Ano 8 ı Número 28 ı Trimestral ı Janeiro 2020
Inovação de Modelo de Negócio na Indústria 4.0 Competitividade
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N OTÍCIAS EMPRESAS NACIONAIS SATISFEITAS COM PARTICIPAÇÃO NA FEIRA K’2019 Portugal em Dusseldorf, onde foi promovida uma sessão de networking entre as empresas presentes na feira.
A participação das empresas de moldes portuguesas na feira ‘K’, que decorreu em Düsseldorf (Alemanha) entre os dias 19 e 23 de outubro, saldou-se pela positiva. “O primeiro feedback no pós-feira é muito positivo. Foi percetível o aumento de visitantes no hall onde estava presente o Pavilhão Nacional, o que resultou em mais contactos e oportunidades para as empresas nacionais”, explicou Patrício Tavares, da Associação Nacional da Indústria de Moldes (CEFAMOL), adiantando que, no decorrer do certame “foi possível, por um lado, estreitar relações comerciais existentes e potenciar novos negócios; e por outro lado, identificar novas oportunidades de colaboração com novos contactos”. “De uma maneira geral, tudo indica que a feira melhorou desde a última edição”, conclui. A CEFAMOL fez-se acompanhar por 17 empresas (Cheto, CR Moulds, Frumolde, Geco, JDD Moldes, Moldegama, Moldes RP, Moldit, Moldoeste, Moldoplastico, PJA Moldes, Planimolde, SET, Steelplus, Tecnifreza, Tecnimoplas e Uepro) e a Pool-Net. Para além do maior número de visitantes (cerca de 225 mil, segundo a organização), a representação portuguesa teve, como destaques desta participação, no dia 16, a visita do Embaixador de Portugal na Alemanha, João Mira Gomes; no dia 17, um “after-work” no Pavilhão Nacional (promovido pelo Cônsul de Portugal em Dusseldorf, José Carneiro Mendes e pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa na Alemanha, com o apoio da CEFAMOL); e, no dia 18, uma receção no Consulado de
Esta diversidade de atividades permitiu às empresas portuguesas percecionar o estado do mercado alemão enquanto destino dos moldes nacionais. E, na bagagem, trouxeram expectativas positivas. “O abrandamento da indústria é generalizado, segundo o feedback que conseguimos retirar das palavras dos clientes alemães. No entanto, as perspetivas para os próximos meses aparentam ser muito positivas”, explicou Patrício Tavares, sublinhando que “foram mencionados vários projetos que poderão sair durante o primeiro semestre de 2020 e que são indicadores que o mercado está a reagir positivamente ao abrandamento”.
A importância da ‘K’ A ‘K’ é a principal feira mundial da indústria de plásticos e borracha. A edição de 2019 contou com 3.330 expositores, oriundos de 63 países, números que atestam que “o plástico continua a ser um material inovador, indispensável e voltado para o futuro”, considera a organização do certame que chama ainda a atenção para a necessidade elencada pelos expositores de “ter economias circulares operacionais ao longo de toda a cadeia de materiais”. Adianta que “para esse fim, muitos já apresentavam soluções concretas”. O certame acolheu cerca de 225.000 visitantes de 165 países que se interessaram especialmente por “sistemas de reciclagem, matérias-primas sustentáveis e processos de economia de recursos”. Para as empresas portuguesas, a feira assume-se essencialmente como um certame “de relações públicas, no fundo uma ‘operação de charme’ junto dos clientes e potenciais clientes. Por ser organizada na Alemanha, muitos dos clientes já são conhecidos. No entanto, em anos de muito movimento, encontram-se bons contactos de vários pontos do globo”, explica Patrício Tavares.
CEFAMOL PARTICIPA NO FÓRUM PORTUGAL - MARROCOS Nos passados dias 11 e 12 de dezembro, a AICEP organizou em Casablanca um Fórum Empresarial com o objetivo de fortalecer relações comerciais bilaterais em diversos sectores, destacando-se a Indústria de Moldes e Automóvel. Marrocos é atualmente um mercado em crescimento, considerando os recentes investimentos realizados na sua indústria automóvel e de componentes, tendo especial relevância as unidades da Renault e PSA e seus fornecedores de primeira linha. De referir que as entidades locais pretendem chegar até 2022 com uma capacidade de produção anual de um milhão de veículos.
tantes da CEFAMOL e AFIA (Associação Fornecedores da Industria Automóvel).
Com o objetivo de identificar novas oportunidades de negócio e crescimento para o sector em Marrocos, participaram nesta iniciativa as empresas CR Moulds, PTC Group e Socem, as quais foram acompanhadas pelos represen-
O Fórum contou ainda com intervenções de representantes nacionais das áreas de Cerâmica, Materiais de Construção, Tecnologias de Informação e Comunicação e do Ensino Superior.
X CONGRESSO DA INDÚSTRIA DE MOLDES: PARTICIPAÇÃO MASSIVA DO SECTOR REFLETIU SOBRE O PRESENTE DE OLHOS POSTOS NO FUTURO Foi um sector motivado e determinado em vencer os seus principais desafios, o que se reuniu, em peso, para ‘debater o presente e preparar o futuro’. Organizado pela CEFAMOL, o X Congresso da Indústria de Moldes, que decorreu dias 22 e 23 de novembro, na Ortigosa, Leiria, juntou mais de três centenas e meia de congressistas, naquela que foi uma das representativas participações na história dos congressos, que se realizam desde 1983.
E, num Congresso que teve como primeiro painel ‘Organização e Tecnologia’, os vários palestrantes defenderam ser “imperativo continuar a apostar na integração de processos, nas novas tecnologias, no reforço do saber e, ao mesmo tempo, que se consolide a imagem internacional, o posicionamento da excelência e notoriedade distintiva do sector”, como sintetizou o presidente da CEFAMOL.
Integrando o programa comemorativo do 50º aniversário da Associação, que este ano se assinala, e uma década após a realização da sua última edição, a indústria de moldes portuguesa demonstrou, durante os dois dias de evento, que continua unida na busca de soluções para os seus principais desafios.
João Faustino concluiu ainda que “temos de encontrar novas soluções para alguns dos problemas, dos antigos à nova série de desafios a que vamos estar sujeitos: o rápido desenvolvimento tecnológico e a assimilação de novos processos têm sido constantes e terão um peso enorme nos investimentos das nossas empresas”.
Essa união, o principal fator distintivo dos moldes portugueses junto dos seus concorrentes internacionais, constituiu, até, uma das conclusões retiradas desta reflexão magna. “A capacidade de colaboração, cooperação e criação de massa crítica serão os elementos estruturantes, quer para nos diferenciarmos, quer para nos situarmos um passo à frente da nossa concorrência internacional”, afirmou João Faustino, presidente da CEFAMOL, na cerimónia de encerramento do evento.
Questões como automação, standardização, digitalização, design for manufacturing ou produção ‘zero defeitos’, discutidas no decorrer desse primeiro painel “são e serão conceitos cada vez mais presentes e para os quais devemos estar devidamente preparados para responder”.
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Apostar na Qualificação das Pessoas E a resposta está, precisamente, no tema que compôs o painel seguinte, ‘Gestão de Pessoas’. Para além da aposta na inovação e no conhecimento, é fundamental que as empresas olhem para os seus recursos humanos e apostem na qualificação e formação sistemática das suas pessoas. Ou, como salientou Mira Amaral, representante da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), “são as pessoas que fazem e distinguem as empresas”. Já João Faustino lembrou que “será fundamental continuar a atuar em dois sentidos: reter o talento existente nas empresas e atrair novas competências”. Também José Camacho, professor do IADE, lembrou, na síntese das conclusões do Congresso, referindo-se a esse tema - que acabou por ser transversal aos três painéis em reflexão - que “se não tivermos pessoas para trabalhar na indústria, não é possível continuar”. Na sua intervenção, sublinhou, contudo, que um dos principais desafios que a indústria tem pela frente é lidar com a “incerteza” que caracteriza a Economia mundial, defendendo que a indústria de moldes conseguirá vencer, mantendo três dimensões que considerou fundamentais: a resiliência, a flexibilidade e a manutenção da vantagem competitiva, através da aposta na inovação e na melhoria contínua. O último painel, subordinado ao tema ‘Cooperação e Internacionalização’, veio chamar a atenção para o muito que a indústria de moldes portuguesa conquistou na última década - ascendendo a oitavo maior produtor mundial e terceiro a nível europeu - mas também advertiu para a alteração da situação que deve alertar as empresas e mantê-las focadas em estratégias que assegurem a sua competitividade. “A situação tem vindo a alterar-se em diferentes vertentes: seja pela instabilidade dos mercados, pelas políticas comerciais de diferentes lobbies económicos, seja pela indefinição dos novos conceitos da mobilidade, pelas políticas ambientais, pelas novas tecnologias e materiais ou pelas exigências cada vez mais fortes dos nossos clientes”, sintetizou João Faustino, concretizando que “esta acalmia no lançamento de novos projetos pela indústria automóvel”, sentida no último ano e meio, conjugada com “algumas indefinições existentes no aspeto político e económico mundial”, são fatores que vão “condicionar a atividade das empresas globais como aquelas com as quais operamos”.
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O Presidente da CEFAMOL deixou, no entanto, uma mensagem de otimismo, afirmando que “acreditamos que o crescimento do nosso sector se poderá evidenciar nos próximos anos” e lembrando que “já por diversas vezes, e ao longo dos anos, demonstrámos a nossa capacidade de unir esforços para ultrapassar constrangimentos e superar com sucesso as adversidades”. Contudo, fez questão de realçar, este crescimento “provavelmente, não será de forma tão acentuada como até aqui, uma vez que, neste momento, estamos ainda num processo de assimilação das tecnologias e reorganização de processos para consolidação dos investimentos realizados”.
Sector exemplar O Congresso contou, na sessão de encerramento, com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa. A governante desafiou as empresas “a trabalhar em conjunto”, de forma a conseguirem enfrentar “os importantes desafios globais”. Realçou ainda a importância do cluster Engineering & Tooling que, disse, tem tido um papel que é “muito importante a nível da internacionalização porque é através dele que os centros de decisão, nomeadamente os alemães, ou em Bruxelas e noutros países, conhecem o extraordinário trabalho que as empresas deste sector fazem”. No final do seu discurso, Ana Abrunhosa deixou um desafio à região: a concretização do projeto do parque de ciência e tecnologia da indústria, que, disse, “gostaríamos muito de acarinhar”. Presente na sessão de abertura, o Secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves, considerou que a CEFAMOL é “um bom exemplo” do que deve ser uma estrutura associativa: tem tido “capacidade de mobilização” de todos para “construir caminhos” que levaram a indústria de moldes a “transformar-se num dos maiores clusters” a nível global. Realçou ainda que este sector tem tido a “capacidade de se reinventar” e que “representa a afirmação do país e da indústria portuguesa” no mundo. O percurso traçado pela indústria de moldes, salientou ainda, “deve orgulhar o sector mas também a todos nós, enquanto país”.
MARCA ‘ENGINEERING & TOOLING’ LANÇA APLICAÇÃO PARA TELEMÓVEL do mundo inteiro e “é preciso comunicar com eles”. Por isso, esta nova aplicação é bilingue, de forma a ser o mais abrangente possível.
‘Marcas: Boas Práticas de Atuação Global’ foi o tema de um seminário que, inserido no projeto HIGHSPOT – Engineering & Tooling International Promotion, decorreu no dia 30 de outubro, com organização da Pool-Net. O evento procurou dar a conhecer exemplos de boas práticas de marcas, bem como dos seus processos de internacionalização, com especial destaque para a marca que representa os moldes portugueses, ‘Engineering & Tooling from Portugal’. Explicando que esta marca foi criada há mais de dez anos, Rui Tocha, diretor-geral da Pool-Net, deu conta dos passos mais importantes que foram dados neste período de tempo, desde logo a criação de uma comunidade industrial que junta empresas, escolas, instituições e organismos estatais. “Foi um investimento de toda esta comunidade para termos mais valor no mercado e temos conseguido fazê-lo”, defendeu o responsável, sublinhando que, por isto, “seria um erro se, por qualquer razão, se voltasse atrás com a marca”. Rui Tocha considera, até, que, pelo contrário, é necessário continuar a dar passos para fortalecer esta imagem do sector e agregar mais os seus intervenientes (empresas e técnicos). Um dos exemplos que deu foi a recente criação de uma aplicação para telemóvel (app), designada ‘Engineering & Tooling’, que está já disponível para todos os sistemas operativos mobile. Esta aposta, esclareceu, “destina-se a promover as atividades do projeto de campanha”, dando conta, sob a forma de agenda, do que de mais importante se vai realizando em torno da marca dos moldes portugueses. Mas não só. O objetivo é que, no futuro, “vá reforçar mais o seu papel de comunicação entre a Pool-Net e o mercado, sejam os associados, seja o mercado internacional e os parceiros”, explicou. Como exemplo, lembrou que a Pool-Net assinou acordos de cooperação com vários clusters
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E é facilitadora da comunicação. Estando apenas a um ‘clic’ de distância, permite que as empresas, os colaboradores ou os parceiros vão sabendo o que vai acontecendo, sem necessidade de serem contactados, uma vez que a própria aplicação emite alertas dos vários eventos. “No fundo, é mais um passo que intensifica este sentimento de apropriação, de pertença a uma marca coletiva, que é o que preconizamos”, sustenta. Mas este é, apenas, um dos aspetos ligados à marca. Rui Tocha contou ainda que, nos últimos dois anos, este projeto permitiu alavancar financiamentos de quase 500 mil euros e que, em conjunto com a CEFAMOL, tem sido possível aumentar a perceção da marca dos moldes portugueses nos muitos mercados internacionais.
Exemplos de outros sectores Na sessão, foi possível aos participantes (cerca de duas dezenas) conhecer os exemplos de outros sectores, como o da alimentação. Isabel Oliveira, da ‘Portugal Foods’ deu conta da importância de ter sido criada uma marca representativa desse sector como forma de consolidar a estratégia de inovação e internacionalização. É que, realçou Alcina Gaspar, professora de marketing do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) - e também ela oradora nesta sessão - “a marca é um fator de competitividade”. Mas lembrou o caminho que é preciso percorrer até à afirmação de uma marca que deve ser “reconhecida pelo consumidor” e assegurar junto dele “padrões de qualidade, satisfação e lealdade”. Para esta responsável, a marca ‘Engineering & Tooling from Portugal’ tem conseguido alcançar estes objetivos, uma vez que se trata de uma marca coletiva que “ajuda os pequenos produtores a chegar a mercados onde, sozinhos, dificilmente conseguiriam entrar”. E fazem-no, salientou, porque estão associados a uma marca que, não tem dúvidas, “gera confiança junto dos clientes”. Com uma plateia interventiva e interessada, o encontro teve um espaço de debate, moderado por Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL. Este responsável lembrou que a criação da marca para o sector “não é um trabalho fácil e nem rápido”, sublinhando que “para além de criar, leva tempo consolidar uma marca”. Advertiu ainda que “vêm aí oportunidades, novas e diferentes, e temos de ter capacidade de as agarrar. Para isso, é fundamental cimentar e valorizar a imagem que temos no mercado”.
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Inovação de Modelo de Negócio na Indústria 4.0 Vitor Hugo Ferreira D. Dinis Business School
A Inovação é um dos principais impulsionadores da transformação organizacional. Através da Inovação as organizações podem enfrentar desafios crescentes, ter sucesso e permanecer à frente de países com custos de mão-de-obra mais baixos. Usualmente subdividimos a Inovação em Inovação de produto, processo, marketing e organizacional. Mas ao falarmos do conceito de indústria 4.0 não é claro de que tipo de inovação estamos a falar. Se pensarmos que o conceito abrange não só novas tecnologias, como novas formas de fazer negócios e de organizar o trabalho, podemos encarar que os desenvolvimentos de indústria 4.0 são sobretudo inovações organizacionais, já que abrangem a criação, aceitação e implementação de novos processos, produtos, métodos de trabalho ou serviços num ambiente organizacional, a fim de alcançar melhores resultados. Mas existe um outro tipo de Inovação proporcionado pela indústria 4.0 – a inovação de modelos de negócio. Um modelo de negócios é uma interconexão de processos e métodos, que criam o próprio negócio (não deve ser confundido com o clássico plano de negócios). O objetivo do modelo de negócios é identificar como a empresa apre-
sentará uma proposta de valor aos seus clientes, capturando assim valor para si mesma, ou seja, identifica a maneira como uma organização cria, entrega e obtém valor. Os modelos de negócios podem ser um veículo de inovação. Empresas disruptivas como a Uber e Airbnb ou Lime não criaram tecnologias inovadoras significativas, mas o que fizeram foi inovar em termos de modelos de negócios. Não nos esqueçamos que uma empresa como o Airbnb não é mais do que um antigo serviço de classificados de um jornal onde se lia “arrenda-se quarto”, embrulhado numa plataforma tecnológica e com novos atributos de valor (o mesmo pode ser dito do Uber, da Lime ou até mesmo da EasyJet/RyanAir, que não apresentam tecnologias novas, mas apenas uma forma diferente de entregar valor). As inovações de modelos de negócios são então mudanças inovadoras e não triviais nos elementos-chave do modelo de negócios de uma empresa e / ou na arquitetura que liga esses elementos. A indústria 4.0 está a alterar o modo como as empresas criam valor e a forma como as diferentes partes do modelo de negócio interagem. É evidente que, de um modo
geral, a tecnologia está a transformar negócios em todos os setores. A cloud e os dispositivos conectados são omnipresentes e as empresas cada vez mais recolhem dados e usam informação para obter uma compreensão completa sobre os seus clientes em tempo real. Portanto, não é surpresa que, de acordo com o recente relatório Digital Workplace da Dimension Data, 25% das organizações estejam a investir em novas ferramentas digitais como: análise do local de trabalho, realidade aumentada e micro-formação (Dimension Data, 2018). Grande parte do trabalho transacional e de rotina de uma organização começa hoje a ser tratado por máquinas inteligentes, com soluções cognitivas, como IA e machine learning, a serem cada vez mais incorporadas em muitas áreas de trabalho, do escritório à fábrica. As empresas de produção começam a fazer uso de Sistemas Ciber Físicos (SCF), que conectam máquinas, peças, produtos e cadeias de valor a um só sistema de software que integra o tradicional software de gestão, bem como as soluções de software de desenho, I&D, etc. De igual modo, a análise de dados torna-se uma componente fundamental desta integração, já que é necessário software para analisar as grandes quantidades de dados gerados pelos SCF para controlar, regular ou monitorizar processos. Simultaneamente, novo hardware e novas conexões à Internet, possibilitam modelos de negócios a jusante: um SCF incorporado permite que um fabricante de turbinas forneça aos clientes como serviços adicionais manutenção remota e, no final do ciclo de vida do produto, a reciclagem. Outro modelo de negócio resulta da crescente manutenção preditiva, em que IAs antecipam as necessidades de reparação/manutenção de peças e mercadorias, otimizando tempo e custos. Existe um número crescente de empresas startups neste campo que usam sensores para recolher dados, criando através de algoritmos indicadores preditivos que diminuem o tempo de inatividade até 45 e aumentam a produtividade em 25% (Machine Sense, 2018). O uso de SCF também ajuda as empresas a conectarem-se a redes de criação, vertical e horizontal, digitais integradas. Por meio destas plataformas virtuais na nuvem, as empresas podem aceder à produção de acordo com a necessidade, a fim de coordenar as etapas de produção em tempo real. Estas tecnologias permitem que as empresas vendam dados e serviços, para além de objetos físicos. A Indústria 4.0 encoraja ainda as empresas a mudar a mentalidade de produto para serviço. As empresas de produção em economias desenvolvidas estão a expandir o seu papel na cadeia de valor expandindo o seu produto com (ou como) serviços, para que não tenham de competir apenas no custo de produção. Um bom exemplo desse
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modelo é o carro como serviço (Car as a Service – CaaS). Essencialmente uma extensão de ride-sharing usando veículos sem motorista, o CaaS permite que as pessoas convoquem um carro por meio de uma aplicação ou seja usado para entregas (IHS Automotive, 2018). O conceito “sistema de serviço do produto” (Product Service System - PSS) descreve o desenvolvimento e a oferta de pacotes que combinam o produto físico com serviços (esses serviços resultam muitas vezes da “sensorização” do produto). Como resultado, fornecedores, clientes e outros parceiros tornam-se parte de um ecossistema em rede em torno do SCF. Após a discussão anterior, fica claro que as empresas podem obter novos modelos de negócio, tais como vender um produto e a sua manutenção (com base na manutenção preditiva digital permitida pela recolha de dados e sua análise) ou transformar o produto num serviço. As seguintes ofertas existentes ilustram o conceito PSS: • Modelo de pagamento por cópia da Xerox para vender equipamentos de escritório • O pacote de serviço Power-by-the-Hour da Rolls-Royce para motores de aeronaves, em que os serviços de manutenção, reparo e revisão são cobrados por hora de voo • Serviço Contract Air da Atlas Copco, no qual os compressores de ar são vendidos por m³ de ar comprimido fornecido • O modelo de pagamento por luz da Philips para a venda de equipamentos de iluminação, em que os clientes pagam pelo nível prometido de iluminação num edifício • Solução de gestão da frota da Michelin, em que o camião é vendido por quilómetro percorrido Finalmente, devemos realçar os modelos de negócio resultantes da maior capacidade de customização. Através da recolha de dados, de cadeias de valor integradas e de tecnologias de fabricação aditiva, as empresas podem personalizar produtos para o cliente final ou responder automaticamente aos requisitos B2B. Produtos inteligentes podem gerar dados a partir das interações do cliente, permitindo um melhor serviço, mais customização e melhor desenvolvimento. A Indústria 4.0 fornece a tecnologia e os processos que permitem criar propostas de valor para responder às exigências dos clientes, como o fornecimento de produtos personalizados e até a produção em linha de tamanho de lote. Deste modo, as empresas precisam de desenvolver novas competências, aprendendo mais sobre os seus clientes (usando recursos digitais para obter informações sobre clientes, promovendo a tomada de decisões com base em evidências, desenvolvendo experiências integrais de clientes etc.) e adotando uma lógica de ecossistema, que vá além das cadeias de valor individuais.
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Competitividade Recentemente a OCDE publicou um relatório que aponta melhorias e dificuldades na competitividade da economia portuguesa. Se alguns dos problemas são há muito debatidos, outros requerem uma reflexão por parte das instâncias políticas e pela generalidade dos agentes económicos. O impacto da corrupção e da falta de eficiência da justiça na economia é enorme, sendo estes problemas endémicos com custos económicos elevados. A questão da corrupção está mais enraizada do que o comum dos mortais pode perceber e conduz a que empresas menos competitivas sejam “vencedoras”, diminuindo o bem-estar da economia como um todo. Quanto à eficiência da justiça, o relatório refere que o tempo médio necessário para resolver, na primeira instância, um processo civil ou comercial é de cerca 300 dias (este número é apenas ultrapassado pela justiça grega, italiana e francesa). Situação similar é vivida ao nível da cobrança de dívidas, apontando-se Portugal como o país com prazos de pagamento mais dilatados (esta é uma realidade com que a maioria dos gestores se depara no seu dia a dia e o coloca em desvantagem face a um concorrente de outros países europeus). O relatório alerta ainda para a adoção de algumas medidas que se vieram a revelar erradas, como a descida do IVA na restauração, o que trouxe poucos acréscimos à criação de emprego e diminuiu a receita (sobretudo porque se trata de um imposto que é muitas vezes cobrado a agentes estrangeiros). Recomendou também a subida do IVA do gasóleo (medida impopular, mas que tem uma justificação ambiental – no caso da indústria dos moldes a existência de uma maior competitividade no setor da energia elétrica poderia compensar este acréscimo de custos). Apesar das melhorias na rendibilidade e no crédito malparado dos bancos, ambas as variáveis continuam a ficar mal comparadas em termos europeus. Aqui a OCDE indica como medidas a adotar, que terão impacto nos bancos e na vida das empresas, por um lado, a alteração do regime jurídico da insolvência de pessoas singulares - que considera ser “bastante restritivo” – e, por outro, a criação de um mecanismo extrajudicial que facilite a liquidação de empresas inviáveis, dado que os processos judiciais “podem ser muito morosos”. A OCDE refere ainda os problemas de sustentabilidade da dívida num contexto de envelhecimento da população e o poder excessivo das ordens profissionais face a outros países (e com impacto na concorrência). Outro dado analisado pela OCDE aponta para o excelente desempenho das exportações portuguesas. Não obstante, refere que esta performance é ainda insuficiente, sobretudo tendo em conta países como a Hungria, a República Checa e a Bélgica. Na verdade, em Portugal as PMEs continuam sem dimensão suficiente para se afirmarem como exportadoras de relevo, já que a maioria (cerca de 95%) têm dez ou menos trabalhadores e, muitas vezes, a base de exportação assenta em trabalho pouco qualificado. No caso dos moldes verificamos que, apesar de constituir um setor altamente internacionalizado, as nossas “grandes” empresas são pequenas no contexto internacional, o que lhes dá menor capacidade
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Vitor Hugo Ferreira D. Dinis Business School
de negociação e menos capacidade para ganhar projetos de maior dimensão, bem como significa custos acrescidos face a empresas maiores que têm economias de escala nas atividades comerciais e de I&D. De facto, sendo um setor onde o papel das economias de escala não está tão presente como em outras áreas (onde existe produção em massa), a maioria das empresas esquece que podem existir economias de escala na I&D. Por exemplo, grandes empresas podem ter suficiente capacidade para que os custos de I&D gerem rendimentos marginais superiores – uma máquina e um laboratório de investigação podem albergar 4 a 10 investigadores, algo que uma empresa maior pode suportar gerando soluções mais inovadoras, mas uma empresa pequena, tendo o mesmo custo de instalação de um laboratório para albergar apenas uma pessoa, gerará menos resultados. A função comercial também pode ter economias de escala, bem como outras áreas. Obviamente, as empresas mais pequenas tendem a ser flexíveis, rápidas e resilientes, no entanto, a sua dimensão é hoje um entrave num contexto internacional. Quanto a soluções para estes problemas de competitividade, seguindo o relatório da OCDE (mas não à letra), podemos apontar várias medidas. Desde logo é necessário continuar o esforço de melhoria das qualificações dos trabalhadores ao longo da sua vida (algo importante no setor dos moldes que é hoje cada vez mais um setor de desenvolvimento e engenharia e não um setor de pouca qualificação). A simplificação do sistema fiscal é também essencial num contexto de competitividade com outros países onde todo este processo é mais ágil (devendo a mesma agilização ser protagonizada no âmbito do sistema judicial). O investimento em infraestruturas como portos e caminhos de ferro é outra medida que beneficiaria a economia e o setor dos moldes. Podemos apontar ainda, no que toca ao problema da dimensão, a criação de incentivos para a fusão de empresas (ou para a sua colaboração em projetos exportadores). Outras soluções podem passar pelo reforço do papel da autoridade da concorrência e dos poderes da unidade especial de combate à corrupção (já existente no âmbito da Polícia Judiciária). No que toca ao envelhecimento da população é importante a criação de incentivos à imigração, quer como garante de um rejuvenescimento da população quer como uma forma de captação de mão-de-obra. Finalmente, seria positivo manter a política de reforço de apoio ao investimento em I&D e Inovação e de criação de mais consórcios entre empresas e o Ensino Superior (sobretudo alargar estas parcerias, já que as empresas que têm aproveitado esta oportunidade tendem a ser uma minoria repetitiva). Estes são alguns caminhos possíveis, que poderiam potenciar o setor dos moldes e toda a economia portuguesa. Resta saber se haverá sagacidade para tomar e implementar estas medidas e realço implementar uma vez que algumas das soluções aqui propostas já resultam, de forma expressa ou indireta, de vários programas governamentais, contudo peca-se na sua execução.
EVOLUÇÃO TRIMESTRAL DE MERCADOS
Análise Comparativa Quarto Trimestre 2019
MERCADOS TRADICIONAIS
PESO DOS MERCADOS TRADICIONAIS NAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS
MERCADOS DA EUROPA CENTRAL E DE LESTE
MERCADOS DA EUROPA OCIDENTAL
MERCADOS AMERICANOS
OUTROS MERCADOS ESTRATÉGICOS
Fonte: AICEP Portugal Valores de exportações em unidades de milhar
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