Revista de Escalada Fator 2 - nº 09

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Assinatura e cartas

Esta edição está sensacional! Trazemos à você, além de muitas notas de montanha, os destaques deste século em cada modalidade, segundo a revista americana Climbing. São as mais fantásticas ascensões e conquistas na rocha e no gelo. Outra belíssima aventura acontece na agulha do Pico do Itabira, no ES e que contamos aqui na matéria principal da revista. Já na seção Na Parede , você vai encontrar um sumário do I Seminário sobre Sistema de Graduação, por Flavio Wasnieski. Ainda nessa mesma seção vai saber tudo sobre cordas duplas, quais as vantagens, tipos e maneiras de utilizá-las. E para completar: uma entrevista com o chileno Juanjo, um dos melhores escaladores da América do Sul, feita por Pita. Lembramos que estamos abertos às suas aventuras, conquistas e notícias. Para qualquer informação que queira compartilhar entre em contato com a gente. Esta revista só é possível com sua ajuda. Para a próxima Fator2 aguardem novidades. Boa leitura e muitas aventuras!!!! __Cintia Adriane

Flavio Daflon e Cintia Adriane - Rua Valparaíso, 81 / 401 Tijuca - Rio de Janeiro, RJ - Cep 20261.130 Tel.: (21) 567-7105 E-mail: fator2@pobox.com

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Fator2 - Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.

Atenção

Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um Instrutor ou Guia de escalada em rocha. Caso você não conheça ou possua dúvidas em relação às técnicas de segurança para a prática do esporte, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. Capa: Vanessa na via Lamúrias de um Viciado - Serra do Cipó, MG.

Nº9

Abril / Maio, 2000

Tiragem: 1200 exemplares.


Temporada na Patagônia Nesta última temporada na Patagônia várias montanhas foram escaladas. Merecem destaque a ascensão dos espanhóis ao Fitz Roy, o sufoco dos japoneses no Cerro Torre e a escalada da paranaense Roberta Nunes na agulha Média Luna. Veja um pouco do que aconteceu: Os japoneses Miyasaki Motohiko e Suizi Mikio repetiram a via Ferrari do Cerro Torre (Patagônia argentina) no último mês de novembro. Começaram do campo base de Filo Rosso (Gelo Continental) e chegaram até a formação conhecida como O Casco . No dia seguinte alcançaram o cume e voltaram até O Casco . Uma forte tempestade os manteve por 4 dias neste lugar bivacando e com pouca comida. Quando finalmente conseguiram descer até o acampamento base viram-se incapazes de

O Fitz Roy e a linha da Royal Flush .

encontrar a Cerro entrada de sua Torre. cova de gelo, por causa da grande nevasca que havia caído e tiveram que dormir mais uma noite ao relento. Isto significou o b i v a q u e m o r t a l , segundo eles, e durante a noite sofreram congelações nas mãos e pés. Na manhã seguinte, cavaram até encontrar sua cova onde descansaram mais uma semana até reunirem forças para sair dalí. A paranaense Roberta Nunes também esteve nesta temporada na Patagônia e escalou a Agulha Media Luna com os argentinos Sebastian e Julieta. Esta via aberta em 1994 por E. Salvaterra em solitário tem uma dificuldade de 5+6c/A1 e 400 metros de extensão. Carlos García e Carlos Suárez (espanhóis) fizeram a 4º repetição da via Royal Flush , no Cerro Fitz Roy. São 1050 metros de via e graduação de até 9a (Brasil) que terminam na via El corazón há 300 metros do cume. Fixaram 500 metros de corda até a 17º enfiada e o resto fizeram em estilo alpino. Tiveram que passar em A2 nas enfiadas que estavam molhadas, no final quase ocorreu uma tragédia fatal. No último rapel a corda se soltou e García caiu 30 metros. Com a perna quebrada, Suárez teve que o colocar nas costas e rapelar até o pé do glaciar. Ali teve que deixá-lo e ir buscar ajuda, a qual encontrou rapidamente. Carlos García se recupera em casa. Esta via foi aberta em 1995 por Kurt Albert e Bern Arnold. Somente os alemães Rainer Treppte, Günter Gälbe e Michael Schaforth realizaram a ascensão dessa via até o cume no ano de 1998, e Gälber foi até agora o único escalador a encadenar toda a via.


Mulheres no Calcário Gisely Ferraz e Vanessa Valentim são duas escaladoras paranaenses, que depois de se conheceram em um campeonato resolveram unir-se em uma persistente dupla feminina, para mostrar o potencial das mulheres escaladoras brasileiras. Numa temporada na Serra do Cipó elas encadenaram alguns oitavos graus trabalhados como por exemplo: Especialidade da Casa (VIIIb), Sinos de Aldebarã (VIIIb), Calada da Noite (VIIIa) uma via bem eclética com uma saída em dois dinâmicos e Festinha de Criança (VIIIc) a qual somente Vanessa encadenou. Também fizeram à vista vias como a Lamúrias de um Viciado (VIIb). Mas nem só de esportiva vivem essas garotas, procurando diversificar as modalidades para tornarem-se mais completas, tiveram sua primeira experiência em parede também em Minas Gerais. Mais precisamente no pico do Baiano, onde realizaram a 1ª escalada feminina da via Obra do Acaso , com 14 enfiadas em 600 metros de rocha, conquista esta dos mineiros Leandro e Pedro. Depois foram para o sítio do Rod e Gruta do Baú ainda em MG, onde fizeram muitos sétimos graus à vista e escalaram a via Rayovac um IXa na famosa onda do Baú. Essas duas escaladoras de raça são atletas da Equipe Snake e estiveram em abril participando dos campeonatos no Rio de Janeiro, onde se saíram muito bem (veja resultados na seção No Muro). Se continuarem nesse ritmo serão as feras representantes do Brasil no exterior!

Muito perigo no Annapurna Ed Viesturs e equipe resolveram desistir da escalada do Annapurna, quando estavam ainda no Campo2, porque segundo ele A via que nós estávamos tentando não estava segura . Eles tentaram contornar os trechos mais perigosos do glaciar, mas não tiveram sucesso, então toda equipe tomou a decisão conjunta de voltar. Todos ficaram

desapontados, porém sabiam que não havia maneira segura de escalar a montanha pelo seu lado norte. Não havia nenhuma maneira racional de continuar escalando disse Viesturs, que já completou a subida de 12 dos 14 picos de 8000, sem ajuda de oxigênio suplementar em todos eles e esteve no cume do Everest por 5 vezes. Esse seria seu 13º pico de 8000.


Destaques do século A Revista americana Climbing dedicou grande parte de sua edição de março, para apresentar os melhores escaladores e as ascensões que mais se destacaram no século passado. Fez uma seleção dividida em oito modalidades: boulder, big wall, escalada esportiva, escalada clássica, himalaismo, escalada em rocha, escalada alpina e escalada em gelo. Boulder O primeiro é John Gill, considerado o inventor do boulder. A ascensão que é mais significativa desta modalidade é a que Gill realizou de Timble em 1961. Se trata de um bloco de uns 9 metros de altura. Quando Gill encadenou havia uma cerca logo abaixo que poderia lhe partir as costas se falhasse. Foram precisos 20 anos para que Thimble tivesse sua segunda ascensão realizada por Greg Collins, mas desde então não havia mais a cerca. Big Wall Não é estranho que o El Capitan seja o lugar, mas alguns se surpreenderão que

Lynn Hill na The

seja não a primeira mas a segunda ascensão da parede que tenha sido eleita. O que se passa é que a ascensão d a Salathé merece o Wolfgang título antes que a The Nose . É que o êxito da primeira já estava praticamente garantido por cordas fixas que foram subidas em um projeto que no total levou 18 meses para realizar-se. Em 1961 Tom Frost, Chuck Pratt e Royal Robbins queriam subir pela face sudoeste do El Capitan, com todo o desafio que implica a escalada em grande parede. Ao chegar ao platô Heart Ledge tiraram as três cordas que haviam fixado, renunciando assim a possibilidade de descer por elas. Durante os seis dias seguintes os americanos realizaram as enfiadas já lendárias, como a da fenda de corpo da Hollow Flake , a chaminé The Ear e a infame El Cap Spire que formam parte da emblemática via que logo se chamaria Salathé . Escalada Esportiva A atividade destacada foi a ascensão da Action Direct (XIc), realizada pelo alemão Wolfgang Güllich en 1991. Tanto pelos múltiplos dinâmicos de mono-dedo a mono-dedo que se encontram na via, como por só ter sido repetido uma


vez, apesar de várias tentativas de feras como Ben Moon, Chris Sharma e Klem Loskot. Escalada Clássica O solo integral que realizou Peter Croft da via Astroman (Yosemite) em 1987 é a ascensão mais problemática do século XX de escalada clássica. A altura da via (quase 500 metros) a dificuldade até VIIc (Brasil), com várias enfiadas de VIIa e a alta exposição convertem esta escalada em algo realmente impressionante, mais ainda se levarmos em conta que Croft estava a 4 anos sem escalá-la quando a encadenou sem corda. Este fato só foi repetido este ano por Dean Portter. Himalaismo Nesta modalidade foi selecionada a da face oeste do Gasherbrum IV, realizada pelo polaco Voytek Kurtyka e o austríaco Robert Schauer em 1985. Levavam comida para somente 5 dias, nada mais que 6 pitons, duas cordas e escasso material para bivacar. As condições meteorológicas os puseram em situação bem difícil e a rocha tendia a estar demasiado dura ou decomposta para fazer uma boa segurança. A 7100 metros Schauer e Kurtyka fizeram 4 enfiadas de IIIº grau cobertos de neve s e m colocar proteções. Não havia maneira de v o l t a r rapelando porque não Face Norte do Eiger.

tinham material suficiente. Por fim chegaram ao cume onde uma tempestade os obrigou a bivacar duas noites. Quando finalmente conseguiram começar a baixar não havia mais comida e sofriam alucinações. Três dias depois chegaram ao glaciar. Levaram 10 dias na montanha, três dos quais sem água e 4 sem comida, mas haviam sobrevivido. Escalada em Rocha De novo nos dirigimos ao Vale do Yosemite. Se trata da The Nose e da maneira com que Lynn Hill fez em livre suas 33 enfiadas em um dia. Já se passaram 6 anos desde essa façanha e todavia ninguém a repetiu. Alpinismo A equipe austríaca de Henrich Harrier e Fritz Kasparek viu a princípio os alemães Anderl Heckmair e Ludwig Vorg como rivais no intento de serem os primeiros a fazer esse cume na face norte do Eiger. Mas ao encontrarem- se em plena parede chegaram a conclusão de que era melhor unir as forças e subir como uma equipe de quatro. Isto resultou em uma união frutífera, pois apesar das avalanches, das tempestades, as quedas perigosíssimas e um crampon cravado na mão de Vorg, o grupo fez cume e esta ascensão tem sido considerada a mais gloriosa da história do alpinismo. Escalada em Gelo Outra vez são os americanos os protagonistas. Jeff Lowe e Mike Weiss escalaram em 1974 os 500 metros da cascata Bridalveil Falls no Colorado. Antes de que houvesse realizado esta façanha, a escalada vertical em gelo somente se havia praticado em seções curtas. Com o que fizeram em Bridalveil Falls , os escaladores Lowe e Weiss criaram uma nova maneira de entender e praticar a escalada em gelo.


Rope Show O New York City Center na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro teve o melhor muro já montado no país para abrigar 3 competições: Campeonato Carioca, Brasileiro e Copa Panamericana (ver resultados na seção No Muro). Este foi um mega-evento que reuniu às competições de escalada esportiva, uma série de atividades e apresentações como: Intrépida Trupe, Acrobáticos Fratelli e Deborah Colker. O muro teve incríveis 21 metros, para os desafios de dificuldade e velocidade. O ponta-pé incial para a competição foi dado pelo Hillo, as vias foram preparadas pelos Route Setters, Alexandre Portela e Ralf e o campeonato organizado pela AAERJ e Pro-Esportiva. As disputas foram apenas na categoria master e reuniram o melhor do esporte do país e da América do Sul. Apesar de alguns contratempos o evento ofereceu um belíssimo show de dança, escalada e malabarismos.

Abertura de Temporada

Todos os anos na chegada do outono, considerada época propícia para escaladas, os clubes de montanhismo do Rio de Janeiro se reúnem para realizar a Abertura da Temporada de Montanhismo. Trata-se de uma grande congregação de adeptos à prática de caminhadas e escaladas, ou simplesmente apreciadores do esporte. Este evento, aberto ao público, já é tradicional dentro do montanhismo e vem crescendo em adesão e popularidade a cada ano. Além das atividades características de caminhada, escalada, limpeza de trilhas e a realização de uma gincana, foi montado um muro de escalada no qual os participantes puderam praticar e até mesmo se aventurar numa escalada, além de um pequeno campeonato


de velocidade. Atrações como demonstração de resgate e primeiros socorros também fizeram parte da programação. Estiveram presentes muitos escaladores conhecidos e grupos ligados a ecologia, além de todos os Clubes de Montanhismo do Rio de Janeiro. Várias lojas de equipamento de montanhismo forneceram material a ser sorteado entre os participantes, e ficaram instaladas no local para exposição e demonstração de seus produtos. Na inscrição cada participante levou 1 Kg de alimento não perecível e ao final do evento todos os alimentos doados foram destinados aos projetos Movimento Viva Rio e Projeto Transformação Reciclagem do Núcleo Especial de Atenção a Criança (NEAC). O evento que conta com o apoio da Secretaria de Esportes e Lazer foi realizado na Praça General Tibúrcio Praia Vermelha Urca, no dia 07 de maio.

Acidente na Babilônia

Ivanir Chamberlain, escalador paranaense sofreu acidente na via Ricardo Prado , no Morro da Babilônia na Urca, RJ. Tudo aconteceu após

escalar 3 enfiadas da via com três alunos. Quando resolveram descer, Ivanir, que é bastante experiente em seus 7 anos de montanha, armou um curto rapel para descer até o casal que estava mais abaixo e conferir o rapel deles. Depois de se certificar da segurança deles resolveu descer até a última participante que estava mais uns 10 metros abaixo do casal. Porém como armou um rapel curto só havia corda para chegar ao casal. No momento em que sentiu a ponta da corda passar pelo freio, lembrou que não havia dado mais corda nem feito um nó na ponta solta. Sua sorte foi a outra ponta ainda estar encordada na participante e sua agilidade de pensamento que o fez enrolar a mão na ponta abaixo do freio antes que esta passasse por ele. Assim, após cair cerca de 50 metros conseguiu se travar quando a corda esticou. Imediatamente procurou por um grampo próximo e prendeu sua solteira. Como não sentia que tivesse quebrado nada gritou para sua participante soltar a corda e armou outro rapel descendo até a base sozinho. Ainda pediu que o casal rapelasse e ajudasse a descer a outra garota. O instrutor de escalada Rodrigo que chegava com seu aluno pela trilha foi


atingido por uma pedra que desprendeuse da parede durante a queda e teve um corte no pescoço, onde levou 6 pontos. Rodrigo e Paulo foram os primeiros a chegar no local e ajudaram no socorro até a chegada dos bombeiros que o levaram para o hospital Miguel Couto. Ivanir sofreu numerosas escoriações pelo corpo, perdeu pele nos pés e nas mãos e levou 10 pontos no joelho. No momento já está recuperado e escalando.

Ajundando a Reflorestar Montanhistas tiveram a iniciativa de junto à Fundação Parques e Jardins de restaurarem a trilha original do Morro da Urca/Face Oeste do Pão de Açúcar. Além de desobstruir a passagem, a qual um enorme tronco interrompera, fecharam os atalhos, sinalizaram e ainda junto a prefeitura conseguiram mudas de árvores nativas que foram plantadas junto a base da face oeste do Pão de Açúcar. Esta ação louvável pede a colaboração dos freqüentadores para que reguem as mudas sempre que possível para ajudálas a crescer e acabar com a praga do capim colonião, que já vinha dominando a algum tempo este local.

Na Agulhinha Uma nova via foi aberta na Agulhinha da Gávea, na Floresta da Tijuca. Ela localiza-se do lado esquerdo da via Jubileu de Prata , com a qual se encontra nos últimos lances. O nome é Bacuri e o grau sugerido é 6º VIsup A1. Vale a pena conferir! O visual é muito bonito.

Para emergências O que fazer quando presenciamos um acidente!?? Mesmo que tenhamos um celular, se não soubermos a quem recorrer o resgate pode demorar a chegar. Em alguns casos esta demora poderá ser fatal. Por isso é imprescindível que todo esportista de natureza leve consigo telefones úteis como o dos Bombeiros (193) e do CGOA da Polícia Civil, que faz resgates com o helicóptero (274-4446, 294-8585, 399-7692). Forneça todas as informações solicitadas e seja sempre o último a desligar. E lembre-se: prevenir é melhor que remediar!!!


Resultados Campeonato Carioca de Escalada de dificuldade

Campeonato Brasileiro de Escalada

Copa sul-Americana de Escalada

Aconteceu nos dias 8 e 9 de abril Aconteceu nos dias 15 e 16 de Aconteceu nos dias 22 e 23 de no Shopping New York City abril no Shopping New York City abril no Shopping New York City Center, RJ. Center, RJ. Center, RJ.

Masculino

1. Fábio Muniz 100 2. Helmut Becker 80 3. Fernando Motta - 65 4. Tadeu Scaf 55 5. Bernardo Cruz 51

Feminino 1. Monica Pranzl 2. Camila Santos 3. Grigri 4. Lúcia Fragoso 5. Patricia Mattos -

50 40 33 27 21

Masculino

Masculino

1. André Berezoski - SP 2. Thiago Balen - RS 3. Guilherme Zavaski - RS 4. Alexandre Paranhos - SP 5. Fabio Muniz - RJ

1. Diego masellas - Argent. 2. Juan J. Fernandez - Chile 3. Thiago Balen - Brasil 4. André Berezoski - Brasil 5. Helmut Becker - Brasil

Feminino

Feminino

1. Paloma Cardoso - SP 2. Mônica Pranzl - RJ 3. Vanessa Valentin - PR 4. Gisele Ferraz - PR 5. Daiane de Souza - PR

1. Paloma Cardoso - Brasil 2. Sara Awlyn - Chile 3. Janine Cardoso - Brasil 4. Gisele Ferraz -Brasil 5. Camila Santos - Brasil

I Copa Ferrino de Boulder Amador Indoor

Aconteceu no dia 20 de maio no Colégio Salesiano,Niterói, RJ.

Feminino

1. Gri-Gri - 1450 2. Lúcia Fragoso - 1300 3. Cris Costa - 1050 4. Taís Makino - 300 Maria Alice Pires - 300 5. Mieko Makino - 100

Masculino 1. Daniel Rabelais - 1600 2. Diego Mager - 1550 3. André Felix - 1350 4. Pedro Weinem - 1150 5. Diogo Marcessi - 800

Infantil 1. Tiago - RJ - 650 2. Pedro Pereira - RJ - 560 3. Yana - SP - 550 4. Ramon - Niterói - 300 5. Marcella Santos - RJ - 250

Próximas competições

. O calendário 2000 de competições do Ginásio de Escalada Esportiva Casa de Pedra (SP) está definido com as datas: 10 de Junho - Campeonato de Boulder e Botes I (open); 29 de Julho - Campeonato Paulista de Iniciantes; 26 de Agosto - Campeonato Paulista (Ranking); 14 de Outubro - Campeonato de Boulder e Botes II (open) e 18 de Novembro - Campeonato Brasileiro (open). . A Copa Ferrino de Boulder Amador Indoor, que acontece no Colégio Salesiano, em Niterói (RJ) terá ainda mais 3 etapas. As próximas serão nos dias 10 e 8 de junho e a última dia 12 de agosto. Maiores informações com Patrícia Mattos, (21) 612-1192.


Por Luciano Bender, Petrópolis, RJ.

Estávamos completamente no vazio, a 250 metros de altura, no mais puro granito alaranjado. Faltavam poucos metros para chegarmos a uma estreita passarela que levaria ao fim da rota e, assim, ao topo de uma das mais imponentes e belas agulhas de pedra do país - o Pico do Itabira ! Apenas mais uns metros de escalada fácil e o cume seria nosso! Histórico Esta aventura começa em 1995, quando eu (Luciano) fiz minhas primeiras ascensões no Espírito Santo, época em que comecei a corrida para atingir o cume de todos os Cinco Pontões ,

que conclui no ano seguinte. Sempre que cruzava a BR 101, avistava o Pico do Itabira montanha das mais imponentes em todo o Brasil, que conseguiu me impressionar de tal forma fazendo-me procurar saber mais informações sobre esta enorme agulha de pedra. Fiquei sabendo de duas pessoas que já haviam escalado esta montanha: uma delas era o Magno Santos, escalador de Cachoeiro de Itapemirim, para quem liguei e que pôde me fornecer todas as dicas da escalada. Assim, em 7 de julho de 1996, após 10 horas de escalada e muito suor, cheguei então ao seu cume, pela primeira vez, através da Chaminé Cachoeiro . Mas, há muito, já sofria do terrível mal que afeta escaladores compulsivos: aquilo tudo ainda era pouco e queria mais... Na ocasião, pude observar uma seqüência de fendas, na face nordeste da montanha: A verticalidade da parede, de tons amareloalaranjados, era tão impressionante que gerava a falsa sensação de que aquela imensa torre de granito iria cair


em cima de mim! Em 98, convidei Marcel, Leandro Bidu e o Magno para realizarmos juntos a conquista desta face. O Marcel e o Bidu já haviam feito uma incursão ao Itabira em 1997, para tentarem escalar a Chaminé Cachoeiro . Na ocasião, dei as dicas a eles e desenhei o croquis de toda a rota que já conhecia. Porém, uma chuva forte, infelizmente, os mandou de volta para casa, no mesmo dia em que chegaram! De lá para cá, aquela parede entalou na garganta dos dois, que não paravam mais de falar sobre a montanha comigo e com todos os nossos amigos escaladores. Símbolo da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, desde os primórdios esta montanha já impressionava qualquer um. E foi aí que surgiu o nome: Itabira, que em Tupi quer dizer pedra (Ita) empinada (Bira). Até então, existiam somente duas rotas para se atingir o cume. A mais antiga é a Via Silvio Mendes que, conquistada 1947, era a escalada mais difícil do Brasil naqueles tempos. Treze anos depois, em 1960, é conquistada uma segunda rota para atingir o cume do Itabira: a Chaminé Cachoeiro , por onde subi em 1996 e que, quando conquistada, também era, se não a mais difícel, certamente uma das escaladas mais comprometedoras de todo o País. Com muitas fendas, foi onde os Pitons foram utilizados

pela primeira vez aqui no Brasil, além de muitas cunhas de madeira - uma escalada limpa e magnífica até há pouco tempo... Atualmente esta rota possui mais grampos do que pedra porque alguns infelizes, famosos por alterar a via dos outros, tiveram que reduzir a dificuldade da montanha para conseguir chegar ao cume dela, sem borrar as calças! Deixa pra lá... O Diário da Escalada - 1º investida 06 de julho de 1998. Nossa empreitada começa, para conquistarmos uma nova rota na montanha, quatro décadas após a conquista da Chaminé Cachoeiro . O trajeto escolhido foi aquele que eu já especulava há dois anos: a seqüência de fendas, à esquerda da Chaminé , na face nordeste da montanha. Nossa estratégia para o 1º dia era levar todo o equipo que pudéssemos até a base, descer e descansar na casa do Magno. No dia seguinte levaríamos a comida, a água e iniciaríamos a escalada propriamente. Era mais de 100 quilos de equipamento: cerca de 500 metros de cordas, 2 barracas, mosquetões e proteção móvel em farta quantidade, 55 litros de água... e um tanto de adrenalina e ansiedade na alma! Decidimos dividir-nos em

duas duplas: Magno e eu; Marcel e Bidu. Enquanto uma dupla escalava, a outra iria prestando todo o apoio de base e descansando para o dia seguinte. E assim poderíamos nos revezar por vários dias, sem muito cansaço. 07 de julho. O Bidu começa a escalada, subindo cerca de 30 metros por uma fenda, em escalada livre de 6º grau. Fez uma pequena horizontal para a direita e, talvez, mais duas passadas em Cliffhangers, antes de bater um grampo. O Marcel, que estava na base dando a


segurança, continuou, subindo 15m, por Cliffs e, depois, uma fenda. Logo após, montou a parada, batendo dois grampos. Os dois retornaram para a base, já à noite, para saborear o maravilhoso miojo com arroz que Magno e eu havíamos preparado. 08 de julho. O dia amanhece, para Magno e eu continuarmos a conquista. Subimos pelos quase 50m de cordas fixadas no dia anterior e começamos a escalar a pedra virgem. Retomei a conquista,

escalando uma fenda perfeita, de cerca de 40m. Esparadrapo nas mãos para não rasgar muito a pele durante os entalamentos, lances alucinantes, movimentos aéreos. Tudo em escalada livre! O diedro foi chegando ao final e a fenda, progressivamente, tornando-se mais fina. Tento continuar escalando em livre até a fissura já não suportar mais meus dedos. Tomo uma pequena queda e parto para a escalada artificial. Após 45m, bato um grampo. Mas o Magno tinha um compromisso e teve que descer. O Bidu subiu e então aproveitei o ânimo dele zero quilômetro e troquei de lugar com ele, apesar de não faltar nem 5m para o ponto de parada.

Ele progrediu mais uns 3 metros em Cliffs, chegou à parada e bateu dois grampos até o talo! Depois começou a arrumar todo o equipo para o dia seguinte. Voltamos para a base, já anoitecendo, para constatar que o preguiçoso do Marcel não havia preparado nada para nós comermos. 09 de julho. Marcel e Leandro Bidu partiam para subir mais uma esticada de corda e completar os primeiros 150m de escalada. Marcel começa a progredir em artificial por uma fenda de A2. Os lances vão se tornando delicados até o uso de lâminas de Piton. Logo após sair dela, uns 5m acima, bate um grampo e prossegue em Cliffs, de olho no grande diedro, um pouco à esquerda. Muitas passadas em Cliffs, todas sempre com furos de 1/4", bate mais 2 grampos, faz uma pequena diagonal para a esquerda e tenta chegar ao grande diedro, cujos primeiros 10m são cheios de cactos enormes. Sobe pouco mais de 5m, domina um semi-platô, em livre, e, na hora de pegar o grampo para pôr na pedra, passa um pequeno sufoco ao retirá-lo da fita em que estava preso. Xinga o infeliz que havia dado o nó apertado (no caso eu) e bate dois grampos, completando outros 40m de escalada. Já quase à noite, retorna à base. 10 de julho. Quarto dia de escalada, nossas provisões já acabavam e tínhamos o compromisso de voltar no dia seguinte para Petrópolis. Agora era a vez de Magno e eu, mantendo o revezamento, subirmos mais uma enfiada de


corda. Jumareamos os quase 150m de cordas fixas e partimos para o ataque. Neste dia, o vento estava absurdamente forte e, conseqüentemente, a sensação térmica era terrível. Como o Magno ainda não havia experimentado o prazer de conquistar um pouco daquela parede, combinei com ele que subiria apenas alguns poucos metros, até entrar na fenda, e faria uma boa eqüalização de proteção móvel, preparando para que ele continuasse. Saindo dos dois grampos da parada, faço uma horizontal de uns 3m para a esquerda, apoiando-me em agarras. Chego à fenda para analisá-la e vejo que seriam necessários mais 5m de escalada em linha reta pela própria parede lisa, antes de entrar no diedro, pois ainda havia muitos cactos dentro da fenda. Quando desfazia esta horizontal, sem querer, minha mão escorregou e uma queda de uns 5m mexeu um pouco com minha auto-estima. Cai em pêndulo, rodando por diversas vezes e com minha cabeça batendo na pedra. Fui parar abaixo do Magno e foi meu capacete que salvou. Continuei a escalada e subi direto outros 5m em Cliffs. Bati um grampo, fiz duas passadas em cliff para a esquerda e entrei na fenda. Dentro do diedro, escalei mais 5m e fiz uma forte eqüalização - à prova de bomba, para que o Magno, então, pudesse conquistar um pouco.

O Magno continuou a conquista, escalando 25m, em fenda de A2. O tempo cada vez piorava; e o vento aumentando exponencialmente. Algumas gotículas de chuva e a escuridão total. Colocamos as lanternas de cabeça e nos equipamos para começar a descer. Aquela investida chegava a seu fim cerca de 180 metros de parede conquistada e cordas fixas desde a base. No chão, Nicácio e alguns outros vizinhos do Magno já nos esperavam para ajudar a carregar todo o equipamento. De volta à civilização, restou-nos tomar uma cervejinha para comemorarmos a empreitada. 2º Investida (1 ano e 2 meses depois) 04 de setembro de 1999. Estávamos lá outra vez. Agora éramos apenas dois: Marcel e eu. O Magno não pudera pois havia recém operado o ombro; e o Bidu havia tido problemas conjugais . Uma característica muito marcante desta segunda investida foi nosso grande planejamento e apoio logístico para que conseguíssemos atingir o cume no tempo estimado e com a quantidade certa de alimentos e, principalmente, água, pois o clima estava muiiiiiito seco, sem chover havia mais de um mês! Tínhamos previsto, na investida anterior, que mais dois dias, no máximo, seriam suficientes

para escalarmos os 140 metros restantes até o cume. De qualquer forma, esquematizamos toda nossa excursão para 2 dias e 1/2 de escalada, mais 1 dia dedicado à viagem de ida e carregamento do equipamento; e outro 1/2 dia para o regresso. E assim aconteceu: nosso planejamento estratégico deu mais do que certo. Conseguimos a ajuda do André para carregarmos os quase 100 quilos de equipamento até a base. Com cerca de 30 quilos per capita , fizemos a caminhada de acesso à base em 1h10 minutos, para fazermos um belo Bivaque aos pés daquela torre patagônica . Decidi não levar barraca, pois sabia que não iria chover - a meteorologia previa 10 dias de tempo bom. E outra, estava com muita vontade de dormir desta forma, admirando aquele ambiente do outro mundo! 05

de

setembro.


Acordamos às 5h30, no susto, e às 7h00 já estávamos começando a escalar. Eu e o Marcel tiramos par ou ímpar para ver quem iria subir primeiro pelas cordas que já estavam há um ano e dois meses fixas na parede, para agilizar nosso trabalho de conquista, tomando sol e chuva sem parar. Infelizmente, ele perdeu...e subiu na frente! - se cair, só sinto o impacto, velho! , ele me

falou. Fiquei com pena e resolvi revezar com ele na guiada pelas cordas até chegar ao trecho onde havíamos parado da outra vez. Retomei a conquista, chegando ao último grampo que o Magno havia batido um ano atrás. O diedro ficou fino a tal ponto que não conseguia nem utilizar RURPS (sigla em inglês de Realized Ultimate

Ficha técnica Face Nordeste do Itabira Localização: Cachoeiro de Itapemirim - ES Altitude: 540 metros (nível do mar) Extensão: 7 enfiadas - 320 metros (aproximadamente) Classificação: 6º A2+ Material necessário: 2 cordas de 50 metros, 2 jogos de Friends, 3 Pitons de lâmina média, 4 Pitons Angle (2 pequenos e 2 médios), 1 RURP, 3 TCU s pequenos a médios. Conquistadores: Luciano Bender, Marcel Leoni, Leandro Bidu Siqueira e Magno Santos.

Reality Piton, ou, Piton utilizado em última instância, literalmente). Fiz um pequeno furo de Cliff e duas progressões em Pitons de lâmina e Angle. Posicionei um TCU e parti para os furinhos de 1/4". Dominei um pequeno teto, em Cliff, e entrei em um trecho negativo. Estava alucinado pelo visual; depois da 13º passada negativa e sem proteções, foi a adrenalina que começou a me alucinar. A parede então voltou a ficar positiva. Foi a hora de montar a parada, batendo dois grampos. Este se mostrou o trecho mais forte de toda a escalada. Apesar de tecnicamente fácil, um A2+, mostrou-se um pouco adrenante , pois um buraquinho negativo quebrando-se ao final, resultaria uma queda um pouco enjoada, de mais de 20 metros - que tal ! ? Foi a vez do Marcel continuar a conquista. Subiu 35m, em lances de Cliff e protegendo em grampos. O tempo escureceu, mas já conseguíamos ver o grande teto abaixo do cume. Faltava muito pouco! Retornamos para a base. 06 de setembro. Sabíamos: era o grande dia do tudo ou nada. Acordamos novamente no susto, pois minha agenda eletrônica não despertou. Às 7h00 já se escutava o tilintar da ferragem pendurada em nossos Baudriers. O Marcel voltou ao trecho onde havia parado e subiu uns 5m para bater outro grampo. Chegamos à base do grande jardim suspenso de Bromélias. Já podíamos ver claramente o grande teto, por baixo do qual cruzaríamos


caminhando em direção ao cume. Continuei a escalada. Progredi um pouco em Cliffs, fazendo uma leve diagonal à esquerda, para escapar das Bromélias. Bati um grampo, subi um pouco e coloquei o grampo da parada - apenas um, pois a inclinação da parede já estava pequena. Com o cume já bastante próximo, não agüentei e falei: -Marcel, deixa eu conquistar mais um pouco, pelo amor de Deus! - Tá maluco! Agora é minha vez! . Mas, devido às circunstâncias, e porque eu já estava com todo o equipamento e sapatilhas nos pés, Marcel acabou consentindo. A Chegada ao Cume. Estávamos completamente no vazio, a 250 metros de altura, no mais puro granito alaranjado. Faltavam poucos metros para chegarmos a uma estreita passarela que levaria ao fim da rota e, assim, ao topo de uma das mais imponentes e belas agulhas de pedra do País - o Pico do Itabira ! Apenas mais uns metros de escalada fácil, e o cume seria nosso! Escalei cerca de 10m em escalada livre e cheguei à base do grande teto. A parede estava vencida! Somente nos restava uns 50m de caminhada por uma passarela à direita e emendaríamos no final da rota que cruza a Face Norte - a Chaminé Cachoeiro . Dei as honras para o Marcel

guiar, pois ele pisaria pela primeira vez naquele cume. Ele caminhou pela estreita passarela e, antes de a corda esticar, não agüentei e fui caminhando também. Chegamos ao final da grande chaminé e reconheci o local onde havia dormido na 1º vez que escalei o Itabira. Dali, caminhamos juntos mais uns 40 metros e, às 12h50 minutos, chegamos ao cume, após uma escalada de cerca de 320 metros. Ficamos lá em cima até 13h30 e, após contemplarmos bastante, filmar, tirar fotos, e enfim, assinarmos o livro de cume, descemos. Mais uma linda opção de escalada estava grampeada até o topo, tornando o Pico do Itabira, sem sombra de dúvidas, mais atraente para quem gosta de Big Walls. Uma escalada tecnicamente fácil, que pode ser feita tranqüilamente em dois dias. Esta via torna-se, também, uma excelente opção de descida para quem escalar o Pico do Itabira, seja por qualquer rota. Para se ter uma idéia, mesmo desequipando toda a escalada, retirando e enrolando as cordas fixas, conseguimos chegar à base em apenas 2 horas. Ao contrário da Chaminé Cachoeiro , que toma, no mínimo, 4 horas de descida, com Rapéis duvidosos e propensos a agarrar a

corda. Devemos muito à força dos nossos grandes amigos Leandro Bidu e Magno Santos, que não puderam chegar ao cume, mas tiveram participação decisiva para o sucesso deste empreendimento. O Magno, além de tudo, e sua esposa Vanuza, ainda nos apoiaram bastante cedendo as chaves de sua casa, literalmente, e confirmando a famosa hospitalidade do povo capixaba, da qual já éramos conhecedores. Também foi muito importante a colaboração dos amigos do Magno: Nicácio, André e Eric, entre outros (que nos perdoem) de cujos nomes não nos lembramos mais, que nos ajudaram a carregar o pesado equipamento. Agradecemos também ao Seu Santinho e o filho Rafael, pelo carinho que tiveram conosco. Foi o Seu Santinho quem cedeu hospedagem a Silvio Mendes, Índio do Brasil, George White, Patrick White, entre outros, na época da conquista das outras duas rotas do Itabira.


na I Seminário Sobre o Sistema de Graduação. C om suas três etapas ocorridas no

segundo semestre de 1999, o I Seminário Sobre o Sistema de Graduações Brasileiro, promovido pela interclubes, chegou a uma proposta carioca para uma nova configuração do sistema que usamos para graduar nossas escaladas. Segue abaixo um resumo desta proposta, que procura incorporar ao sistema antigo as novas linguagens de graduação utilizadas pelos escaladores atualmente, além de prover ferramentas que dêem a ele uma maior flexibilidade para que possa ser usado tanto em vias de falésia quanto em vias de big wall.

Segundo o novo sistema, a graduação de uma via de escalada será composta por uma sequência de termos que, postos lado a lado formando uma espécie de equação , expressariam a dificuldade de determinada escalada. Parte destes termos seriam obrigatórios e parte não, ficando a cargo dos usuários do sistema pinçarem aqueles que melhor se adequem à via que se deseja graduar. São eles: 1. Grau Geral (obrigatório para vias de mais de uma enfiada): Este grau expressa a dificuldade da via como um todo, levando em conta a densidade e qualidade das proteções, o nível de exposição, a exigência física, a duração, a dificuldade técnica média dos lances, a qualidade da rocha e

quaisquer outros fatores que influenciam na dificuldade de uma determinada via. Notação: o grau geral é escrito em algarismos arábicos e não tem subdivisões (ex.: 4º, 5º, 6º,...).

2.

Grau do lance mais difícil

(obrigatório sempre): Trata-se do grau de dificuldade da seqüência mais difícil da via, levando em conta os fatores técnicos e psicológicos. Para vias de menos de uma enfiada de corda este é o único grau obrigatório, e passa a definir a dificuldade da via como um todo. Notação: algarismos romanos. Até o sexto grau há uma subdivisão (sup) e a partir do sétimo grau é dividido em a, b, c (ex.: V, Vsup, VI, VIsup, VIIa, VIIb, VIIc, VIIIa, ...).

3 . Grau do Artificial (obrigatório sempre que houver trechos em artificial): Se houver mais de um trecho em artificial na via, este será o grau do mais difícil. Expressa a dificuldade do artificial, indo de A0 até A5 com uma subdivisão (+). Incorpora duas possibilidades de detalhamento: 3.a. Grau do artificial se feito em livre

(opcional): quando um trecho tradicionalmente feito em artificial pode ser repetido em livre, pode-se colocar entre parêntesis tanto o grau em artificial quanto o grau em livre, separados por uma barra (ex.: A1/VIsup).


3.b.

Número de pontos de apoio

utilizados (opcional): quando o trecho em artificial compreende um número limitado de pontos de apoio usados para a progressão, pode-se indicar a quantidade destes pontos entre parêntesis logo após o grau do artificial (ex.: A3(2), A1(3), A2(3),...).

4 . Grau de exposição (opcional): Expressa o grau de exigência psicológico de determinada via com relação ao espaçamento das proteções na parte em livre da mesma e ao nível de riscos ocasionado por uma queda. Notação: de E1 a E5. É colocado no fim da graduação. E1 - Vias bem protegidas; E2 - Vias com proteção regular (ex.: vias do Morro da Babilônia, na Urca/RJ); E3 - Proteção regular com trechos perigosos; E4 - Vias perigosas (em caso de queda); E5 - Vias muito perigosas (em caso de queda). 5. Grau de duração (opcional): Informa a duração de determinada escalada se repetida por uma cordada normal em condições climáticas normais . É o mesmo aceito internacionalmente, apenas com uma adaptação em relação à notação utilizada. Notação: de D1 a D7. D1 - Normalmente a via requer apenas algumas horas de escalada; D2 - Normalmente requer meio dia de escalada; D3 - Normalmente requer um dia completo de escalada, não importando o seu nível de dificuldade; D4 - Normalmente requer um longo dia de escalada, e em geral o crux não é mais fácil que 5º grau. D5 - Em média toma um dia e meio de

escalada. Normalmente o crux não é mais fácil que 6º grau. D6 - Toma normalmente dois ou mais dias de escalada. Normalmente inclui trechos difíceis de escalada livre e/ou artificial. Alguns exemplos de utilização do sistema são: . 5º VIsup A2 - Via cujo grau geral é 5º, possuindo o crux em VIsup e com um trecho em artificial A2. . 4º VIIa (A1/VIIc) - O grau geral é 4º e o crux é VIIa, podendo subir para VIIc se o artificial (A1) for feito em livre. . VI - Via de apenas uma enfiada cuja seqüência mais difícil é VI. . D6 7º VIII A4+ - Via de vários dias de duração, com grau geral em livre de 7º, crux de VIIIa e enfiada mais difícil em artificial graduado como A4+. . 6º VIsup E3 - Grau geral 6º, crux de VIsup e grau de exposição E3. Assim sendo, uma via pode ter uma graduação tão simples quanto V e tão complexa quanto D2 5º VIIb (A3+(3)/VIIIc) E4 , dependendo da quantidade de informações que se queira ou necessite passar ao se graduá-la. Este sistema está recebendo uma descrição mais detalhada para que possa ser levado às comunidades de escaladores de outros pontos do país para discussão, com objetivo de vir a gerar um sistema nacional. Por Flavio Wasniewski Mediador e Coordenador das três etapas do Seminário. Colaborou com a matéria Flavio Aguiar. Artigo publicado no Boletim da Interclubes Rio.


na

Cordas duplas e gêmeas... Entre todos os equipamentos de montanha, a corda é o que mais simboliza o escalador. Dela depende a vida do guia e do participante. Por isso é muito importante conhecer , escolher e usar corretamente uma corda de escalada. Dependendo do tipo de escalada e dos objetivos do escalador, as cordas podem ser usadas em única ou em dupla. Existem três tipos de cordas dinâmicas, identificadas pela etiqueta na ponta onde estão impressos os símbolos: 1 Corda Simples - usada em única, O

geralmente variam de 9.4 a 11mm de diâmetro. São homologadas em simples com 80kg.

O

½ Cordas Duplas - podem ser

costuradas juntas ou alternadamente (figura 1) e tem o diâmetro variando entre 8.3 e 9mm. São homologadas em simples com 55kg. 8

OCordas

1

Gêmeas s ã o costuradas sempre j u n t a s (figura 2), nunca em ú n i c a . Variam

entre 7.9 e 8.2 mm. São homologa_ das em dupla com 80kg. É super importante não confundir corda dupla (que podem ser costuradas conjuntamente ou não na mesma proteção) com gêmeas (que nunca trabalham em simples, sendo sempre costuradas juntas), pois são fabricadas para funções distintas. Cordas gêmeas não devem ser usadas em única nem para o participante. Se você optar por ter duas cordas tenha certeza que tipo de corda está comprando. Mas qual a vantagem de usar cordas duplas ou gêmeas na escalada, se podemos escalar com uma simples? As vantagens de se ter uma corda gêmea por exemplo são: 1. Leveza: em algumas vias só é possível rapelar com duas cordas, assim d u a s cordas de 8.3mm são bem mais leves que duas de 1 0 . 5 mm.Em qualquer escalada longa ter d u a s cordas 2


pode adiantar muito o rapel.

enfiadas longas.

2. Por segurança: se a escalada transcorre num terreno perigoso, com arestas e blocos que ameaçam a integridade de sua corda e consequentemente sua vida, ter duas cordas significa mais segurança. É mais fácil ter uma corda de 10.5mm rompida do que duas de 8.3mm.

Podemos dizer que são o método mais seguro para terreno inseguro.

As vantagens de se ter uma corda dupla são: 1. Por segurança: assim como as gêmeas, em quedas onde hajam pontas e arestas afiadas a probabilidade de a corda se romper é muito menor. Elas também reduzem o impacto sobre a ancoragem se forem costuradas em única e alternadamente, uma opção aconselhável quando as proteções não estão muito distantes e o fator de queda for inferior a 1. 2. Para agilizar o rapel, pois ao invés de uma corda simples, teremos duas cordas de 50m, podendo descer de qualquer parede muito mais rápido. 3. Por comodidade: diminuiremos o atrito se costurarmos alternadamente (figura 1). Desta Maneira é possível fazer

Outro fator que se deve levar em consideração ao comprar uma corda é a força de choque. Essa é a quantidade de energia que a corda não absorve em uma queda, e que portanto quem recebe é o escalador que cai. A força de choque tem uma relação direta com o fator de queda. Evidentemente quanto mais energia absorva uma corda menos impacto receberá o escalador. Sem dúvida, a força de choque é uma das características mais importantes de uma corda de escalada. A UIAA marca alguns limites máximos para a força de choque que os fabricantes das cordas devem cumprir. Para uma corda simples é de 1200 daN em fator de queda aproximado de 2, com um peso de escalador de 80 quilos e com segurança estática. Para uma corda dupla é de 800 daN em fator de queda 2 com um peso de 55 quilos. Quanto mais baixa for essa força de choque, mais elástica será a corda e todos os elementos da segurança sofreram menos.

"Escale se assim desejar, mas recorde que a força e a coragem não são nada sem a prudência, e uma negligência momentânea pode destruir a felicidade de toda uma vida. Não se apresse, calcule bem cada passo e, desde o começo, pense que este pode ser o último."(Edward Whymper)


Juanjo Alguns feitos: Juanjo é um escalador chileno residente em Santiago e adepto da escalada esportiva. Atualmente é o melhor escalador da modalidade na América Latina, detendo os melhores resultados tanto em competições como em rocha. No seu currículo consta a conquista do tetracampeonato panamericano (válido pela Upame), duas vias de IXc à vista e duas vias de Xc trabalhadas. Das suas façanhas no Brasil, vale a pena citar a via Heróis da Resistência IXc, no Cipó, que ele passou à vista; a via Coquetel de Energia Xc que ele fez na quinta tentativa (incluindo as subidas para colocação de costuras); a via Filezão IXc/ Xa que ele fez à vista (depois de meia hora ou mais agarrado) e a primeira parte do Lágrimas de Sangue Xa que ele fez de segunda. Essas duas últimas vias , localizamse na novíssima falésia da Barrinha, RJ. Já escalou em vários países, entre eles França, Brasil, EUA, Espanha . Seus patrocinadores são: Beal, Garmont, BigPack e Dako.

Como você vê a escalada esportiva na América Latina? Penso que aqui a escalada esportiva esta se desenvolvendo muito rápido, e logo haverão escaladores do Brasil, Argentina, Chile Venezuela, etc. entre os melhores

(Juan Jose Fernandes) Entrevistado por Luis Claudio Pita .

do mundo. Acredito que enquanto a escalada não for olímpica, todos os esforços serão pessoais, e não do Estado. O nível atualmente no mundo é muito alto. Qual a sua previsão para que os sulamericanos estejam competitivos? Hoje em dia já são vários os sulamericanos que participaram pelo menos uma vez da copa do mundo e apesar de não termos tido bons resultados acredito que em 5 anos alguns escaladores da América do Sul poderão estar entre os 20 melhores do mundo. Como é o seu treino atualmente? Meu treino nos últimos 2 anos foi muito mal porque não consegui subir muito de nível, e as principais causas foram a falta de dinheiro e o nível geral da América do Sul, que ainda é baixo. Todo este período estive experimentando muitos métodos de treinamento, e experimentei tantas coisas que no final, subi pouco de nível mas aprendi bastante. Nos últimos 4 meses tenho treinado bem e os resultados já estou sentindo. O que você achou das escaladas no Brasil ?


Gostei muito das escaladas aqui porque é o único lugar na América do Sul, além do Chile, que eu encontrei um alto nível em grau e uma grande qualidade de vias. Outra coisa muito boa são os escaladores brasileiros que são muito motivados como eu. Qual o seu projeto em rocha atualmente? Meu projeto agora é Xa à vista e XIa redpoint (trabalhado) e meu objetivo final é XIIa. Como são as escaladas no Chile? Existem muitas vias de escalada esportiva, que vão desde o quarto grau até Xc e estão concentradas em dois lugares perto de Santiago: Las Palestras e Las Chilcas. Muitas vias boas!!!! De todo o seu volume de treino, qual a porcentagem para muro e para pedra? Eu faço cerca de 80% do treino em muro e mini-muro, 5% em finger board e 15% em rocha, e faço assim porque em muro é mais prático. Eu gostaria que fosse 45% em muro e o resto em rocha. Qual a sua mensagem para aqueles que começam a treinar? A minha mensagem é que se informem

sobre treinamento dos outros esportes (natação, atletismo, etc..) e o apliquem na escalada, mas sem perder de vista que escalar é 50% físico. O restante é técnica, mente, tática, etc... Como você vê o nível dos escaladores brasileiros? O nível geral é muito bom, mas ainda não tem individualidades que ajudem a romper os limites sulamericanos. Nem homens, nem mulheres. É verdade que o governo chileno apoia atletas escaladores? Sim, mas muito pouco. Somente pagam uma passagem anual a 3 escaladores para uma competição panamericana. Melhor via em rocha... ..na França uma via que se chama Lady Heroin , em Grenoble. Meu primeiro 10b. Escalador que admira... ...François Legrand e Yuji Hirayama. Tipo de rocha preferida... ... calcário, porque tem muitas variedades de texturas e agarras. Um lugar no mundo para viver... ...Grenoble na França ou no Rio de Janeiro, apesar de ser perigoso.




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