Claudia Schmidt
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Pra quem já está com o pé nessa estrada e pra quem não está nem aí com nada
Começando lá do zero Sabendo de nada um pouco Sai escrevendo com letra de médico E agindo como se fosse louco
Dominando os elementos Às vezes causando estrago Manipula o que encontra Com a segurança do mago
Oculto por todos os véus E pela água onde pisa Tem a fase todas as Luas E a face de sacerdotisa
Com a segurança de quem É dono do próprio nariz Semeia e nutre o que gera Encarna na imperatriz
Querendo domar o mundo Com seu poder materializador Ingerindo sem prescrição Suas cápsulas de imperador
Conhecedor das coisas da terra Alheio à filosofia e à morte Curador das próprias feridas Como um alto sacerdote
Sendo o carbono que compõe o grafite Mas que também compõe diamantes Enfrenta os próprios dilemas e angústias Ao assumir ou rejeitar seus amantes
Administra a mente e o impulso Domando cavalos vetoriais Que são o motor do seu carro Viajando por grandezas mortais
Recebe o produto das próprias escolhas Como um fruto de linhagem mestiça Cujos aromas, sabores e cores Saem de uma fórmula escrita pela justiça
Para não ser governado Contato e intimidade evita Não sofre com interferências Agindo como um eremita
Ventos, correntes e marés Conduzem a sua escuna Sem leme, remos ou velas Entregue à roda da fortuna
É o médico que, sem o monstro, Não passa de um mero mortal Até manipular uma receita de força Combinando intelecto com instintual
Numa corda tensa esticado Paralisado e sem qualquer benefício Morre de dia e renasce à noite Solitário e firme no seu sacrifício
Anseia pelo aconchego de um útero Quem sabe até dessa morte Que altere a situação de vida Da sua faca que não tem corte
Funcionando como o arco-íris Que está na arte de toda criança Constrói uma ponte entre o céu e a terra Assentando empatia com temperança
Às vezes não enxerga direito Se a baba é da moça ou do quiabo E preso nesse visgo precisa de ajuda Vislumbra um anjo no que é um diabo
Quando fica preso nas circunstâncias Emparedado numa torre sufocante viciada A solução aparece na descarga de um raio Que transforma em porta uma estrutura fulminada
Contempla no céu uma estrela Luz viajante até o aqui e agora Liberta sobras das próprias sombras Da sua bagagem que é uma caixa de Pandora
Suas fases são bem demarcadas Como sarjetas que limitam a rua Seus reflexos iluminam incertezas Mutáveis como as fases da Lua
Rege a música das esferas Dominando do sustenido ao bemol Com ritmo, clareza e lucidez Tem o brilho do próprio Sol
Renasce para a felicidade E renasce para o sofrimento Renasce para o que for necessário Para o veredito do seu julgamento
Chega ao fim do dia, da estória ou da vida Mas não com a perspectiva de um moribundo Refaz suas malas e checa a bagagem Embarca de novo no mundo
Claudia Schmidt, artista visual, projetista gráfica e escrevinhadora acidental. Frequentou a pintura clássica na adolescência, mas profissionalmente trilhou os caminhos da engenharia eletrônica, onde se familiarizou com a criação de conteúdo via software e daí nasceu o impulso de se manifestar artisticamente por meio de mídias digitais. A colagem analógica também encontra espaço expressivo entre as suas criações. Amante de literatura histórica e fantástica, astrologia, tarot e robôs, suas ilustrações iniciais lhe inspiraram reflexões corriqueiras que, reunidas, deram origem à Sereia e sua série de livros ilustrados, entre outros gêneros, exibidos na plataforma Issuu: https://issuu.com/claudiapovoasschmidt https://cschmidt303.wixsite.com/ilustras reúne o seu trabalho visual. Visite o seu estúdio de produtos online: https://www.colab55.com/@cschmidt303