N o M u n d o Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. - 20261.130 Tel.: (21) 2567-7105 E-mail: fator2@guiadaurca.com www.guiadaurca.com Assinatura anual: R$ 20,00
Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.
Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um instrutor ou guia de escalada em rocha. Caso você não conheça as técnicas de segurança para a prática do esporte, ou possua dúvidas, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. A Fator2 não se identifica necessariamente com as opiniões expressadas por seus colaboradores. Jornalista Responsável: Marcio Carrilho. (20900/122/50)
Distribuição Lojas de equipamento, clubes de montanhismo, academias de escalada, no Jornaleiro da Urca, na Pista Claúdio Coutinho e na entrada do Babilônia, na Urca. Capa: Marcelo Braga escalando na Tailândia. Foto: Mônica Pranzl. Fator 2 - número 29 - 2006
SOS Paulo Macaco Muitos escaladores das gerações mais novas certamente nunca ouviram falar de Paulo Bastos, o Paulo “Macaco”, atleta que teve grande importância nos primórdios da escalada esportiva no Brasil, além de ter se tornado um dos primeiros escaladores brasileiros a se dedicar com afinco à prática do bouldering. Seu estilo de escalar, belo e inconfundível, unanimidade entre os escaladores cariocas daquela época, serviu de inspiração para muitos, embora na época ninguém tenha atingido tal nível de elegância e graça ao se movimentar na rocha. Esse estilo pode ser resumido pelo nome que ele escolheu para uma de suas mais marcantes cadenas: o famoso bloco Expressão Corporal, na Urca, hoje graduado em VIIIc, mas originalmente um IXa. A primeira cadena do boulder Olhos de Fogo (IXa), no Grajaú, depois que o famoso escalador francês Jacky Godoffe quebrou uma agarrachave no crux, também foi feita pelo Paulo, e isso em meados da década de 80! Paulo foi também o primeiro escalador carioca a ter patrocinadores, como a loja francesa Au Vieux Campeur e a marca espanhola de sapatilhas Boreal. Esses patrocínios proporcionavam dinheiro suficiente para se manter, ainda que de forma precária, além de generosas quantidades de material, que ele, com igual generosidade, repartia com seus amigos, parceiros de farra e de escaladas. Infelizmente, sua carreira foi interrompida abruptamente pela
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M u n d o Aids, que, apesar de estar inteiramente sob controle, graças aos modernos tratamentos, deixou uma seqüela dramática no escalador: Paulo Macaco, apesar de bem fisicamente, está completamente cego. Duro golpe, que acabou somando-se a outras tragédias pessoais, mais ou menos na mesma época, mas que mesmo assim não diminuiu o entusiasmo do escalador ao falar do esporte ao qual se dedicou por tantos anos. Na Abertura da Temporada de Montanhismo de 2005, o CERJ rifou uma corda Lanex 9,8mm de 50 metros para ajudar Paulo Macaco, que ainda estava passando por sérias dificuldades financeiras. Na ocasião da mencionada rifa, várias pessoas deram a sugestão de abrir uma conta para o escalador, a fim de que todos pudessem ajudá-lo com doações diretas em dinheiro, talvez o primeiro passo para soluções futuras mais efetivas e práticas.
Recentemente, o escalador Alexandre Faia, sócio do CERJ e vizinho de Paulo, acompanhou-o ao Bradesco, onde uma conta foi aberta em seu nome. “Fiz o primeiro depósito”, diz Faia. “Quem puder depositar mensalmente, ou a cada dois, três, seis ou doze meses, um valor mínimo de R$ 10,00, vai Paulo Macaco na via Urubu Sacana, na ajudá-lo muito. Ele contribuiu para o desenvolvimento do esporte aqui no Pedra do Urubu. Foto: André Ilha Rio, além de ajudar alguns escaladores. Agora é o momento de retribuirmos”, completa. Os dados são: Banco Bradesco, agência 0226-7, conta poupança 1006182-2, em nome de Paulo C. Bastos. Em caso de DOC, o CPF é: 758.950.727-04. Quem tiver outras idéias para ajudar, sejam bemvindos! Fonte: André Neves - www.viacrux.net.
Competições CBME 2006 Confira o calendário de competições a partir de julho deste ano: Julho:
dia 9 - Boulder Sorocaba, dia 16 - Dif. Sorocaba (SP), dia 22 - Brasileiro (MG), dias 29 e 30 Boulder Muro Setor Leste (DF), dias 22 e 23 - Dificuldade – Florianópolis (SC).
Agosto:
dias 12 e 13 - Open Bote Pq Juventude, dias 19 e 20 - Open Boulder Pq Juventude, dia 19 - V Boulder CP Morumbi (SP), dias 26 e 27 - Boulder Ibiti (DF).
Setembro:
dia 17- Final Dificuldade CP Perdizes (SP), dias 23 e 24 - Brasileiro (RS), dias 9 e 10 - III Boulder (MG), dias 30 e 1º - II Campeonato Centro Oeste EE (DF e GO), dias 16 e 17 - Dificuldade Joinville (SC).
Outubro:
dia 28 - Dificuldade CP Perdizes (SP), dia 21- Brasileiro (PR), dia 14 - Interior à confirmar (MG).
Novembro:
dia 30 - Boulder CP Morumbi (SP), dia 4 - Brasileiro (RJ), dia 25 - Gaúcho de Boulder (RS), dias 25 e 26 - IV - Dificuldade (MG), dias 4 e 5 - Dificuldade em Florianópolis (SC).
Dezembro:
dia 9 - Final Brasileiro CP Perdizes (SP).
Mais de detalhes e informações podem ser vistas nos sites: www.femerj.org e www.apee.com.br
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Encadenando IXb Na virada do ano os brasileiros agitaram o sul do continente. Muitas escaladas na Patagônia chilena e argentina, além de Bariloche. Entre os brazucas que estiveram por lá, a paranaense Francine Machado, que escala há 11 anos, fez dois IXb no Valle Encantado, do outro lado do Rio Limay: as vias Nayawaliky e Palta. Francine é atualmente uma das poucas escaladoras brasileiras a encadenar vias de nono grau. Já tem três em seu currículo. Seu primeiro IXb foi a Nostradamus, no Anhangava (PR), e desde que começou no esporte tem se destacado em muitos campeonatos. Atualmente, Francine conta com patrocínios da Conquista, Campo Base e Prefeitura Municipal de Curitiba. Também no Valle Encantado, o gaúcho Thiago Balen, 24 anos, mostrou todo o seu talento ao encadenar a Directa Challenger (XIa) e se tornar o primeiro brasileiro a escalar este grau. Thiago é um dos melhores escaladores esportivos do Brasil e tem um currículo invejável, com vias como o Coquetel de Energia (Xc), Mr. Bill (Xc) e Massa Crítica (Xc), no Rio de Janeiro; e Sombra e Escuridão Karma (Xc), na Gruta da Terceira Légua, em Caxias do Sul (RS). Além disso, nessa viagem, Balen fez Navawaliki, IXb (à vista); Palta, IXb; Ritual Primata, IXc (à vista), Chococroco, IXc; 19 noches e 500 dias, Xa; e Buen Viaje, Xc. Thiago tem o patrocínio da Bigwall, Equinox e Solo.
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Parapente no Pico Maior de Salinas No dia 5 de maio de 2006, Pedro Werneck e Eduardo Luna escalaram a clássica via Leste, no Pico Maior de Salinas, em Nova Friburgo (RJ). No mesmo dia, seus amigos Cassiano e Gustavo Telles escalaram a mesma montanha, mas pela via Arco da Velha. Até aí, nada de novo. O fato inédito ficou por conta da descida de Pedro, feita não em rapel, mas num vôo de parapente. Como disse uma vez o escalador Silvio Neto, “será o fim do rapel?”. Depois de analisar as condições de vôo, longe das ideais, com vento sudoeste forte, Pedro ficou indeciso. “O ideal é decolar e pousar contra um vento de 5 km/h a 15 km/h. Não estava com um anemômetro, mas o vento me parecia certamente acima dos 20 km/h”, lembra o escaladorvoador.
Pedro Werneck preprando-se para o salto. Fotos: Eduardo Luna.
Mas, com ajuda dos amigos, que seguraram a vela do Pedro Werneck durante o vôo. parapente, ele conseguiu decolar. “Olhei o parapente e inflei a vela, que subiu perfeita, linda como nunca. Um leve comando nos freios e mal tive tempo de me virar. Não cheguei a dar um passo sequer e já fui ejetado para cima, como uma bala. Tudo isso em menos de dois segundos!”, comenta, entusiasmado. Werneck fez um pouso perfeito no haras próximo da estrada Teresópolis – Friburgo. Um detalhe interessante é que o parapente utilizado por Pedro é especial para alpinistas, pesa apenas 4,5 kg e cabe numa mochila de 30 litros. Nada mal em comparação com o equipamento padrão, que pesa de 15 a 25 kg. O relato completo sobre este salto pode ser lido em www.guiadaurca.com.
Histórias de Montanhismo Foi lançado no dia 27 de maio, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, durante a IV Semana da Montanha, o livro “História do Montanhismo no Rio de Janeiro” (Editora Montanhar), de Waldecy Mathias Lucena, que mostra a evolução do esporte dos seus primórdios no Brasil até a década de 1940. Nele mostram-se as técnicas e materiais empregados na escalada ao longo de sua evolução, além de fatos e curiosidades que marcaram o passado das ascensões às montanhas. Mas, principalmente, o leitor conhecerá os verdadeiros heróis, muitos anônimos ou esquecidos ao longo do tempo, que escreveram a história do montanhismo carioca. Com 220 páginas e 156 fotografias, trata-se da primeira obra sobre o tema a ser publicada no país. E no dia 21 de junho outro lançamento de livro aconteceu no Museu da República, no Rio. É o “Horizontes Verticais”, do escalador veterano Jean Pierre Von Der Weid. Neste, ele reúne relatos e reflexões sobre montanhismo e escalada. Para quem não se lembra, Jean Pierre é um dos escaladores que conquistou, em 1972, a via Lagartão no Pão de Açúcar. Na época uma das vias mais difíceis do Brasil. Mais informações em: www.guiadaurca.com Página 6 - Fator2
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Recordes na temporada 2006 do Everest Com o fim da temporada de primavera 2006 no Everest, que vai de fins de março a meados de junho, época em que todos os anos se concentram a quase totalidade das expedições que tentam o cumem da montanha, tanto pelo lado tibetano quanto pelo nepalês, novos recordes foram registrados. Além de recordes, muitas curiosidades merecem registro. Infelizmente, como acontece todos os anos, também houve mortes, entre eles a do brasileiro Vitor Negrete, já durante a descida, após ter chegado ao cume sem uso de oxigênio suplementar, no dia 18 de maio.
Vitor Negrete. Foto: Webventure.
§ Na abertura da temporada 2006, o Everest já contava com 2.557 ascensões. Devido às ótimas condições de tempo nesta temporada, 194 ascensões (sendo 104 de sherpas) já haviam sido confirmadas apenas pelo lado nepalês até o fim de maio. Espera-se fechar o ano com 3.000 ascensões ao Everest, uma vez que algumas expedições tentam o cume na temporada secundária de setembro/outubro. § Membros de uma expedição inglesa chegaram ao cume do Everest, pelo lado tibetano (norte), após pedalar 8.000km desde o Mar Morto, 400m abaixo do nível do mar. § A dupla Tomas Olsson (Suécia) e Tormod Granheim (Noruega), após chegar ao cume, no dia 16 de maio, desceu esquiando pelo corredor norte (grand couloir). Num trecho rochoso e sem neve, foram obrigados a rapelar. Olsson, com os esquis ainda presos aos pés, abriu o rapel e acabou caindo e perdendo o controle. Seu corpo foi achado quatro dias depois. § O neozelandês Mark Inglis tornou-se o primeiro biamputado a fazer cume no Everest. Ele perdeu as duas pernas após um sério congelamento nas montanhas de seu país. § A médica paulista Ana Elisa Boscarioli, 40 anos, tornou-se a primeira brasileira a fazer o cume do Everest, no dia 19 de maio. Neste único dia, 26 pessoas fizeram cume, entre elas Apa Sherpa, que chegou ao cume do Everest pela 16ª vez, quebrando o seu próprio recorde de ascensões. Ele declarou que em 2007 quer fazer o seu 17º cume do Everest – o primeiro foi em 1990 (www.anaboscarioli.com.br).
Ana Boscarioli. Foto: Eduardo Jahjah
§ No dia 18 de maio, a jornalista polonesa Martyna Wojciechowska, 32 anos, chegou ao cume do Everest. Ela já foi capa da revista Playboy no seu país e estrelou filmes pornôs. § O japonês Takao Arayama, 70 anos, tornou-se o homem mais velho a chegar ao cume do Everest. O recordista anterior, Yuichiro Miura, também japonês, fez o cume em 22 de maio de 2003 aos 70 anos e sete meses de idade, apenas três dias mais novo do que Arayama.
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Ana Bocaroli. Foto Arquivo pessoal.
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§ Ang Dawa Sherpa bateu o recorde de velocidade da travessia entre os dois campos-base do Everest, no dia 22 de maio, levando 20 horas para ir do lado tibetano ao nepalês. § Pelo menos 11 mortes foram confirmadas nesta temporada até o fim de maio, sendo três sherpas, fazendo desta a pior temporada desde 1996, quando 12 pessoas morreram na montanha. No total, 203 pessoas já morreram no Everest, a grande maioria sherpas. Por Marcio Carrilho
Dedo de Deus em duas horas! O montanhismo brasileiro tem evoluído, não só na dificuldade, mas na velocidade. Muitos escaladores tem treinado e feito boas façanhas, escalando várias vias em um mesmo dia ou uma no menor tempo possível. Dia 28 de fevereiro foi a vez do escalador Cassino Ramos, que já vinha treinando para a empreitada. Ele escalou o Dedo de Deus, pela via Maria Cebola, saindo da “santinha” (ida e volta) em nada menos que duas horas e vinte minutos, usando apenas sapatilha e magnésio. “O único risco que corri até agora foi solar com outras cordadas acima, uma delas deixou cair um freio oito que por pouco não atingiu minha cabeça, por isso agora não escalo sem uma distancia segura de outras cordadas.” – conta ele. Para realizar o feito, Cassiano solou algumas vezes a via usando bouldrier e solteira e rapelando os trecho mais significativos até se sentir seguro. Porém no dia subiu e desescalou pela face leste, via Maria Cebola. Isso é que é escalada limpa!
Entrevista com Marcelo Braga por André Neves (www.viacrux.net)
O carioca Marcelo Braga não é um super escalador. Suas fotos não estampam as capas de revistas de escalada nacionais, tampouco seu nome recheia os guias de escalada como frenético conquistador de vias e seus feitos no mundo vertical não correm de boca em boca Brasil afora. E por que então demônios uma entrevista com um escalador que não deixou um legado brilhante de vias conquistadas, não encadenou as vias mais difíceis do Brasil, não sofreu nenhum acidente em montanha horrendo ou outra coisa qualquer que o fizesse interessante para os olhos ávidos dos leitores dessa revista? Queremos sangue! Imagino o leitor bradando com a revista em punho. A resposta é simples: porque Marcelinho, como seus amigos o chamam, fez parte da “era de ouro” da escalada em rocha no Rio de Janeiro (e do Brasil) que teve início na década de 80. Ele participou de uma geração talentosa e cheia de entusiasmo e ousadia, cujas realizações elevaram o nível da escalada brasileira de modo considerável, meio estagnada até então, se comparada ao cenário internacional. Querem exemplos? Foi ele quem viabilizou as ressolas profissionais no país, introduziu as letras “a”, “b” e “c” na graduação brasileira e ainda faturou o 1º lugar no primeiro campeonato de escalada da América do Sul, o Sul-americano realizado em 1988 em Córdoba, na Argentina. Ele também participou da conquista da primeira via esportiva de sétimo grau do Brasil, o Ácido Lático, e criou possivelmente o primeiro boulder de oitavo grau no Brasil, o clássico Arestim, ambos na Urca. O escalador foi desse seleto grupo certamente um dos mais fissurados e fominhas, porém acabou não se dedicando integralmente ao “métier”, como atletas do porte de Alexandre Portela, Sérgio Tartari, Paulo “Macaco”, para citar somente alguns dessa incrível geração. Marcelinho tomou outro rumo, que permitiu que ele chegasse aos 41 anos de idade ainda “comendo pedra” e que ainda pode servir de exemplo para essa nova geração de “fominhas” da escalada. Esse caminho certamente contribuiu para que ele chegasse perto dos 40 anos conseguindo encadenar, em uma única tarde, um circuito respeitável de vias na Serra do Cipó que incluía as vias Especialidade da Casa (VIIIb), Morfina (IXa/b), Sombras Flutuantes (IXb/c), Heróis da Resistência (IXc) e Linha da Vida (Xa). 1) Marcelinho, eu juro que tentei, mas não consegui fugir da pergunta-clichê clássica: quando e como você começou a escalar? Eu comecei oficialmente em 1978, aos 13 anos, quando ingressei no Centro Excursionista Rio de Janeiro, mas na realidade já tentava escalar desde os dez anos. Os primeiros
anos de aventura na pedra foram tão especiais que são os que eu guardo com maior carinho, e dá pra ficar aqui falando horas. Eu morava de frente para a face do Morro do Cantagalo que dá para Copacabana e por volta dos dez anos comecei a tentar escalar o morro com a molecada da rua, especialmente com o meu vizinho, o Carlos Alexandre. Foram várias investidas, e em cada uma conseguíamos progredir um pouco mais, escalando por dentro de uma chaminé para tentar chegar em umas pilastras de sustentação perto do cume. E isso tudo a gente fazia sem corda. Éramos uns 4 ou 5 moleques de pouco mais de dez anos de idade. Cada vez que progredíamos mais era uma emoção danada, devido à euforia de estar desbravando um terreno novo, como cavernas que só víamos em filmes, e a dúvida que pairava sempre: será que vamos conseguir descer? Depois de mais de um ano tentando subir, nos vimos empacados no último platô da chaminé, já perto das pilastras. De lá parecia impossível alcançá-las. Foi então que conhecemos um trio de escaladores que nos amarrou e nos levou até às pilastras. Eles deviam escalar um terceiro grau ou quarto no máximo, mas para nós eram os melhores “alpinistas” do mundo. Depois disso nós compramos uma corda de sisal e utilizamos um baudrier velho que encontramos jogado na chaminé, e tentamos copiar a técnica que havíamos visto os “alpinistas” utilizarem. O único problema é que não sabíamos dar segurança e não tínhamos aquelas “argolinhas” que eles usavam para passar a corda no grampo. Então improvisamos: vários moleques ficavam sentados em trenzinho segurando a corda com a mão, enquanto o “moleque-guia” ia na frente. Quando chegava no grampo, ele se desencordava, passava a corda no olhal e se encordava novamente, para prosseguir “com segurança”. Depois que conseguimos chegar na pilastra sem a ajuda de ninguém, só nos restava o grande desafio: chegar ao cume. Descobrimos então uma espécie de caverna com uma chaminé que dava em um buraco que aparecia do nada no meio do cume. Quando conseguimos chegar ali não
acreditamos. Com certeza chegar ao cume do Cantagalo foi na parede. Pode começar a contar, vamos satisfazer o a maior glória da minha carreira de escalador. É lado sensacionalista dos leitores. Agora queremos sangue impressionante como tudo se resume a uma questão de mesmo! proporção. Aquilo para uns moleques de 12 anos se Várias m... também não! Algumas! A principal m... de que aventurando sozinhos era mais desafiador que o Everest para eu me lembro, eu coloquei em risco a vida do cara que eu muitos hoje em dia. estava assegurando e a minha. Eu estava na base do 2) Vem cá, como é que nenhum de vocês foi dessa para Andrômeda dando segurança para o Predrag Pancevski, um melhor nesse período todo? iugoslavo do CEC, que estava trabalhando a via com corda Um dos moleques bem que tentou! Para descer nós de cima. Era do tempo em que a segurança ainda era “de utilizávamos o sistema que hoje conhecemos como ombro”, e o cara estava alugando, demorando horas, quando “baldinho”. Esse sistema funcionou bastante bem todas as eu decidi subir uma rampa para uma grutinha mais em cima, vezes, exceto uma, em que um moleque “menos experiente” onde estava o rango. Eu sentei no chão e me posicionei bem, largou a corda e despencou pela chaminé, caindo uns quinze e ainda pensei: tenho que ficar esperto se não ele pode cair metros. Foi horrível, ele ficou com a cara meio deformada e e me arrancar daqui! Aí ele caiu e eu segurei meio tranqüilo. cheio de hematomas, mas por sorte nada de mais grave Comecei então a comer uns biscoitos e o desgraçado caiu de novo. Como eu estava meio relaxado aconteceu. fui arrancado da gruta e comecei a 3) E finalmente veio a escalada “de pendular no ar, uns sete metros, até dar verdade”. uma porrada com as costas na pedra, Depois de vencer o Cantagalo, que havia que arrancou uma lapa de pele, e sido o nosso sonho por vários anos, continuar pendulando mais uns sete estávamos nos sentindo “os fodinhas”. metros, ficando a mais de dez metros do Foi então que vimos um dia uns chão. Isso tudo segurando a corda por escaladores subindo em direção à pedra debaixo dos sovacos e com a boca cheia e falamos: “vamos lá mostrar para de biscoito. Quando voltei do pêndulo a aqueles manés como é que se escala!” galera ajudou a segurar a corda e a Quando chegamos lá encontramos o descer o iugoslavo, que tava lá em cima Maurício Mota (era um dos melhores sem entender nada, vendo o segurança escaladores da época) e o José Garrido dele voar de um lado para o outro. Mas subindo uma fenda impossível, a Fissura eu não deixei cair nem o iugoslavo nem Guilherme, entalando um bando de o biscoito que estava na boca! “coisinhas” nela e utilizando umas 6) E já que estamos falando em fazer escadinhas para progredir. A gente ficou m..., que estória é essa de escalar sem impressionado com aquilo e percebeu as mãos?! Pelo visto você era o maior que ainda não sabia nada. Eles nos entusiasta desse, vamos dizer assim, deram então o endereço do CERJ, e a Marcelinho de conguinha na via “estilo”. A Mônica me contou que você partir daí, com 13 anos, comecei a Urbanóide, no Cantagalo. entrou assim na via Pássaros de Fogo escalar oficialmente. no Pão de Açúcar e a escalada, 4) O seu início na escalada foi praticamente igual aos desnecessário mencionar, culminou em uma terrível “vaca dos escaladores da sua brilhante geração na década de rodopiante”? 80: fez muita escalada de aventura, conquistas no mais Bom, na verdade sempre que eu já havia feito um lance várias puro estilo feitas de baixo para cima, e algumas com vezes em uma via, para treinar e aumentar o desafio, eu lances corajosos como a popular Urbanóides no Morro tentava fazê-lo com uma mão só. Nesse “estilo”, eu já havia do Cantagalo (que hoje em dia até se encontra conseguido guiar a reta da via Ás de Espadas (VIsup/VIIa) e intermediada em alguns trechos) e a Aves de Rapina, no fazer a reta do Alfredo Maciel (VIIc), participando, ambas Pão de Açúcar. O seu destino parecia traçado para ser também no Pão de Açúcar. Quando fomos ao Pássaros de um escalador profissional, todos os pré-requisitos estavam Fogo (6º VIIa) a galera botou pilha e falou: “quero ver é você lá, mas esse não foi o rumo que você tomou. O que foi fazer isso aqui sem as mãos”. Eu topei o desafio e já ia que aconteceu? começar a escalar de top rope quando eles disseram: “pera Eu era totalmente viciado em escalada, tanto que demorei aí, deixa a gente amarrar para ter certeza que você não vai oito anos para concluir a faculdade de engenharia, mas usar as mãos”. Eu dei mole e deixei, e quando comecei a aquele vício me incomodava. Tem gente que gosta de viver tentar o lance vi que as mãos amarradas tiravam intensamente o presente, desfrutar todas as emoções possíveis, completamente o equilíbrio. Eu percebi que não dava e tentei sem se preocupar muito com o futuro. Eu sempre procurei soltar as mãos, mas não consegui. Ainda reclamei: “porra! dosar os dois: presente e futuro (que possivelmente será o vocês amarraram muito forte”. E o Gabriel Fonseca presente de amanhã!). Lembro-me que na época conversando respondeu: “queria que eu amarrasse fraquinho? Há, Há, com o Alexandre Portela eu perguntei: você não tem medo Há, Há, Há!” Eu ainda tentei dar mais um passo, e como o de chutar o balde, parar de estudar? E ele respondeu “o lance era meio em diagonal, eu caí rodopiando, com as mãos futuro a gente não sabe, de repente eu morro num desses amarradas nas costas. O pior foi ficar depois dependurado meus solos por aí, e então?” Eu de certa forma invejava essa que nem um babaca, esperando os caras pararem de rir galera que só escalava, pois era o que eu gostaria de estar para me soltar. fazendo, mas minha personalidade mais racional me levou 7) Uma curiosidade: ouvi dizer que você era um dos para outro caminho. Hoje, tenho certeza que está todo mundo maiores especialistas em escalar com o fatídico satisfeito, que todos fizeram a escolha certa, cada um Conguinha, chegando a fazer lances de 7c/8a com eles, respeitando a sua personalidade. o que ninguém na época, conseguia fazer, e certamente 5) Você era considerado escalador corajoso nessa época nunca mais vão fazer hoje em dia. Isso me faz pensar e o seu “tempo de vôo” na rocha não deixa mentir. Vôos com vergonha da minha geração, que tem a sua fantásticos no Lagartão, na Patrick White, etc. E ainda disposição um arsenal moderno e variado de botas com tinha tempo de fazer, vou te entregar agora, várias m...
os mais diversos solados, e ainda reclama que “não fiquei 40 dias acampado e escalando no deserto de Joshua mandou tal via, porque a botinha era uma porcaria!”. Tree, na Califórnia, onde conheci um maluco que vivia de Eu gostava muito de escalar de Conga. Quando eu comecei ressolas. Em 1990 vieram uns espanhóis para cá e me falaram ele era o calçado mais popular para escalar. Depois veio o da “goma cozida” espanhola, que era utilizada pela Firé, e Kichute de trava raspada, e depois que a borracha dele que foi descoberta acidentalmente utilizando-se resto de pneus começou a ficar plastificada, a galera voltou para o Conga. de avião para ressolar as sapatilhas. Como eles falaram que Na verdade as sapatilhas de escalada da época eram mais a borracha lá era muito barata, e eu era louco para escalar precisas e melhores que o Conga, mas a diferença não era na Espanha, pedi uma grana emprestada para minha mãe tão gritante. Para você ter uma idéia, em 1984, quando fui para fazer a viagem, escalar e trazer a tal da borracha. Voltei conquistar a via Ladeirão, nas Aderências do Sumaré, fiz a então com uma porrada de tiras de borracha na mochila, e caminhada nos costões de aproximação com um tênis All arrumei um sócio que, apesar de não ser um mago das Star. Quando coloquei a minha EB (lendária marca de botinha, ressolas como o Fabiano “Ressolas”, fazia um bom trabalho, que iniciou a revolução da escalada em livre) para começar e assim iniciamos o negócio. Poucos meses depois já havia a escalar, percebi que a aderência do All Star era melhor pago à minha coroa o dinheiro da viagem. que a dela. Tirei então a EB e conquistei tudo com o All Star. 11) E o primeiro campeonato de escalada da América do Somente quando apareceram os solados revolucionários de Sul, o sul-americano em Córdoba na Argentina em 1988, goma cozida (que ainda são bem menos aderentes que os como foi? Muito diferente das competições modernas? da Vibram e da Five Ten) é que ficou impraticável persistir no Totalmente diferente, para começar foi feito em rocha, como Conguinha, mas eu tenho saudades dele e ainda vou comprar era mais usual na época. Só a ida para o campeonato já foi um para recordar. uma aventura. Tivemos que pegar um avião para Buenos 8) Ouvi dizer que por puro hábito tinha galera que Aires e outro para Córdoba, e depois um ônibus que nos costumava até ressolar seus queridos Kichutes com sola levou para a Serra de Los Gigantes. De lá começamos quase Five Ten! E conte-nos sobre a inacreditável “sopa de bota”. à noite a caminhada para o lugar da competição, um lugar Não consigo imaginar alguém fazendo isso hoje em dia. meio mágico perdido no meio das montanhas, só que nos perdemos e caminhamos madrugada adentro, com tempo Não é sopa não, é chá de bota! Sei não, chuvoso, até desistir e ter que bivacar. eu acho que deve ter gente ainda fazendo Hoje em dia, basicamente pegamos um esse chá. Antigamente tinha gente que carro e vamos competir em um ginásio dizia que o tamanho de bota ideal era o qualquer de escalada. Tínhamos uma menor tamanho que você conseguisse imensa curiosidade de participar e ver vestir. As botas eram tão apertadas que como seria um campeonato de escalada, a gente fazia tipo um chá, as pegando coisa que já acontecia de modo pelo cadarço e mergulhando na água espetacular na Europa e nos EUA e que bem quente. Depois, as calçávamos e nunca havíamos visto de perto. Tinha ficávamos andando pela casa para gente do Chile e outros países. Do Brasil amaciá-las. Uma verdadeira tortura, mas fomos Marcelo Ramos, Serginho Tartari, funcionava! Depois tomava o chá e ainda Alexandrinho Portela, Ronaldo Franzen (o dava onda! “Nativo”) Júlio “do Bote” (Nogueira), 9) E , seguindo a tendência talvez o Dalinho Zippin Neto e eu. Os internacional, foi justamente nessa fase brasileiros foram os melhores na do Conga e do Kichute em que várias competição, mas para variar fomos vias clássicas foram “mepadas” por “garfados” pelos argentinos. Na final era vocês, tais como a Waldo e a Lagartão para ter entrado três brasileiros e um no Pão de Açúcar. A própria argentino, mas os argentinos “garfaram” Marcelinho no Teto Nosferatus, “impossível” Fissura Guilherme (um o Alexandrinho para poder colocar nela Ácidos, Urca. sétimo grau), que você mencionou dois argentinos e dois brasileiros. Eu era aqui no início da entrevista, acabou um dos brasileiros e consegui fazer uma sendo mepada pelo Sérgio Tartari em 1983. costura que o argentino Sebastian de la Cruz não fez, mas a A MEPA (Máxima Eliminação de Pontos de Apoio), conceito organização disse que o vento balançou a costura e o criado pelo André Ilha, é um conceito hoje ultrapassado e atrapalhou e deram assim o primeiro lugar empatado para que a maioria desconhece, porque, fora da escalada artificial, os dois. “Los hermanos” são foda, mas mesmo assim ninguém mais escala usando apoios. Porém, na época em conseguimos colocar cinco brasileiros entre os sete primeiros que todo mundo escalava pisando em grampos, ela foi colocados. Bons tempos! revolucionária e de suma importância, virando uma verdadeira 12) Hoje em dia fale-se muito da palavra “treinamento” febre e modificando a forma como as pessoas escalavam. em escalada, principalmente quando o assunto é Com a MEPA, graus mais altos também foram aparecendo, e escalada esportiva de dificuldade. Na década de 80, as vias passaram a ser “encadenadas”. Sem saber, o André quando as primeiras vias desse gênero começaram a surgir Ilha estava também plantando a semente da escalada esportiva aqui no Rio um treinamento mais específico se tornou no Brasil. necessário. Pelo que sempre ouvi dizer, vocês não tinham 10) Ao fazer uma pesquisa com a galera para essa muitas opções, porém criatividade não faltava (e pelo entrevista, tive várias surpresas e uma delas foi saber visto burrice também!). que você foi quem iniciou a ressola de sapatilhas de É verdade. A gente não tinha nenhuma noção de treinamento, escalada no Brasil, hoje em dia prática mais do que e não havia muros. Então improvisávamos: começamos a comum. E pelo visto estamos fazendo um verdadeiro fazer barras, pois além das temidas barriguinhas no meio tratado sobre a evolução das sapatilhas no Brasil! das vias, verdadeiros lances negativos começavam a É mesmo. Olha, antes das ressolas, era um verdadeiro surgir. Depois “evoluímos” para barras em batentes de suplício. Quando a bota furava, a gente trocava os pés, porta. Lembro-me de um dia em que me empolguei e disse: colocava o esquerdo no direito e vice-versa, e escalava “Agora vou bater meu recorde”. Aí enfiei a mão no magnésio parecendo um curupira! Em 1987 eu viajei para os EUA e e, sem nenhum pré-aquecimento, fiz 22 barras seguidas no
batente porta. No dia seguinte acordei com o dedo anular Leozinho chegando para mim e dizendo: ‘aí, mãe, tô indo todo dolorido. Depois de dias com a mesma dor comentei com a galera para Salinas’. Salinas é o cacete, pode com alguém: ”Estou com uma dorzinha chata aqui no dedo ficar quieto aí, moleque!” que não passa”. E o cara respondeu: “Ih, eu também já tive Eu acho que o moleque é quem vai decidir se vai ser escalador essa dor e ela demorou para caramba para passar!” ou não. É um absurdo o pai ou a mãe dizer pro filho que ele Estávamos sem saber sendo apresentados à famigerada não pode escalar ou que vai ter que ser escalador. Eu não “tendinite”, que até hoje vem me visitar de vez em vou dizer nada! A única coisa que vou fazer é, quando a mãe quando! Bom, depois evoluímos um pouco para o estiver trabalhando, pendurar a mamadeira em cima do muro treinamento em muros da cidade, como o do viaduto do de escalada e dizer para ele: “Para mamar vai ter que fazer o Pasmado, onde de vez em quando aparecia um guardinha, boulder!!!” sem entender nada, pois via uns malucos escalando um muro que não tinha nada em cima para roubar. Finalmente, no 17) Engraçado, ficamos falamos muito de coragem nessa começo da década de noventa, começaram a aparecer os época, mas esquecemos de mencionar os momentos de puro terror. primeiros muros caseiros, como o meu Que foram muitos! Havia na época e o do Pita, esses sim foram uma escaladas que eram verdadeiros mitos, verdadeira evolução. E com os muros quase que monstros sagrados, que caseiros finalmente a idéia de tiravam o sono de todo mundo, como treinamento tomou uma forma mais as vias Lagartão e Patrick White. No meu séria e eficiente. primeiro Lagartão, que fui com o 13) Até início da década de 80, a Giovani Tartari quando tinha 15 ou 16 tabela de graduação de dificuldade anos, a via ainda era considerada das das vias dos poucos guias de mais difíceis do Brasil, mesmo pisando escalada brasileiros parava no sexto em todos os grampos. Ainda era época grau. Você foi o escalador que do Conga e da segurança de ombro. “criou” o sétimo grau no papel aqui Antes da metade da via ele começou a no Brasil, atribuindo essa passar mal, baixando a pressão como graduação a vias já existentes. se fosse desmaiar, e falou que eu iria Como foi isso? ter que guiar tudo. Quando eu olhava Quando comecei a escalar, o sexto para baixo, via aquele cara dando grau era o limite. Não havia nada segurança “de ombro”, meio zonzo, mais difícil do que isso... quase desmaiando. Passei por medos horríveis! O pior deles foi quando estava 14) Você é ainda por cima casado no lance dos cristais da via e não com uma escaladora e uma das conseguia parar de lembrar da lenda melhores do Brasil, a Mônica Pranzl. que dizia que o Pedro Caliano, um cara Sempre a escalada, até no de 1,90m, havia caído nesse lance e casamento, que parece perfeito Na via Linha da Vida (Xa), Serra do tinha ainda tido tempo de gritar para um escalador, não? Cipó, MG. “Garante, garante, garante” (três Não podia ser melhor! Ela topa vezes!) enquanto voava. Eu tremia tanto qualquer parada e de vez em quando que até o Totem do Pão de Açúcar deve ter tremido junto. arma até um top rope para mim! Depois de umas onze horas de escalada chegamos ao cume. 15) Agora você é pai do Leo. Alguma coisa muda na sua vida de escalador com isso? A da Mônica pelo menos 18) É melhor pararmos aqui, senão essa conversa não momentaneamente mudou. Dizem que a coitada, exausta, vai ter fim. Vamos terminar com outra pergunta clássica então: tem algum recado para mandar para a galera nova não mais prega o olho! que está começando? É verdade. A bichinha tá ralando que nem uma cenoura! Mas eu espero que um dia a família possa toda sair para Que não se arrisquem muito e se divirtam bastante na escalar junta. Enquanto isso não acontece, que Deus abençoe escalada, pois é o melhor esporte do mundo! as babás! Marcelo Braga é apoiado pela Equinox e pela Fabiano Ressolas. 16) Aliás, a Mônica, logo quem, já declarou que nem Essa entrevista foi publicada na Revista Headwall nº 12, Dezembro quer saber de ter filho escalador. Ela disse “Imagine o de 2005 e gentilmente cedida por Filippo Croso.
T é c n i c a Não perca seu Oito!
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ssa é uma dica para quem usa o Oito e, com razão, fica com medo de perdê-lo no meio de uma via. Toda vez que precisa montar a segurança ou o rapel, você tira o Oito do mosquetão de rosca para poder passar a corda por ele e depois tem que prendê-lo de novo. É nessa hora que às vezes bate um nervoso, pois por alguns instantes o Oito fica solto na sua mão. Vários freios já voaram parede abaixo. A dica é deixar o Oito preso no mosquetão, sempre pelo buraco maior, de cabeça para baixo (foto 1). Na hora de passar a corda, seja para segurança ou rapel, não é necessário tirar o Oito do mosquetão. Passase a corda por dentro do buraco grande e depois por trás do 1 2 menor (foto 2 e 3). Exatamente como se faz normalmente, só que agora ele está preso ao mosquetão de cabeça para baixo (foto 3). Então é só tirá-lo do mosquetão. Ele não vai cair porque está preso na corda (foto 4). Prende-se o freio pelo buraco menor no mosquetão (foto 5), fecha a rosca e confere se o mosquetão está preso ao loop, e pronto. Para desmontar é o mesmo procedimento, ao contrário. Tira o Oito do mosquetão, prende pelo buraco grande e depois tira a corda. Por Flavio Daflon.
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R a l f C ô r t e s O p i n i ã o
Um bom fin al de sem an a Uma das maneiras mais divertidas de se curtir a escalada em rocha é desbravar os arredores e se impor novos objetivos, ou seja, fugir um pouco daquela rocha repetidamente escalada, daquela via insistentemente tentada e daqueles ares já muito respirados. Um bom exemplo é a cidade do Rio de Janeiro, que, com seus muitos campos-escolas de escalada, e pelo fato de ser uma metrópole, apresenta estes locais freqüentemente lotados de escaladores famintos pelos mesmos objetivos. Pulando de um point de escalada para outro, entre as muitas opções oferecidas pela cidade, conforme os desejos de cada um, uma forma de curtir novos ares, vias e rochas - e até pessoas - é rodar alguns quilômetros e chegar à serra: Petrô, Terê, Friburgo, Itatiaia... São dezenas de lugares com diferentes atmosferas e um pouco menos de fumaça, dando a possibilidade de se criar mais objetivos, ou seja, mais diversão, e, de repente até, outras logísticas, enriquecendo a bagagem pessoal e proporcionando produtivos finais de semana, feriados ou férias. Isso também vale para os outros estados. E a diluição?! Além de tudo isso - precisa mais? -, estaríamos fomentando uma campanha silenciosa pela diluição dos picos de escalada, aliviando as bases e as vias mais freqüentadas. Isso significa um passo positivo na evolução do nosso
esporte, que cada vez envolve mais cabeças pensantes, sem necessitar de discussões ou decisões oficiais, fruto apenas de um movimento natural. Com tantas montanhas e tantos escaladores, por que não explorá-las - usando de bom senso, claro! - e enriquecer nossa atividade?! Se cada conquistador adotasse uma pedra, seja uma montanha, falésia ou uma área de boulders, mesmo que esgotando suas possibilidades - o que acho difícil -, a comunidade escaladora teria uma maior variedade de objetivos, lembrando sempre que o “cara” não trabalha sozinho, e que as linhas, enquanto não abertas, estão disponíveis há muuuito tempo a todos os verdadeiramente interessados na coisa. Devaneio... Imagine-se saindo do trabalho numa sexta-feira e indo direto para um refúgio na serra, o material já todo arrumado. Chegando lá, toma-se um banho, ranga-se, dorme-se e já se acorda perto da montanha, das falésias ou dos boulders. Sábado inteiro, domingo também, só de escalada. Depois, mais banho, rango e cama. Na segundafeira bem cedo, já que se está perto do Rio, é hora de “vazar” direto pra labuta, fisicamente cansado, porém mentalmente recuperado. Isso, uma vez por mês - minha sugestão -, ou seja, doze vezes ao ano, seria a grande possibilidade de alguns objetivos realizados e de mudança na rotina, que são motivações fortes. O ano passa rápido, e se tudo que é bom dura pouco, a vida vai forte, daí vale a pena! (Ralf tem o apoio da Fabiano Ressolas, V12 e Equinox)
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W a l d e c y C o l u n a
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M a t h i a s C a m i n h a d a
Histôri as do M ontanhismo
publicado este mês pelo selo MONTANHAR. Tratase de um trabalho pioneiro onde através das diferentes fases do montanhismo, tentamos chegar ao máximo da verdade histórica de nosso esporte. Em tempo, o livro já está a venda na internet, através do site www.guiadaurca.com.br
Cume do Santo Antonio, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, final dos anos 1930. A foto ao lado, aparentemente mostra apenas duas moças deslumbrando o incrível visual que descortina daquela fantástica montanha. Rosa Lifchitz (esquerda) e Elza Hamelmann eram grandes amigas, participaram de muitas excursões pelo CEB nos anos 1930 e 1940. Coisa rara, pois nesta época eram poucas as mulheres que se aventuravam nas escaladas e caminhadas. Mas um detalhe me chamou a atenção: Rosa era de origem judia e Elza era alemã. Naquela época, a Europa era varrida pelo ódio dos nazistas para com os judeus. E Rosa e Elza souberam cultivar uma grande amizade, acima de todo este preconceito, sintetizando a essência montanhista, que todos na montanha somos iguais e apenas queremos passar um belo dia na montanha rodeado de amigos. Essa é uma das muitas histórias que estão no meu livro HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO RIO DE JANEIRO (dos Primóridos aos Anos 1940),
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Waldecy Mathias Lucena
Na Fator2 número 26, fizemos uma matéria mostrando os minimuros que alguns escaladores têm, entre eles Neto, Pita, Daniel Coçada, Gaúcho e Antônio Paulo. Agora, nessa edição, visitamos o apartamento da Helena Fagundes Gueiros, no Humaitá, para mostrar mais exemplos de muros construídos em quartos. Todo o trabalho foi feito por ela e pelo Felipe Edney, contando com a ajuda de alguns amigos, que tinham o almoço garantido. O projeto foi todo deles, desde o corte das madeiras até a pintura. Como numa obra qualquer, o pó e a sujeira foram inevitáveis, assim como alguns imprevistos, tipo madeiras que não se encaixavam e vizinhos reclamando do barulho. Mas, no final, tudo deu certo. O muro ficou pronto em cerca de dez dias, ocupando apenas uma das paredes do quarto, com a largura de 2,20m (o negativo), 1,70m (o vertical) e altura de 3,20m, com inclinação de 40 graus. As placas de compensado foram fixadas numa estrutura de caibro, e as agarras presas com porca-agarras e parafusos Allen. O muro possui ao todo 131 agarras, que são trocadas de lugar a cada quatro meses, para renovar as vias. “Eu prefiro os regletes, pois me dão uma boa força nos dedos, mas também procuro usar bastante os abaulados durante os
treinos, já que são os mais difíceis pra mim; muro é ralação!”, diz Helena. Os treinos são feitos duas vezes por semana e nos dias de chuva quando fica impossibilitada de ir para a pedra. Ela costuma aquecer fazendo três séries de 25 movimentos. Depois, entra nas vias que ela mesma montou, num total de oito na atual disposição das agarras. Quando está trabalhando uma via mais difícil, Helena limita-se a fazer um breve aquecimento, para não se cansar muito. O objetivo do treino é aumentar a força e a resistência, possibilitando entrar em vias que tenham lances mais atléticos. Além disso, os treinos no muro ajudam a se ter um melhor posicionamento, economizando assim energia. Helena ressalta que mesmo em muros as quedas são inevitáveis. Numa delas, caiu e quebrou o espelho da tomada, enfiando o pé no buraco da parede, mas por sorte não tomou um choque. Em outra ocasião, uma amiga sua caiu em cima do gaveteiro, derrubando todas as gavetas com um tremendo barulho. Texto e fotos: Cintia Aquino.
C r o q u i s 14 A Surpresa da Caixinha 7º VIIa E3 D1 Esta nova via foi conquistada recentemente por Pita, Neto e Bernardo Cruz, e fica logo à esquerda da via Caixinha de Surpresa, na face norte do Pão de Açúcar. Ela foi graduada em 7º VIIa E3 e é um pouco mais difícil do que a própria Caixinha de Surpresa. Tem duas enfiadas e meia e agarras ainda por quebrar. Equipo necessário: 10 costuras, duas fitas de 60cm e mosquetões variados. Fotos: Arthur Solero e Flavio Daflon. Mais fotos em www.guiadaurca.com
C r o q u i s Jegue Sóbrio 6º VIIc E2 D1 Esta via começou a ser conquistada por Paulo Bruxo e Eduardo Bittencourt há alguns anos, mas só recentemente foi terminada. Ela começa uns dez metros à esquerda da Cão Danado, no Pão de Açúcar, e passa, em artificial fixo, por um pequeno teto. Está graduada em 7º VIIc E2 e possui muitas agarras (algumas grandes) que podem quebrar, o que aumentará a graduação ou até mesmo impossibilitará algum lance. Vale a pena escalar com o máximo de cuidado ou mesmo fazer um ou outro lance em artificial, para se conservar as preciosas agarras. A via termina no Cavalo Louco, sendo que seu último lance é relativamente fácil, porém longo, e a chapeleta que o protege precisa ser trocada, pois já está enferrujada. Fotos: Flavio Daflon e Antônio Paulo. Mais fotos em www.guiadaurca.com