Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. Cep 20261.130 Tel.: (21) 2567-7105 E-mail: fator2@pobox.com www.webspace.com.br/ciaescalada/fator2
Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.
Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um Instrutor ou Guia de escalada em rocha. Caso você não conheça ou possua dúvidas em relação às técnicas de segurança para a prática do esporte, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. Capa: Face Leste do Pico Maior Salinas - Friburgo - RJ. Foto:Flavio Daflon. Nº15 Outubro 1 / Novembro 15, 2001
N o s s a
P a l a v r a
Demorou, mas saiu... Imagino que muitos leitores ficaram preocupados: Cadê a Fator2? Enfim, cá estamos com a número 15 cheia interessantes notas de montanha (como a recuperação da via Leste do Pico Maior, em Salinas, com foto na capa), ótimos artigos como o do Eduardo Pegurier (a Multiplicação das Agarras) e as colunas do Ralf e da Lis. O Helmut não escreveu nesta eidção, pois como alguns já sabem ele está morando no Canadá, onde se casou e anda bastante ocupado, mas assim que puder estará assinando outros artigos pra gente. E tem também mais um pouco de história com o Antônio Paulo, que nos conta a saga do calçado de escalada no Brasil. Assim com tem o André Ilha que nos escreveu sobre suas escaladas no Ceará, e o artigo adaptado pelo Flavio Daflon, sobre o freio ABS, a sensação do momento em equipamento. No entanto gostaria de pedir a compreensão de nossos leitores pelos atrasos das últimas edições. A razão é simples e nobre. Para quem não sabe, um dos autores do Guia de Escaladas da Urca, é o nosso editor Flavio Daflon, junto com o Delson de Queiroz. Como o livro está esgotado e muita gente está ansiosa pela 3ª edição, resolvemos deixar a Fator2 um pouco de lado, para que pudéssemos agilizar o término do guia. Os trabalhos com o livro já duram 10 meses, mas vai valer a pena a espera da galera, pois nós reformulamos e atualizamos toda a 3º edição e todos terão uma surpresa maravilhosa! Só pra aguçar a curiosidade posso dizer que das 96 páginas do livro anterior, esse agora contará com mais de 180 páginas e um novo capítulo só para os boulders na Urca. O guia está em fase de acabamento, praticamente fechado, faltando pouco para ser impresso. Por isso agora teremos mais tempos para pensar e criar surpresas e novidades para a revista. Podem aguardar!!!
Cintia Adriane
N o M u n d o Recuperação da Leste em Salinas A via Leste do Pico Maior de Friburgo foi, desde a sua conquista em 1974 por Waldemar Ferreira Guimarães (Waldo), Waldinar dos Santos (Vavá), José Bezerra Garrido e Guilherme Ribeiro, uma via símbolo da escalada de alto nível no Brasil. Apesar de sua dificuldade moderada, a beleza da via e o compromisso com o nível do escalador marcaram o seu estilo, representativo de uma época fértil do montanhismo brasileiro. Com o passar do tempo a Leste foi alterada inúmeras vezes, recebendo uma grande quantidade de grampos intermediários em seus lances de maior desenvoltura. Dando continuidade a um movimento de recuperação que teve início com a restauração do K2, no Corcovado, propusemos a recuperação da via Leste, como um ícone que é da grande escalada no Brasil. Consultamos os conquistadores e o clube responsável e todos foram unânimes da necessidade e oportunidade de se levar adiante o projeto. Tomamos portanto a decisão de recuperar a grampeação original no dia 8 de setembro, retirando os grampos em excesso ali plantados ao longo dos anos. Respeitando a recomendação dos conquistadores, mantivemos os grampos que foram colocados ao lado dos grampos originais de 3/8 , formando as paradas duplas. Desta forma, foram retirados um total de 11 grampos. Foi mantido um grampo na variante da 13ª enfiada, conquistada pelo Leonardo Álvares, situado num platô entre as paradas P12 e P13. A chapeleta original desta variante, localizada ao lado do grampo, bem como um grampo de intermediação colocado posteriormente foram retirados. Embora as duas últimas paradas duplas (P16 e P17) não correspondam à grampeação original, elas permitem assegurar a descida em rapel com conforto e segurança, sem contudo descaracterizar os lances originais. Considerando que é grande o número de freqüentadores que escalam o Pico Maior pela primeira vez pela Leste, sem nenhum conhecimento de qualquer outra via passível de descida, a manutenção destas paradas se justifica. Por: Jean Pierre von der Weid e José Ivan Calou. Maiores detalhes no Guia de Escaladas dos Três Picos.
I Mostra Internacional de Filmes de Montanha Com os ingressos esgotados no primeiro dia e as salas lotadas nas duas sessões, a I Mostra Internacional de Filmes de Montanha chega definitivamente ao Brasil. Realizada nos dias 14 e 15 de setembro de 2001, a mostra fez parte da turnê mundial do festival realizado há mais de 25 anos na província de Alberta no Canadá, o Banff Pág.4-
Mountain Film Festival, onde são selecionados os melhores filmes e curtas de esportes de montanha vindos de várias partes do mundo. Fruto da parceria entra a FEMERJ Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro e o Banff Centre, a mostra trouxe 10 filmes da Fator2
N o seleção internacional que percorreu a Europa e países como Estados Unidos, Nova Zelândia, África do Sul e Chile. É o Banff Mountain Film Festival World Tour. Foram exibidos filmes de caiaque, ski, snowboard, parapente, entre outros, atraindo não só montanhistas e escaladores, mas também praticantes de outros esportes de montanha e admiradores da natureza. Com patrocínio da Air Canadá, co-patrocínio da Osklen e apoio da Embaixada do Canadá, a mostra brasileira foi realizada no Rio de Janeiro, no cinema do Espaço Cultural dos Correios com capacidade para 200 espectadores. Os organizadores Alexandre Diniz e Guilherme Conde da 9d Produções, pretendem, para a próxima edição, levar a mostra para outras cidades brasileiras e buscar salas de cinema com maior capacidade. O sucesso do evento serviu para enxergarmos que as salas dos espaços culturais são pequenas para esse tipo de
Grande Aderência
M u n d o
Saltando do Dedo de Deus Ranimiro é um grande exemplo de determinação, força de vontade e otimismo. Este rapaz, que já trabalhou de modelo e pratica diversos esportes, mesmo sem ter uma das pernas a qual perdeu em um acidente com parapente. No dia 01 de setembro, ele enfrentou o desafio de escalar o Dedo de Deus (em Teresópolis, RJ), e saltar de parapente do cume. Ele subiu toda a caminhada com ajuda apenas das muletas e ainda, levando a própria mochila. E isso sem falar nos trechos de escalada em chaminé da via que ele fez com determinação, seguindo pela variante Maria Cebola. Todos dormiram no cume . Nas palavras de Marcela Chaves (fotógrafa da expedição): Ventou muito a noite inteira, e na manhã seguinte também. Mas conforme o tempo foi passando, o vento foi acalmando e os preparativos para o salto começaram, com birutas informando as condições não muito favoráveis do vento. A ocilação de vento entrando de lado e de calda era enorme. Ficamos esperando um bom tempo até que ele achou uma brecha de vento bom e saltou. Foi um susto pra nós, memso ele falando que aquilo aconteceria, (pois ele não consegue correr muito para dar o impulso, ele vai pulando) vê-lo caindo, arrastando na pedra, o parapente meio que fechando e ele sumindo pra baixo de nós ... e um enorme alívio vê-lo aparecendo 3 minutos depois planado, voando tranquilo. Voô perfeito, pouso tranquilo, graças à Deus correu tudo perfeitamente bem .
No mês de agosto, após um ano e sete investidas, foi concluída a via Ana Lisa . Trata-se de uma via no pico Ana Moura em Timóteo - MG, situado a cerca de 190 km de Belo Horizonte. Este pico possui uma espetacular parede de uns 2 km de base por aproximadamente 500 m de altura. A rota exibe 560 m de extensão, exatos 100 grampos de 1/2" (boa parte de inox) e uma classificação estimada em 7º VIIIa A0. Seu estilo é em pura aderência, sendo considerada, possivelmente, a mais difícil do país na modalidade. Foi conquistada toda em livre, com exceção de duas barrigas com dois grampos cada (A0), que ainda não foram ultrapassadas sem apoio. A via é considerada bastante segura, com grampeação bem posicionada e equipada com paradas duplas, e exige apenas corda de 60 m e costuras para sua execução. Ela tem uma duração média de cerca de 7 a 8 horas. No cume existem antenas de TV e estrada de asfalto para a cidade de Acesita. O rapel pode ser feito normalmente em cerca de 3 horas com duas cordas. Com o término do Ana Lisa, já são duas as vias conquistadas na região. A primeira, a Sociedade Alternativa , tem 230m, 39 grampos e classificação estimada em 5º VIsup. Os conquistadores da via foram: Antonio Carlos Magalhães, Fábio Cota Araújo, Daniel Ferreira Mariano, Renato Rocha Souza, Gilberto Gomes de Oliveira, Ailton Catão e Pedro Fonseca Leite. Para maiores informações mande um e-mail para (geoestru@terra.com.br) Antônio Carlos Magalhães (Tonico).
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Petit Dru Jean Chritophe Lafaille (francês) é um dos escaladores mais polivalentes do mundo. Sua história começa nos anos 80, como escalador esportivo, quando encadenou vias de XIa e solou Rêve de Gosse (Xa), em 1987. Lafaille também realizou escaladas mistas (gelo e rocha) de M9 (numa escala que vai até M11); Nos Alpes encadenou 10 faces norte no inverno, em solitário e sem ajuda; No Himalaia fez 6 cumes de mais de 8.000 metros (a maioria em solitário e abrindo via nova)... Agora conquista um A5 na face Oeste do Petit Dru, uma das mais belas paredes dos Alpes fanceses. É até o momento a via de artificial mais exigente dos Alpes, e foi conquistada, em sua maior parte, no inverno e em solitário. Foram 5 dias em março de 2000, acompanhado por outro guia de Chamonix, Jerôme Arpin, e mais 9 dias em fevereiro deste ano. A via foi graduada em A5/M7/V+ e tem 1000 metros. O Petit Dru é uma montanha de muitas histórias. Em 1935 é aberta em dois dias sua primeira grande via por Pierre Alain (criador da sapatilha) e Raymond Leininger. Em 1952, Lucien Berardini, Adrien Dagori, Marcel Lainé e Guido Magnone chegam ao cume em duas tentativas pela face Oeste, em 8 dias, um grande feito para a época. Walter Bonatti,
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em 55, transforma o mundo da montanha, abrindo uma via em solitário, na impensável face Oeste, em 6 dias, o famoso Pilar Bonatti. Essa sempre será uma das grandes páginas da história do alpinismo. Em 1964 foi realizada a primeira ascensão invernal do Petit Dru. Em 62, os americanos, Gary Hemming e Royal Robbins utilizam técnicas revolucinárias de artificial, aprendidas no El Capitán, para abrir a via Direta Americana , na face Oeste, em 3 dias. Desde então, paredes que todos achavam impossíveis de serem escaladas, passaram a ser exploradas pelas mesmas técnicas. Também foi no Petit Dru, que depois de um fabuloso resgate, efetuado pelos americanos (sem o qual escaladores teriam morrido) os montanhistas da região pararam para refletir na necessidade de um Serviço de Resgate, pois as escaladas estavam evoluindo para ascensões mais radicais. Outra grande passagem da história do Dru, foi o solo integral, em 1982, de Christophe Profit, na via Direta Americana , em 3 horas e 10 minutos, são cerca de 1000 metros de parede. Fonte: Revista Desnivel nº 174 de junho de 2001.
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Brilhando na Noite O morro do Cantagalo fica localizado entre duas áreas maravilhosas: a Lagoa Rodrigo de Freitas e Copacabana. A oeste vemos o morro Dois Irmãos, ao norte, o Corcovado e, à leste, o Pão de Açúcar. A vista compensa qualquer esforço da subida! Neste lugar belíssimo foi conquistado no dia 17 de janeiro uma via de 120 metros, com graduação sugerida de 4º V E2. A conquista desta via foi feita em apenas duas investidas. Duas semanas depois do início da escalada concluía-se esta via na altura em que a via Paixão de Cris termina. O primeiro grampo foi pintado com cor luminescente, para poder ser visto com a iluminação do crepúsculo, ou mesmo de noite (existe luz suficiente no local para quem chega em casa do serviço louco para dar uma escalada!); Também foi batido uma parada dupla no fim da via e levado para baixo uma grande laca que estava solta na via e poderia machucar o próximo escalador ou, então, atingir um carro estacionado na garagem do edifício logo em frente atenção com as pedras! Para iniciar uma escalada agradável durante o verão, o melhor é começar a subida na parte da manhã quando ela está sombreada. Durante a temporada de montanhismo fica ao gosto do freguês, o Sol a ilumina o dia inteiro mas com menor intensidade. Para chegar pegar a rua Prof. Gastão Bahiana e entrar na rua Pres. Afonso Lopes. No final desta rua há um estacionamento. Pule o muro e siga a trilha pelo paredão. Informações: Juliano Lindner (jlindner@zipmail.com.br) e Fernando Vieira.
Indoor em Niterói Em Niterói já está funcionando o novo muro de Escalada Indoor, na Tio Sam Gym Center Icaraí, sob a supervisão e coordenação de Alexandre Aguiar (Xakundum) e Patrícia Mattos. O muro conta com vias para guiar de até 15 metros, 8 top ropes, além de uma área de boulder em formato de caverna, totalizando 200 metros quadrados de área escalável. Ele é o maior muro fixo que já existiu no Rio. Para quem quiser conferir, o endereço é rua Miguel de Frias, 123, no bairro Icaraí. Os horários de funcionamento são: . de segunda à sexta das 6:00hs às 11:00hs e das 18:00hs às 22:30hs; . as terças e quintas horário promocional com 10% de desconto das 15:00hs às 18;00hs; . e aos sábados o muro só abre em dia de chuva, das 14:30hs às 18:00hs. Os instrutores são: Alexandre Aguiar (Xakundum), Diego Mager, Patrícia Mattos e Solange Dias. Para maiores informações os telefones são os seguintes: . Tio San Gym Center - (21) 2704-5570; . Alexandre e Patrícia - (21) 2612-1192 / 9787-9236. Você também pode visitar a Home Page: www.tiosan.com.br
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DO KICHUTE AO FIVE-TEN: A Evolucao do Material de Escalada
Eu estava em City of Rock (Idaho - EUA) escalando com um amigo americano e quando fomos para a base de uma outra torre de granito para escalar, encontramos uma dupla de escaladores que falava uma língua muita estranha, percebia que era do Leste Europeu. Mas a minha surpresa foi quando eu olhei para os pés de um dos escaladores. Eu comecei a rir porque o cara era da antiga Tcheco-eslováquia e escalava com um Kichute, exatamente da mesma forma que nós fazíamos aqui nos anos 70 e 80. As travas eram cortadas para a sola ficar lisa e ter uma área de contato maior com a rocha, e assim aumentar a aderência. Muito curioso, eu fui conversar com o sujeito.
de fora do país (lá por causa do comunismo e aqui por causa do durismo ) e a outra era o Kichute. Mas a história do material de escalada no Brasil vai mais longe.
Perguntei: - Você escala com isto?
escalar em gelo. Tentávamos copiar o máximo o estilo europeu e como não tínhamos acesso ao equipamento importado e nem dinheiro (o valor do dólar era muito alto na época), fazíamos as nossas improvisações. Mas na época, mesmo na Europa que era o grande centro de escalada, o material não era tão avançado, os equipamentos mais sofisticados estavam começando a ser desenvolvidos.
O cara respondeu, rindo: Antigamente nós usávamos este calçado para escalar na Tchecoeslováquia porque não tínhamos acesso ao material importado por causa do comunismo, mas hoje em dia não usamos mais, eu uso este par só de onda . O modelo que ele usava era uma cópia perfeita do Kichute brasileiro e eles o adaptaram para escalar, mas originalmente usavam para jogar futebol exatamente como nós. Eu perguntei para o meu amigo, que conhecia um pouco do Brasil: - Será que os tchecos copiaram a idéia dos brasileiros ou os brasileiros copiaram os tchecos ou foi uma bizarra coincidência? Os dois países tinham duas coisas em comum: uma era a dificuldade de conseguir material
Até 1981, praticamente não existia no Brasil botas de escalada, magnésio ou outros equipamentos que conhecemos hoje. Todos queriam ter botas de couro rígidas que usualmente eram utilizadas para adaptar grampom para
...Mas a minha surpresa foi quando eu olhei para os pés de um dos escaladores.
Na década de 50 alguns brasileiros utilizavam a bota cardada, isto é, alguns caras colocavam alguns tipos de pregos na sola da bota para tentar imitar o grampon, só que aqui era para escalar na rocha!!! Nas décadas de 60 e 70 Pág.8-
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alguns usavam sapatilhas feitas de pano e sola de corda de sisal, elas eram conhecidas por alguns como Chinapau (elas ainda existem), mas a sola desfiava e acabava rapidamente. No final da década de 70, depois de experiências com diversos tipos de calçados, chegouse a conclusão de que o Conga era o melhor, aderia mais e funcionava como uma sapatilha. Logo depois alguém teve a idéia de tirar as travas do Kichute, que logo se tornou popular para escalar, até que o fabricante mudou a composição da borracha, tornando-a menos aderente. A alteração foi sensível e alguns voltaram a usar o Conga. No Brasil, as primeiras botas próprias para escalar em rocha começaram a chegar por volta de 1978, mas apenas uma ou duas pessoas
Paulo Macaco na via dos Italianos, usando kichute e bouldrier integral. Esta foto é do início dos anos 80.
possuíam. Os primeiros modelos ficaram sendo conhecidos como PA, que eram as iniciais de Pierre Alain, que foi quem as desenvolveu. Posteriormente chegaram as do modelo EB. Mas na época as botas eram chamadas de Varrape (era um tipo de bota, mas que aqui acabou sendo uma denominação comum utilizada para todas as outras). Era o máximo ter um par de EB nos pés, alguns diziam que a sola grudava na rocha como chiclete. É claro que as comparações eram com o Kichute. Mas só quem tinha dinheiro e podia viajar para fora podia comprá-las. Não eram vendidas no Brasil. Aliás, na época existiam pouquíssimos escaladores ativos por aqui, eram estimados algo em torno de 500 e apenas uns 10 raramente viajavam para a Europa. O escalador que viajava para fora era muito invejado. Antes de usar Conga eu escalava com uma bota feita para motociclista. Em 1983, escalei no Rio com o suiço Roman Vogler, que era um dos feras da Europa na época e ele ria quando olhava para as minhas botas de motociclista. Um belo dia, alguém apareceu com uma Fire (primeiro modelo da Boreal), isso foi em 1983 ou 1984. Logo veio a fama de ser uma bota mágica, porque grudava na rocha. Realmente a sola era muito boa, os espanhóis tinham inventado a goma cozida para solados. Foi uma tremenda evolução. O reinado da Fire durou vários anos (na Europa, nos EUA e no Brasil), até que outros modelos surgiram da própria Boreal e da La Esportiva. Logo depois da Fire, a Boreal lançou as sapatilhas Ninja e se tornaram grande sucesso. O problema é que elas gastavam rápido e era difícil comprá-las. Alguns tinham botas mas não as usavam porque tinham medo de gastar a sola e não ter como ressolar. Alguns conseguiam pedaços de sola e mandavam para o sapateiro colar. Uma vez o Marcelo Braga foi à Espanha e
trouxe muitos quilos de rolos de borracha da Boreal. Outros faziam a própria ressola, mas economizavam os pedaços. Ou seja, colavam com Superbond pequenos pedacinhos somente onde era necessário, fazendo parecer uma colcha de retalhos. Era espantoso ver as solas das sapatilhas velhas de alguns escaladores cariocas cheias de quadradinhos desiguais, às vezes em forma de triângulos, alguns descolando. Logo depois que a Fire e a Ninja apareceram, o conceito de escalada de aderência mudou por aqui. Antigamente algumas escaladas de agarras eram consideradas de aderência, mas depois que abriram as vias do
... alguns diziam que a sola grudava na rocha como chiclete. Sumaré (Rio) é que realmente o pessoal entendeu o que era aderência e o que era a supremacia dos calçados da Boreal. Nunca mais esqueço a minha felicidade quando comprei a minha primeira Fire. Usei tanto que quando um dos lados gastou, comecei a usálas de pés trocados, só para aproveitar o outro lado menos gasto. Machucava muito, mas funcionava. Finalmente, nos anos 90 chegaram as botas Five-Ten com solados Stealth. No Paraná, em 1986, a Natisnake (hoje conhecida como Snake) lançou a sua própria bota que tinha uma sola muito boa, mas o corpo era muito desengonçado e não tinha pé esquerdo ou direito, tanto fazia em que pé você calçava. Pág.9-
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Mas eram boas. Hoje o próprio Snake deve rir do modelo que ele e o Nativo produziram de forma artesanal. Mas valeu o esforço porque depois disso a produção evoluiu, basta ver a qualidade do material atual. Até a década de 70, muitos escaladores usavam cordas de sisal ou cordas náuticas e não existia o baudrier (cadeirinha), a corda era amarrada na cintura. Um acidente que ficou na história foi a morte da Marizel, na Pedra da Gávea, que caiu e morreu por asfixia porque ficou pendurada com a corda esmagando sua cintura. No início da década de 80 já eram fabricadas cadeirinhas aqui no Brasil e algumas cordas importadas começaram a chegar. Antes era comum o uso de cordas náuticas, alguns usavam a corda argentina Marasco que era vermelha e duríssima. Essas cordas não tinham elasticidade e por sorte, eram raríssimas as vezes que o escalador tinha queda livre porque a escalada esportiva ainda não havia sido desenvolvida. Normalmente o
Antônio Paulo, saindo da Italianos e seguindo para o final da Secundo no início dos anos 80.
escalador caia quicando ou rolando nos paredões positivos e isso diminuia a velocidade da queda e o tranco que recebia no final. Lembro de começar a escalar com uma corda náutica super rígida de 10 mm por 30 metros de comprimento. Muitas vezes as cordadas eram de três pessoas e só tínhamos poucos mosquetões. Quando comprei a minha primeira corda importada a felicidade era tanta que na primeira semana dormia com ela na minha cama. Estranhamente até hoje eu posso sentir o cheiro dela. A maioria dos escalador usava material dos clubes e os mais afortunados tinham cerca de 10 mosquetões. Para costurar era colocado apenas um no grampo, não se usava fitas. O atrito era insuportável. No começo da década de oitenta começou-se a usar fitas longas para costura. A gente passava uma ponta de uma fita dobrada por dentro do grampo e com um mosquetão prendíamos as duas pontas. A corda era passada dentro desse único mosquetão. A segurança consistia em passar a corda pelo ombro e por debaixo do braço e para rapelar, usávamos um cilindro de alumínio conhecido como Magnone. Hoje a Mônica Pranzl me pertuba para eu comprar um Grigri e eu respondo: - Pô, quando eu comecei a escalar a gente dava segurança de ombro, hoje vocês ficam com essas frescuras de Grigri (risadas).
Concomitantemente à chegada das primeiras botas de escalada do tipo EB veio o magnésio, que ajudou muito na evolução do esporte por aqui. Mas no início, como era novidade, o produto foi muito criticado pelos tradicionalistas. Por volta de 1983, os escaladores que assistiram o filme 007 (eu não lembro do título) acharam uma grande mentira porque o James Bond colocou dentro de uma fenda uma peça metálica que abriu, ficando presa milagrosamente e salvando-lhe a vida. Era o Friend, que ninguém conhecia por aqui. O comentário era um só: - Porra, que cascata!!! Na época só eram encontrados por aqui o nut (stopper) e o hexcentric,
...A segurança consistia em passar a corda pelo ombro e por debaixo do braço... além do piton e da cunha de madeira. Mas a maioria das pessoas utilizavam esse material para se prender nas fendas para colocar grampo, aliás, isto hoje ainda é feito. No final de 1984, fui com alguns colegas escalar no Paraná (na Ilha do Mel e no Marumbi) e quando colocamos os jogos de stopper e de hexcentric fora da mochila um escalador paranaense falou: - Que legal, vocês trouxeram
as BESTEIRINHAS. Nós rimos e pensamos que ele estava de gozação, mas depois percebemos que eles chamavam material móvel de besteirinha. Dá até para imaginar a origem desse nome, mas eu não sei como surgiu. Um pouco antes era lançado no Rio de Janeiro o Manifesto da Escalada Natural, escrito pelo André Ilha e que já fazia barulho contra a grampeação de fendas. Aliás, ele ajudou muito na disseminação do uso de proteções móveis. O Osvaldo Pereira Filho (Santa Cruz) combatia ferrenhamente o uso das proteções móveis porque achava que era coisa de elitista. Segundo ele, todos deveriam ter acesso às escaladas e por isso colocava grampo nas fendas, fazendo muitas vezes artificial AO em fendas de 4° grau. O Mário Arnauld chegou a fabricar um tipo de stopper e um material que lembrava o hexcentric, mas a sua produção não foi muito longe, talvez por falta de compradores. Anos mais tarde, no início da década de 90, o Chiquinho de Petrópolis (RJ) fabricou alguns jogos de friend, mas era uma produção artesanal e difícil, por isso o preço final ficava muito elevado. Até meados da década de 60, alguns escaladores levavam bambus para conquistar. Eles talhavam degraus nos grossos bambus e os amarravam nos enormes grampos do tipo Pé de Galinha . Subiam neles e batiam o grampo ou piton mais acima ou
escalavam o lance restante. Várias escaladas famosas foram conquistadas desse jeito e em muitas foram fixados cabos de aço, como é ainda hoje a via CEPI no Pão de Açúcar. Nas fendas largas o piton era substituído pelas cunhas de madeira, que consistia em um sólido pedaço de madeira onde eram atados uns cordeletes de 3 ou 4 mm, por onde eram colocados os mosquetões. Hoje ainda é possível ver algumas nas escaladas no Rio de Janeiro e só de olhar dá um calafrio. Em 1994, foi publicado na revista Climbing (N° 149) um artigo que escrevi sobre as escaladas da época no Brasil e também um pouco sobre sua história (Climbing in the land of Carnival), mas a editora da revista mandou vários e-mails perguntando se o que eu tinha escrito era verdade, porque eles não estavam acreditando como se escalava por aqui na primeira metade do século XX. Narrei para eles as grandes conquistas, no Dedo de Deus, no Pão de Açúcar, etc., mas como o artigo ficou muito grande, eles tiraram a parte da história e publicaram só a metade do que eu escrevi originalmente. Provavelmente eles não acreditaram. A conquista da face Sul do Garrafão (RJ) em 1975, por Eugênio Epprecht, Marcos da Silveira e Rogério de Oliveira foi um grande marco para a escalada em móvel no Brasil, mas foi a conquista do Tragados Pelo Tempo no Corcovado, em 1984, que trouxe as novas técnicas. O americano David Austin trouxe da Califórnia a técnica de big wall e junto com o Alexandre Portela e o Sérgio Tartari abriram a via. Depois disso, outras escaladas foram conquistadas na Pedra do Sino (RJ), em Salinas (RJ), na Serra do Lenheiro (MG), na Serra do Cipó (MG) e no Marumbi (PR). Lentamente novos adeptos da escalada natural e artificial em móvel foram aparecendo e hoje o estilo se encontra bem consolidado. Aos poucos foram aparecendo algumas pessoas que traziam material para revender por aqui. As primeiras lojas foram aparecendo: Montcamp, Mont Blanc, Sherpa Algumas faliram, outras novas apareceram. O Plano Real deu mais condições do brasileiro viajar para o exterior e facilitou a entrada de material importado. Foi o nosso grande boom . Mas hoje, com desvalorização do Real já é possível sentir um pouquinho de como era difícil adquirir esses equipamentos. Com a popularização do esporte o mercado se firmou de vez, mas se a situação econômica do país continuar no rumo atual, você, camarada, logo terá que experimentar o que é escalar com um Kichute preto nos pés, e se for um dia ensolarado, de verão, verás como se fabrica um microforno a energia solar. Texto e fotos: Antônio Paulo Faria. (Agradeço a Mônica Pranzel e ao André Ilha pela leitura crítica e sugestões).
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Ceará Vertical Além das belas praias, o Ceará possui muitas
serras e montanhas em seu vasto sertão, que oferecem atrativos tanto para caminhantes quanto para escaladores. A primeira vez em que estive no Ceará foi em maio de 1994. Fui para Quixadá. A Pedra da Galinha Choca, às margens do histórico Açude do Cedro, é a que mais chama a atenção, pois o seu formato é realmente muito parecido com uma galinha chocando os seus ovos. Embora os moradores locais regularmente já subissem até um ponto bem próximo ao cume da cabeça , os metros finais não haviam sido ainda vencidos, pois são bem mais íngremes e expostos do que a fácil calha com vegetação que conduz até ali.
Assim ,abri, em companhia de Maristela Fonseca, a Via Normal da Cabeça da Pedra da Galinha Choca (IV 25m). Para tanto, ao invés de seguir a calha utilizada pelos locais, optamos por subir, com proteção móvel, um sistema de fendas imediatamente à sua esquerda, fácil mas muito bonito e quase todo em oposição. Ao chegarmos ao ombro fiz os dois lances de agarras que faltavam, ambos de IV e separados entre si por um pequeno platô, chegando assim a um dos cumes daquela linda montanha. Só que, para nossa surpresa, havia ali marcas da presença humana: uma imensa seta formada por pedrinhas enfileiradas e algum lixo! Depois viemos saber que nossos antecessores foram ninguém mais, ninguém menos, do que Dedé, Didi, Mussum e Zacarias, durante as filmagens de O C a n g a c e i r o Trapalhão , que haviam
chegado lá de helicóptero! De qualquer forma, consideramos ter conquistado de fato a montanha, já que fomos os primeiros a subi-la por nossos próprios meios e, para descer, batemos um grampo de 3/8 no topo, desescalando depois o caminho usual até a trilha que havíamos aberto.
Nesta visita a Quixadá conquistamos ainda uma segunda via, a Chaminé das Agulhas (VI, 30m), situada no Sítio dos Três Peitos, que deve seu nome a uma formação rochosa com três cumes distintos existente em seus limites. Nossa via foi feita no peito da esquerda, que, a exemplo das demais montanhas da região, possui diversas canaletas rasas e escurecidas por líquens, imprestáveis para proteção móvel. Escolhemos a que nos pareceu mais razoável e, devido ao calor e ao equipamento precário, eu praticamente a solei, batendo apenas um grampo de 3/8 , e nada mais. Em outubro de 2000 voltei ao Ceará com minha companheira, Kate Benedict, na segunda metade de uma longa viagem de escalada por quase todo o Nordeste.
Nossa primeira e principal parada foi em Itapagé. Logo fomos até a base da Pedra do Frade, imponente pontão que conta com um outro menor ao lado. Lá chegando, no entanto, desistimos de tentar escalá-lo, pois tudo o que vimos foram paredes absolutamente lisas e verticais, quando não negativas, que consumiriam a maior parte de n o s s o tempo. Optamos então por explorar as magníficas montanhas da vizinha Irauçuba. A primeira escalada que fizemos foi a Via Normal da Pedra da Timbaúba (II 15m),
Pedra da Galinha Choca, em Quixadá - CE. Foto: André Ilha
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uma grande montanha de paredes íngremes, exceto por uma crista que seguimos andando até um ponto onde ela se estreitava bastante e ficava mais em pé, ponto máximo atingido pelos caçadores de mocó (pequeno roedor, de carne muito apreciada, caçado implacavelmente em todo o Nordeste) da região. Ali nós nos encordamos e subimos uma aresta fácil mas exposta, fixando um grampo no final para descida. Depois continuamos pela crista, até atingir o seu belo cume rochoso, de onde se tem ótima vista das serras da região, bem como da cidade de Missi, que fica bem abaixo. Lá deixamos um livro de cume, para registro de futuros visitantes. No final da descida chegamos a passar mal, de tanto calor, e foi no limite de nossa resistência que chegamos de volta à casa de Seu Domingos e de D. Deusa , onde bebemos litros de água de uma vez só !
Depois desta rude introdução ao clima local, partimos para tentar o maior dos Dois Picos de Irauçuba, que na região são conhecidos simplesmente como O Pico . O pico em formato de cone, ainda era virgem. Fomos acompanhados até o início da escalada pelo Sr. Francisco, morador local que gosta de subir montanhas e que sabia dizer com precisão quem havia subido o que, e por onde, naquela região, um raro exemplo de objetividade num deserto de informações vagas e imprecisas! Começamos por uma fácil seqüência de agarras (II), de cerca de 45 metros de extensão, e para chegar ao cume verdadeiro fizemos um lance de V em um grande bloco, no qual batemos um grampo para descida (o restante da via nós desescalamos). Estava concluída, assim, a Via Normal do Pico Maior de Irauçuba (2º V, 55m), um belo passeio nestas montanhas tão pouco conhecidas.
pedra em sua face menos íngreme, chegando assim à base da via escolhida, a Chaminé Toca da Coruja (III, 30m), que começa com uma fácil fissura para a direita que termina em uma árvore na base de uma chaminé estreita, crux da via. Vencida a chaminé, fáceis lances de agarras nos deixaram em outro lindo cume rochoso, onde batemos um grampo para descida e repetimos o ritual do livro de cume. Depois da descida de rapel, eu não me contive e solei o óbvio diedro à esquerda, Cabra da Peste (IVsup, 30m), um misto de chaminé estreita com fissura de meio corpo. Feito isso, tornei a descer de rapel e então fomos correndo para o bar mais próximo comemorar os resultados do dia.
Tiramos um dia ainda para visitar o Parque Ecológico da Furna dos Ossos, em Tejuçuoca. Este parque , na verdade, só existe no papel e nas boas intenções de um habitante da cidade que gravou diversas placas de granito preto com dizeres e desenhos ecológicos, numa bem-intencionada e até ingênua tentativa de conscientizar os visitantes. A Furna dos Ossos, sua principal atração, é um túnel natural de cerca de 15 metros no calcário, que apresenta três sepulturas e um altar bem na entrada. Todo o entorno é constituído por magníficas falésias calcárias, tipo Morro da Pedreira, e no final do corredor onde se chega após a travessia da Furna dos Ossos eu solei a fácil Chaminé dos Esqueletos (II, 15m), lamentando não estar com equipamento para poder fazer algo mais substancial. Depois
fomos para
Dois dias depois retornamos para conquistar a Pedra Redonda, pequeno domo rochoso situado bem próximo aos Dois Picos. Subimos por uma série de canaletas fáceis e lances de trepa-
Pedra Redonda, em Irauçuba, Ceará. Foto: Kate Benedict.
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Fortaleza, para alguns dias de praia, já que ninguém é de ferro, e em seguida rumamos para o sul na velha e boa BR-116 hoje bem mais velha do que boa. Em Quixadá nos instalamos no Hotel Belas Artes, point dos voadores, e partimos para a conquista do rabo da Pedra da Galinha Choca, na verdade um cume mais alto do que a sua cabeça . Fizemos isto pela via Rabo-de-Galo (3º III, 70m), que começa com uma chaminé clássica de cerca de 30 metros seguida de uma horizontal para a direita, que conduz a um grande platô. Dali a via termina em agarras, com proteção em grampos. Chegando ao cume encontramos, como prevíamos, vestígios da passagem da equipe de filmagem de O Cangaceiro Trapalhão .
Na volta, comemos generosas porções de pitus pescados ali mesmo, e descobrimos uma outra via de escalada, com proteção em chapeletas, em um morrote às margens do Açude do Cedro. Além disso, os donos do bar nos disseram que os bombeiros locais volta e meia descem de rapel no grande negativo formado pelo bico da galinha, ou seja, a via de acesso à cabeça tem sido bem repetida. Ou seja, já existe alguma atividade ocorrendo naquela cidade em termos de escalada, mas infelizmente não tivemos a oportunidade de conhecer nenhum dos escaladores locais. O Ceará é um dos estados mais promissores, em todo o Nordeste, para a prática da escalada em rocha, mas lá quase tudo ainda está por ser feito nesse sentido, o que tem um lado bom e outro ruim.
Dois Picos de Irauçuba (Irauçuba - CE). A via normal do pico maior segue o perfil direito da montanha. Foto: Kate Benedict.
O lado bom, claro, é o privilégio de se fazer ótimas conquistas escolhendo as melhores vias de cada lugar, algo que já não é possível, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, onde certas paredes já estão tão cheias de grampos, necessários ou não, que se torna difícil até a identificação das vias existentes. O lado negativo é que, em alguns casos, é necessário superar a desconfiança de moradores locais, ainda não acostumados com excentricidades como essa de subir montanhas sem uma razão prática (caça, captura de bodes fujões, instalação de antenas etc.). Outro problema é a necessidade constante da abertura de trilhas na caatinga áspera, sob um sol de fritar os miolos; os freqüentes ataques de vespas, marimbondos, abelhas e outros insetos igualmente agressivos; a precariedade, em certos locais, da hospedagem para visitantes; e, ainda, a inexistência de qualquer estrutura de resgate em montanha, o que exige cautela redobrada dos escaladores. Mas sem sombra de dúvidas que o balanço final favorece não uma, mas diversas visitas ao Ceará, para que se possa desfrutar aos poucos os inúmeros atrativos que ele nos oferece, conjugando os rigores do sertão com as amenidades de um dos mais belos litorais de todo o Brasil. Texto: André Ilha. Fotos: Kate Benedict.
Pedra da Timbaúba, em Irauçuba, distrito de Missi, no Ceará. Foto: Kate Benedict.
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Por: Eduardo Pegurier.
Há um ano atrás eu jamais imaginária que pudesse gostar de sapatos coloridos dois números abaixo do meu, e que me sentiria quase confortável equilibrado na ponta dos pés, e talvez uma mão, sobre pequenas protuberâncias agarras, no meu novo jargão - em uma parede de rocha exposta, próxima da vertical. Longe, mas muito mesmo, do meu habitat natural: o plano de preferência dentro das seguras paredes de um bar. Mas não é que agora não só gosto como procuro situações como essa? Pois é, sem grandes planos aderi a escalada como esporte. No processo, descobri que o Rio é o Havaí dessa atividade. Nas nossas lindas montanhas existem possibilidades infindáveis de escaladas para todas as modalidades e gostos. Provavelmente, uma fica a alguns minutos da sua casa, sendo que o quartel general do esporte fica na aprazível Urca, no complexo de montanhas formado pelo Pão de Açucar, Morro da Urca e Babilônia. E lá estava eu, em um sábado ensolarado e ameno de junho, escalando mais uma vez o Coringa, uma via de terceiro grau e três enfiadas, no Pão de Açucar. A medida em que ganhava altura, percebia com prazer o meu progresso no esporte. Já havia feito o Coringa antes, sendo a primeira vez ainda no curso básico de escalada. Me lembro bem da dificuldade que foi. Essa via é didática, porque é bem variada. Tem um pouquinho de tudo. Logo no começo, tem uma passagem que pede um movimento de oposição na base de força no braço. Tem dois tetinhos onde é preciso ganhar altura com os pés perto da base, até atingir o ponto da passada que os transpõe. O segundo deles, é particularmente difícil para o novato. Para ultrapassá-lo é preciso pisar na borda da pedra, algo que da primeira vez me levou a cristalizar até a exaustão e produziu a minha primeira queda, imediatamente interrompida pelo instrutor. No fim da via, resta ainda um trecho de aderência, onde se é obrigado a abandonar o conforto de ter as mãos seguras em boas agarras, talvez minha primeira lição de finesse na pedra: a escalada técnica em rocha se vale, na maioria das vezes, do equilíbrio dos pés. Ao completar o Coringa me sentia exausto. Todas as minhas energias tinham sido gastas na tensão muscular desnecessária da inexperiência e do medo de cair, e nas longas hesitações entre cada movimento chave. Mas nesta manhã de junho, as coisas eram diferentes. Seis meses haviam se passado e neles eu tinha praticado uma variedade de vias. Entre as que mais me marcaram estão a K2, no corcovado, com um longo trecho em oposição, onde a linda vista da Lagoa Pág.16-
e do Parque Lage é proporcional a pressão dos 400 metros de exposição até a base; a via Olimpo, na Agulinha da Gávea, outra oposição interessante; a parede vertical da Urbanóide, no Cantagalo; o lance de 6o grau na Ricardo Prado, o diedro Pégasus e a IV Centenário, estas últimas no Babilônia. Também foi fundamental treinar usando top rope lances de até 6o grau no campo escola do Grajaú. Cada uma dessas vias proporcionou um novo desafio, fosse ele físico ou psicológico. E a variedade composta por todas elas foi importante para acumular as tais horas de vôo no meu novo esporte. A volta ao Coringa mostrou que compensaram os treinos. Nas partes da via em que antes não encontrava como progredir, agora eu percebia várias opções. Uma espécie de milagre da multiplicação das agarras. Passei pelo segundo tetinho através de uma variação de passada que eu mesmo inventei. Ao fim, me sentia calmo e sem qualquer cansaço, além de estar profundamente satisfeito. Foi só sentar no platô do topo e apreciar a linda vista. Valeu a dedicação. Valeu também ter feito o curso com um instrutor experiente, que me ensinou as principais técnicas e principalmente como utilizá-las com segurança. Na escalada, como em outros esportes de risco, é mais importante saber como evitar encrencas do que como sair delas. Encontrei na escalada um esporte completo, desses que misturam vários elementos importantes na vida. Escalar é um desafio individual, mas a segurança depende da cooperação e da confiança no guia, acompanhante e outros escaladores, trocando informações sobre as vias e nos casos de resgate. O risco facilita a amizade entre os escaladores e modera a competição direta, pelo menos para a maioria. É preciso desenvolver a percepção dos seus próprios limites e das condições em volta, como o tempo e as condições da rocha. É preciso buscar tanto a forma física quanto a psicológica. Sem foco mental, não existe escalada. É um esporte que se regula sem uma entidade central, se valendo apenas de conceitos disseminados pelos praticantes. As regras são simples: provocar o mínimo de impacto na natureza e respeitar a grampeação do conquistador da via. É cerebral, os equipamentos usam materiais sofisticados, mas são leves e simples de manusear, e também muito seguros se usados adequadamente. Enfim, a escalada é prova do engenho humano e da sua capacidade de desenvolver ferramentas e adaptar o próprio corpo para esticar. muito além do previamente imaginado. os limites das nossas capacidades. Fator2
L i s C o l u n a
M a r i a d e
C a m i n h a d a
Travessia da Serra de São José Localização: Serra de São José (São João del Rei, Santa Cruz da Serra, Tiradentes, Prados) - MG Classificação:caminhada semi pesada - 19 km com subidas e descidas com desníveis de 100 a 250 metros. Tempo de Duração: 8,5 horas a 9 horas em ritmo moderado. Cuidados: levar pelo menos 2 l. de água por pessoa. Nos meses de inverno é pouca a água na crista da serra, e o estado da água encontrada é duvidoso, já que não é corrente. A travessia, mais interessante, é aquela que liga a Cidade de Santa Cruz a Prados. A trilha hoje começa ao lado da Mineração Ômega. Pode-se iniciar a trilha pegando um ônibus em São João, de nome Água Santa, descer em frente ao supermercado Karina e dali andar mais uns 2 km até uma porteira, situada na rua Edmundo Lores. Podese também pegar o ônibus Cidade de Santa Cruz e descer-se na esquina desta porteira, ou então entrar diretamente pela mineração Ômega, e subir a serra por sua garganta esquerda. Acredito que a entrada mais agradável seja ao lado da porteira. Passando-se a porteira cruza-se diretamente um pasto tendo a sua direita monte de terra, cheio de voçorocas, deixados pela mineração e toma-se o caminho da direita, antiga estrada de carro, que chega a uma cerca de curral. Cruza-se por dentro do curral, e pega-se um caminho seguindo sempre reto passando por uma árvore copada a 20m do curral que cruza uma pequena porteira de arame. Segue-se por este caminho por uma mata secundária, e pega-se a primeira bifurcação a direita. Esta bifurcação, 100m a frente, chega num rio que no inverno pode ser somente um local de descanso do gado, cercada por arame e mourões que permitem o homem passar e impedem o gado. Passa-se a cerca, atravessa-se o rio e sobe-se para o outro lado. Neste local você encontra o caminho vindo da mineração Ômega. Agora tem-se início a uma subida de uns 150m na serra e ao final esta cerca que deve ser cruzada. O caminho de descida encontra-se na mesma reta da subida mais ou menos a esquerda. É uma trilha bem clara. Inicia-se a descida sempre seguindo o caminho mais claro e mais para a direita se afastando do fundo do vale. Ao fim da descida beirando um riacho você vai cruzar com o caminho dos escravos vindo do Parque das Águas (um caminho a esquerda descendo para o rio conhecido como cachoeira do Mangue) e que a sua direita cruza a direita para Tiradentes. Se aqui já se cansou, você pode descer para direita até Tiradentes sempre seguindo o caminho mais trilhado. Caso você queira continuar a travessia pela Serra, até pelo menos a cruz do carteiro, siga em direção a Tiradentes, e preste atenção em um rio a sua esquerda, que logo após o caminho mudar de direção para a direita, e ter encontrado o caminho calçado, verá a esquerda uma descida para o rio, e na sua margem oposta uma subida íngreme seguindo o prolongamento da serra. Mais a seguir esta trilha passa por pasto, e segue por um altiplano que tende a subir a direita para a cumeada da serra. Aqui serão mais uns 250m de desnível, pingados com bancos de pedras e árvores com sombras para amainar a jornada, até chegar bem acima da igreja matriz de Tiradentes. Neste local há um banco de pedra na sombra próximo a um mirante. Para quem se cansou até aqui é melhor descer para Tiradentes, pelo caminho a direita acompanhado o perfil da serra que este caminho irá se encontrar com o que cruza do Parque das Águas para Tiradentes. Seguindo-se o caminho que percorre o perfil da serra inicia-se a descida de uns 10 a 20 minutos. No final desta descida num caminho meio apagado a esquerda vai-se até uma cachoeira, deste caminho é possível visualizar a cruz do carteiro no início de outro calçamento. Descendo para a direita chega-se no calçamento acima da cruz do carteiro.
Neste trecho do caminho todo cuidado é pouco para quem quer fazer a travessia até Prados. O caminho mais claro vai descer a direita para Tiradentes, próximo do restaurante Ipê. O caminho seguindo a cachoeira vai até o asfalto chegando no meio da estrada entre Prados e São João del Rei, num local onde é muito difícil encontrar transporte. Para continuar a travessia até Prados, deve-se tomar o caminho que sobe o morro da frente sempre seguindo o perfil da Serra. Esta entrada encontra-se a cerca de 100m a esquerda antes da descida para Tiradentes num local bem plano onde a trilha esta um pouco apagada. No calçamento desde a cruz do carteiro anda-se uns 300 metros. Agora este caminho segue subindo ao lado das pedras até chegarse num campo onde a trilha esta apagada. Aqui deve-se seguir o perfil da serra e subir por um escoadouro de água até um outro campo onde a trilha fica mais clara e inicia a subida definitiva ao morro. Esta é sem dúvida a pior subida de toda a caminhada. Na sua crista de cumeada descortinase o panorama de Tiradentes, Bichinho (Vitoriano Veloso), e estradas vicinais de terra que margeiam a base da serra e da estrada de asfalto que liga São João del Rei a Prados. Convém descansar aqui e tomar forças para iniciar a procura do caminho, já que este não é tão claro. Continua-se seguindo a crista e ligeiramente toma-se a direita, descendo um pouco, e novamente pega-se a crista para a direita, anda-se no plano e novamente inicia-se a descida pela esquerda por uma encosta rochosa pouco inclinada. Ao final da descida chega-se a um campo de gramíneas com um rio seco envolto numa sombra, que no verão serve de descanso ao gado. Aqui passa-se o rio anda-se pelo pasto onde se inicia uma suave subida até um local próximo a base de um morro tendo-se a frente lajes de pedras. Faz-se um U para a direita e tendo a base do morro a direita segue-se o perfil longitudinal da serra margeando o morro pela direita. Iniciase uma subida longa em cascalho onde no final atingiremos uma altitude de 1390 metros, num campo. Neste local o ponto mais alto da serra conhecido como Pico Humbolt (1433 m) situa-se a cerca de uns 400m a frente, faltando vencer somente a subida por entre a confusão de blocos de pedra até o seu topo. Para continuarmos a travessia devemos deixar o Pico Humbolt e descermos pela esquerda tendo agora como direção uma torre de transmissão situada em Prados. Assim desce-se suavemente no pasto, ao final do pasto pega-se a direita e continua-se descendo, e passa-se por duas nascentes de rio, e continuando sempre pela direita vai-se em direção ao encontro do caminho da subida do cruzeiro. Neste local você pode optar por descer direto para Prados ou subir mais 150 metros (por cerca de 30 minutos) e chegar ao Pico Von Martius com 1390m. Ao final da descida toma-se o caminho da esquerda e chegase ao local conhecido com Biquinha, em Prados. Deste local até o centro de Prados são cerca de mais 5 km de estrada, não computados nos dados fornecidos no início desta descrição, já que pode ser arranjado taxi a partir deste ponto. Para sair de Prados pode-se tomar um taxi direto a São João (modo mais fácil e nem tão caro procurar Sr. João Nivaldo, tel: (32) 3353 6463), ou pegar um ônibus a Barroso e depois para São João, e nos dias favoráveis pegar um ônibus direto de Prados para São João, já que os horários são extremamente raros. Toda esta caminhada esta mostrada no mapa e pode ser carregada para o gps no endereço da internet: http:// www.geocities.com/yosemite/1219/gtm.htm e procure pela Serra de São José.
R a l f C ô r t e s C o l u n a
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T r a d i c i o n a l
Falési a d a Arv ore Localizada na metade da trilha em direção ao totem do Pão de Açúcar, esta falésia tem como referência uma espetacular obra da natureza, uma arvore em simbiose com a rocha proporcionando acesso a vias incríveis dentro do estilo esportiva tradicional. A primeira via Show de Calouros E4 Vsup (Ralf Côrtes e Felipe Assad) já conta com 14 belas ascenções e tem 35 metros com boas proteções em laca (top rope na árvore). A segunda via Os inocentes E6 VIIIb (Ralf Côrtes, André Kuher e Nilton Campos) feita em agarras, é ligeiramente negativa e tem 15 metros, sendo finalizada em um platô com um grampo.
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INFOFEMERJ Número 3
A evolução da escalada A Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), fundada oficialmente em 29/08/2000, vem realizando inúmeros trabalhos em prol do montanhismo no Brasil, mais notadamente no Estado do Rio de Janeiro. Para melhor conduzir e ordenar o processo evolutivo da escalada no Estado, temos mantido discussões constantes sobre a ética. Dentro dessa discussão, os pontos de destaque são: (1) a busca do mínimo impacto, tanto nas conquistas quanto nas repetições de vias; e (2) o respeito ao direito autoral das vias. Neste contexto a FEMERJ desencoraja e desaconselha veementemente a colocação de proteções fixas (grampos e chapeletas) em fendas. Uma vez, que estas podem ser protegidas de maneira segura com os diferentes tipos de equipamento móvel existente. E, principalmente por seguir um dos principais pontos da ética local que é o mínimo impacto, ou seja reduzir ao estritamente essencial (numa combinação de segurança e estilo) as marcas da sua passagem sobre a rocha. Por outro lado, a Federação enxerga no direito autoral de conquista das vias uma das bases de sustentação da ética da escalada, e um dos pontos cruciais para a convivência entre os diferentes pensamentos na comunidade de escaladores. Assim, como forma de conciliar estes pontos, a FEMERJ vem estimular aos conquistadores de vias com fendas grampeadas que autorizem a remoção destes grampos, ou que eles mesmo os removam. Após conversa com vários conquistadores, acreditamos que a presença de grampos nas fendas destas vias foram justificadas na época da conquista pela escassez de material móvel. Fato este já superado nos dias atuais. Como forma de implementar esta diretriz, nas vias com fendas grampeadas onde é possível a colocação segura de proteções móveis, a FEMERJ estabeleceu os seguintes passos: a) escalar a via em móvel; b) fazer um croqui mostrando como ficaria a via sem as proteções fixas, e indicando qual a proteção móvel utilizada; c) apresentar aos(s) conquistador(es) o projeto de modificação, obtendo a
aprovação, por escrito, do(s) conquistador(es); d) apresentar à FEMERJ o projeto para registro e arquivamento na croquiteca; e) implantar o projeto com data marcada para a devida divulgação. Reuniões: As reuniões acontecem na última terça-feira do mês, às 19 hs, e está aberta a todos que quiserem participar. Sua presença é muito importante para o desenvolvimento do nosso esporte. Set. – dia 25, no CERJ /Out. – 30, na Limite Vertical / Nov. – 27, no CEL / Dezembro – dia 18, no CEC. Curtas: · Projeto Reciclar – reciclar cartuchos de tinta de impressora . O dinheiro arrecadado será revertido para a FEMERJ. Os cartuchos devem ser entregues à Priscila Penna Botto nas reuniões da FEMERJ ou nos clubes e escolas de escalada. · Os principais meios de comunicação vêm recebendo cartas, fax, emails e telefonemas da FEMERJ com a intenção de oferecer os serviços da federação quanto a informações relativas a qualquer notícia sobre o montanhismo. · A FEMERJ vem participando do movimento para a criação do Parque Municipal do Pão de Açúcar. · A FEMERJ já está com o processo junto a Secretaria de Urbanismo solicitando Servidão de Passagem Preventiva para as escaladas no morro do Cantagalo. Atualmente, é necessário pular um muro. · A FEMERJ se reuniu com o Major Fabio do Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente do Corpo de Bombeiros para trabalharmos em conjunto, sempre que necessário e onde for possível. · Está sendo desenvolvido um Seminário/ Workshop em conjunto com o Parque Nacional do Itatiaia. A supervisão é da bióloga e montanhista Kátia Torres. · Todos aqueles escaladores independentes que querem se federar, deverão participar de uma avaliação feita em três etapas eliminatórias e ministradas pela FEMERJ, sendo elas:
INFOFEMERJ 1. Preencher uma ficha com o currículo e algumas referências 2. Fazer a prova teórica baseada em itens presentes no currículo mínimo; 3. Prova prática, na pedra. · Curso Cidadania e Meio Ambiente - Ação ecológica com base jurídica - Objetivo do curso: capacitar os interessados a atuar em questões ambientais, proporcionando-lhes uma base teórica para ações futuras junto a diversas organizações da sociedade civil. Data: 15/08 – 12/09 de 2001. Freqüência: 2 vezes por semana – 2a e 4a feiras. Horário: 19h e 30 min às 21h e 30 min. Local: Escola de Escalada Limite Vertical – Rua Bambina 141 fundos (Botafogo) – tel.: 527-4938. Custo: R$ 30,00. Inscrições: Tel./Fax.: 465.3353 e 3393.0733 ou E.mail: gloriarocha@terra.com.br (Assunto: INSCRIÇÃO CURSO GAE). Depósito em Conta Corrente: Banco Itaú, Agência: 0488 - Conta 49725-6 – GAE (Grupo Ação Ecológica). Realização: Grupo Ação Ecológica – GAE / Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro - FEMERJ. Como se federar? Para se federar, o interessado deverá procurar a entidade onde fez o curso básico de montanhismo (clubes, instrutores ou escolas de escalada) para que ele autorize a inscrição que será, então, encaminhada para a FEMERJ pelo mesmo. Qualquer interessado pode ser federado, desde que: a) tenha feito algum Curso Básico de Montanhismo (CBM) homologado pela FEMERJ; b) apresentando o respectivo certificado; c) respeite os critérios de conduta e ética estabelecidos pela FEMERJ e; d) seja maior de 18 (dezoito) anos. Os menores de 18(dezoito) anos terão de apresentar autorização assinada pelo responsável; Art. 17 - O interessado que quiser ser FEDERADO da FEMERJ sem ter participado de um CBM reconhecido pela FEMERJ, e demonstra suficientes conhecimentos técnicos, será submetido a um teste prático e teórico a ser ministrado pelo Departamento Técnico da FEMERJ. Vantagens de ser um federado: 1. 50% de desconto na entrada do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PNSO) e Parque Nacional de Itatiaia –
necessário apresentar a carteira da FEMERJ. 2. 10% de desconto em diversas lojas de montanhismo: . F. Equipamentos - R. Visconde de Pirajá 444/sobreloja 216 - (21) 523-2292. · Camelos Adventures – Estr. Fco da Cruz Nunes, 8305 loja 101 – Itaipu – Niterói – tel.: (21) 609 9843. · On The Rock’s - Shopping Downtown Bl 8, Lj 124, B. da Tijuca – RJ – tel.: (21) 491.9725. · Half Dome – Alameda dos Nhambiquaras, 946 - Moema – SP – tel.: (11) 5052.8082. · Half Dome – R. Dr. Vl Nova, 321, SP. t.(11)255.4331. 3. Participação nos campeonatos da FEMERJ. 4. Muro do Centro Excursionista Brasileiro (CEB) – 40% de desconto. 5. Albergue da Juventude – 35% de desconto na anuidade para quem se associar. 6. Refúgio das Águas, em Salinas – Sergio Tartari – 10% de desconto. 7. Abrigo 3 Picos, em Salinas – Zezinho – 10% de desconto. 8. Outros acordos estão sendo firmados. Divulgaremos em breve... Valores para se federar: JÓIA – R$ 20,00 (vinte reais) – Promoção: Isenção da jóia para quem se federar no ano de 2001. ANUIDADE – R$ 30,00 (trinta reais) – este valor é proporcional à época do ano. Participe você também! · Os interessados em fazer parte da lista da FEMERJ deverão mandar um email sem título para o seguinte endereço: FEMERJ-subscribe@egroups.com · Pedimos a participação e colaboração dos montanhistas para que enviem informações, para o email abaixo, do estado das trilhas e vias que existem no nosso estado. · A FEMERJ está fazendo uma votação para saber quais vias devemos regrampear no Projeto Pitangui. Sugestões para infofemerj@ig.com.br · Notícias, sugestões e qualquer tipo de contato e informação deverá ser enviada para o endereço: infofemerj@ig.com.br
N a P a r e d e O freio ABS... Deste freio vale a pena falar: o ABS. Poucos o conhecem aqui no Brasil, talvez por que seja fabricado por uma pequena empresa de Chamonix (França), a Alp Tech. Na Europa já está à venda há alguns anos e quando foi lançado, revolucionou o mercado de freios, pois foi o primeiro que possuia duas importantes propriedades: é automático e dinâmico. Por ser automático, não é necessário usar as mãos para travar, e isto resduz o risco de acidentes por falha humana. Por ser dinâmico, deixa a corda deslizar alguns centímetros antes de travar, o que é importante nas vias em que as proteções são duvidosas, como por exemplo, micro-friends, pequenos stoppers, pitons, grampos de menor espessura, etc. Graças a esta característica é quase impossível que uma proteção receba mais do que 500 kg de impacto, ao contrário do Grigri (automático, mas não dinâmico) que pode transmitir às proteções, até mais do que 1200 kg de força. Tal variação pode ser a diferença entre um stopper ficar no lugar ou ser arrancado. Por isso a prórpia Petzl (www.petzl.com) só o recomenda para vias esportivas, bem equipadas. Repare também que este valor está próximo da média atingida nos primeiros testes feitos com nossos grampos, que foi de 1500 kg.
automáticos e há registros de escaladores que queimaram as mãos ou tomaram um grande susto segurando quedas de fator alto. Com o ABS, mesmo um fator 2 é travado com segurança. O interessante é que é uma peça simples, única, sem alavanca, nem molas, mas como a maioria dos freios são necessários alguns dias de treino até que se consiga manuseá-lo com segurança e pegar os macetes para dar corda com rapidez. Ele funciona bem com cordas entre 9,7 e 11 mm, e tem como desvantagens trabalhar só com corda em única e não servir para o rapel. Junto com ele vem um manual de instruções que ensina como utilizá-lo e ainda traz um gráfico que detalha o deslizamento em centímetros da corda até a detenção total da queda em função do fator de queda. Portanto, na hora de escolher um freio para dar segurança pense no tipo de via que irá realizar, se for com proteções móveis ou se você tem dúvida quanto a qualidade de alguns dos grampos, com certeza o ABS é a melhor opção atualmente. Neste ano surgiu o segundo freio com as mesmas características do ABS, o TRE alemão, mas ainda é difícil encontrá-lo. Sua vantagem consiste em poder ser usado para rapelar
O ATC e o Oito são dinâmicos, mas não
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Por: Flavio Daflon
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