CAIXA DE SAPATO: COLABORAÇÃO E COMPARTILHAMENTO NO TRABALHO DA CIA DE FOTO Camila Monteiro Schenkel RESUMO O presente artigo analisa a produção da Cia de Foto, em especial da obra Caixa de sapato, considerando aspectos da produção e construção de suas imagens. O trabalho do grupo é pensado a partir da multiplicação de práticas coletivas no cenário artístico atual, considerando alterações no estatuto da autoria fotográfica. PALAVRAS-CHAVE fotografia digital, arte contemporânea, coletivos.
As transformações sociais e culturais das últimas décadas apontam para um crescente interesse do campo das artes por novas dinâmicas de criação e sociabilização de suas práticas. De duplas e casais a redes flutuantes compostas por centenas de pessoas, a produção coletiva e a atenção que ela recebe em estudos da área multiplicou-se a partir dos anos 90. Tais grupos atuam em um cenário marcado tanto pela perda da utopia modernista em relação a uma arte universal, quanto pela complexificação do sistema da arte. Diferentemente dos agrupamentos de artistas gerados pelos movimentos de vanguarda no início do século, que eram regidos pela unidade de programas estéticos com ambições de transformações sociais mais amplas, esses coletivos desenvolvem uma atuação micropolítica ao mesmo tempo em que se inserem no mercado e no sistema da arte institucional. Reunindo-se, seus integrantes somam forças para explorar novas possibilidades de criação, desenvolver estratégias de afirmação e conquistar espaço em meio a um mercado cada vez mais acelerado e profissionalizado. Em alguns casos, especialmente no de produções que circulam com maior evidência no circuito artístico, essa soma das partes acaba constituindo uma personalidade ou persona artística de maior impacto. Uma “supercolaboração” que, se de início pretende desconstruir a noção de autoria e romper com as barreiras da individualidade, por vezes corre o risco, como aponta Maria Lind, de criar um sujeito “superartístico” fechado em si mesmo (2011, p. 107). Alguns coletivos tornam-se
15