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DUMPER máquina para toda a obra
Onde havia uma obra, lá estava o pequeno dumper, pronto para todo o serviço. Era o primeiro a chegar e o último a partir. Carregava, puxava, empurrava e até transportava trabalhadores, se fosse necessário. A pequena máquina amarela, com formato caraterístico e motor à manivela, atravessou gerações e esteve presente nas grandes transformações que foram feitas nos municípios portugueses depois do 25 de Abril. Hoje, muitas câmaras e juntas de freguesia mantêm ainda exemplares deste verdadeiro ícone do trabalho autárquico dos primeiros anos do Poder Local Democrático.
ma das principais e mais significativas conquistas do 25 de Abril de 1974 foi a consagração das autarquias como parte integrante da organização do Estado. As primeiras eleições autárquicas, em 12 de dezembro de 1976, permitiram que a população de cada município escolhesse, pela primeira vez, os seus representantes locais. Câmaras municipais e juntas de freguesia avançaram então para um conjunto de obras em várias frentes, algumas das quais já iniciadas durante a vigência das comissões administrativas (19741976), para garantir, em primeiro lugar, as necessidades básicas da população, como água, saneamento, rede viária, e depois equipamentos de desporto, cultura e lazer, parques e jardins e espaço público. As condições de trabalho, bem como as ferramentas e maquinaria eram escassas, mas o empenho, e por vezes a criatividade dos trabalhadores municipais, contrariava as dificuldades e, a pouco e pouco, os municípios iam-se transformando. A rede de infraestruturas crescia, os espaços verdes iam surgindo, assim como os equipamentos desportivos e culturais. A qualidade de vida aumentava, dia após dia, e isso sentia-se no quotidiano dos cidadãos. No meio de toda esta azáfama, uma pequena máquina, fabricada em Portugal, era presença assídua em praticamente todas as obras municipais: o dumper. Destacava-se pelo amarelo forte e pela simplicidade das formas: uma caixa de carga que faz lembrar um carro de mão, lugar para o condutor, assento de ferro ou napa preta e motor. Havia modelos articulados, outros que curvavam com as rodas de trás. Nos modelos mais antigos, o motor pegava com ajuda de uma manivela, o que era uma particularidade que despertava sempre curiosidade.
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Onde havia uma obra, lá estava o pequeno dumper, pronto para todo o trabalho. Era o primeiro a chegar e o último a partir. Carregava todo o tipo de materiais, até água. Puxava, empurrava e transportava os próprios trabalhadores se fosse necessário. A pequena máquina amarela, com o seu formato caraterístico, atravessou gerações e tornou-se num ícone popular das grandes obras que foram transformando os municípios portugueses depois do 25 de Abril. Hoje, as versões modernas do velhinho dumper, já mais tecnológicas, e com outras cores, continuam a apoiar as equipas de obras no terreno. No entanto, há ainda muitas câmaras municipais que mantêm os dumper originais ao serviço. A Câmara Municipal de Sesimbra teve várias destas pequenas máquinas, ao longo dos anos, algumas registadas em fotos de obras do Arquivo Municipal. Hoje, mantém um dumper de 1998, já com alguns acessórios de apoio em relação aos originais – caixa basculante, pá frontal e retroescavadora atrás -, que dá apoio a pequenas obras em Santiago e no Castelo, e um outro mais recente, com cerca de quatro anos, com pá frontal e retroescavadora, que o tornam muito polivalente no apoio a obras na freguesia da Quinta do Conde. São ambos da marca portuguesa Astel.
Na Câmara Municipal de Sesimbra existe ainda um dumper original, embora já com alguns "extras", que dá apoio a pequenas obras na freguesia do Castelo.
Vítor Marques, encarregado de obras da Câmara Municipal há mais de três décadas, aprendeu a conduzir num destes veículos com 17 anos, quando trabalhava para um empreiteiro do Zambujal. «Era um veículo fácil de operar, mas não era nada confortável», atesta. Quando me pediram para pegar nele fiquei um pouco receoso porque ainda nem tinha carta de condução. Mas lá fui e correu bem». Apesar disso, eram poucos os que se atreviam a trabalhar com a máquina que servia para quase tudo. «Era, como se diz, uma “multifunções”, porque tan- to a utilizávamos para carregar massa, entulho e ferramentas, como para limpar valas. Além do mais, chegava a locais inacessíveis a outros veículos, o que era uma vantagem», recorda. O dumper em que Vítor Marques aprendeu a conduzir era dos antigos. Tinha volante à direita e banco em ferro sem encosto, o que o tornava desconfortável, tração às rodas da frente e sistema de abertura da caixa com alavanca, e não hidráulico, como os que lhe sucederam. «E para o ligarmos tínhamos de dar à manivela, o que podia tornar-se perigoso caso não estivesse desembraiado e travado, pois podia arrancar sem o condutor», revela.
Embora não alcançasse muita velocidade, requeria alguns cuidados. «No pouco tempo que o conduzi só tive um susto: vinha numa descida com o dumper carregado de lama e, de um momento para o outro, derrapou e fez um peão. Felizmente sem consequências», conta. Mas depois de muito treino e destreza, «tornou-se fácil dominar a máquina», afiança. A utilidade desta viatura é confirmada por Naprovílio Dias, que operou um dumper durante perto de 20 anos no Parque de Campismo do Forte do Cavalo e, por este motivo, conhece-o como poucos. Do modelo anterior, apresentava poucas diferenças, com exceção do volante à esquerda e banco almofadado.
«Era uma grande máquina. Mesmo já velhinho tinha muita força e não falhava. Fazia barulho, era um pouco desconfortável, mas isso não interessava muito. Foi uma grande ajuda para o meu trabalho», diz. Com o passar dos anos o veículo emblemático foi conhecendo várias versões. Mas na memória coletiva fica a imagem daquele veículo barulhento de aspeto curioso, com duas rodas grandes à frente e duas mais pequenas atrás, que estava sempre presente onde houvesse uma obra.