as pessoas funcionem melhor e, com isso, também as organizações”, considerou. Para Artur Ferraz, a liderança é uma questão primordial. Nas PME, defendeu, “é preciso construir lideranças, não apenas os cargos, mas as efetivas correntes de sucessão; ou seja, preparar as pessoas para a sucessão e para os novos desafios”. No final da sessão, comentando o caso de uma empresa afetada pela pandemia, que luta por sobreviver, os dois foram unânimes em considerar que o ponto de partida para começar a evoluir é “ser honesto, sincero, e explicar às pessoas o que se passa”. A partir daí, é acreditar, ter mente positiva, vontade, construir cenários e envolver as pessoas que vão fazer a diferença. Em algumas empresas, tratase de praticamente começar do zero e colocar em ação um modelo novo que lhes permita sobreviver e crescer. Com este webinar, o Programa Talentum deu início ao seu quarto ano. Esta iniciativa, organizada pela CEFAMOL, procura, desde 2019, chamar a atenção para as temáticas da Organização e Gestão de Pessoas. Para além destas sessões de sensibilização, o programa é composto também por ações de formação e outras ações de intervenção direta nas empresas, com o objetivo de apoiar, de forma eficaz, a mudança.
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AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL MELHORA DESEMPENHO E AUMENTA RESULTADOS
14 Um ambiente de trabalho saudável é fulcral para ajudar uma organização a crescer. As empresas ficam mais aptas para responder aos clientes, motivar e reter colaboradores, alcançar resultados, diminuir absentismo e tornam-se mais preparadas para se adaptarem melhor à mudança e implementar a inovação. Patrícia Baptista (docente na Católica Lisbon School of Business and Economics) e Artur Ferraz (consultor na área de Gestão de Pessoas) voltaram a juntar-se em mais um webinar do Programa Talentum, dinamizado pela CEFAMOL e, no dia 16 de fevereiro, partilharam as suas opiniões sobre como ‘Construir Ambientes de Trabalho Saudáveis’. Perante uma plateia virtual composta por quatro dezenas de profissionais do sector, os dois oradores, com a moderação de Manuel Oliveira (CEFAMOL), conduziram uma interessante e dinâmica sessão, no decorrer da qual procuraram elencar algumas sugestões para que as empresas consigam implementar medidas e alcançar um ambiente de trabalho mais saudável. Patrícia Baptista começou por acentuar que esta é uma questão que começou a ser pensada em pleno século XIX, exemplificando com o caso da empresa de chocolates Cadbury que, então, criou casas para aumentar a segurança dos seus trabalhadores. Com a evolução da indústria, o tema foi ganhando dimensão e, nas últimas décadas, o ambiente saudável tornou-se central para os profissionais e até determinante para ficarem ou deixarem as empresas. Citou o trabalho de agências de consultoria na área da Gestão de Pessoas, defendendo que um dos passos fundamentais para implementar uma mudança é criar ferramentas que permitam aferir a saúde das empresas. E apostar nesta mudança, considerou, “é fulcral para melhorar o desempenho das organizações e consequentemente aumentar resultados”. Mas, advertiu, não se trata apenas de saúde e bem-estar da empresa. “É uma abordagem mais holística, uma vez que mexe com toda a estrutura”, salientou, explicando que ao implementar a mudança,
MUDANÇA LENTA Já para Artur Ferraz, o início deste processo de mudança é ter a noção de que é necessário mudar. “É preciso admitir a necessidade porque quem acha que não está mal, não vê caminho para andar”, sublinhou, considerando que “é preciso saber ao certo o ponto onde estamos, o ponto onde os outros estão e o que temos de fazer para chegar onde ainda não estamos”. Enfatizou ainda que “a partir do momento em que iniciamos, se há resultados dessa mudança, temos de os conseguir medir para perceber a evolução; ou seja, é preciso criar métricas”. No seu entender, para um processo destes, “a comunicação é fundamental”. Defendeu ainda que no caso de uma empresa que ainda não tenha estruturado um departamento de Recursos Humanos será, porventura, mais positivo ter alguém externo a apoiar o processo de mudança. “É que as pessoas expõem-se de forma direta nestes processos e é importante que se sintam confortáveis a fazê-lo para ajudar na mudança”, explicou. Chamou ainda a atenção para uma outra questão a ter em conta: a mudança não se faz de um dia para o outro. “O grande problema da mudança na gestão de pessoas é que a mudança nas pessoas é um processo moroso”, frisou.
a empresa conseguirá alcançar vantagens como reter talentos ou
MOTIVAÇÃO
definir lideranças.
Patrícia Baptista enfatizou a necessidade de se apostar nas pessoas,
“A aposta nestes conceitos faz as empresas irem mais longe”, sustentou. Por outro lado, acrescentou, “o modelo de maturidade de uma empresa tem na base a segurança dos trabalhadores, depois o seu bem-estar, a saúde no trabalho e, no topo, uma organização saudável”. Por isso, “quanto mais estruturada de forma a ser saudável, melhores os resultados: pessoas empenhadas, mais crescimento, melhores negócios”.
dando-lhes autonomia, responsabilidade e a pertença associada ao propósito. Considerou ser muito importante que as empresas permitam aos seus recursos humanos crescer, dando-lhes possibilidade de experiência e erro. “Trabalhar estas questões é como criar um filho: temos de passar os valores e deixá-lo depois arriscar a tomar decisões, para que cresça”, sublinhou. No seu entender, isso aumenta a motivação. E, afirmou, “a motivação vem de dentro e leva-nos a agir para alcançar resultados”.
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Os dois oradores foram unânimes em considerar que a satisfação no local de trabalho vai para além do salário. “A aposta só no salário não tem o mesmo impacto do que apostar noutros fatores, como a autonomia, confiança, progressão na carreira ou integração na empresa”, defendeu Patrícia Baptista, enquanto Artur Ferraz considerou que “a empresa tem de direcionar a intensidade da motivação das suas pessoas”.
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Neste aspeto, consideram os oradores, o papel dos decisores é fundamental. “Vão ter de olhar para os resultados e decidir. As pessoas, por si só, não fazem a mudança. Tem de haver decisão de topo”, salientaram. Em relação aos jovens que chegam agora às empresas, Patrícia Baptista lembrou que “é preciso uma nova forma de olhar a vida
nova realidade e pensar como se vão adaptar às características
profissional que, nas novas gerações, tem de estar em equilíbrio com
deste mercado”.
a vida pessoal. Cada pessoa define o seu equilíbrio e a empresa tem de conseguir encontrar isso e ajustar-se”.
Criado pela CEFAMOL, o Programa Talentum procura, desde 2019, chamar a atenção para as temáticas relacionadas com a inovação
Para Artur Ferraz, “é imperioso preparar as organizações em
organizacional e Gestão de Pessoas nas empresas. Para além dos
termos de estrutura: rever horários e clarificar, analisar as nossas
webinares, é composto também por ações de formação e outras
empresas, olhar para o mundo atual, ver como as pessoas são
ações de intervenção direta nas empresas, com o objetivo de
diferentes e criar estruturas para captar pessoas”. No seu entender,
apoiar, de forma eficaz, a mudança que as mesmas necessitam
“as organizações, para serem sustentáveis, têm de saber ler esta
para crescer.
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EMPRESAS DEVEM ADOTAR MEDIDAS DE POUPANÇA PARA CONTORNAR INSTABILIDADE DO SECTOR ENERGÉTICO
16 Poupar é a palavra-chave num momento em que o sector energético vive momentos de grande instabilidade. Esta foi uma das principais conclusões do webinar ‘O Mercado da Energia e os seus Desafios’ que, organizado pela CEFAMOL, decorreu no dia 18 de fevereiro, tendo como oradora Inês Martins, da ECOST, entidade que apoia as empresas a poupar, seja na energia, seja noutras áreas relacionadas a atividade empresarial.
“A instabilidade do preço da energia acaba por traduzir-se num aumento de custos para as empresas”, começou por realçar Inês Martins, que falava para uma plateia virtual composta por cerca de duas dezenas de profissionais do sector. Lembrando que, em 2020, o preço da energia estava mais baixo, salientou que, neste momento, a tendência é de crescimento, mas com um fator de instabilidade enorme, o que dificulta arriscar previsões em termos de futuro. Entre as razões para esta enorme volatilidade dos preços, destacou questões como a seca que assola a Europa, a produção eólica em
baixa, a descontinuidade das centrais a carvão, a interrupção de funcionamento da base nuclear de França ou a indefinição sobre a data de início do gasoduto Rússia-Alemanha, entre outros. Depois, acentuou que, à exceção das tarifas de acesso à rede, o preço da energia não inclui nenhum tipo de apoio estatal. Tudo isto conjugado, adiantou Inês Martins, traduziu-se num aumento dos preços, entre 2020 e 2021, na ordem dos 150 a 300% nos custos de energia (eletricidade e gás). Por isso, entre as soluções e os mecanismos que as empresas podem usar para fazer face a esta questão, a poupança surge no topo da lista. Desligar as máquinas das fichas, olhar para os ciclos contratados e confirmar se são os adequados, substituir a iluminação pelo LED, optar por equipamentos Energy Star e por painéis solares (que permitem recuperar parte da energia em autoconsumo), foram algumas das advertências que deixou, salientando que, apesar de se tratar de medidas de poupança óbvias, nem sempre são colocadas em prática. Lembrou ainda que, face a esta situação, as empresas têm grandes desafios pela frente no que diz respeito aos custos com a energia. E aconselhou que, face à instabilidade, é melhor evitar os contratos a longo prazo com os comercializadores de energia, privilegiando os de médio prazo e com preço fixo. Sugeriu ainda a implementação de soluções de eficiência energética ou o recurso à contratação em grupo, de forma a obter um melhor preço.
CEFAMOL INTEGRA PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE CENTRO DE EXCELÊNCIA DE FORMAÇÃO EM INOVAÇÃO VERDE A CEFAMOL integra o Protocolo de Colaboração, dinamizado no âmbito do projeto europeu GREENOVET, que agrega instituições de ensino, associações empresariais e empresas com o intuito de desenvolver a criação de um Centro de Excelência Vocacional na área da sustentabilidade ambiental. Tal pretende dinamizar a educação e formação profissional na área da Inovação Verde e, com isso, dotar a indústria de profissionais que consigam fomentar e dinamizar
estratégias de sustentabilidade. O protocolo de constituição desta rede foi assinado no dia 2 de março, em Leiria. O projeto GREENOVET, que em Portugal é dinamizado em parceria pelo Politécnico de Leiria, a Associação Empresarial da Região de Leiria (NERLEI) e a Escola Tecnológica e Artística de Pombal (ETAP), une as regiões de Styria (Áustria), Vaasa (Finlândia),
Skopje (República do Norte da Macedónia) e Leiria (Portugal). Funcionando numa lógica de consórcio, as quatro regiões vão definir planos de formação para docentes e alunos, criar cursos piloto e constituir Centros de Excelência Vocacionais nas áreas da ecologia e do ambiente. O projeto pretende promover o desenvolvimento, na Europa, da excelência no ensino profissional (VET) numa matéria indispensável como é o caso da Inovação Verde (Green Innovation). Nesse sentido, visa capacitar estudantes e professores, através do desenvolvimento de projetos regionais e internacionais, em conjunto com empresas. A criação de novas competências, novas áreas de negócio e novas profissões é uma das suas principais metas. Estendendo-se até 31 de outubro de 2024, tem um orçamento total de 4 milhões e 382 mil euros, dos quais o financiamento da União Europeia ascende a mais de 3,5 milhões. Para além dos promotores do projeto e da CEFAMOL, a rede de colaboração agora constituída para a criação do Centro de Excelência Vocacional na região de Leiria, agrega, entre outros, o CENTIMFE, o núcleo do CENFIM da Marinha Grande ou a Escola Profissional e Artística da Marinha Grande (EPAMG).
Este passo, explicou Vítor Ferreira, investigador do Politécnico de Leiria e coordenador do projeto, permitirá “fazer o levantamento das necessidades que existem na área da sustentabilidade ambiental e, a partir daí, definir as competências fundamentais para avançar com a formação de especialistas”. O GREENOVET “não é ‘apenas’ um projeto europeu, mas algo que, pela sua importância, possa ficar para o futuro”. Já Rui Pedrosa, Presidente do Politécnico de Leiria, destacou a importância de um projeto que dê resposta a um dos grandes desafios com que se debatem hoje as empresas: a necessidade de talento e recursos. E, sublinhou, na área da sustentabilidade, o GREENOVET “é o exemplo de como é possível criar essas respostas”. Ainda de acordo com os responsáveis, a cooperação entre as quatro regiões europeias do projeto permite uma complementaridade que enriquecerá a estratégia de cada uma delas e a definição de cursos integradores que, acreditam, permitirão mudar toda a forma como a sociedade encara a sustentabilidade.
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STEELPLUS: APOSTA NA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA AMPLIA EXCELÊNCIA DA RESPOSTA 18
Dedicada à produção de moldes de injeção para a indústria de plásticos, a SteelPlus acaba de realizar um investimento de aproximadamente 1,5 milhão de euros, com o objetivo de otimizar o processo produtivo, com a aquisição de máquinas automatizadas com paletes, laboratórios e softwares de controlo. Tal aposta permitirá ampliar a área produtiva, aumentar o número de colaboradores nos próximos dois anos, mas, e sobretudo, amplificar a excelência da resposta aos exigentes mercados dos dispositivos médicos, cosmética, eletrónica e packaging que são os segmentos de mercado com que a empresa pretende estrategicamente priorizar com este investimento. Trata-se de um projeto de cerca de 1,5 milhão de euros, integrado no ‘Portugal 2020’, que a SteelPlus, com sede em Vale de Cambra, viu ser aprovado em julho de 2021 e cuja execução teve início em janeiro deste ano, tendo um período de execução de dois anos. Luís Lima, gerente da empresa, explica que este projeto surge como resposta “ao que o mercado nos exigia”. A empresa, sustenta, precisava de ampliar a sua capacidade produtiva. Por isso, este projeto visa a otimização do processo, com a aquisição de máquinas automatizadas, laboratórios e softwares de controlo, além do aumento da área industrial. O objetivo deste investimento, sublinha o responsável, “é fazer mais rápido, com mais precisão e com menos custos”. “As áreas em que queremos crescer – medicina, cosmética, eletrónica e packaging são muito exigentes e de elevado rigor. Por isso, era imprescindível este investimento, de forma a conseguirmos manter e crescer a nossa resposta aos existentes e potenciais clientes destes referidos segmentos de mercado.” Uma das principais inovações será a criação de um laboratório limpo (white room), dedicado às áreas médica e cosmética. “Trata-se de um mercado exigente que necessita deste tipo de resposta que garanta a segurança máxima na produção, bem como o cumprimento específico das normas exigidas, nomeadamente, para o fabrico de dispositivos médicos”, adianta. Criada em 2001, pela mão do atual gerente, Luís Lima, a SteelPlus tem trilhado um caminho de crescimento. No ano da fundação, a empresa viu a sua atividade catapultada com rapidez devido a um projeto desafiante para a indústria aeronáutica, no caso, para a empresa Airbus. Até 2008, o principal mercado estava centralizado em Espanha, dedicando a sua produção, em grande parte, aos acessórios para veículos de duas rodas. Com a crise que nessa época atingiu a indústria, a empresa diversificou a sua atividade, alargando a sua ação a outros mercados europeus, mas também a Marrocos.
TECNOLOGIA INOVADORA Em 2014, ampliou a área produtiva, centralizando todo o processo produtivo: da conceção do molde ao fabrico e entrega. Foi conquistando novos e cada vez mais exigentes clientes. Começou a procurar, também, reduzir a sua dependência da indústria automóvel. “O mundo está cada vez mais competitivo, por isso, temos de automatizar e otimizar ao máximo”, defende Luís Lima, contando que, com essa premissa, a empresa decidiu avançar com o atual investimento. Com 35 colaboradores, a SteelPlus exporta para 13 países. Para além de vários na Europa, tem clientes em Marrocos e no Irão, nas áreas da medicina, cosmética e packaging. A pandemia de Covid-19 trouxe, a exemplo da generalidade das empresas do sector, um abrandamento da atividade, mas não esmoreceu o ânimo e a vontade de continuar a crescer. “Estamos no mercado a investir com perspetivas”, sustenta o responsável. Mas a pandemia permitiu, também, inovar em vários aspetos. Um deles foi a comunicação com os clientes. Foi neste período que a SteelPlus criou tecnologia que permite uma visita virtual 360º às suas instalações e, ao mesmo tempo, apostou numa aplicação que permite aos clientes o acompanhamento dos seus projetos, em tempo real, 24h/dia, incluindo os ensaios do molde. Trata-se de uma tecnologia desenvolvida internamente, com muita precisão, que consolidou a confiança dos clientes e conseguiu atrair e captar novos negócios.
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S3D: NOVAS INSTALAÇÕES PERMITEM MELHORAR RESPOSTA E AUMENTAR OFERTA
É uma mudança pensada, ponderada e planeada há muito e que foi possível de concretizar agora, fazendo com que a S3D iniciasse este novo ano numa nova casa. As novas instalações, conta João Ferreira, permitem melhorar as condições de trabalho na empresa, mas, e sobretudo, aperfeiçoar o acolhimento e a resposta aos seus clientes, criando, por exemplo, espaços de demonstração das soluções que a empresa comercializa. “Vamos comemorar este ano os 29 anos e, a exemplo do estágio de desenvolvimento de uma pessoa, era chegado o tempo de sair de casa e abraçar esse novo desafio”, explica. Desde que foi criada, em 1993, a empresa funcionou sempre no mesmo espaço. A partir de agora, funciona na zona industrial da Marinha Grande, com umas instalações de maior dimensão, com cerca de 800 metros quadrados. “Isso permite-nos ‘arrumar’ tudo de forma diferente, organizando os vários departamentos, criando outra capacidade de resposta e de acolhimento para os nossos clientes”, adianta. E depois de um ano de 2021, caracterizado pela lentidão na economia, João Ferreira espera, agora, que 2022 traga o ritmo dos negócios de volta. A pensar nisso, a empresa, com esta mudança, perspetiva vir a fazer crescer o seu quadro de pessoal, atualmente composto por 16 pessoas. “Precisamos incrementar a nossa atividade: temos em vista ideias para alargar a nossa capacidade de intervenção no mercado e chegar a mais pessoas”, explica, lembrando que o seu principal cliente – o sector dos moldes – é uma indústria de “investimento intensivo em tecnologia de vanguarda e, por isso, temos de estar aptos a dar sempre a melhor resposta”. A S3D tem como principal objetivo fornecer à indústria soluções de CAD, CAM, CAE e Metrologia Ótica 3D, assim como formação e serviços de engenharia.
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TEBIS OFERECE FORMAÇÃO SÓ PARA ELAS 20
A empresa está neste momento a concluir o processo de certificação DGERT, passando a ser uma entidade formadora certificada.
A empresa de software CAD/CAM e MES está a oferecer formação em “Tebis Base” a mulheres que pretendam conhecer o software Tebis. A formação “Tebis Base” é de introdução ao Tebis e visa dar a conhecer as funções base de preparação do CAM e de criação de superfícies. Tem uma duração de quatro dias, das 9h00 às 17h00, podendo ser presencial ou à distância. A formação de segundo nível é a “CAM Base – Fresagem e Furação” e introduz as funções de maquinação a 3 eixos, havendo também condições especiais só para elas. Para ter acesso a estas ofertas, basta enviar email para info@tebis. pt ou visitar o site www.tebis.pt e submeter o pedido no menu Formações. No site, estão disponíveis diversas formações em CAD, CAM e MES, específicas para vários processos e tecnologias de produção, como seja fresagem, torno ou eletroerosão.
O Tebis é um software para programar todas as operações de produção de moldes e matrizes, num processo altamente automatizado. Em 2021 foi lançada uma nova versão do software CAD/CAM que se destaca pelo seu sistema paramétrico e associativo, um sistema CAD híbrido que combina a tecnologia de superfícies e sólidos. A interface é totalmente nova, permitindo uma utilização mais simples e intuitiva, e as novas funções desenvolveram ainda mais a automatização e a padronização dos processos. Numa ótica de melhoria contínua, a empresa alemã anunciou em março o lançamento de uma atualização que promete revolucionar o mercado.
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MOLDMAK E A NOVA COMPACT HMC
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A Moldmak é pioneira no fabrico de máquinas CNC orientadas para a indústria de moldes. António Barbosa e Rui Almeida, Diretor de Engenharia e Diretor de Produção da Moldmak, respetivamente, explicam que o objetivo é oferecer soluções técnicas e economicamente mais eficientes, bem como colmatar a carência de aplicações no mercado de sistemas inteligentes de produção de moldes. A grande vantagem das máquinas Moldmak vem da sua capacidade multitarefa de realizar fresagem de grande porte, fresagem de acabamento, furação, furação profunda e roscagem. Tudo isso permite que as máquinas desenvolvidas pela atendam a todas as necessidades de arranque de apara garantindo a qualidade do molde com apenas dois setups. Graças à sua arquitetura mecânica, as máquinas Moldmak tem uma ergonomia orientada para este segmento de negócio. Os serviços e equipamentos são desenvolvidos e projetados para tornar a indústria 4.0 uma realidade. A Moldmak está comprometida com esta nova revolução industrial e assume uma posição de vanguarda na oferta de soluções na ótica da automatização de processos no fabrico de moldes. A sua longa
experiência na indústria de moldes, bem como a sua posição privilegiada no sector, levou-a a desenvolver o conceito de uma máquina multitarefa de fresagem horizontal com recurso para furação profunda com grande capacidade. A nova Compact HMC permite amplo acesso de maquinação a todo o volume da peça e aproveita todas as capacidades de maquinação com 5 eixos contínuos ou 3+2 com eixo W dedicado a furação profunda. A Compact HMC também está equipada com um sistema automático de troca de ferramentas, troca de paletes e CAM integrado, que permite receber peças em forma de ficheiro matemático e automaticamente gerar o seu próprio código NC e devolver KPI para apoio à gestão de fabrico.
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PROJETO ‘WOODSHAPE 4.0’: A MADEIRA COMO MATERIAL NA INDÚSTRIA DE MOLDES 22
“Valorizar um produto nacional - a folha de pinho” enquanto se procura dar resposta à procura de sectores industriais, como o automóvel por “novos produtos para segmentos de mercado mais exclusivos, valorizando o acabamento de peças interiores” e criar produtos “cada vez com maior consciencialização ambiental e personalização”. Estes são os principais objetivos do projeto ‘WoodShape 4.0’ – Moldes Inteligentes de Injeção em Revestimentos de Madeira Auxiliados por Sistemas Automáticos - que, em traços gerais, adiciona a madeira como um novo material a ser utilizado na indústria de moldes e plásticos. Com um investimento total elegível de mais de 990 mil euros, o projeto foi desenvolvido entre outubro de 2018 e março de 2022, por um consórcio, liderado pela TJ Moldes, envolvendo ainda as empresas Valco, Plásticos Batista e Makertech, o Politécnico de Leiria e a Universidade de Coimbra, e ainda o Centro de Inovação e Competências SerQ, sendo financiado pelo Compete 2020 e pelo Portugal 2020. A apresentação de resultados teve lugar no dia 29 de março, nas instalações do CDRSP (Politécnico de Leiria), na Marinha Grande. Na ocasião, Florindo Gaspar, do Politécnico de Leiria, salientou que, a partir da valorização do pinheiro-bravo que existe em abundância no nosso país, o projeto teve como ambição o desenvolvimento de tecnologias de injeção sobre a folha de madeira, num processo automatizado no âmbito do que preconiza a ‘Indústria 4.0’. Com isto, “alcançou-se uma ligação muito interessante entre indústrias que, normalmente, não estão muito associadas: a madeira e os moldes”, sublinhou. Os resultados finais, disse ainda, foram bastante satisfatórios.
classificaram como “muito desafiante”. Desde logo, adiantou Nânci Alves, pela possibilidade de aplicações. Para além do automóvel, esta conjugação de materiais pode ser apelativa para as indústrias dos eletrodomésticos ou da decoração, entre outras.
INJEÇÃO SOBRE MADEIRA Este grupo de profissionais da empresa líder do consórcio explicou ainda como foi feita a seleção e classificação da madeira, aos algoritmos de reconhecimento e visão computacional que permitiram criar um sistema automático de produção, que resultou no molde protótipo. A forma de trabalhar produtos diferentes, consideraram Francisco Diz e Liliana Gouveia, “consiste na injeção de um polímero sobre outro tipo de material”, sendo “um processo bastante comum na indústria de moldes”. Através de novas e inovadoras técnicas, totalmente automatizadas, recorre à tecnologia de conformação da madeira e do overmoulding e pretende “fazer injeção sobre a folha de madeira conformada”. Diana Duarte explicou que este projeto criou algumas vantagens como a aquisição de know-how muito especializado, permitiu encontrar um material ecológico para a indústria de moldes, a redução de timings, possibilitou responder a alguns desafios de clientes que procuram designs cada vez mais arrojados e atrativos e ainda o desenvolvimento de tecnologias mais amigas do ambiente. No entanto, salientou, um dos desafios que o projeto ainda tem é encontrar uma abordagem à reciclagem da peça final.
Nânci Alves, Francisco Diz, Liliana Gouveia e Diana Duarte, da TJ Moldes, deram nota do desenvolvimento do projeto que
O ‘WoodShape 4.0’ pretende o desenvolvimento de produtos novos, com elevado valor acrescentado, melhorando as características e as propriedades dos materiais e dos processos, sintetizou, revelando que o projeto vai ser apresentado, já a partir de abril, em feiras, aos fabricantes do sector automóvel e de outras indústrias.
/ / Foto CDRSP
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INDÚSTRIA NO FEMININO
O SECTOR FALA DE… INDÚSTRIA NO FEMININO DIFICULDADE DE CONCILIAR FAMÍLIA E PROFISSÃO AFASTA MULHERES DA INDÚSTRIA “SE A INDÚSTRIA SE DESSE A CONHECER MAIS, AS MULHERES GOSTARIAM DE CÁ ESTAR” ‘ARRUMAR A CASA’ PARA MELHORAR DESEMPENHO O LUGAR DAS MULHERES É NA INDÚSTRIA MUDAR A CULTURA DAS EMPRESAS PARA INTEGRAR MAIS MULHERES ÁREAS PRODUTIVAS DA INDÚSTRIA ATRAEM NÚMERO REDUZIDO DE MULHERES
REVISTA MOLDE CEFAMOL
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O SECTOR FALA DE… INDÚSTRIA NO FEMININO
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Helena Silva * * Revista Molde
Durante muitas décadas, elas mantiveram-se, discretamente, na retaguarda dos gestores das empresas de moldes, numa indústria tradicionalmente masculina. As mulheres dedicavamse ao trabalho administrativo, assegurando a organização dos ‘papéis’, tratando das questões mais burocráticas. Passavam despercebidas num sector onde os protagonistas, fossem produtores ou os seus clientes, eram homens. Com o passar dos anos, o seu valor começou a ser reconhecido. Passaram a ocupar outros cargos, como a área comercial. Foram dando provas de profissionalismo e dedicação, ao mesmo tempo que começaram a integrar também os cursos mais técnicos ligados à indústria. Começaram a deter conhecimento técnico e a integrar as equipas dos vários departamentos produtivos das empresas. Mas só recentemente começam a surgir, em maior quantidade, na liderança das organizações, defendendo a necessidade de criar estratégias empresariais, formativas e até políticas que tornem a indústria, e em particular a de moldes, mais atrativa à presença feminina. Andreia Fortes (Moldegama), Cláudia Novo (Erofio), Guida Figueiredo (Carfi) e Sónia Calado (DRT) têm em comum o facto de integrarem a gestão das respetivas empresas. As quatro fazem parte, também, da Rede Mulher Líder, criada em 2016, pelo IAPMEI. Apesar de hoje estarem na liderança, os seus percursos foram diferentes até aí chegarem. Enquanto Sónia Calado é administradora e fundadora da DRT, há 28 anos, as outras três são os rostos da nova geração na sucessão das empresas. Sónia Calado conta ter entrado no ‘mundo dos moldes’ através daquilo que considera como “um ato de quase inconsciência da juventude”. Tinha então 23 anos e, juntamente com o marido, Valdemar Duarte, decidiu criar a empresa. “Ele tinha o conhecimento
técnico, tinha os clientes. Mas não tinha conhecimento de gestão, nem da parte contabilística ou administrativa e eu estava no último ano do curso de gestão”, recorda. E assim começou o projeto que é, hoje, um grupo empresarial. “Ser mulher naquelas funções era, na época, novidade no sector. E, aos 23 anos, era difícil conseguir transmitir confiança, quer junto dos fornecedores, quer sobretudo junto da banca. Ainda por cima, estávamos num sector de grande exigência que era a indústria automóvel. Mas evoluímos muito rápido e com o crescimento da empresa, deixei de notar isso. Para a indústria, deixámos de ser os miúdos que vinham brincar aos moldes e passámos a ser os profissionais que faziam bem”, relata. Mas, adianta, “ainda demorou algum tempo até deixar de sentir que, em muitas reuniões, fosse na empresa, fosse em instituições, era a única mulher no meio de dezenas de homens”. E hoje, apesar de não sentir isso, admite que se trata de um sector “maioritariamente masculino”. Andreia Fortes diz ter chegado ao sector “por acaso”, há pouco mais de uma década. Não fazia parte dos seus planos ingressar na indústria de moldes, apesar de o pai ser o fundador de uma empresa. Engenheira Química, trabalhou alguns anos em Lisboa, como consultora. “O meu pai ia-me desafiando para os moldes, mas eu não me via nessa área. Até ao momento em que comecei a sentir-me frustrada com a não progressão da carreira onde estava e acabei por aceitar o desafio”, conta. Não foi de imediato para a administração. Durante dois anos, procurou inteirar-se da atividade e do sector. Em 2012, passou a fazer parte da sociedade. “Acho que, de uma maneira geral, fui bem aceite pelas pessoas. O meu pai tinha algum receio que as pessoas me vissem como ‘filha do patrão’ e não como uma mais-valia, mas procurei dar provas do meu profissionalismo. E, à exceção de duas ou três pessoas, não senti que me vissem como sendo privilegiada. Acho que me aceitaram bem”, sustenta, sublinhando que “as pessoas, com a convivência do dia a dia, foram percebendo que estava para ajudar e para contribuir e não para dificultar a vida deles”. Apesar da parte produtiva ser quase exclusivamente constituída por homens, Andreia relata que, nos outros sectores, há muitas mulheres na organização. “Mas temos muita dificuldade em recrutar mulheres para a produção. Continuamos a receber muito mais currículos de rapazes do que de mulheres”, explica.
RESPONSABILIDADE
/ / Andreia Fortes (Moldegama), Sónia Calado (DRT), Cláudia Novo (Erofio) e Guida Figueiredo (Carfi).
Já Cláudia Novo, considera que a sua ligação com a empresa existe desde sempre: “fui crescendo na empresa”. “Desde os 14 ou 15 anos que vou à empresa, com o meu pai. Sempre fui ajudar nas férias e senti que fazia parte”, conta. De tal forma que decidiu estudar em Leiria, para ir acompanhando o trabalho diário da empresa.
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A sua integração foi, por isso, um processo muito natural. “Era uma empresa pequena e todas as ajudas eram muito importantes”. Passou por todas as áreas, mas sobretudo a financeira e também de gestão de pessoas e, dessa forma, desenvolveu o seu conhecimento sobre a atividade. Acabou por assumir o cargo de diretora financeira. Entretanto, a empresa cresceu, surgiram outras áreas de negócio e entrou como sócia para a unidade de plásticos. E finalmente, passou a administradora das empresas do grupo. Tendo entrado desta forma, Cláudia assegura nunca ter sentido nenhum tipo de reação mais hostil ou adversa à sua presença. “As pessoas sempre me conheceram na empresa”, diz. Mas admite ter ouvido, por vezes, a expressão ‘filha do dono da empresa’, encarando isso como “uma responsabilidade acrescida, uma vez que tinha de consolidar a imagem do meu pai”. “Talvez se fosse homem não tivesse de provar tanto, porque parece mais natural à indústria a sucessão ser assegurada por um homem”, afirma, considerando que “quando somos mulheres, temos, por vezes, de pôr o triplo das nossas capacidades nas funções para que confiem”. “Há este estigma na nossa indústria. Temos os primeiros empresários que estão a fazer a passagem para a segunda geração, mas, se o sucessor é uma mulher, a sua competência é questionada. Quando o sucessor é homem sente-se menos isso”, afirma. Guida Figueiredo sente de outra forma a questão da confiança na sucessão, talvez mais relacionada com a idade e experiência. “Não me parece que seja uma questão de género, mas de desconfiança por ser alguém mais jovem, com pouca experiência”, sustenta. Começou a sua vida profissional na Carfi na área de recursos humanos, depois do curso de psicologia das organizações e do trabalho. “Foi bom ter começado por aí porque me permitiu conhecer todo o pessoal e a dinâmica da empresa”, conta, adiantando que, depois, caminhou naturalmente para outra área. “Como tinha alguma facilidade de comunicação e gostava da parte comercial, fui por aí. E aí senti que tinha de dar mais, de provar mais alguma coisa. Mas por uma questão de competência pessoal porque não tinha experiência técnica e, por isso, tive de complementá-la com outras valências para conseguir seguir a estratégia que defini, desde o princípio, e que tinha a ver com uma maior diversificação de clientes por áreas”, explica. E adianta que, para si, “nunca foi uma questão de género, mas sim de capacidade de resposta. Por isso, fiz-me sempre acompanhar de pessoal mais técnico para assegurar a melhor resposta sempre que era preciso”. Passado algum tempo, acabou por integrar a administração do grupo empresarial, fundado pelo pai. No seu entender, “a competência vê-se pela capacidade de comunicação com a equipa e a forma de alcançar os objetivos e não por uma questão de género ou de ser da primeira ou segunda geração da gestão”.
VISÃO Para as quatro, não haverá uma ‘visão feminina’ a determinar decisões ou ações diferentes no que toca à gestão de uma empresa. Para Sónia Calado, é importante haver uma sinergia entre os líderes e trabalho de equipa. Cláudia Novo considera que as perspetivas,
sejam femininas ou masculinas, têm de estar alinhadas com a estratégia da empresa. Andreia Fortes defende que as mulheres “são um bocadinho mais racionais e até menos emocionais, enquanto os homens tendem a ‘explodir’ mais rapidamente quando estão em picos de stress”. Mas na sua opinião, “o mais importante são as características de cada pessoa, a forma como trata o outro, e isso não é uma questão de género”. Muitas vezes, exemplifica, “quem está na administração tem de procurar equilibrar as coisas e não deixar transparecer para as equipas o que está a acontecer nos bastidores”. Para si, o papel de quem gere é munir-se de condições para “conseguir montar as peças do puzzle”. Ou seja, não tem de saber fazer um molde para gerir uma empresa do sector. O fundamental é rodear-se de quem o saiba fazer. “Sei como se faz um molde, mas não sei discutir os detalhes técnicos de um projeto de moldes, mas isso não é fundamental para se gerir uma empresa de moldes”, salienta. Cláudia Novo concorda. “Na empresa, temos as funções bem definidas. É importante ter pessoas de confiança nos departamentos. Dão-me a informação e isso é fundamental para ter o conhecimento para decidir”, explica. Guida Figueiredo salienta que, “é preciso ter em conta que ser um bom técnico não significa, necessariamente, ser um bom gestor”. E recorda os casos de empresas que ficaram pelo caminho porque, apesar de excelentes técnicos, os seus fundadores não eram bons gestores. “E se estamos a atuar a nível de liderança, da gestão, isso é que conta: saber gerir”, sublinha, acrescentando que, depois, “temos de saber munir-nos do melhor, seja dos quadros técnicos, seja dos recursos humanos e sabê-los integrar bem para darem o melhor de si”. Ou seja, acentua, “independentemente do sector, a gestão acaba por ser similar na generalidade das empresas”. Sónia Calado concorda. “Trabalho nisto há 28 anos, mas não sou uma técnica. Por isso, quando vou a uma reunião em que precise de suporte, levo um técnico comigo”, afirma, considerando que “para gerir, precisamos de conhecer o negócio, mas não do ponto de vista técnico. Para isso, temos lá pessoas que o fazem melhor do que nós”. Apesar disso, todas acabaram por introduzir algumas alterações nas empresas que gerem. Novas áreas ou departamentos que, dizem, estarão ligadas à evolução natural dos negócios ou até a situações pontuais.
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Cláudia Novo exemplificou com a aposta, a nível da organização, na definição de funções e novos líderes. “Acho que a liderança não é só a nível de topo, mas tem de ser por várias camadas e departamentos, para saber a quem cabe a responsabilidade de determinadas situações”, explica, adiantando que, para além disso, “é preciso confiar nos mais jovens e dar-lhes oportunidade de mostrar que sabem gerir”. Já Andreia Fortes defende que o foco é ter presente que “uma empresa é um negócio e um negócio tem um objetivo final que é dar lucro”. “Aquilo que noto é que há, por vezes, tanto ‘amor’ ao molde que depois não se consegue ver quando há coisas que estão a correr mal e têm de ser resolvidas. E, por vezes, resolver as coisas passa por mudar equipas, rescindir contratos, e esse tem sido muito o meu papel desde que entrei: profissionalizar a empresa. E é onde, por vezes, posso colidir com o sócio fundador, que é o meu pai, e que continua a ter uma grande marca pessoal na empresa”, conta. Sónia Calado acrescenta que os moldes têm, ainda, a particularidade de necessitar de mão-de-obra muito especializada. “E, por vezes, para quem gere torna-se complicado quando é necessário reformular ou renovar equipas. Não é possível fazê-lo com a rapidez necessária porque a mão-de- obra especializada demora muitos anos a formar, tem de saber trabalhar em equipa e as equipas levam anos a moldar”, explica. Cláudia Novo acentua que, para além disso, um bom técnico numa empresa não é, necessariamente, igualmente bom numa outra organização. “As culturas das empresas são muito próprias e isso faz muita diferença”, considera. Por isso, são unânimes em defender que cada empresa deve fazer a formação interna dos seus colaboradores.
EVOLUÇÃO Para as quatro administradoras, as mulheres nas empresas estão, atualmente, nas áreas que consideram as mais atrativas. “Não me parece que tenha de fazer-se um esforço e tenham de existir mulheres em determinadas áreas se elas não as acham apelativas”, defende Guida Figueiredo, lembrando que, por exemplo, não se recorda de alguma vez ter visto ser levantada a questão da pouca quantidade de homens em áreas como os jardins-de-infância ou nas empresas de limpeza. “Penso que esta é uma não-questão. Estão ali homens porque estão, mas poderiam estar mulheres se elas se sentissem atraídas para essa função”, diz. O ambiente muito masculino poderá ser, no seu entender, um entrave à entrada de mais mulheres em algumas áreas produtivas, contudo, lembra, elas já estão em sectores onde são uma reconhecida mais-valia. Sónia Calado reforça que “fisiologicamente e anatomicamente, mulheres e homens são diferentes, logo há situações em que não podem ser comparáveis”. Por isso, no seu ponto de vista, há na indústria de moldes “sectores que são tipicamente masculinos”. Por outro lado, enfatiza, os horários complicam a questão quando a mulher tem um papel muito intenso na família. “Nos moldes, temos prazos muito curtos e é preciso, por vezes, fazer muitas horas extra. As mulheres nem sempre têm essa predisposição até porque nem sempre têm apoio em casa”, frisa.
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brincadeira, que é muito diferente da profissão que sonhava abraçar na adolescência: ser professora de aeróbica. Para Guida Figueiredo, “qualquer profissão liga a pessoa à realidade. E esta ligou-me à sua realidade: do que são as pessoas, da sua dinâmica, da sua interação, do que é o mercado e da sua exigência”. E esta ligação, salienta, “tem a vantagem de me mostrar uma realidade mais internacional, conhecer e aprender com outras culturas”.
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Já Cláudia Novo considera que a indústria de moldes lhe trouxe “uma aprendizagem constante, adaptação ao dia-a-dia e a novas situações e a capacidade de reatividade que temos de ter para fazer um bom trabalho”.
E ao contrário dos moldes, salienta Cláudia Novo, a área dos plásticos “tem muitas mulheres em todos os sectores”. E isso, na sua perspetiva, é porque se trata de um trabalho mais minucioso, que requer mais sensibilidade. Atrai mais mulheres e a envolvente no chão de fábrica acaba por ser mais feminina. Para Andreia Fortes, a evolução no número de mulheres na indústria tem de acontecer naturalmente. “Não vale a pena forçar”, defende, explicando que “sempre que colocamos um anúncio de emprego, temos mais respostas de homens do que mulheres. Para a produção, nunca recebi um currículo de uma mulher”. No seu entender, “as empresas estão abertas à entrada de mais mulheres, mas não podemos estar preocupadas com essa questão. Quando se sentirem mais atraídas, elas virão”. É que as empresas, lembram as quatro, “procuram pessoas por competências e não por género”. E salientam ainda que, além de uma indústria onde a mão-de-obra é essencialmente masculina, também os clientes das empresas são, tradicionalmente, homens. Guida Figueiredo destaca que isso se nota, na Europa, sobretudo nos países do Norte, nos quais as mulheres são mais apoiadas enquanto mães e acabam por não se dedicar tanto às carreiras. “Em Portugal, é necessário o salário de dois para poder sustentar uma família e isso obriga a que as mulheres estejam em várias posições que noutros países não necessitam de estar, porque são apoiadas para cuidar das famílias”, lembra. Sónia Calado lembra que se algo não mudou no que diz respeito aos clientes é que continuam a ser, na sua maioria, homens. Mas hoje, acrescenta, o relacionamento com os clientes é muito diferente. No início da sua atividade, “a proximidade era tal que cheguei a convidar clientes para o meu casamento”. Hoje, adianta, “há um distanciamento maior. Até há negócios que são feitos por email”.
DISCIPLINA E RIGOR Sónia Calado não tem dúvidas de que a sua vida profissional na indústria de moldes tem sido “uma aprendizagem constante”. “Nunca fiz outra coisa na vida, por isso não tenho ponto de comparação, mas destaco que, diariamente, esta indústria obriga-me a estar sempre atualizada e ter muita disciplina e rigor”, afirma, contando, em jeito de
Andreia Fortes considera que a indústria lhe deu “arcaboiço: é um sector muito exigente, muito dinâmico, onde tudo é muito para ‘ontem’, onde há muita pressão e desafios constantes”. Por isso, defende que “quem trabalha neste sector consegue trabalhar em qualquer outro”. Por outro lado, revela sentir também “muito orgulho” por saber que cada modelo automóvel que circula pelo mundo tem “um pormenor qualquer feito em Portugal”.
TRABALHO CONJUNTO PARA ATRAIR JOVENS PARA A INDÚSTRIA Só um trabalho conjunto, envolvendo escolas, empresas e até o poder político, conseguirá alterar a imagem da indústria junto dos mais jovens, de forma a atrair mais quadros – que são imprescindíveis às empresas -, entre os quais, naturalmente, mais mulheres. “A indústria tem de dar-se a conhecer”, defende Andreia Fortes, considerando que, apesar de o sector de moldes “estar agora, mais ou menos, na moda, era, até há meia dúzia de anos, muito desconhecido”. Exemplifica com o seu caso. Enquanto estudante, “sempre que referia esta indústria, os restantes alunos não faziam ideia do que falava”. Hoje, apesar de mais conhecido e reconhecido na sociedade, principalmente pelo seu carácter exportador, o sector continua a não atrair os jovens. Sobretudo as mulheres. “Acho que a mudança passa pela educação, desde pequeninos, e depois nas escolas, de forma a mostrar que há esta oportunidade na indústria, que é transversal a todos, sejam homens ou mulheres”, afirma. No seu entender, “já começa a haver muitas mulheres nas engenharias. Possivelmente, se houver uma divulgação maior do sector, haverá ainda mais”. Para além de Leiria, onde, sustenta, o Politécnico já faz um excelente trabalho com as empresas, a divulgação da indústria de moldes deverá estender-se a outros pontos do país. “É um trabalho de fundo e tem de começar muito cedo nas escolas”, enfatiza. Para Sónia Calado, é muito importante “haver uma relação entre as escolas e as empresas, de forma a levar os alunos dos 9º ou 12º anos a visitar a indústria”. A seu ver, “é uma forma
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de atrair os jovens para o nosso sector”. Salienta, contudo, que a indústria de moldes “não é um sector muito empregador” e também não é “muito atrativo”. “Os moldes funcionam muito por ciclos, principalmente para as empresas que trabalham para a indústria automóvel. Há indústrias que, nesse aspeto, são mais atrativas. E até na remuneração. Não é que os moldes paguem pouco, mas um bom técnico demora muito tempo a formar-se e até lá, naturalmente, tem um salário médio”, sustenta. Considerando que a questão da necessidade de recursos humanos irá manter-se por bastante tempo, acentua um outro pormenor que, acredita, devia ser alterado: “na estratégia de formação, estamos a caminhar para um país de doutores e engenheiros”. Concretiza: “Estamos a esquecer-nos dos cursos técnicos e profissionais enquanto na nossa fabricação não precisamos só de engenheiros, mas de bons técnicos. Há um estigma muito grande em redor destes cursos, para os quais só vai quem não tem capacidade para os cursos superiores. E enquanto isso não for desmitificado, o nosso problema vai continuar”. Guida Figueiredo considera que, a nível estratégico e político, “o país tem de dar o passo: temos de apostar na formação para que as novas gerações saibam fazer e deixem de acreditar que tudo o que têm aparece feito”. “Habituámo-nos a importar do sítio onde vem tudo pronto e não se investe em saber fazer”, sublinha, considerando que esta tendência se inverte “apostando numa estratégia de sinergias que inclua empresas, envolva as escolas e, ao mesmo tempo, tenha a nível do Estado essa prioridade. Depois, é preciso alinhar os cursos do ‘fazer’ com a parte informática, de forma a criar uma aposta grande na produção digital”. “Tudo isto tem de partir de uma estratégia política que, neste momento, não valoriza a demografia como questão de fundo, mas que tem de o fazer, sob pena de, daqui a pouco tempo, não termos pessoas”, salienta, considerando que “esta estratégia tem de ser concertada para que funcione, porque não se consegue nada sozinho”. Para Cláudia Novo, “a indústria tem de se mostrar às escolas”. Exemplificando com o caso do programa de atribuição de bolsas ‘IPL + Indústria’, lembra que “os alunos não iam às empresas e, sem isso acontecer, não conheciam, não sabiam, nem tinham forma de perceber o que era a indústria”. Por isso, defende que “as escolas e as empresas têm de dar este passo em conjunto e torná-lo como algo permanente”. Enquanto, diz, no Politécnico de Leiria, já existe essa ligação, “agora, temos de insistir para que cresça por todo o país: a indústria precisa dar-se a conhecer aos jovens”. Defende a criação de uma campanha atrativa que demonstre as reais potencialidades do sector de moldes junto dos alunos. Mas enfatiza: “tem de ser uma ação concertada e com o apoio do Estado; ações isoladas não nos levam a lado nenhum. E se não avançarmos rapidamente para isto, a indústria corre o sério risco de ficar sem os recursos humanos que necessita”.
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As mulheres têm facilidade em integrar-se, ainda que o chão de fábrica das empresas de moldes seja, ainda hoje, um ambiente quase exclusivamente masculino. Apesar dessa facilidade, na hora de recrutar são poucas as que surgem nas entrevistas de emprego. A explicação, na ótica das nossas entrevistadas, é que as áreas ligadas à produção, como engenharia e projeto, requerem uma entrega horária muito grande que nem sempre facilita a conciliação com a vida familiar. “A indústria de moldes é um ramo de atividade que proporciona igualmente oportunidades para a presença feminina”. Susana Pinho, formada em Engenharia e Gestão Industrial, chegou à indústria em 1998, ingressando na MDA, no Departamento de Metrologia e Calibração, apoiando simultaneamente, a implementação do sistema de gestão da qualidade para a obtenção da certificação. Hoje, é responsável pela área da Qualidade da Simoldes Tools.
Susana Pinho considera que a indústria de moldes pode, à partida, parecer pouco apelativa para as mulheres, no entanto, é uma realidade muito desafiante. “O que sempre me fascinou na minha experiência profissional foi o contacto com as diversas áreas desta indústria, onde o know-how é um fator de diferenciação e que está presente em pessoas inteligentes, humildes, com uma dedicação exemplar e que integram uma equipa prestigiada.” “O reconhecimento do nosso trabalho é promovido pela capacidade que demonstramos naquilo que fazemos e naquilo que somos, independentemente do género”, revela.
MDA: “UMA JOVEM NO MEIO DOS HOMENS” Em 1998, com uma licenciatura em engenharia eletrónica e telecomunicações, Carla Correia ingressou na indústria de moldes. Esse passo, recorda, foi determinante para deixar de lado o mundo das telecomunicações, que na altura estava em franco desenvolvimento, mas assegura que ainda hoje não se arrepende da decisão. Foi a ligação do pai ao Grupo Simoldes, onde trabalhava, que a levou a arriscar a entrada no sector. Na época, conta, “não havia mulheres no departamento técnico, nem em nenhuma área de suporte à produção”. A sua presença era, então, na área comercial, na contabilidade, na secção de importação/exportação e também como telefonistas”. A interação de uma mulher do departamento técnico com a produção foi numa novidade. Foi pioneira. Entrou como projetista, para a área de conceção de moldes. “Estive meio ano a estagiar na Simoldes Aços, para aprender o processo de fabrico do molde, como acontece com todos os que cá chegam, e também para me familiarizar com esta indústria pois a minha formação era noutra área”, recorda.
Recorda que nessa altura a presença feminina em áreas de suporte à produção era extremamente reduzida e como tal partilha - “eu sentia-me constrangida quando tinha que me deslocar à área produtiva. Para além de não haver mulheres, eu era muito nova (tinha 23 anos)”, explica. Mas essa sensação rapidamente foi ultrapassada quando o contacto com a equipa lhe fez perceber que estava perante um grupo muito afável e disponível para a apoiar.
Acabada de sair do meio académico, era “uma jovem no meio dos homens”, relata, considerando que sentiu, nessa altura, “alguma desconfiança inicial por parte de alguns deles: olhavam-me com grande expectativa, a tentar perceber, sendo eu mulher, como iria desempenhar as funções”. “Recordo-me de, nesses primeiros tempos, empenhar-me ao máximo para realizar um bom trabalho, verificava vezes e vezes tudo aquilo que fazia”, conta, sublinhando ter aprendido imenso. “No início, era vista por eles com curiosidade, mas, ao fim de algum tempo, ao perceberem que também sabia fazer, fui integrando o grupo”, conta.
“Este sector de atividade é marcado fortemente pela presença masculina, mas nunca senti que me discriminavam ou diferenciavam por ser mulher”, conta. À medida que o tempo foi passando, sentiuse totalmente integrada na equipa. Apesar da predominância masculina, a presença feminina tem vindo a ganhar espaço neste ramo de atividade.
Carla Correia não estranhou o ambiente masculino porque estava habituada. “Vinha de um curso de engenharia que teve sempre poucas mulheres. Sempre me senti à vontade entre os homens. Desde a escola que criava imediata empatia e proximidade e era bem aceite. E assim foi também na empresa”, enfatiza. E passados alguns contratempos iniciais, de alguma falta de confiança no seu
/ / Susana Pinho (Simoldeds Tools).
IGUALDADE “Penso que a maioria das mulheres tem facilidade de integração. Não têm problemas de relacionamento nem de desempenho da função”, considera. Mas, sublinha, “a verdade é que as características do trabalho e do ambiente são mais masculinas. Eu nunca estranhei, mas sei que algumas mulheres estranham”.
/ / Carla Correia (MDA).
trabalho – que atribui mais à sua tenra idade e à inexperiência da sua atividade no setor do que propriamente ao facto de ser mulher – foi conquistando o seu lugar, trabalhando com dedicação e paixão. Passado pouco tempo, chegou outra mulher que ingressou no departamento de metrologia e durante vários anos foram as únicas que se relacionavam diretamente com a produção. “Só em 2012 chegaram ao departamento técnico mais mulheres”, conta, admitindo que, nos primeiros anos as empresas não as procuravam. No entanto, o cenário foi-se modificando e nos últimos anos de uma forma paulatina as mulheres têm vindo a integrar os quadros técnicos da empresa.”
“É uma pena porque o ambiente é fantástico. O grupo onde estou é muito coeso e isso é muito importante. Apoiamo-nos, completamonos e ajudamo-nos. Há muita troca de ideias e interajuda”, conta. E, no seu entender, as equipas funcionam dessa forma independentemente do género. “Creio que a questão hoje não se faz por aí. Desde que se cumpram os requisitos e que o trabalho seja de qualidade, é indiferente se foi feito por homens ou por mulheres”, defende. “Nestes anos, houve uma evolução e, hoje, olha-se para o profissional e não para o género. As empresas têm algumas mulheres no departamento técnico. E o interesse tem vindo a crescer. Por exemplo, nestes últimos quatro ou cinco anos, as mulheres têm procurado mais a indústria”, conta, considerando que o sector dos moldes não tem a mesma imagem que tinha no passado. “Os moldes são uma área de futuro. Acho que as mulheres têm essa consciência: que este é um sector que garante uma profissão e, a quem estuda, assegura saídas profissionais”. Uma das questões que, acentua, os profissionais têm de ter presente é que se trata de uma indústria com uma grande exigência, não
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apenas técnica, mas a nível de disponibilidade de tempo. “Isto faz com que nem sempre seja fácil conseguir conciliar a vida familiar com a vida profissional, principalmente quando se é mãe”, sustenta. Por outro lado, salienta que existem aspetos muito positivos. “Estamos constantemente a aprender uma vez que a evolução tecnológica é tremenda. E é muito estimulante vermos – literalmente – o nosso trabalho ganhar forma e estar presente em muitos dos objetos que nos rodeiam”.
SIMULFLOW: “AS MULHERES TÊM UM PAPEL MUITO IMPORTANTE NA INDÚSTRIA” Foi na República Checa que Teresa Neves se graduou em engenharia de polímeros, realizando assim o sonho de se formar numa área diretamente ligada à produção industrial. Aí conheceu também o futuro marido e, regressando a Portugal, inicia atividade na região de Leiria, na indústria de transformação de plásticos. Em 1987, no sector dos moldes para plásticos, para onde se transferiu, foi pioneira na aplicação de uma tecnologia que começava a emergir: a simulação do processo de injeção de plásticos. Sempre dentro dessa área e nas empresas por onde passou, foi aperfeiçoando os seus conhecimentos e o seu método de trabalho. Hoje, de acordo com a generalidade das pessoas da indústria, é uma das maiores especialistas na área da simulação.
acrescentando que, nos anos seguintes, foi encontrando mulheres no seu percurso profissional nas empresas, na área da simulação. Mas gradualmente também no projeto e engenharia. Apesar disso, enfatiza, “não me recordo de ter encontrado mulheres na gestão desses departamentos, ou de outros ligados à produção. Ainda hoje, não encontramos muitas mulheres nesses cargos”. No seu entender, se elas não estão em maior quantidade na indústria isso deve-se, sobretudo, a uma questão: “a dificuldade de conciliar a vida profissional com a vida familiar”. Em Portugal não se valoriza a maternidade e as mulheres acabam por não assumir cargos de gestão porque as sobrecarregam e não conseguem conciliar as duas situações”, defende. Depois, lembra, “há um estereótipo que não se conseguiu esbater: que há áreas específicas, como algumas engenharias, para os homens e outras para mulheres. Logo na infância, as meninas são condicionadas a pensar assim e vão carregando esse preconceito pela vida”. Para Teresa Neves, há ainda algumas lacunas nas escolas. “Os direitos e oportunidades não estão a ser bem transmitidos às jovens e isso reflete-se, depois, no acesso às profissões”, diz. No seu entender, o objetivo é que se alcance um equilíbrio, nas empresas, entre o número de homens e mulheres nas várias funções. E isso, salienta, acontece, por exemplo, na sua empresa onde metade dos elementos são mulheres.
CONFIANÇA
/ / Teresa Neves (Simulflow).
Em 2001, decidiu arriscar e criar a sua própria empresa de prestação de serviços de simulação – ReoPoly - e escolheu um software, no qual foi pioneira em Portugal e na Europa. Desta forma se estabeleceu com empresária de referência nesta área. Do seu início de carreira testemunha: “Quando comecei, no sector dos plásticos, as mulheres tinham tarefas muito específicas: estavam na decoração, nos acabamentos ou nas áreas administrativas. Na produção, não havia”, recorda, adiantando ter sido, precisamente, nessa área que entrou na indústria. Primeiro, no departamento de qualidade e, depois, na simulação. “Fui responsável pela sala de projeto durante um ano”, salienta. A simulação era, então, algo desconhecido. Foi pioneira na implementação dessa tecnologia e, curiosamente, foi-o juntamente com uma outra mulher. “Talvez por isso, na década de 1980, as empresas começaram a associar a simulação às mulheres”, conta,
Ao longo do seu percurso profissional, Teresa Neves garante que nunca sentiu qualquer tipo de diferença de tratamento, por ser mulher, junto dos colegas (homens) de trabalho. Mas o mesmo não aconteceu, por exemplo, nas negociações com os clientes. “Por vezes, faziam-me sentir que eu tentava negociar uma questão que não era suposto ser tratada por uma mulher. Mostravam alguma desconfiança e, não generalizando, cheguei a sentir numa ou noutras ocasião que, se não fosse mulher, as coisas decorreriam de forma diferente”, explica, frisando que “por vezes, ocorreu considerarem que não seria competente e, outras vezes, mostravam-se surpreendidos por constatar que era competente no que fazia”. Na época, os clientes eram homens. Hoje, apesar de haver algumas mulheres, a maioria dos clientes continua a ser do género masculino. Apesar de atualmente não sentir essa falta de confiança por parte dos clientes, Teresa Neves salienta que, após todos estes anos, a sua experiência é reconhecida, uma vez que consolidou uma imagem no mercado. Para Teresa Neves, apesar de todo um percurso evolutivo no caminho da integração das mulheres nas empresas, há uma realidade que se mantém: “as mulheres estão frequentemente a ser postas à prova com um grau de exigência superlativo para poderem aceder a cargos de responsabilidade, por isso têm de fazer um esforço muito maior e nem sempre, por causa de todo o contexto, nomeadamente extralaboral conseguem. E, no seu entender, “as mulheres têm um papel muito importante na indústria, seja na organização, na gestão da informação e outras matérias que são questões críticas, hoje, nas organizações”. Por isso, defende, “as empresas deviam pensar em melhorar as condições para conseguir atrair mais mulheres”.
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“SE A INDÚSTRIA SE DESSE A CONHECER MAIS, AS MULHERES GOSTARIAM DE CÁ ESTAR”
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Quando chegaram, a produção era uma área exclusivamente masculina. Foi, por isso, com surpresa que, no início, foram olhadas, mas, à medida que o tempo foi passando, o seu papel passou a ser reconhecido. A produção, dizem, tem dos maiores desafios da indústria de moldes e, por isso, não têm dúvidas de que se o sector se conseguisse dar a conhecer de outra forma, muitas mulheres gostariam de ali estar.
MOLDIT: UMA INDÚSTRIA DE OPORTUNIDADES Acabada a licenciatura, Ana Santos escolheu a indústria para realizar o estágio. O destino quis que fosse uma empresa da indústria de moldes, numa altura em que as máquinas de controlo mecânico começavam a chegar às fábricas. Foi em 1988 que entrou na produção, dando de caras com um ambiente exclusivamente masculino. Finda a surpresa inicial com
que foi olhada a sua entrada, rapidamente passou a integrar o grupo, conta. Curiosamente, a surpresa foi apenas do lado masculino. Ana Santos estava já habituada a ser a única mulher, uma vez que essa foi a sua realidade durante todo o curso, numa área que era então associada aos homens: a indústria. Já no estágio, “o trabalho era com máquinas convencionais. Comecei, de raiz, a pôr as CNC a funcionar”, recorda, sublinhando ter contado, de imediato, com o apoio dos colegas. “Lembro-me de, durante muito tempo, ser a única mulher nas reuniões até porque, então, não havia muitas pessoas a falar línguas estrangeiras e sempre tive facilidade em fazê-lo. Era desafiante”, relata. Com o apoio da equipa, adianta, “fui criando uma base técnica e fui ‘formatada’ para ter a certeza do que fazia, de forma a contribuir para o objetivo de alcançar uma indústria sem erros. Por isso, perguntava
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sempre quando tinha dúvidas e procurava ter o máximo rigor no que fazia”. E, sustenta, “estava rodeada por pessoas fantásticas que me ajudaram a progredir”.
E, salienta, o sector tem vantagens em aumentar o número de mulheres porque, no seu entender, “são, de uma maneira geral, mais conciliadoras, mais metódicas e muito benéficas nas equipas”.
Algum tempo depois, já na década de 1990, foi convidada a integrar a Moldit. “Era uma empresa recente e foi-me dada a oportunidade para continuar a aperfeiçoar o trabalho”, conta, frisando que, quando chegou, havia uma mulher na produção: era ferramenteira.
De qualquer forma, considera que nos últimos anos, as empresas alteraram a sua mentalidade e foram dando mais oportunidades às mulheres. “O género deixou de ser questão. Há mulheres e há homens, mas o que tende a ser valorizado é a forma como se posicionam no trabalho, pelo menos, para uma grande parte das empresas”, diz.
À medida que o tempo foi passando, outras mulheres ingressaram na produção, na área da qualidade, na gestão de projeto e no polimento. No seu entender, a entrada das mulheres contribui para um ambiente mais equilibrado e salutar nas empresas. “Hoje, temos mais mulheres e em vários cargos. Por exemplo, dos quatro chefes de projeto, três são mulheres”, conta. Olhando para trás e ponderando o percurso que a trouxe aos dias de hoje, Ana Santos assegura não ter sentido qualquer tipo de tratamento diferente por ser mulher. “Sempre tive oportunidade de ir fazendo o meu trabalho e ascendendo profissionalmente. E sempre me senti integrada”, explica, enfatizando que “apesar de, nesta indústria, o ambiente continuar a ser muito masculino, as mulheres integram-se com facilidade”.
GRUPO VANGEST: “A INDÚSTRIA ENTRA-NOS NA PELE, NA VIDA E NA FAMÍLIA” O ‘bichinho da indústria’ foi uma constante sempre presente na sua vida, desde que se recorda. Após a licenciatura em engenharia industrial, Dulce Alves conheceu, na fase de estágio, a indústria de moldes. E aí permaneceu até hoje. Começou e desenvolveu a sua carreira na Portumolde, e está, desde 2021, no Grupo Vangest, como Plant Manager de duas das suas unidades industriais de produção de moldes.
EQUILÍBRIO A dificuldade que diz ter sentido, por vezes, foi o equilíbrio entre a vida profissional e familiar. “Uma coisa que ainda não mudou é que as mulheres são muito mais pressionadas a liderar a parte familiar. Por isso, há aspetos de progressão na carreira que colidem com essa questão”, considera, defendendo que, contudo, “isso, apesar de se manter, já se notou muito mais e penso que tenderá a esbater-se com os anos”.
/ / MPTool e 3DTech (Grupo Vangest) no feminino.
“Gostava de ver o processo de transformação e o que mais me fascinava eram os materiais como o aço, a porcelana, o cristal ou o vidro”, recorda, contando que, desde muito jovem teve oportunidade de acompanhar o ambiente industrial, ao lado do pai que, nas férias escolares, a levava ao seu local de trabalho. Chegou a fazer estágios de verão na indústria.
/ / Ana Santos (Moldit).
Para Ana Santos, é sobretudo pelo desconhecimento acerca da realidade da indústria que se mantém o número reduzido de mulheres em determinadas áreas da produção. “Se a indústria conseguisse dar-se a conhecer e as mulheres percebessem exatamente como é aliciante, elas viriam”, afirma, destacando que características do sector como “o ritmo alucinante, as novidades constantes e os desafios intensos são questões extremamente atrativas para as mulheres”. “Acredito que não tenhamos conseguido, ainda, mostrar o que é a indústria de moldes”, sustenta.
Após a sua formação, foi na bancada que ingressou na indústria de moldes. Começou por colaborar na organização do sector de montagem e, mais tarde, foi colocada no planeamento. Ao final de algum tempo, integrou também a gestão da qualidade. Acabou por ficar responsável pelo planeamento da produção e pela gestão da qualidade. Duas áreas com prioridades muito distintas. Grande desafio conciliá-las. Quando chegou, recorda, havia poucas mulheres na empresa e estavam, essencialmente, na área administrativa. “Em pouco tempo, passaram a estar nas compras e no projeto. Não eram muitas, mas encontrei mulheres de armas, destemidas, determinadas e, sobretudo, competentes”, conta. A sua chegada ao chão de fábrica causou surpresa, sobretudo junto dos colegas (homens) mais velhos. “Sempre estive habituada à presença masculina, quer na escola, quer em casa. Não estranhei o ambiente masculino na empresa. Mas notei que eles sim,
estranharam a minha presença, no início. Uma mulher a entrar pelo chão de fábrica”, relata.
mais mulheres nos cursos de engenharia, elas não aparecem nas entrevistas de emprego para funções da indústria”, explica.
Recorda desses primeiros tempos o sentimento que a acompanhava sempre que via o esforço e a quantidade de horas extra que faziam. “Lembro-me de pensar que era um sector onde não havia tempo para ter vida pessoal”, afirma. Mas não levou muito tempo a afastar esse sentimento.
“No início, quando cheguei, as mulheres estavam nas funções onde os homens as viam porque pensavam que elas sabiam, apenas, fazer aquilo. Hoje, as coisas mudaram. É sabido que as mulheres conseguem fazer o mesmo. O género não é uma questão. Basta, talvez, que as mulheres percebam o fascínio que tem esta indústria e tenham vontade de experimentar”, diz.
É que, sustenta, “a indústria entra-nos na pele, na vida e na família”. Ou seja, o apelo da indústria é de tal forma que acaba por ser possível conciliar todos os aspetos da vida. Na empresa, os mais antigos que, no início, estranharam a sua presença, acabaram por ser aqueles que mais lhe ensinaram. “Aprendi muito com eles. Ensinaram-me tudo aquilo que não se aprende sem ser na prática”, explica.
CRIATIVIDADE No seu entender, as mulheres têm um conjunto de características que são vantajosas para as equipas. São, desde logo, “mais voluntariosas”, considera. “É da nossa natureza: temos dificuldade em ver ‘coisas fora do sítio’, por isso vamos fazendo e, quando damos por ela, tornase regra que o façamos nós. Ou seja, ao mostrar competência numa ação, já ninguém a vai fazer, deixa para nós”, defende. Para Dulce Alves não é por falta de oportunidades que as mulheres estão em número tão reduzido nas empresas. “Apesar de haver hoje
E enumera outras características que, no ponto de vista, tornam as mulheres diferenciadoras numa equipa: “têm criatividade, não têm receio de experimentar e arriscam soluções, não resistem ao que é novidade. Talvez sejam, na sua maioria, mais competentes que os homens em determinadas funções ligadas à organização e eles mais objetivos e competentes que nós, noutras, mas a diversidade de género numa equipa de trabalho é uma grande vantagem competitiva. Abre portas a novos talentos, competências e estimula o crescimento da empresa. No trabalho, nunca penso em homens nem em mulheres. Penso Equipa.”. Ao longo do seu percurso profissional na indústria, afirma que sempre se sentiu realizada. “Estou, desde sempre, rodeada de gente fabulosa com quem tenho aprendido imenso”, conta, salientando que “a indústria me trouxe algo muito positivo: oportunidades. Integrei projetos aliciantes que me marcaram, quer pela positiva, quer pela negativa, mas que me permitiram descobrir mecanismos para sobreviver e melhorar profissional e pessoalmente”.
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‘ARRUMAR A CASA’ PARA MELHORAR DESEMPENHO 36
Foi no final da década de 1980 que a questão da Qualidade e os sistemas de certificação começaram a entrar, em força, na vida das empresas. A natural predisposição que a maioria das mulheres tem para cuidar de processos desta natureza que, de uma forma transversal, podem ser entendidos como o ‘arrumar a casa’ nas empresas, levou a que, ainda hoje, muitas integrem esta área na indústria. Mas para aqui chegar, foi necessária persistência para consolidar uma mudança de hábitos e tradições que caracterizavam a produção dos moldes.
TJ MOLDES: AFIRMAÇÃO PELA COMPETÊNCIA Dulce Santos, da TJ Moldes, leva mais de três décadas de trabalho na indústria. Começou nos plásticos, na RTJ Plásticos, como chefe de produção e, três anos depois, saltou para a indústria de moldes, diretamente para o ambiente masculino do chão de fábrica, onde iniciou a área da Qualidade.
Dulce Santos começou como gestora do processo de Qualidade e ainda hoje tem essa missão. A empresa foi das primeiras a obter a certificação, em 1995. Mas foi e fez muito mais para além da Qualidade, numa indústria que começava, então, a despertar para as questões da organização, da higiene, da segurança e do ambiente. “Havia essa necessidade e fui iniciando essas áreas na empresa, criando e gerindo processos e metodologias”, recorda, salientando que se tratou de um processo “difícil”. “Há 30 anos era tudo um pouco mais complexo, moroso, complicado”, explica. Recorda, por exemplo, a quantidade de papéis que era necessária para criar metodologias ou projetos. Salienta a quantidade de instituições que era necessário contactar presencialmente para obter uma licença, um pedido de certificação, entre outras coisas. “Não havia internet, não era possível consultar online: tinha de se ir aos locais, consultar documentos, pedir cópias, agendar reuniões ou fazer deslocações”, adianta. A gestão destes processos levou a que ficasse responsável por outros, de outro tipo, como os projetos de inovação, que passaram a estar também sob a sua alçada. “Era fundamental ter a empresa na linha da frente das soluções tecnológicas, mas eram processos lentos, burocráticos e complexos”, lembra. Apesar disso, nunca esmoreceu. Pelo contrário, encontrava força nas adversidades para conquistar os objetivos a que se propunha. Conta que a indústria tinha, então, poucas mulheres. E sempre que surgia nas instituições para solucionar questões relacionadas com a empresa, notava a surpresa de quem a recebia. “Não era vulgar haver mulheres a tratar dessas questões”, afirma.
/ / Dulce Santos e Diana Duarte (TJ Moldes).
Recorda que, na época, sentiu uma necessidade grande de “arrumar a casa”, ou seja, criar regras, procedimentos que facilitassem o trabalho. Tem a noção de que, nos primeiros tempos, tal desejo não foi bemencarado pelos colegas de trabalho, homens exclusivamente. Mas foi agindo “com tato, com atenção e determinação” e, passado algum tempo, havia a convicção generalizada de que o processo registava melhorias. Foi criado um manual de procedimentos que contou com a colaboração de todos. A casa, enfatiza, “estava a ficar arrumada”. “Foi muito importante ter começado pelos plásticos. Eles viam-me a trabalhar tanto como qualquer outro, perceberam que eu sabia fazer, que sabia do que falava. Independentemente de ser ‘a esposa do patrão’, penso que me viam, essencialmente, como mais uma colega de trabalho, que estava com eles quando era preciso, que trabalhava como eles”, relata.
Na empresa, as mulheres assumiam cargos na área da contabilidade e, mais tarde, também no serviço de apoio ao cliente. Nos restantes departamentos, havia apenas homens. Aos poucos, refere, “foram aparecendo mais mulheres: na comercial, no escritório e, sensivelmente a meio da década de 1990, tivemos uma mulher na programação”. À medida que a empresa foi crescendo e caminhando para um grupo empresarial, o seu papel ia sendo cada vez mais generalista. “A parte da manutenção também era comigo. Máquinas, peças, ferramentas e até os edifícios”, conta, salientando que, em conjunto, ia tendo sempre a Qualidade e, sobretudo nos primeiros tempos, “sentia, muitas vezes, que nas auditorias tudo o que fazia estava a ser posto à prova”. E no chão de fábrica, enfatiza, continuava rodeada por homens. “Na época, a indústria era diferente. As mulheres tinham de sujar muito as mãos para entrar para as empresas e tinham de mostrar que eram boas no que faziam, tinham de dar provas disso aos homens”.
Defende que “ainda não estamos num verdadeiro patamar de igualdade entre homens e mulheres, uma vez que elas continuam a ser olhadas como destinadas aos gabinetes”, para considerar que “as coisas vão mudando, as mulheres vão chegando aos sítios pela afirmação, pela competência, pela atitude e pelo conhecimento”.
COMPETÊNCIA Diana Duarte é Gestora de Sistemas e responsável pela Inovação e Gestão de Processos na TJ Moldes. Chegou à empresa numa época em que a presença da mulher no processo produtivo já é encarada com naturalidade. “A mulher hoje já integra outras funções que não apenas as ligadas ao escritório e isso é aceite. No entanto, a sua presença na produção não é em grande número. Isso ainda não mudou”, afirma. No seu entender, o caminho desbravado por Dulce Santos antes da sua chegada fez grande diferença. “Tenho a noção do muito trabalho que foi feito para chegar aqui e sinto que tenho o caminho facilitado”, defende, adiantando que, por outro lado, tem também presente “a responsabilidade de prosseguir nesta mesma direção da evolução, da melhoria contínua”. No seu entender, a mudança que consiga atrair mais mulheres para os vários cargos e departamentos da indústria de moldes passa, sempre, pela cultura das empresas. Estas, defende, “têm organogramas muito horizontais. Tudo depende dos chefes e
dos patrões e, por isso, foi passo a passo que foram aceitando as mulheres e será passo a passo que vão aumentado a confiança nas suas capacidades”. A questão do género, considera, “é hoje, na maioria das empresas, substituída pela competência: as pessoas são valorizadas pelo seu desempenho profissional e é assim que deve ser”. Apesar disso, “as mulheres passam por um escrutínio maior quando entram, apesar dessa questão ter evoluído bastante”. Não tem dúvidas de que a presença feminina nas empresas tem muitas vantagens, associadas às características das mulheres: “há uma cumplicidade diferente que faz parte de nós e temos uma maneira nossa de saber ouvir, resolver as questões, motivar as equipas”. No grupo TJ, salienta, há um total de 130 colaboradores. Desses, 15 são mulheres, três delas no chão de fábrica.
RIBERMOLD: GANHAR CONFIANÇA E RESPEITO E FAZER ACONTECER Na sua opinião, caiu por acaso na indústria de moldes. Mas ao fim de mais de duas décadas de trabalho, não tem dúvidas de que foi uma aterragem muito bem-sucedida. Edite Rosendo, é responsável pela Qualidade da área dos moldes, da Ribermold, onde entrou em 1997. Engenheira de Produção Industrial, abraçou um estágio no sector dos moldes no final do curso. Esse primeiro contacto com a indústria teve lugar numa outra empresa que não aquela onde está hoje.
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A partir de 2000, a empresa começou a dar passos no sentido da certificação na área da Qualidade. Edite Rosendo foi a escolhida para gerir esse processo. A certificação chegou em 2002. “Esta área é mais complexa. Exige mais diálogo e entendimento, porque é preciso mexer com algumas coisas instituídas e implica saber lidar com o erro”, enfatiza. Mas em equipa foram caminhando e conquistando vitórias.
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/ / Edite Rosendo (Ribermold).
Não estranhou o ambiente masculino, característico da indústria de moldes na altura, uma vez que na universidade já se tinha habituado a estarem em maioria. Mas reagiu, sim, ao que considera ter sido “um ambiente hostil”. Explica-o destacando que havia muitos trabalhadores com décadas de experiência e pouca paciência para lidar com jovens. E menos ainda, tratando-se de uma mulher. Decidiu sair após o estágio e a sua intenção era encontrar outra área profissional. Mas acabou por aceitar o desafio que lhe foi colocado de ingressar na Ribermold. “Digo isto muitas vezes: ainda bem que aceitei”, sublinha. É que o ambiente não podia ser mais díspar. “Era uma empresa a crescer, com muitas necessidades. A equipa era jovem e senti-me mais integrada. Fui conseguindo construir a minha vida profissional”, conta. A responsabilidade, salienta, foi enorme, uma vez que se tratou da primeira mulher que a empresa contratou fora da família que a geria. “Eu caí na fabricação, mas fui muito bem acolhida”, destaca. Sentiu, desde logo, um enorme respeito por parte da equipa e uma disponibilidade grande para a ajudar a integrar-se. “Isso fez muita diferença. No início, fui para área das compras, depois planeamento e ferramentaria”, o que lhe permitiu criar metodologias de organização e, ao mesmo tempo, aprender sobre a área de produção de moldes. “Senti que, no início, os mais velhos tinham alguma resistência à minha presença, mas acabaram por ajudar e habituar-se”, conta, salientando ter procurado, sempre, “dialogar com todos, ouvir todos e dar conta daquilo que eu considerava importante”. Era a única mulher num conjunto de 14. E assim foi durante algum tempo. “Era a ‘menina’ no chão de fábrica”, recorda. Mas foi conquistando o seu espaço. “Os meus colegas viam as coisas acontecer, viam que tinha a confiança da gestão e respeitavam-me. E foram unânimes em considerar ter sido muito importante esta característica que as mulheres têm, de ser multitarefas, que permitiu ajudá-los a orientar e organizar as coisas”.
A organização cresceu. “Isso tornou o trabalho mais desafiante”, considera. No seu entender, o papel das mulheres que então foi conhecendo noutras empresas, mas na mesma área, terá sido decisivo para mudar a imagem da indústria. “Quando cheguei a esta indústria era suja e desarrumada. Acho que as mulheres contribuíram para mudar isso. Pusemos o quadro mais bonito: agora as áreas produtivas são mais limpas e organizadas”. A grande diferença que nota nas mulheres é “a sua capacidade de observar. Os homens olham, mas nós vemos”. E com isso, “conseguimos uma forma diferente de comunicar”. Para Edite Rosendo, a empresa nunca teve tabus para contratar. “Mulheres ou homens, o importante foi sempre que sejam bons profissionais, dedicados, competentes, com capacidade de trabalhar em equipa”. Por isso, não tem dúvidas de que “todas as pessoas nesta empresa têm as mesmas oportunidades”. Mas afirma ter noção de que ainda há casos de empresas onde isso não acontece. “É pena que seja assim porque quando o ambiente é bom e as pessoas se sentem reconhecidas e valorizadas, independentemente do género, isso é muito positivo e contribui para a evolução da empresa”, afirma, considerando que “a mudança está nas mãos dos líderes e é fundamental que confiem nas convicções e decisões das mulheres, tal como o fazem com os homens”. Tem noção, também, de que não há muitas mulheres a quererem trabalhar na indústria. No seu entender, isso pode dever-se a uma questão: “as mulheres gostam de responsabilidade. Quando lhes é dada, conseguem fazer coisas incríveis” e nem sempre lhes é dada essa oportunidade. E para as mulheres deixa um recado: “não basta dizer que esta Indústria é um mundo masculino e baixar os braços. É preciso ser perseverante, partir pedra, ver as oportunidades e não desistir nunca. É preciso ir construindo pouco a pouco o caminho e estar sempre a dar provas de que somos capazes. É certo que para os homens acaba por ser mais fácil chegar e convencer. No entanto, manter o lugar, nem sempre é fácil. É aí que as pessoas se distinguem pela competência”.
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O LUGAR DAS MULHERES É NA INDÚSTRIA
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A área comercial foi, durante muitos anos, exclusiva para os homens, sobretudo para os fundadores das empresas de moldes. O conhecimento técnico que a figura masculina representava era fundamental para assegurar a confiança dos clientes. À medida que as tecnologias avançaram, as mulheres começaram a integrar as equipas comerciais. Inicialmente, eram praticamente apenas tradutoras. Com o passar do tempo, assumiram a função em pleno e, tal como os homens, começaram a sair mundo fora e a conquistar mercados. Esta é, na opinião das nossas entrevistadas, uma área profissional de desafios constantes, o que a torna o lugar ideal para as mulheres.
ECOTOOL: A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO TÉCNICO Graça Morgado, responsável comercial da Ecotool, tinha acabado de entrar na idade adulta quando ingressou na indústria de moldes. O conhecimento da Alemanha, país onde viveu, permitiulhe apoiar nas traduções e contactos com os clientes desse país que, com o passar dos anos, veio a tornar-se um dos mais importantes clientes para o sector. “Quando cheguei, havia mulheres no escritório. Na área comercial também, mas eram sobretudo tradutoras e o seu trabalho estava sempre suportado nos homens, que eram os técnicos”, recorda.
/ / Graça Morgado (Ecotool)
Manteve-se nessa área e, após os primeiros anos em que o trabalho assentava sobretudo na tradução, acabou por romper o convencional e saiu para o estrangeiro, na sua primeira viagem, para representar, numa feira, a empresa onde estava. Era a década de 1980 e essa presença feminina era, então, uma novidade. Para desenvolver o seu trabalho, Graça Morgado entendeu que devia dominar não apenas as línguas estrangeiras, mas também a parte técnica. “Percebi que era fundamental para poder ter segurança no que traduzia e, por isso, comecei a aprender. Tive sorte por estar onde estava. As pessoas ajudaram-me imenso: esclareciam, explicavam o que eu precisava”, recorda, considerando que esse pormenor acabou por revelar-se uma mais-valia. “É que para ser boa no que fazia, não bastava saber traduzir. Tinha de conhecer”, sublinha.
Apesar de ser das poucas mulheres num mundo fabril que era, então, quase exclusivamente masculino, relata nunca ter sentido qualquer tipo de discriminação junto dos colegas de trabalho que, afirma, “sempre me ajudaram”. Mas o mesmo não sentiu, por exemplo, da parte de alguns clientes. “Eram homens habituados a lidar com homens. Olhavam-me como a menina que traduzia, mas que não sabia responder às suas dúvidas técnicas”, lembra, contando que, nesses primeiros tempos, soube que “tinha de provar que sabia do que estava a falar”. Recorda a presença em algumas feiras, nas quais “os clientes nos olhavam com alguma desconfiança no início, como se não fosse possível sabermos para lá da tradução”. Mas os tempos mudaram e, assegura, “hoje nada disso é questionado: o cliente não se questiona se tem um homem ou uma mulher à sua frente”. Entretanto, no sector, foram surgindo mais mulheres. Na área comercial, mas também noutros departamentos.
OPORTUNIDADES “Nas outras áreas, as mulheres mantiveram-se sempre em menor quantidade. Em alguns departamentos mais técnicos, nem me lembro de ver mulheres”, conta. No seu entender, com a presença das mulheres “a indústria ganhou sensibilidade na relação com o cliente”. É que, sustenta, as mulheres têm “uma forma diferente de tratar das questões, de se apresentar, de vender”. E, considera, a indústria teria também a ganhar se elas surgissem em maior quantidade nos cargos técnicos. “Na época, o ambiente das fábricas tinha muitos homens. As mulheres não procuravam a indústria como profissão, talvez porque não se sentissem confortáveis pelo ambiente”, afirma, considerando que, por outro lado, “havia a imagem de uma indústria pesada e cinzenta. A imagem, creio que ainda existe, mas a realidade não é nada assim”. E se na generalidade das empresas, a abertura às mulheres é encarada com naturalidade, noutras, destaca, “a mulher ainda é olhada com alguma desconfiança”. Trata-se de uma mudança que para ser concretizada “tem de passar pela gestão das empresas porque tem de ser criada aí uma imagem diferente para atrair as mulheres e, quando chegam, fazê-las sentir-se iguais, sem levantar a questão do género”. “As coisas têm vindo a mudar. As mulheres têm dado passos, têmse imposto. Há jovens a tirar cursos e a querer ir para áreas mais técnicas. É preciso que as empresas lhes deem essa oportunidade”, defende, concluindo que “creio que isto vai mudar no futuro, mas que ainda vai demorar algum tempo”.
UEPRO: CONFIANÇA E DETERMINAÇÃO FUNDAMENTAIS PARA EVOLUIR Podia ter ingressado numa carreira docente, como professora de línguas. No entanto, com uma licenciatura no curso de tradução inglês/ alemão, Lina Jesus, da Uepro decidiu aceitar o convite que então lhe foi feito e entrou na indústria de moldes no final da década de 1980, início de 1990, no departamento comercial de uma empresa. Em 1997, entrou para a Uepro e, duas décadas e meia depois, assegura que se sente realizada e muito satisfeita com a escolha que fez.
/ / Lina Jesus (Uepro).
E a razão é simples: sente fazer parte de um sector em constante inovação, em que os desafios são diários. E isso, assegura, fá-la sentir-se a evoluir profissionalmente. “Tenho de ser sincera: no início, sentimos algumas dificuldades. E é nesse momento que decidimos se saímos ou se conseguimos ultrapassar. Eu fui ultrapassando”.
Na área onde se encontra existe, no seu entender, outro aliciante: o contacto com as mais diversas pessoas de várias partes do mundo. Isso dá-lhe oportunidade de nunca deixar de aprender. “Sempre gostei de conhecer pessoas, lugares, culturas. Talvez por isso me sinta tão integrada, desde sempre, nesta área”, afirma. Quando chegou à indústria, recorda, já havia mulheres na área comercial. Foi no momento em que passaram a ser frequentes as feiras e as viagens de visitas a clientes. “Havia algum estigma nessa
altura. Ouviam-se histórias de relações extra-laborais porque o facto de uma mulher viajar sozinha era algo novo e nem sempre bem interpretado. Mas sempre me custou a acreditar nisso e entrei na área comercial, acabando por comprovar que se tratava, efetivamente, de coisas que se diziam como reação à diferença: nunca, até então, as mulheres tinham assumido esse papel”, conta. Desde sempre, salienta, esta atividade “tem uma componente social muito forte”. No entanto, sempre sentiu isso como “algo natural” e “sempre decorreu com o maior respeito e profissionalismo”. As ligações que criou com clientes foram-se consolidando ao longo do tempo, tornando-os quase como elementos da família. Mas para aí chegar, teve necessidade de aprender sobre o fabrico do molde porque “para traduzir bem, tinha de saber”. Apesar disso, sempre deixou para os técnicos as questões mais técnicas. “Fomos sempre uma equipa”, sublinha. Foi na Uepro que desenvolveu o acompanhamento mais próximo com os clientes. Tratando-se uma empresa comercial, era fundamental conquistar mercado. “Penso que foi relativamente rápido criar proximidade com alguns clientes, sem constrangimentos porque relacionar-me com as pessoas sempre fez parte da minha maneira de ser”, destaca.
SENSIBILIDADE Assegura nunca ter sentido qualquer tipo de desconfiança por parte dos seus clientes. “Penso que confiaram sempre no meu profissionalismo”, explica. O mesmo não aconteceu, no entanto,
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com alguns fornecedores e técnicos de outras empresas. “Senti que, no início, havia alguma desconfiança por ser mulher. Com o tempo, as pessoas começaram a confiar, mas recordo-me de sentir necessidade de me impor algumas vezes, a nível profissional”, relata. No seu ponto de vista, as mulheres criaram uma nova forma de desenvolver a atividade comercial no sector. Uma sensibilidade diferente, uma presença diferente que ajudaram a consolidar a imagem de profissionalismo que a indústria tem no estrangeiro. E se hoje é vulgar encontrar muitas mulheres nesta área, também é normal “sentir que, por vezes, o homem impõe-se por estar uma mulher a tentar tirar-lhe o protagonismo. Sei que não faz isto por mal, mas ainda existe”. Mas encara isso com normalidade até porque se foi habituando à maneira de ser dos homens, num sector que é ainda predominantemente masculino. “Recordo-me de uma situação que tive de fazer uma apresentação da empresa e tinha um conjunto alargado de homens na reunião, a olhar para mim. Era a única mulher. Foi muito importante passar por isso porque deixei de me sentir intimidada por homens”, conta.
sector é muito masculino e o normal é que os negócios sejam protagonizados por homens”, sublinha. Como exemplo, conta uma situação que viveu há dois anos, mas que podia ter sido há vinte. O caso de um negócio de um molde que foi adjudicado por email. O cliente não a conhecia e estava convencido de que tinha fechado negócio com um homem. Só quando se encontraram, ele percebeu que era, afinal, uma mulher. “Hoje, isto não acontece muito. É visto com naturalidade o papel da mulher na indústria. No entanto, há 20 anos, era uma surpresa ser uma figura feminina a contactar com os clientes”, conta. Apesar disso, diz que “por ser mulher, não senti menos respeito ou confiança, apenas surpresa, no início”. E isto, adianta, “sentiase sobretudo em Portugal, onde a mulher não era vista como um elemento da indústria. Noutros países, como Alemanha ou Estados Unidos, havia mais mulheres a trabalhar no sector industrial”. No entanto, ao longo da sua vida profissional, adianta ter-se sentido sempre “bem tratada, quer por clientes, quer por colegas”. E isso, sublinha, “não pelo facto de ser mulher, mas pela forma como sempre desenvolvi o meu trabalho”.
Apesar de todos os aspetos positivos, salienta que ser mulher numa atividade com horários tão preenchidos nem sempre é fácil, sobretudo devido ao equilíbrio da vida familiar. “Só é possível desenvolver esta atividade quando há um grande apoio familiar. Não pode haver desconfiança ou ciúmes. A estrutura familiar tem de estar muito consolidada”, enfatiza.
Para Mafalda Rodrigues, o papel da mulher foi evoluindo precisamente pela afirmação das suas competências. “Havia, no início, a ideia de que era positivo as mulheres estarem na área comercial porque tinham facilidade em falar línguas. Em muitas empresas, eram uma espécie de tradutoras e não mais do que isso”, afirma, adiantando que “as coisas evoluíram e hoje somos tratadas tal como os homens. Não creio que haja diferença”.
MOLDES RP: ERA UMA SURPRESA SER UMA FIGURA FEMININA A CONTACTAR UM CLIENTE
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Com uma licenciatura em Relações Internacionais, do sonho de uma carreira diplomática, Mafalda Rodrigues, da Moldes RP, abraçou uma profissão que lhe permitiu cumprir uma parte do que sonhava: a área comercial. É certo que não desenvolveu conhecimento com grande número de diplomatas, mas trata-se de uma atividade que lhe tem dado mundo: o contacto com as mais diferentes pessoas, nos mais diversos países, onde tem conhecido variados hábitos e costumes. Volvidos 22 anos do início desta atividade (21 dos quais na Moldes RP), manifesta-se muito feliz por ter tomado essa decisão. A indústria de moldes permitiu-lhe, por um lado, continuar a viver na sua região natal e, a partir daí, conhecer diferentes clientes e mercados no estrangeiro. “Percebi que esta indústria era, afinal, semelhante aquilo que sempre imaginara para a minha vida, pela sua forte componente internacional”, conta. / / Mafalda Rodrigues (Moldes RP).
Começou como assistente comercial. Na época, recorda, a empresa não tinha a estrutura que tem hoje. Era uma pequenina unidade industrial, tendo como principais clientes os produtores portugueses de moldes. Foi com determinação que Mafalda se aventurou na prospeção de clientes estrangeiros e novos mercados mundo fora. “Então, não havia responsável pela área comercial, apenas o dono da empresa”, lembra. Quando chegou ao sector, havia poucas mulheres. De então para cá, salienta, o número tem vindo a crescer. Mas apesar disso, “este
De qualquer forma, no seu entender, as mulheres têm alguma vantagem na área comercial pela forma como se relacionam com os clientes. “Faz parte da maneira de ser feminina: nós transmitimos uma confiança diferente, os clientes sentem-se mais tranquilos connosco e confiam no nosso trabalho”, justifica. Foi no ano 2000 que integrou um grupo de empresas de moldes para, pela primeira vez, participar numa feira no estrangeiro. Recorda que era, então, a única mulher. Mas isso não a deixou constrangida. “Senti-me bem. E recebi muita colaboração por parte dos colegas de outras empresas. Sempre que tinha dúvidas ou precisava de algum apoio, ajudaram-me”, conta. Depois disso, surgiram as visitas a clientes. Passava semanas fora, em reuniões, a apresentar a sua empresa. “Creio que ser mulher até facilitou, nessa época. Havia maior dificuldade em dizer-nos que não. Os clientes aceitavam reunir com mais facilidade”. Com o passar do tempo, as mulheres foram integrando as empresas, cada vez em maior número. Não apenas na área comercial, mas também noutras. E, para Mafalda Rodrigues, “é muito positivo ver que também começa a haver mulheres em cargos de chefia na indústria de moldes”. Para si, “isso significa que a oportunidade está a ser dada por mérito e não por género”. A cultura das empresas tem mudado e “há grandes diferenças na forma como é feito o recrutamento”, considera, lembrando que quando chegou à indústria “naturalmente, os homens eram preferidos para qualquer função ou departamento e isso nem se questionava”. Na sua perspetiva, a indústria de moldes é um sector “muito dinâmico e isso é gratificante, porque nos permite evoluir e sentirmo-nos realizadas”.
MUDAR A CULTURA DAS EMPRESAS PARA INTEGRAR MAIS MULHERES
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Está nas mãos das chefias criar condições para que as empresas acolham as mulheres nas equipas. Para quem gere os recursos humanos, esta questão é uma das prioridades quando o objetivo é alterar a realidade da indústria, de forma que mais mulheres a integrem. O foco é a cultura da organização e é por isso que existe uma diferença grande entre empresas na quantidade de mulheres incluídas nas áreas produtivas.
SOCEM: CULTURA DA EMPRESA É FUNDAMENTAL PARA O SUCESSO Vera Alves, responsável pela Gestão de Pessoas no Grupo SOCEM, considera que as mulheres se destacam no mundo profissional por algumas das características próprias do género: “são mais orientadas para as pessoas, têm maior predisposição para a mudança, têm uma forma de ser mais próxima, mais humanizada, mais cooperante e, por isso, conseguem chegar mais facilmente a consensos”. Isso, no seu entender, é notório em áreas como os
/ / Vera Alves (SOCEM).
Recursos Humanos que, num grande número de empresas, são geridas por mulheres.
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Mas não só. Essas mesmas características fazem com que as mulheres sejam excelentes líderes e excelentes elementos de equipas. Sublinhando que esta sua leitura “é muito generalizada”, uma vez que há homens com estas mesmas características, Vera Alves considera, no entanto, que “são qualidades que se reconhecem muito mais no género feminino”. E, salienta, tem sido por isso que a quantidade de mulheres tem vindo a crescer na indústria. “A juntar a estas características as mulheres também têm uma maior capacidade de obter compromissos, de pensar e agir em diferentes direções e temas as mesmo tempo e de desenvolverem uma liderança mais inclusiva que encoraja a participação e a partilha de poder”, adianta, considerando que “sinto, não de hoje, que um departamento com mais mulheres é um ambiente mais humanizado. Os departamentos do ‘género masculino’ são mais funcionais, mais ligados ao processo”. Acrescenta que “atualmente com organizações mais planas e com mudança mais rápidas é necessário características de colaboração, empatia, sensibilidade e consenso, capacidades mais associadas ao género feminino”. Com mais de duas décadas de experiência na área dos recursos humanos, Vera Alves chegou à indústria de moldes há três anos. Faz parte do Grupo SOCEM. “Aqui é e tem sido muito fácil ser mulher no cargo de liderança”, conta, enfatizando que isso “tem a ver com a cultura da empresa”. É que ainda nem todas as organizações chegaram a um patamar em que as pessoas são escolhidas pelas competências e não pelo género. No entanto, reforça que “as empresas precisam de ambos os géneros para se completarem”. Quando chegou à empresa, deparou-se com mulheres em cargos de suporte aos gestores de produção, na área produtiva e, sobretudo, nos serviços administrativos. “O género não é questão. As pessoas são valorizadas pela competência e têm oportunidades iguais”, explica, adiantando que, no seu caso, “nunca senti que sou mais ou menos que os meus colegas. Sinto, sim, que somos uma equipa e funcionamos enquanto tal”. Apesar disto, são poucas as mulheres que surgem nas entrevistas para os cargos mais técnicos. “As mulheres aparecem muito pouco. Gostávamos de ter mais mulheres, por exemplo, nas áreas produtivas. As que já tivemos em áreas mais operacionais preferiram ir para outra posição”, relata, considerando que “por aquilo que vejo, a indústria começa a estar recetiva para as receber, mas em algumas posições a indústria não as atrai”. Uma das razões que poderá explicar esta atitude é a forma como as mulheres são recebidas em determinadas organizações. “Acredito que nem sempre sejam bem recebidas em todas as empresas onde vão. Ainda existe algum preconceito, por aquilo que vou ouvindo, em algumas empresas do sector. E muitas mulheres sentem que têm de fazer um esforço mais significativo para se equipararem aos homens. E isso é uma realidade em algumas empresas, mas aqui, e desde que cá estou não sinto isso”.
MUDANÇA Para Vera Alves, alterar isso implica que as empresas deem um sinal de mudança. “Perdemos características do género feminino se as empresas não valorizarem as mulheres. Elas não são iguais aos homens e nem pode ser feita essa comparação”, destaca. Para além disso, salienta, há a questão geracional. As pessoas que entram hoje na indústria têm uma forma diferente de encarar a
carreira. “As pessoas valorizam coisas que não valorizavam antes, como o seu tempo livre e o seu bem-estar. A cultura mais rígida (seja em termos de horários ou funções) tem maior dificuldade em fazer com que as pessoas se fidelizem, sejam mulheres ou homens. E é extremamente importante perceber que é preciso mudar para conseguir atrair os jovens”. Na última década, destaca, o número de mulheres aumentou nas áreas técnicas no sector de moldes. Mas, exorta, “transformar a cultura das empresas é fundamental para que elas se sintam mais integradas e sintam que há interesse para lhes dar oportunidades”. É que, no seu entender, “hoje, a imagem da indústria de moldes já não é questão: é desenvolvida tecnologicamente e atrativa e, por isso, não é isso que afasta as mulheres”. A mudança é necessária. “A pessoa tem de ter o seu espaço e sentir que lhe dão oportunidade de evoluir. Quando cheguei à empresa, nunca senti que tivesse de fazer diferente por ser mulher”, afirma. Por isso, garante sentir-se realizada na indústria. “Tem-me permitido a proximidade com as pessoas, que é aquilo que gosto. E, na indústria, as pessoas são mais reais e genuínas do que noutros sectores onde trabalhei”, conta, adiantando que “percecionar e experienciar o potencial de crescimento deste sector faz-me sentir que estou a andar para a frente, a progredir. E essa sensação é muito gratificante”.
MD GROUP: “INDÚSTRIA É POUCO ATRATIVA PARA AS MULHERES” O número reduzido de mulheres na indústria de moldes pode, na opinião de Filipa Queimado, gestora de Recursos Humanos da MD Group, justificar-se numa ideia: o sector metalomecânico, de uma maneira geral, “tem sido pouco atrativo para as mulheres”. Mas isso, enfatiza, não estará diretamente relacionado com questões como tecnologias ou processos. A razão é, no seu entender, outra: a forma como historicamente o sector tem sido gerido, a disponibilidade que se requeria aos colaboradores e a crescente urgência de prazos imposta pelos projetos. Isto porque, salienta, “a mulher continua a ser o grande pilar da estrutura familiar e, por isso, acabava por ficar condicionada nesse equilíbrio entre o trabalho e a família”. Filipa Queimado chegou à MD Group há três anos, após uma vasta experiência na área de recursos humanos, noutros sectores de atividade. “Não foi muito fácil o início”, recorda. A empresa encontrava-se num ponto de viragem, após ter mudado de administração. “Apesar dos anos de atividade, não havia na empresa experiência de recursos humanos; cada um via essa função à sua maneira”, conta, salientando ter-se deparado, logo nessa época com uma característica específica do sector. “As condições remuneratórias tinham um peso determinante, a expectativa é a sua revisão periódica, mas raramente dependia de um plano de desenvolvimento de competências”. Isso motivava que, por exemplo, as pessoas trocassem facilmente de uma empresa para outra e apenas por questões salariais. “Entretanto, a indústria começou a mudar porque percebeu que o contexto exige uma gestão diferente, e por outro lado o trabalhador tem reconhecido que há também outros fatores a valorizar, tão importantes como as condições remuneratórias”, relata.
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EQUILÍBRIO Habituada a sectores onde sempre predominou o elemento masculino, afirma não se ter sentido observada quando chegou ao sector dos moldes. “Não era única mulher a entrar na produção, num universo sobretudo masculino, porém, ia ocupar um lugar que não existia antes da minha chegada”, sublinha. E isso caracterizava a área dos moldes do grupo, onde se encontra, já que nos plásticos, as mulheres estavam em larga maioria. “Sou apologista do equilíbrio e, por isso, tentámos equilibrar os grupos, levando homens para os plásticos e trazendo mulheres para os moldes”, conta, adiantando que, “no início, houve alguma resistência deles, em irem para os plásticos, mas a recetividade de acolher as mulheres nos moldes foi boa”. De tal forma que, sustenta, “nas CNC, erosão ou testes já começamos a olhar as senhoras como parte naturalmente integrante da indústria de moldes”. A grande quantidade de mulheres na área dos plásticos devia-se, no seu entender, “ao estigma de que as mulheres são mais capazes de trabalhos minuciosos e, por isso, foram colocadas nessa tipologia de trabalho, que exige mais atenção ao detalhe”. Mas com esta alteração, foi encontrado o equilíbrio que, para esta responsável é fundamental para o bom funcionamento das equipas. “Hoje, já não é questão se é homem ou mulher para as funções. Para mudar temos de ser capazes de arriscar”, afirma. E considera que é uma vantagem ser mulher na área dos recursos humanos numa empresa deste sector. “Tentei recrutar homens para esta equipa de RH e não foi fácil… Mas há um bom relacionamento entre
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/ / Equipa de RH da MD Group).
colegas e a equipa feminina de RH… Talvez porque nos associam as características tradicionalmente femininas de “cuidadora”, mas a verdade é que confiam em nós”. E após a reação de surpresa inicial, hoje Filipa Queimado é requisitada para variados tipos de apoio, de forma transversal, por todas as equipas nos vários departamentos. “Penso que atendendo à forma como a empresa evoluiu e se tem sabido adaptar, as pessoas sentem que podem efetivamente fazer parte do caminho da mudança, porque todos somos ouvidos”, salienta, considerando que para que isto funcione, é preciso criar um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade para participar e dizerem o que pensam. E isso, enfatiza, “é algo que faz parte da cultura da empresa: é importante criar esse espaço às pessoas para que partilhem ideias e opiniões e, com isso, as organizações melhoram e evoluem”.
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ÁREAS PRODUTIVAS DA INDÚSTRIA ATRAEM NÚMERO REDUZIDO DE MULHERES
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Se nas escolas o número de mulheres tem vindo consecutivamente a subir, essa tendência é contrariada por aquilo que se passa nos cursos diretamente ligados às áreas produtivas da indústria de moldes. A nível da formação profissional, o CENFIM dá conta de que a quantidade de formandos do género feminino foi sempre reduzida, enquanto no Politécnico de Leiria as mulheres já foram em maior quantidade nos cursos mais direcionados ao sector. Para mudar esta situação, consideram, deverá começar-se logo a partir da infância, com uma aposta concertada em dar a conhecer as potencialidades da indústria. Nos últimos anos, as escolas têm procurado atrair mais mulheres para a indústria, seja através de uma ligação mais forte com as empresas, seja através de ações de promoção da indústria. Tem havido, seja localmente, seja nacionalmente, várias ações com esse objetivo. Apesar disso, a realidade mostra que, de uma maneira geral e quando se fala do sector de moldes, os homens continuam a ser a maioria nos vários departamentos e áreas produtivas.
Para Ana Sargento, esta é, ainda, uma questão muito ligada ao preconceito e à imagem da mulher na sociedade. “O problema começa antes da entrada no ensino superior, nas escolhas que são feitas na transição para o secundário e depois na orientação vocacional que apoia a escolha do curso de ensino superior, ainda muito sujeita a estereótipos de género”, defende. No seu entender, a mudança passará “por intervir no secundário, divulgar mais e atrair mais estudantes para as engenharias e para as tecnologias”. Tradicionalmente, as raparigas “vão mais para biologia ou ciências da vida, mas fogem da indústria”. E essa fuga, sustenta, “poderá ser uma questão cultural, da infância, o estereótipo masculino e feminino”. Ou seja, falta conhecimento do que é hoje uma fábrica, da realidade da indústria. E essa realidade só se consegue demonstrar abrindo as portas das empresas aos jovens estudantes. “As crianças do primeiro ciclo têm de visitar e saber o que são hoje as fábricas”, defende. “Muitas vezes, as meninas repetem aquilo que as amigas ou as irmãs mais velhas fazem e escolhem; ou seja, perpetuam o status quo. E isso poderá ser alterado com um trabalho mais próximo junto das escolas, por exemplo com psicólogos ou professores de referência no nono ano”, sustenta.
EQUILÍBRIO Para Ana Sargento, o equilíbrio, seja entre géneros, seja noutras matérias, “é importante e benéfico para qualquer sector porque traz diversidade: maneiras de estar, pontos de vista diferentes que garantem uma perspetiva mais inclusiva nas empresas”. E com ela, salienta, “as organizações beneficiam”.
/ / Ana Sargento (Politécnico de Leiria).
Ana Sargento, vice-presidente do Politécnico de Leiria, conta que nos cursos que ministram e que são direcionados mais especificamente para a indústria de moldes, os números revelam, até, que a quantidade de mulheres tem vindo a diminuir. Por exemplo, no ano letivo de 2017/2018, as mulheres representavam 11,5% nas engenharias (como a Mecânica ou Gestão Industrial). Contudo, atualmente, esse valor baixou para 9%. O que significa que nesses cursos, os homens representam atualmente 91%. Aliás, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) exatamente por ministrar um elevado número de licenciaturas nas áreas das Engenharias, continua a ter uma percentagem minoritária de mulheres, enquanto nas restantes escolas do Politécnico de Leiria, o sexo feminino está acima dos 60%.
Contudo, na sua perspetiva, “a indústria está ainda muito desequilibrada”. Apesar de não haver preconceitos na generalidade das empresas em relação à integração de mulheres, por exemplo, é necessário alterar mentalidades na sociedade. “Houve uma grande evolução desde a década de 1980. O papel da mulher é, hoje, visto de outra forma. Elas tinham lugar no secretariado ou nas áreas administrativas, mas a evolução tecnológica nas fábricas foi apoiando a integração, independentemente do género”. De forma a manter esse caminho, a aposta terá de passar por “uma maior abertura aos jovens, após o nono ano, para aquilo que é a realidade das empresas”. É que, sublinha, “hoje, se as mulheres tiverem mérito, têm as mesmas oportunidades dos homens, seja qual for a área profissional”. Deixa, contudo, uma advertência. Continua a ser atribuído à mulher o papel de suporte à família. Por isso, defende, “a indústria carece de práticas de conciliação da vida pessoal e profissional”.
Enfatiza que a gestão de pessoas, das suas expectativas, dos seus desejos, ou dos seus anseios são hoje questões muito importantes que as empresas têm de colocar no topo das preocupações. Lembrando o programa que o Politécnico de Leiria tem em conjunto com empresas e as associações empresariais como a CEFAMOL, o ‘Politécnico de Leiria + Indústria’, sublinha que tem vindo a crescer o número de bolsas atribuído a mulheres. “Na generalidade dos casos, as mulheres são muito valorizadas nas empresas porque têm uma excelente capacidade de integração”, salienta.
CENFIM: SAÍDAS PROFISSIONAIS TRADICIONALMENTE MASCULINAS
CONSIDERADAS
O CENFIM tem na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis dois núcleos cujos cursos estão muito direcionados para a indústria de moldes, uma vez que é nessas duas regiões que se concentra a maior parte das empresas do sector. Teresa Bernardino, Diretora da Unidade Orgânica do CENFIM em Oliveira de Azeméis, dá nota de que, nos 35 anos de atividade, esse centro já formou cerca de 27 mil pessoas, nas mais diversas ações de formação de curta e longa duração. Nesse período, conta, “a representação de formandos do sexo feminino, principalmente em ações de longa duração (APZ/CET/EFA), é muito reduzida, muito embora se tenha vindo a verificar, ao longo do tempo, uma crescente procura”. No entanto, acentua, “mantém-se muito aquém do desejado”.
A responsável conta que o curso de ‘Técnico/a de Desenho de Moldes’ era, até há poucos anos, o único onde havia inscrições de formandas. “Até 2002, foram qualificadas cerca de 11 Técnicas de Desenho de Moldes, única saída profissional selecionada, até à data, nestas áreas, por candidatas de género feminino”, revela, adiantando que, de 2002 até 2021, ingressaram nos cursos de longa duração, 48 mulheres. Atualmente, o núcleo tem 16 formandas nos cursos de longa duração distribuídas pelos cursos de Técnico/a de Maquinação e Programação CNC (APZ), Técnico/a de Desenho de Construções Mecânicas (APZ), Técnico/a de Maquinação e Programação CNC (EFA), Soldador/a (EFA), Tecnologia Mecatrónica (CET/Adulto) e Gestão da Produção (CET/Adulto). Em termos de evolução no número de mulheres nos cursos, nos últimos anos, o centro teve um total de 11 formandas, entre 1985 e 2002, enquanto entre os anos de 2002 e 2020, esse número ascendeu a 32 formandas. Este ano letivo, são 16 as formandas do núcleo, no total. “A realidade da presença feminina no nosso centro tem vindo a alterar-se e congratulamo-nos por termos, no último ano letivo, um terço das inscrições (16) face ao total dos últimos 20 anos (48)”, salienta Teresa Bernardino.
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ESTIGMA Para Teresa Bernardino, uma das razões que pode justificar o reduzido número de mulheres nos cursos é que “na indústria, estas saídas profissionais têm sido consideradas como profissões tradicionalmente masculinas”.
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/ / Teresa Bernardino (CENFIM).
“Há todo um estigma instalado na sociedade que tem passado de geração em geração e que cristalizou um pouco esta ideia”, defende, considerando que “felizmente, esse estigma começa agora a perder alguma força e os números falam por si, começando as meninas, raparigas e/ou mulheres a ter voz ativa no chão de fábrica da nossa indústria, incluindo a indústria dos moldes”.
E isso acontece porque, com a evolução tecnológica dos processos produtivos e equipamentos, “a indústria está cada vez mais atrativa, desafiante e aliciante”. As empresas, considera, “são cada vez mais modernas e os operadores não têm necessidade de realizar grandes esforços físicos, pelo que esta questão que, durante tantos anos foi um elemento diferenciador, passou a ser mais um fator que joga a favor do género feminino”.
Teresa Bernardino conta ainda que, ao contrário do que acontece no centro de formação onde “a integração dos elementos femininos nas turmas tem sido um processo normal e raramente há problemas no acolhimento”, nas empresas isso nem sempre é assim. Em sua opinião, “Nem todos os industriais têm ‘mente aberta’ o suficiente para encarar esta integração de forma natural, como o fazem com um elemento masculino”. Mas, sublinha que “ainda assim, depois de integradas, o feedback tende a ser muito positivo”. É que, diz, “a presença feminina em locais tipicamente masculinos traz quase sempre uma maior leveza no trato e no dia a dia do grupo de trabalho”. Mas o dado mais positivo prende-se com o empenho e dedicação das mulheres. “Normalmente são bastante elevados pois a entrega costuma ser total, face aos problemas que anteveem, mas que, no final, se revelam quase sempre menores que o espectável”. Por isso, no seu entender, “o papel das mulheres é fundamental na indústria, como é o dos homens. Contudo, a presença feminina pode trazer mais homogeneidade no ambiente fabril, tornando-o mais afável e mais moderado em diversas matérias”. “A indústria de moldes, tal como os restantes, deverá atrair bons profissionais e, se conseguirmos uma igualdade de oportunidades sem qualquer discriminação, estou certa de que a desproporção entre homens e mulheres, no sector, tende a ser cada vez menor”, conclui.
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O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO DE ALTO DESEMPENHO EM PROBLEMAS INDUSTRIAIS COMPLEXOS INJEÇÃO DE MATERIAIS MAGNETIZÁVEIS PARA A INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS IMPORTÂNCIA DA SIMULAÇÃO DO PROCESSO NA INTEGRAÇÃO DE FILMES FUNCIONAIS E DECORATIVOS EM COMPONENTES PARA INDÚSTRIA AUTOMÓVEL IN-MOLD DECORATION PROCESS – O CASO DE ESTUDO DO PROJETO WOODSHAPE 4.0 SISTEMA INOVADOR DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA E MONITORIZAÇÃO AVANÇADA PARA MÁQUINA FERRAMENTA DE FURAÇÃO PROFUNDA E FRESAGEM, INTEGRANDO NOVOS AVANÇOS EM TECNOLOGIA INDÚSTRIA 4.0
INNOVATION /
J. F. Caseiro*, P. Alberto ** * Centro Tecnológico da Industria dos Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (CENTIMFE) ** Laboratório de Comptação Avançada – Universidade de Coimbra
INTRODUÇÃO Com a evolução da motorização dos veículos automóveis, e em particular no caso dos motores elétricos, os ruídos relacionados com o funcionamento do motor foram reduzidos de forma significativa. Consequentemente, fontes de ruído anteriormente classificadas como menores, apresentam agora uma relevância acrescida. Em particular, o sistema de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) têm um impacto significativo na perceção de conforto dos utilizadores. Utilizando a Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD do inglês Computacional Fluid Dynamics), é analisado o ruído devido ao escoamento do ar e efeitos de turbulência com recurso a um modelo aero-acústico. No entanto, este modelo requer o uso de formulações como o Detached-Eddy Simulation (DES), malhas com elevado grau de refinamento e incrementos de tempo reduzidos. Todos estes fatores resultam em modelos numéricos complexos que necessitam de várias semanas de execução. Por essa razão, é pretendido com
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UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO DE ALTO DESEMPENHO EM PROBLEMAS INDUSTRIAIS COMPLEXOS
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este estudo demonstrar as vantagens da utilização de recursos de Computação de Alto Desempenho (HPC, do inglês HighPerformance Computing) para a resolução de problemas industriais complexos. Para tal é utilizado o HPC Cluster Navigator do Centro de Computação Avançada (LCA) da Universidade de Coimbra. Este trabalho foi realizado no âmbito do SHAPE (SME HPC Adoption Programme in Europe), uma iniciativa europeia com o apoio do projeto PRACE (Partnership for Advanced Computing in Europe) que pretende demonstrar às Pequenas e Médias Empresas (PME) as vantagens da utilização de HPC.
DESCRIÇÃO DO MODELO A geometria analisada corresponde a uma conduta de um sistema de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) de um automóvel. A geometria, representada na Figura 1, é composta por uma conduta e dois conjuntos de lamelas que são utilizadas para direcionar o
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fluxo de ar. Portanto, o modelo numérico corresponde ao interior do ventilador e a uma porção do habitáculo dos passageiros (Figura 2). De forma a reduzir o custo computacional, foram consideradas condições de simetria. O fluxo do ar à entrada foi definido como 400m3/h. A simulação numérica foi realizada utilizando o software Ansys® Fluent.
que se trata de um modelo 3D, um total de seis equações (uma para pressão, três para as velocidades segundo os eixos x, y e z e duas para descrição da turbulência) são resolvidas para cada célula em cada iteração. A malha considerada é apresentada na Figura 3.
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/ / Figura 1 – Geometria do ventilador.
/ / Figura 3 – Discretização do modelo considerando 1.7 milhões de células.
O processo de simulação encontra-se dividido em três etapas: i) leitura do ficheiro contento toda a informação acerca do problema (malha, condições fronteira, modelos, etc.), ii) processo iterativo até obtenção de convergência e iii) escrita dos resultados para ficheiro de output. O ficheiro de entrada é previamente gerado na workstation e carregado para o Navigator.
/ / Figura 2 – Interior do ventilador com entrada (azul) e saída (vermelho) de ar e condições de simetria (amarelo).
Na Figura 4, o tempo de execução para a workstation e para o Cluster Navigator é apresentado. Para facilitar a comparação, o tempo de execução é normalizado através do tempo de execução da workstation com 1 core. É possível observar que o desempenho do Navigator é superior ao da workstation, sendo obtida uma redução de tempo de execução de cerca de 6% utilizando 4 cores.
Foi também criado um protótipo físico da geometria com recurso à tecnologia de fabrico aditivo SLS. Os diversos componentes foram polidos e pintados de forma a obter um acabamento superficial equivalente ao que seria obtido através do processo de moldação por injeção. O protótipo foi, posteriormente, utilizado para obtenção de dados experimentais para validação do modelo numérico.
DESEMPENHO DO NAVIGATOR E WORKSTATION A primeira etapa do estudo consiste em comparar os desempenhos de uma workstation disponível no CENTIMFE e ncom Cluster Navigator do Laboratório de Computação Avançada da Universidade de Coimbra. A workstation do CENTIMFE é composta por um Intel Xeon Gold 6128 CPU @ 3.4GHz com 64GB de RAM. Devido a limitações do software, apenas podem ser utilizados 4 cores para a simulação. Já o Cluster Navigator encontra-se dividido em dois módulos. O primeiro módulo contém 164 nós com 2 x Intel Xeon E5-2697v2 (12core) @ 2.70 GHz e 96 GB de memória, num total de 3936 cores. O módulo mais recente, e que é utilizado neste estudo, é constituído por 28 nós, em que cada nó é constituído por 2x Intel Xeon Gold 6148 (20-cores) @ 2.40 GHz e 96GB de memória, perfazendo um total de 1280 cores disponíveis. Devido a restrições na licença do software utilizado, o número máximo de cores disponíveis para a simulação é de 64. Em relação ao modelo numérico, os efeitos de turbulência são descritos pelo modelo k-epsilon com Scalable Wall Functions. O acoplamento pressão-velocidade é realizado através do esquema SIMPLE. A malha é composta por 1.7 milhões de células. Uma vez
/ / Figure 4 – Tempo de execução normalizado para a workstation e Navigator Cluster.
Seguidamente, é analisado o desempenho do cluster considerando diferentes configurações de parâmetros, bem como para problemas de tamanhos diferentes. Com esse intuito, a aceleração (speedup) do processo é dada através de S (p) = t (1) , t (p) em que t(1) é o tempo de execução considerando uma unidade de processamento e t(p) o tempo de execução com p unidades de processamento. Adicionalmente, a eficiência pode ser definida como E (p) = S (p) = t (1) . p p x t (p) Primeiramente, o desempenho do Navigator é comparado para diferentes densidades de malha (1.7 e 12.7 milhões de células), utilizando apenas um nó para computação. Os resultados são apresentados na Figura 5 e Figura 6.
Como se pode observar, o comportamento para ambos os casos é similar, mas a curva correspondente à malha mais densa apresenta um desfasamento vertical. Por outro lado, é possível observar que, na transição de um para dois cores, existe um aumento da eficiência para valores acima dos 100%. Este comportamento é definido como superlinear speedup e ocorre quando o total de trabalho realizado por múltiplas unidades de processamento é inferior ao trabalho total realizado por uma única unidade de processamento. No entanto, quando são utilizados dois ou mais cores, a eficiência decresce progressivamente com o aumento do número de cores. É também possível observar que, para o caso de 64 cores, o speedup obtido é inferior ao correspondente a 32 cores. Isto indica que poderão
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/ / Figura 6 - Eficiência para duas densidades de malha, considerando um nó.
existir ganhos considerando outras distribuições de trabalho pelas unidades de processamento.
/ / Figura 5 - Speedup para duas densidades de malha, considerando um nó.
De forma tentar melhorar o desempenho, é considerada uma distribuição equilibrada das unidades de processamento entre 2 nós. Neste caso, é apenas considerada a malha com 12.7 milhões de células. Como se pode observar na Figura 7 e Figura 8, o comportamento para ambos os casos é bastante semelhante, com exceção do caso com 64 cores, em que existe um aumento de 13.4 e 0.21 no speedup e na eficiência, respetivamente. A utilização do Navigator com 64 cores em dois nós permite reduzir o tempo de execução num fator de 12.3 quando comparado com a workstation com 4 cores.
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Na Figura 9 é apresentada a comparação entre os resultados numéricos e experimentais. Existe uma boa concordância entre os dados numéricos e experimentais, principalmente para frequências mais elevadas. Existe alguma variação na zona central do espetro analisado, mas uma calibração mais profunda do modelo numérico poderá conduzir a melhores resultados. No entanto, esse é um estudo que irá ser realizado futuramente, uma vez que o presente trabalho tem como principal objetivo demonstrar os ganhos provenientes da utilização de HPC.
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/ / Figura 7 - Speedup considerando configurações com 1 e 2 nós.
/ / Figura 9 – Comparação entre os dados numéricos e experimentais.
/ / Figura 8 - Eficiência considerando configurações com 1 e 2 nós.
SIMULAÇÃO AERO-ACÚSTICA De forma a realizar uma análise aero-acústica, a simulação numérica necessita de capturar as instabilidades do escoamento decorrentes dos efeitos de turbulência. Os modelos do tipo Reynolds-Average Navier-Stokes (RANS) não são, de uma forma geral, capazes de representar estas instabilidades. Por essa razão, é necessário utilizar Scale Resolving Simulations (SRS) que capturem os movimentos instáveis em diferentes escalas de turbulência. No entanto, estes métodos apresentam custos computacionais bastante elevados devido à necessidade de utiliza malhas bastante refinadas que capturem os efeitos de turbulência no escoamento. No presente caso, foi considerado o modelo Detached Eddy Simulation (DES) utilizando a malha de 12.7 milhões de células.
O campo de velocidades para o regime estacionário (tempo de escoamento de 0s) e para um tempo de escoamento para 0.25s é apresentado na Figura 10. O caso estacionário, que emprega modelos do tipo RANS, apenas consegue descrever o comportamento médio do escoamento, mas é computacionalmente menos dispendioso (cerca de 30 minutos para a malha com 12.7 milhões de células utilizando o Navigator). Por outro lado, utilizando o modelo DES, é possível descrever de forma mais detalhada os efeitos de turbulência e este é um fator crucial para realizar uma análise aero-acústica precisa. No entanto, esta abordagem necessita de um tempo de cálculo bastante superior (144h no Navigator).
De forma a capturar as frequências de interesse, o incremento de tempo deverá ser bastante reduzido. Na simulação do ventilador foi considerado um incremento de tempo (de simulação) de 5x10-5 s. É necessário correr a simulação até que o escoamento esteja completamente desenvolvido, o que ocorre por volta dos 0.3s. Posteriormente, a simulação é corrida durante mais 0.15s de forma a realizar a análise acústica. Isto resulta num tempo de simulação de 0.45s que, de acordo com o incremento de tempo definido, corresponde a 9000 incrementos. Considerando que cada incremento pode envolver entre 5 a 20 iterações até ser obtida convergência, resulta num total entre 45k e180k iterações. Foi utilizada a configuração com 64 cores distribuídos por 2 nós. O tempo de execução total foi de aproximadamente 144h (seis dias). Se a simulação fosse realizada numa workstation com limitação de 4 cores, o tempo de execução necessário seria de aproximadamente 74 dias. Este resultado demonstra claramente a vantagem de utilizar computação de alto desempenho para problemas complexos.
/ / Figura 10 – Campo de velocidades para o caso (esquerda) estacionário com RANS e (direita) para tempo de escoamento de 0.25s com o modelo DES.
CONCLUSÕES Neste trabalho, realizado no âmbito da iniciativa SHAPE do projeto PRACE, o desempenho do Cluster Navigator para computação de alto desempenho (HPC) foi avaliado para um problema complexo de Mecânica dos Fluidos Computacional. O modelo considerado corresponde a uma conduta AVAC simplificada de um veículo automóvel. Foi realizada uma análise aero-acústica que necessita de elevados recursos computacionais devido às malhas densas e pequenos incrementos de tempo. Quando comparado com a workstation de 4 cores, a utilização do Navigator com 64 cores distribuídos em dois nós permite reduzir o tempo de computação num fator de aproximadamente 12.3. A simulação completa necessitou de um tempo de execução de aproximadamente 144h. A mesma simulação, realizada na workstation de 4 cores, necessitaria de aproximadamente 74 dias. Os resultados obtidos estão em concordância com os dados experimentais, especialmente para as gamas de frequência mais elevadas Análises numéricas deste tipo apresentam bastantes benefícios para as indústrias dos moldes e plásticos, uma vez que permitem desenvolver e analisar novos conceitos durante as etapas iniciais de projeto, reduzindo ou evitando alterações posteriores que apresentam custos mais significativos.
Os resultados obtidos evidenciam ainda os benefícios da utilização de HPC, sendo estes especialmente relevantes para PME que não possuam in-house o hardware de processamento necessário para resolver problemas complexos e computacionalmente dispendiosos. É ainda importante ter em conta que o caso estudado é apenas uma das possíveis aplicações dos recursos HPC. Com conceitos como Big Data, Internet of Things (IoT) e Digital Twin a serem cada vez mais comuns, a utilização de HPC poderá dar às PME acesso a ferramentas que permitam otimizar os seus processos, aumentar a produtividade e reduzir custos relacionados com o desenvolvimento de novos produtos, tornando-as, desta forma, mais competitivas no mercado atual.
AGRADECIMENTOS Este estudo teve incentivo do projeto PRACE financiado em parte pelo programa EU’s Horizon 2020 Research and Innovation (20142020) com a referência 823767. Os autores gostariam de agradecer ao Prof. A. Gameiro (Universidade de Coimbra) e ao Dr. M. Fontul (Iber-Oleff) pela partilha de conhecimento e discussões científicas. Os autores agradecem ainda à equipa de administração da UC-LCA, em particular ao Bruno Andrade, pela preparação e teste inicial do Ansys Fluent no ambiente do cluster Navigator.
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INJEÇÃO DE MATERIAIS MAGNETIZÁVEIS PARA A INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS 56
Diana Dias 1, Lourenço Bastos 2, Rita Marques 3, Sílvia Cruz 4, António Malaquias 5, Miguel João 6 1 - Técnica Principal; 2 - Técnico Principal; 3 - Gestora de Projetos; 4 - Coordenadora de Área de Processos Avançados de Fabrico - PIEP; 5 - GLN Molds - Gestor Técnico; 6 - GLN - Responsável Técnico
A injeção de materiais carregados com partículas magnéticas, como a ferrite, é uma prática da indústria transformadora para a produção de componentes magnéticos. Geralmente, os materiais injetados são compostos por uma elevada carga magnética (55 – 65 vol%), resultando num material de viscosidade elevada, o que dificulta o processo. A injeção de componentes magnéticos é normalmente associada à técnica de injeção de pós (powder injection moulding – PIM), existindo em primeiro lugar a moldação do componente, seguida de várias fases de pós-processamento, nomeadamente a sinterização da peça, com total remoção do material plástico (atuando o polímero apenas como ligante para que o processo de injeção seja possível). Após a desmoldação, a peça é sujeita a campos magnéticos de elevada intensidade para promover uma orientação magnética, tornando a peça magnética. O projeto Magnetized Gears, surge como uma alternativa à necessidade de pós-processamento dos componentes magnéticos, promovendo a magnetização da peça ainda no molde, durante o processo de moldação por injeção, permitindo eliminar etapas ao processo. O projeto está a ser desenvolvido em consórcio, no âmbito do Clube de Fornecedores Bosch, integrando a GLN Molds como promotor líder, o PIEP - Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, a GLN Plast, a Universidade do Minho e o CeNTI - Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes. Desta forma, para auxiliar o desenvolvimento de conceito de molde e ferramenta produtiva, estão a ser realizados estudos por meio de simulações numéricas recorrendo ao add-on PIM do software Moldex3D desenvolvido especificamente para injeção de pós, capaz de prever a distribuição de partículas ao longo de toda a peça, observado na Figura 1, permitindo avaliar e prevenir a existência de
linhas pretas (causadas pela separação de fases entre o polímero e o pó metálico), representando um ponto de fraqueza na peça. Para além disso, as simulações numéricas permitem auxiliar no desenvolvimento da ferramenta produtiva, sendo possível prever as pressões de injeção expectáveis e a força de fecho necessária. Com este estudo é ainda possível simular a existência de canais quentes, que podem auxiliar na injeção de componentes altamente carregados. Com o intuito de avaliar a integridade estrutural do componente, serão também realizados estudos por meio de simulações numéricas, permitindo prever o comportamento mecânico das peças resultantes. Para além destas simulações, foram também realizadas simulações numéricas estruturais, recorrendo ao software Abaqus, de forma a analisar o desempenho mecânico de alguns dos componentes do molde durante o processo produtivo. Estas simulações tiveram como objetivo não só a otimização da espessura, mas também a seleção do material mais adequado para a placa do molde em contacto com o material fundido, de forma a minimizar a sua deformação. Para tal, a distribuição de pressões, obtida como resultado das simulações do processo de moldação por injeção, foi integrada nas simulações estruturais, sendo alterado o tipo de aço e espessura da placa. Através da análise de tensões e deformações obtidas foi possível selecionar a configuração de material e espessura que garante a melhor performance.
/ / Figura 2 – Vista geral das tensões e deslocamentos observado na placa analisada.
AGRADECIMENTOS Trabalho realizado no âmbito do projeto MAGNETIZED GEARS POCI-01-0247-FEDER-017684, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional COMPETE 2020.
/ / Figura 1 – Vista em corte da distribuição da concentração de pós do componente em estudo.
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IMPORTÂNCIA DA SIMULAÇÃO DO PROCESSO NA INTEGRAÇÃO DE FILMES FUNCIONAIS E DECORATIVOS EM COMPONENTES PARA INDÚSTRIA AUTOMÓVEL Carina Peixoto 1, Cátia Araújo 1, Rita Marques 2, Sílvia Cruz 3, Ana Sampaio 4, Pablo Thiago Valentim 5, António Pontes 6, Hélio Santos 7 1 - Técnica Principal; 2 - Gestora de Projetos; 3 - Coordenadora de Área de Processos Avançados de Fabrico - PIEP; 4 - CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes; 5- INL - International Iberian Nanotechnology Laboratory; 6 - Universidade do Minho; 7 - Inovaplastika, SA.
Na indústria automóvel, o interesse e a procura por interiores com superfícies atraentes cada vez mais customizados, com elevada qualidade, aliadas à integração de propriedades funcionais e interativas tem sofrido um aumentado extraordinário nos últimos anos. Esta procura tem estimulado a I&D em torno do design, da eletrónica flexível e da combinação dos processos de produção de peças plásticas e a integração destas propriedades durante o ciclo produtivo. A abordagem apresentada, embora já presente na indústria, carece constantemente de evolução e otimização das tecnologias, bem como a combinação de diferentes funcionalidades na mesma peça. Através da incorporação de eletrónica flexível diretamente no processo de injeção é possível eliminar os tradicionais botões mecânicos, reduzir o número de peças, processos de montagem e o peso total do sistema. Esta tecnologia conhecida como In-Mold Electronics (IME), é considerada uma tecnologia emergente no mercado, com uma previsão de crescimento exponencial na indústria automóvel entre 2020-2030 [1]. Como maiores vantagens é relevante evidenciar o facto de permitir aos designers desenvolverem produtos esteticamente mais interessantes, com superfícies tridimensionais, com contornos acentuados e adaptados de forma ergonómica às necessidades dos consumidores. A tecnologia IME é conseguida através da impressão dos circuitos eletrónicos em filmes poliméricos. Posteriormente, os filmes impressos são termoformados no formato tridimensional com a geometria final da peça, e sobremoldados, tal como no processo tradicional de IMD. O SMART4CAR – Smart Surfaces for Automotive Components, é um projeto em copromoção, no âmbito do Clube de Fornecedores Bosch, cujo consórcio é formado pela InovePlastika – Inovação
/ / Figura 1. Integração de IME no processo de sobremoldação para produção de comando no painel central do habitáculo automóvel, que contempla a incorporação de propriedades decorativas, funcionais e interativas (Imagem ilustrativa (Renders).
e Tecnologia em Plásticos S.A, promotor empresarial, com vasta experiência no desenvolvimento e produção de componentes injetados de valor acrescentado, o PIEP - Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, Universidade do Minho, o CENTITVC – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes, e o INL – International Iberian Nanotechnology Laboratory. No seguimento, este projeto I&DT pretende desenvolver uma solução que contempla a incorporação de propriedades decorativas, funcionais e interativas durante o processo de moldação por injeção (Figura 1). Um dos grandes desafios presentes no projeto, passa pela incorporação de um único filme, com eletrónica e com o padrão decorativo, o que possibilitará uma redução considerável de etapas do processo bem como a minimização de matéria-prima associada ou a introdução de processo decorativos secundários. Desta forma, é de extrema importância assegurar a integridade e a sobrevivência de todos os componentes eletrónicos ao longo dos processos a que estão sujeitos. Durante a moldação por injeção, estes componentes podem sofrer degradação ou deslocação, devido às elevadas temperaturas, altas pressões exercidas e às elevadas taxas de corte. Este processo exige filmes e tintas especialmente selecionadas. Fatores como a compatibilidade entre materiais, espessuras dos filmes, formalidade e resistência à temperatura da tinta e dos filmes, têm de ser criteriosamente considerados na etapa de seleção de materiais para que a peça final tenha qualidade e cumpra os requisitos da indústria automóvel. Através da realização de simulações numéricas do processo de moldação por injeção, foi possível definir a localização das entradas de material fundido, em posicionamentos de forma a garantir a sobrevivência ou a minimização dos efeitos das taxas de corte e da degradação dos componentes eletrónicos. Por meio da simulação
/ / Figura 2. Previsão, através da simulação numérica do processo, de zonas do filme que poderão fundir ou causar o seu arraste durante a injeção.
foi, ainda, possível prever zonas em que o filme teria maior probabilidade de fundir, e por ventura, sofrer arrastamento. Esta função permitiu prever defeitos e corrigi-los antes do processo real (Figura 2). Esta é uma etapa crítica, e que pode pôr em causa todo o trabalho previamente realizado. A simulação numérica, permite, ainda, analisar e selecionar de forma eficaz o sistema de controlo de temperatura mais adequado para o molde de injeção. Com a utilização desta metodologia, é possível averiguar a eficiência do sistema de arrefecimento, do layout do sistema e o tempo de arrefecimento requerido, tendo em consideração a incorporação do filme no processo que causa uma distribuição diferente das temperaturas nos dois lados da peça (Figura 3). A
seleção das condições de processamento mais adequadas para o componente em questão, de forma a reduzir, por exemplo, o empeno da peça podem, de forma semelhante, ser definidas. Como vantagens evidentes desta metodologia há, não só, uma redução da matéria-prima (sucata), mas também uma diminuição do tempo despendido em horas-máquina, e energia na obtenção de peças em conformidade com os requisitos e as especificações pretendidos. O projeto demonstrará progressos tecnológicos neste campo, permitindo assim, ao consórcio e à indústria nacional, a oportunidade para se reposicionarem na cadeia de valor global da indústria automóvel e, igualmente, permitirá a fácil industrialização das tecnologias descritas.
AGRADECIMENTOS Trabalho realizado no âmbito do projeto SMART4CAR, POCI01-0247-FEDER- 045096, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional PO Norte.
/ / Figura 3. Previsão da temperatura assimétrica durante o arrefecimento causada pela incorporação do filme no processo.
[1] Richard Collins, “In-Mold Electronics 2020-2030: Technology, Market Forecasts, Players,” IDTechEX. https://www.idtechex.com/en/research-report/ in-mold-electronics-2020-2030-technology-market-forecasts-players/722
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IN-MOLD DECORATION PROCESS – O CASO DE ESTUDO DO PROJETO WOODSHAPE 4.0
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Liliana Gouveia 1, Francisco Diz 1, Florindo Gaspar 2, Nânci Alves 3 1 - CDRSP, Politécnico de Leiria; 2 - ESTG, CDRSP, Politécnico de Leiria; 3 - TJ Moldes
A técnica de In-Mold Decoration Process é um processo bastante comum na indústria da injeção de moldes, consistindo na injeção de um polímero sobre outro tipo de material polimérico ou nãopolimérico, como por exemplo a injeção sobre metal, películas, filmes ou tecido. Através de técnicas inovadoras de moldação totalmente automatizadas, o projeto de investigação WoodShape 4.0 pretendeu realizar injeções sobre folhas de madeira conformada, em peças de matriz polimérica, resultando em componentes com superfícies de madeira de pinho ou faia. Com este tipo de produtos pretende-se valorizar o uso da madeira pela sua baixa condutividade térmica e pelo aspeto estético, constituindo assim num produto com elevado valor acrescentado, potenciando a customização em massa.
/ / Figura 1. Processo de decoração na injeção por molde
1. O CASO DE ESTUDO – PEÇA DE AUTOMÓVEL A inclusão de folha de madeira em peças termoplásticas, para além de oferecer uma inovação, oferece também uma alternativa mais sustentável para o acabamento do produto final, contudo, esta técnica oferece algumas limitações. Durante os estudos preliminares foi definido que a geometria teria de ser simplificada de forma a ser possível testar os limites da folha de pinho. Presente na Figura 2 estão as primeiras alterações efetuadas ao caso de estudo de forma a reduzir a fissuração da folha no ato de conformação.
Esta inovação será mais extensa pela integração e interpretação da visão computacional, com incorporação de tags RFID e do desenvolvimento de sistemas automatizados para agilizar e automatizar todo o processo produtivo. Este produto e método de processamento permite uma gama de aplicações que podem passar pelo ramo automóvel, fachadas ou revestimentos de edifícios, mas, também, em construções onde se prevê uma grande valorização comercial, fazendo uso da tecnologia disponível e melhorando o processo, indo ao encontro da automatização do sistema.
/ / Figura 2. Alterações à geometria da peça de caso de estudo para a produção do primeiro molde de conformação.
Após o fabrico do molde de conformação por parte da TJ Moldes (Figura 3), este foi testado com diferentes parâmetros de temperatura (frio e quente) bem como folha humedecida e seca.
Contudo, este projeto prova que esta técnica pode ser produzida industrialmente, possibilitando uma nova visão para a área de design e decoração, proporcionando uma criatividade contemporânea, dando assim valor comercial nestes tipos de produtos. O In-Mold Decoration Process é usado particularmente em aplicações de decoração em produtos poliméricos durante a moldagem por injeção, como acontece, por exemplo, nas capas de telemóvel, eliminando, assim, operações secundárias, como impressões e pulverizações decorativas. A técnica é executada quando o molde se fecha e o polímero é injetado, ligando à fina pelicula, tornando-se integral, os dois materiais numa única peça que, por fim, é libertada quando o molde volta a abrir. Este processo é repetido ininterruptamente, formando assim o processo de moldagem por injeção com decoração (Figura 1).
/ / Figura 3. Molde de conformação inicial produzido pela TJ Moldes.
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Durante o processo, foi testada a submersão da folha em água quente, bem como em água fria. Os parâmetros nos quais foram obtidos melhores resultados, na fase de testes preliminares, foi quando a temperatura do molde se encontrava entre os 110 e os 150ºC (~130ºC) e a temperatura da água entre os 100 e os 110ºC. Embora estes tenham sido os parâmetros que nos ofereceram melhores resultados, a folha fissurava ao longo do grão, pois, devido ao fecho do molde, esta era tracionada em várias direções e a folha fissurava de acordo com os resultados da Figura 4. Desta forma foi definida uma planificação para pré corte da folha, com dimensões superiores às da zona moldante. Inicialmente, o corte da madeira provou-se difícil pois o próprio manuseamento e corte, utilizando a tesoura, fazia com que esta criasse pequenas fissuras pelo grão, que posteriormente se propagavam quando se fechava o molde. Para tentar mitigar este problema foi utilizado um equipamento de corte de laser da parceira de consórcio Makertech. Desta forma conseguiu reduzir-se em grande parte a fissuração, mas não por completo, tal como se pode ver na Figura 5.
/ / Figura 4. Primeiros testes com o molde de conformação (madeira húmida).
/ / Figura 5. Testes com primeiro ficheiro de corte.
Depois de efetuados os testes definiu-se que o fator crítico para a fissuração das folhas seriam as arestas vivas presentes na geometria do molde. Com as alterações realizadas ao molde, foram testados novos ficheiros de corte com arestas mais pequenas, mas sem resultados favoráveis. Contudo, conforme os testes realizados, chegou-se à conclusão que a melhor forma de mitigar este problema de fissuração da folha, inclusive com a folha seca, seria a redução total dos boleados, identificado na Figura 6.
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Após a pressão correta ter sido alcançada (neste caso de estudo foi aplicada 5bar), o polímero é injetado no “gito” a 240ºC durante 1 a 2,5 segundos, conforme o material utilizado (1,05 seg. com PP c/30% FV; 1,88 seg. com ABS; e 2,34 seg. com PP c/talco).
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A posteriori, encontra-se o tempo de arrefecimento que varia conforme o tamanho da peça, que neste contexto ronda entre os 20 a 25 segundos, logo depois a peça é extraída do molde (Figura 10). / / Figura 6. Testes finais com a redução da maior parte do boleado.
2. O PROCESSO PRODUTIVO NO PROJETO WOODSHAPE 4.0 A moldagem por injeção é constantemente utilizada na indústria polimérica, tendo um grande peso nacional e um reconhecimento internacional, na concretização de objetos de baixa tolerância de erro e de alta produtividade. A existência de inúmeras formas e processos de injeção, provam que esta técnica permanece inovadora, continuando a surpreender com métodos progressistas. Sendo esta uma indústria que tem vindo a crescer e a ganhar projeção, a temática deste projeto é bastante promissora pelas razões de destaque, nesta área, em Portugal, tendo em conta o crescimento cultural do desenvolvimento de novos produtos mais sustentáveis. Este processo industrial faz com que a indústria de moldes explore a vasta área florestal ocupada pelo pinheiro-bravo ganhando destaque numa aplicabilidade estética mais genuína e natural. O diferencial inovador deste projeto, além das questões sustentáveis e estéticas do produto final, é também o aperfeiçoamento do molde, neste contexto, ao incorporar um sistema de vácuo que possibilita a fixação e estabilidade da folha de madeira, ao contrário da técnica antecedente que a decoração assume a partir de uma película rotativa.
/ / Figura 9. Processo de decoração com folha de madeira em moldagem por injeção.
Posto isto, este processo foi estudado e aperfeiçoado, permitindo que a aderência entre a matriz polimérica e a folha de madeira, durante a injeção, obtivessem os melhores resultados tendo em conta as dificuldades de produção entre estes materiais tão distintos. (Figura 7 e 10). O primeiro e principal passo antes de iniciar um processo de moldagem por injeção é a secagem em estufa dos grânulos de polímero que, neste caso, foram testados os materiais Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS), Polipropileno com 30% de Fibra de Vidro (PP c/30% FV) e Polipropileno com talco (PP c/talco), até que o seu teor de humidade seja praticamente nulo, pelo menos a 80ºC durante 4 horas.
/ / Figura 10. Peça final – Caso de estudo Automóvel.
REFERÊNCIAS [1] Thompson, Hob (2007) Manufacturing Processes for Design Professionals, United Kingdom: Thames & Hudson [2] In-mold decoration (IMD). Disponível em: https://www.rosti.com/capability/ in-mould-decoration-imd/
A folha de madeira conformada (Figura 8), é colocada, na face côncava do molde e segura pelo sistema de vácuo, até ao fecho do sistema, com a ajuda da prensa hidráulica.
Wood.Shape 4.0 | Intelligent injection moulding on wood veneers aided by cyber-physics systems, Aviso nº03/SI/2017 projetos em copromoção, Projeto nº33348 SI I&DT. Consórcio
Cofinanciado por
/ / Figura 7. Processo de decoração com folha de madeira em moldagem por injeção .
/ / Figura 8. Colocação da folha de madeira no molde.
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SISTEMA INOVADOR DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA E MONITORIZAÇÃO AVANÇADA PARA MÁQUINA FERRAMENTA DE FURAÇÃO PROFUNDA E FRESAGEM, INTEGRANDO NOVOS AVANÇOS EM TECNOLOGIA INDÚSTRIA 4.0 Sérgio André 1, Nuno Oliveira 1, Luís Carlos Moreira 2, Marco Rodrigues 2 1 - CHETO CORPORATION, S.A; 2 - INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial
INTRODUÇÃO DA EMPRESA, SECTOR DE ATIVIDADE E OBJETIVOS DO PROJETO A CHETO enquadra-se no sector do fabrico de bens de equipamento para a indústria de moldes, com uma gama de máquinas-ferramenta multifuncionais com distribuição pelo mercado global, e que permitem, no mesmo módulo de produção, realizar operações de furação profunda, furação convencional, fresagem e roscagem. O projeto “CHETO IIoT” consiste num I&DT individual, e, tem como principal objetivo o desenvolvimento de um produto/serviço disruptivo e inovador, de manutenção preventiva e monitorização avançada de processo, tendo como base uma máquina-ferramenta de furação profunda e fresagem, integrando, assim, avanços tecnológicos relacionados com o conceito de indústria 4.0.
ESTUDOS PRELIMINARES - CARACTERIZAÇÃO DOS MODOS DE FALHA A fase de estudos preliminares iniciou-se através da identificação dos tipos de falha em máquinas CHETO e suas características de causa e efeito, com o intuito de determinar eventuais necessidades de instrumentação. Foram analisados registos de intervenções passadas que permitiram identificar as tipologias com mais ocorrências, quer no parque de máquinas geral, quer numa perspetiva por modelo. Deste registo, foram desconsideradas as máquinas nas quais se registou como causa “Colisão máquina Peça; Ferramenta Peça; Mesa Spindle; Mesa Ferramenta”, uma vez que em todas as ocorrências isto era um claro potenciador de um grande número de falhas mecânicas.
Foi feita uma análise de causa e efeito para cada tipo de falha, procurando qualificar o risco de ocorrência e a rapidez com que tende a progredir na sua degradação, levando em conta os dados recolhidos nas intervenções contabilizadas face à frequência de ocorrências, riscos de segurança resultantes e facilidade de deteção. Os resultados desta análise permitiram identificar como falhas relevantes: as roturas ou folgas nas correias, as falhas nas juntas rotativas e no motor do spindle, assim como falhas no circuito de refrigeração, danos e componentes elétricos (especialmente cabos) e danos em sensores e transdutores. Outras falhas, como em guias, fusos, patins ou rolamentos, são indicadas com o nível de risco inferior, por efeito de uma menor frequência de ocorrências ou pela sua degradação mais lenta ou detetável ao operador, resultarem num risco de segurança menor.
ESTUDO SOBRE MONITORIZAR
VARIÁVEIS
E
PARÂMETROS
A
De seguida, foi realizada uma análise de variáveis a monitorizar, sendo este, um processo desencadeado como resultado da identificação das necessidades e da análise do registo histórico de avarias e falhas, culminando com uma listagem de variáveis, um levantamento de sensores tipo e um estudo das principais plataformas IoT do mercado. Na implementação de soluções de manutenção preditiva e monitorização remota de equipamentos, a escolha correta das grandezas a monitorizar depende da conjugação entre a falha que se pretende prever e as características construtivas do sistema, devendo-se, para isso, monitorizar aquelas cujo comportamento esteja diretamente relacionado com a degradação ou mau funcionamento de componentes específicos do equipamento, as que quando correlacionadas com outras grandezas ou com o seu próprio histórico permitem identificar alterações no estado do sistema, e as que permitam identificar estados de funcionamento ou possam suportar a caracterização da condição ou da gestão operacional do equipamento. As grandezas físicas tipicamente utilizadas para monitorizar falhas em equipamentos industriais como as máquinas CHETO, incluem: • Vibração – Para defeitos em componentes mecânicos (rolamentos, fusos, guias, transmissões, etc.)
• Temperatura e humidade - Fricção anormal entre componentes, sobrecarga de motores, falhas nos sistemas de refrigeração, fugas de fluidos. • Condição de lubrificantes - A vida útil dos lubrificantes e a consequente necessidade em substitui-los, assim como abruptas variações que sugerem falha. • Consumo energético - A potência consumida pelo sistema global ou por elementos individuais, cuja variação sugere alteração na condição dos componentes acionados (transmissões, guias, mancais, etc)
local, através de uma unidade de Edge Computing, que permitirá efetuar tratamento aos dados, relacionar grandezas, filtrar informação, aplicar lógica, e devolver alguns dados ao equipamento CHETO, enviando outros para a plataforma cloud. Nesta plataforma, a informação será centralizada e analisada quer face ao seu histórico individual, quer entre equipamentos, permitindo implementar diferentes análises, devolvendo informação relevante aos clientes face ao estado do seu equipamento e do seu processo produtivo, e permitindo à CHETO acompanhar o ciclo de vida dos seus produtos de uma forma mais completa.
• Pressão e níveis de fluidos - Fugas, obstruções ou operação deficiente. • Ruído sonoro - Detetar assinaturas sonoras anormais ou a ausência das espectáveis. Estas grandezas e o seu comportamento ao longo do ciclo de vida do equipamento, vão permitir monitorizar o aparecimento de falhas e/ou detetar funcionamentos deficientes. A escala temporal dessa deteção, é, no entanto, característica de cada grandeza e qualquer análise deve levar isso conta.
/ / Figura 2 - Arquitetura da solução.
Dentro da arquitetura apresentada, foi desenvolvido um conceito construtivo recorrendo a um módulo independente e centralizado, na forma de um quadro de controlo, contendo um Edge Computer para o processamento dos dados e comunicação com a plataforma cloud, uma solução expansível para a aquisição de sinal e conversão, e os sensores agrupados ou não em conjuntos de acordo com a tipologia de sistema em que são aplicados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
/ / Figura 1 - Evolução temporal da falha face ás grandezas a detetar.
Existem ainda vários dados do processo das máquinas CHETO que podem ser disponibilizados para análise e complemento à monitorização, tais como, a caracterização dinâmica do processo (Forças de Corte, Binário nos Eixos, Acelerações, Velocidades, etc), alterações de condição atendendo ás próprias variações dos regimes de funcionamento, características gerais do processo (Tipo de ferramenta, Dados do programa, Condições operacionais, etc) ou valores que sejam dependentes de características do processo. De seguida, foram associadas as falhas a cada uma das grandezas que podem ser utilizadas para a sua deteção, como por exemplo, as falhas em guias, fusos e patins que podem ser monitorizadas através de análise de vibração ou temperatura localizada e pela potência consumida por acionamento, os travões mecânicos dos eixos que podem ser monitorizados por uma variação de posição inesperada, ou, a central pneumática que pode ser monitorizada por variação de pressões.
CONCEPTUALIZAÇÃO DE ARQUITETURA Foi desenvolvido o conceito de arquitetura-base, com recurso a um sistema centralizado local, com conectividade a uma plataforma de Cloud Computing. Como indica o esquema da figura abaixo, a informação recolhida quer através de CNC/PLC/Sistema WISE, quer através de hardware adicional, será centralizada para processamento
O trabalho realizado no projeto “CHETO IIoT” teve como ponto de partida uma lista de falhas e avarias em formato de registo histórico da CHETO sobre os seus equipamentos, suportando a conceptualização de uma arquitetura IIoT, tendo em vista a aplicação de lógica para manutenção preditiva. A caracterização dos modos de falha desencadeou um estudo sobre as grandezas a monitorizar no equipamento, levando ao reconhecimento de que existe uma dependência da conjugação entre a falha que se pretende prever e as características construtivas do sistema, evidenciando, assim, que o processo de instrumentação para manutenção preditiva não é um caminho único, mas sim um conjunto de caminhos sobre os quais haverá necessidade de optar. Com o objetivo identificado e uma listagem de grandezas adequadas à deteção das falhas, foi desenvolvido um conceito de arquitetura-base para digitalização dos equipamentos CHETO, assente em diferentes camadas, deteção e disponibilização de dados (CNC+PLC+WISE+hardware adicional), agregação e tratamento (Edge Computer), e, por último, visualização e analítica avançada (plataforma IIoT local ou cloud), capaz de ser adaptada às várias possibilidades de instrumentação. ------O projeto CHETO_IIoT - Sistema inovador de manutenção preventiva e monitorização avançada para máquina-ferramenta de furação profunda e fresagem integrando novos avanços em tecnologia Indústria 4.0, é cofinanciado pelo FEDER através do Programa Operacional Regional do NORTE 2020, e pela União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
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EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENTS . PROCESSES . EXPERTISE
CENFIM APTO PARA FORMAR NA TECNOLOGIA DE FUSÃO DE PÓ METÁLICO A LASER
FABRICAÇÃO ADITIVA – IMPRESSÃO DE UM POSTIÇO DE UM MOLDE PLANEAMENTO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E A GESTÃO DE RECURSOS AUTÓNOMOS DE PRODUÇÃO AUMENTO DE PRODUTIVIDADE NA MOLDAGEM POR INJEÇÃO PLÁSTICA USANDO AÇOS DE FERRAMENTA DE ALTA CONDUTIVIDADE TÉRMICA CIBERSEGURANÇA – PARA UMA NAVEGAÇÃO SEGURA NO CIBERESPAÇO
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Helena Silva * * Revista Molde
Núcleo de formação profissional da Marinha Grande é dos primeiros do país a dispor de uma máquina de fusão de pó metálico a laser, com a qual começou já a ministrar formação, bem como ações de divulgação junto das empresas. O objetivo é integrar esta nova tecnologia nos programas curriculares dos cursos destinados aos jovens, futuros quadros da indústria. O Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (CENFIM) tem disponível uma nova tecnologia para apoiar a indústria, sobretudo no sector dos moldes. Trata-se de uma nova máquina de fusão de pó metálico a laser. Esta é uma recente aposta do CENFIM, a nível nacional. O equipamento foi colocado no núcleo da Marinha Grande, uma vez que está inserido numa região com uma dinâmica empresarial muito forte, com as empresas a manterem uma aposta elevada nas tecnologias de vanguarda. A nível nacional, o CENFIM é dos primeiros centros de formação profissional a disponibilizar esta solução.
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CENFIM APTO PARA FORMAR NA TECNOLOGIA DE FUSÃO DE PÓ METÁLICO A LASER
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O equipamento e as suas potencialidades têm sido alvo de divulgação, seja junto das empresas, seja junto dos formandos. O objetivo é que, a curto prazo, esta tecnologia passe a fazer parte de alguns dos módulos de formação ou mesmo que dê lugar à criação de um novo curso. Carlos Silva, coordenador do núcleo da Marinha Grande, conta que este centro tem, desde a sua criação, “a filosofia de trabalhar com tecnologia de vanguarda para acompanhar o desenvolvimento da indústria”. Nos últimos anos, com a rapidez verificada na evolução das tecnologias, o Centro tem procurado responder às necessidades das empresas. “Temos de ter as tecnologias, de forma a dotar de conhecimento os formandos e prepará-los para que assegurem as melhores respostas quando forem para as empresas”, defende.
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O facto de a máquina ter chegado em pleno período de pandemia, em 2020, “permitiu que houvesse maior disponibilidade para estudar, analisar, dedicar atenção a esta tecnologia e às suas potencialidades, antes de avançar para a sua divulgação”, conta, defendendo que “a pandemia não nos atrasou no desenvolvimento de competências em relação à máquina; pelo contrário: deu-nos possibilidade de explorar e conhecer”.
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Ainda sem entrada nos programas formativos do centro, a tecnologia é, no entanto, apresentada aos jovens formandos. “Todas as turmas conhecem a máquina e é feita uma apresentação da tecnologia”, relata. E adianta que este ano letivo até começaram, na prática, a dar os primeiros passos na formação nesta tecnologia. Não nos cursos dos jovens formandos, mas numa turma de Educação e Formação de Adultos (EFA). A máquina de fusão de pó metálico a laser é um desses exemplos. O CENFIM espera conseguir vir a integrar esta tecnologia nos cursos que ministra. No entanto, essa decisão está nas mãos da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQUEP). “As instituições vão sugerindo e propondo. É isso que estamos a fazer”, explica, contando que, após a receção da máquina – que chegou no final de 2020 ao núcleo da Marinha Grande – a prioridade foi criar um grupo de docentes com conhecimento das suas potencialidades. Neste momento, considera, “esse conhecimento está já consolidado, as potencialidades da tecnologia foram testadas e verificadas” e, por isso, o centro está em condições de começar a formar técnicos nessa área.
Apesar de ter nos seus núcleos, desde 2015, o ‘3D Printing’, o CENFIM ainda não tinha esta tecnologia aplicada ao metal. “Mas é por aqui que passa a nossa aposta, uma vez que se trata de uma tecnologia emergente”, da qual a maioria das empresas não tem, ainda, grande conhecimento. “Por isso, a nossa ação tem-se desenvolvido por passos: primeiro, foi necessário aprender para quando estivermos seguros, poder transmitir o conhecimento e ajudar a retirar vantagens desta solução”, explica Carlos Silva.
ESTUDAR E CONHECER Nuno Boavida é, no núcleo da Marinha Grande, o docente responsável pelo novo equipamento. Nos últimos meses, conta, integrou uma equipa que esteve a analisar e testar as potencialidades da máquina, de forma a, posteriormente, fazer o acompanhamento da tecnologia nas empresas
Segundo Nuno Boavida, a parte operacional desta tecnologia “exige maturidade” e, uma vez adquirida, o CENFIM avança então com o desenvolvimento de planos curriculares. E aqui, destaca a importância do modelo de formação colaborativa que o centro disponibiliza, colocando esta tecnologia ao serviço de outros núcleos do CENFIM.
“Queremos pessoas com conhecimento desta tecnologia, o que será uma mais-valia para a indústria e para as empresas. Muitas ainda não a têm, porque não conhecem e não conseguem ponderar os seus reais benefícios. Queremos prestar esse serviço à indústria, através de formação adequada do equipamento e estamos prontos para fazer isso”, sublinha. Esta tecnologia, considera, “é ainda muito dispendiosa e não será fácil de rentabilizar se as empresas não tiverem uma estratégia bem definida sobre a sua utilização”. E salienta que que o objetivo da máquina é “criar peças que não podem ser feitas de forma convencional, por outros processos”. No seu entender, “a indústria vai, de forma natural, caminhar para este tipo de soluções. As tecnologias vão coexistir, retirando o máximo partido de cada uma delas”.
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FABRICAÇÃO ADITIVA – IMPRESSÃO DE UM POSTIÇO DE UM MOLDE Carlos Manuel Silva *, Nuno Boavida ** * Diretor do Núcleo do CENFIM da Marinha Grande; ** Técnico de Formação do Núcleo do CENFIM da Marinha Grande
1. INTRODUÇÃO O interesse e os benefícios da impressão 3D de metal para a indústria A impressão 3D vem despertando continuamente de uma forma progressiva ao longo dos últimos anos o interesse e trazendo benefícios dentro da indústria em diversos segmentos, nomeadamente, na Indústria de Moldes, mas também em todo o sector metalúrgico, metalomecânico e eletromecânico, podendo observar-se um crescimento (ainda tímido, mas consistente) por parte das impressoras 3D focalizadas em metais. A impressão 3D de metal fornece soluções otimizadas e podem ser aplicadas em diversos sectores, tanto na área industrial como na saúde, nomeadamente ao nível da fabricação de dispositivos médicos personalizados. A utilização desta tecnologia permite eliminar muitas das restrições conhecidas nos métodos de fabricação tradicionais como a maquinação e a fundição, por exemplo.
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- Criação de sistemas de fixação de peças para maquinação; - Reconstrução de peças fraturadas ou desgastadas. O processo de fabrico aditivo por fusão de pó metálico a laser é complexo, constituído por várias etapas e utiliza diversos equipamentos, para além de uma impressora de fusão de pó metálico, necessários para se chegar à peça física final e acabada. Este artigo pretende explicar de uma forma sucinta o processo desde o seu início, realçando alguns aspetos que são importantes e utilizando, como caso de estudo, um postiço de um molde de injeção (Figura 1). A impressora de fusão de pó metálico a laser (Figura 2) permite imprimir diversos tipos de ligas metálicas: aço maraging, aço inoxidável, níquel, cobalto, titânio, alumínio e cobre, entre outros.
Revelam-se, deste modo, novas possibilidades para geometrias complexas e customizações em grandes quantidades de peças, a um custo comercialmente viável, que antes era de todo impossível alcançar. Alguns autores e entusiastas desta matéria chegam mesmo a afrmar que “futuramente algumas peças e componentes mecânicos, das indústrias automóvel e aeronáutica, assim como próteses humanas, só poderão ser construídos por meio e recorrendo a este processo”.
/ / Figura 1 – Postiço de um molde de injeção.
Por isso, o CENFIM não poderia estar ausente deste desenvolvimento e iniciou, em 2020, este novo caminho que nos levará certamente, como noutros casos de sucesso no passado (como seja a maquinação e programação CNC), a estar ao lado das empresas e dos trabalhadores permitindo-lhes o conhecimento, a formação e o acesso a esta tecnologia.
2. TECNOLOGIA A fusão de pó metálico é uma das famílias dos processos de fabrico aditivo. Dentro desta família há diversas tecnologias cujas designações variam de acordo com o processo e o fabricante do equipamento. Vamos referir esta tecnologia por fusão de pó metálico a laser, que tem a designação em inglês de Metal Powder Bed Fusion (MPBF), uma vez que utiliza um feixe laser de elevada potência para fundir o pó metálico, camada sobre camada, até se atingir a peça desejada. Esta tecnologia pode ser aplicada na indústria de moldes na produção de: - Elementos difíceis ou impossíveis de obter pelos processos convencionais de maquinação (CNC e erosão); - Postiços e outros acessórios moldantes com canais conformados; - Reposição de peças sobressalentes num espaço curto de tempo;
/ / Figura 2 – Impressora de fusão de pó metálico a laser.
3. SEQUÊNCIA DE OPERAÇÕES A Figura 3 mostra a sequência de operações que existe durante o processo de fusão de pó metálico a laser. Vamos dividir o processo em três etapas distintas: o processamento de dados, que diz respeito à manipulação de ficheiros de CAD; a operação da máquina, que contempla toda a parte operacional relacionada com a impressora e a matéria-prima e o acabamento, que envolve o trabalho após impressão das peças e da bolacha de construção.
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/ / Figura 3 – Sequência de operações.
3.1 PROCESSAMENTO DE DADOS Tudo começa com a obtenção do modelo CAD da peça que se pretende imprimir. O modelo pode ser obtido por digitalização de uma peça física ou através da modelação 3D por um software de CAD. Esta etapa é crucial para a obtenção de bons resultados e faz toda a diferença que as pessoas envolvidas na criação das peças conheçam com profundidade o processo aditivo. A modelação de peças para fabrico aditivo é diferente da modelação de peças para serem produzidas por arranque de apara, nomeadamente em questões como as regras de projeto, o acabamento superficial, o processo de crescimento e as restrições tecnológicas, entre outros. Quando comparado com fabrico subtrativo, o fabrico aditivo permite uma maior liberdade na criação de formas e geometrias complexas, algumas delas difíceis ou mesmo impossíveis de obter por processos de arranque de apara. A Figura 4 mostra um desses exemplos, uma estrutura reticulada tridimensional e bastante fina.
/ / Figura 4 – Exemplo de uma estrutura reticulada tridimensional.
O ficheiro de CAD é exportado em STL, sendo este o formato padrão utilizado nos processos aditivos. O STL é depois trabalhado num software de fatiamento, também conhecido por slicer. Aqui procedese a um estudo rigoroso e detalhado da peça, seguindo as etapas de acordo com a Figura 5.
/ / Figura 6 – Desenho de uma fatia do postiço.
O calor gerado pelo laser é extremamente elevado e deve ser rapidamente dissipado por forma a minimizar as tensões térmicas geradas na peça que está em crescimento. Se não forem dissipadas, as tensões térmicas podem provocar o empeno ou a queima da peça (Figura 7).
/ / Figura 7 – Empeno e queima provocados por excesso de calor.
Os dois estudos que devem ser feitos para ajudar à dissipação de calor estão relacionados com a orientação da peça, tendo em conta o seu crescimento por camadas e a criação de suportes em zonas estratégicas da peça onde é previsível haver maior concentração de calor (Figura 8).
/ / Figura 8 – Estudo da orientação do postiço e colocação de suportes (azul).
Os suportes são estruturas colocadas entre a bolacha de construção e as superfícies de baixo da peça e têm dois objetivos principais: - Fixar a peça durante o seu processo de crescimento; - Ajudar a dissipar o calor gerado pelo laser durante a fusão do pó metálico.
/ / Figura 5 – Etapas a seguir no software de fatiamento.
O objetivo do software de fatiamento consiste em converter o ficheiro STL em camadas (fatias) sobrepostas, desde a base até à altura máxima da peça, como se cada camada se tratasse de um desenho 2D (Figura 6).
/ / Figura 9 – Postiço orientado para impressão (laranja) e estrutura de suportes (azul).
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A Figura 9 mostra o postiço na sua orientação para impressão e a estrutura de suportes. O estudo dos suportes é muito importante e deve ser meticuloso, e aspetos como o tipo de suporte, a sua espessura e densidade, a sua posição na peça, a sua inclinação e a sua ligação à peça são fatores a ter em conta durante a sua criação. No entanto, a sua utilização deve ser criteriosa uma vez que os suportes: - Aumentam o tempo de impressão; - Conduzem a um desperdício de material porque não são reaproveitados; - Prejudicam o acabamento superficial das peças; - Requerem mão-de-obra na sua remoção, podendo ser necessário recorrer à utilização de processos complexos para a sua remoção. No final do estudo são gerados dois ficheiros (peça e suportes), do tipo CLI, que são tratados num software que tem como finalidade processar cada uma das camadas anteriores e gerar o código interpretado pela impressora. Este software, desigando por EPHatch, é propriedade da marca da impressora e tem em conta diversos parâmetros relacionados com a intensidade e estratégias de varrimento do laser e aplica-os a cada uma das camadas (Figura 10). No fim, faz-se o processamento de dados e exportam-se os dois ficheiros para o formato EPI (Figura 11).
/ / Figura 10 – Variáveis relacionadas com o processamento.
/ / Figura 11 – Etapas a seguir no software de processamento.
3.2 OPERAÇÃO DA MÁQUINA A operação da máquina segue a sequência mostrada na Figura 3. Antes de ser colocado dentro da impressora, o pó metálico deve secar completamente, sendo aquecido a 80 ºC durante várias horas e em vácuo, num forno próprio para o efeito. O pó metálico deve ser manuseado com cuidado e seguindo rigorosos procedimentos de segurança, de forma a se evitar o contacto direto com o operador. No fim da impressão, o pó metálico que não foi utilizado é peneirado e reutilizado noutras impressões minimizando, assim, o desperdício de matéria-prima (Figura 12).
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A colocação de suportes mais robustos pode obrigar à utilização de equipamentos mais sofisticados para se conseguir remover a peça da bolacha de construção, equipamentos esses que podem ser o serrote mecânico, a fresadora (convencional ou CNC), o torno ou a erosora a fio. Os suportes criados são estruturas finas rendilhadas, muito delicadas e frágeis, com cerca de 0,2 mm de espessura. Estas estruturas podem ser retiradas com o auxílio de um serrote manual ou alicate e a bolacha de construção fica pronta após a passagem de pedra de bancada ou retificação (Figura 15).
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/ / Figura 12 – Preparação para remoção do pó metálico não utilizado na impressão.
3.3 ACABAMENTO O acabamento consiste em várias operações que têm como objetivo a separação física entre a bolacha de construção e a peça e pósprocessamento de ambos. As etapas a ser efetuadas dependem muito da estratégia adotada no software de fatiamento (Figura 13). Na criação dos suportes para o postiço houve a preocupação de se colocar uma estrutura fina a fim de facilitar da sua remoção (Figura 14).
/ / Figura 15 – Pós-processamento da peça e da bolacha de construção.
4. CONCLUSÃO A fusão de pó metálico a laser é um dos poucos processos aditivos atuais que permite obter peças totalmente metálicas, podendo ser utilizados diversos metais sobre a forma de ligas. As peças obtidas podem ser de grande complexidade geométrica e precisão. A fusão de pó metálico a laser gera uma grande quantidade de calor que deve ser rapidamente dissipada através de suportes.
/ / Figura 13 – Etapas a ter em conta para a remoção de suportes finos.
No fim da impressão, os suportes devem ser retirados e as peças podem precisar de pós-processamento, tendo em conta o tipo de acabamento pretendido. Todos os equipamentos de proteção individual ou coletiva, disponibilizados pelo fabricante destes equipamentos, e os requisitos de segurança estabelecidos para a sua operacionalidade, devem ser escrupulosamente respeitados e cumpridos, por forma a salvaguardar sempre a saúde e segurança do operador e pessoas envolvidas no processo, assim como garantir o correto manuseamento da máquina e equipamentos complementares.
/ / Figura 14 – Exemplo de postiço e estrutura fina de suportes.
Todas as imagens e fotografias mostradas neste artigo resultam de peças produzidas por nós, fruto do trabalho desenvolvido nas nossas instalações.
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João Ribeiro * Diretor Geral da Sqédio S.A. | Grupo Ibermática
Atualmente, o sector industrial atravessa um período de profundos desafios, não só pela imprevisibilidade operacional que temos vindo a assistir, como também pelas crescentes flutuações e exigências da procura, que põem à prova a competitividade e capacidade de crescimento das empresas. Hoje em dia, já não é suficiente que as empresas produzam produtos de qualidade, a um preço competitivo e no prazo acordado. Na realidade, para que as empresas garantam a sua sustentabilidade no mercado, é vital que: • alcancem elevados níveis de produtividade e eficiência; • sejam flexíveis e tenham a capacidade de se adaptar às dinâmicas mudanças; • sejam ágeis e proativas a identificar novos processos, tecnologias e produtos/serviços de valor acrescentado. A verdade é que estas necessidades não são novas e a indústria 4.0 é já hoje uma realidade – as empresas percebem que têm de ter a capacidade de adaptar e evoluir os seus processos, mas
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PLANEAMENTO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E A GESTÃO DE RECURSOS AUTÓNOMOS DE PRODUÇÃO
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necessitam de sistemas e tecnologias que as ajudem a assimilar as transformações efetuadas e a implementar as estratégias definidas. O mundo industrial encontra-se, por isso, num momento decisivo da sua evolução, dado que, se por um lado existe a pressão de inovar, por outro, vivemos um cenário de recessão económica no qual a dependência de mão-de-obra qualificada e a vulnerabilidade da cadeia de abastecimento se fazem sentir. É, então, aqui que as tecnologias 4.0 têm de ajudar as empresas a alcançar níveis de eficiência e produtividade, pois só assim conseguem converter os investimentos em rentabilidade e competitividade, de forma a atingir os seus objetivos globais.
OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA DE MOLDES A gestão eficiente de todo o processo produtivo é uma das mais prementes preocupações da indústria de moldes atual. Gerir vários projetos em simultâneo, garantindo o controlo de custos, tempo e qualidade implica um planeamento rigoroso, que deixa pouca
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margem para ajustes ou alterações à medida que o projeto avança nas suas diferentes fases.
disponibilidade e as operações a executar com as suas relações de precedência -, há que considerar os critérios de otimização.
Não obstante, novas informações poderão influenciar o rumo definido, pelo que é indispensável poder antecipar e reorganizar, escolhendo o melhor dos cenários disponíveis. Evitar a ocorrência de erros, retrabalhos, ineficiências, atrasos nos prazos de entrega, perda de margem ou de qualidade implica: • automatizar processos para aumento da produtividade; • disponibilizar dados fidedignos e em tempo real, para uma tomada de decisão rápida e eficiente a todos os níveis e stakeholders; • otimizar a cadeia de abastecimento, para minimizar os custos de fabrico e de armazenamento tendo em conta tempos de receção e ruturas de stock; • ter uma visão global dos fluxos de trabalho, de precedências e dependências para suportar o processo de planeamento, programação e controlo da produção; • ganhar disponibilidade de tempo, que deverá ser redirecionado para processos que exijam envolvimento humano e pensamento crítico, de forma a promover a melhoria contínua e diferenciação no mercado.
Na indústria de moldes, existem dois critérios de otimização principais:
QUAIS OS BENEFÍCIOS DAS TECNOLOGIAS 4.0 NO PLANEAMENTO E GESTÃO DE RECURSOS DE PRODUÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES? Mais do que nunca, as cadeias de valor dos diferentes intervenientes estão interligadas e a adoção das tecnologias 4.0 na indústria de moldes trará vantagens competitivas, no que diz respeito à eficiência da globalidade do processo produtivo e à capacidade de resposta à informação real e disponível. Em concreto, numa empresa de moldes coexistem diversos recursos com interação conjunta, nomeadamente: matérias-primas, recursos humanos de diferentes qualificações, subcontratações, máquinas convencionais e máquinas CNC, podendo cada um seguir horários e calendários diferentes de disponibilidade. Assim, torna-se imperativo que um sistema de planeamento possa analisar estas disponibilidades e, de acordo com determinados parâmetros, possa otimizar esses recursos ao longo do ano. No que respeita ao planeamento, podemos considerar dois tipos: 1) sequenciadores; 2) planificadores automáticos. No primeiro caso, o planeamento é efetuado através de uma sequência de operações, validando as respetivas precedências sem considerar critérios de otimização. Na segunda opção, temos um algoritmo que procura, entre todas as combinações de recursos, otimizar determinados critérios. Uma vez que a indústria de moldes trabalha por projeto, existe a necessidade de uma visão do planeamento a longo prazo - que podemos chamar de “macroplaneamento” – e, igualmente, de uma capacidade de ajuste diário e por secção desse mesmo planeamento - o denominado “microplaneamento”.
1) o cumprimento do prazo de entrega do molde; 2) a maximização da utilização dos recursos no tempo que cada um tem disponível. Desta forma, o algoritmo terá a capacidade de encontrar a melhor sequência de produção e de compra de cada componente do molde, a fim de respeitar esses critérios.
/ / Imagem 1: Carga e disponibilidade dos recursos planeados.
No microplaneamento, podemos efetuar alterações à sequência proposta, para respeitar eventuais e inesperadas alterações que coloquem em causa a capacidade de cada secção da empresa. Nesse sentido, o sistema de microplaneamento permite a flexibilidade exigida à indústria de moldes em particular – e, no geral, a qualquer indústria que tenha um modelo de produção por projeto. Sendo o microplaneamento um sistema interativo e gerido pelos responsáveis de cada secção, este requer uma visão mais próxima do planeamento de componente individual, contrastado com o seu prazo planeado de entrega e a carga dessa secção, para que a decisão de alteração seja tomada com toda a informação sobre o impacto que ela poderá ter na entrega final do molde. Assim, para que seja possível dar resposta a todas estas necessidades e suportar o planeamento da indústria de moldes, o sistema informático deverá reunir determinados requisitos específicos. Em primeiro lugar, o sistema informático tem de ter a capacidade de descrever os processos de fabrico e de compra de forma completa; e, além disso, permitir gerir tarefas de projeto, que integrem esses processos de fabrico e de compra, em atividades sincronizadas e bem geridas. Com a descrição desses processos de fabrico e com os dados relativos aos recursos, calendários e ferramentas, o sistema deverá ser capaz de planear de forma automática as tarefas inerentes a cada elemento do molde, a partir da data de entrega teórica.
Nesse sentido, podemos dizer que a indústria de moldes necessita de aplicar, simultaneamente, os dois tipos de planeamento acima indicados: o sequenciador e o planificador automático. Vamos agora analisar alguns aspetos das duas opções de planeamento. No macroplaneamento, temos de considerar que existe um algoritmo que irá processar a informação e, para isso, além dos inputs - nomeadamente: os materiais a adquirir, os recursos e sua
/ / Imagem 2: Visualização e alteração no microplaneamento.
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Para estabelecer cada uma das datas de entrega teóricas, esta tecnologia tem de ter a capacidade de criar “cenários” a partir da carga existente de encomendas e estimar, com alguma precisão, a data de entrega da nova encomenda - servindo essa data para alimentar o planeamento com a nova encomenda. O conceito de “cenários” é também uma ferramenta importante de apoio à fase de orçamentação, pois irá estimar uma data de entrega aproximada, considerando a carga já contratada de produção. A partir da informação introduzida, o sistema está preparado para efetuar o chamado “macroplaneamento” e irá otimizar os recursos, considerando todas as condições indicadas à partida, nomeadamente: calendários, subcontratações, tempos de preparação e execução, agrupamento de componentes que podem ser realizados numa única operação (por exemplo: a fresagem de elétrodos para diversos moldes), ferramentas, compras. Neste processo de macroplaneamento, o sistema terá de atender a operações que apenas necessitam de recursos humanos para a sua preparação, podendo depois trabalhar de forma autónoma durante a noite e fins de semana. A partir da distribuição do resultado do macroplaneamento pelas diversas secções, entramos no que chamamos “microplaneamento”, ou seja, no ajuste do planeamento geral às condições específicas, no tempo, para cada secção. Desta forma, as alterações efetuadas nas secções irão criar uma nova priorização do planeamento, que, ao ser novamente calculado, irá responder com as novas condições indicadas e gerar, assim, um novo macroplaneamento.
CONCLUSÕES FINAIS Como podemos concluir, a indústria de moldes, pelas suas características inerentes, apresenta uma complexa gestão global do seu processo produtivo: um molde pode envolver centenas de componentes, o que, por sua vez, exige a gestão e o planeamento de algumas centenas de milhares de operações, com mais de uma centena de equipamentos e de qualificações de recursos humanos; além do mais, uma unidade produtiva opera vários moldes em simultâneo. Por esse motivo, só um sistema dotado de ferramentas avançadas de gestão de projetos será capaz de dar resposta às elevadas exigências de eficiência, permitindo planear a curto e longo prazo e de forma flexível – o que, por sua vez, se traduz em benefícios: • poupança de tempo no cálculo de ordens de fabrico, compras e subcontratação; • gestão eficiente de recursos e disponibilidades, otimização das máquinas e redução das paragens; • avaliação de cenários e análise dos impactos face a novas encomendas, alterações de datas de entrega ou do fluxo de produção; • apoio nas decisões estratégicas sobre quando subcontratar. Ou seja, a tecnologia adotada deverá reunir as funcionalidades específicas para o sector industrial e responder de forma particular e com a máxima eficiência às necessidades e requisitos específicos da indústria de moldes altamente complexa. E só assim será possível para as empresas da indústria de moldes competir, destacar-se e alcançar os lugares cimeiros neste mercado desafiante, mas pleno de oportunidades! Como exemplo de algumas técnicas e processos de planeamento avançado, aceda ao seguinte link/ QR Code: https://bit.ly/2X8S3zW
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AUMENTO DE PRODUTIVIDADE NA MOLDAGEM POR INJEÇÃO PLÁSTICA USANDO AÇOS DE FERRAMENTA DE ALTA CONDUTIVIDADE TÉRMICA Rovalma S.A.; Metalcobre LDA
Nos processos de moldagem por injeção plástica, os aços de ferramenta convencionais de trabalho quente, como 1.2343/H11 (DIN/AISI) e 1.2344/H13 (DIN/AISI) têm sido geralmente usados devido às suas boas propriedades a alta temperatura, especialmente a resistência mecânica, a resistência à fadiga e a estabilidade dimensional, para garantir um tempo de vida útil do molde aceitável. No entanto, a condutibilidade térmica desses aços de ferramenta é baixa, geralmente entre 25-27 W/m·K. Por outro lado, tipos de aços de ferramenta pré-tratados, como 1.2738/P20 (DIN/AISI) ou 1.2311 (DIN), apresentam condutibilidades térmicas ligeiramente mais elevadas, entre 30-35 W/m·K. Contudo, o seu uso é limitado a moldes com baixas solicitações e exigências, pois estes materiais não podem ser usados em processos que requerem maior resistência mecânica ou à abrasão. O processo de injeção de um plástico envolve a transferência de calor do material fundido injetado para o molde, e através do material do molde para o meio de arrefecimento, a fim de solidificar e moldar a peça. O tempo de ciclo final é, portanto, determinado pela eficiência da transferência de calor do plástico fundido para o meio de arrefecimento e, consequentemente, a taxa de transferência de calor do plástico para os canais de arrefecimento é limitada pelas propriedades térmicas e pela condutibilidade térmica do material do molde. Os nossos aços de ferramenta de alto desempenho apresentam níveis de condutibilidade térmica de até 62W/m·K e cobrem a faixa típica de dureza de trabalho entre 32-54 HRc. Os aços de ferramenta de alta condutibilidade térmica são amplamente utilizados em aplicações de moldes para injeção de plásticos (MIP), resultando numa excelente melhoria da qualidade das peças plásticas (em termos de pontos quentes, linhas de fluxo, empenos, etc), produtividade do processo (melhoria na estabilidade da produção e redução do tempo de ciclo) e reduzindo rejeições, permitindo assim diminuir os custos efetivo do processo, e desta forma, o custo por peça produzida.
Este artigo trata de novos desenvolvimentos nas categorias de aços de alta condutibilidade, que foram ainda mais otimizados em termos de tratamentos de endurecimento, a fim de fornecer vantagens adicionais nos custos de MIP.
INTRODUÇÃO A diminuição do tempo de arrefecimento nas aplicações de moldagem por injeção é crucial para reduzir o tempo de ciclo total. A fase de arrefecimento ocupa a maioria do tempo de ciclo quando comparada com outras fases do processo de injeção e tem grande potêncial para o aumento da produtividade. Nos moldes para injeção de plásticos, a quantidade de calor a ser removida após cada ciclo de injeção é quase a mesma. Consequentemente, o tempo necessário para remover esse calor do material plástico fundido depende da capacidade de transferência do aço usado para o fabrico do molde, para transferi-lo do plástico fundido para o refrigerante. [1]. A Tabela 1 apresenta uma comparação em termos de propriedades de aços de ferramenta, comparando os graus dos nossos aços com os aços convencionais. Neste artigo, vários moldes de injeção plástica para a indústria automóvel e para a indústria de bens de consumo, foram produzidos com os nossos aços de alta condutibilidade térmica, tendo sido analisados e comparados com os aços de ferramenta convencionais em termos de redução do tempo de ciclo e qualidade das peças. Fatores como a geometria do molde e, se o plástico injetado é reforçado, devem ser tidos em conta para cada caso. Para os moldes produzidos com os nossos aços de alto desempenho, além de alcançarem reduções no tempo de arrefecimento, também foram melhorados parâmetros de qualidade como pontos quentes e empenos. O trabalho experimental tem sido realizado em cooperação com vários parceiros do setor.
COMPARAÇÃO Uma máquina de injeção de plástico pode produzir milhares de peças por dia, pelo que uma pequena melhoria no custo por peça produzida
/ / Tabela 1: Comparação das qualidades FASTCOOL® pré-tratado para aplicações em MIP vs 1.2738/P20 (DIN/AISI).
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/ / Tabela 2: Comparação de graus de têmpera e revenido, ou envelhecimento HTCS® / FASTCOOL® para aplicações em MIP vs. 1.2343 (DIN) 2 - A + R: Austenização a alta temperatura, arrefecimento e revenido. 3 - Envelhecimento: endurecimento por precipitação estrutural
pode ter um impacto significativo na rentabilidade da produção. Essas melhorias dependem de muitos fatores como design, custo de fabricação, custo de mão-de-obra, capacidade de máquina, etc. Esses fatores devem ser cuidadosamente considerados para se fazerem estimativas precisas.
prever a melhoria. As previsões de simulação foram atendidas ou mesmo superadas pelos testes industriais reais, podendo este aumento estar relacionado com a condutibilidade da interface entre aço e plástico, que geralmente não é considerada nos programas de simulação.
Embora a condutibilidade térmica dos nossos aços de alto desempenho exceda em muito a dos aços convencionais, os custos de fabricação de moldes relativos à maquinação de cavidades, postiços e elementos móveis, mostraram-se semelhantes ou até menores em comparação com os aços convencionais. Com base em muitos anos de experiência e conhecimento acumulado sobre o uso de aços de ferramenta na indústria de injeção plástica, a Rovalma desenvolveu um modelo para estimar os custos de moldagem por injeção de um determinado processo. A Tabela 3 apresenta diversos estudos de casos que mostram a eficiência dos aços de ferramenta de alta condutibilidade térmica em aplicações de MIP, resultando num acréscimo de produtividade de mais de 20% combinado com a melhoria da qualidade nas peças produzidas. Além disso, pontos quentes, linhas de fluxo, defeitos de empenos, foram reduzidos ou até mesmo totalmente eliminados.
Além disso, os aços de ferramenta de alta condutibilidade térmica permitiram alcançar um ponto de break-even de menos 15 a 40 mil peças produzidas, traduzindo-se num enorme impacto económico para séries de produção em massa em termos de economia e disponibilidade de máquinas de injeção. Além disso, é bem conhecido [2][3] que o tempo de arrefecimento e a homogeneidade térmica têm uma profunda influência na eliminação de empenos e pontos quentes, o que torna extremamente importante a homogenização da temperatura do molde e a taxa de arrefecimento através do aumento da condutibilidade térmica dos materiais em contato com a peça.
RESULTADOS E DISCUSSÃO A estratégia para todos os moldes foi substituir todas as peças de molde em contato com a parte plástica produzida, ou seja, cavidade, bucha, elementos móveis, por aços de alta condutibilidade térmica. Ambos os moldes de condutibilidade térmica convencional e os de alta condutibilidade, foram construídos utilizando o mesmo desenho de canais de refrigeração e foram previamente analisados usando programas de simulação CAE, como Moldflow e Moldex 3D para
REFERÊNCIAS [1] K. Prashanth Reddy and B. Panitapu, “High thermal conductivity mould insert materials for cooling time reduction in thermoplastic injection moulds,” Mater. Today Proc., vol. 4, no. 2, pp. 519– 526, Jan. 2017. [2] Sánchez, J. Aisa, A. Martinez, and D. Mercado, “On the relationship between cooling setup and warpage in injection molding,” Measurement, vol. 45, no. 5, pp. 1051–1056, Jun. 2012. [3] P. F. Jacobs, New frontiers in mold construction: High conductivity materials & conformal cooling channels, vol. 11. 2000.
/ / tabela 3: moldes para aplicações mip mostrando redução no tempo de ciclo e impacto económico.
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CIBERSEGURANÇA – PARA UMA NAVEGAÇÃO SEGURA NO CIBERESPAÇO 78
Brigada de Combate à Criminalidade Informática da Polícia Judiciária (PJ) de Leiria
BITCOIN – A MAIS-VALIA DIGITAL CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS Toda a bibliografia consultada para a elaboração da presente rubrica, está referenciada no final. As opiniões veiculadas são a perspetiva pessoal do autor e da sua exclusiva responsabilidade. Esta rubrica destina-se sobretudo a leigos no conceito de bitcoin, pelo que por vezes, o rigor técnico irá ser sacrificado, em prol da clareza da mensagem.
CRIAÇÃO A bitcoin foi criada em 31/01/2009 (primeira bitcoin minerada) por uma pessoa ou grupo de pessoas cuja identidade é desconhecida. O único elemento do conhecimento público, é o nickname, ou nome de utilizador na internet, com que assinou: Satoshi Nakamoto. Atualmente existem vários candidatos ao título de criador da bitcoin, mas (opinião do autor) o criador de um conceito tão elaborado com certeza terá tomado medidas para que, se alguma vez a sua identidade for revelada, não deixar margem para dúvidas.
O QUE É? Uma bitcoin não é nada mais nem nada menos, do que um ficheiro digital, semelhante ao da Figura 1.
Se pesquisarmos na internet por bitcoin, as respostas surgem sempre associadas a um logotipo semelhante a uma moeda. Esta representação, induz o público em erro sobre a verdadeira natureza desta mais-valia digital, na medida em que é representada como se fosse moeda e é, repete-se, um ficheiro digital.
É UMA MOEDA? A bitcoin, nesta rubrica, é descrita como uma mais-valia digital e não como uma moeda, uma vez que se trata de um ficheiro digital, sem valor intrínseco.
CRIAÇÃO DE BITCOINS. A criação de uma bitcoin, resulta da resolução de um problema matemático extremamente complexo (criptográfico) e cujo algoritmo é público. De uma forma bastante simplista, para gerar uma bitcoin é necessário usar o resultado da operação que gerou a bitcoin anterior e aplicar-lhe o algoritmo, novamente. Este processo, além de evitar que sejam criadas bitcoins à revelia do sistema, ou a respetiva duplicação, torna a obtenção da próxima bitcoin cada vez mais difícil e morosa. Para exemplificar, vai recorrer-se à analogia com um problema matemático bastante mais simples: a multiplicação por dois. Imaginemos que para obter uma bitcoin, seria necessário multiplicar por dois o resultado da multiplicação anterior, mas que não seria permitido usar calculadora, ou seja, as contas teriam que ser feitas à mão: No início seria simples, considerando a multiplicação por dois: 2x1=2 – uma bitcoin 2x2=4 – uma bitcoin 2x3=6 – uma bitcoin Mas, quando se chegasse por exemplo a: 2x 1237940039285380274899124224= A obtenção da próxima bitcoin iria requerer muito mais tempo, concentração e capacidade de cálculo. Numa escala diferente, é o que acontece com a mineração de bitcoins. O resultado da operação anterior (última bitcoin) já é tão “grande” que são necessários cada vez mais recursos de computação para conseguir efetuar a resolução do problema seguinte, com sucesso.
/ / Figura 1 - Ficheiro blk.dat. Meramente exemplificativo.
TECHNOLOGY /
Além disso, é necessário ter outro aspeto em consideração na mineração de bitcoins: Estimemos que está um milhão de máquinas, de outras tantas pessoas diferentes, a trabalhar separadamente, durante uma semana, para tentar obter a próxima bitcoin. Passado algum tempo, uma das máquinas é bem-sucedida. Gera a próxima bitcoin. Como resultado, todas as outras máquinas, vão parar a mineração, “deitar fora” todos os cálculos efetuados e reiniciar, com o resultado dessa última bitcoin, todo o processo de mineração. É perdido, além do tempo despendido, todo o investimento em eletricidade, recursos de computação, etc. Daí a necessidade de ser o mais rápido a gerar a bitcoin: Não há prémio para o segundo classificado!!!
TEM VALOR? Sendo um simples ficheiro digital que representa a resolução de um problema matemático complexo (criptográfico), a bitcoin na realidade tem valor! Tem o valor que lhe é atribuído por quem está disposto a pagar para ter um, ou um conjunto desses ficheiros. Da mesma forma que um metal precioso, uma pintura famosa ou determinada peça de coleção, só têm valor, porque existem pessoas dispostas a pagar determinada quantia para os obter. Como curiosidade: a obra de arte ‘Everydays: The First 5000 Days’ foi vendida em leilão pela quantia de 69,3 milhões de dólares. Trata-se de uma obra de arte digital, logo só tem existência virtual. É um ficheiro de imagem com a extensão .jpeg, representado na Figura 2.
/ / Figura 2 – Everydays: The First 5000 Days.
Esta obra é certificada digitalmente. É garantida a sua autenticidade bem como a quem pertence.
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A TECNOLOGIA BLOCKCHAIN
BITCOIN E NEGÓCIOS ILÍCITOS
A blockchain é uma rede informática descentralizada, constituída por todos os computadores que participam no sistema bitcoin, que permite a autenticação das transações de bitcoin’s e impede a respetiva falsificação.
Antes do aparecimento da bitcoin já se realizavam negócios ilícitos!
Possui uma base de dados distribuída, continuamente atualizada e que não está dependente de nenhum organismo ou instituição. É pública e o facto de não estar centralizada numa localização, torna-a imune a ataques com sucesso. Nesta base de dados, é guardada toda a informação relacionada com a propriedade e as transações da bitcoin. Assim, quem desejar fazer uma transação de bitcoins usa a blockchain para atestar a sua autenticidade, de uma forma rápida, segura, sem a intervenção de terceiros e, sobretudo, gratuita. Após a transação concluída, a respetiva informação passa a fazer parte da blockchain. De salientar que a tecnologia blockchain pode e é usada para autenticar qualquer tipo de produto, inclusive produtos agrícolas. É possível seguir determinado produto agrícola até à sua proveniência: www.pcguia.pt/2021/11/querida-pus-os-tomates-na-blockchainou-como-o-auchan-usa-tecnologia-para-garantir-a-autenticidadedos-frescos/ Na prática, é possível validar transações na blockchain de dez em dez minutos. Cada utilizador possui uma chave de segurança, única e intransmissível, que lhe permite autenticar-se, manter em segurança a sua carteira de bitcoins, também denominada por wallet e por outro lado manter o anonimato.
WALLETS As bitcoins podem ser guardadas em wallets. São repositórios digitais, apropriados para guardarem com segurança as mais-valias digitais. São protegidos por uma chave de segurança, pessoal e intransmissível, designada por chave privada.
Mas, de facto, com a anonimização que a blockchain permite e a rapidez associada a transações digitais, torna-se bastante mais difícil seguir o rasto de transações ilícitas praticadas através deste meio do que através dos circuitos bancários. Um dos aspetos a ter em consideração quando se analisa a prática de ilícitos com recurso a bitcoins, é que o algoritmo que as gera não permite a criação de mais de vinte e um milhões de bitcoins, o que à partida os torna insuficientes para representar uma ameaça de ordem financeira, aliado ao facto do tempo de mineração estar a crescer exponencialmente.
INVESTIR EM BITCOINS? Não é o propósito desta rubrica aconselhar ou desaconselhar o investimento em mais-valias digitais. Fica, no entanto, o conselho: Se não é um utilizador avançado de tecnologias de informação, NÃO TENTE, pois caso o faça, tendo em consideração a sofisticação dos esquemas de burlas e dos ataques a este tipo de negócio, acabará inevitavelmente por ter necessidade de recorrer aos nossos serviços.
NOTAS FINAIS Fica uma abordagem, muito superficial, ao conceito de mais-valia digital e ao seu modo de funcionamento. Para as empresas: Os conceitos de mais-valia digital e de blockchain são geniais e vieram para ficar! É de todo recomendável senão participar neste tipo de negócio, pelo menos começar a obter conhecimentos e ministrar formação na área, acompanhada da preparação das infraestruturas de cada empresa, em TI’s, para este tipo de futuro.
BIBIOGRAFIA
O acesso à wallet é feito com um par de chaves: é cifrada com uma chave pública e só pode ser decifrada com a respetiva chave privada. O acesso ao respetivo conteúdo só é possível após esta decifragem.
learnmeabitcoin.com/technical/blkdat
Como as chaves descritas são constituídas com algoritmos de forte encriptação, na prática irreversíveis, a perda da chave privada inviabiliza o acesso ao conteúdo da wallet, que pode ser considerado perdido.
www.pcguia.pt/2021/11/querida-pus-os-tomates-na-blockchain-ou-como-oauchan-usa-tecnologia-para-garantir-a-autenticidade-dos-frescos/
eco.sapo.pt/2021/03/28/uma-imagem-de-computador-por-70-milhoes-saibao-que-sao-os-nft/ pplware.sapo.pt/software/blockchain-mudar-o-mundo/
pplware.sapo.pt/informacao/bitcoin-uma-breve-historia-do-nascimento-dacriptomoeda/ www.supplychainmagazine.pt/2022/02/16/o-blockchain-a-logistica-e-asempresas-portuguesas/
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NEGÓCIOS
ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS
O FINANCIAMENTO DE INICIATIVA SUSTENTÁVEIS, UMA BREVE ABORDAGEM
COMPETITIVIDADE E CIBERSEGURANÇA NA INDÚSTRIA
REVISTA MOLDE CEFAMOL
BUSINESS /
O FINANCIAMENTO DE INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS, UMA BREVE ABORDAGEM Liliana Ramos *, Ana Pires * * CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes Ferramentas Especiais e Plásticos
Presente em todos os sistemas de apoio, desde o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), ao Portugal 2030, passando também pelo Horizonte Europa e pelo próprio financiamento bancário, o tema da sustentabilidade empresarial surge como urgente e incontornável para todas as organizações empresariais no sentido de se adaptarem e não perderem as oportunidades de apoio para fazerem este caminho. Presente no PRR, em particular no seu alinhamento com os objetivos da Resiliência e da Transição Climática, as empresas estão também confrontadas com novos desafios ligados ao tema da transição dupla, verde e digital, nos programas Horizonte Europa que a Comissão Europeia lançou, assim como de forma mais alargada com o tema da sustentabilidade, nos três vértices ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) que surge como oportunidade adicional para aceder a financiamento bancário e de investidores. Assim, é urgente que todas as organizações adaptem de forma espontânea,
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estruturada e atempada as suas práticas sociais, ambientais e de governança. As pressões para o fazerem surgem de diferentes de diversos quadrantes: investidores, consumidores, legislação regulatória e taxonomia, assim pela atratividade do emprego e captação/ retenção de talentos/ colaboradores.
/ / Fig. 1. Estratégia para a sustentabilidade nas organizações.
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A SUSTENTABILIDADE PODE SER UMA ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO? Um estudo realizado na Harvard Business School sobre a sustentabilidade como forma de diferenciação estratégica, com base no desempenho performance de 3 802 empresas, concluiu que, ao longo do tempo, a adoção de práticas sustentáveis melhora o desempenho financeiro da empresa. Os resultados da investigação mostraram que, quando a empresa possui uma verdadeira estratégia assente em práticas sustentáveis, consegue obter retorno de capital e multiplica o seu valor de mercado (Caixa Geral de Depósitos, 2022). Ainda recentemente, a Deloitte publicou um inquérito sobre as atitudes do consumidor face à sustentabilidade ética e ambiental em 2021 em que as principais conclusões evidenciaram que as empresas precisam de planear formas de tornar os seus produtos mais sustentáveis e construir essa responsabilidade ao longo de sua cadeia de valor (Deloitte, 2022): - A sustentabilidade continuou a ser fundamental para os consumidores em 2021, com 32% dos consumidores altamente motivados para a adoção de um estilo de vida mais sustentável; - 28% dos consumidores pararam de adquirir determinado tipo de produto devido a preocupações éticas ou ambientais - A Geração Z está a adotar comportamentos mais sustentáveis do que qualquer outro grupo: 50% reduziram quantidades adquiridas, 45% pararam de comprar determinadas marcas por questões éticas ou de sustentabilidade; - As cinco práticas mais sustentáveis que os consumidores mais valorizam incluem: a redução de resíduos, redução da pegada de carbono, fornecimento de embalagens sustentáveis, comprometimento com praticas de ética no trabalho e respeito pelos direitos humanos.
PORQUE SE TORNA CADA VEZ MAIS PREMENTE INCLUIR A SUSTENTABILIDADE NAS EMPRESAS? O Enquadramento Europeu: O objetivo da Comissão Europeia é tornar se o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050, neste sentido existem um conjunto de documentos que visam definir políticas, estratégias e metas a atingir, nomeadamente: - O Pacto Ecológico Europeu (ou Green Deal): ambicioso pacote de medidas que prevê desde a redução de emissões de gases com efeito de estufa ao investimento em investigação e inovação de ponta e até à preservação do ambiente natural da Europa. Este Pacto é apresentado como o catalisador para a retoma da economia europeia após a crise causada pela pandemia Covid-19, onde, de acordo com Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, garantiu que cada euro gasto nas medidas de recuperação económica pós-Covid 19 estará diretamente ligado com a transição verde e digital já em curso na União Europeia“ (Silva, 2020). Dentro do Pacto Ecológico Europeu importa destacar (Comissão Europeia, 2022): - A Lei Europeia do Clima: que consagra no direito da União Europeia o objetivo de neutralidade climática para 2050; - O Pacto Europeu para o Clima, que visa envolver os cidadãos e todos os sectores da sociedade na ação climática; - O Plano para atingir a Meta Climática fixada para 2030, que visa reduzir ainda mais as emissões líquidas de gases com efeito de estufa em pelo menos 55% até 2030.
A nível nacional são de destacar: - O Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal (2017): define uma estratégia nacional para a economia circular, através do plano “Liderar a Transição – Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal (PAEC)”, aplicado no período de 2017-2020. Em março de 2020, a CE adotou o “Novo Plano de Ação para a Economia Circular, que constitui um dos principais alicerces do Pacto Ecológico Europeu, o novo roteiro da Europa para o crescimento sustentável. A atualização do PAEC ainda não foi concretizada, mas prevê-se que em breve haja novidades neste sentido; - O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050: define uma estratégia de longo prazo para a neutralidade carbónica da economia portuguesa em 2050; - Plano Nacional de Energia e Clima 2030: surge como instrumento de política nacional decisivo para a definição das linhas estratégicas para a próxima década rumo à neutralidade carbónica, está alinhado com as visões definidas no RNC 2050; - Estratégia Nacional para o Hidrogénio 2030: definição de uma estratégia para a promoção de uma política industrial em torno de hidrogénio e gases renováveis, que se baseia na definição de um conjunto de políticas públicas que orientam, coordenam e mobilizam investimentos públicos e privados em projetos nas áreas de produção, armazenamento, transporte e consumo de gases renováveis em Portugal; - Agenda 2030: Aborda as três dimensões do desenvolvimento sustentável (económica, social e ambiental) de forma interligada e decorre da Cimeira das Nações Unidas em Nova Iorque, de 2015, onde foram aprovados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vigoram para o período 2015-2030. Portugal encontra-se plenamente empenhado na implementação dos ODS tanto no plano interno, como no plano externo. E ainda a nível regional: - Agenda Regional de Economia Circular (2019): que procura enquadrar o potencial de desenvolvimento de ações e projetos para o desenvolvimento da Economia Circular na região Centro ; - Pacto Institucional para a Valorização da Economia Circular no Centro 2020: com subscrição aberta e voluntária, o Pacto pretende estimular a adoção de compromissos sobre práticas circulares na Região Centro por parte das entidades que o subscrevem; O objetivo da Comissão da EU é redirecionar futuros investimentos para atividades económicas ecologicamente sustentáveis e evitar a “lavagem verde”. Existe assim uma preocupação em classificar quais as atividades económicas que podem ser classificadas como sustentáveis e assim obter acesso a um financiamento sustentável. As empresas de diversos sectores industriais têm vantagens em demonstrar que os seus produtos e ou tecnologias contribuem para a sustentabilidade por terem reduzidas emissões de gases de feito de estufa, uso mais eficiente dos recursos, menos substâncias perigosas, em comparação com a melhor alternativa de mercado. Para demonstrar a sustentabilidade do produto ou das tecnologias podem ser utilizadas diversas metodologias. No caso das emissões de gases com efeito de estufa pode ser elaborada a avaliação da pegada do carbono, para a qual existem diversas normas publicadas, como a GHG Protocol. Para uma avaliação mais completa de diversos impactos ambientais, onde se inclui a pegada do carbono, poder-se-á recorrer à avaliação de ciclo de vida (ACV) através das normas ISO
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14040/44 que permite compreender quais são as etapas do ciclo de vida do produto com potencial de causar mais impactos ambientais, e assim atuar de forma eficaz na sua redução. O resultado da ACV pode ser utilizado para obter certificações ambientais, como a declaração ambiental do produto ou a pegada ambiental do produto, onde a ACV é desenvolvida recorrendo a regras específicas consoante o tipo de produto em estudo. A título de exemplo, a Volvo Construction Equipment que já enveredou por este caminho, como se mostra na Fig. 2 as emissões atmosféricas resultantes do fabrico do veículo.
financeiras e a bolsa portuguesa, associações de bancos, seguradores, emitentes e fundos, o Ministério do Ambiente e da Transição Energética, o Ministério da Economia e o Ministério das Finanças. Os compromissos definidos na carta são diferentes consoante a tipologia do signatário, sendo os compromissos dos bancos os seguintes (Grupo de Reflexão para o Financiamento Sustentável, 2019): • Promover o debate sobre a sustentabilidade e sobre os riscos e as oportunidades ambientais, sociais e de governação e considerar esses riscos e oportunidades na definição de estratégias; • Integrar critérios ambientais, sociais e de governação nas análises de financiamento e investimento; • Acompanhar a revisão dos critérios da PME Líder e da PME Excelência, para que possam integrar os temas da sustentabilidade; • Promover formação interna em financiamento sustentável; • Participar nos trabalhos do Grupo de Reflexão para o Financiamento Sustentável.
/ / Fig. 2. Dados de emissões atmosféricas presentes na declaração ambiental do produto de veículo da Volvo Trucks. Fonte: Volvo (2022).
O FINANCIAMENTO SUSTENTÁVEL O Estado vai ter um papel cada vez mais ativo na definição e na adaptação do sistema regulatório, fiscal e de incentivos, facilitando a transição para um novo modelo de crescimento económico pautado pelo investimento em projetos e atividades sustentáveis. Também o sector financeiro está a incorporar nas suas políticas de investimento e na oferta de novos produtos financeiros, os incentivos adequados ao objetivo de atingir uma economia neutra em carbono em 2050, de modo que o sector privado consiga aceder ao financiamento necessário à realização de investimentos e aquisições para uma sociedade tendencialmente descarbonizada. Como a banca está a avaliar o acesso a financiamento sustentável? O que significa ESG? ESG é uma sigla que significa Environmental, Social and Corporate Governance (Ambiente, Social e Governança Empresarial) e que, no mercado financeiro, sintetiza uma série de critérios de conduta que devem ser adotados pelas empresas para atraírem investidores socialmente conscientes. Através destes três indicadores é possível verificar se a empresa é saudável, lucrativa financeiramente e consciente a nível social e ambiental:
Esta Carta de Compromisso é complementada pelo documento “Linhas de Orientação para acelerar o Financiamento Sustentável em Portugal”, onde os indicadores ESG são propostos como critérios para serem englobados na avaliação de PME Líder e PME Excelência, podendo ser criada a categoria de PME Verde ou PME sustentável. Os Incentivos / Fundos Europeus 2021-2029 Os fundos europeus são instrumentos de financiamento aprovados por legislação da União Europeia que suportam ações europeias, nacionais, regionais, locais e até internacionais, para atingir objetivos de desenvolvimento, e neste período, destacamos que Portugal garantiu cerca de 49 mil milhões de euros em subvenções (subsídios a fundo perdido) provenientes do PRR (batizado de “bazuca”) e do quadro financeiro plurianual (QFP). Em 2022, de destacar a sobreposição de três programa: o PT 2020 em fase final, e o PRR e o QFP a iniciar (Fig. 3). Ao nível de financiamento europeu existe o Horizonte Europa, com um orçamento de cerca de 95 mil milhões de euros para atividades de investigação e inovação no período 20212027 em toda a Europa.
• Indicadores Ambientais: indicam o comportamento da empresa em relação aos problemas ambientais como mudanças climáticas, esgotamento de recursos, tratamento de resíduos e poluição. • Indicadores Sociais: indicam como a empresa gere o relacionamento com os seus colaboradores, fornecedores, clientes e comunidade em que se insere e inclui questões de saúde e segurança. • Indicadores de Governança: referem-se a políticas empresariais e de governança empregues, e inclui estratégia tributária, remunerações, liderança da empresa, direitos dos sócios e acionistas, e aspeto estruturais ou de corrupção. Em Portugal, foi assinada a Carta de Compromisso para o Financiamento Sustentável em Portugal, sendo os signatários os principais bancos a operar em Portugal, reguladores, instituições
/ / Fig. 3. Financiamento das medidas de investimento económico e social no período 2021-2029. Fonte: Ministério do Planeamento (2021).
No caso do PRR, a temática da sustentabilidade empresarial é tema recorrente na Componente 5 e 11. Os avisos de concursos iniciaram em 2021 e estão previstos mais avisos ainda em 2022. A tipologia de medidas a serem financiadas encontram-se na Fig. 4. No caso do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, os avisos de concursos para empresas deverão iniciar no 2º semestre
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europeia. Do total do orçamento do Horizonte Europa, 53,5 % é direcionado para suportar o pilar II, 25,0 % suporta o pilar I, 13,6 % financia o pilar III, sendo que o restante financia a European Research Area e o Next Generation Europe (Comissão Europeia, 2021).
CONCLUSÃO
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/ / Fig. 4. As Componentes 5 e 11 do PRR. Fonte: Ministério do Planeamento (2021).
2022, sendo de destacar a necessidade de enquadramento das estratégias empresariais na respetivas Estratégias Regionais de Especialização Inteligente (EREI), a título de exemplo apresenta-se esquematicamente a EREI do Centro, na Fig.5. A EREI do Centro divide-se em plataformas de inovação, domínios diferenciadores e desafios globais. As plataformas de inovação têm por objetivo direcionar a definição das agendas transformadoras. Para que aa agendas transformadoras sejam concretizadas, é necessário elaborar as linhas de ação, que se encontram sob a forma de domínios diferenciadores. Estes domínios refletem as áreas da região nas quais existe capacidade produtiva instalada e/ou conhecimento científico e tecnológico. Já os desafios globais são a justificação de todo o EREI – promover a transição da Região para responder aos desafios da transição verde, digital e social.
Os conceitos-chave presentes nos debates atuais ambiental, climático e da sustentabilidade empresarial percorrem todos os sectores da economia, economia circular, transição justa, descarbonização e não esquece os aspetos sociais da transição, a proteção da biodiversidade, os materiais alternativos, o combate a uma economia que mais do que produtiva, sendo linear é predatória, vivendo da extração de recursos naturais que são cada vez mais escassos sem pensar nos impactos negativos da sua lapidação e alavancam assim uma escalada vertiginosa dos preços e de sua disponibilidade. No entanto, e apesar da pandemia, já foram dados passos importantes nas áreas do investimento, na economia circular, na estratégia industrial e nos sistemas energéticos com impactos positivos na descarbonização da indústria. Foram definidas novas metas e meios para aumentar a ambição da União Europeia para 2030: reduzir em 55% as emissões de GEE em relação a 1990. As empresas terão assim de levar muito a sério a necessidade de reduzir as suas pegadas ecológicas e traçar estrategicamente o seu caminho para a sustentabilidade empresarial sob pena de se sujeitarem tardiamente a uma transição forçada imposta pela sociedade, pelo mercado e pelos reguladores. Importa assim identificarem e atuar sobre os riscos e oportunidades ESG na sua organização, estabelecer métricas e objetivos, monitorizar o desempenho e reportar o progresso. Tudo isto conscientes das inúmeras vantagens que consubstancia uma estratégia de sustentabilidade empresarial e o aproveitamento das oportunidades associadas às finanças sustentáveis, à transição verde e à transição digital.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: / / Fig. 5. Estratégia Regional de Especialização Inteligente do Centro - Quadro de sistematização. Fonte: CCDRCentro, 2020.
O programa “Horizonte Europa” é o nono programa-quadro europeu de investigação e inovação, sucedendo ao programa "Horizonte 2020" (2014-2020), e será o maior programa alguma vez realizado na Europa. O programa divide-se em três pilares: o pilar I é dedicado à ciência de excelência, o pilar II é focado nos desafios globais e na competitividade da indústria europeia e o pilar III dedicado à inovação
Caixa Geral de Depósitos. (2022). Como tornar o seu negócio sustentável a nível social e ambiental. Consultado em 20 de janeiro de 2022. Disponível em: https:// www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/negocios/Pages/negocio-sustentavel.aspx. Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRCentro) (2020). Estratégia regional de especialização inteligente do Centro – Revisão para o período 2021-2027. Consultado em 21 de janeiro de 2022. Disponível em: http://ris3.ccdrc.pt/index.php/ris3-documentacao/regional/revisao-da-ris3-docentro/viewdocument. Comissão Europeia. (2022). Pacto Ecológico Europeu. Consultado em: 20 de janeiro de 2022. Disponível em: disponível em https://ec.europa.eu/info/ strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal_pt. Comissão Europeia. (2021). Horizon Europe – Investing to shape our future. Consultado em 31 de janeiro de 2022. Disponível em: https://ec.europa.eu/info/ files/horizon-europe-investing-shape-our-future_en. Deloitte. (2022). Shifting sands: Are consumers still embracing sustainability? Consultado em 17 de Janeiro de 2022. Disponível em: https://www2.deloitte. com/uk/en/pages/consumer-business/articles/sustainable-consumer.html. Grupo de Reflexão para o Financiamento Sustentável. (2019). Carta de compromisso para o financiamento sustentável em Portugal. Consultado em 28 de janeiro de 2022. Disponível em: https://www.cmvm.pt/pt/Comunicados/ Comunicados/Documents/Carta_Compromissos.pdf. Ministério do Planeamento. (2021) PRR – Recuperar Portugal, construindo o futuro. Consultado em 21 de janeiro de 2022. Disponível em https:// recuperarportugal.gov.pt/wp-content/uploads/2021/10/PRR.pdf.
50% orçamento HE
/ / Fig. 6. Estrutura do Programa Horizonte Europa. Fonte: adaptado de Comissão Europeia (2021).
Silva, B. 2020. Não é um luxo”. Europa mantém aposta no Green Deal. Consultado em 31 de janeiro de 2022. Disponível em: https://eco.sapo.pt/2020/04/28/naoe-um-luxo-europa-mantem-aposta-no-green-deal/. Volvo. (2022). Environmental declaration – Volvo articulated haulers. Consultado em 20 de janeiro de 2022. Disponível em: https://www.volvoce.com/-/media/ volvoce/global/global-site/our-offer/brochures/environmental-productdeclarations/environmentaldeclaration_articulated_hauler_en_21_20051599_c. pdf?v=qHxHPw.
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COMPETITIVIDADE E CIBERSEGURANÇA NA INDÚSTRIA 88
Vítor Ferreira * * Diretor Executivo da Startup Leiria e docente do Politécnico de Leiria
Nos últimos anos, digitalização, indústria 4.0 e transformação digital, são termos que passaram a fazer parte do nosso léxico, por vezes até de forma exagerada, querendo designar o tudo e o nada. Apesar da sua prevalência e do seu carater de “buzz-word” todos sabemos que representam aquilo que vimos acontecer nos últimos anos – primeiro a digitalização do consumo e comércio (com a Amazon e Apple a liderarem esta vaga), a digitalização da sociedade (as redes sociais várias), a digitalização do conhecimento (da internet às intranets, bases de dados mais ou menos inteligentes), passando pela digitalização do escritório (dos ERP aos sistemas mais ou menos inteligentes de “business intelligence”, ao escritório digital da Microsoft) e finalmente à digitalização da indústria (com os CPS, IoT e integração de cadeias de valor). Esta revolução fez-nos mostrar que o petróleo do século XXI são os dados, e que a diminuição dos custos de transação permitiu a ascensão de empresas de triliões, bem como de negócios peer-topeer, como o Uber. Novas empresas como a Tesla mostraram que fazer carros é também controlar dados e tecnologia e os modelos de inteligência artificial estão hoje desde os chatbots, à otimização e manutenção preventiva das máquinas que usamos para produzir. Entre os vários problemas inesperados destas “revoluções”, como o domínio global das empresas americanas e chinesas, o desmoronar da privacidade, os problemas das economias de rede que geram negócios de “vencedor fica com tudo”, existem alguns que os nossos gestores e empresários não souberam, de todo, lidar. A natureza interconectada das operações orientadas pela indústria 4.0 e o ritmo da transformação digital significam que os ataques cibernéticos podem ter efeitos muito mais extensos do que nunca. É importante equilibrar o foco entre o cenário de ameaças externas e os riscos cibernéticos muito reais – e normalmente ignorados – criados por empresas que utilizam cada vez mais tecnologias inteligentes e conectadas para inovar, transformar, e tomar decisões de negócio. Poderá ser demasiado tarde, apenas pensar em como lidar com o risco cibernético apenas no final do processo estratégico. A cibersegurança deve tornar-se parte integrante da estratégia, design e operações, considerados desde o início de qualquer nova iniciativa conectada e orientada para a indústria 4.0. À medida que a adoção e a amplitude do uso de tecnologias conectadas aumentam, os riscos cibernéticos podem crescer e mudar, e provavelmente parecerão diferentes para cada estágio da cadeia de valor e para cada organização. Cada organização deve adaptar-se ao ecossistema industrial da maneira que melhor se adequa às suas necessidades. Não há uma correção simples ou um único produto ou “patch” que uma organização possa aplicar para lidar com os riscos e ameaças cibernéticos apresentados pela indústria 4.0 (longe vão os tempos de “basta instalar o antivírus”).
A amplitude dos riscos requer uma abordagem segura, vigilante e resiliente para entender os perigos e lidar com as ameaças: Seja seguro. Adote uma abordagem medida e baseada em risco para o que está protegido e como protegê-lo. A sua propriedade intelectual está segura? A sua cadeia de inputs/fornecimento ou ambiente TICE é vulnerável? Esteja vigilante. Monitore continuamente sistemas, redes, dispositivos, pessoal e o ambiente à procura de possíveis ameaças. A inteligência de ameaças em tempo real e a IA geralmente são necessárias para entender as ações prejudiciais e identificar rapidamente as ameaças nos vários novos dispositivos que estão constantemente a ser conectados (uma nova máquina, um novo telefone ou PC, um visitante, etc.). Seja resiliente. Um incidente pode acontecer. Como a organização responderia? Quanto tempo levaria para recuperar? Com que rapidez poderia remediar os efeitos de um incidente? À medida que a indústria se move para capturar o valor comercial que vem com a indústria 4.0, a necessidade de abordar o cenário de risco cibernético com uma resposta segura, vigilante e resiliente provavelmente nunca foi tão grande. A mentalidade de gastar centenas de milhares de euros numa máquina, mas ver o investimento em pessoas ou software como secundário, tem cada vez mais colocado as nossas empresas em desvantagem competitiva. Software, sistemas, pessoas, são essenciais no mundo moderno. Esses investimentos são cruciais para a competitividade. O salário de um programador, o salário de um responsável de cibersegurança, o custo de um software, são vistos como “gastos”. Mas a máquina, o armazém são “investimentos”. Ora, enquanto esta perspetiva continuar a posição das empresas nacionais continuarse-á a erodir. E será sempre mais fácil culpar um qualquer governo (PS ou PSD) do que assumir a responsabilidade de uma má gestão. Não há investimento em firewalls, back-ups, contratação de um especialista em ciber-segurança? Não se quer pagar mais 200/300 euros a um colaborador que tem o potencial de revolucionar os processos de gestão e produção da empresa? Os últimos dados sobre competitividade, qualidade da gestão e os últimos ataques informáticos são razão mais do que suficiente para acordar… mas será que vamos a tempo?
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/ GESTÃO DE PESSOAS
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GESTÃO DE PESSOAS
A ROMANTIZAÇÃO DO TRABALHO
DESENVOLVER (NOVOS) LÍDERES, UM CAMINHO… UMA NECESSIDADE!
REVISTA MOLDE CEFAMOL
PEOPLE MANAGEMENT /
A ROMANTIZAÇÃO DO TRABALHO Ana Timóteo * * CEFAMOL
Ah, o LinkedIn. O LinkedIn é uma ferramenta fantástica para o networking. Se eu reagir a uma partilha de CV ou de uma oferta de produtos/serviços, as minhas conexões são notificadas de alguma forma e se houver alguma que esteja à procura de um novo colaborador ou de uma prestação de serviços, pode logo entrar em contacto com o autor e dali resultar um contrato assinado. Assim, em praticamente menos de nada. Desde que criei perfil nesta rede social, tenho notado a evolução do tipo de conteúdos que são publicados. Já não encontro maioritariamente oportunidades de emprego ou apresentações de empresas e projetos. Agora, é comum encontrar uma versão muito mais humanizada. As empresas partilham fotografias de elementos das suas equipas ("Meet the Team") e de iniciativas que promovem dentro e fora de portas, em contexto de notoriedade e de responsabilidade social. Já me deparei com muitas publicações interessantes e que acertaram em cheio no propósito inicial. Mas também já encontrei vários casos que me deixaram constrangida, nomeadamente, os dos autodesignados coaches e de todos aqueles que, não querendo pertencer formalmente a esse grupo, tão-pouco destoam. São cada vez mais as pessoas para quem a necessidade de agradar a um algoritmo e ter visibilidade é tão grande, que não refletem sobre o quão desajustados são os conteúdos que partilham. É perigoso e passo a explicar porquê. Na categoria "Conselhos de Empreendedorismo", não há muito tempo, encontrei uma publicação com forte engagement que citava um empresário como se ele se tratasse de um deus terreno. Empresário esse que por acaso é dono de uma empresa que, sem querer mencionar nomes e dizendo apenas que começa em -Ama e acaba em -zon, teve de desistir do seu programa de embaixadores internos, porque o staff estava para lá de descontente. A ironia. Na categoria "Frases Motivacionais", gostei particularmente da arrogância de um internauta que afirmou "Não é falta de tempo, é falta de foco. Todos temos as mesmas 24h". Teoricamente, sim. Tecnicamente, não. Por favor digam a um pai/mãe solteiro(a) (ou a alguém que tenha dependentes), a quem tem mais do que um emprego para conseguir pagar uma prestação bancária ou a qualquer outra pessoa que só não estica mais as horas do dia porque não pode, que só não consegue alcançar mais objetivos porque tem falta de foco. Para muitas pessoas, há um novo dia que começa depois
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de sair do trabalho. Para outras, há investimentos que precisam de ser feitos e não têm como. Não são desculpas, é a realidade de um país. As tais 24 horas que todos temos, têm de ser encaradas pela perspetiva de cada um. Na categoria "Sugestões de Leituras", questiono-me se as pessoas que partilham as suas 'leituras obrigatórias' só leem livros de liderança, desenvolvimento pessoal, gestão e temas técnicos nos seus tempos livres. Atenção, não tenho qualquer problema com as sugestões que outros internautas apresentam. De resto, algumas até parecem ser bastante interessantes. Apenas torço o nariz a alguns discursos que leio, nomeadamente aos que voluntária ou involuntariamente deixam subentendido que este tipo de leitura é o único relevante. Ou seja, até quando não tenho de ser produtiva, tenho de o ser. Ao final do dia, tenho de ler qualquer coisa sobre liderança; nas minhas férias tenho de assistir a palestras sobre o novo paradigma da gestão de pessoas; a caminho do trabalho ou de casa tenho de ouvir um episódio qualquer de um podcast sobre motivação e desenvolvimento pessoal. Estas três categorias são as que mais comummente encontro no meu feed de LinkedIn, embora existam outras que esporadicamente se manifestam, como as que pintam o mundo laboral a cor-de-rosa. Felizmente, sei o que é gostar do que se faz e conheço a sensação de estar perfeitamente integrada num sítio, de pertencer. E, para mim, a possibilidade de a segunda-feira ser um dos melhores dias da semana, há muito que deixou de ser apenas um mito urbano. Mas aquilo que cada vez mais vejo é um narrar de histórias de encantar, algumas delas verdadeiramente absurdas. Avisem os donos do LinkedIn que têm de lhe mudar o nome para LinkeDisney (com grande pena minha, não fui eu que me lembrei deste termo primeiro). Por mais motivados que nos sintamos, não temos legitimidade para dar conselhos a pessoas cujos contextos e recursos desconhecemos. Os conselhos e frases motivacionais não são "tamanho único", não servem todos da mesma forma e a inspiração de uns pode ser a frustração de outros. E o mundo não para de girar se, durante um mês, preferirem ler ficção pelo simples prazer de...só ler. Sem terem de tirar lições de vida ou competências profissionais daquelas páginas. Por muito que gostemos daquilo que fazemos, desligar e descansar não é um luxo. É uma necessidade física, psicológica e emocional. E aqueles que o conseguem fazer? Esses sim, são o verdadeiro modelo-a-seguir.
/ NEGÓCIOS
N 133 ABRIL 2022
DESENVOLVER (NOVOS) LÍDERES, UM CAMINHO… UMA NECESSIDADE! 92
Artur Ferraz * * Consultor Internacional em Gestão de Pessoas
Nos últimos 30 anos temos trabalhado e desenvolvido o tema da liderança como em nenhum outro tempo. Múltiplos teóricos, professores, comentadores, consultores, políticos, atletas, profetas da autoajuda, todos expressam as suas ideias e caminhos para promover, desenvolver, incentivar atitudes de liderança. Falar de liderança é trendy e fica bem em qualquer conversa de café com os amigos. Discursos parlamentares, comentários políticos, desportivos, culturais, bélicos, tantas são as áreas onde essa palavra é utilizada que o seu real significado se perde, na maior parte das vezes. É difícil encontrarmos terreno comum e comummente aceite sobre o seu significado, no entanto, enquanto falamos dela, partimos do princípio simples que ela é algo de objetivo e claro, que todos a vemos da mesma forma e que ela se manifesta nas nossas ações de forma idêntica e com os mesmos significados profundos. Nada pode estar tão errado. A riqueza da substância da preparação de líderes reside na essência para a qual os queremos preparar. Qual a raiz motora dessa preparação e qual a matriz de ações que terá que originar, para que possam ser consideradas como aceitáveis as suas ações. Preparar novos líderes para o mundo, dependerá sempre da visão inicial. Que lideranças pretendemos incutir nas novas gerações e nas atuais? O que pretendemos alcançar? Por que meios pretendemos alcançar esses mesmos resultados? A liderança é sempre a manifestação objetiva de uma visão que tem de estar clarificada na cabeça das pessoas, para que possa ser aprendida e que produza os frutos pretendidos. Liderar tem sempre que estar relacionado com o futuro, pois as ações de liderança no presente marcam, de forma significativa, o que outros irão fazer depois. Assim, liderança é mais do que a ação de uma pessoa. É uma visão coletiva que procura, num determinado momento, produzir um resultado no futuro. A liderança são as pessoas em ação e o fruto dessa ação será sempre o resultado da visão inicial que pretendemos criar, desenvolver, promover e/ou disseminar. É por isso que temos de encarar a liderança em diferentes planos. O plano racional – obtenção de resultados -, o emocional - a forma comportamental como esses resultados se obtêm - e o plano ético – como marca civilizacional. É neste último plano, que a liderança se torna mais complexa, pois necessita que estejam evidenciados os seus pilares-base, assegurados pelos valores humanistas e depois disseminados através de uma visão de futuro. Hoje, este tema é mais atual que nunca. Ao longo dos últimos dois anos, o mundo em que vivemos sofreu alterações profundas e tão complexas que não conseguimos ainda, claramente, entender os
seus efeitos e consequências para as futuras gerações. No segundo mês deste ano, uma ameaça ainda maior se abateu sobre todos os cenários, já por si, difíceis dos nossos tempos. Uma guerra complexa e trabalhada em múltiplas frentes, mas sobretudo na frente da ética humanista que nos caracteriza. Vemos, nesta fase, a importância da liderança, da resiliência, da resistência a tudo o que nos pode tirar a esperança e a crença num mundo melhor, mais justo e onde as pessoas possam viver em paz. Um mundo em que as vidas têm, de facto, valor e que esse valor é um direito em si. Não podemos ver a liderança nas organizações de outra forma. Temos de perceber o que está em jogo em cada organização, em cada modelo organizacional que se cria e se desenvolve. Não podemos ter a veleidade de não perceber que é na ética humanista que residem as bases dos nossos valores civilizacionais e que, sem eles, nenhum modelo de desenvolvimento tem cabimento, nem nenhuma organização consegue criar inovação e desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável precisa de mentes criativas e sociais. De mentes que pensam com gentileza e candura e que vêm nas pessoas que os rodeiam, parceiros ao invés de inimigos ou adversários a abater ou ultrapassar. Essas mentes criativas não se desenvolvem em ambientes organizacionais poluídos pelo medo e pela opressão, nem tão pouco pelas atitudes individualistas, em que o culto do indivíduo o coloca numa posição de ente sagrado. Sabemos, no entanto, que nesses ambientes poluídos as pessoas são levadas a praticar ações com as quais não se identificam e que lhe geram ansiedade generalizada. A liderança que queremos nas nossas organizações é a que assenta em comunidades interrelacionais que se complementam e que produzem riqueza distribuída, de forma equitativa. São comunidades que promovem o crescimento individual através do desenvolvimento das faculdades humanas, em que as pessoas participam por sua livre vontade e onde se manifestam de acordo com os valores civilizacionais em que acreditamos. Parece difícil? Sim, é mesmo muito difícil. Nunca é um fim, é sempre um caminho. Um caminho que temos de trilhar com a convicção de que nunca teremos a Liberdade como um dado adquirido. Temos de estar sempre a criar novos líderes que conheçam sempre o que está em jogo em cada uma das pequenas concessões que fizerem aos seus valores. É possível? Não sei, mas sei que é necessário!
MERCADOS 2022
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Roménia
INDÚSTRIA NO FEMININO UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO DE ALTO DESEMPENHO EM PROBLEMAS INDUSTRIAIS COMPLEXOS
PLANEAMENTO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E A GESTÃO DE RECURSOS AUTÓNOMOS DE PRODUÇÃO O FINANCIAMENTO DE INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS, UMA BREVE ABORDAGEM
Nº ISSN 1647-6557
ANO 33 . 04 2022 . N 133
04.2022 ANO 33 . N 133 . €4,50
CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES
Periodicidade Trimestral
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