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PLANIMOLDE: Crise vira oportunidade para incrementar inovação

Quando o tema é inovação, a experiência mostra que os tempos de crise constituem, por vezes, boas oportunidades de inovar. Telmo Ferraz, da Planimolde, partilha a experiência da sua empresa que, impulsionada pela estagnação no sector automóvel, em 2019, e depois atingida pela pandemia de Covid-19, em 2020, acabou por reforçar a aposta que já tinha começado a fazer em Inovação e Desenvolvimento.

Algumas empresas consideraram que o melhor para elas seria recorrer ao layoff. Nós decidimos agir e tomar outras medidas, conta, salientando que “foi realizada uma reflexão interna sobre o que poderíamos fazer para aproveitar a capacidade de produção, em função de algo que o mercado precisasse”.

A empresa avançou com produtos próprios, desenvolvidos em tempo recorde: moldes para viseiras e óculos de proteção que acabaram por ser fabricados na recentemente inaugurada área de injeção. Uma das preocupações e que levou a que o projeto não fosse tão célere como aconteceu noutras empresas foi a certificação. A Planimolde, explica, é certificada pela norma da Qualidade desde 1993 e, por isso, “seria impensável colocar um produto no mercado que não o fosse também”.

O processo foi concluído com êxito. E os dois itens foram, igualmente, bem recebidos pelo mercado. Entretanto, com o abrandamento da situação pandémica, as viseiras foram sendo menos solicitadas, mas os óculos de proteção – que asseguram uma ação mais transversal – continuam a ter procura. Esta experiência, diz, levou a empresa a olhar de forma mais profunda para a questão da inovação.

“Temos, neste momento, um gabinete que se dedica sobretudo a Inovação e Desenvolvimento. Mas não só: tem maior abrangência e procura olhar para o desenvolvimento da empresa e refletir como, mais apropriadamente, retirar rendimento da capacidade instalada e agarrar as oportunidades a exemplo do que fizemos”, explica. Nada disto, sublinha, é novidade na empresa que, desde há muito, tinha instalada esta premissa no seu ADN.

Uma vez estabelecida de forma mais visível esta orientação, a empresa decidiu aproveitar a experiência da diretora de Qualidade, Ana Ferraz, no domínio da microbiologia e apostou numa linha própria de tubos de ensaios clínicos e análises à Covid, cuja aceitação está, no seu entender, a ter resultados interessantes.

A empresa instalou uma ‘sala branca certificada pelas normas ISO’, com o objetivo de alargar a sua presença nos sectores médico e farmacêutico.

Telmo Ferraz conta que, no caso dos tubos de ensaio, “temos uma concorrência grande da Ásia, por isso a nossa aposta é na qualidade do produto, mas também na maior automatização do seu fabrico para ter preço competitivo”. Ou seja, os próprios métodos produtivos estão, também, a passar por um processo de transformação. “Fomos ao encontro da necessidade do cliente, adaptando este produto que criamos e estamos a partir para novos clientes na área médica”, adianta. Contudo, salienta, “quer a injeção, quer a inovação de produto são para nós uma complementaridade: a nossa prioridade é o fabrico do molde”.

Para Telmo Ferraz, a indústria de moldes está em rápida mudança e, considera, “temos de nos preparar todos”. Na sua opinião, esta indústria “vai passar por períodos mais curtos entre as crises que temos conhecido e que têm sido cíclicas” e, além disso, “serão crises mais corrosivas porque deixam maiores dificuldades às empresas. Algumas conseguirão continuar a sua atividade, mas outras ficarão pelo caminho”.

Além de questões como a pandemia ou, mais recentemente, a guerra na Ucrânia, sublinha que o que é ainda o principal cliente dos moldes portugueses – a indústria automóvel “é um sector muito volátil e pesado para as nossas empresas, pelas condições às quais temos, muitas vezes, de nos sujeitar”. Por isso, adverte, “é preciso que as empresas olhem para tudo isto e consigam gerir com atenção, tendo sempre presente a prioridade que terá de ter sempre a inovação, sob pena de não sobreviverem”.

No caso da Planimolde, explica, o caminho tem sido, cada vez mais, a aposta no incremento da automação, mas em função das características e necessidades da nossa empresa”.

Quanto à aposta em novos produtos, recorda que, ao longo da sua história, as empresas de moldes “não têm tido grande capacidade de apostar nisso, desde logo, porque não têm capitais próprios que o permitam”. Lembra que só recentemente, “os fundos de investimento começaram a entrar neste sector”, mas para que se consiga aumentar esta aposta defende que “o desafio maior é ter capital disponível para ter ideias e rentabilizar o produto”.

Nos organismos centrais, considera, os incentivos são, na maioria dos casos, insuficientes para satisfazer as necessidades das organizações nesta matéria. Parceiros como o CENTIMFE ou as escolas são, no seu entender, fundamentais, quer para apoiar na validação da investigação necessária, quer para conseguir os recursos humanos mais valiosos.

“As pessoas transformam as empresas e dão credibilidade interna e externa”, afirma, considerando que “hoje, saem jovens com formação e as empresas devem ter isso em atenção, de forma a conseguirem integrá-los para conseguirem dar resposta às exigências tecnológicas que têm”.

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