aNo 29 04.2018 Nº 117
aNo 29 04.2018 Nº 117 €4,50
EXPORTAÇÕES BATEM RECORDE EM 2017
FORMAÇÃO NO SECTOR DE MOLDES: UNIVERSIDADE DO MINHO
MERCADO DA SUÉCIA
ÍNDICE CONTENTS N 116 | 04.2018
30
REOLOGIA DESTAQUE HIGHLIGHT
54
INOVAÇÃO
3
EDITORIAL
4
NOTÍCIAS CEFAMOL
18
NOTÍCIAS CENTIMFE
20
NOTÍCIAS OPEN
22
NOVOS ASSOCIADOS
24
ANIVERSÁRIO DOS ASSOCIADOS
28
ESPECIAL: FORMAÇÃO NO SECTOR DE MOLDES
31
Reologia – o plástico e a ciência
34
O sector fala de… reologia
38
Os prós e os contras da reologia
40
Nova tecnologia de simulação do movimento dos bicos de válvula
42
Inovações e tendências da simulação na indústria de moldes
44
A reologia aplicada ao projeto de moldes
46
Injeção de polímeros reforçados com fibra ferramentas de análise de enchimento e validação estrutural
48
Análise estrutural de plásticos reforçados com fibras utilizando Moldflow/Advanced Material Exchange
52
Velocidade instantânea na modelação e simulação 3D
55
Projeto SM 4.0 - Smart Manufacturing
58
reGrafitti - Da grafite resíduo ao grafeno reforço um novo caminho para o fabrico de nanocompósitos
61
Mercado da Suécia
70
Sun Tzu revisitado
72
Regime da adaptabilidade de horário de trabalho
INNOVATION
O que as empresas concebem de forma singular e inovadora What our companies concieve in a singular and innovative way
60
NEGÓCIOS
BUSINESS
Economia | Mercados | Estatísticas Economy | Market information | Statistics 74
REFLEXÕES
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE Cefamol - Associação Nacional da Indústria de Moldes • REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Av. D.Dinis, 17 / 2430-263 MARINHA GRANDE - PORTUGAL / T: 244 575 150 / F: 244 575 159 / E: revista_omolde@cefamol.pt / www.cefamol.pt • FUNDADOR Fernando Pedro • DIRETOR Manuel Oliveira • CONSELHO EDITORIAL António Rato, Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Manuel Oliveira, Maria Arminda, Mário Gaspar, Vitor Hugo Beltrão • COORDENADORA EDITORIAL Maria Arminda • COLABORADORES Adriana Afonso, Camilo Silva, Carlos Moura, Carlos Novo, Edson Nascimento, Gonçalo Lemos, João Faustino, João Gaspar, João Paulo Rodrigues, José Orosa, Luís Cerejo, Nelson Novo, Nilton Sousa, Nuno Silva, Pedro Brandão, Sam Hsieh, Sérgio Fortunato, Teresa Neves, Tiago Vitorino, Vítor Hugo Ferreira • PUBLICIDADE Rui Joaquim • EDIÇÃO E PAGINAÇÃO Colorestúdio – Artes Gráficas, Lda – Leiria / T: 244 813 685 / E: colorestudio.lda@gmail.com • PERIODICIDADE Trimestral • TIRAGEM 1000 exemplares • DEPÓSITO LEGAL 22499/88 • REGISTO ERC 113 153 • Nº ISSN 1647-6557 ANUNCIANTES TTO 2 / Mater 5 / Knarr 7 / Fuchs 9 / MMC Hitachi Tool Engineering Europe GmbH 11; 59 / Tecnirolo 13 / Sew Eurodrive 15 / Kingman 17 / Hotel Mar&Sol 18 / Eurocumsa 19 / S3D 21; 63 / FerrolMarinha 23 / Stratasys 25 / Mafepre 27 / Blasqem 31 / Amtools Group 33 / Oerlikon Balzers 35 / SB Molde 37 / Iscar 39 / Simulflow 41 / DNC Técnica 43 / ONA 45 / Schunk 47 / GrandeSoft 49 / Meusburger 51 / Alamo 53 / Fluxoterm 55 / Yudo 57 / Jerónimo 61 / Synventive 65 / Newserve 67 / Jaba 68 / Hasco 69 / Apoio Jurídico 70 / Keymac 71 / Rabourdin 72 / TCA 73 / Heto 75 / FCS System capa interior / Cheto contracapa interior / Tebis contracapa
• Imagem gentilmente cedida pela AES Moldes: amostra plástica e respetivo estudo reológico. • Nenhuma parte desta revista, pode ser reproduzida, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, sem a autorização escrita da CEFAMOL. • Conteúdos conforme a nova ortografia, salvo se os autores não o autorizarem.
O MOLDE N117 | 04.2018
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EDITORIAL
manuel oliveira*
* Secretário-geral da Cefamol
Reologia e não só…
Rheology and more...
O alargamento da cadeia de valor da Indústria Portuguesa de Moldes tem sido um elemento fundamental para a sua diferenciação e posicionamento de referência no mercado internacional. Os investimentos realizados pelas empresas ao longo dos últimos anos têm reforçado esta orientação estratégica em diferentes vertentes, onde se salienta, por um lado, a conceção, desenvolvimento e engenharia de produto, e por outro, a produção de peças ou componentes plásticos e todos os elementos adjacentes à sua produção, como dispositivos e meios de controlo ou sistemas de automação.
The extension of the Portuguese Mould Industry value chain has been a fundamental element for its differentiation and position as a reference player in the international market. Investments made by companies over the last few years have reinforced this strategic line in different fields, on one hand, design, development and product engineering, on the other, the production of plastic parts or components, as well as all the elements adjacent to this production, such as control devices and methods or automation systems.
Em simultâneo, a otimização de processos e soluções tornou-se um fator de vital importância para a competitividade do sector, onde a capacidade de trabalhar em conjunto com o cliente desde um estado inicial de desenvolvimento do projeto, reforça sinergias e complementaridades, minimizando erros e ganhando tempo na produção. Nesta edição da revista “O Molde” damos especial destaque a processos que muito contribuem para se atingirem os objetivos acima descritos: a Reologia e Análises Estruturais. Com o apoio de fornecedores desta tipologia de soluções e reunindo opiniões das empresas utilizadoras, analisamos o que há de novo no mercado, o seu desempenho e as funcionalidades ao dispor das empresas. Do lado dos utilizadores salientam-se as necessidades ainda existentes nesta área, mas também as expectativas sobre os benefícios que tais ferramentas podem trazer para as organizações, para o aumento da sua produtividade e para a melhoria no relacionamento com os seus clientes. Numa altura em que os valores das exportações realizadas em 2017 foram disponibilizados e se regista um novo aumento da presença internacional do nosso sector, batendo, pela sexta vez consecutiva, o recorde nesta matéria, torna-se prioritário sustentar este crescimento e relacionamento com o mercado, sendo estratégico, a introdução e otimização de novas soluções tecnológicas e eficiência do processo produtivo. Para tal, há que, obviamente, desenvolver competências e atrair talento para a indústria para apoiar este movimento. Acreditamos que as nossas empresas estão cada vez mais despertas para este fator e motivadas para promover iniciativas que contribuam para combater a escassez de mão de obra qualificada e atrair o saber e o conhecimento para, em conjunto, dinamizar o futuro do sector. Exemplos de boas práticas nesta matéria passam pelo envolvimento registado na entrega das Bolsas “IPL-Indústria”, em que 37 estudantes do Instituto Politécnico de Leiria foram contemplados e que damos nota nesta edição. Inovação, conhecimento, tecnologia, qualificações, sinergias são palavras chave da indústria do futuro, para um sector que, objetivamente, as utiliza no presente.
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At the same time, procedures and solutions optimization has become a crucial factor for the competitiveness of the sector, since the ability to work together with the client as from an initial stage of development of the project, strengthens synergies and complementarities, minimizing errors and reducing the production time. In this issue of “O Molde” Magazine, we highlight processes that greatly contributed to meeting the targets described above: Rheology and Structural Analysis. With the support of this type of solution suppliers and by gathering opinions before user companies, we analyse what is new in the market, their performance and the functionalities available to the companies. On the users’ side, the needs still exist as well as the expectations regarding the benefits that such tools can bring to companies, increasing their productivity and improving their client relations. At a time when the export values, performed in 2017, became available and when there is a new increase in the international presence of our sector, beating the record for the sixth consecutive time, it becomes a priority to sustain this growth and market relationship, being strategic, introducing and optimizing new technological solutions and efficiency of the productive process. To do so, we must obviously develop skills and attract talent to the industry, therefore supporting the movement. We believe that our companies are increasingly aware of this and more motivated to promote initiatives that contribute to counter the skilled labour shortage and attract know-how to jointly boost the future of the sector. Examples of sound practices in this field include the commitment of “IPL-Indústria” for delivering scholarships to 37 students from Instituto Politécnico de Leiria (Leiria Polytechnic Institute), herein mentioned. Innovation, knowledge, technology, qualifications, synergies are key words of the future industry, for a sector that objectively uses them in current days.
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NOTÍCIAS NEWS CEFAMOL
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NOTÍCIAS NEWS
JOÃO FAUSTINO REELEITO PRESIDENTE DA CEFAMOL João Faustino foi reeleito presidente da CEFAMOL, num novo mandato que terminará em 2020. A eleição foi efetuada na assembleia geral da associação que decorreu no passado dia 22 de março, na Marinha Grande. Este será o seu quarto mandato consecutivo como líder da associação, em representação da empresa TJ Moldes. A valorização e reconhecimento da indústria de moldes, quer em Portugal, quer no estrangeiro, a dinamização do conhecimento e da cooperação no seu seio, bem como a sua interação com diferentes stakeholders do sector, têm sido as principais linhas de orientação estratégica da CEFAMOL.
conhecimento e informação será realizada através da revista “O Molde” e outras publicações da associação ou em eventos específicos, onde se salienta, este ano, a “Semana de Moldes 2018”.
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ÓRGÃOS SOCIAIS DA CEFAMOL 2018-2020 Assembleia geral:
Vice-presidente
Com orgulho no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, a Direção agora eleita agradeceu a confiança, o envolvimento e a ativa participação que as empresas associadas tiveram nas ações regularmente promovidas, as quais muito contribuíram para a trajetória de sucesso que o sector tem assumido. A consideração que o trabalho promovido requer continuidade, consolidação e, em algumas áreas, reforço de intervenção, foram as razões enumeradas para a candidatura apresentada para o biénio 2018-2020, perspetivando o aumento da criação de valor para os associados e para o sector em geral. Em termos de prioridades e objetivos para este novo mandato, foi destacada a consolidação da representatividade da associação, através da conquista de novos associados, assim como o reforço da transmissão de conhecimento e da troca de experiências e saberes, entre as empresas do sector. Salienta-se também a continuidade que será dada à campanha de imagem e promoção internacional “Engineering & Tooling from Portugal”, e à dinamização da colaboração e interação com instituições de ensino, no sentido de sensibilizar e atrair jovens técnicos qualificados para o sector, reforçando simultaneamente a relação da indústria com estas entidades. Por último, foi dada relevância à concretização de ações e planos de formação adequados às necessidades e requisitos das empresas, assim como ao acompanhamento das dinâmicas e tendências tecnológicas e de mercado que as envolvem. A disseminação de
Vice-presidentes
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EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA DE MOLDES BATEM NOVO RECORDE EM 2017 O ano de 2017 foi um ano de referência para a Indústria Portuguesa de Moldes. As exportações do sector voltaram a atingir um valor recorde, ascendendo a mais de 675 milhões de euros, tornando-se o melhor ano de sempre, em termos de produção e exportação, pela sexta vez consecutiva, de acordo com os dados recolhidos pela CEFAMOL. Em relação ao ano de 2016, no qual o valor das exportações ultrapassou, pela primeira vez, a fasquia dos 600 milhões de euros (atingindo os 626 milhões), o ano de 2017 representou um aumento de cerca de 8%, sendo o valor total de produção estimado em cerca de 794 milhões de euros.
ou seja, em seis anos, a indústria de moldes recrutou para as suas empresas cerca de três mil novos quadros. Atualmente, a indústria de moldes emprega aproximadamente 10.460 trabalhadores, tem 515 empresas, maioritariamente de pequena e média dimensão (PME), dedicadas à conceção, desenvolvimento e fabrico de moldes, com uma distribuição geográfica centrada nas regiões da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis. EXPORTAÇÕES PARA 93 MERCADOS Devido ao seu carácter de inovação e de alta intensidade tecnológica, Portugal encontra-se entre os principais fabricantes de moldes a nível mundial: é o oitavo produtor do mundo e o terceiro a nível da Europa, no que a moldes para a injeção de plástico diz respeito, exportando mais de 80% da produção total. Em 2017, os principais mercados dos moldes portugueses foram Espanha (22%), Alemanha (21%), França (12%), República Checa (6%) e Polónia (5%). Este grupo foi seguido pelos Estados Unidos, México e Reino Unido. O “top ten” dos ‘mercados destino’ fica completo com a Eslováquia e Hungria. Tais resultados, demonstram a eficácia da estratégia de promoção da indústria, coordenada pela CEFAMOL, e que tem incidido as suas atividades, para além dos mercados tradicionais e que ocupam as primeiras posições do pódio, nas regiões da Europa Central e de Leste, bem como na América do Norte.
Quando comparados com o inicio da década, mais concretamente o ano de 2010, os valores das exportações representam mais do dobro verificado nessa altura, o que é representativo de que Portugal, ao longo dos anos, tem demonstrado uma elevada capacidade de adaptação às necessidades dos seus clientes e à evolução, quer dos mercados, quer das tecnologias. Um outro indicador a destacar, este ainda com referência a 2016 foi a criação de emprego liquido no sector. Desde o início da década,
Mas estes não foram os únicos destinos: os produtores nacionais de moldes exportaram a sua produção para 93 mercados (países) distintos, o que demonstra a dimensão internacional e global desta indústria.
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Em termos de importância das regiões económicas, mantém-se a preponderância do mercado europeu, principalmente comunitário, representando nos 10 últimos anos, em média, 80% do total de exportações. Em 2017, tal atingiu um valor de 82%. Destaque ainda, no ano que passou, para o crescimento de exportações para a América do Norte que, no entender da CEFAMOL, se deve, por um lado, ao aumento de confiança e investimento na indústria dos EUA e México, e, por outro, à aposta da indústria na promoção junto aos clientes destes mercados. Ao longo dos últimos anos, a análise da evolução da balança comercial demonstra a forte vocação exportadora do sector. O saldo positivo da balança comercial registou uma tendência de crescimento nos últimos anos, tendo passado de 248 milhões de euros em 2010, para 445 milhões de euros em 2017. No que diz respeito à tipologia de clientes, a indústria automóvel tem vindo a consolidar o seu crescimento e importância no desenvolvimento do sector, assumindo uma representatividade de 82% em 2016. Nas posições seguintes, destaca-se a embalagem, que tem crescido de uma forma sustentada, representando, neste momento, 8% da produção nacional de moldes. No entanto, o sector está
presente em outras áreas industriais de grande importância para o desenvolvimento de novos produtos na economia mundial, assim como vem mantendo a procura por novas áreas e nichos, tais como a eletrónica, a indústria aeronáutica ou os dispositivos médicos.
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NOTÍCIAS NEWS CEFAMOL
PROTOCOLO ESTREITA RELAÇÃO ENTRE CEFAMOL E ASSOCIAÇÃO AUTOMÓVEL DE MARROCOS A CEFAMOL assinou um protocolo de colaboração com a AMICA (Associação Marroquina dos Fornecedores da Indústria Automóvel), que prevê estreitar as relações já existentes entre ambas as associações. O documento identifica várias áreas de intervenção que pretendem promover e dinamizar as relações económicas e de parceria entre empresas dos dois países. Desde já se salienta a participação da CEFAMOL e seus associados no Salão de Subcontratação Automóvel de Tanger, prevista para abril de 2018.
A assinatura deste protocolo teve lugar durante a realização de uma missão empresarial que a CEFAMOL promoveu em Marrocos, nos passados dias 5 e 6 de dezembro, e que coincidiu com a 13ª Cimeira Luso Marroquina, presidida pelos Primeiros Ministros de ambos os países, e que contou ainda com a presença, na representação portuguesa, de dois Ministros (da Economia e do Mar) e dos Secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, da Modernização Administrativa e da Energia. A missão da CEFAMOL integrou-se no âmbito do Projeto de Promoção Internacional “Engineering & Tooling from Portugal” e foi realizada em parceria com a AICEP e a Associação de Fornecedores da Indústria Automóvel (AFIA). Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, conta que a deslocação permitiu “perceber que existem muitas oportunidades para a indústria de moldes nacional nomeadamente junto da indústria automóvel”. O responsável sublinha que “há uma interessante aproximação entre os dois países, a nível económico”. E isso é confirmado pelos dados do Governo Português, segundo os quais, em matéria de relações económicas, mais de 1.300 empresas nacionais estão a exportar para o mercado marroquino, país que registou no ano passado um crescimento económico na ordem dos 4%. Manuel Oliveira conta ainda que um dos aspetos interessantes para a indústria de moldes nacional foi a constatação de que “a indústria automóvel em Marrocos encontra-se em pleno desenvolvimento, com a instalação de empresas construtoras”. São disso exemplo os casos da Renault, já ali instalada, e da PSA (Grupo Peugeot Citroen) que prepara a instalação no país. A missão empresarial
da CEFAMOL visitou a zona franca de Kenitra, futura localização dessa unidade. Integrada no programa da cimeira entre os dois países, teve lugar um fórum empresarial luso-marroquino, que permitiu às empresas portuguesas reforçar o seu conhecimento sobre o desenvolvimento do mercado e estabelecer um conjunto de contactos e interligações com alguns players da economia local. No âmbito desta missão, houve ainda a oportunidade para a realização de visitas a empresas de injeção de plásticos, estabelecidas na região de Casablanca. Para além de representantes das duas Associações (CEFAMOL e AFIA) a missão integrou nove empresas: Batista Moldes, Epedal, Inapal Metal, Itecmo, Kirchhoff Automotive, Moldene, Moldoeste, O2A e TJ Moldes.
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MISSÃO DA CEFAMOL À HUNGRIA REVELA OPORTUNIDADES PARA EMPRESAS PORTUGUESAS “A Hungria tem potencialidades, mas as oportunidades desse mercado têm de ser trabalhadas pelas empresas”. Esta foi, no entender de Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, uma das principais conclusões da missão realizada pela associação, em conjunto com as empresas Moldes RP, Moldit e Prifer, à Hungria, sublinhando que o resultado final da deslocação se saldou pela positiva.
da Mercedes-Benz, instalada em Kecskemét, que tem uma das mais modernas linhas de montagem da marca.
A missão, que decorreu de 5 a 8 de fevereiro, possibilitou à representação portuguesa conhecer o mercado, contactar com empresas locais, apresentar as capacidades e competências da indústria portuguesa e identificar oportunidades de negócio. Nesse sentido, foram visitados vários fornecedores locais das indústrias automóvel e de embalagem. Um dos destaques foi a visita à fábrica
A missão permitiu, ainda, estabelecer contactos com dois clusters daquele país, o NOHAC e o AIPA, que permitirão, entre outras ações, “lançar as bases para trazer empresas húngaras a visitar Portugal num futuro próximo”, afirmou ainda o secretário-geral da CEFAMOL.
“Nesta deslocação foi também possível constatar que existe um conjunto grande de produtores de primeira linha que trabalham para toda a região da Europa Central como a República Checa, a Polónia ou mesmo a Alemanha”, contou Manuel Oliveira.
A deslocação portuguesa, que contou com o apoio da delegação da AICEP em Budapeste, chamou a atenção da imprensa da Hungria, tendo sido realizadas reportagens com a CEFAMOL, em vários órgãos de comunicação entre os quais, um canal de televisão de Kecskemét. De acordo com Manuel Oliveira, a indústria húngara tem “uma boa imagem da indústria portuguesa de moldes, devido ao seu carácter inovador e pela competência do seu trabalho”. A delegação portuguesa percorreu as regiões de Bács-Kiskun, Borsod-Abaúj-Zemplén e Pest.
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SEMINÁRIO DEBATEU TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS ‘Tendências Tecnológicas para Indústria de Moldes’ foi o tema de um seminário organizado na CEFAMOL que, no dia 22 fevereiro, permitiu a vários profissionais do sector refletir acerca de melhores práticas no processo de produção industrial. A ação, organizada em conjunto pelas empresas TCA e ESSS Ibéria e que contou com a colaboração do Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentável do Produto (CDRSP) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), pretendeu, por um lado, “estimular a troca de ideias entre gestores e quadros superiores desta indústria” e, por outro, “demonstrar como as ferramentas tecnológicas permitem alcançar importantes resultados, sendo grandes aliadas para otimizar a performance das empresas”. Considerando que esta é “uma temática pertinente e importante”, Bruno Sousa, diretor da TCA, destacou que, para obter melhores resultados, é fundamental que as empresas consigam “controlar a informação internamente, de forma a que todos os departamentos de fabrico ‘falem’ a mesma linguagem, a qual deverá ser transversal a toda a empresa”, conseguindo implementar uma uniformização de processos. Defendeu, ainda a necessidade de “adaptar o fabrico com as soluções tecnológicas”, adiantando que estes fatores, em conjunto, permitirão “acrescentar valor ao produto que é fornecido ao cliente”. “As empresas de moldes estão a mudar, mas o cliente também. Hoje, o cliente quer dados científicos e inovação”, advertiu. Marcus Reis e Nuno Silva, da ESSS Ibéria, falaram aos presentes sobre os benefícios da ‘simulação computorizada’ no processo de fabrico do molde, enquanto fizeram uma apresentação - recheada de casos práticos já em curso em algumas empresas do sector - do sistema ‘ANSYS’, que disponibilizam ao mercado. “Esta ferramenta
permite perceber e eliminar as falhas, através de simulação rigorosa, melhorar a qualidade e reduzir custos”, explicou Marcus Reis. Já Pedro Carreira, do CDRSP, centrou a sua intervenção nas tecnologias e soluções que estão a ser desenvolvidas pelo IPL, sobretudo no que toca ao fabrico aditivo, abordando, entre outras, questões relacionadas com a tecnologia ‘3D Printing’. Durante a sua intervenção, salientou a ligação estreita que existe entre o IPL e as empresas, considerando ser esta “fundamental” para a criação de boas soluções que apoiem a indústria e que qualifiquem os profissionais que nela operam. Com a participação de cerca de duas dezenas de pessoas, em representação de várias empresas do sector, o seminário terminou com um interessante debate, com os presentes a colocarem várias questões sobre temas que se estenderam desde as tecnologias no processo de fabrico do molde, a evolução de técnicas, até ao papel dos recursos humanos nas empresas.
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ISTMA “STATISTICAL YEAR BOOK” - EDITION 2017 Esta publicação, editada anualmente, inclui a mais atualizada informação estatística de comércio internacional e produção na área dos Moldes e Ferramentas Especiais, servindo-se de uma vasta componente gráfica e numérica, com mais de 900 imagens, gráficos e tabelas em 260 páginas (formato online), como suporte para uma descrição mais completa e pormenorizada da evolução das Indústrias de Tooling de diferentes países.
também para ajudar a reconhecer a dinâmica das mudanças estruturais na indústria mundial.
A nova edição pretende fornecer informação útil para uma compreensão mais abrangente do quadro global, fornecendo uma ferramenta adicional, não só para compreender as consequências da situação atual, mas
Todos os interessados na aquisição do livro ou em obter informações adicionais poderão entrar em contacto com a CEFAMOL através do e-mail: cefamol@cefamol.pt ou telefone: +351 244 575 150.
Os indicadores estatísticos que podem ser encontrados nesta edição incluem 29 países: Africa do Sul, Alemanha, Áustria, Brasil, Canadá, China, Coreia, Estónia, EUA, Eslovénia, Espanha, França, Hungria, India, Itália, Finlândia, Japão, México, Polónia, Portugal, Reino Unido, Republica Checa, Rússia, Singapura, Suécia, Suíça, Taiwan, Tailândia e Turquia.
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NOTÍCIAS NEWS CEFAMOL
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ESCULTOR TRANSFORMA O AÇO EM OBRAS DE ARTE As suas mãos, que outrora transformaram o aço em moldes para fabrico de peças de plástico, correm ao sabor da imaginação e criam autênticas obras de arte. Luís Ferreira dos Santos tem 88 anos, é natural da Marinha Grande, e passou a vida a trabalhar na indústria de moldes, na empresa Aníbal Abrantes. Quando se reformou, há cerca de duas décadas, começou a construir a sua arte, nos tempos livres, em casa. Algumas destas obras estiveram em exposição, até final do mês de fevereiro, na Exposição “Esculpir o Aço”, patente no edifício da resinagem, na Marinha Grande. Luís Santos adquire restos de aço inoxidável em fábricas e esculpe, à mão, as mais variadas peças. O sótão de sua casa é hoje um espaço de exposições privado, onde guarda o que vai construindo. Já criou guarda-jóias, candeeiros, capelas e dezenas de outras peças. Cada uma delas impressiona pelos detalhes e pela perfeição que lhes coloca. Os candeeiros, por exemplo, têm ligação à corrente elétrica e conseguem servir de iluminação. “Sempre gostei muito de trabalhar o aço e não conseguia ficar parado”, conta, assegurando ter, ainda, “muitas peças na cabeça que gostava de fazer em aço”. Não se sente um artista. Afirma-se, apenas, um “apaixonado pelo trabalho” que fez toda a sua vida. E, ao contrário do que acontecia quando trabalhava na indústria de moldes, hoje não tem desenhos a guiá-lo. Segue a peça sonhada, com recurso à memória e deixa trabalhar as mãos ao ritmo da imaginação. A forma como sempre trabalhou o aço, numa época em que poucas
máquinas havia, fê-lo aprender a usar as mãos com mestria. E são, hoje em dia, a sua única ‘ferramenta’. Criou ao lado de casa um pequeno barracão que transformou em oficina, onde só usa o torno de bancada, rebarbadora, berbequim e, sobretudo, a habilidade manual com que trabalha o aço. Dedica a esta arte todo o seu tempo disponível. Tem peças, como uma capela que está em exposição no edifício da resinagem, que demoram um ano a estar concluídas. O trabalho mais recente foi uma reprodução de um quartel de homenagem aos Bombeiros. Demorou o ano de 2017 a fazê-lo. Vida de moldes Tinha apenas 8 anos quando começou a trabalhar. O seu início foi na indústria vidreira, na fábrica ‘Angolana’. Em 1954, mudou para a indústria de moldes, ingressando na serralharia ‘Aires Roque e Irmãos lda’. Do espólio da Exposição “Esculpir o Aço” faz parte uma antiga fotografia onde Luís Santos surge, ao lado dos companheiros de trabalho nessa fábrica. Aí iniciou as suas funções na forja e, posteriormente, a fazer moldes em madeira e ferro fundido. A unidade foi adquirida por Aníbal Abrantes e aí se manteve toda a vida até à idade da reforma. Recorda-se dos primeiros moldes para plásticos que fez: uma imagem de Nossa Senhora, uma grade para a Coca Cola ou um molde para flores de plásticos. “Eram outros tempos. Tínhamos de fazer tudo à mão, as poucas máquinas que havia não ajudavam muito. Mas tínhamos de ter muito empenho, dedicação e de gostar do que fazíamos”, conta.
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PROTOCOLO “IPL-INDÚSTRIA” ATRIBUI 37 BOLSAS DE ESTUDO NO ANO LETIVO 2017/2018 “Vale a pena sermos mais ousados, ambicionar um pouco mais e pensar num “IPL-Indústria 2.0”, dado que se aproxima uma década desafiante” destacou Nuno Mangas, presidente do Politécnico de Leiria na cerimónia de atribuição das Bolsas “IPLIndústria”, realizada no dia 27 de fevereiro, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG/IPLeiria). Nesta sessão subiram ao palco 37 estudantes que receberam bolsas de estudo atribuídas por 26 empresas associadas da CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes e da NERLEI - Associação Empresarial da Região de Leiria, às quais foi também atribuída a distinção Responsabilidade Social. Pedro Martinho, diretor da ESTG/ IPLeiria, abriu a cerimónia, destacando «a materialização da vontade em consolidar a ligação da academia com a indústria». Pedro Martinho congratulou todos os estudantes distinguidos com as bolsas “IPL-Indústria”, pois “é um prémio que reconhece o mérito de serem bons estudantes, e lhes possibilita uma forte ligação com as empresas ao longo do curso, com trabalhos e estágios, e até como colaboradores dessas empresas”. André Antunes, estudante de Engenharia Mecânica, foi o porta-voz de todos os estudantes distinguidos: “O esforço realizado no ensino secundário não foi em vão. Estamos orgulhosos dos resultados. Estas bolsas são importantes, não só pelo valor monetário, mas motivam-nos para fazer melhor, e é uma mais-valia determinante esta ligação da academia com as empresas, pois complementa os conhecimentos teóricos lecionados”. O estudante agradeceu ainda todo o acompanhamento dado pelos empresários nas suas empresas. O presidente da NERLEI, Jorge Santos, salientou o número crescente de bolsas a cada edição desta iniciativa «emblemática da nossa região», e referiu a importância de captar os melhores estudantes do ensino secundário, que «se tornarão melhores na saída do ensino superior e melhores profissionais». “Esta nossa ligação permite que os estudantes e docentes conheçam melhor as empresas e como funcionam, e permite também aos empresários conhecer melhor as Escolas do Politécnico, as suas mais-valias, necessidades e limitações”, declarou o presidente da NERLEI. “O sucesso do Politécnico de Leiria será o sucesso das nossas empresas. Queremos ter uma região mais competitiva e mais produtiva, gerar mais valor: é esse o caminho”, sublinhou Jorge Santos. João Faustino, presidente da CEFAMOL, considerou que a atribuição de bolsas é uma constatação do trabalho desenvolvido. “Todos
temos a ganhar: as empresas e o Politécnico de Leiria. Somos desafiados todos os dias, pelo que é preciso ter conhecimento das empresas, conhecimento do saber e da ciência”, realçou João Faustino. “Um dos grandes desafios é a mão de obra qualificada, e por isso contamos com todos para que possamos concretizar todos os objetivos que nos são colocados dia após dia”, terminou o presidente da CEFAMOL. Nuno Mangas fez um balanço positivo do protocolo “IPLIndústria”, firmado em julho de 2013, e referiu a importância de repensar o programa com outra envergadura, com mais pontos de interação entre a Academia e a Indústria. “É relevante prepararmos bem as pessoas, sobretudo para as incertezas. O grande desafio é ter 60% dos jovens entre os 18 e os 24 anos no ensino superior, e temos 10 ou 12 anos para concretizar este objetivo”, indicou Nuno Mangas. “Assim destaco dois desafios que temos enquanto sociedade: a necessidade de ter um “IPL-Indústria 2.0” e ter mais estudantes no ensino superior. Devemos valorizar o conhecimento, a aprendizagem e a aquisição de novos saberes”, concluiu. A iniciativa prestigiou ainda todos os agrupamentos escolares de origem dos estudantes galardoados. Foram contemplados estudantes das licenciaturas em Contabilidade e Finanças, Engenharia Automóvel, Engenharia e Gestão Industrial, Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Engenharia Informática, Engenharia Mecânica, Gestão e Marketing. As 26 empresas que atribuem as bolsas deste ano letivo são: AES Moldes, Bollinghaus Steel, Bourbon Automotive, Caixa de Crédito de Leiria, Digiwest, Erofio SA, Erofio Atlântico, EST, Fravizel, Geco, Geocam, GLN, inCentea, La Redoute, MD Moldes, Microsense, Moldes RP, Moldoeste, Planimolde, PMM, Ribermold, Socem, Solancis, Stream Consulting, TJ Moldes e Vipex. As bolsas de estudo “IPL-Indústria” resultam do protocolo estabelecido em julho de 2013 entre o Politécnico de Leiria, a CEFAMOL e a NERLEI, que tem como principais objetivos promover a formação em contexto empresarial, a disseminação do conhecimento e da tecnologia, e ações de responsabilidade social conjuntas, que aproximam a academia da realidade industrial, beneficiando estudantes, docentes e empresas. As bolsas “IPL-Indústria”, cujo valor suportará os custos da propina anual fixada pelo Politécnico de Leiria, são concedidas aos estudantes que ingressam com melhor média nos cursos selecionados pelas empresas.
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Tem apenas 19 anos, mas uma grande determinação em relação ao futuro que, assegura, passará pela indústria de moldes. André Martins, de 19 anos, terminou o 12º ano sem saber que área de formação seguir. A incerteza levou-o a fazer um estágio numa empresa de produção de moldes da Marinha Grande. Apaixonouse pela atividade e decidiuse pela engenharia mecânica. Os bons resultados do secundário permitiram-lhe usufruir de um ano de bolsa patrocinado por uma empresa, no âmbito do programa “IPL Indústria”. André afirma-se “muito grato” pelo apoio que, diz, “é uma prova de confiança” e que motiva os alunos “a ser melhores”. Diz-se, ainda, e muito esperançoso que, após a conclusão do seu curso, consiga estar “mais preparado para os avanços tecnológicos que já estão presentes na indústria de moldes”. Tem esperança também de “conseguir desempenhar o melhor papel possível nessa indústria e poder ajudá-la a evoluir tecnologicamente”.
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Antes do ano de estágio na indústria, o jovem aluno conhecia, de ouvir falar, a indústria de moldes. Mas foi depois de passar pela experiência que cimentou a decisão de a incluir no seu futuro. Considera que os colegas de curso já terão ouvido falar desse sector, sobretudo pela elevada taxa de empregabilidade. Mas admite que “só se tem uma ideia real do potencial tecnológico desta indústria depois de se conhecer bem o trabalho que fazem as empresas”. A visão das empresas: A Erofio foi uma das empresas de moldes a participar, este ano, pela primeira vez na atribuição das bolsas. Manuel Novo, responsável da empresa, classificou este como “um bom programa”. “Em cinco anos, conseguiram atingir este volume de bolsas que é muito considerável e, atendendo a isso, e porque precisamos realmente dos jovens formados pelo politécnico, decidimos participar”, esclareceu, adiantando que “se não atribuirmos as bolsas, provavelmente, não incentivamos os jovens a ter mais empenho”. Por outro lado, frisou, “é muito importante estarmos empenhados nesta promoção dos jovens para que possam vir a ser os continuadores das empresas no futuro”.
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ENTREVISTA A NUNO MANGAS - PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA “O IPL, a CEFAMOL e a Nerlei fizeram um trabalho de grande sensibilização, de comunicação, e conseguiram ganhar os empresários”.
- Esta ligação entre as empresas e a academia - que é visível em programas como o “IPL-Indústria” - tem sido, desde sempre, uma das suas prioridades. Este programa conseguiu efetivamente uma aproximação grande do instituto às empresas?
Nuno Mangas é presidente do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) há oito anos e está a concluir o seu último mandato à frente da instituição. Ligado ao IPL há mais de duas décadas, o docente exerceu diversos cargos de gestão, desde presidente do Conselho Consultivo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) a vicepresidente do IPL. É também presidente do Conselho Coordenador dos Politécnicos Portugueses tendo visto recentemente, com agrado, ver aprovada a possibilidade dos politécnicos passarem a poder conferir o grau de doutoramento, o que considerou “um grande desafio pelo qual lutávamos há muito”.
Acho que, de alguma maneira, se estivéssemos a falar em linguagem oral, poderíamos dizer que o “IPL-Indústria” é a verbalização da ligação do instituto às empresas. Com a atribuição das bolsas, estamos a exteriorizar uma ligação que decorre de uma forma mais ou menos silenciosa ao longo do ano. O que temos aqui - a entrega das bolsas aos alunos - é a ponta do iceberg do que são as atividades do “IPL-Indústria”. O protocolo e as atividades têm três eixos e esta, da responsabilidade social, é apenas um deles. Os outros são a aposta na formação em contexto empresarial (em que os estudantes estão em contacto com as empresas) e a disseminação do conhecimento (que permite a ligação dos docentes com os técnicos, gestores e engenheiros das empresas, o que potencia mais projetos de I&D e prestações de serviços na área da investigação).
Em jeito de balanço, falou-nos do programa “IPL-Indústria”, criado há cinco anos, e que tem sido uma das mais importantes ligações da academia à indústria, visível, sobretudo, nos protocolos que conferem um ano de bolsas a alguns alunos, patrocinadas pelas empresas.
- Mas a atribuição das bolsas é muito marcante… Muito marcante, sim, porque permite este diálogo, esta proximidade entre os empresários, os estudantes. Esta, de alguma maneira, permite alavancar as outras e criar um lastro - a vontade -, para que se façam depois outras atividades.
- De há cinco anos para cá muito mudou e a adesão tem crescido ano após ano. Os empresários reconhecem a importância do programa? Houve um percurso notável, sim. Acho que o IPL, a CEFAMOL e a Nerlei fizeram um trabalho de grande sensibilização, de comunicação, e conseguiram ganhar os empresários, dando-lhes a perceber que isto é importante. Hoje, uma empresa pode ter os melhores equipamentos, mas se não tiver os melhores funcionários, provavelmente será menos competitiva que outra com melhores equipamentos e melhores colaboradores. É um desafio. Cada vez se percebe mais que o fator humano, as pessoas, é decisivo na competitividade, no sucesso dos negócios e das empresas. É um caminho que se constrói ou, como dizia o poeta espanhol Antonio Machado, ‘o caminho faz-se caminhando’. É um trabalho em crescendo, temos de ter sempre a ambição de fazer mais no ano seguinte.
- Neste seu ciclo que está a encerrar à frente do IPL sente este projeto como um legado seu que vai deixar? Não sei se lhe posso chamar legado meu. Diria que foi um contributo,
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deixei um contributo, mas que nunca teria acontecido se fosse apenas o presidente do IPL a trabalhar neste projeto. Só foi possível porque houve uma conjugação de vontades tripartida: a mesma vontade partilhada pelo IPL, pela CEFAMOL e pela Nerlei. É uma construção, uma pirâmide que fomos construindo e que tem uma base com algumas pessoas que, de alguma maneira, incentivaram e motivaram e dinamizaram tudo isto. Nunca deixaram que as coisas não acontecessem.
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nas áreas da gestão e marketing mas se calhar podemos ir para outras áreas, como o design, a comunicação, o turismo ou a biotecnologia. E há uma outra questão que temos de valorizar: o IPL, para ter bons estudantes, teve de ter alguém a prepará-los anteriormente. Então, por que não olhar também para as escolas secundárias e profissionais e também ir um bocadinho mais longe naquilo que é o estímulo que damos aos professores e às escolas?
- Qual o balanço que faz do trabalho desenvolvido até agora? - E agora? O que se pode esperar, no futuro, deste “IPL-Indústria”? Quando começámos, há cinco anos, estávamos longe de pensar que conseguíamos atingir esta dinâmica que temos agora instalada. Temos de pensar para os próximos cinco anos e, possivelmente, pensar na criação do ‘2.0’ deste protocolo. Temos de conseguir ir mais longe. Se calhar, em termos de território. O IPL está inserido em duas comunidades intermunicipais mas ainda estamos muito focados na região de Leiria. A região oeste tem algumas empresas representadas, mas ainda está muito sub-representada. Seria interessante também diversificar um bocadinho as áreas do conhecimento: estamos muito focados nas engenharias (e bem),
Se o balanço não fosse positivo, não tínhamos este conjunto de empresas, com os empresários a querer dar o rosto por este projeto. É sinónimo de que acreditam e acham que este projeto vale a pena. Temos muitas empresas que estão cá desde o primeiro momento. A região tem feito um trabalho muito interessante e positivo, mas se pararmos de ambicionar mais, corremos o risco de ser ultrapassados. Por isso, temos de andar sempre a olhar um bocadinho à frente. É preciso ambicionar mais, ousar mais ao nível do “IPL-Indústria” porque precisamos, para a região, de pessoas cada vez mais qualificadas.
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NOTÍCIAS NEWS CENTIMFE
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GOVERNO LANÇA MEDIDAS DE APOIO AOS CENTROS DE INTERFACE TECNOLÓGICO O governo anunciou no passado dia 23 de fevereiro um conjunto de medidas para dinamização dos CIT – Centro de Interface Tecnológico. Estas medidas pretendem o reforço de competências nas áreas da transformação digital, economia circular e eficiência energética, promovendo a transferência de conhecimento entre entidades de ensino superior e empresas.
desenvolvimento de competências, capacitação de jovens técnicos
O Centimfe é um dos 28 Centros de Interface Tecnológico reconhecidos, tendo em curso um processo de contratualização de objetivos, com vista ao incremento do emprego científico,
incremento da incorporação de conhecimento nos produtos e
para a indústria, promoção da cooperação internacional e inserção em redes de investigação europeias. Este será um passo importante para o reforço da competitividade internacional do cluster de “Engineering & Tooling” através serviços, alargamento na atuação na cadeia de valor e presença em novos mercados.
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CENTIMFE ACOLHEU A KICKOFF MEETING DO PROJETO MOBILIZADOR TOOLING4G Decorreu no Centimfe, no dia 7 de março de 2018, a Kickoff meeting do projeto mobilizador TOOLING4G - Advanced Tools for Smart Manufacturing. O evento reuniu mais de 90 participantes que representaram todo o consórcio TOOLING4G, e
contou com a presença de representantes da Agência Nacional de Inovação (ANI). Esta sessão contemplou apresentações dos responsáveis pela coordenação do projeto e dos líderes dos projetos parcelares (PPS´s) e, adicionalmente, com uma intervenção da ANI, que versou aspetos da gestão administrativa/financeira relativos à execução de projetos de I&DT em consórcio.
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NOTÍCIAS NEWS OPEN
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NOS INAUGURA PLATAFORMA DE IOT NAS INSTALAÇÕES DA OPEN NA MARINHA GRANDE A NOS, em parceria com a OPEN e com o apoio da WeADD, inauguraram no 22 de fevereiro o Laboratório de Design e Desenvolvimento de Hardware, o novo HUB de I&D para soluções
de connected devices. Sonae, Frulact e Sword Health foram as primeiras empresas a partilhar alguns dos desafios que serão endereçados ao ecossistema de startups, parceiros e instituições de ensino. Este laboratório dedica-se à investigação e desenho de soluções de hardware, compatíveis com a ‘Internet of Things’ (IoT), e visa potenciar o desenvolvimento tecnológico do tecido empresarial português. Para João Ricardo Moreira, administrador da NOS Comunicações, o novo laboratório “é o ponto de encontro de desafios das empresas com as competências da indústria e da academia”, acrescentando como principal objetivo desta iniciativa “o acelerar os processos de decisão no sentido da implementação das redes de coisas”. “Constatámos que o hardware é um constrangimento para essa evolução. Propomo-nos para, em conjunto, ultrapassar essa barreira e acelerar a transformação digital”, conclui. Se tem uma ideia de soluções na área da ‘ Internet of Things’ participe em: https://iot.nos.pt/home
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REINOVA – INOVAÇÃO NO SECTOR AGROALIMENTAR No dia 27 de fevereiro nas instalações do CTAEX - Centro Tecnológico Agroalimentar, em Badajoz, no âmbito de uma reunião do Consórcio do projeto ReInova, foram apresentados em conferência de imprensa, para o Canal Extremadura e para a TVE os primeiros 6 produtos inovadores desenvolvidos no âmbito do projeto. A região Centro representada no projeto pelos parceiros OPEN, IDD e IPL apresentaram como produto inovador desenvolvido no âmbito do projeto, barras proteicas com pólen. Até 30 de abril estão abertas as candidaturas para participação no Programa de aceleração REiNOVA. Este é uma experiência para desenhar novos produtos nas micro e PMEs do sector agroalimentar, estimular a inovação e a colaboração em rede, testar protótipos junto de potenciais clientes nos mercados externos e minimizar o risco de apostas em projetos não sustentáveis. Se tem uma ideia para um novo produto agroalimentar ou se quer acrescentar inovação a um produto já existente, candidate-se em www.reinova.eu.
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NOTÍCIAS NEWS OPEN
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WeADD GANHA DOIS GERMAN DESIGN AWARD A WeADD, empresa com sede OPEN, ganhou dois prémios no German Design Award 2018, uma competição internacional que decorreu em Frankfurt, na Alemanha, que valoriza competências na área do design. A máquina de café espresso em cápsulas Time venceu um German Design Award Winner e o Prozis Neo Shaker, um projeto 100% português, recebeu um German Design Award Special. Na produção do Prozis Neo Shaker intervieram nove empresas da região da Marinha Grande e a WeADD foi a responsável pela gestão global do projeto. O projeto Time é a primeira máquina de café espresso em cápsula a ser reconhecido com quatro prémios internacionais. Venceu também o Canton Fair Design Award 2015, China; Red Dot Product Design Award 2016, Essen; Good Design Award 2017, Chicago.
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OPEN ACOLHE SEGULA TECHNOLOGIES
A SEGULA Technologies posiciona-se como um dos líderes internacionais no sector da engenharia, ajudando a impulsionar a competitividade nos principais sectores industriais: automóvel, aeronáutico, energético, ferroviário, naval, farmacêutico e petróleo e gás. Presente em 28 países, com 140 escritórios em todo o mundo, o Grupo promove uma estreita relação com seus clientes recorrendo à experiencia dos seus 11 mil colaboradores. Especialista líder em engenharia, a SEGULA Technologies coloca a inovação no centro de sua estratégia realizando grandes projetos, que vão desde estudos de design e desenvolvimento até ao processo de fabrico, validação e produção.
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NOTÍCIAS NEWS NOVOS ASSOCIADOS
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DIB4T APOSTA EM SERVIÇO DE EXCELÊNCIA PARA MOLDES E PLÁSTICOS
A DIB4T - Desenvolvimento, Inovação, Biomimétrica e Tecnologia nasceu a 16 de setembro de 2017, estando, desde então, instalada na Rua da Indústria Metalúrgica, na Pedrulheira, Marinha Grande. Trata-se de um projeto que pretende revolucionar as indústrias de moldes e plásticos, criado por quatro sócios (é daí que surge o algarismo ‘4’ na designação da empresa) com largos anos de experiência, quer na produção de moldes, quer a nível de equipamentos, linhas de assemblagem, mãos de robots, sistemas de transferência e desenvolvimento e fabrico de equipamentos. A unidade fabril teve como ponto de partida o relacionamento de excelência destes quatro elementos, onde cada um atua e possui know-how e competências nestas diferentes áreas, que se complementam, assegurando a excelência do serviço que prestam.
desenvolvimento e fabrico de equipamentos de manipulação, transferência e assemblagem de vários componentes/produtos, recorrendo a equipamentos automatizados ou sistemas de robotização (incluindo a componente eletrónica e de programação) dedicados a projetos para a indústria automóvel, médica, alimentar e de relojoaria. Cerca de 70% da sua produção tem sido destinada aos sectores dos moldes e plásticos, não apenas em Portugal, mas em países como o Brasil, México ou Áustria. A DIB4T pretende desenvolver parcerias com os seus clientes e fornecedores, respeitando as suas normas, princípios, regras, filosofias, visão e, acima de tudo, o sentimento do ‘dever de bem servir’.
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Face à dinâmica que tem colocado na sua ação nos primeiros meses de atividade, a nova empresa olha para o futuro próximo numa perspetiva de grande crescimento - “Queremos estar presentes, hoje e amanhã, nos desafios que esta nova revolução industrial nos está a ‘conduzir’”, explicam os criadores da DIB4T, mostrando-se apostados em “construir no presente prevendo o futuro”. A área de negócio da DIB4T tem incidido, sobretudo, no
IMFU: 23 ANOS DE EXPERIÊNCIA NO SECTOR A IMFU, S.A., fundada em 1995, está vocacionada para a conceção e fabrico de moldes para injeção de plásticos e fundição injetada, prestando também serviços de apoio após venda. Reconhecendo o valor inequívoco da Gestão da Qualidade como uma ferramenta fundamental para ganhar a confiança e a preferência dos clientes, colaboradores e demais intervenientes na vida diária da organização, a IMFU fez da Certificação da Gestão Qualidade um objetivo prioritário e, em novembro de 2004, obteve o Certificado emitido pela APCER / IQNET, em conformidade com a norma NP EN ISO 9001. O reforço da confiança dos seus clientes permitiu o incremento de produção de moldes de maior valor acrescentado para os mais diversos sectores de atividade, com especial enfoque na indústria automóvel. Inicialmente destinados apenas à produção de peças de incorporação
nacional, os moldes fabricados pela IMFU têm atualmente como destino final também o mercado externo, nomeadamente Espanha, França, Polónia e outros. Localizada junto ao aeroporto internacional do Porto, a IMFU conta hoje com mais de 30 colaboradores especializados e um moderno parque de equipamentos, estando preparada para oferecer soluções integradas, desde a conceção, fabrico e ensaio de moldes.
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PORTUMOLDE CELEBRA 40 ANOS DE ATIVIDADE Criada em 1978, a Portumolde tem, desde a sua origem, pautado o seu desenvolvimento pelo assumir de desafios e novas formas de estar na indústria. Ao longo destes 40 anos, tem vindo a desenvolver, sob as mais diversas formas, a sua própria cultura empresarial numa consistente e coerente lógica de aumento de produtividade e qualidade. Como complemento é oportuno deixar uma nota histórica de que a Portumolde foi a primeira empresa de moldes criada de raiz no Grupo Iberomoldes. Experienciaram-se as normais dificuldades do “nascer do nada”, a convivência convergente de sócios num projeto comum e a aprendizagem de novos saberes e novas culturas. A base da “cultura” Portumolde de fazer moldes e “do estar diferenciado” nesta nossa indústria, é também oriunda de uma escola diferente, a Francesa. Esta diferença e esta mistura de filosofias, que ainda hoje se mantêm bem vivas, permitiu outras abordagens técnicas no desenvolvimento de processos, nomeadamente o recurso à subcontratação como metodologia de produção e na reconhecida assertividade e produtividade do seu sector de retificação e montagem. Sendo a retificação e montagem, os últimos sectores da cadeia de produção do molde, foi também determinante a sua influência e liderança pedagógica na performance dos restantes sectores da empresa, seja pelo rigor e qualidade das geometrias, seja da precisão referencial e dimensional, requerida em cada um dos componentes, que no final constituem o todo – o molde. Desde 1978 a Portumolde foi palco de muitas transformações e mudanças, desde locais de laboração, processos e metodologias de produção, até à societária, mas a sua participação no todo do Grupo Iberomoldes é particularmente referenciada pela especialização na fundição injetada e pela paixão e garra com que esta equipa e sua liderança – através do sócio Joaquim Marques - tem sempre agarrado os desafios de cada dia e o desenvolvimento da empresa. Foi no início da década de oitenta, que a Portumolde se iniciou no fabrico de moldes para fundição injetada. Desde o início, a empresa dedicou-se ao fabrico de moldes para injeção de termoplásticos e termoendurecíveis, para um vasto leque de aplicações. Mas, foi a fundição injetada que lançou os maiores desafios à Portumolde. Foi esta indústria que se destacou dos clientes “do plástico”, quando propiciou a oportunidade de demonstrar a capacidade de se ajustar no desenvolvimento dos projetos para estes produtos e clientes.
“Forneciam-nos desenhos de produto com alguns detalhes sem cotas. Como poderíamos dar resposta a esta solicitação, sem cotas!!?” enfim, desde logo se concluiu, que se teria de repensar métodos, implementar novas rotinas, adquirir novos saberes e tecnologia. “Equiparmo-nos para uma viagem, repleta de novos desafios, e ainda, carregando o peso de uma grande ameaça de que os plásticos – o material alternativo - substituiriam a muito curto prazo, a maioria das aplicações em que era utilizado o alumínio”. Como reação à novidade que estes artigos e respetivos moldes representavam para uma realidade, onde se possuía apenas uma máquina CNC, na busca do conhecimento, procedendo ao subcontrato de toda a programação CNC das zonas moldantes, fresando o aço nas instalações próprias recorrendo a estes programas e, depressa se concluiu que não se poderia passar sem esta tecnologia. Era mais rápido, mais fiável e de incontestável qualidade, quando comparado com trabalhos mais convencionais. Teremos sempre que agradecer à fundição injetada, o facto de ter abreviado a primeira grande viragem tecnológica da Portumolde. Obviamente, mais cedo ou mais tarde, se daria o salto, mas a verdade é que foi esta a indústria que abreviou a decisão. Assim se iniciou o CNC e o CAM. Foram produzidos vários moldes para fundição injetada e cedo, logo no primeiro ano de contacto com esta indústria, se tornaram responsáveis pela conceção, desenvolvimento e posterior fabrico destes moldes, mesmo para importantes peças que compunham motores de automóveis. O primeiro molde de fundição injetada, destinado à indústria automóvel, moldou a tampa do motor, do célebre Renault 5. Destas primeiras experiências junto da fundição injetada, deitou-se por terra o que se apregoava na altura, de que estes moldes não tinham grande rigor. Em todos os moldes de fundição injetada executados, a tolerância e rigor do produto está ao nível dos mais exigentes moldes para injeção de termoplásticos. Com o passar dos anos, fruto do investimento, especialmente em software, hardware e formação das pessoas, outros clientes de fundição injetada se aproximaram da Portumolde. A troca de experiência com os clientes, bem como as múltiplas parcerias em diversos projetos, colocou-os num confortável patamar de conhecimento. A uma dada altura (anos noventa), já era a Portumolde que propunha a alguns clientes que se “livrassem” do 2D, em benefício do 3D. Para chegar até esta fase, muitas vezes foram realizados protótipos em madeira, para que o cliente
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acreditasse que do 3D, poderia realmente surgir a peça que se pretendia. Diversas vezes, constatou-se que o 3D era para o cliente apenas uma ferramenta de apoio e, eram “forçados” a dar respetivo aumento para a contração cota-a-cota (a partir do 2D), uma vez que os fenómenos de contração na injeção de ligas leves não obedeciam integralmente a valores tabelados, como habitualmente na injeção de plásticos. O desenvolvimento técnico e tecnológico, que se assistiu desde muito cedo na Portumolde, e que cada vez mais é um fator chave para o desempenho e sucesso da empresa, está alicerçado num projeto empresarial idealizado há mais de 25 anos. Ao nível do investimento, não se investiu apenas para rejuvenescer e aumentar o parque de equipamentos. Procura-se saber claramente o caminho a trilhar para alcançar os objetivos estratégicos que garantirão a sobrevivência e crescimento da empresa no competitivo mercado de Moldes e Ferramentas Especiais em que a mesma se insere. Mediante estes desafios, todo o investimento se direciona no sentido de reforçar não só a capacidade e qualidade de produção efetiva, como também, reforçar o rejuvenescimento e atualização de competências das Pessoas que fazem parte da equipa da Portumolde. Por intermédio dos investimentos realizados entre 2016 e 2017, pretende-se rejuvenescer diretamente dois sectores produtivos - Fresagem CNC e Erosão - e indiretamente, obter ganhos em quatro sectores - Fresagem CNC, Erosão, Controlo de Qualidade e, principalmente, na Montagem. Ao invés da tão almejada alta velocidade de maquinação, procuram incessantemente atingir a alta velocidade de produção, sem nunca comprometer a qualidade – produtividade. O envolvimento ativo da equipa técnico-profissional revela-se crucial. Será esta a equipa responsável por “pilotar” todos os equipamentos. Ouvir os colaboradores/utilizadores durante este processo, também fornece dicas importantes para combater a subutilização ou utilização deficitária dos equipamentos no futuro. De acordo com as mudanças no contexto externo e aproveitando os pontos fortes, procuram estabelecer metas e objetivos a atingir, de modo a aproveitar o melhor possível as oportunidades de negócio e, driblando, tanto quanto possível, as constantes ameaças. Só assim, é ser possível medir os resultados obtidos e desencadear ações corretivas quando surgem desvios do objetivo inicial. Essencial e transversal à cultura da Portumolde e do Grupo Iberomoldes está e estará sempre a Formação e a transferência de conhecimento entre todos os elementos da Equipa. Neste campo, as parcerias com laboratórios acreditados, centros tecnológicos, universidades, fornecedores de máquinas, fornecedores de serviços, de ferramentas e de software assumem um papel determinante na transposição das dificuldades que sempre vão surgindo no dia a dia, especialmente em fases de transição e mudança. A Portumolde agradece a toda a sua equipa e parceiros de sempre pelo apoio neste percurso de 40 anos. “E aos 40, estamos aqui para trabalhar, com mais força do que nunca, pois estamos “na flor da idade”!”
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RAPIDTOOL: ESPECIALISTAS EM MOLDES DE ALUMÍNIO COMEMORAM 25 ANOS Cumprimento de prazos. Qualidade de serviço. Rigor que se traduz na fidelização de clientes. Têm sido estas as principais razões que permitiram à Rapidtool singrar no fabrico de moldes de alumínio e atingir, em janeiro último, o 25º aniversário. Os dois sócios da empresa, Jorge Castanho, de 54 anos, e Abel Oliveira, de 53, consideram, em jeito de balanço da atividade, que “tem sido um desafio constante”, mas “muito compensador porque sabemos e gostamos do que fazemos”. E 25 anos depois, consideram que a Rapidtool, com 17 colaboradores, tem hoje “a dimensão adequada e a sua posição consolidada no mercado” tendo, por isso, como visão para o futuro manter a empresa na velocidade de cruzeiro em que se encontra. “Funciona bem. Está perfeita”, afirmam os dois sócios.
milhar de peças) que o empresário trouxe para Portugal. A fábrica que criou na Marinha Grande começou por se designar ‘Moldes Gaspar’ mas, com a entrada para sócio de Jorge Castanho, em 1996, passou para a designação que hoje tem, ‘Rapidtool’, procurando ir ao encontro das características do trabalho que já então realizavam: moldes mais rápidos. A mudança para Portugal não afastou os clientes americanos. Pelo contrário. Os Estados Unidos foram, praticamente, o único mercado durante os primeiros anos de vida da empresa e até à saída de Mário Gaspar e a entrada na sociedade de Abel Oliveira e Nuno Oliveira, em 2012. Nuno saiu três anos depois. E hoje em dia, a empresa é dividida por Abel Oliveira e Jorge Castanho.
Não há, por isso, nada a mudar. Exceto a imagem corporativa. O logotipo sofreu uma ligeira alteração, indo ainda mais ao encontro aquela que são as principais características da empresa: rapidez e eficácia que pretende transmitir.
Com esta entrada na sociedade, e a sua grande experiência no mercado europeu, a Rapidtool começou a trabalhar também para a Europa.
Hoje, a produção da Rapidtool, centrada em componentes para a indústria automóvel e expositores para lojas, tendo como principais mercados os Estados Unidos (70%) e a Europa (30%). O mercado americano é o mais antigo e já absorveu a totalidade do fabrico, nos primeiros anos de vida da empresa.
As primeiras instalações da empresa foram na Rua de Leiria, mudando para as atuais, na Rua da Indústria Metalúrgica, em 1998. O pavilhão onde se instalaram tinha espaço para a colocação de cinco centros de maquinação, que não preencheram logo de imediato. Contudo, a partir do momento em que os criaram, nunca mais mudaram. Mantém-se os cinco, mas vão sendo atualizados, através da mudança das máquinas: as mais antigas vão sendo substituídas por novos modelos. Todas, exceto a primeira fresadora usada na empresa e que ainda funciona.
DA AMÉRICA PARA A MARINHA GRANDE Aliás, a história da Rapidtool tem origem, precisamente, nos EUA. A empresa iniciou a sua atividade em 1993, na Marinha Grande, mas teve como génese uma outra unidade fabril, a ‘Euromold’, que o fundador, Mário Gaspar, manteve durante vários anos, em Farmingdale, nos Estados Unidos. Foi a experiência em moldes de alumínio (mais leves, ideais para pequenas séries e que satisfaziam o mercado americano que não sentia necessidade de produzir mais que algumas centenas de
A Rapidtool começou com dois colaboradores. Até 1996, passou para seis e, a partir de 1998, cresceu para os 17, que ainda hoje mantém.
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FORMAÇÃO NO SECTOR DE MOLDES ESPECIAL UNIVERSIDADE DO MINHO: HÁ 41 ANOS A LICENCIAR PROFISSIONAIS PARA A INDÚSTRIA Foi em outubro de 1977, com a criação da licenciatura em Engenharia de Produção – ramo de Transformação de Matérias Plásticas, que a Universidade do Minho (UM) começou a ministrar cursos direcionados sobretudo para a indústria de moldes mas também para o sector dos plásticos e compósitos. De então para cá, nos vários cursos que entretanto foram sendo realizados, entre licenciaturas, mestrados e programa doutoral, a escola já formou, nestas áreas, mais de 700 profissionais. António Pontes, docente e investigador na UM, integrando o Departamento de Engenharia de Polímeros, conta que, atualmente, o curso mais relevante para a indústria de moldes é o mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros que “tem várias disciplinas relacionadas com moldes e plásticos, processos de transformação, caracterização de materiais e produtos, projeto de ferramentas (moldes, fieiras,..)”. Dá especial ênfase ao facto do curso ter uma disciplina obrigatória no 3º ano de Projeto de Moldes e duas disciplinas de opção no 4º ano: Projeto Avançado de Moldes e Maquinagem de Metais. Para além das disciplinas existentes no plano curricular, explica ainda o docente, “muitos alunos frequentam o Projeto Individual (Estágio) e/ou Dissertação do mestrado em empresas de moldes ou que utilizam intensamente moldes ou fieiras na produção de produtos em plástico”. Mas não só. A UM tem ainda o programa doutoral em Ciência e Engenharia de Polímeros e Compósitos (PDCEPC) no qual, no 1º ano, “os alunos podem frequentar aulas de disciplinas curriculares direcionadas para os moldes e onde também podem realizar dissertações de doutoramento relacionadas com desenvolvimentos inovadores nesta área moldes ou de métodos produtivos que envolvam a utilização e construção moldes/fieiras”.
Sublinhando que os cursos direcionados para o sector dos plásticos, compósitos e moldes tiveram a sua génese no âmbito da licenciatura em Engenharia de Produção – ramo de Transformação de Matérias Plásticas, que começou a funcionar em outubro de 1977, António Pontes conta que a criação desta formação surgiu “em resposta a um desafio, feito em 1976, à Universidade do Minho pela então Secretária de Estado da Indústria Pesada, Maria da Glória Pinto Guimarães, para que fosse criado um curso capaz de formar técnicos de nível universitário capazes de responder às necessidades do sector”. E recorda que, nessa altura, “praticamente nenhum curso superior português continha disciplinas em que se abordassem os polímeros como materiais de engenharia ou se estudasse o seu processamento”. 700 PROFISSIONAIS Desde 1977 e considerando os diversos cursos relacionados com as indústrias de moldes e plásticos, “já concluíram a sua formação mais de 700 alunos”, esclarece. No ano letivo de 2016/17 estavam inscritos cerca de 193 alunos nos diversos anos curriculares, enquanto no presente ano letivo estão em formação cerca de 180 alunos. António Pontes revela que, estes jovens, de uma maneira geral, iniciam o seu curso quando concluem o ensino secundário (18-19 anos) e ingressam no ensino superior. Estes alunos concluem este curso, no mínimo, passados cinco anos (entre os 23 e 26 anos). Os cursos de mestrado têm, tipicamente, dois anos de duração, são frequentados por alunos que já tenham concluído a licenciatura, encontrando-se muitos já a trabalhar na indústria e que pretendem melhorar os seus conhecimentos na área dos moldes e plásticos. Assim sendo, a variabilidade de idades é muito grande, podendo haver alunos com idade entre os 25 e os 45 anos, a iniciar o curso. Os alunos que iniciam o Programa Doutoral (com 3 anos) têm de ter já concluído um mestrado ou licenciatura na área das Engenharias, sendo que a idade está tipicamente entre os 24 e 33 anos, terminando a sua tese entre os 27 e os 36 anos. A nível geográfico, a origem dos alunos que frequentam a Universidade do Minho é, maioritariamente, do norte do país. “De uma maneira geral, os alunos que frequentam o mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros são oriundos da região Norte de Portugal (cerca de 85%). Os alunos que frequentam o programa doutoral, embora sejam originários de uma maior diversidade de locais, são na sua maioria também oriundos da região Norte de Portugal (cerca de 50%)”, conta, destacando haver também “um conjunto de alunos estrangeiros muito significativo (cerca de 10%)”. A grande maioria dos alunos de mestrado tem expectativas de trabalhar como técnico superior nas indústrias de moldes e de transformação de plástico e compósitos. “Alguns deles, por opção, acabam por se manter ligados à investigação após terem colaborado em projetos de investigação puramente universitários
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em curso, com empresas do sector dos moldes e da indústria de plásticos, no âmbito dos quadros de financiamento nacional e europeu. “Atualmente, encontram-se em fase de preparação mais de 15 candidaturas a projetos em co-promoção com esses sectores industriais”, revela. EMPREGABILIDADE
ou de cooperação entre a universidade e a indústria”, relata. Quanto aos alunos do Programa Doutoral em Ciência e Engenharia de Polímeros e Compósitos “estarão mais vocacionados para desempenhar cargos de maior responsabilidade na indústria, laboratórios e institutos de investigação nacionais e internacionais”. Têm, portanto, expectativas de vir a desenvolver e a coordenar investigação, gerir processos complexos e pessoas qualificadas, tanto no tecido industrial como nos sistemas técnico-científico nacionais e internacionais, diz. LIGAÇÃO ÀS EMPRESAS A UM mantém, desde sempre, uma ligação forte com a indústria. “As necessidades e pretensões das empresas dos sectores dos moldes e plásticos sempre tiveram enorme peso na definição das unidades curriculares e conteúdos programáticos”, explica António Pontes, sublinhando que, por isso, o Departamento de Engenharia de Polímeros “mantém ativo um Conselho Consultivo dos projetos de ensino, constituído essencialmente por empresas”. Para além de estágios e dissertação de mestrado feitos no ambiente empresarial, tanto o Instituto de Polímeros e Compósitos (IPC) como o Departamento de Engenharia de Polímeros têm, desde a sua origem, “mantido uma postura muito ativa de colaboração e cooperação com a indústria de moldes e dos plásticos”, destaca. E exemplifica com “os inúmeros projetos de I&D que desenvolveram em conjunto com as indústrias do sector, atividades de formação também já realizadas conjuntamente e do largo apoio dado ao nível de consultadoria e de realização de ensaios”. O docente salienta ainda que, no Programa Doutoral, “existem alunos com bolsas de doutoramento no âmbito de trabalhos a serem realizados em ambiente industrial”. E dá também relevo ao facto do mais antigo prémio da UM, o ‘Prémio Iberomoldes’, que distingue anualmente “o trabalho mais relevante realizado por um aluno do MIEPOL no âmbito dos moldes e dos plásticos”, ser apoiado pela indústria. Para além deste, e em estreita ligação com as empresas, o Departamento de Engenharia de Polímeros, o Instituto de Polímeros e Compósitos e Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros têm em conjunto e simultaneamente, mais de 20 projetos de I&D+I
António Pontes refere ainda que, a nível de empregabilidade, os alunos dos cursos de mestrado e doutoramento têm vindo a ter colocação numa vasta gama de sectores, podendo nomear-se como principais: a indústria de moldes para plásticos, gabinetes de projeto de moldes e produtos em plásticos e compósitos, indústria de embalagem, indústria de componentes em plástico para automóvel, fabrico de peças para a indústria elétrica/eletrónica, fabrico e composição de matérias-primas para plásticos, máquinas transformadoras para plásticos, indústrias de transformação de plásticos e compósitos, indústria de transformação de borrachas, indústria de cordoaria, telas e revestimentos em plástico, indústria de fabrico de artigos para desporto e lazer, indústria de calçado, indústria aeronáutica, defesa e construção naval, indústria de reciclagem de plásticos, laboratórios de investigação e desenvolvimento tecnológico. Direção do Departamento de Engenharia de Polímeros: José António Colaço Covas: jcovas@dep.uminho.pt João Pedro Nunes: jpn@dep.uminho.pt Direção do Mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros: Carla Isabel Domingues Correia Martins: cmartins@dep.uminho.pt António Manuel Cerqueira Gomes Brito: amb@dep.uminho.pt
PERFIL PRIMEIRO LICENCIADO EM ENGENHARIA DE POLÍMEROS António Pontes tem 48 anos e fez parte da primeira turma de licenciados em engenharia de Polímeros na Universidade do Minho (UM). É, atualmente, docente e investigador na UM, integrando o Departamento de Engenharia de Polímeros, do qual já foi diretor. É responsável pela coordenação da parceria da UM com a Bosch. A nível de percurso profissional, já foi vice-presidente do polo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP), foi diretor do curso de mestrado em Engenharia de Polímeros e diretor-adjunto do Centro de Investigação. Tem algumas obras publicadas, uma delas o ‘Manual do Projetista’ que elaborou em conjunto com o Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (Centimfe). Tem publicados vários artigos, capítulos em diversas obras técnicas e tem desenvolvidas várias patentes.
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REOLOGIA
Reologia – o plástico e a ciência
O sector fala de… reologia
Os prós e os contras da reologia
Nova tecnologia de simulação do movimento dos bicos de válvula
Inovações e tendências da simulação na indústria de moldes
A reologia aplicada ao projeto de moldes
Injeção de polímeros reforçados com fibra - ferramentas de análise de enchimento e validação estrutural
Análise estrutural de plásticos reforçados com fibras utilizando Moldflow/Advanced Material Exchange
Velocidade instantânea na modelação e simulação 3D!
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REOLOGIA – O PLÁSTICO E A CIÊNCIA PEDRO BRANDÃO *
* Consultor Técnico Especializado
Neste artigo só se pretende fazer uma abordagem despretensiosa de um ramo da Física, a Reologia, que é a ciência base dos materiais plásticos com vista a definir as suas características físicas, fazer projecto e dimensionamento de equipamentos e definir os valores a atribuir às variáveis aplicadas no seu processamento. Reologia é uma palavra de origem grega - Rheos (fluxo) e Logos (estudo) dando esse nome ao estudo da viscosidade, deformação, elasticidade e do escoamento da matéria em geral. Os estudos reológicos estendem-se assim muito para além dos polímeros. Para os que pretendam iniciar-se nesta ciência, vejam o que acontece quando se atira um balde de água contra uma parede lisa e comparem com o que acontece se se atira um líquido mais viscoso, tinta (por exemplo), contra a mesma parede. A água desliza sem grande aderência até ao chão ao passo que a tinta quase não sai do balde, sendo necessário vertê-la junto à parede para que escoe lentamente formando como que uma gota na frente que desliza a caminho do solo.
A REOLOGIA E AS SUAS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS Este fenómeno tão fácil de observar tem um tratamento matemático fundamentado em duas clássicas equações da Física: a de Hooke e a de Newton. Hooke foi o primeiro cientista (Século XVII) a usar o termo Reologia no seu tratado “Verdadeira Teoria da Elasticidade” onde afirmava: se se duplicar a tensão, duplica-se a deformação. A equação de Hooke F=k.∆l é válida para os sólidos ideais e estabelece que a deformação e a tensão que a provoca são proporcionais e a forma é recuperável. A essa característica chamou-se elasticidade (efeito mola). Poucos anos mais tarde, Newton dedica parte dos seus estudos ao escoamento de líquidos surgindo a noção de viscosidade quando afirma que a resistência ao deslizamento das “camadas” de um líquido é proporcional à velocidade com que se separam. A figura seguinte (Fig. 1) pode ajudar a descodificar a frase, tentando “ver” o fluxo com um conjunto de camadas adjacentes e coaxiais.
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F1
A equação de Newton (S-tensão aplicada, η–viscosidade, E-deformação, t-tempo) S = dE η dt que vista de outra forma, isto é: E = S t η explica que quanto mais elevada for a viscosidade η, menor a tendência para escoar. Neste caso a forma não é recuperável. Contudo esta proporcionalidade só é válida para o escoamento de líquidos ideais, que não é o caso do escoamento de materiais poliméricos em fusão. Nestes materiais há que estabelecer outra interpretação ao seu modo de escoamento.
F2 – Estrutura amorfa (ex: PS)
F3 – Estrutura semi-cristalina (ex: PP)
Além disso dentro de cada uma desta duas grandes classes, cada polímero é uma entidade química individual que reage à deformação por temperatura e pressão (as variáveis do processo de plastificação) de forma específica. Se até aqui falamos sobre o escoamento da massa fundida com as partes metálicas, não podemos passar adiante sem dizer que as macromoléculas também deslizam entre si (de onde nasce a definição de viscosidade intrínseca) o que vem ainda complicar mais o estudo do escoamento. A IMPORTÂNCIA DO FUSO DA INJECTORA
VISCOELASTICIDADE Se um escoamento de um plástico não se encaixa em nenhum modelo ideal, o seu estudo deu outra perspectiva à ciência da Reologia que adquire grande importância e utilidade a partir da segunda metade do século XX quando a química dos polímeros intervém decisivamente na inovação dos materiais plásticos e se conclui que o seu escoamento se encaixa num comportamento misto de elástico e viscoso chamando-se então a este fluxo, viscoelástico. Se atendermos a que num processo de transformação de um material plástico, este muda de estado físico de sólido a liquido na primeira fase a seguir à alimentação no fuso, e de líquido a sólido na fase de arrefecimento num período de tempo muito curto,(no caso da injecção de termoplástico, um ciclo completo pode ser de breves segundos), podemos concluir que o tratamento matemático da cinética deste movimento é muito complexo sendo a base de muitos programas de simulação de escoamento de um material plástico. Mas, mais importante do que seguir estas bruscas mudanças de estado, é preciso notar que no intervalo de tempo que vai desde o início da fusão, até ao estado final já sólido dentro do molde, o material plástico percorreu o espaço entre as espiras do fuso e o cilindro, passou no bico de injecção onde sofre uma aceleração que o deforma obrigando a um afunilamento da massa fundida, tem de se manter liquido nos canais, passar o(s) ponto(s) de injecção, preencher a cavidade muitas vezes cheia de obstáculos e deve idealmente chegar a todas as extremidades do molde de modo a preenche-lo totalmente antes de completar a solidificação. Esta interactividade da massa fundida com o metal do equipamento e do molde, (estamos portanto a falar de escoamento), é de facto muito complexa, considerando que sendo os polímeros a base química dos materiais plásticos, aqueles são macromoléculas cuja composição e estrutura podem ser muito diferentes e conduzir a dois tipos gerais de organização molecular: amorfa e semi-cristalina como por exemplo o Poliestireno e o Polipropileno respectivamente.
Observando um fuso de uma máquina de injecção representado esquematicamente na figura 4, vê-se que a profundidade das espiras vai diminuindo da zona da tremonha (alimentação do granulado) para o bico, porque a viscosidade da massa tem que ir diminuído até liquefazer totalmente. A geometria do fuso, em teoria deveria ser desenhada especificamente para cada família química de polímero, porque as diferenças estruturais entre eles implica um escoamento intermolecular também diferente.
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O que acontece com bastante frequência é realizar-se uma simulação do escoamento do material no molde para um determinado sistema de ataque (moldflow), que é um serviço caro e depois produzir as peças numa máquina com fuso inapropriado para o tipo de polímero a processar. Claro que não é possível ter uma colecção de fusos tão completa, mas a escolha deve levar em linha de conta as recomendações do fornecedor da matéria-prima. Desta simples abordagem pode-se perceber porque é quando falamos de viscosidade de um plástico utilizemos frequentemente a frase “fazer um estudo reológico” para interpretar por exemplo um problema de qualidade nas características de uma peça injectada. Para reflexão deve salientar-se que muitos materiais plásticos são compostos com cargas, fibras ou aditivos e estes constituintes passam a intervir também no estudo reológico do material porque passa a haver interacção do polímero com o metal do equipamento e do molde e com os constituintes sólidos do composto.
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O SECTOR FALA DE… REOLOGIA LUÍS CEREJO *, NELSON NOVO**, NILTON SOUSA***, TIAGO VITORINO**** * DEXPROM, **EROFIO, ***E&T, ****AES MOLDES
Reologia. O estudo mecânico da deformação e do movimento da matéria, nomeadamente a elasticidade, o escoamento, a plasticidade ou a viscosidade, foi o tema de mais uma sessão do Seminário ‘O Molde’. Organizado pela CEFAMOL, decorreu no passado dia 20 de março, com um figurino diferente do que vinha sendo realizado, integrando, desta vez, uma assistência de cerca de duas dezenas de pessoas, entre profissionais da indústria de moldes e fornecedores de software de simulação. Luís Cerejo, 51 anos, da Dexprom; Tiago Vitorino, 25 anos, AES Moldes; Nilton Sousa, 51 anos, da E&T; e Nelson Novo, anos, da Erofio, foram os convidados deste debate, que contou com a moderação de Pedro Custódio, do Instituto Politécnico de Leiria. Os quatro profissionais do sector classificaram a Reologia como “importante, essencial e uma grande mais-valia” para a indústria, pela sua possibilidade de definir a forma como o plástico é injetado e identificar e corrigir algum erro no fabrico da peça. E deixaram um alerta: o profissional desta ferramenta tem de ser altamente qualificado, com conhecimento profundo fabrico do molde e tem de trabalhar em relação estreita com vários departamentos da empresa, sobretudo com a injeção.
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Foram duas horas de intenso debate. Como ponto de partida, importava perceber o que levou cada uma das empresas a optar pela utilização do software de análise reológica. Luís Cerejo explicou que, no caso da Dexprom, a decisão resultou da constatação das “enormes vantagens técnicas: é muito importante ter ferramentas que nos ajudem a perceber melhor e a tentar, numa fase muito inicial do projeto, saber onde colocar todos os pontos necessários à injeção e ter dados técnicos para que possamos fazer um trabalho de melhor qualidade”. Nelson Novo, da Erofio, concordou com essa “necessidade técnica” que possa ajudar a eliminar alguns erros, mas chamou a atenção para a vertente comercial. “Aquilo que vamos reparando nos nossos clientes é que têm pessoas com cada vez menos experiência à frente da decisão dos moldes”, precisando, por isso, de ferramentas que lhes assegurem algumas certezas. “É uma mais-valia terem
alguma coisa que lhes garanta que a decisão que estão a tomar é a melhor”, afirmou. E, nesse âmbito, considerou que, para além do software de enchimento, “tudo o que se possa fazer para ajudar na decisão do molde é uma mais-valia comercial e técnica”. Já Nilton Sousa contou que, até há não muito tempo, a E&T contratava esse serviço às várias empresas da área, mas, “por uma questão estratégica, optou por adquirir o software e criar um novo posto de trabalho”. Ou seja, havia já a sensibilidade para a importância do processo, mas a empresa percebeu as mais-valias de o ter ‘in house’. “A facilidade de ter alguém ali à mão para resolver os possíveis problemas é diferente do que enviar um email a alguém, noutra empresa, para resolver. Com este posto de trabalho, a ajuda é mais eficaz e facilita todo o processo”, considerou. Tiago Vitorino explicou, por seu turno, que a AES “teve como princípio uma questão mais técnica: ser o mais preventivo possível numa fase inicial para evitar problemas depois”. E sublinhou que “os problemas acabam por acontecer, mas tentamos ao máximo eliminá-los à raiz”. RENTABILIZAR A UTILIZAÇÃO De uma maneira geral, os quatro foram unânimes em considerar que se trata de um processo “essencial” e que a sua utilização é imprescindível para um melhor resultado. Por isso, um grande número de empresas começa a optar por ter a reologia nas suas instalações em lugar de subcontratar o serviço. Para Luís Cerejo, essa é uma decisão que deve ser ponderada. “Depende da estratégia da empresa e do volume de trabalho que produz”, considera, defendendo que “o volume de negócios nem precisa de ser muito grande para optar por este software porque as vantagens são enormes: não só pela eliminação do custo do subcontrato, mas porque pode especializar alguém dentro da sua empresa que satisfaça as suas necessidades e evita ter de estar a dialogar com outra empresa para lhe fornecer um serviço que pode nem ser o adequado à sua empresa”.
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Nelson Novo admitiu que, para as empresas de menor dimensão, pode não ser um passo fácil mas considerou que tem de ser dado. “Ceio que é um investimento que tem de se fazer”, afirmou. Contudo, advertiu, não se trata, apenas de comprar o software. Tem de ser rentabilizado. “Comprar o software, seja ele qual for, e depois ter um projetista que está habituado a fazer modelação, a trabalhar com ele… não creio que resulte. A utilização deste processo tem de se treinar, usar muito. Se não houver uma utilização diária, com modelos diversos e materiais diferentes, pode não correr bem”, admitiu. A sua preocupação foi partilhada pelos restantes. “Temos de ter em conta que se trata de um estudo, um documento, que enviamos a um cliente que pode não ter grandes conhecimentos e tem um resultado que diz que está tudo bem. Aliás, o projeto vai ser realizado a partir daquele estudo. E se não for bem feito, o estudo pode estar completamente ao lado, o que pode levar a muitos problemas e até à perda do cliente”, considerou Luís Cerejo, defendendo que “é preciso especializar uma pessoa na empresa para fazer esse serviço. E não basta que a pessoa saiba trabalhar com o software: tem de ter conhecimento do que está a fazer. E, antes de ser enviado ao cliente, o estudo tem de ser analisado por quem sabe”. Nilton Sousa chamou a atenção que a reologia “é uma simulação: não é um software que produz milagres”. E sublinhou que, se o estudo é feito a partir de um enunciado errado, nunca pode ter um
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resultado correto. Por isso, defendeu, “a experiência é um fator muito importante”. Alertou, ainda que, quem faz o estudo não pode estar sozinho. “Se não tiver um apoio técnico, se não tiver o conhecimento da experiência de outros projetos, acaba por produzir problemas”, referiu. Tiago Vitorino concordou, afirmando que “tendo uma pessoa especializada a fazer este tipo de estudos, consegue-se uma análise mais fiável. Se a pessoa estiver na empresa, conseguem-se comparar moldes semelhantes e, com isso, reduzir alguns erros, o que não acontece quando se subcontrata um estudo”. Nelson Novo enfatizou a importância da experiência do profissional que faz o estudo mas considerou que os resultados podem, no final, ser diferentes por diversos fatores. “Mesmo usando a mesma máquina, por vezes, questionamo-nos porque não dão certo os estudos reológicos. Mas se até no que é o ‘processo físico’ pode acontecer tanta coisa que altera os resultados, quanto mais no cálculo matemático que é a reologia”, disse. Luís Cerejo explicou ter outra visão sobre isso. “Acho que são mais as vezes que isso acontece quando o estudo não está como deveria estar”, considerou, frisando que “se o estudo estiver com todos os parâmetros, com todas as coisas bem feitas vai dar uma proximidade muito grande do resultado final”.
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FORMAÇÃO E LIGAÇÃO AO FABRICO Uma boa utilização do software é, por isso, imprescindível para a qualidade e fiabilidade do estudo. E quem assegura essa boa utilização? “É um erro pegar em alguém recém-formado e colocá-lo a fazer isto. Vai demorar tempo a adquirir a experiência necessária o que significa que, ou é muito ajudado pelos colegas, ou os resultados do seu trabalho não vão ser bons”, considerou Luís Cerejo, defendendo que o profissional que vá trabalhar em reologia “deve ser alguém com experiência de injeção, projeto e até de maquinação”. Explicou ainda que, com base na sua experiência, uma pessoa necessita de, pelo menos, dois anos de aprendizagem antes de fazer um trabalho de qualidade. Para além da formação, o profissional da reologia tem de manter uma relação estreita com todo o processo produtivo, sobretudo com a injeção. “A pessoa que faz o estudo tem de ir acompanhar a ferramenta. Acho que é importantíssimo, principalmente para perceber aqueles pequeninos detalhes da simulação e o que vão implicar e de que forma pode usar isso para novas simulações. A experiência é fundamental, mas o acompanhamento do processo também”, afirmou Tiago Vitorino. Nilton Sousa sintetizou o que considera ser a forma de estar no processo: “Nós estarmos a utilizar o software, a criar a simulação e a analisar a simulação, temos, no passo seguinte, de estar junto à máquina de injeção. Temos de estar muito atentos ao que se passa na máquina, de forma a perceber, por um lado, o que faz o operador com o meu relatório e os meus parâmetros e, por outro, perceber o que se vai passar na máquina e questionar sobre as razões que levaram isto ou aquilo a correr menos bem. Temos de fazer perguntas e sair de lá com respostas”. Já Luís Cerejo considerou que o primeiro passo é ter a certeza de que “o operador coloca na máquina os nossos parâmetros”. Isso, defendeu, “é essencial e tem de acontecer, nem que seja a hierarquia superior a forçar porque, se não o faz pode ser um problema. Principalmente, se houver correções: damos o estudo ao cliente e ele compara e, se não bater certo, temos de explicar porquê. Para isso, precisamos de saber”. “É que se tenho uma disparidade muito grande entre a reologia e o que está na máquina de injeção, onde vou pegar para criticar a simulação? Onde ganho experiência para saber de uma para
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a outra situação o que aconteceu?”, questionou Nilton Sousa, considerando a ligação com a máquina de injeção fundamental no processo. Já Luís Cerejo vê o desenvolvimento de processos como a reologia uma possível resposta à carência de mão de obra especializada no sector. “As pessoas foram saindo das empresas e, com isso, perdeuse muito know-how, perdeu-se conhecimento dos processos. Existe um fosso grande entre o atual know-how de topo e o outro. O que vem atrás tem uma diferença de dez anos em relação ao topo. E, para colmatar recorre-se a análises reológicas e cálculos estruturais”, diz, mostrando-se convicto de que “daqui a dez anos vamos ter ainda mais ferramentas deste tipo, seja no nosso país, seja no estrangeiro”. MELHORIA DO PROCESSO Apesar das mais-valias, o processo de reologia carece de melhorias, na opinião destes profissionais. Há, por exemplo, alterações feitas por fabricantes que demoram a ser comunicadas e isso causa constrangimentos. Nilton Sousa partilhou a sua experiência nesse domínio. “Fiz uma simulação, mas tinha havido uma alteração de geometria feita pelo fabricante do canal quente e ele não informou. Ora, se essa mudança não é atualizada, não se percebe a diferença e a simulação não é eficaz. Não é um problema na máquina, nem na simulação: é uma falha na comunicação e isso leva ao erro. Não podemos fazer magia”, esclareceu. Luís Cerejo admitiu que, por vezes, isso acontece e é grave. “O canal quente dá, por vezes, esses problemas. Sempre que há uma alteração, seja ela qual for, tem de voltar ao estudo”, defendeu. Um outro problema, considera, é que as atualizações do software não acompanham, por exemplo a evolução no que toca aos novos materiais. Nilton Sousa esclarece que, nesses casos, há sempre a possibilidade de caracterizar os novos materiais em laboratórios, com custos elevados, e acrescentar a base de dados. E considera que “houve facilidade de criação, mas o software ainda está longe de poder fazer tudo”, frisando que “o que usamos foi criado por matemáticos, mas não fazem ideia do que os utilizadores precisam de fazer com ele”. Defendeu, por isso, que a formação (na área dos moldes) de quem desenvolve o software é também muito importante.
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PROBLEMAS
ALERTAS
Muitas vezes, a diferença de ritmos entre o desenvolvimento que se verifica na indústria e a resposta do software, gera problemas. E quando isso acontece, ou quando se consegue prever uma possível falha e o caso é explicado ao cliente, a sensibilidade à questão é, na maior parte das vezes, nula.
Antes do final do debate, houve tempo para alguns alertas na utilização da reologia. Foi o caso de alguns fornecedores de software que estiveram presentes e que lembraram às empresas que “se investem, têm de rentabilizar o software, encará-lo como qualquer outro investimento na empresa e não o utilizar como se fosse ‘um bombeiro’, apenas nas emergências”.
“É mau quando o cliente não está disposto a perceber e a ajudar. No fim, vamos ter um problema que vamos ter de resolver”, afirma Luís Cerejo, o que leva Nilton Sousa a afirmar que, nesses casos, “ou nos chateamos logo no início ou no final”. Contudo, se for no final do processo, adverte Luís Cerejo, “já tenho um determinado investimento feito”. Se, pelo contrário, a falha for detetada no início, há a possibilidade de tentar corrigir. “Vamos tentar discutir o assunto porque sabemos que vamos ter problemas e se o cliente é alguém que não sabe e não consegue decidir, vai insistir no que quer. Não é fácil”, explica. Nelson Novo defende que, para ultrapassar isso, é preciso que os clientes tenham um grau de confiança elevado. “Sabemos que eles confiam na nossa opinião e só assim as coisas funcionam”, diz.
Já Luís Cerejo, centrando-se em questões que podem rentabilizar a utilização da reologia, chamou a atenção para a questão do canal frio (o ataque) quando se fazem simulações porque se for mal definido, explicou, “pode comprometer tudo”. Nelson Novo considerou que na parte estética das peças, “estes softwares têm de evoluir” e Nilton Sousa aconselhou a que fosse escolhido um computador só para correr o software de reologia porque “as simulações são tão esgotantes que a máquina de cálculo não pode fazer mais nada”. Este novo modelo do Seminário ‘O Molde’ agradou aos convidados e ao público presente. Tiveram oportunidade de ir trocando impressões e opiniões, entre si, numa conversa que fluiu de forma descontraída e muito interessante. O modelo será repetido nas próximas edições.
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OS PRÓS E OS CONTRAS DA REOLOGIA 1. Vantagens da Reologia? 2. Desvantagens da Reologia? Luís Cerejo, Dexprom 1. As vantagens são bastantes, até de âmbito económico. A simulação ajuda-nos a compreender a qualidade da peça e alguns problemas do percurso de fabrico. Permite, por exemplo, colocar a quantidade de bicos de injeção adequados. Só por estes ganhos quase que podemos pagar o investimento feito nesse software. 2. Como grande desvantagem, considero o tempo de cálculo. Este é um processo que é sempre demorado. Tiago Vitorino, AES Moldes 1. Identifico como grande vantagem, face aos problemas que possam acontecer na execução do molde, ficarmos numa posição muito mais preventiva (a essas situações) do que reativa. Isso permite que não tenhamos de andar a tentar remediar o problema que, com a reologia, pode ser morto à nascença. 2. Os softwares têm evoluído, nos últimos tempos, mas a grande desvantagem são os tempos de cálculo para chegar ao final do processo. São muito longos. Nilton Sousa, E&T 1. Vejo como vantagens o melhor conhecimento do processo produtivo e a possibilidade de evitar problemas que poderão acontecer na construção do molde. Permite ainda colmatar defeitos da peça final que é injetada. 2. A habitual dor de cabeça, ou seja, é sempre um desafio começar uma simulação por muita experiência que se tenha. Iniciar um projeto novo é sempre envolvente, requer sempre muita pesquisa. O imaginar dificuldades que não têm nada a ver com a simulação em si, mas com todo o processo de criação que a antecede. E o tempo total necessário para simulação de uma peça com dimensão razoável, porque o tempo tende a ser menor com peças mais pequenas. Nelson Novo, Erofio 1. A grande vantagem que vejo é a correção de erros que permite. A mais-valia que retiramos do software é identificar problemas numa peça e problemas no molde. Permite também perceber a própria durabilidade do molde porque conseguimos prever o tempo útil da ferramenta. 2. A desvantagem é o tempo. No dia a dia da atividade, não podemos ficar muito tempo parados à espera para tomar decisões.
O moderador Pedro Custódio “É essencial os alunos terem uma noção deste tipo de ferramentas” O debate foi moderado por Pedro Custódio, de 55 anos, professor adjunto do Departamento de Engenharia Mecânica e coordenador do Curso Técnico Superior Profissional(TESP) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL). O responsável considera existir carência de profissionais formados nesta área da Reologia, explicando que, no entanto, esse é um dos temas abordado nos cursos. “É abordado porque, hoje em dia é essencial os alunos terem uma noção deste tipo de ferramentas para que, quando vão para o mercado de trabalho, pelo menos, saberem que elas existem e sensibilizarem os responsáveis pelas empresas para que as comecem a utilizar”.
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NOVA TECNOLOGIA DE SIMULAÇÃO DO MOVIMENTO DOS BICOS DE VÁLVULA TERESA NEVES *, EDSON NASCIMENTO *, SAM HSIEH ** * Simulflow, ** Coretech
Desde o seu aparecimento e comercialização em finais dos anos 50 que os sistemas de canais quentes têm vindo a apresentar evolução constante, ganhando maior popularidade nos anos 80 e 90 devido a avanços tecnológicos significativos que permitiram aumentar a sua versatilidade e fiabilidade.
Como se ilustra na figura 1, os analistas podem optar por uma Simulação Genérica do sistema de injeção controlado por válvulas ou por uma Simulação AHR – Advanced Hot Runner (Sistema Avançado de Canais Quentes) do Movimento do Obturador (Pin Movement) baseada no respetivo projeto do sistema de injeção.
A utilização de sistemas de injeção obturados conhece um crescimento regular entre as aplicações de moldes com sistemas de canais quentes. Encontramos exemplos da sua utilização nas mais diversas indústrias, como, entre outras, a automóvel, eletrónica e médica.
Se for selecionada a simulação Movimento do Obturador (AHR), os utilizadores podem indicar o perfil de velocidade dos movimentos de abertura e fecho do obturador, tal como ilustrado na figura 2. Na
Estes sistemas apresentam diversas vantagens produtivas, designadamente a capacidade de controlar com precisão o fluxo do plástico nos injetores para produzir peças de elevada qualidade e reduzir o tempo de ciclos, bem como eliminar vestígios nas peças. Outra grande vantagem associada à avançada tecnologia de injeção controlada por obturadores sequenciais (Sequential Valve Gating, SVG) é a sequência temporal programável para controlar a abertura e o fecho dos ataques. Esta sequência pode ser integrada nos sistemas de canais quentes e permite controlar melhor o processo de enchimento da cavidade para resolver questões relacionadas com linhas de soldadura e das marcas de escoamento. A utilização da tecnologia SVG comporta todavia alguns desafios: o aumento do tempo de enchimento é acompanhado pelo aumento da pressão no interior dos sistemas de canais quentes; a abertura de um obturador liberta para a cavidade um fluxo repentino de plástico pressurizado a alta velocidade que pode causar defeitos superficiais nas peças moldadas, tais como marcas de escoamento ou brilho irregular. Para maximizar as vantagens da utilização da tecnologia SVG e melhorar a qualidade das peças, os fabricantes de sistemas de canais quentes desenvolveram uma nova tecnologia que permite aos seus utilizadores controlar o movimento do obturador e o respetivo perfil de velocidade. Em resposta a esta necessidade, o Moldex3D desenvolveu uma aplicação para simulação reológica computacional do movimento do obturador com diferentes velocidades.
F1 – Análise dos Canais Quentes efetuada com o Moldex3D para o Sistema Genérico de Válvulas (esquerda) e Movimento do obturador AHR (direita))
F2 – Interface de parametrização do perfil da Velocidade do Movimento do obturador no Moldex3D
figura 3 podemos ver que o campo velocidade está a sofrer alterações devido às diferentes posições do obturador. Além do mais, a análise do enchimento efetuada, ilustrada na figura 4, permite concluir que a utilização da tecnologia do movimento do obturador tem um efeito positivo por permitir obter um padrão de enchimento mais suave e atenuar a alteração brusca de velocidade, contribuindo para eliminar com êxito as marcas de escoamento inesperadas. Adicionalmente, na fase anterior ao processamento, é possível tirar todo o partido da poderosa ferramenta de geração de malha (ver figura 5) na preparação do modelo. Os analistas podem basear a sua malha na geometria completa do sistema de injeção, incluindo, entre outros, o distribuidor, o obturador e o seu curso, sem necessidade de simplificar o modelo. Graças à tecnologia de malha do Moldex3D, a complexidade da geometria do sistema de injeção obturado é capturada integralmente na representação tridimensional da malha, assegurando deste modo o rigor da
F3 – Campo de velocidade inconstante na zona do ataque com a variação do posição do obturador
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F4 – Simulação da tecnologia de movimento do obturador Esquerda: Injeção controlada por válvulas sequenciais pode provocar marcas de escoamento indesejadas Direita: O uso do perfil de velocidades da abertura e fecho da válvula pode eliminar marcas de escoamento indesejadas e melhorar a qualidade da peça
simulação. Por outro lado, na definição dos parâmetros de moldagem, oferece grande flexibilidade para indicar requisitos específicos de cada válvula, nomeadamente o estado inicial dos ataques (abertos ou fechados), a velocidade de movimento do obturador e o perfil de velocidade em múltiplas secções, tornando esta ferramenta muito útil para a simulação de sistemas avançados de injeção controlados por válvulas. Em resumo: apesar de a aplicação de sistemas de canais quentes ser há muito uma tecnologia amplamente utilizada na indústria de moldes de injeção de plásticos, atualmente continuam a ser envidados grandes esforços e investidos avultados recursos no desenvolvimento de soluções avançadas para estes sistemas. Com a ajuda da análise dos Sistemas Avançados de Canais Quentes (AHR) do Moldex3D e da simulação do movimento do obturador, os utilizadores dos sistemas de canais quentes estão em condições de observar os potenciais cenários de moldagem para otimizar os sistemas de injeção sequenciais de modo a maximizar as vantagens e obter maiores ganhos de processo.
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F5 – A ferramenta de geração de malha do Moldex3D permite construir a malha baseada na real geometria do sistema de injeção obturado
F6 – Um caso de estudo de um sistema de injeção controlado por válvulas sequenciais com a função do movimento do obturador AHR
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INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS DA SIMULAÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES NUNO SILVA * ESSS
A produção de moldes evoluiu progressivamente desde a maquinação, através de fresas e tornos mecânicos manuais, com o auxílio de desenhos 2D, até ao estado atual da arte, onde o recurso a um software 3D de desenho CAD e simulação de enchimento, se tornam indispensáveis para o bom projeto de um molde.
F1 – Evolução dos métodos computorizados para projeto de moldes
São notórias as evoluções na indústria, desde a estandardização, à utilização de processos produtivos mais complexos, sistemas de refrigeração inovadores com o auxílio da impressão 3D, gestão do produto e de máquinas com o auxílio do IOT e a automatização em geral dos processos produtivos. Nesta linha, também os processos de simulação computacional têm vindo a evoluir, destacando-se o processo de enchimento. Contudo, a simulação estrutural do molde não tem sido uma prioridade, sendo uma das razões a falta de softwares de referência no mercado que permitam integrar os dados de uma simulação de enchimento com a simulação estrutural. Com base nas lacunas mencionadas e nos diversos contactos realizados com a indústria, a ESSS desenvolveu aplicações onde é possível usar a ferramenta ANSYS (Software de simulação multifísico) para a resolução destas lacunas. Deste modo, a ESSS desenvolveu um módulo que permite criar integrações com diversas ferramentas, importando os dados de enchimento e usando-os na análise estrutural do molde.
Deformação da zona moldante (e linha de junta) Previsão de rebarba Em parceria com uma empresa do sector, foi simulada a possibilidade de formação de rebarba (material não desejado) ao longo da linha de junta entre as duas zonas moldantes. Incluindo os dados da força de fecho e importando os dados de pressão máxima na zona moldante, calculou-se a deformação total e consequentemente, a deformação na linha de junta, razão fundamental da formação de rebarba. Identificado o local crítico, observou-se que a deformação era superior ao pretendido. Após análise, optou-se por fazer diversos casos de estudo, alterando a força de fecho, tipo de material e espessuras de chapas, conseguindo assim obter um resultado ótimo para o projeto do molde, que permitiu diminuir substancialmente a deformação na linha de junta. FADIGA TÉRMICA + MECÂNICA Para abordar esta temática, foi desenvolvido um caso de estudo em parceria com a MoldesRP. O caso de estudo baseou-se na análise estrutural de um postiço, onde a esbeltez do elemento levantava questões sobre a sua integridade estrutural, ao longo dos vários ciclos de injeção. Para realizar esta análise, foi necessário importar os dados do software de enchimento (pressão e temperatura ao longo do tempo). Por forma a agilizar o processo, desenvolveuse uma aplicação interna ao programa (ACT APP), que permite de uma forma simples, importar automaticamente estes dados para o ANSYS.
Nos próximos pontos serão enunciados diversos casos de aplicação do software, sendo estes apenas uma parte do espectro de aplicações possíveis, para a indústria de moldes. ANÁLISE ESTRUTURAL DE ELEMENTOS MÓVEIS O ANSYS oferece soluções que permitem simular os esforços que estão presentes nos elementos móveis e nos respetivos componentes que executam o movimento. Através de análises de conjunto, é possível incluir os esforços inerentes ao aperto dos parafusos, contactos com presença de fricção, bem como os deslocamentos e forças presentes no processo. Usando destes dados, encontram-se os locais mais solicitados dos vários componentes e caso necessário, simulam-se diversos cenários por forma a aumentar a vida destes ao longo dos ciclos de utilização.
F2 – Processo de integração com o ANSYS
Procedendo à simulação, é possível conhecer a deformação e tensão do postiço ao longo do processo de injeção.
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O conhecimento destes esforços permite avaliar os locais mais suscetíveis de ocorrência de falha, que poderão levar à rutura. Dado que o processo de enchimento é cíclico, para além da análise por elementos finitos, é aconselhável proceder à análise da fadiga, através do mesmo software. Ao realizar esta análise, obtém-se o número de ciclos até à ocorrência de falha no componente. Com estes dados, o projetista poderá basear-se cientificamente para a atribuição de uma garantia para os seus componentes, ou até executar modificações de projeto (material, raio de curvatura), aumentando a vida do componente. PREVISÃO DE CONTRAÇÃO DA PEÇA + FORÇA NECESSÁRIA PARA EXTRAÇÃO + OPTIMIZAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO E NÚMERO DE EXTRATORES Obtendo os dados da peça plástica, no final do arrefecimento, é possível conhecer a contração da peça e do sou componente moldante interior. Deste modo, é possível observar os locais onde a peça plástica estará mais “agarrada” à zona moldante. Através destes esforços, é possível calcular a força necessária para extração e a localização e número ótimo de extratores, auxiliando assim o projetista na tomada desta decisão. Com os dados desta análise, é possível também conhecer a marca que será deixada pelos extratores na peça plástica, podendo esta ser alvo de estudo e minimizada.
F3 – Vista em corte de um extrator e peça, no ato de extração (Ampliado 50x)
Em suma, o uso da simulação estrutural, resultará num conhecimento e controlo mais preciso sobre o processo real de enchimento e esforços envolvidos nos componentes do molde. Assim, ter-se-á uma avaliação científica no momento da decisão das diversas considerações do projeto, resultando num produto final melhorado. Desta forma, não será necessário fabricar vários componentes/moldes para corrigir um ou mais problemas, garantindo à primeira a integridade estrutural das peças para todo o seu tempo vida.
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A REOLOGIA APLICADA AO PROJETO DE MOLDES SÉRGIO FORTUNATO * SB Moldes
Tradicionalmente a análise reológica para simulação da injeção de peças plásticas era aplicada apenas as peças de maior complexidade e/ou com alguma característica especial que suscitasse alguma incerteza no resultado final do processo de injeção. Isto deviase a vários fatores como o preço dos softwares, a complexidade do processo, a necessidade de know-how muito especifico e nem sempre disponível, o demasiado tempo necessário para obter um resultado que nem sempre era suficientemente realista para credibilizar e tornar este processo mais popular, todos estes fatores tornavam esta tecnologia bastante dispendiosa que é sempre um fator menos positivo. A evolução tecnológica dos softwares de análise reológica para simulação do processo de injeção foi algo lenta, tendo em conta os parâmetros atuais da velocidade de evolução, no entanto, a t u a l m e n t e encontram-se suficientemente desenvolvidos para que sejam muito acessíveis em termos de utilização e fiabilidade de resultados , é também verdade que a evolução da capacidade de controlo de todos os fatores variáveis no ambiente de produção contribuiu positivamente e de forma inequívoca para que os resultados fossem cada vez mais fidedignos e por consequência tornando-se numa ferramenta indispensável , utilizada em varias fases do processo de engenharia para desenvolvimento de uma peça plástica , onde obviamente se insere o processo de projeto do molde. A análise reológica durante este processo é hoje uma ferramenta fundamental para a otimização de todo o projeto, pois permite otimizar e validar localizações de injeção, que são fundamentais para o equilíbrio da fase de enchimento e que condiciona diretamente toda a organização dos componentes que compõem o molde. Permite também saber o comportamento da forma da peça após o processo de injeção através da análise dos circuitos de refrigeração
entre outros fatores, para que seja possível efetuar alterações preventivas à deformação e assim obter uma forma final o mais aproximada possível ao pretendido. A localização das respetivas fugas de gases necessárias ou das linhas de união de material, a previsão de pressão de injeção necessária ou de força de fecho para validação da capacidade da maquina injeção, são mais alguns dos fatores importantes que constam na panóplia de indicadores resultantes da análise reológica. Todas estas estas análises previnem processos de alteração morosos, dispendiosos e nem sempre viáveis na fase final do fabrico do molde ou ate mesmo depois do mesmo ter sido terminado e testado e em alguns casos aquando a validação da peça resultante em ambiente de produção que é, por vezes, a ultima fase antes da expedição do molde. O volume de interação entre a análise reológica e a realização do projeto obriga a que a comunicação entre as aplicações seja transparente e fácil o que faz com que a integração num único software seja uma mais-valia importantíssima na rapidez e facilidade com que se realiza o projeto de acordo com as necessidades impostas pelos resultados reológicos, ou se fazem os ajustes de projeto necessários na realização de situações preventivas. Para além das vantagens a nível de rapidez referidas anteriormente, o software integrado elimina a possibilidade de erros de interface entre aplicações uma vez que resultados estão automaticamente disponíveis no mesmo ambiente, o que elimina a necessidade de criação de relatórios e interpretação dos mesmos que por si só aumenta a probabilidade de situações menos corretas. Todas estas vantagens do software integrado proporcionam uma mais-valia técnica substancial que consequentemente se reflete de forma bastante positiva na representação económica destes processos no valor final dos encargos da realização do molde.
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INJEÇÃO DE POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRA - FERRAMENTAS DE ANÁLISE DE ENCHIMENTO E VALIDAÇÃO ESTRUTURAL ADRIANA AFONSO *, GONÇALO LEMOS * * CadSolid - CAD/CAM Integrado Lda.
RESUMO Os plásticos passaram a poder ser usados no fabrico de produtos que exigem maior resistência mecânica com a incorporação de reforços na massa polimérica, elevando as propriedades físicas do material, propondo-o como um substituto para peças metálicas. Por meio de ferramentas de simulação computacional que analisam a injeção de plásticos reforçados com fibra, resultados como a orientação da fibra e tensões residuais, sustentam a previsão das propriedades t e r m o m e câ n i ca s anisotrópicas introduzidas na peça pelo seu processo de enchimento e através de uma interface de elementos finitos integramse as análises de tensões e validação estrutural. Palavras-chave: plásticos, compósitos, moldes de injeção, fibra INTRODUÇÃO O desenvolvimento de materiais compósitos de matriz polimérica constitui uma área de grande importância por complementar um material comum de base, como o plástico, com elevada resistência e rigidez, resistência à temperatura e à corrosão, mantendo a característica de poder ser moldado por injeção e por isso sustentando um baixo custo de produção e facilidade de processamento.
Materiais reforçados com fibra apresentam características mecânicas versáteis, relacionadas com o tipo de fibra e de matriz (material de base) e com o seu processo de produção, onde propriedades anisotrópicas dificultam a previsão das forças máximas, capacidade de carga, controlo dimensional e tendência para deformação. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Em simulação computacional é integrado um potencial processo de injeção que permite perceber a dinâmica do material durante e após o enchimento e obter informação como o comprimento, concentração e orientação das fibras que são determinantes para a estabilidade dimensional do modelo e para as propriedades tênseis do compósito. O uso de plásticos reforçados com fibra apresenta configurações adicionais para análises avançadas. O configurador da biblioteca de materiais destaca os compósitos e apresenta os parâmetros da fibra (editáveis) enquanto que os parâmetros de computação apresentam estudos complementares. A simulação de enchimento fornece a informação da orientação, comprimento e concentração das fibras, integrada em interface de elementos finitos (Finite Element Analysis, FEA). O software FEA permite prever numericamente possíveis problemas estruturais através da sobreposição da malha, propriedade do
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material e condições estruturais definidas pela fibra no enchimento. RESULTADOS Os resultados relativos à orientação da fibra apresentam-se segundo vetores que se distribuem segundo a direção mais favorável, e a magnitude (exibida na cor do vetor) representa o grau de orientação. A microestrutura de fibra incorpora no plástico propriedades mecânicas anisotrópicas que podem ser avaliados através dos resultados relativos à orientação de fibra e concentrações de tensões residuais do estudo de enchimento. Uma distribuição unidirecional da fibra introduz propriedades anisotrópicas máximas na aplicação de forças paralelas à direção da fibra e mínimas em forças aplicadas no sentido perpendicular à fibra, enquanto que com fibra biaxial a distribuição das propriedades é mais homogénea e o reforço mais eficiente. Com tecnologias de malha 3D de aplicação CAE (Computer Aided Engineering) é estabelecida a distinção realista da zona de superfície em relação ao núcleo (Boundary Layer Mesh – BLM) aumentando o grau de precisão da análise e permitindo a inclusão do estudo do comprimento médio da fibra e fenómenos de rutura que permitem
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verificar de forma mais precisa o efeito do reforço no aumento da resistência mecânica e estabilidade dimensional. A interface FEA permite visualizar se o requisito da fibra apresenta propriedades mecânicas anisotrópicas favoráveis para a peça. A produção de resultados de análise CAE como a orientação das fibras e o stress residual, importados para o software de análise estrutural permite avaliar com maior precisão a força estrutural fruto das propriedades introduzidas pela fibra de matriz polimérica.
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_____________ Referências D02-01-001 Fiber_Theory and verification instructions. [S.I.]: CoreTech System Co., Ltd. 2016 D02-01-003 Fiber_Case Study. [S.I.]: CoreTech System Co., Ltd. 2016 C13-001 Overview of Fiber Analysis. [S.I.]: CoreTech System Co., Ltd. 2017 C13-002 Fiber_Pre-analysys and Project operating instructions. [S.I.]: CoreTech System Co., Ltd. 2017
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ANÁLISE ESTRUTURAL DE PLÁSTICOS REFORÇADOS COM FIBRAS UTILIZANDO MOLDFLOW/ADVANCED MATERIAL EXCHANGE JOÃO PAULO RODRIGUES * * Cadflow
Os plásticos podem ser usados no seu estado “puro” ou com a adição de fibras de reforço que podem trazer benefícios ao nível do peso, rigidez e resistência mecânica, permitindo a sua utilização na indústria automóvel, civil ou até como alternativa a peças de metal. Atualmente o software Autodesk® Moldflow® permite simular vários processos de moldação por injeção, fornecer informações detalhadas sobre as orientações das fibras resultantes bem como das propriedades do material. Com a adição do Advanced Material Exchange, o software Autodesk® Helius PFA pode importar essa informação e mapeá-la diretamente num modelo estrutural para inclusão numa análise de elementos finitos (FEA).
As principais características desta metodologia de simulação incluem: 1. Mapeamento automatizado da orientação das fibras e das propriedades dos materiais durante o processo de injeção, na malha estrutural de elementos finitos. 2. Melhoramento do modelo de simulação estrutural do material considerando a plasticidade e rutura da matriz constituinte, produzindo uma resposta estrutural anisotrópica não linear. 3. Processo de caracterização de material simples exigindo dados experimentais mínimos. ANÁLISE VS. VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL Procedeu-se a uma análise detalhada vs. ensaio experimental para testar o desempenho e a precisão da solução implementada. Vários
provetes cruciformes moldados por injeção foram fabricados e testados até à falha. Uma série de simulações foram executadas para prever a falha complexa desses provetes sob uma gama de relações de carga biaxial. Em seguida são apresentados resultados da caracterização do material e simulação da carga de rutura e trajetória de fratura. CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAL Os dados na Fig. 2 mostram os resultados dos ensaios de rutura uniaxial medidos para o material Extron 3019 HS. As amostras do ensaio de tração ASTM Tipo 1 foram cortadas a partir de placas retangulares moldadas por injeção. As placas de 3mm de espessura foram fabricadas de modo que exibissem a direção do “fluxo” e a direção do “fluxo cruzado”, que definisse a orientação das fibras
F2 – Comparação das respostas medidas e previstas para o Extron HS ensaio de tração até à falha para 0,45 e 90.
curtas de vidro na placa. Os provetes do ensaio à tração foram cortados em três orientações, 0°, 45° e 90°, em relação à direção do fluxo de injeção. Os dados de tração mostrados representam uma taxa de deformação uniaxial imposta de 0,05 (mm/mm) /min e o último ponto de dados em cada curva foi realizado imediatamente antes da rutura da amostra. A Fig. 2 mostra também os dados dos ensaios sobrepostos com os resultados da caracterização do material, onde se verifica que o modelo de material corresponde à resposta elastoplástica e à carga de rutura para as três orientações. ENSAIO DO MODELO CRUCIFORME COM CARGA BIAXIAL
F1 – Exemplos dos provetes cruciformes
Depois dos coeficientes do modelo do material terem sido determinados ajustando o modelo simples aos ensaios de tração
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uniaxial de 0°, 45° e 90°, o modelo de material resultante é validado e usado para simular a falha dos provetes cruciformes, mais complexos, carregados biaxialmente. A Figura 3 mostra a geometria no plano e o carregamento biaxial aplicado. As cargas Fx e Fy podem ser aplicadas em diferentes proporções para criar uma gama de cenários de carga de tração biaxial.
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A Fig. 4 mostra a distribuição de tensões de Von Mises resultantes de uma simples carga de tração uniaxial na direção do fluxo. A partir do gráfico de contorno resultante, podemos ver nove máximos locais e uma variação significativa de stress na seção de medição (linha tracejada na figura). A rutura resultante inicia-se fora da seção de medição. RESULTADOS: CARGA DE RUTURA PARA ENSAIO BIAXIAL E TRAJETÓRIAS DE RUTURA O modelo foi utilizado para prever as cargas de rotura para seis diferentes relações de carga biaxial (Fx / Fy). Em baixo mostramse alguns resultados simulados em comparação com os resultados experimentais. Os resultados experimentais incluem várias amostras de ensaios para cada relação de carga, a fim de mostrar a dispersão nos resultados obtidos.
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F3 – Geometria no plano e ao longo da espessura do modelo carregado biaxialmente
DESAFIOS DE ORIENTAÇÃO DE FIBRA Durante o processo de moldação por injeção, a orientação das fibras de vidro curtas irá variar ao longo da espessura da placa. Perto da superfície da placa, as fibras tendem a estar fortemente alinhadas na direção do fluxo, enquanto o núcleo interno da placa tende a exibir menor alinhamento (distribuição mais aleatória da orientação das fibras). Consequentemente, é crítico, mapear com precisão o tensor de orientação da fibra, da malha da simulação com a malha do ensaio estrutural.
F5 – Relação A: Fx>0, Fy=0 Carga na direção perpendicular ao fluxo
DESAFIOS DE RESPOSTA MECÂNICA COMPLEXA O ensaio biaxial exibe várias características desafiadoras. Primeiro, os provetes cruciformes são submetidos a uma ampla gama de relações de carga global (Fx / Fy), que levam a estados de stress locais complexos. Em segundo lugar, os provetes contêm regiões com raios, no plano e fora do plano, que produzem campos de tensão e compressão não homogéneos com concentrações de tensão moderadas, independentemente do carregamento ser uniaxial ou biaxial.
F4 – Tensão de von Mises durante carregamento uniaxial, na direção do fluxo
F6 – Relação B: Fx/Fy = 2.3
F7 – Relação E: Fx=0, Fy>0 Carga apenas na direção do fluxo
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VELOCIDADE INSTANTÂNEA NA MODELAÇÃO E SIMULAÇÃO 3D! JOÃO GASPAR * * CODI
No mundo empresarial as exigências aumentam drasticamente de dia para dia e a velocidade de resposta às solicitações dos clientes é cada vez mais um fator de diferenciação e de sucesso para o negócio, como tal o processo de desenvolvimento de produto tem vindo a sofrer melhorias continuadas, com a introdução de diversas tecnologias de apoio e de softwares mais eficazes. Em termos de software, o mais recente e com maior impacto em termos de melhoria no tempo reduzido foi lançado no ano passado e prometia mudar para sempre a forma como fazemos simulação, o Discovery Live. Pela primeira vez, engenheiros e designers têm uma ferramenta que permite visualizar instantaneamente tensões exercidas numa peça ou analisar os fluxos à sua volta enquanto aplicam alterações no seu modelo. É claramente uma ferramenta disruptiva que alia o CAD ao CAE. O software permite alterar a geometria e visualizar imediatamente a implicação que irá ter. Este foi concebido para ser utilizado como uma ferramenta de desenvolvimento inicial que nos ajuda a alcançar uma maior eficiência na obtenção da geometria certa para o desempenho pretendido. Sendo um software de simulação e modelação que combina várias ferramentas, permite quer a engenheiros quer a designers a possibilidade de o utilizarem para fazer protótipos virtuais e analisar instantânea e diretamente o seu comportamento. Mas para conseguir este tipo de resultados de forma tão rápida a ANSYS abandonou a forma como a indústria tem trabalhado durante anos e desenvolveu uma nova forma de resolver geometrias. Este novo método concentra todo o seu poder de cálculo nas unidades de processamento gráfico (GPUs), o que também faz com que o custo com o hardware reduza significativamente comparando com o de outras máquinas necessárias para utilizar softwares deste tipo. Este novo software integra o já conhecido SpaceClaim que é utilizado para a obtenção de geometrias através da modelação sólida direta. Este software permite criar e manipular modelos de forma bastante rápida, fácil e intuitiva, resultando em muito menos tempo gasto com a obtenção da geometria e mais tempo para outras funções, como análise ou modelação conceptual. Este tipo de modelação também permite editar e reparar facilmente qualquer geometria independentemente da sua origem, ideal para quem precisa de fazer engenharia inversa ou diferentes testes de modelação no seu projeto.
Para quem já conhece o SpaceClaim sabe que obter a geometria desejada não é de todo um grande desafio, no entanto, até há pouco tempo, era dispendioso e ineficiente prever o impacto mecânico das alterações que aplicávamos na peça. Este tipo de análise envolve muitos passos e muitos deles extremamente morosos e dependentes de pessoas com elevados conhecimentos específicos. Desde a limpeza e preparação da malha de análise, à definição do ambiente de simulação, passando pelo processamento dos cálculos da simulação, que pelo método tradicional já é um processo bastante demorado, até à exportação e análise dos resultados, tudo isto para obter ‘umas luzes’ de como o nosso modelo se irá comportar. É todo um processo muito pouco eficiente que, além de atrasar o desenvolvimento, poderá estar a “esconder” as melhores soluções para a nossa geometria. O ANSYS Discovery Live surge então com a promessa de acabar com este ciclo de desenvolvimento lento e ineficiente, ajudando engenheiros e designers a obter a geometria que irá ter um melhor desempenho. Para isso basta modelar ou importar uma peça, definir o tipo de simulação que pretendemos, selecionar o material e logo a partir daí o software começa a gerar a solução. Diversos outros fatores que influenciem a nossa atmosfera de simulação podem ser aplicados e o software atualiza logo a solução. Mas a verdadeira disrupção e o que torna este software único, é a visualização da solução enquanto modelamos, é esta funcionalidade que nos permite analisar e perceber o impacto que as alterações que vamos fazendo e que se vão traduzindo na peça. Atualmente o ANSYS Discovery Live disponibiliza simulações dinâmicas estruturais, térmicas, modais e de fluidos, além de todo o potencial de modelação herdado do SpaceClaim. Com este software, apenas o poder de modelação já nos é bastante útil, mas quando aliamos também a simulação instantânea, torna-se num verdadeiro assistente completo ao processo de desenvolvimento, eliminando a necessidade de “saltar” entre softwares. Esta nova ferramenta permite a engenheiros ou designers, com muito pouco treino ou experiência, modelar e alterar o seu modelo e ver o resultado de forma muito intuitiva e para além de tudo isto o preço está bastante abaixo das opções existentes, por isso para simulações rápidas e uma interface simplificada, o Discovery Live torna-se numa ferramenta verdadeiramente disruptiva de CAD e CAE.
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INOVAÇÃO INNOVATION O que as empresas concebem de forma singular e inovadora what our companies concieve in a singular and innovative way
Projeto SM 4.0 - Smart Manufacturing
reGrafitti - Da grafite resíduo ao grafeno reforço - um novo caminho para o fabrico de nanocompósitos
INOVAÇÃO INNOVATION
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PROJETO SM 4.0 - SMART MANUFACTURING CARLOS NOVO * * Socem Impact
ENQUADRAMENTO A Socem Inpact - Investigação, Desenvolvimento e Engenharia de Moldes Lda. opera na indústria de moldes, num nicho específico de moldes protótipos, suportes de medição, prototipagem e tecnologias aditivas, além da engenharia e desenvolvimento de produto. A Socem Inpact posiciona-se neste sector restrito com elevada capacidade para o desenvolvimento de novos produtos. A empresa prima pela inovação na área do desenvolvimento do produto, oferecendo um leque alargado de soluções tecnológicas, com o objetivo de adaptar-se às necessidades dos seus clientes e superar as suas expectativas. Ao longo dos anos a Socem Inpact cresceu e formou recursos humanos altamente especializados e dotados de competências para o desenvolvimento e promoção da inovação de conceitos e processos, sendo a sua área de negócio, a oferta de serviços integrados para o desenvolvimento do produto. A empresa encontra na sua oferta de serviços, uma forma de diferenciação sustentada, do sector onde está inserida. Afasta-se da
manufatura única e exclusiva do molde (Aço), que tipifica a maior parte das unidades empresariais do sector, para o alargamento da sua cadeia de valor a jusante, através da oferta de soluções integradas de desenvolvimento do produto. A oferta de serviços de elevado know-how confere vantagens competitivas ímpares no mercado onde se insere, estando presente desde o inicio dos projetos em toda a área de desenvolvimento e engenharia de produto, podendo oferecer soluções de testes/validação por via das tecnologias aditivas (impressão 3D), moldes silicone e moldes protótipos (alumínio). A modernização contínua dos meios tecnológicos e a sua integração harmoniosa na empresa, permitirá criar fatores de diferenciação que tornarão a Socem Inpact a melhor da classe. A investigação e gestão do conhecimento farão cada vez mais parte do modelo de negócio da Socem Inpact que tornará possível a especialização da empresa em serviços, onde o preço não será mais fator crítico de decisão. A perspetiva futura da empresa face à atual cadeia de valor passa por continuar a apostar na inovação e tecnologia, investindo
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em processos de automação e produção robotizada (célula de produção), posicionando-se como uma das empresas mais rápidas de moldes protótipos da Europa. O presente projeto está alinhado com a visão de aumentar continuamente e de forma sustentável a sua competitividade, flexibilidade e capacidade de resposta ao mercado global. Este projeto contribui decisivamente para capacitar a empresa para a quarta revolução industrial que é caracterizada pela introdução de um conjunto de tecnologias digitais nos processos de produção, além da automatização de processos/produção. O PROJETO O mercado de injeção de plásticos, encontra-se hoje numa fase de fortes mudanças e as células de fabrico flexível começam a fazer parte integrante das soluções para automatizar e controlar a produção. Com este projeto, a Socem Inpact irá investir na aquisição de máquinas e equipamentos para responder com celeridade a estas novas oportunidades, ganhando vantagem competitiva junto aos concorrentes, uma vez que neste mercado o fator Time-tomarket é de extrema importância, bem como obter ganhos no preço de venda por reduzir o Lead Time. Através da automatização da produção, a Socem Inpact ficará com um sistema robotizado de troca automática de ferramentas, centramento dos moldes/peças com sistemas por infravermelhos, calibradores laser das ferramentas com registo automático das mesmas e da inserção de sistemas de paletização automáticos, possibilitando a comutação automática através de robótica com a mesa que se encontra na máquina e integração de funções através do software. Ao mesmo tempo que se investe em inovação de produção, também se pensa nas tecnologias digitais, nomeadamente com base em softwares 3D e programação, que têm permitido uma enorme evolução na conceção e desenvolvimento de produto, o que tem permitido aumentar a qualidade e o rigor, representando valor acrescentado para os clientes. A associação destas tecnologias à produção com equipamentos de fabricação digital (impressoras 3D, CNC, etc.) permite uma mudança de paradigma nos processos de criação de novos produtos promovendo a inovação
INOVAÇÃO INNOVATION
Testemunho de Luis Febra – Administrador do Grupo Socem “O nosso Grupo está totalmente dedicado aos mercados internacionais, quer através das exportações, quer através de investimento em novas tecnologias, convivendo com a forte competição dos mercados industriais em desenvolvimento, constituindo o programa COMPETE 2020 um forte apoio à melhoria da nossa eficiência e à modernização dos meios tecnológicos e humanos, tal fator tem projetado a nossa empresa para um posicionamento diferenciador na indústria de moldes e plásticos.”
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e a competitividade. A adoção destas tecnologias e processos constitui um passo determinante para a inovação de produto e desenvolvimento de soluções diferenciadoras num mercado global. A aquisição de equipamentos mais sofisticados, a par dos já existentes colocará a Socem Inpact no topo das melhores empresas em Portugal, especializadas em soluções de engenharia com alto valor acrescentado, sendo a primeira empresa com células de produção em Portugal na vertente de moldes protótipos. FORMAÇÃO Foi definido, neste projeto, um plano de formação com a missão de capacitar o potencial humano da Socem Inpact com as competências críticas para acompanharem a sua estratégia de aumento da capacidade produtiva, competitividade e inovação. APOIO O projeto conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação, envolvendo um investimento elegível de 3,7 milhões de euros o que resultou num incentivo de cerca de 2,8 milhões de euros.
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INOVAÇÃO INNOVATION
REGRAFITTI - DA GRAFITE RESÍDUO AO GRAFENO REFORÇO - UM NOVO CAMINHO PARA O FABRICO DE NANOCOMPÓSITOS CAMILO SILVA * * CEMMPRE
O reGrafitti é um projeto em copromoção que envolve a indústria e entidades não empresariais do SI&I, num consórcio onde colaboram a empresa Moldes RP (promotora líder), o CENTIMFE - Centro Tecnológico da Indústria de Moldes Ferramentas Especiais e Plásticos e a Universidade de Coimbra (CEMMPRE - Centro de Engenharia de Mecânica, Materiais e Processos). O projeto tem por base a recuperação de elétrodos de grafite de processos de eletroerosão (EDM) que, após cumprirem o seu desígnio em processos subtrativos de conformação de componentes mecânicos, em particular no fabrico de moldes para plásticos, são considerados resíduos. A vontade de recuperar e valorizar aquilo que é considerado um desperdício, o elétrodo de grafite, leva-nos à recuperação deste material, transformando-o em matéria-prima secundária - grafite exfoliada, ou mesmo grafeno, reutilizada em produtos finais sob a forma de peças poliméricas moldadas. Os ensaios de caracterização dos elétrodos usados na indústria, através da técnica de difração de Raios X (DRX), que analisa as estruturas cristalinas, confirmam que os elétrodos são constituídos por grafite de boa qualidade, apesar de não ser grafite pirolítica, onde a orientação preferencial é bem definida. O estudo em espetroscopia de Raman corrobora, evidenciando que a grafite dos elétrodos tem uma quantidade de defeitos significativa ou uma orientação aleatória. Através da otimização de uma técnica de exfoliação convencional de grafite por fricção, processo que se pretende fiável, seguro, reprodutível e com possível scale-up, foi possível obter alótropos de carbono (AC) com granulometria homogénea (d50 = 13,4 µm), que analisados por espetroscopia de Raman revelam uma diminuição significativa de defeitos/orientação aleatória, justificada pela redução de dimensão dos blocos de grafite, que tem repercussões na intensidade da banda D. Com o objetivo de evidenciar o papel dos alótropos de carbono produzidos nas propriedades de polipropileno isotático (iPP), foram produzidos diversos compósitos com teores diferenciados deste reforço, sem alterar a metodologia adotada no procedimento industrial. A mistura foi realizada com recurso a uma misturadora típica de composição de polímeros, denominada Zblade, e a uma temperatura previamente otimizada. Neste contexto, todo o processo de injeção adotado foi também o mais próximo possível do utilizado para injetar iPP, e a adição de AC (0,5% e 1% (m/m)) não alterou as condições de processamento por injeção, embora tenha contribuído para um ligeiro aumento da temperatura de fusão.
O estudo preliminar das propriedades mecânicas dos compósitos reforçados pelos AC, produzidos por exfoliação do resíduo, evidencia um aumento significativo do módulo de elasticidade à flexão (a) em comparação com iPP sem adição, e mesmo para igual teor de reforço de grafeno multicamada comercial (MLG), processados nas mesmas condições. Por sua vez, o limite de elasticidade sofre um decréscimo generalizado de cerca de 10% em todos os (nano) compósitos produzidos, apesar de a dureza Shore não apresentar alterações. Desta forma, é possível afirmar que a adição de AC, produzidos a partir de elétrodos, ao iPP contribui para a melhoria de algumas propriedades, sem perdas significativas de outras, essenciais para a utilização do compósito. Contudo, para frações mássicas mais elevadas de reforço, há necessidade de otimização das condições de mistura e de injeção. De momento, estão em curso outras metodologias de exfoliação mecânica e análise de reforço de iPP com menores frações mássicas de AC (entre 0 e 0,5%), à semelhança do já efetuado para AC comerciais. reGrafitti - Da grafite resíduo ao grafeno reforço - um novo caminho para o fabrico de nanocompósitos, (Projeto n.º 17742 SI I&DT, Aviso n.º33/SI/2015 projetos em co-promoção).
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NEGÓCIOS BUSINESS Economia, mercados, estatísticas Economy, market information, statistics
Mercado da Suécia
Sun Tzu revisitado
Regime da adaptabilidade de horário de trabalho
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MERCADO DA SUÉCIA CARLOS MOURA * * AICEP Estocolmo
1 - SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS DE MERCADO A Suécia é, atualmente, uma das economias mais desenvolvidas, competitivas e modernas do mundo, conciliando um sistema assente nas tecnologias de ponta com um extenso leque de benefícios sociais e elevados padrões de vida. A posição preponderante da economia sueca é explicada ainda por outros fatores, tais como um alto grau de maturidade tecnológica, uma capacidade inovadora liderante, uma cultura empresarial muito sofisticada e um ambiente macroeconómico estável. Estes aspetos resultam da atenção prestada à criação de condições favoráveis a um desenvolvimento norteado pela inovação e à formação de uma mão-de-obra altamente qualificada, de instituições públicas e privadas que gozam de uma excelente reputação internacional. A Suécia é um Estado próspero, constituindo-se, no âmbito da União Europeia (EU), como a 6ª maior economia em 2016 (em termos de Produto Interno Bruto a preços de mercado) e a 3ª no que respeita ao PIB per capita. Como sucede em países que privilegiam o bem-
estar da sociedade, dispõe de um vasto sector público, o que se reflete num consumo privado que representa, ainda assim, 44,5% do PIB, inferior à média europeia e onde as desigualdades ficam igualmente aquém dos valores médios observados na Europa. A excelência do país em termos de investigação e desenvolvimento (I&D) faz da Suécia uma localização atrativa para investidores internacionais em alta tecnologia. Após a recessão de 2009 1, a solidez económica do país, assente, sobretudo, no desempenho do consumo interno, revelou-se decisiva para a rápida recuperação encetada a partir de 2010 2. A solidez do consumo privado foi, em grande medida, responsável pela rápida recuperação económica pós-2009. Com efeito, em 2008-2009 este registou uma descida marginal (contrastando com que se verificou na maioria da UE), recuperando rapidamente no período 2010-2013, reflexo da sólida base económica sueca (sector bancário, mercado de trabalho, contas domésticas equilibradas, crescimento dos índices de produtividade). Suportado pelo aumento do rendimento disponível das famílias, pela descida da taxa de desemprego e
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ainda pela diminuição dos custos dos produtos alimentares e da energia, em 2015 e 2016, o consumo doméstico cresceu 3% e 2,1%, respetivamente. Entre 2017 e 2019, este deverá crescer a uma média anual de 2,2%. O crescimento económico em 2016 (3%) representa um decréscimo em relação ao biénio 2014-15 (média anual de 3,5%), altura em que a economia sueca registou uma rápida recuperação, fruto de uma política monetária expansionista, de um forte crescimento do sector imobiliário e de um desemprego em queda, abaixo de 7%. Em 2017, e segundo o Economist Intelligence Unit (EIU) a economia sueca terá crescido 2,7%, impulsionada pelo investimento interno e pelas exportações. Para 2018, a mesma fonte projeta que a economia se mantenha estável, crescendo 2,6%, devendo, para o período 20192022, crescer a uma taxa média anual de 2,3%. No 3º trimestre de 2017, a taxa de inflação ultrapassou 2%, o valor mais elevado desde 2011; no entanto, em outubro, e após uma valorização de moeda, este indicador baixou para 1,7%, o que resultou numa taxa de inflação anual de 1,8%. Para o EIU, o índice de preços deverá manter-se estável entre 2018 e 2021. Segundo fontes locais, nos três primeiros trimestres de 2017 diminuiu o excedente da balança corrente, em função da forte procura interna, provocando um aumento das importações e uma redução dos saldos das balanças comercial e de serviços. Em 2016 o saldo da balança corrente atingiu 4,5% do PIB, que compara com 4,7% registado em 2015. No ano transato, este saldo deverá ter diminuído para 4%, refletindo um decréscimo do saldo da balança de serviços, situação que não deverá sofrer alteração em 2018. Uma quebra da procura interna deverá conduzir a uma nova subida do saldo da balança corrente em 2019, voltando a cair em 2020, em função da diminuição global das exportações, consequência do previsível abrandamento cíclico da economia dos EUA. No médio prazo, o saldo da balança de rendimentos deverá continuar positivo; no entanto, parte deste saldo será esbatido pelos défices da balança de transferências.
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2 - RELAÇÕES ECONÓMICAS PORTUGAL-SUÉCIA
Comércio de Bens e Serviços
Não sendo um dos principais parceiros comerciais de Portugal, a Suécia apresenta uma assinalável margem de progressão para o comércio internacional português. Em 2017, o país representou 0,91% das exportações portuguesas de bens e serviços e 0,89% das importações. Balança Comercial de Bens e Serviços Em 2017, e interrompendo um período de 3 anos, a balança comercial de bens e serviços foi positiva para Portugal, com o saldo a atingir 53,8 milhões de euros. De assinalar que as exportações cresceram 7,3% face ao ano anterior, e as importações registaram um decréscimo de 3,8%. No período 2013-2017, as exportações e as importações tiveram uma evolução positiva, tendo-se verificado crescimentos médios anuais de 3,7% e 5,9%, respetivamente, cf dados abaixo:
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Fonte: Banco de Portugal Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2013-2017 (b) Taxa de variação homóloga 2016-2017 Devido a diferenças metodológicas de apuramento, o valor referente a “Bens e Serviços” não corresponde à soma [“Bens” (INE) + “Serviços” (Banco de Portugal)]. Componente de Bens com base em dados INE, ajustados para valores f.o.b.
Comércio de Bens Em termos globais, e no que se refere ao comércio de bens, a Suécia é um parceiro relativamente importante para Portugal, surgindo, em 2017, no ranking de clientes, na 15ª posição, com uma quota de mercado de 0,91%, e no de fornecedores, igualmente na 15ª posição, com uma quota de mercado de 0,94%.
Um crescimento sustentado do emprego, alcançar a mais baixa taxa de desemprego da UE, reforçar o sistema de segurança social e tornar-se num dos primeiros Estados a banir os combustíveis fósseis constituem as principais apostas da coligação governamental atualmente no poder.
Todavia, no período 2013-2017, a Suécia perdeu um lugar no ranking de clientes, tendo a sua quota de mercado regredido de 0,93% para 0,91%, e subiu um lugar enquanto fornecedor, mas diminuindo a sua quota de mercado de 0,97% para 0,94%. No âmbito da UE, em 2017 a Suécia posicionou-se como o 9º maior cliente e fornecedor de Portugal.
A longo prazo, a Suécia ver-se-á confrontada com o problema do envelhecimento da sua população. Por um lado, a curto prazo continua a crescer a população empregada; por outro, a percentagem da população em idade de trabalho (que atingiu 64,3% da população total em 2007, deverá cair para 60% em 2025), apesar dos fluxos líquidos de imigração. Dentro de pouco mais de uma década, a população acima dos 65 anos representará 22% do total (17% em 2000). Neste cenário, o grande desafio consistirá em encontrar formas de financiamento de uma despesa pública crescente, sobretudo na área da saúde, assim como em reduzir a taxa de desemprego da população jovem, que em 2016 atingiu 18,8%.
No período de 2013-2017, a balança comercial luso-sueca foi, como habitualmente, desfavorável a Portugal. As taxas médias de crescimento das exportações e importações foram de 3,8% e 4,6%, respetivamente, e a taxa de cobertura das importações pelas exportações desceu de 79,9% para 77,3%, tendo o défice comercial crescido de 111 para 147 milhões de EUR. No cômputo geral, neste período as exportações subiram de 441 para 502 milhões de EUR e as importações de 551 para 649 milhões de EUR.
Com uma economia largamente voltada para a exportação 3, as perspetivas económicas dos seus principais clientes são um fator determinante na evolução do crescimento da Suécia. O principal risco que a economia sueca enfrenta reside na eventual quebra dos fluxos do comércio a nível global, em geral, e a nível comunitário, em particular.
Balança Comercial de Bens
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Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE) Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2013-2017; (b) Taxa de variação homóloga 2016-2017; 2013 a 2015 - resultados definitivos; 2016 resultados provisórios; 2017 – resultados preliminares
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Serviços No que se refere ao comércio de serviços, em 2017 a Suécia absorveu 0,90% das nossas vendas totais ao exterior, e foi responsável por 0,58% das importações totais. No período 20132017, constata-se uma diminuição quase contínua da quota do país enquanto cliente de Portugal (de 1,07% em 2013 para 0,90% em 2017). Na qualidade de fornecedor, a Suécia manteve uma quota de mercado inferior, registando em 2014 o melhor resultado do período (0,89%). Ao invés do que sucede no comércio de mercadorias, na área dos serviços a balança bilateral é tradicional e amplamente favorável a Portugal. No período 2013-2017, a balança comercial de serviços luso-sueca viu decrescer a sua taxa de cobertura das importações pelas exportações de 479,3% para 320,1%. Balança Comercial de Serviços
Fonte: Banco de Portugal; Unidade: Milhões de euros Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2013-2017; (b) Taxa de variação homóloga 2016-2017
3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SECTOR DE MOLDES NA SUÉCIA Produção
A Suécia tem uma longa tradição no sector da manufatura, sendo que várias empresas estão a expandir-se e a localizar-se na Suécia. Algumas das empresas mundiais líderes na indústria transformadora tiveram origem na Suécia, como é o caso da Volvo e da Scania, com um grande peso ainda hoje e agora acompanhadas por várias empresas estrangeiras com operações no país. Principais sectores da indústria transformadora na Suécia
Fonte: Business Sweden 2016
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Indústria Automóvel e Componentes para Automóveis Quando a GM e a Ford anunciaram que queriam alienar a Saab Automobile e a Volvo Cars, o futuro da indústria automóvel na Suécia foi, por vezes, questionado. No entanto, as preocupações, pelo menos a médio prazo, não se tornaram realidade. A Suécia mantém-se um país onde a indústria automóvel tem um grande impacto na comunidade de negócios e na economia. Apesar de contar, apenas, com pouco mais de 10 milhões de habitantes, tem dois dos maiores fabricantes de veículos pesados – Scania AB e Volvo Group AB – e o maior fabricante de veículos ligeiros – Volvo Car Corporation – com as principais operações na Suécia. A Volvo foi fundada em 1927 como produtor de camiões. O primeiro passo para se tornar um Grupo global foi a abertura, em 1975, de uma fábrica de camiões na Bélgica. Em 1999 vendeu a divisão de automóveis (Volvo Cars) à Ford Motor Company e, a partir de então, foi alargando a oferta. Em 2015 o Grupo Volvo AB, em que a maioria dos acionistas é sueca, incluía um leque alargado de marcas: Volvo, Volvo Penta, UD, Terex Trucks, Renault Trucks, Prevost, Nova Bus e Mack plus, tendo alianças e joint ventures com as marcas Sunwin, SDLG, Eicher e Dongfeng. As vendas repartiam-se por camiões (68% do total), equipamentos para a construção (16%) e autocarros (7%).
Estes fabricantes estão orientados para a exportação (mais de 85% da produção), sendo que a sua performance determina o desempenho dos pequenos fornecedores suecos. De acordo com um estudo realizado pela Vinnova Analysis, publicado em outubro de 2017 (The automotive industry in Sweden - A cluster study), em 2016, a indústria automóvel era a maior indústria exportadora da Suécia, com cerca de 14% da exportação sueca de bens. A indústria de componentes, embora mais concentrada no sul, distribui-se por praticamente todo o território sueco, com grupos de empresas em quase todas as cidades. Västra Götaland e Estocolmo têm os dois maiores clusters do sector, seguidos pela região de Jönköping. Localização dos Fornecedores do Sector Automóvel (2015)
Em 2010 a Ford vendeu a Volvo Cars à Geely Holding e, em 2015, foram vendidos meio milhão de veículos, dos quais uma pequena parte com motor elétrico ou híbrido. Nos três primeiros trimestres de 2017, o valor das vendas aumentou, em termos homólogos, 18,9% para SEK 149 250 milhões, correspondentes a 413 472 unidades. O EBIT e o lucro líquido aumentaram, respetivamente, 36 e 42%. Este crescimento está assente na aceitação pelo mercado da nova geração de modelos, estratégia que se deverá manter quer em 2018, com a substituição dos modelos S60 e V60, quer em 2019 com a oferta dos novos modelos em versão híbrida ou elétrica. A Scania foi fundada em 1891 como Vabis e estabeleceu uma subsidiária no Brasil em 1957. Em 1969, ocorreu a fusão com a Saab, mas a Scania tornou-se novamente uma empresa independente em 1995. Em 2000, a sua aquisição pela Volvo foi recusada pela agência de concorrência da UE e a Volkswagen tornou-se o maior acionista da empresa, e o único proprietário desde 2014. Adicionalmente, em 2013 - 2015, a National Electric Vehicles Sweden (NEVS), retomou a produção dos automóveis Saab, mas em pequenos volumes. A principal estratégia da NEVS é o desenvolvimento de veículos elétricos.
Fonte: Vinnova Analysis, The automotive industry in Sweden - A cluster study
O número de empresas ativas fixou-se em 593 em 2015 e tem permanecido relativamente estável: entre 2007 e 2015, cessaram operações 35 empresas mas 45 iniciaram atividade. Suécia – maiores empresas do sector automóvel por volume de negócios
Localização da Produção
Fonte: ACEA European Automobile Manufacturers’ Association
Fonte: Largest companies by turnover/manufacture of motor vehicles trailers and semitrailers
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De acordo com a ACEA, na Suécia, o sector empregou 1,47% da população em 2015 (68 336 pessoas), acima da média europeia de 1,14% (2,5 milhões de pessoas). No mesmo ano, foram produzidos, em média, 3 veículos motorizados por cada empregado direto, contra a média europeia de 7,6 por trabalhador. Emprego direto na produção automóvel, por país (2015)
Fonte: ACEA
O estudo realizado pela Vinnova Analysis, que considera, também, o sector de componentes, refere que o emprego atingiu, em 2015, um total de 101 596 trabalhadores, mantendo-se relativamente estável desde 2010/2011. A principal base da indústria automóvel sueca assenta na produção de veículos de passageiros e de comerciais pesados acima das 15 toneladas (incluindo camiões articulados). Em 2016, foram produzidos 205 355 veículos de passageiros e 41 378 comerciais pesados, num total de 246 733 veículos, respetivamente, mais 33 406 e 5 460 veículos do que no ano anterior. Produção de veículos motorizados, por país, na UE em 2016
Fonte: ACEA
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Produção total de veículos por fabricante sueco (incluindo produção no exterior)
Fonte: BIL Sweden
A indústria automóvel é um dos sectores onde o investimento é mais significativo, com uma percentagem de 18% do total do investimento sueco na indústria em 2015; segundo o estudo The automotive industry in Sweden - A cluster study a participação do sector (automóveis e componentes) nos investimentos da indústria sueca atingiu 21% em 2016. Por outro lado, a indústria de veículos e embarcações na Suécia, um pouco maior do que a indústria automóvel, respondeu, em 2015, por 21% de todos os investimentos suecos em I&D. Em 2016, foram registados na Suécia, 431 818 veículos, dos quais 372 318 ligeiros de passageiros, 51 650 comerciais e autocarros ligeiros até 3,5 toneladas, 6 520 comerciais acima de 3,5 ton. (camiões) e 1 330 autocarros acima das 3,5 toneladas. Indústria do plástico e borracha Em 2015, a Suécia contava com cerca de 1 300 empresas fabricantes de produtos de borracha e plástico que respondiam por um volume de negócios da ordem dos 4 698 milhões de euros. A tendência, desde 2008, aponta para a redução do número de empresas (menos 54 em sete anos) a par do aumento do volume de negócios (mais 467 milhões de euros no mesmo período, não obstante uma forte contração em 2009. Suécia – maiores empresas do sector do plástico e borracha por volume de negócios
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Além do desenvolvimento da indústria automóvel, indutora da procura de componentes de plástico e borracha, também tem sido impulsionado o volume de vendas do sector da embalagem em resultado quer do crescimento da população sueca, quer do reforço da procura de soluções cada vez mais amigas do ambiente, desde a fase de fabrico até ao transporte e reciclagem. Um dos principais fatores competitivos remete para novas soluções de embalagem, tanto nos materiais utilizados no processo de produção, como em termos visuais. Neste sector, a tendência é eco-friendly, com foco na sustentabilidade, reciclagem, saúde e segurança. O principal desafio está em soluções de embalagens leves, duradouras e fáceis de usar, sendo que a procura crescente e a evolução da legislação nesta área são desafios que obrigam os fabricantes a procurar soluções biodegradáveis ou que derivem de fontes sustentáveis. Segundo o Euromonitor, esta tendência tem tido efeito, por exemplo, ao nível da dimensão das embalagens, com uma procura acrescida de soluções com menor capacidade explicada, em parte, pelo elevado número de famílias unicelulares e pela falta de espaço, mas também, pela associação de embalagens mais pequenas a menor desperdício dos produtos e a utilização de menos material para a sua produção. No caso dos bens alimentares, a preocupação com o ambiente deu lugar a uma maior utilização de embalagens bioplásticas e biodegradáveis. A cosmética parece ser um dos poucos sectores em que a importância do design e da rotulagem se sobrepõem às preocupações ambientais mas, ainda assim, está a ser dada cada vez mais importância a soluções de embalagens ecológicas.
4 - POSICIONAMENTO DA SUÉCIA NO SECTOR DE MOLDES Principais valores estatisiticos
De acordo com os dados do ITC - International Trade Centre, em 2016, a Suécia foi o 29º maior importador mundial de bens, representando 0,88% do total das importações. Nos moldes ocupava a 45ª posição no ranking, respondendo por 53,2 M€ correspondentes a 0,35% das importações mundiais destes produtos. O valor das importações suecas de bens em 2012 foi muito próximo do verificado em 2016 (respetivamente, 127,9 e 127,5 mil milhões de euros). Já nos moldes, as importações da Suécia no final do período superaram, em 3,2M€ o valor de 2012, registando um crescimento médio anual de 3%, ainda assim, inferior à média mundial de 4,9%. Contudo, cabe destacar que, neste sector, em 2016, as importações suecas diminuíram 14,6% enquanto as mundiais registaram um decréscimo de 0,1%. A balança comercial de bens é tradicionalmente favorável ao mercado mas, desde 2012, os superavits têm vindo a reduzir–se sistematicamente, e em 2016 ocorreu o primeiro défice do período. No sector de moldes, a balança foi sempre deficitária ao longo do período. Em 2016, o valor das importações suecas de moldes foi superior ao das exportações em 37M€ (53,2M€ versus 16,3M€).
Fonte: Largest companies by turnover/manufacture of rubber and plastic products
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Principais fornecedores Em 2016, a China liderou o mercado de moldes, com uma quota de 41,4%. As importações suecas de moldes chineses cresceram, em média, 12,9% ao ano desde 2012, fixando-se em 22M€ em 2016, um acréscimo de 5,1M€ face ao início do período. O segundo e terceiro lugares do ranking de fornecedores oscilou entre a Itália e a Alemanha nos últimos cinco anos. Em 2016, a Suécia importou 7,9M€ de moldes italianos e 6,4M€ de moldes alemães, 14,8% e 12% do total, respetivamente. Entre 2012 e 2016, a evolução das compras suecas foi positiva, embora com flutuações ao longo do período, com taxas médias de crescimento de 17,1% e de 8,8%. Os valores importados em 2016 ultrapassaram os registados em 2012 em 2,8M€ no caso italiano e, em resultado de uma forte contração no último ano, apenas 188 mil euros no caso alemão. Os fornecedores seguintes, Japão (4º), Suíça (5º) e Portugal (6º), respondiam juntos por 12,6% do mercado em 2016 (9% em 2012). O Japão tem reforçado a posição no mercado, subindo três lugares no ranking de fornecedores. A quota passou de 1,3% para 4,3%, e as compras mais do que triplicaram em cinco anos, de 630 mil euros para 2,3M€. Pelo contrário, a Suíça perdeu parcelas de mercado. As importações baixaram de 2,6M€ em 2012 (5,2% do total) para 2,2M€ em 2016 (4,2%), apesar de um pico em 2013 (5,5M€ ou 12,1% do total). No caso de Portugal, as importações suecas de moldes aumentaram, bem como a respetiva quota de mercado (ver ponto 5). De referir, ainda, que, em 2016, cerca de 77% (40,9M€) das importações suecas deste sector foram moldes para plástico ou borracha, quer para moldação por injeção ou compressão (8480 71), como outros não especificados (8480 79). As compras da Suécia a Portugal concentraram-se na totalidade neste tipo de moldes. No mesmo ano, Portugal foi o 5º fornecedor do mercado de moldes para plástico ou borracha, para moldação por injeção ou compressão (8480 71), com uma quota de 4,9%, correspondente a 1,9M€; nos outros moldes para plástico ou borracha não especificados (8480 79),a posição subiu para 3ª no ranking de fornecedores, com 264 mil euros e uma quota de mercado de 14%.
5 - RELACIONAMENTO PORTUGAL-SUÉCIA NO SECTOR DE MOLDES De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2017, a Suécia foi o 15º cliente das exportações portuguesas de bens (502M€) e o 15º fornecedor (649M€). O mercado foi o 15º cliente de moldes portugueses em 2016, com aquisições de mais de 7M€, que corresponderam a 1,1% das exportações do sector; Em 2017, o valor subiu para 9,3M€ e a Suécia subiu uma posição no ranking de clientes, com uma quota de 1,4%. Entre 2012 e 2016, as saídas de moldes para o mercado sueco
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cresceram a uma média anual de 56,7%, apesar da evolução ao longo do período não ter sido constante; em 2014 registou-se o valor de exportações mais significativo (14,5M€), seguido de dois anos de quebras. Esta tendência alterou-se em 2017, com as exportações de moldes para a Suécia a crescerem 33,7%, bem acima dos 7,1% do sector. Os valores publicados pelo INE são muito superiores aos divulgados pelo ITC em todos os anos do período em análise. Esta diferença poderá ser explicada por diferentes critérios de apuramento de dados. Enquanto fornecedor de moldes a Portugal, a Suécia ocupou o 12º lugar em 2016 com uma quota de 1,1% (2M€) e o 15º em 2017 com 0,9% e 1,4M€. As importações portuguesas aumentaram, em média, 169,1% ao ano entre 2012 e 2016, taxa justificada, em larga medida, pelos baixos valores de partida (400 mil euros em 2012). Deste modo, o saldo da balança comercial é favorável a Portugal em todos os anos e, de forma geral, com tendência para o reforço do saldo; o superavit mais elevado foi alcançado em 2015 (9,9M€).
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6 - OUTROS ASPETOS Como principal entidade relacionadas com o sector encontramos a FKG Fordonskomponentgruppen - Associação comercial dos fornecedores escandinavos para a indústria automóvel (apresenta como o organismo central desta indústria). Por ultimo é de referir o principal evento do sector - Elmia Subcontractor - principal feira do Norte da Europa direcionada para a indústria na vertente da subcontratação, especializada no desenvolvimento e compra de produtos. A feira é realizada anualmente em Elmia (Jönköping, Suécia). A importância deste vento reflete-se no número de expositores e visitantes, com cerca de 1 200 expositores de 30 países e cerca de 15000 visitantes, bem como no valor dos contratos celebrados em cada ano. A próxima edição é de 13-16 novembro 2018.
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_____________ 1 -Nesse ano, a economia contraiu 5,1%. 2 - Entre 2010 e 2015, a economia cresceu a uma taxa média de 2,6% ao ano. 3 - As exportações totais representam, atualmente, cerca de 45% do PIB sueco.
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SUN TZU REVISITADO VÍTOR HUGO FERREIRA * * D. Dinis Business School
Sun Tzu terá sido um general chinês, estratega militar, escritor e filósofo que viveu no período oriental de Zhou da antiga China. Sun Tzu é tradicionalmente creditado como autor da “Arte da Guerra”, um trabalho de estratégia militar de grande influência que afetou a filosofia e o pensamento militar, primeiro no Oriente e depois, séculos mais tarde, no Ocidente. O seu nome de nascimento seria muito provavelmente Sun Wu e o nome Sun Tzu, pelo qual ele é mais conhecido no mundo ocidental, é um honorífico que significa “Mestre Sol”. Alguns antigos historiadores tradicionais chineses situam-no como ministro do rei Helü de Wu e datam a sua vida no período de 544-496 a.c. Outros autores associam o seu nome a Sun Bin, outro general (e potencialmente seu descendente), que também escreveu um tratado sobre táticas militares. É de realçar que alguns académicos duvidam mesmo da sua existência histórica (acreditando que a “Arte da Guerra” será uma espécie de compêndio gerado por várias pessoas). Tenha sido ele um general ou “vários”, a verdade é que o pensamento de Sun Tzu marcou de forma indelével a moderna Estratégia (militar e empresarial). Neste sentido, existem na sua obra algumas lições fundamentais para o gestor moderno. Por exemplo, Sun Tzu afirma que devemos escolher as nossas batalhas. Nos negócios, devemos saber o que podemos alcançar e em quais áreas seremos mais bem-sucedidos para aproveitar ao máximo o tempo e os recursos disponíveis (Foco). Sun Tzu recomenda que os comandantes militares evitem espalhar demasiado as suas forças, pois isso resulta num exército mais fraco por toda parte. Da mesma forma, na sua empresa, se espalhar os seus recursos por diversos negócios onde não é tão competitivo, colocará em risco todas as suas atividades. A seguinte frase será uma das mais emblemáticas da Arte da Guerra: “Dizem que aquele que conhece os seus inimigos e se conhece a si próprio, não estará em perigo numa centena de batalhas, se conhece os seus inimigos, mas não se conhece, ganhará uma batalha e perderá outra, se não conhece os seus inimigos nem a si próprio, estará em perigo em cada batalha”.
Traduzindo de forma sintética, qualquer estratega para definir o caminho para o seu objetivo tem de conhecer os seus recursos (máquinas, pessoas e suas capacidades e motivação, recursos financeiros, marcas, reputação, sistemas, redes, etc.) e também o campo de batalha (contexto económico social, politico, económico, fornecedores, etc.) e os seus inimigos (pontos fortes e fracos dos seus concorrentes). Sem informação sobre esta realidade, qualquer gestor arriscar-se-á a destruir a sua empresa. Outra lição deste livro fala-nos do timing e da qualidade da decisão: “A qualidade da decisão é como o sucesso de um falcão que lhe permite atacar e destruir sua vítima”. Sun Tzu argumenta que é importante ser extremamente prudente em escolher o momento para enfrentar o seu inimigo. Ter uma boa estratégia em mente é essencial, mas quando esta não tem conta o timing adequado, todo o edifício do planeamento pode ruir. Por melhor que seja a nossa estratégia, hoje não será o momento ideal para lançar um motor de busca para competir com o Google, ou pode ser cedo demais para lançar uma cadeia de frescos em Angola, pois não existe uma rede de distribuição refrigerada e outras infraestruturas (o cedo de mais é um conceito interessante em estratégia – vejamse os casos do Pets.com que em 2000 “queimou” 200 milhões de dólares de investimento a tentar vender comida para animais de estimação, algo que não funcionou, mas que hoje é quase rotineiro. Ter um bom timing significa também que não devemos hesitar em executar quando o momento é certo. Sun Tzu sabia que o tempo era essencial na guerra. Na vida empresarial também é importante, já que uma vez que uma decisão seja tomada, ela deve ser executada imediatamente. Na indústria de tecnológica, por exemplo, as startups tendem a enfatizar a velocidade de execução e a flexibilidade organizacional para se manter à tona (para além de ter uma boa ideia, temos de ser rápidos a executá-la). Outra frase emblemática diz-nos que “o auge da competência não é ganhar 100 batalhas, mas sim subjugar o inimigo sem que lutar”.
Serviço exclusivo às empresas associadas.
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Ao observar o facto de que a guerra é extremamente arriscada, Sun Tzu propõe que os melhores táticos são aqueles que podem derrotar o inimigo pela diplomacia ou outros meios. Ele propôs que os generais tentassem conquistar as cidades sem sitiar, possivelmente forçando os habitantes a renderem-se com a ajuda da guerra psicológica. O exemplo da campanha “Think Different” da Apple ilustra como as empresas podem tornar-se bemsucedidas não pela competição direta, mas pela diferenciação. Outros exemplos de conquista de mercado “sem luta”, passam pela aquisição de concorrentes ou pela criação de alianças, que permitem a ambas as empresas ser mais competitivas. Sun Tzu afirma que “No meio do caos, há oportunidade”. Para ele, a mudança é um dos fatores mais importantes para decidir o resultado de uma batalha. Como realista, Sun Tzu enfatiza que qualquer coisa pode acontecer na guerra e propõe que os generais se preparem para o pior. No entanto, ele também realça que a única maneira de avançar é assumindo os riscos que existem. Portanto, aqueles que permanecem calmos e mantêm uma mente aberta durante um período de incerteza estão mais bem posicionados para aproveitar as oportunidades quando surgem. A mudança é inevitável em qualquer sector e a melhor maneira de se preparar para a mudança é ser a força motriz por trás dessa mudança. Estar ciente de novas leis ou regulamentos, tecnologias disruptivas, fenómenos sociais e mudanças no orçamento dos seus clientes
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irão descobrir oportunidades, que devem ser aproveitadas para que as empresas progridem. Não devemos descartar a fabricação aditiva, transportes por drones ou alterações políticas nos EUA, porque será no meio desta rutura que se escondem oportunidades para novas empresas e negócios (foi por exemplo assim que graças ao advento dos moldes para vidro e da ascensão da tecnologia do plástico, que nasceu parte da indústria da Marinha-Grande). “Oportunidades multiplicam-se quando são aproveitadas.” O sucesso gera sucesso. Esta máxima é particularmente verdadeira no mundo empresarial. Um processo de internacionalização com sucesso gera pontes para novos negócios nesse mercado. Se uma empresa de fabricação ganhar um contrato muito grande, gerará receita adicional que pode dar-lhe a oportunidade de expandir as suas capacidades de fabricação. Através desta expansão, ela será capaz de produzir seus produtos de forma mais eficiente, investir em I&D, criar novos produtos e mais emprego. Uma empresas que ganha um cliente novo, gera reputação que é a base da sua marcar industrial. Esta máxima é particularmente verdade e chama a atenção para a necessidade de reinvestir no seu negócio a partir do sucesso atual. Estas e outras lições com mais de 2500 anos são, paradoxalmente, essenciais para a moderna gestão, escondendo na sua simplicidade e harmonia, os princípios fundamentais da Estratégia de Empresarial.
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REGIME DA ADAPTABILIDADE DE HORÁRIO DE TRABALHO JOSÉ OROSA *
* Assessor Jurídico da CEFAMOL
Antes de abordarmos a temática do regime da adaptabilidade de horário de trabalho, devemos ter presente a noção de “período normal de trabalho”. Período normal de trabalho, é o tempo que o trabalhador se obriga a prestar, medido em número de horas por dia e por semana. O período normal de trabalho não pode por lei, exceder 8 horas por dia nem 40 horas por semana. Mas estes limites têm excepções. O Código do Trabalho prevê que o período normal de trabalho, pode ser adaptado, implicando aumentos e reduções tendo em conta um período de referência. É o chamado regime da adaptabilidade, previsto nos artigos 204.º e ss do CT. Há várias fontes de onde provém a adaptabilidade. Pode ter por fonte, o IRCT (Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho) Convenção Colectiva de Trabalho, “CCT”, e por outro lado, pode ter por fonte um acordo individual, entre empregador e trabalhador, é a chamada adaptabilidade individual e, por último, a adaptabilidade grupal que tem como fonte o IRCT, que se for aplicável a pelo menos 60% dos trabalhadores, passa por esse
facto, a abranger, uma unidade económica – empresa, conforme artigo 206º do Código do Trabalho. A adaptabilidade prevista em IRCT, o período normal de trabalho diário poderá ser aumentado até 4 horas e o semanal até 60 horas, mas não pode ultrapassar um período de referência, de 12 meses. A indústria de moldes prevê o regime de adaptabilidade, tendo por fonte o IRCT - Instrumento de Regulamentação Colectiva de Trabalho, no caso o CCT entre a FENAME e o SINDEL e outros, que se encontra estipulado nos pontos 2º a 8º da cláusula 23ª do referido CCT, a seguir: PERÍODO NORMAL DE TRABALHO 2- A duração normal de trabalho pode ser definida em termos médios, caso em que o período normal de trabalho diário pode ser aumentado até ao limite de 2 (duas) horas, sem que a duração de trabalho semanal exceda as 50 (cinquenta) horas, só não contando para este limite o trabalho suplementar prestado por motivo de força maior.
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3- No caso previsto no número anterior, a duração média do período normal de trabalho semanal deve ser apurada por referência a períodos de 6 (seis) meses, não podendo exceder 50 horas em média num período de dois meses. 4- As horas de trabalho prestado em regime de alargamento do período de trabalho normal, de acordo com o disposto nos números 2 e 3 desta cláusula, serão compensadas com a redução do horário normal em igual número de horas, dentro do período referido no número anterior.
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meses possam ser praticados aumentos de 2 horas diárias e 50 horas semanais, mas desde que em 2 meses a média não exceda as 50 horas. No final desses 6 meses, período de referência, o numero de horas trabalhados a mais, para além do período normal de trabalho – 40 horas semanais - são compensados com descanso do mesmo número de horas. Podemos assim dizer, que o estipulado na indústria de moldes, ficou aquém dos limites máximos previstos para a adaptabilidade com base no IRCT/CCT, das 4 horas diárias e 60 horas semanais.
5- As horas de trabalho prestado em regime de alargamento do período de trabalho normal que excedam as 2 (duas) horas por dia, referidas no número 2 desta cláusula, serão pagas como horas de trabalho suplementar quando permitidas nos termos da lei.
Concluindo, a adaptabilidade é um regime de horário de trabalho em que o colaborador trabalha mais horas num determinado dia, semana ou mês e menos horas noutros dias, com vista a que a média das horas trabalhadas corresponda ao período normal de trabalho.
6- Se a média das horas de trabalho semanal prestadas no período de 6 (seis) meses for inferior ao período normal de trabalho previsto no número 1 desta cláusula, por razões não imputáveis ao trabalhador, considerar-se-á saldado a favor deste o período de horas não prestado.
Este regime, pode ser importante para os trabalhadores, bem assim como para as empresas, que com ele e outros, como trabalho suplementar, podem fazer face a épocas de aumento significativo de trabalho, que terá que ser compensado – no caso do sector – parcialmente ao final de 2 meses e totalmente ao final de 6 meses e que permite haver adaptabilidade ás necessidades de exploração empresarial condicionada por variações de procura dos seus bens e serviços.
7- As alterações da organização dos tempos de trabalho devem ser programadas com pelo menos 7 dias de antecedência, implicando informação e consulta prévia aos representantes dos trabalhadores. 8- As alterações que impliquem acréscimo de despesas para os trabalhadores conferem o direito a compensação económica. Ou seja, o regime de adaptabilidade de horário de trabalho no sector prevê um regime de adaptabilidade, através de Instrumento de Regulamentação Colectiva de Trabalho, e prevê que durante 6
O regime da adaptabilidade permite, uma maior eficácia, uma vez que a flexibilização dos limites ao período normal de trabalho, facilita a organização das empresas, proporcionando que as mesmas possam distribuir as horas de trabalho em função da necessidade sem que, para tal, tenham de se socorrer tantas vezes, ao pagamento de trabalho suplementar.
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REFLEXÕES
JOÃO FAUSTINO
Presidente da CEFAMOL
NEGÓCIO O “Negócio”, em teoria económica, consiste na troca de um bem entre dois parceiros, singulares ou coletivos, geridos ou administrados por pessoas com capacidade e poder de intervir na negociação, sendo que o mais comum passa por captar recursos financeiros pela prestação de um serviço ou venda de bens, podendo assim proporcionar a circulação de capital em cadeia entre os mais variados sectores, com o objetivo único de gerar lucro. Se considerarmos que, o lucro é o retorno positivo da atividade relacionada com “o negócio”, facilmente se deduz que é esta a principal missão das empresas, independentemente da sua dimensão. Em tempos idos, o negócio entendia-se como comprar barato e vender caro. Esta teoria, ainda vigente em pleno século XXI, tem sofrido ultimamente impactos que constituem verdadeiros desafios quando se aplica outra teoria, também verdadeira e atual: “ninguém anda para dar nada a ninguém”. A divergência de interesses, de quem vende e de quem compra, tem levado ao desenvolvimento de conceitos objetivos e dinâmicos onde o lucro do negócio não está somente relacionado com a diferença entre a compra e a venda, mas (e também) com a produtividade e rentabilidade das atividades associadas às expectativas e objetivos das empresas em gerar resultados capazes de pagar investimentos e criar riqueza orientada para as mais diversas finalidades. A indústria de moldes é um negócio bom ou mau? “Razoável” deveria ser a opinião mais convergente, atendendo a que todos os dias compramos e vendemos através de comportamentos e fundamentos lógicos, capazes de gerar consensos entre fornecedores e clientes. Previamente à criação de um negócio, elabora-se o respetivo plano, o qual consiste num conjunto de informações e regras basilares relacionadas com mercados alvo, preços, recursos afetos, modelos de financiamento, estratégia comercial, entre outros, procurando projetar “virtualmente” todos os cenários para a sua realização e para o seu sucesso. O nosso sector tem tido, ao longo da sua história, muitos e variados “cenários” de negócio e condições de negócio subjacentes a perspetivas e factos relacionados com o estado da economia, os avanços tecnológicos, as conjeturas do mercado e a capacidade dinâmica de nos ajustarmos às realidades do momento. Estas, nem sempre fáceis de controlar, colocam muitas vezes entraves e dúvidas relativamente aos planos previamente definidos para atingir o sucesso expectável e suas respetivas rentabilidades. O mundo atual vive um estado d’arte impróprio para cardíacos quando as palavras de ordem, transversais a todas as atividades
económicas, são a redução de custos, preços de mercado competitivos, rentabilidade, qualidade e mais alguns slogans que se traduzem no velho ditado “bom, bonito e barato”. Assim, o negócio deverá estar assente em bases sólidas de sustentabilidade que garantam o progresso das organizações e de todos quantos dela dependem, sob o risco de haver um atropelo a valores morais, cívicos e éticos. O “B2B” tem de ser cada vez mais equilibrado, de modo a haver maior predisposição das partes interessadas em promover a continuidade e o normal desenvolvimento da atividade. O nosso sector conseguiu, ao longo de décadas de atividade, contornar muitas adversidades ocorridas com a resiliência necessária para ultrapassar momentos de apreensão sentidos por todos os stakeholders. A astúcia e audácia colocada para ultrapassar problemas e desafios do passado, continuam a ser preponderantes nos tempos modernos para enfrentar algumas das novas regras de negócio que vão surgindo. Hoje somos confrontados com os leilões online característicos de algumas (muitas) empresas inovadoras onde a folha de excel será por ventura a principal estrutura do relacionamento com os fornecedores. Em suma, o “negócio” têm uma teoria subjacente a práticas cada vez mais controversas. Tendem a tocar na falta de respeito por quem trabalha. Preços proibitivos, margens virtuais, pagamentos a perder de vista, leilões online a nível global, necessidade de investimentos intensivos em novos equipamentos, entre muitos outros, deixam-nos algumas dúvidas, relativamente aos desafios necessários para coordenar, de forma sustentada, o negócio e os negócios de amanhã. Encaramos a nossa atividade como um negócio sustentável, orientado para o progresso do sector, mantendo atualizados e renovados os equipamentos, inovando na implementação de novas metodologias e processos de fabrico, mantendo as instalações modernas e propícias ao bem-estar e progresso de todos. Alicerçados nas nossas competências, motivação e flexibilidade, procuramos apresentar aos clientes propostas competitivas, promotoras de relações de cooperação, onde, para além destes se incluem fornecedores, colaboradores e a sociedade em geral. Para tal, e no âmbito do negócio, temos como objetivo uma cultura pró-ativa para com todos os intervenientes, polivalente na atitude e na responsabilidade, suportada por comportamentos éticos, associada a uma gestão responsável, permitindo ultrapassar as lacunas do dia a dia para enfrentar as novas e modernas regras no nosso negócio. Afinal acreditamos neste negócio.
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REFLEXÕES
JOÃO FAUSTINO
Presidente da CEFAMOL
EXPECTATIVAS & PERSPETIVAS Na vida, e em tudo o que acontece à sua volta, vemo-nos rodeados da experiência em acontecimentos ocorridos e de expectativas sobre o que irá acontecer. Em todas as atividades que realizamos, a expectativa de que algo aconteça baseado, seja em probabilidades, possibilidades ou na esperança, são demais evidentes para tudo o que nos faz mover. Nas empresas, a expectativa da eficácia, dos resultados, dos sucessos, do conhecimento adquirido e do bem-estar das pessoas é preponderante para a sustentabilidade e progresso das organizações. Na economia, as expectativas são geridas e condicionadas por um conjunto de fatores exógenos que podem baralhar os atributos racionais de qualquer cálculo. A paridade das moedas, as políticas públicas, a legislação, a volatilidade da economia internacional, o desequilíbrio social das populações e muitos outros fatores, por vezes não controláveis, podem ser a causa para expectativas económicas serem mais ou menos ambiciosas.
de existirem novas perspetivas, mais ou menos otimistas, que conduzam a uma realidade outrora utópica. A perspetiva usada nos desenhos da indústria de moldes era, normalmente, executada por pessoas que tinham a facilidade de transformar um desenho 2D num aparente desenho 3D. Este processo, tinha, e ainda tem, como objetivo tornar mais fácil e percetível a comunicação técnica utilizada para a visualização e maquinação de peças. A versatilidade dos mesmos fazia (e faz) com que se eliminem dúvidas e a compreensão de determinados pormenores se torne mais evidente. Na indústria, aproveitando o conhecimento existente, sabemos que temos de progredir para dar respostas a todos os sectores de atividade nossos clientes que têm em marcha planos dinâmicos e estratégicos de desenvolvimento de novos e inovadores produtos ou soluções.
Perspetivas, por sua vez, podem estar associadas a desenhos técnicos usados na engenharia, na arquitetura ou no design, mas, e também, podem estar associadas às expectativas colocadas nos factos, nos acontecimentos, no desenvolvimento e no saber.
A concorrência, muito ativa, em todos estes sectores, origina
A indústria de moldes tem à sua volta todos os ingredientes relativos às expectativas nas várias vertentes, tendo também “perspetivas” variadas, que podem ser de análise das circunstâncias e dos processos relacionados com o negócio em si ou, mais tecnicamente, na interpretação de desenhos de peça ou de construção de moldes.
aos desafios constantes a que está exposta.
O ano de 2018 será, com certeza, um ano onde a evolução continua irá superar os resultados atingidos em anos anteriores. Não existem dúvidas de que todos os sectores de atividade, sem exceção, terão evoluções significativas, sustentadas, cada vez mais, alicerçadas na tecnologia digital. Indústrias eletro/eletrónica, eletrodomésticos, telecomunicações, automóvel e outras, irão presentear-nos com novidades tecnológicas posicionando-se em patamares de sustentabilidade e razoabilidade que permitirão a massificação dos seus produtos dentro de poucos anos e a perfeita coabitação com os nossos hábitos e necessidades.
produtos associados a tecnologias digitais, torná-los eficientes,
Estes cenários criam a expectativa de que algo irá acontecer. Baseados no desenvolvimento ocorrido, originam a possibilidade
o lançamento de melhores produtos, com preços atrativos e um design apelativo, obrigando a indústria de moldes a ter, forçosamente, de continuar a reinventar-se para poder fazer face Perseverança, consistência e dedicação não são expectativas, são atitudes já interiorizadas no nosso sector, tendentes a serem cada vez mais customizadas, numa lógica de continuidade e sobrevivência para as organizações. Reduzir custos de produção, gerir os mesmos em tempo real, melhorar a qualidade dos são a essência das perspetivas para a utilização plena de todos os recursos da produção (pessoas, máquinas e materiais). No momento em que os conceitos da “Indústria 4.0” são alvo de profunda evolução na generalidade dos sectores (a que o nosso não será exceção), métodos e processos serão cada vez mais otimizados com as características próprias das nossas especificidades. A integração deste conceito há muito que é usual nas empresas que compõem o cluster, levando a que as perspetivas das expectativas continuem a reforçar a capacidade de nos afirmarmos como uma indústria dinamizadora, moderna e de futuro.
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aNo 29 04.2018 Nº 117
aNo 29 04.2018 Nº 117 €4,50
EXPORTAÇÕES BATEM RECORDE EM 2017
FORMAÇÃO NO SECTOR DE MOLDES: UNIVERSIDADE DO MINHO
MERCADO DA SUÉCIA