Empreendedorismo

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TEMAS DE HOJE

EMPREENDEDORISMO Giovani Torres de Souza Márcia dos Santos Nascimento Glozan

São Paulo, 1ª edição, 2015


EMPREENDEDORISMO © 2015 Souza, Giovani Torres de e Glozan, Márcia dos Santos Nascimento © 2015 Cereja editora

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Edição, preparação e revisão

Projeto gráfico

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Editoração eletrônica

Ana Mortara Antonio Nicolau Youssef GAS Designer Produção Editorial Ulhôa Cintra Comunicação e Arquitetura Alexandre Bueno Vivian Trevizan

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro , SP, Brasil) Souza, Giovani Torres de e Glozan, Márcia dos Santos Nascimento Empreendedorismo / Giovani Torres de Souza e Márcia dos Santos Nascimento Glozan – 1. ed. São Paulo: Cereja, 2015. ISBN: 978858777961-8 1. Empreendedorismo, 2. Emprego 3. Ensino Médio 4. Formação profissional 5. Educação Financeira I. Autores II. Títulos 12-08643

CDD – 371.784

Índice para catálogo sistemático 1. Empreendedorismo: Educação 371.784 2. Empregabilidade: Educação 371.784

São Paulo, 2015 1a edição

Todos os direitos reservados

Av. Marquês de São Vicente, 1011 2º andar – Barra Funda - São Paulo - SP Tel. 11 3279-8489 www.cerejaeditora.com.br


Apresentação O presente trabalho é o resultado da soma de nossas experiências. Foi como parceiros em salas de aula, conduzindo programas de capacitação e seminários, que começamos a sonhar com esse livro. Da constatação de que o empreendedorismo era um ponto de intersecção entre nossas trajetórias profissionais, consideramos a possibilidade, agora concretizada atendendo o convite do editor, de traduzir essa experiência em algo que pudesse transformar-se em um referencial simples e direto para profissionais que estivessem em vias de abrir um negócio ou de redirecionar suas carreiras. De um lado um filósofo, com especialização em desenvolvimento de recursos humanos que, após uma trajetória gerencial em empresas de grande porte, decidiu-se pela consultoria empresarial, em que, ao longo de vinte anos, esteve à frente de atividades voltadas para o desenvolvimento de recursos humanos, para a gestão de mudanças organizacionais e para o desenvolvimento de equipes e de gestores. Nesse período, conduziu mais de uma centena de programas sobre gestão empreendedora com foco no exercício da autonomia nas organizações. Foi sempre esse o pano de fundo em suas atividades como consultor autônomo. De outro lado uma pedagoga, com significativa trajetória empreendedora à frente de empresas onde adquiriu, na prática cotidiana, uma visão crítica e reflexiva sobre o tema empreendedorismo. Abriu mão dessa experiência para investir em sua formação como educadora e entregar-se a atividades nesse segmento, conduzindo diversos programas de capacitação profissional. Atuou como docente em grandes instituições privadas no segmento de empreendedorismo e atualmente é docente universitária no curso de extensão de pedagogia hospitalar e orientadora do programa Jovem Aprendiz e Capacitação Profissional em uma ONG no estado de São Paulo. Uma pedagoga e um filósofo somando suas experiências de vida pessoal e profissional a um processo de contribuição ao exercício da cidadania. É assim que enxergamos nosso caminhar. É assim que enxergamos esse livro. Trajetórias diferentes e crenças absolutamente convergentes quanto à capacidade de homens e mulheres de assumirem suas vidas e a construção de suas histórias profissionais. A capacidade de operar sobre si mesmos e sobre o ambiente que os cerca é a bandeira que abraçamos em cada linha que escrevemos. É, pois, nossa experiência de vida que colocamos a serviço do leitor e um convite ao exercício da autonomia e da liberdade. Os autores “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes” Albert Einstein


Sumário CAPÍTULO 1 – O conceito de empreendedor............................................................. 5 1. Empreendedor e empreendedorismo..................................................................................... 5 2. Situações desencadeadoras de uma ação empreendedora................................................... 12 3. O exercício da autonomia: ser protagonista ou coadjuvante?............................................... 16 4. A águia e a galinha............................................................................................................. 17 5. Diferenciando os scripts do protagonista e do coadjuvante.................................................. 19 6. As características do perfil do protagonista e do coadjuvante.............................................. 20

CAPÍTULO 2 – A visão de futuro...................................................................................22 1. Sonhar: é possível prever..................................................................................................... 22 2. O conceito de visão............................................................................................................. 23 3. Requisitos para a expressão da visão de futuro de nosso negócio........................................ 24 4. A comunicação da visão...................................................................................................... 24 5. Uma palavra sobre a relação de confiança........................................................................... 26 6. Descrevendo sua visão por escrito....................................................................................... 26 7. Sistematizando as informações: o novo negócio como processo.......................................... 29 8. Mapeando o negócio.......................................................................................................... 31

CAPÍTULO 3 – A criação de um novo negócio..........................................................33 1. Oportunidades e necessidades............................................................................................ 33 2. Uma palavra sobre o atendimento ao cliente....................................................................... 34 3. Pensando em abrir sua própria empresa.............................................................................. 35 4. Avaliando sua predisposição ou prontidão para a constituição de sua empresa.................... 35

CAPÍTULO 4 – Etapas de um plano de negocio.......................................................49 1. Por que um plano de negócio............................................................................................. 49 2. Os mecanismos de mercado................................................................................................ 50 3. Preparando o terreno: as etapas do plano de negócio......................................................... 50

CAPÍTULO 5 – Considerações e recomendações....................................................59 1. Sobre a escolha do tipo de empresa.................................................................................... 59 2. Sobre os planos específicos................................................................................................. 61 3. Sobre a morte da empresa.................................................................................................. 62 4. Conclusão........................................................................................................................... 64


Capítulo 1 O conceito de empreendedor Objetivos • • • • •

Conceituar empreendedor e empreendedorismo e seu significado no mundo contemporâneo. Compreender o sentimento de autonomia que alicerça uma postura empreendedora. Diferenciar os scripts do protagonista e do coadjuvante. Caracterizar os perfis do empreendedor/protagonista e do coadjuvante/seguidor. Reconhecer aspectos da atividade empresarial, analisada como processo, em que possa ser identificadas oportunidades de inovação e consequente ação empreendedora.

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esse capítulo, buscaremos a compreensão do conceito de empreendedor e a partir de uma metáfora iremos distinguir em seu perfil dois aspectos: o de protagonista e aquele que qualificamos de coadjuvante. Identificaremos como característica essencial do empreendedor o fato de ser um indivíduo que, exercitando sua autonomia, oferece ao mercado algo novo e diferenciado para atender os requisitos dos clientes. Utilizando o modelo de processos, apontaremos os aspectos em que podemos perceber oportunidades de inovação. O fenômeno do empreendedorismo tem sido mencionado com frequência em jornais, revistas e livros. Tem sido objeto de atenção dos gestores de economia, sobretudo dos chamados países emergentes. Por outro lado, no bloco dos países desenvolvidos, com índices elevados de desemprego, percebe-se uma pressão sobre a massa trabalhadora, que é cada vez mais empurrada para buscar um lugar ao sol na luta pela sobrevivência. Afinal, o que vem a ser um empreendedor? E empreendedorismo? No mundo do trabalho, quando isso começou? Estas são as questões que procuraremos responder, mas, sobretudo, queremos responder a questão chave: qual é o perfil e quais são as características de um empreendedor?

1. Empreendedor e empreendedorismo Basicamente, entende-se por empreendedor aquela pessoa que dá início a uma nova atividade, a um novo negócio. Esse tipo de pessoa é capaz de olhar ao seu redor e enxergar oportunidades de realizar seus sonhos; encontra meios de transformar essas oportunidades em negócios, utilizando-se de sua criatividade e competências e de recursos que, de alguma forma, busca para fazê-lo. As iniciativas de pessoas ou grupos, de indivíduos ou organizações em direção à criação e organização de novos processos de trabalho, que engendrem a oferta de novos produtos ou serviços é o que, em geral, é chamado de empreendedorismo.

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Empreendedorismo Tal fenômeno tem sido objeto de estudo e de atenção do meio acadêmico e dos gestores da economia em países como o Brasil, visto que, quando bem sucedidos, os negócios criam novos empregos, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do país. Peter Drucker1, em sua obra magistral sobre inovação e espírito empreendedor, é enfático em nomear o diferencial de um empreendedor como sendo sua capacidade de sistematicamente inovar. A inovação entendida como algo novo, algo diferente que o empreendedor faz. O empreendedor não é entendido como um simples empregador ou um investidor que quer aplicar o seu dinheiro. Tem que ser reconhecido pela novidade que ele traz, pela forma diferente e única de fazer alguma coisa, de entregá-la ao cliente ou mesmo de concebê-la e torná-la realidade com sua ação. Em uma palavra, para respondermos à questão “o que é característico do empreendedor quando comparado a outros empresários que iniciam novos negócios?” a resposta contundente é: inovação. É isso que o distingue.

EMPREENDEDOR

INOVAÇÃO

É evidente que não basta esta característica. Outros componentes do perfil do empreendedor concorrem para qualificá-lo como tal. Sem falar das circunstâncias em que ele age. Para citarmos pelo menos alguns aspectos em que ele pode inovar, traçaremos a seguir um pequeno esboço ou um “mapa da mina”, convidando o leitor a olhar a ação que quer empreender como um processo. Nosso convite é para que enxergue nesse processo alguns aspectos em que pode identificar oportunidades de inovação. Philip Crosby 2 propõe um modelo de processo com uma saída e cinco entradas. Vamos usá-lo como referencial. E o cliente será sempre entendido como aquele que recebe, usa ou consome produtos ou serviços. conhecimentos e habilidades

fornecedor Materiais Informações

Entrada

r e q u i s i t o s

Equipamentos e Instalações

processo

procedimentos e métodos r e q u i s i t o s

cliente Saída

Produtos Serviços

padrão de desempenho

1 DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): práticas e princípios. Tradução: MALFERRARI, Carlos J. Pioneira: São Paulo, 1986. 2 Representação gráfica do modelo de processo de Philip Crosby. Programa de Educação para a Qualidade da Dorsey, Rocha & Associados, Consultores e Editores, Módulo 4.

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Capítulo 1

•  Produto ou serviço O empreendedor pode inovar no produto ou serviço que entrega. Se enxergar neles uma oportunidade de inovar, poderá fazê-lo. Concorre aqui sua capacidade perceptiva. O que quer dizer isso? O empreendedor é um indivíduo atento às mudanças. É capaz de perceber o quanto o cliente está satisfeito ou não com aquilo que recebe. Ou ainda: é capaz de perceber se pode acrescentar algo de “diferente” naquilo que entrega, ou se pode entregar um produto ou serviço absolutamente novo, mas que atende as mesmas necessidades.

•  Requisitos do cliente Ao identificar o que os clientes querem de determinado produto ou serviço e verificar que alguns deles não estão sendo atendidos ou ainda, perceber que algo mais pode ser oferecido, o empreendedor se mobiliza para atendê-los. Está aí a oportunidade de oferecer algo novo. As mudanças ocorrem numa velocidade muito grande. Identificando-as e agindo com rapidez ao propor um jeito diferente de atender as demandas dos clientes, ele estará inovando. Portanto, está sendo um empreendedor, transformando mudanças em oportunidades.

•  Processo Deve-se olhar para o próprio processo de trabalho. O processo é concebido para atender os requisitos dos clientes, para entregar aquilo que ele quer ou espera receber. Analisar cada fase do processo para ver sua compatibilidade com o atendimento aos requisitos dos clientes e inovar onde for necessário, é a postura correta de um empreendedor. Por vezes, pequenas mudanças proporcionam grande sucesso para os empreendedores. Para ficarmos em exemplos que estão debaixo de nossos olhos, basta olhar a revolução causada nos serviços de restaurantes com a introdução do self service e da comida por quilo. Sem falar nos processos produtivos, em que a introdução de uma máquina, que faz o trabalho de uma dezena de operários, muda radicalmente os padrões de qualidade do próprio processo de trabalho e, em consequência, do produto final.

•  Relação com clientes Os clientes são aqueles que recebem, usam ou consomem nossos produtos ou serviços. A relação com eles é um dos aspectos em que a inovação pode ser introduzida com sucesso e representar algo realmente empreendedor. Quanto mais perto estivermos do cliente mais poderemos ouvir os seus anseios e atendê-los. Com o advento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (setembro de 1990), o relacionamento com os clientes tem sido peça chave para a identificação de oportunidades de inovação. O mencionado código define os direitos dos consumidores, estabelecendo padrões claros de atendimento a serem seguidos, apontando penalidades e punição aos infratores. Ao mesmo tempo em que o exercício da cidadania vai moldando o jeitão de ser dos consumidores, as empresas vão mudando também sua forma de atendimento ou pelo menos são forçadas a ir por esse caminho. Padrões de relacionamento vão ganhando novos contornos e, como consequência, novos padrões de desempenho, mais condizentes com a realidade, vão surgindo. Vale lembrar que a importante atuação de órgãos públicos como o PROCON contribui eficazmente para a construção de um novo tipo de relacionamento. O pequeno empreendedor, sem grandes recursos para investimento em pesquisa, pode, com facilidade, fazer uma análise de dados constantes em sites como o www.reclameaqui.com.br e ver

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Empreendedorismo como andam as relações com os clientes no segmento em que deseja atuar. Pode, assim, identificar oportunidades para introduzir inovações na relação com os clientes. Vale aqui lembrar o conceito de “hora da verdade” introduzido por Jan Carlzon3: aquele momento em que o cliente entra em contato com algum aspecto da empresa, avalia-a e forma uma impressão sobre a mesma, definindo sua disposição de voltar ou não a procurar seus serviços. Da análise das “horas da verdade” podemos identificar oportunidades de inovação. A ação empreendedora é, sobretudo, aquela que se propõe a uma gestão eficaz das “horas da verdade” mediante um jeito novo de atendimento aos requisitos dos clientes, fazendo-os voltar a procurar seus serviços ou produtos.

•  Relação com os fornecedores Esse é um aspecto em que oportunidades de inovação são abundantes e refletem diretamente na qualidade de atendimento aos clientes. Estabelecer seus requisitos junto aos seus fornecedores de forma diferenciada e inovadora enseja com certeza uma postura empreendedora. A simples mudança de fornecedor pode significar uma inovação revolucionária. Se perceptível pelos clientes e valorizada por eles, essas inovações só trazem benefícios para ambos. Olhando por outro ângulo, você pode tornar visível para seu fornecedor “horas da verdade” para que ele as administre com eficiência e lhe preste os serviços em termos de materiais ou informações dentro dos padrões que você acordar com ele. Sobre a importância do relacionamento com os fornecedores internos e externos, lembramos o grande salto de qualidade conseguido no meio industrial quando a indústria japonesa introduziu a técnica do just in time4, que significa simplesmente o fornecimento ao cliente daquilo que ele quer, na hora em que ele quer, onde ele quer, na quantidade que ele quer e como ele quer. Vale lembrar aqui também o Código de Proteção e Defesa do Consumidor como referencial já no nascedouro de um negócio. Zelar pelas relações com os clientes e com os fornecedores é um dos fios condutores de uma ação empreendedora.

•  Fornecedor O fornecedor é um parceiro do empreendedor. A inovação nessa parceria pode provocar mudanças significativas no atendimento aos requisitos do cliente. O momento de definição de fornecedores é crucial para quem vai implementar uma ação empreendedora. Desenvolver e divulgar especificações claras dos padrões de qualidade é a chave mestra do empreendedor nesse aspecto. 3 Carlzon, Jan. A hora da verdade. Tradução: SILVEIRA, Maria Luiza Newlands da. Rio de janeiro: Sextante, 2005. 4 Just in time: é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa. O termo just in time significa “na hora certa”. O sistema just in time pode ser aplicado em qualquer organização, e é muito importante para auxiliar a reduzir estoques e

os custos decorrentes do processo. O just in time é o principal pilar de diversas fábricas, em especial de carros; é o principal pilar do sistema Toyota de produção. Com este sistema, o produto ou matéria prima chega ao local de utilização somente no momento exato em que for necessário, ou seja, os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados, não existe estoque parado. O próprio conceito do termo é relacionado a produção por demanda, onde primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria prima e só depois fabricá-lo ou montá-lo.

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http://www.significados.com.br/just-in-time/


Capítulo 1

•  Processos internos Há um horizonte imenso de oportunidades que podem ser percebidas e inovações que podem ser implementadas pelo empreendedor. Quanto mais ele conhecer esses processos mais ele terá condições de identificar discrepâncias e oportunidades de melhoria. E aqui não estamos falando somente de empresas que já existem no mercado. Referimo-nos, inclusive, a empreendimentos absolutamente novos. Já no nascedouro, o empreendedor pode inovar, por exemplo, no processo produtivo. Muitas vezes a inovação se dá quando o empreendedor descobre uma maneira de fundir dois processos ou tecnologias que caminhavam em separado, concebendo, assim, algo totalmente novo. Podemos citar vários processos a serem examinados em busca de oportunidades de inovação: marketing, vendas, administração de materiais, administração financeira, administração de recursos humanos, processos produtivos, relações institucionais e com o governo, além de outros métodos e procedimentos que podem ser planejados ou desenvolvidos, de acordo com sua importância para garantir a entrega do produto ou serviço desejado pelo cliente. MARKETING VENDAS ADministração de materiais Oportunidades de inovação

ADministração financeira ADministração de recursos humanos processos produtivos relações institucionais outros

•  Equipamentos e instalações Há quem diga que nesse aspecto as mudanças são mais perceptíveis e as oportunidades de inovação são vislumbrados mais rapidamente. Nem sempre isso é verdade. Tudo depende dos conhecimentos e habilidades do empreendedor em estabelecer os padrões de toda a infraestrutura de que ele precisa para o seu negócio, do conhecimento do segmento em que quer atuar e dos recursos de que dispõe para investir. Aqui, a dimensão do risco deve ser ponderada com precisão, dimensão esta que está presente em todos os aspectos ora mencionados. Quem quiser trabalhar com risco zero com certeza não será empreendedor. O imponderável estará sempre presente. Muitas vezes o empreendedor enxerga transformações radicais que podem ser feitas nos equipamentos e instalações concebidos para determinado produto ou serviço, que os concorrentes já esta-

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Empreendedorismo belecidos no mercado não veem ou, se veem, não lhes dão a devida atenção. Novamente, recorremos ao exemplo dos restaurantes, que dormiam em berço esplêndido quando do aparecimento do sistema self service. Sua infraestrutura teve de ser alterada quando precisaram incorporar o novo sistema.

•  Conhecimento, habilidades e atitudes Trataremos aqui de um elemento chave para a introdução de inovações: o nível de competência do empreendedor e de suas equipes. Grandes mudanças podem ser implementadas aumentando esse nível de competência. As competências que consideramos fundamentais são: conhecimento

habilidade

atitudes

Esse conjunto de competências pode ter ação decisiva como fonte de grandes inovações nos processos internos e externos de um novo empreendimento, além de exigir, para seu estabelecimento, um processo de discussão que é, em si mesmo, uma inovação. Vejamos um caso clássico. O encontro de operários especializados, com formação em escolas técnicas, com o operariado constituído de indivíduos advindos do meio rural e formados no dia a dia do chão de fábrica, com certeza acelerou o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da mão de obra nas décadas de 60 e 70 do século passado. As competências exigidas foram mudando rapidamente e, junto com elas, foram surgindo oportunidades de inovação na gestão dos recursos humanos, em especial na capacitação da mão de obra. Qual era a inovação? O conhecimento e as habilidades técnicas transformando a mão de obra em recursos humanos mais críticos, com capacidade de contribuição mais significativa para a melhoria de processos de trabalho e incorporação das novas tecnologias e automação que se avizinhavam. Além disso, surgiu a oportunidade do operariado ter participação no lucro das empresas, o que requeria dos empregados maior participação na gestão e solução de problemas e na própria vida organizacional dos empreendimentos. Os processos de qualidade total começavam a ser implantados e tinham na ampla participação um dos seus alicerces, requerendo, portanto, uma mudança também atitudinal dos empregados. Quando se fala hoje em gestão do conhecimento e gestão de competências nas organizações, estamos falando desse tema. Sem essa discussão dificilmente um empreendimento evolui, sendo muito provável que ele se torne obsoleto. Lewis Carroll, no livro Alice no País dos Espelhos 5, coloca para a Rainha Vermelha a questão “Por que estamos correndo tanto?”. A rainha responde: “Estamos correndo tanto para pelo menos permanecermos no mesmo lugar”. Propusemo-nos, de forma ousada, a apresentar o “mapa da mina” para identificar oportunidades de inovação. E aqui estamos falando de um aspecto que está justaposto a todos os outros ora elencados. Conhecimentos, habilidades e atitudes levam o empreendedor a perceber oportunidades de inovação. E sua ação empreendedora deve considerar fortemente essa possibilidade de investigar suas próprias competências, a possibilidade de aprimorá-las e a possibilidade de fazer algo novo em relação a elas. Vamos analisar agora o universo do desenvolvimento tecnológico, onde as mudanças ocorrem de forma vertiginosa. Muitas vezes, o desafio da atualização significa o esforço suficiente apenas para manter o mesmo 5 CARROLL, Lewis. Alice no País dos Espelhos.

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[...] Aqui, como você pode ver, é preciso correr o máximo possível para permanecer no mesmo lugar.

Essa foi a frase dita a Alice pela Rainha Vermelha, que tentava lhe explicar como as coisas funcionavam no País dos Espelhos.


Capítulo 1 nível de competitividade no mercado. O empreendedor que queira, por exemplo, trabalhar no segmento de telefonia celular com a venda de produtos ou prestação de serviços, tem que se atualizar continuamente sobre tudo o que acontece nesse segmento, sobre todas as inovações que ocorrem e que são implementadas nos produtos e serviços disponíveis. Tem, ainda, que buscar um diferencial de atendimento em sua equipe comercial, que necessariamente passará por programas constantes de treinamento e capacitação. E não basta conhecer as inovações. Há que se ter habilidade para lidar com elas e atitude favorável à transmissão dessas inovações aos clientes. Como disse a Rainha Vermelha, é preciso correr muito para manter-se no mesmo lugar. Outro interessante exemplo pode ser encontrado no setor educacional. O empreendedor que quer atuar nessa área tem que estar atualizado quanto ao impacto das novas tecnologias na metodologia de ensino e aprendizagem, nos conteúdos específicos e até mesmo na montagem de uma grade curricular que atenda as exigências do mundo contemporâneo. Se, frente às mudanças, não fizer nada, sua capacidade de responder a elas reduzir-se-á mais e mais ao longo do tempo. O mesmo acontecerá se simplesmente rejeitar as mudanças e se apegar ao que sempre fez. Dessa forma, duvidando de sua própria capacidade de agir, tenderá a tomar o caminho da obsolescência precoce. Buscar sempre aprimorar sua capacidade de adaptação e de gestão das mudanças é essencial para todo empreendedor. O acesso amplo à informação e à diversidade do conhecimento é algo irrefutável e irreversível. É uma transformação no ambiente escolar, trazida pela tecnologia, que tende a se ampliar cada vez mais. O empreendedor pode não fazer nada e ver os alunos atropelarem os professores pela desmotivação, desinteresse ou evasão. Pode rejeitar essa realidade, fechando os olhos ao que está acontecendo, e rapidamente caminhar para a obsolescência precoce. Pode perder tempo trafegando na dúvida entre alternativas de como agir frente a esse desenvolvimento tecnológico que impacta praticamente todos os aspectos de nossa vida. Por outro lado, pode também se adaptar e aceitar o fato de que o acesso à informação está disponível para quem quiser e que é necessário investir em processos que favoreçam alunos e professores na busca da informação, com ênfase maior no processo cognitivo do que no produto do conhecimento. Na era do conhecimento, talvez seja esse o foco: ensinar as pessoas a pensarem. É esse o desafio. Devemos combater permanentemente o risco da obsolescência precoce. Se não cuidarmos do aperfeiçoamento de nossas competências, rapidamente nos tornaremos obsoletos. A área educacional é rica em oportunidades de inovação, cabendo aos educadores o desafio de instigar e desafiar todos os participantes desse processo para a busca de soluções inovadoras. É um campo onde se podem encontrar oportunidades de inovação? Sim. E muitas. E o empreendedor é o instigador, o gerenciador, o dono desse desafio.

•  Padrão de desempenho Esse é um aspecto que também sugere diversas oportunidades de inovação. A velocidade das mudanças nas relações sociais, de trabalho e de produção é enorme e traz como consequência um aumento significativo das exigências dos clientes. Vejamos um exemplo vivido intensamente por todos nos últimos anos: os aparelhos celulares. Rapidamente, com os padrões de qualidade exigidos pelos clientes, as empresas tiveram que investir bastante em sua capacidade de perceber essas exigências e muito mais, ainda, no atendimento ao cliente, pois o risco de obsolescência precoce se tornou gigantesco. Nesse setor, os produtos e serviços nascem com um prazo de validade e uma perspectiva de rápida obsolescência. Assim, as especificações de padrões de qualidade devem sempre ser revistas, em busca de algo novo a ser incluído no produto ou serviço, para atender às necessidades dos clientes, que mudam em intervalos de tempo cada vez menores.

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Empreendedorismo

•  Relacionamento com as equipes Propositalmente, deixamos esse item para o final. Inovações no gerenciamento dos recursos humanos devem sempre constituir uma preocupação constante dos empreendedores. Afinal, do desempenho deles depende a qualidade dos serviços e produtos a serem oferecidos. Uma atenção especial deve ser dada, portanto, ao relacionamento e ao tratamento das equipes de colaboradores, sem apego a modismos. Incrementar mudanças e inovar na gestão de recursos humanos é um dos grandes desafios desse século. Concluindo: tomamos o modelo de processos como referencial, uma lente através da qual pudéssemos identificar oportunidades de inovação. Com certeza, esmiuçando tanto o processo em si mesmo, como as condições para que ele se realize, é possível encontrar outros aspectos em que poderemos identificar oportunidades de inovação. Não pretendemos aqui esgotar essas possibilidades. Mas vale lembrar que todos os entes que, de certa forma, se relacionam com nossos produtos ou serviços podem ser objeto de análise para a identificação de oportunidades de inovação.

Esse apanhado nos possibilita reafirmar que o empreendedor não é somente aquele que inicia um novo negócio. Encontramos pessoas dentro de organizações que são eminentemente empreendedoras no seu modo de ser e agir. Estão sempre identificando oportunidades e inovando em seus processos de trabalho. Nosso foco, entretanto, está voltado para esses empreendedores que iniciam um novo negócio, que introduzem inovações e que, fazendo uso dessa característica fundamental (criatividade/inovação) e de outras que mencionaremos a seguir, têm uma contribuição significativa na geração de riqueza (movimentam a economia) e na geração de empregos.

2. Situações desencadeadoras de uma ação empreendedora Vamos analisar alguns casos clássicos de situações e características de pessoas que desencadeiam ações empreendedoras.

Não suporto ser mandado! Pessoas que gostam de ser donas de seus próprios processos de trabalho. Em geral têm o perfil de líderes. Mais influenciam outras pessoas ou grupos do que são influenciadas por eles. Gostam de estar à frente de qualquer empreitada em que se envolvem. Não gostam de ter alguém lhes dando ordens. Preferem definir o que e como fazer e a que resultados querem chegar.

Estou desempregado! Preciso inventar alguma coisa para sobreviver. Pessoas que estão desempregadas, com os recursos esgotados ou quase. Estas pessoas, premidas pela situação, sentem-se compelidas a iniciar um negócio para subsistirem financeiramente. As circunstâncias empurram-nas para o mercado.

Preciso aumentar a minha renda. Diferentemente do caso anterior, essa pessoa está empregada, tem até uma estabilidade relativa, mas quer algo mais em termos de ganhos. Em geral, deseja, também, fugir da burocracia das grandes e médias

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Capítulo 1 empresas. Não está, necessariamente, insatisfeita com sua remuneração, mas quer ampliar seus ganhos e flexibilizar sua ação profissional. Com esse foco, começa a olhar para o mercado, buscando um nicho em que possa colocar suas competências, ou as de outras pessoas, na implementação de um negócio.

Sei fazer tal coisa muito bem. E o mercado está pedindo. Estas pessoas têm consciência de suas competências e têm um olhar atento para o mercado. Vislumbram a oportunidade de abrir um novo negócio. Sentem-se com capacidade de responder a demandas do mercado.

Estou empregado. Ganho bem, mas quero ter o meu próprio negócio. Diferentemente do primeiro perfil descrito, da pessoa que “detesta ser mandada”, estas pessoas não têm problemas com a autoridade. De certa maneira, nasceram com esse foco e muito cedo começaram a pensar dessa forma. O emprego é sempre visto por elas como um meio para atingirem seus objetivos.

Fui convidado para ser sócio de um amigo. Em geral, essas pessoas são aquelas que, reconhecidas pela sua competência ou porque dispõem de recursos, se lançam em uma nova empreitada para a qual são convidados. Acreditaram e souberam aproveitar a oportunidade.

Tenho um dinheiro guardado. São aquelas pessoas que dispõem de recursos e querem investir em um novo negócio. Querem fazer dinheiro com seu patrimônio financeiro.

Quero mudar o rumo de minha vida. Pessoas que, por algum motivo, resolveram dar uma guinada na vida. Posicionam-se frente às suas próprias circunstâncias e buscam uma nova maneira de lidar com elas. Desejam mudar o rumo de suas vidas, construir uma nova história.

Quero dar a minha contribuição para a sociedade. Existem, sim, pessoas que abrem um novo negócio porque detectam necessidades em seu país, em seu estado, na cidade em que vivem ou mesmo em agrupamentos sociais aos quais estão ligadas ou aos quais estejam atentas. De certa forma, exercem a cidadania, criando oportunidades de trabalho para as pessoas e oferecendo produtos ou serviços necessários àquele agrupamento social.

Estou aposentado e quero trabalhar em algo meu. Esse é o perfil clássico das pessoas que se aposentam mas querem ou precisam continuar a trabalhar, porém, sem os vínculos tradicionais de um emprego. Veem na aposentadoria a oportunidade de ter o seu próprio negócio.

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Empreendedorismo Não aguento ver mais o que está ocorrendo. Esse é o perfil típico de uma pessoa que não se conforma com o que está ocorrendo ao seu redor e quer interferir para provocar mudanças. Inconformismo, pois, é sua marca. Chiavenato6 refere-se ao que chamam de “refugiados”.

Sou um imigrante Aquelas pessoas que saem de seus países em busca de um lugar ao sol. Aqui no Brasil encontramos portugueses, italianos, japoneses, árabes, judeus, coreanos, chineses e outros, que aqui chegaram, compondo um grande contingente de novos empreendedores. Esse fenômeno é observado ainda hoje em decorrência da crise econômica em diversos países do mundo. São os chamados de “refugiados estrangeiros”.

Quero sair dessa burocracia São pessoas que buscam na criação e condução de um novo negócio a fuga de ambientes burocráticos de grandes e médias corporações. São os chamados “refugiados corporativos”.

Enfim estou livre para ter meu proprio negócio São aqueles que começam o próprio negócio após o crescimento dos filhos ou quando se sentem livres das responsabilidades de casa. São os chamados “refugiados do lar”.

Vou mostrar para os meus pais que sou capaz Pessoas que, por afirmação, ou mesmo por um desejo genuíno, querem mostrar sua capacidade e competências para os pais. Esse grupo é composto por jovens que buscam o reconhecimento dos pais. São os chamados “refugiados dos pais”.

Cansei do mundo acadêmico Pessoas que se sentem cansadas dos cursos acadêmicos e decidem inicar um novo negócio. São os “refugiados educacionais”. Refere-se, ainda, o autor aos “refugiados sociais”, que são os alheios à cultura que prevelece na empresa e que buscam uma atividade como empreendedores. Com certeza, outros perfis podem ser descritos. Podemos encontrar as mais diversas razões e vários pontos de partida para um novo negócio. O fato é que essas pessoas são chamadas de empreendedoras. Ou seja: as pessoas que dão início a um novo negócio. Mas serão somente esses os empreendedores? Vale lembrar aqueles que trabalham por conta própria. Não são empresários, não são enquadrados como autônomos nos meandros da burocracia e das estatísticas. São pessoas que usam suas competências no mercado e sobrevivem com o fruto do seu trabalho. J. A. Minarelli7, em seu livro Trabalhar por conta própria – Uma opção que pode dar certo, relata: 6 CHIAVENATO, Idalberto. Dando Asas ao Espírito Empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 24. Citando KNIGHT, Russel M. Entreprenership in Canadá, in Annual Conference of the International Council for Small Business. 7 MINARELLI, José Augusto. Trabalhar por conta própria: Uma opção que pode dar certo. São Paulo: Gente, 1997. p. 16.

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Capítulo 1 “[...] na Idade Média a maior parte da humanidade trabalhava por conta própria. Eram agricultores, artesãos, escultores, liberais. A revolução industrial quase destruiu totalmente esse tipo de organização do trabalho, levando o trabalhador para dentro da fábrica. Desse modo, acabou assegurando o emprego e o ganho no final do mês, mas reduziu o espírito empreendedor e premiou a dependência. Para assegurar a produção contínua, havia necessidade de lealdade, dedicação e permanência no emprego. As compensações oferecidas eram a proteção, a segurança, a garantia de emprego. Tudo isso acabou tolhendo o instinto de voar [...] que significa a capacidade de trabalhar por conta própria. Hoje a maioria dos trabalhadores trabalha como aves criadas no cativeiro. Têm asas e instinto, às vezes vontade, mas não sabem voar por falta de prática ou exercício.” Entre o trabalhador por conta própria e o empregado, existe uma diferença fundamental: o referencial que cada um assume para a aplicação de suas competências. O trabalhador por conta própria tem consciência de suas competências e as usa a seu favor e em benefício do cliente, fazendo delas o alicerce de sua sobrevivência. Por outro lado, o empregado depende do uso de suas competências por outras pessoas ou empresas. Trata-se, em última análise, de uma postura frente à vida: a escolha entre a autonomia e a dependência. Dependendo da forma como gerencia seus negócios, o trabalhador por conta própria é coerente com sua postura empreendedora e demonstra que sabe o que quer, sabe o que fazer e como fazer, sabe “vender-se” e usa mecanismos adequados para se fazer conhecido no mercado. Ele escolhe a atuação empreendedora como caminho profissional. Existe um número muito grande de pessoas que sobrevivem dessa forma. Entre os profissionais liberais, podemos citar engenheiros e arquitetos que concebem e comercializam seus projetos, médicos e psicólogos que se dedicam ao atendimento em seu consultório ou em instituições de saúde, sem vínculo empregatício, advogados que têm sua banca própria e atendem em seu escritório. Temos, também, artesãos e artistas que criam e comercializam sua arte, sapateiros, vidraceiros, comerciantes de todo tipo de mercadoria, pintores de paredes, pedreiros e até professores que fazem atendimento domiciliar de reforço escolar. Enfim, um sem-número de profissionais que trabalham por conta própria. Com o surgimento e a disseminação das novas tecnologias da informação, surgem novas profissões como, por exemplo, o blogueiro, analista especializado que usa a internet como instrumento de pesquisa, discussão e prestação de serviços. Essas pessoas trabalham por conta própria, exercendo suas competências, e estão nessa situação por escolha ou vocação ou chegaram a ela por circunstâncias da vida, como o desemprego por exemplo. Quando alguém, por exigência própria ou por exigências do mercado, transforma seu jeito de ser e estar no mundo em um negócio, estamos falando em algo que vai além de um simples trabalho por conta própria. Essa pessoa formaliza-se como pessoa jurídica, imprime maior complexidade em seus processos de trabalho, eventualmente envolve sócios e colaboradores e organiza-se para enfrentar a competitividade do mercado. Assim, a pessoa soma às suas competências as competências de uma equipe de colaboradores, e o produto gerado e comercializado passa a ser muito mais fruto de um trabalho coletivo que individual. Alguns desses trabalhadores, em determinado momento do seu ciclo de vida profissional, tornam-se empresários em função do aumento da demanda ou mesmo de exigências de mercado. Muitas vezes, é mais vantajoso para o trabalhador por conta própria transformar-se em pessoa jurídica. O aumento da demanda exige, por exemplo, a contratação de mão de obra. Vejamos, por exemplo, o caso do pintor de paredes para quem não faltava trabalho. Eis que aparece uma obra maior, um prédio, por exemplo. Como não é possível executá-la sozinho, precisa contratar auxiliares. Porém, os

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