1. O nascimento do Homo sapiens O homem é homem porque criou a tecnologia que o atende e permite a sua sobrevivência em mundos muito variados. De fato, essa adaptabilidade a novos ambientes é uma das marcas do Homo sapiens. Tal interpretação reflete uma nova safra de livros sobre o assunto. Nessas novas narrativas, há uma tendência a considerar os humanos modernos uma espécie que não pode ser explicada apenas pelos dois sistemas clássicos: as leis da física e da biologia. Para entendê-lo, precisamos definir um Sistema 3, que é a tecnologia. Dito de outra forma, é como se o homem passasse a abrir mão de certas características que permitiam a sobrevivência de suas espécies ancestrais. Por exemplo, trocando a força física por instrumentos eixosomáticos, como armas e ferramentas, que concedem mais poder aos seus bíceps, agora mais fracos. Por que, porém, abrir mão de seus bíceps? A razão principal é que o homem trocou músculo por cérebro, um órgão grande e de enorme apetite. Não dava para ter os dois. Em retrospecto, a massa cinzenta se revelou mais útil do que uma musculatura como a do chimpanzé. Mas que não tentemos medir força com ele, pois sairemos estraçalhados!
página ao lado: Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci (1452-1519). Também conhecido como “O Homem de Vitrúvio”, esta ilustração foi criada por
inspiração a partir do conceito desenvolvido pelo arquiteto romano Marcos
Vitrúvio Polião, autor dos Dez livros sobre a arquitetura (De Architectura Libri
O australopiteco sofreu mudanças físicas, evoluindo em direção ao Homo sapiens. Isso aconteceu por volta de 3,6 a 2,5 milhões de anos atrás. Se continuasse com o estilo de vida dos outros primatas, seu corpo de homem seria cada vez mais vulnerável. Passou a ter menos força, caninos débeis, olfato menos apurado, além de perder o seu pelo protetor. Mas essa vulnerabilidade é mais do que compensada pelo que passa a ser capaz de fazer, com o auxílio da tecnologia. Devemos entender, contudo, que tais transformações têm que ocorrer simultaneamente, pois a marcha para virar Homo sapiens é a mesma da tecnologia. Achados arqueológicos de ferramentas dessas datas demarcam o momento em que o ser humano se separa dos demais primatas. Nessa etapa pré-histórica, começamos a ver o avanço das ferramentas, das formas de domesticar a energia e do uso de materiais cada vez mais competentes para as funções desejadas. Por assim dizer, é o prefácio para o que aconteceu nos últimos 2 mil anos. E o que aconteceu até o século XVIII prepara o terreno para a Revolução Industrial. Como resultado dos rápidos aumentos de produtividade, pela primeira vez na história torna-se possível alimentar e oferecer um mínimo de conforto para uma população que se expande continuamente. Rompe-se o ciclo malthusiano e passa a ser possível oferecer aos mais pobres um nível de vida digno, não importando quantos sejam.
Decem, em latim).
A arte do ofício | 19
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