Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. Cep 20261.130 Tel.: (21) 567-7105 E-mail: fator2@pobox.com www.webspace.com.br/ciaescalada/fator2
Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.
Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um Instrutor ou Guia de escalada em rocha. Caso você não conheça ou possua dúvidas em relação às técnicas de segurança para a prática do esporte, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. Capa: Sitio do Rod - Lapinha MG. Foto: Kiko Araujo. Nº12 Janeiro 1 / Fevereiro 15, 2001
N o s s a
P a l a v r a Organizando...
Entramos no novo milênio! Um ano novo se inicia e junto com ele as esperanças de que tudo no mundo melhore... e já podemos ver que estão melhorando! De uns anos para cá o montanhismo tem passado por uma fase de transformações, tem sido mais divulgado e mais pessoas começam a praticar este esporte e esta paixão. E como em qualquer outro esporte os problemas surgem... Contudo vemos que nem todos estão de braços cruzados, clubes, praticantes e profissionais já se mobilizaram para assegurar um melhor quadro para o montanhismo brasileiro. No Rio Grande do Sul já existe a Associação Gaúcha de Montanhismo e no Rio foram recentemente criadas duas federações: A FEMERJ (Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro) e a FEEERJ (Federação de Escalada Esportiva do Estado do Rio de Janeiro). Elas agora regularizam não só as competições indoor, como também a ética, ajudam e apoiam as manutenções de vias, procuram resolver os problemas de acesso às montanhas, etc. Além das duas federações já criadas, está surgindo uma associação de Guias profissionais, também no Rio, para regulamentar os cursos de escaladas e certificar os Instrutores e Guias. Outros Estados estão criando suas próprias federações e associação, como em São Paulo, onde estão sendo reunidos montanhistas para a criação de uma federação paulista. A Fator2 no decorrer do ano estará acompanhando estas entidades e informando ao leitor tudo que ocorre no mundo vertical! Nós desejamos que neste ano que começa todos possamos alcançar nossos objetivos, e desenvolver a paz para o mundo! Que as experiências de todos sejam ricas de saborosas vitórias e recheadas de boas aventuras. Feliz 2001!!!!! Cintia Adriane
N o M u n d o Roberta Nunes nos EUA
Itatiaia
Roberta Nunes, paranaense e uma das melhores escaladora brasileira de parede está passando uma temporada no país do Tio Sam. Em e-mail enviado a Fator2 Robertinha conta que voltou de 40 dias de viagem por Yosemite, Zion, Indian Creeck, Buttermilks... Esteve escalando com dois outros grandes escaladores brasilieros, Chiquinho e Tartari. Me amarrei no Half Dome... diz ela. Escalou com um super fast climber , Jose Pereira, da Venezuela, na Regular Route, ...22 enfiadas incríveis, fenda, chaminé, oposição, roubadinhas , muito divertido. Tudo isso em apenas 7 horas! Disse que foi uma incrível experiência, jumariou três cordadas e o resto tudo em livre, VI 5.10d A2/511d. No El Capitan, não teve muita sorte, ficou esperando mais para o final da estadia para escalar com o Chiquinho, e quando foram ...o guri teve uma contusão nas costas inacreditável, mau podia respirar, descemos da stoveledge!... , Lamenta Roberta, muito triste por deixar a Nose para traz. No mais free climb, passou uns dias em Zion e depois Indian Creeck, o lugar pelo qual se apaixonou, e que possui as mais lindas fissuras de dedos e mãos que viu na vida, segundo ela. Encadenou alguns 5.12 (VIIa) on sight , devido a finura de seus dedos. Agora ficará mais um tempo na cidade de Boulder trabalhando e aproveitando para escalar gelo!
Após 14 meses de trabalho foi lançado o guia de Itatiaia, dos escaladores Jorge Alberto Guedes e Fábio Corrêa Guedes. O livro conta com 108 páginas com mapas, croquis, dicas, história, curiosidades e muito mais. São mais de 150 vias para você saborear quando estiver na região do primeiro parque nacional brasileiro: Itatiaia. Pedidos com os autores através do endereço: Rua Artur Rangel, 20, Vila Magnólia, Itatiaia, RJ, Cep. 27580000, por e-mail: jfguedes@zaz.com.br, ou tel: (24) 99172534/ 9252-4983.
Fundação da FEMERJ (errata) Foi publicado na edição nº 10 da Fator2 a criação da Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro e na relação de fundadores faltou incluir o Clube Excursionista Light.
Nascendo mais feras Com apenas 9 anos de idade e dois de escalada indoor ele já conseguiu resultados animadores. Pedro é um dos novos ferinhas que estão despontando como escaladores de competição indoor. Em seis provas, venceu cinco e obteve ainda um segundo lugar. Participou do II Campeonato Amador CEB de Escalada Esportiva, da primeira à quarta etapa da Copa Ferrino de Boulder Indoor no Colégio Salesiano e do 1o BH Open de Escalada Esportiva em Belo Horizonte. Agora o que está faltando é um maior investimento nos campeonatos infantis que incentivarão outros grandes escaladores de potencial. Pág.4- Fator2
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Federação de Escalada Esportiva
Expedição ao Trango Tower
A antiga AAEERJ, criada em 99 para regularizar e incentivar o esporte no Estado do Rio, agora transformou-se em FEEERJ, Federação de Escalada Esportiva do Estado do Rio de Janeiro. Ela irá atuar nas competições organizando o ranking carioca, fornecendo juizes e route setters e garantindo um evento com padrões mínimos de qualidade. Desde que foi criada já promoveu o primeiro ranking carioca, levou atletas do Rio para os campeonatos brasileiros e coordenou o Campeonato Sulamericano passado. Maiores informações: marcellomps@aol.com ou no tel. (21) 542-8858.
Depois do sucesso com a expedição ao K2, Waldemar volta com outro grande projeto, levar o Brasil para uma escalada ao Trango Tower. A idéia é formar uma equipe de 7 alpinistas e desenvolver um treinamento rigoroso para o sucesso dessa empreitada.
Limpando a Parede Nilton Campos, Júlio Campanella e o André Kuhner, fizeram uma limpeza nas vias da falésia da Chacrinha em Copacabana - RJ. Trocaram todos os grampos podres e as chapeletas velhas que não tinham sido retiradas da via Meteorito quando esta foi regrampeada. Nilton diz: Acho importante frisar que não modificamos nada! Está tudo original. Apenas fizemos uma limpeza que deveria ser feita também em outros lugares. O paredão Vermelho , nos coloridos no Morro da Urca, também recebeu alguns grampos novos: foram quatro ao todo. Estes grampos apenas substituiram os antigos que estavam podres. São de aço inoxidável e foram doados pela Femerj. O trabalho foi feito pelo Omar e o Rinelli. A próxima via na fila é a Três Patetas também nos coloridos. O Diedro Infernal também teve seus grampos recolocados. O primeiro grampo está meio metro mais alto e o segundo 30cm mais baixo. Estas modificações visam a melhoria da segurança e foram autorizadas pelo conquistador. Exemplos para serem seguidos...
Primeira Ascensão Invernal Krzysztof Wielicki, o polonês que foi o primeiro a pisar no cume do Everest em pleno inverno (1980), está sendo o protagonista de uma outra empreitada dificílima. Seu objetivo é alcançar o cume do Makalu (8436m - a quinta maior montanha da terra) no inverno do Nepal. Seria a primeira vez que isto aconteceria. Ele está no acampamento base desde o dia 4 de dezembro na única expedição em todo Nepal. Se conseguir, faltará apenas o K2 no Paquistão, com 8611m, para realizar seu objetivo de conseguir os cinco principais oito mil durante a temporada de inverno. Fonte: Revista Desnivel.
A Trango Tower, ou Torre Sem Nome como é conhecida tem 6.251m de altitude e encontra-se na cadeia de montanhas do Karakoram, no Paquistão, a mesma do K2. A rota escolhida será o Pilar Sudeste pela rota Eslovena ou Iugoslava, uma parede de 1500m de rocha com graduação de VIIb brasileiro, complicada pela instabilidade climática e o ar rarefeito. O desafio terá vez entre os meses de junho e agosto de 2001, mas a equipe só será definida em março. Apenas dois nomes já estão confirmados, o de Sergio Tatari e José Luiz Hartmann (o Chiquinho) dois dos melhores escaladores de big wall do Brasil. As vagas estão abertas para qualquer escalador que queira se aventurar nessa montanha, mas só serão admitidos os que possuirem exímia técnica em rocha e gelo, além de boa experiência em big wall. Niclevicz está lançando junto com o Projeto Trango Tower uma nova versão do seu site (www.niclevicz.com.br), que foi desenvolvido pela Invision Comunicação Interativa e que durante as novas escaladas proporcionará aos internautas videoconferências e chats ao vivo. Maiores informações sobre o Projeto: (41)225-4447.
Escaladas na Serra Dourada Localizada entre a cidade histórica de Goiás Velho e o município de Sancrerlândia no Estado de Goiás, fica a imponente Serra Dourada. Ótimo lugar para caminhadas e mountain bike. José Eduardo e Rennan são dois escaladores que resolveram explorar essa região em busca de points de escalada também. Com a ajuda de um guia local e caminhando por entre rios e piscinas naturais com águas cristalinas em pleno cerrado, eles encontraram uma falésia. São 30 metros de altura em rocha quartizita, que proporciona muitas aguarras e pouca dificuldade técnica, a não ser por alguns lances de escalada negativa de VIsup a VIIb. Eles abriram três vias: Jornadas nas Estrelas I , Abelha Arapuá e Jornada nas Estrelas - A Conquista , todas em top rope. Vale a pena conferir!!! José Eduardo
N o
Piolet de Ouro Até o fechamento desta edição estará sendo entregue um dos maiores prêmios do alpinismo mundial, o Piolet de Ouro, que homenageia, desde 1991, a atividade alpina que mais se destacou na temporada. Esse evento é organizado pela revista Montagnes Magazine e pelo Groupe de Haute Montagne (França) e converteu-se em um dos mais importantes do mundo. Os selecionados do ano: Kangtega (Nepal), 6799m, face norte em solo. 1200m de escalada por uma nova via de 5c/6a A2/ A3 M6. Por Valéry Babanov, da Rússia; Grandes Jorasses (França), 4208m, No Siesta em solo. 7a/A2. Por Patrice Glairon-Rappaz, da França; Spantik (Paquistão), 7.028m. VI/A2. Por Mikhail Davy e Alexandre Klenov, da Rússia; Shivling (India), 6543m, La Voi de Shiva A4/VII, 6200m. Por Thomas Huber, da Alemanha e Iwan Wolf, da Suíça;
É uma via de uma enfiada toda em móvel e exposta (E4/5). Deve-se levar pelo menos um par de friends 3, outro par de friends 1 e stoppers do pequeno ao médio. Foi aberta por Newton Campos e Júlio Campanela. Em outubro, Antonio Magalhães (Tonico) conquistou no Pão de Açúcar a via Capitão Rodrigo (3º V, 50 mts). O nome foi uma homenagem ao famoso romance de Érico Veríssimo e a seu filho mais novo, Rodrigo Magalhães (12 anos), um dos conquistadores, juntamente com Marcos William. A via se localiza no contraforte do Pão de Açúcar, abaixo do primeiro mirante do Costão. Para chegar à base deve-se descer a encosta em direção ao Iemanjá e logo após o pequeno rapel seguir à direita, contornando a parede. Ambas as vias, além de 18 outras novas conquistas, estarão na 3º edição do Guia da Urca que sai no início da temporada.
Ketil (Groelândia), Anissa , 1200m de escalada por uma nova via de 6b/A3. Por David Jonglez da França e Eduardo Alonso, da Espanha; Mont Hunter (Alasca). ED+. Por Jules Cartwright e Ion Partnell, da Inglaterra. Na próxima edição publicaremos o ganhador. Fonte: Revista Desnivel
Novas Conquistas Esqueçeram de Mim é a mais nova fenda conquistada na Urca. Começa junto com a vr. do Kid (ao final da primeira enfiada da Galloti), só que para a direita, e termina no platô do artificial do Lagartão.
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N o M u r o Resultados 1º Boulder Solidário do Ginásio Crux - SP Aconteceu no dia 09 de dezembro em São Paulo. O evento arrecadou roupas, brinquedos, alimentos e mais R$ 732,00 em inscrições, que serão revertidos em alimentos e remédios para o Projeto de Incentivo à Vida - instituição que cuida de crianças carentes. O patrocínio foi da Beal, Simond, Mammut, Black Diamond, Snake, Half Dome, Adventure Gears, Kailash e Webventure. As primeiras colocações foram as seguintes:
Feminino Iniciante 1. Adriana Boreto - 228 pts.
Masculino Master 1. 2. 3. 4.
Bruno Carneiro - 3209 pts. Carlos Bortoletto - 3206 pts. Emerson Takami - 3186 pts. Eduardo Carceroni - 3186.
Masculino Iniciante
1. Leandro Hergovic - 2618 pts. 2. Maykel Kawamura - 2143 pt 3. Fabio Tezzei - 1927 pts.
Feminino Master 1. Paloma Cardoso - 3107pts. 2. Lia Chaer - 2887 pts. 3. Thais M.Shiraiwai - 1498 pts.
2ª Etapa do Campeonato Gaúcho de Escalada em Boulder Promovido pela Associação Gaúcha de Montanhismo (AGM), foi realizado no dia 03 de dezembro de 2000, no Parque Moinhos de Vento em Porto Alegre.
Masculino Pró-Master 1. Israel Menegol -Caxias do S. 2. Douglas Lotticci - Canoas 3. Rogério Censi - Caxias do S.
Próximas competições
2ª Etapa do Campeonato Brasileiro - SP Aconteceu nos dias 25 e 26 de novembro, no Ginásio de escalada Casa de Pedra, em São Paulo. A 1ª etapa aconteceu no Rio de Janeiro.
Feminino Master 1. 2. 3. 4. 5.
Paloma Cardoso - SP Janine Cardoso - SP Camilla Santos - RJ Rubia Camarao - SP Maria Emilia - SP
Masculino Master 1. 2. 3. 4. 5.
Andre Berezorki - SP Anderson Gouveia - PR Cesar Augusto Grosso - SP Thiago Balem - RS Oscar Echeverry - Colômbia
Feminino Master
Masculino Master
1. Paula Amaral - P. Alegre 2. Caren Calvetti - Canoas 3. Aline K. Dias - A.dos Ratos.
1. Naoki Arima de Ivoti 2. Jimerson Marta - Caxias do S. 3. Lair Jr. - Porto Alegre.
. A Femerj divulgou seu calendário de competições para este ano: dias 15 e 16/02 - Boulder Amador e Infantil no Ceb. Dias 24 e 25/03 - Dificuldade Amador no Salesiano em Niterói. Dias 5 e 6/05 - Abertura de Temporada na Urca - Boulder Brasileiro. Dias 19 e 20/05 - Boulder Amador Infantil no Salesiano. Dias 5 e 6/ 07 - Boulder Amador Infantil no Ceb. Dias 11 e 12/08 - Dificuldade Amador no Salesiano. Maiores informações: adiniz@ceb.org.br ou no telefone: 9798-9172.
Maranhão
Ao longo de mais de quatro meses, no segundo
semestre de 2000, eu e minha companheira, Kate Benedict, percorremos diversos Estados do Nordeste em busca de novas áreas de escalada ou retornando a áreas já conhecidas, como a Serra da Capivara e Quixadá, para explorá-las com mais vagar.
Os resultados desta viagem de sonhos foram além das nossas melhores expectativas, pois conquistamos nada menos do que 43 novas vias em diversos Estados, mas uma das descobertas mais interessantes que fizemos é a de que o Maranhão não é plano! Além da região de Carolina, no sul do Estado, que possui maravilhas naturais já bem divulgadas pela mídia, nós nos deparamos com formações areníticas de grande beleza no município de São Francisco do Maranhão, às margens do Rio Parnaíba, que ali separa o Maranhão do Piauí.
sua avenida principal, entre porcos e frangos, até o fim. Ali começa a trilha que conduz ao topo do Morro de Santa Cruz, uma caminhada leve que nos proporcionou uma vista espetacular de toda a região. No dia seguinte pegamos a mesma trilha, mas a abandonamos logo no começo, rumando então para a óbvia falésia situada algumas dezenas de metros à esquerda, onde, com segurança dada pela Kate, subi quatro pequenas fissuras paralelas, duas delas "de revista", as quais batizei com nomes de cactos típicos da região. Todas as vias contam com ótima proteção em móvel, particularmente friends de tamanhos diversos e hexentrics grandes. As paradas foram feitas em arbustos localizados no final das vias ou então no topo da parede, e o crux é sempre a saída do chão, onde a parede é um pouco mais vertical.
Quipá (V, 10 m) começa com uma oposição
A Pedra das Araras, por exemplo, é uma belíssima montanha com paredes verticais de arenito vermelho que emergem diretamente das águas do Parnaíba, uma visão de tirar o fôlego de qualquer um, mesmo que não seja um escalador. Em torno dela, pontões isolados, provavelmente virgens, lembram cenários de comerciais de cigarro, exceto pelos palmeirais - carnaúbas, buritis, babaçus e tucuns - que os emolduram. O que chama mais a atenção, contudo, é uma seqüência de "mesas" cujos topos são absolutamente planos e que, em meio à rocha fragmentada que em geral as compõe, apresentam pequenas falésias verticais de arenito compacto. Vistas de longe estas falésias não entusiasmam, mas de perto é que se vê que elas contam com inúmeras fissuras bem definidas, que imploram para serem escaladas. Pois foi na mais conhecida destas mesas, o "Morro de Santa Cruz", que domina a cidade e deve seu nome a um grande cruzeiro erguido no topo, que conquistamos aquelas que acreditamos ser as primeiras vias de escalada do Maranhão. Ficamos hospedados no hotel Vale da Serra, em Amarante, cidade bem maior do que São Francisco do Maranhão e que fica situada do outro lado do Parnaíba - portanto no Piauí. Cruzamos o rio diariamente na balsa "Titanic", um nome, convenhamos, muito pouco auspicioso para uma embarcação, e uma vez em São Francisco seguimos
André Ilha na conquista de Mandacaru (VI sup, 14m), no morro de Santa Cruz, São Francisco do Maranhão, MA. Foto de Kate Bendict.
instável, que conduz ao bom platô de onde se segue meio em tesoura, meio em oposição, até o topo. Dois metros à sua esquerda subi Xique-Xique (VI, 12 m), fissura bem definida que começa relativamente difícil, mas que logo acima se alarga oferecendo entalamentos perfeitos de mãos e pés, além de agarras estrategicamente localizadas. Depois de um pequeno platô se inicia então a fácil seqüência final, que mistura agarras, oposição e entalamento de mãos. Mandacaru (VIsup, 14 m), a mais bonita das vias, é também a mais difícil de todas. A via, que fica à direita das duas anteriores, começa com um exigente lance de agarras para vencer um tetinho, mas depois segue até o topo com ótimos entalamentos de mãos e pés, com uma ou outra passada em agarras. Coroa-de-Frade (V, 15 m), ainda mais à direita, começa com uma chaminé aberta e desprotegida, que se alarga para tesoura e depois se estreita até virar uma fissura de meio corpo, crux da via, mais exigente do que parece à primeira vista. Finalmente, uma fácil passagem de chaminé leva ao topo da parede.
Estas escaladas, por mais interessantes que sejam, não passam de um simples arranhão no grande potencial da área, que certamente merece ser visitada por outros escaladores no futuro próximo. Texto e fotos: André Ilha.
André Ilha na conquista de Xique-Xique (VI, 12m), no morro de Santa Cruz, São Francisco do Maranhão, MA. Foto de Kate Bendict.
H e l m u t B e c k e r
R a l f C ô r t e s
C o l u n a
C o l u n a
Trabalhando uma via
Itatiaia
Uma das mais comuns formas de se encadear uma via é através do red point . Esta é uma técnica originária da Alemanha, nos primórdios da escalada esportiva, onde se pintava um ponto vermelho na base das vias encadeadas após serem trabalhadas. O que está em questão é quanto tempo se despende para tentar encadear aquela via dos sonhos, um fator extremamente relevante, pois por causa de prolongados períodos de trabalho e tentativas, muitos escaladores acabam desistindo da via e até desanimam de continuar escalando. Podemos aqui começar a discutir algumas dicas para encadear a via dos sonhos sem ter pesadelos. A escolha da via: devemos procurar uma via que faça superarmos nossos limites, mas que esteja num nível acessível e real em relação ao próprio nível técnico. Para escaladores de nível intermediário, é interessante trabalhar vias que possam ser encadeadas com relativa rapidez, como em no máximo três semanas. Dessa forma, haverá sempre a possibilidade de poder-se dedicar a mais de uma via num período e encadear um maior número de vias num menor espaço de tempo. Outro aspecto interessante à se atentar é o estilo de via. Se estiver trabalhando uma via atlética de longa extensão, que exija mais da capacidade de resistência, não é muito interessante trabalhar no mesmo período uma outra que tenha características opostas. Quando se trabalham vias semelhantes em aspectos gerais, passa haver uma transferência positiva adquirida no treinamento de ambas. No entanto, trabalhar num mesmo período uma via atlética e uma outra via de característica positiva que exija mais da técnica, não interfere em nada, é até conveniente para manter-se reciclando ambos os estilos. Outro fator também importante e de ordem prática é o acesso para as vias, caso esteja trabalhando mais de uma. Quando se tem em mente concluir dois projetos que estão muito distantes entre si ou um deles se faz necessário fazer inúmeras viagens, pode-se converter num processo desgastante e desmotivante em curto prazo. Bom pessoal, por hora é tudo, voltarei com este assunto abordando os outros aspectos da técnica de se trabalhar vias no próximo exemplar. Bons ventos a todos e até a próxima.
Em junho de 2000 acompanhei alguns escaladores ingleses em uma viagem a Itatiaia, para uma empreitada um pouco diferente da nossa escalada tradicional. Tive a oportunidade de apreciar e até mesmo praticar a escalada tradicional inglesa. Ao escolherem uma falésia de mais ou menos 200 metros de largura com trechos de até 50 metros de altura (paredão Gean, próximo ao abrigo Rebouças), abrimos e conquistamos algumas vias de 6º até 8b E6 (E6 grau de exposição brasileira), e tivemos a chance de registrá-la no novo guia de Itatiaia feito por Jorge e Fábio Guedes. O guia é mais um documento possibilitando a proteção de algumas escaladas tradicionais, em Itatiaia. Em nome de vários escaladores que curtem a escalada tradicional brasileira ou até mesmo a escalada tradicional inglesa, um grande agradecimento.
Helmut Becker é patrocinado por: DMM, Sterling Ropes e Saltic Shoes.
- MG
Rod do
Sitio
Escalador está mais do que acostumado a passar perrengue . Aquela caminhada de mais de 2 horas, com direito a trepa-mato e lama, o temporal no meio da via, esperar (e quase desistir) pelo ônibus que não passa nunca, chegar faminto naquela padaria que você adora e descobrir que fechou a pouco mais de 10 minutos... Tudo isso faz parte do esporte e, é claro, que as recompensas superam todas as roubadas . Mas que tal, só pra variar um pouquinho, escalar em um lugar com altas vias esportivas, a 100 m da sua barraca, montada em uma área de camping super bem cuidada, com lugar para estacionar o carro, banheiros, churrasqueira e fogão, piscina e muita natureza. Em Minas esse lugar existe. É o Sítio do Rod, que fica em Lagoa Santa, a 45 minutos de Belo Horizonte, na rua que dá acesso a Gruta da Lapinha, famoso ponto turístico da região. Há pouco mais de 2 anos o Rod começou a escalar, e percebeu o enorme potencial de vias nas paredes de calcário que ficam no seu terreno de 103.000 m2. É claro que a partir daí, as vias foram surgindo. Quem chegava para conhecer o lugar, acabava deixando uma. Tetos, negativos, vias técnicas e atléticas, móvel e todo tipo de escalada que o calcário proporciona. Hoje o sítio conta com aproximadamente 30 vias, e ainda tem possibilidade para muito mais. Depois de forrar o estômago, está na hora de trabalhar . Faça a dura caminhada de mais ou menos 100m até as paredes de calcário, e mãos à obra. Para quem está começando tem várias opções: Chico Via (III) positiva e com ótimas agarras para mãos e pés; Urtiquidea (V), uma via alta (para o local) com a possibilidade de ensaiar vários movimentos para um mesmo lance; a Bode Negro (V), tem agarras grandes com lance bem negativo.
À esquerda no Sítio do Rod e à direita no Baú de Minas.
Como se já não bastasse tudo que Deus lhe deu, o sítio do Rod ainda está super bem localizado... Fica próximo a Pedra do Baú, da Serra do Cipó e da Lapinha, que fica na mesma rua. Q uanto aos mais experientes, não vão ter problemas com o tédio, há diversas vias de VI, VII e VIII graus. Uma das mais procuradas é a Tapa na Aranha , um VIIa negativo. Tem ainda a Fósseis VIIb de fenda com proteção móvel e um teto no final. A Sedativa (VIIb) tem movimentos alucinantes e um entalamento de perna que te permite descansar o braço, estilo Tailândia.
Sítio do Rod
P or enquanto o maior desafio é a via Power Katronga (VIIIb), mas existem projetos futuros de vias de IX grau para cima, é só esperar. A gora que os braços já
Fenda no Baú de Minas
estão tijolados, que tal dar uma conferida na piscina? Dar uma volta pelo sítio, fazer algumas fotos belíssimas das formações rochosas? Pequenas grutas e algumas nem tão pequenas assim, são comuns em toda parte. Na piscina, aproveite para trocar idéia como Rod, o responsável por toda essa mordomia, um cara do tipo calmo e gente boa, que pode te dar todo tipo de informação sobre as escaladas.
Nos finais de semana, o sítio recebe a visita de vários escaladores, principalmente de BH, sempre hospitaleiros. Bom... com os braços já descansados, depois da seção de relaxamento na piscina, vamos voltar as escaladas. Pelo menos para fazer a via mais alta do Rod, a Rosa Apocalíptica (VI). Depois jogar uma sinuca e chapar, pois no dia seguinte tem mais. Como se já não bastasse tudo que Deus lhe deu, o sítio do Rod ainda está super bem localizado para nós escaladores. Fica próximo a Pedra do Baú (peça informações aos locais) e com um pouquinho de boa vontade, dá pra dar um pulo na Serra do Cipó, além é claro da Lapinha, que fica na mesma rua. S ó tome cuidado para não ficar mal acostumado com tanta mordomia. Depois você vai ter que e n c a r a r a q u e l a padaria, temporal, caminhada, lama...
À esquerda: mordomia na piscina do Rod. Acima: ótimas vias para iniciantes no Sítio do Rod.
Bom Saber...
Travessia Recorde do
Existem regras básicas a serem respeitadas tipo: sujou, lavou. Economize água. E lixo é no lixo! O valor da diária é de R$5,00, já incluído o uso da piscina e da cozinha. Do lado do sítio tem um bar com sinuca, totó e um sorvete bacana. A Gruta da Lapinha fica no final da rua do sítio, e além de ser um ponto turístico é um centro de escaladas com ótimas vias. Vale a pena conferir. Endereço e Tel.: Rua do Rosário, 333 Lapinha - Lagoa Santa - MG. (31) 9981-8722
Camping extenso e arborizado.
Texto: Kiko Araujo. Fotos: Flavio Daflon e Kiko Araujo.
N a C a b e ç a É de fato incrível a capacidade do ser humano em não acreditar. O mais religioso dos animais terrestres é o menos crente, o que mais facilidade encontra para não mudar, opor-se, inventar obstáculos intransponíveis e fronteiras que no fundo têm a mesma importância que um risco de giz no chão." (Entre dois polos - Amyr Klink)
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N a P a r e d e Raios... Céu nublado! Mundo cinzento... De repente os céus se iluminam com uma forte descarga que desce à Terra mostrando toda a sua majestade de luz. É o raio! Eis uma cena bastante freqüente no verão, épocas de muitas chuvas e tempestades. E este também é um fato bastante perigoso para os excursionistas e escaladores, pois um acontecimento destes em plena montanha ou campos ermos pode levar a um acontecimento funesto. Os raios são descargas elétricas entre terra e nuvens. Eles podem ter início das nuvens para o solo ou vice-versa. Os que saem do solo para as nuvens são mais raros e acontecem geralmente em regiões com grandes concentrações de torres, prédios ou em picos de montanha. Mas o mais comum é começarem das nuvens para o solo. Para que ocorram raios é necessário que haja as nuvens chamadas de cumulosnimbos, que se formam a partir da elevação do ar quente do solo. Dentro destas nuvens o ar quente continua a subir, até se resfriar e transformar-se em cristais de gelo que caem para a base da nuvem. Nesse movimento de sobe e desce ocorrem choque entre as partículas que acabam eletrificando a nuvem. A carga negativa acumula-se na base da nuvem e as positivas no topo até atingirem intensidade muito altas. Então, para equilibrar cargas tão diferentes a eletricidade negativa acaba atraída pela carga positiva de outras nuvens ou da superfície terrestre, e com o rompimento da capacidade isolante
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do ar ocorre o raio. Relâmpagos são descargas elétricas que acontecem na atmosfera, a maioria dentro das nuvens, e só são vistas por nós como clarões. O trovão, é o som dessas descargas que chegam depois do clarão pois é mais lento que a luz. Mas não pense que apenas o local onde cai o raio é perigoso. Toda a área ao redor pode transmitir a corrente elétrica, principalmente se estiver molhada o que torna mais condutivo os objetos. A corrente elétrica procura seguir o caminho mais curto e menos resistente para chegar ao seu destino, o solo. Com isso tudo que for molhado ou úmido é um ótimo caminho, inclusive o corpo humano. Também materiais metálicos conduzem melhor a eletricidade como os cabos de aço ou escadas de vias ferratas. Os raios nem sempre se produzem apenas durante a tempestade, antes mesmo dela se formar por completo ou começar a chover eles podem nascer e atingir a Terra, basta que as nuvens cumulusnimbos já tenham encoberto o céu. Algumas vezes pode-se ouvir um zunido produzido pela ionização do ar antes da queda de um raio. E para quem pensa diferente, um raio pode cair duas, três ou quantas vezes forem no mesmo lugar. Os lugares mais propícios a quedas de raios são árvores solitárias, alguém em pé em um descampado, cumes de montanha, e até mesmo barracas pontudas tipo canadense... Na realidade qualquer lugar pode ter a visita de um raio, mas coisas como essas são um
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N a meio mais rápido para que ele chegue ao solo. Nem sempre as vítimas de quedas de raios morrem, mas quase sempre sofrem ferimentos graves como queimaduras, paradas respiratórias e cardíacas. No caso de montanhistas, acidentes indiretos também podem acontecer com a queda de pedras, avalanches, etc. Alguns morrem não pela queimadura, mas porque foram lançados montanha abaixo. O Brasil é um dos países com maior incidência de raios, por ano são aproximadamente 100 mortos segundo dados oficiais. Já aconteceram muitos acidentes com montanhistas em todo o mundo. Casos de escaladores que foram arrancados da parede, de montanhistas que se refugiaram em suas barracas e foram atingidos por um raio, jovens que perderam a vida quando parados a 50 metros do abrigo para apreciar a tempestade, e até mesmo o caso da filha de uma refugieira de um abrigo que foi atingida por um raio no momento em que fechava a janela. O raio havia caido sobre o abrigo e ela serviu de ponte. Como podemos ver, muitos acidentes, às vezes inimagináveis, ocorrem. Acontece que o corpo humano é uma excelente ponte para o raio. Mesmo abrigos em cavernas são perigosos, pois como o raio corre pela superfície das coisas se ele atingir o batente de uma caverna correrá pelo teto até o fundo e continuará pelas paredes e chão até encontrar a terra. Nesses casos alguém que queira se abrigar da chuvas e dos raios de uma tempestade precisa ficar distante das paredes, da entrada, do fundo e do teto da caverna, além de manter-se isolado do chão sentando-se em sua mochila ou material isolante, pois pode servir de caminho mais curto para o raio em seu percurso. O ideal é manter a distância de pelo menos a metade da longitude do corpo, nem que para isso seja preciso permanecer encolhido. Vias ferratas também são extremamente perigosas nessas circunstâncias, pois elas são como pára-raios nas montanhas. Fazer uma delas em tempo ruim sem
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auto-segurança pode ser um caminho curto para a morte. Em muitos dos acidentes com vítimas fatais, estas não tinham auto-segurança, enquanto que as que sobreviveram ficaram penduras depois de serem arrancadas violentamente da parede por um raio. Por tudo isso a melhor maneira de evitar acidentes desse tipo é recorrer a meteorologia poucos minutos antes de sair de casa e ficar atento para mudanças de tempo. Mesmo que não esteja chovendo, se reconhecer as famosas cumulusnimbus procurar imediatamente um abrigo isolante. Nunca permanecer em pé em descampados. Nunca se refugiar embaixo de árvores, em barracas piramidais, em covas muito pequenas e fechar sempre janelas e portas durante tempestades com raios. Estar sempre reciclando seu curso de primeiros socorros, principalmente em relação as técnicas de reanimação. Tentar manter-se o mais seco possível e longe de locais úmidos que possam transmitir uma corrente elétrica que caia no solo próximo. Mantenha boa distância das paredes de rocha e de negativos. Se a tempestade o surpreender no cume de uma montanha o ideal é manter-se agachado, sentado em cima da mochila ou isolante e longe das bordas e precipícios para evitar que um choque o jogue montanha abaixo e torça para que no uni-du-ni-tê , o raio não escolha você!
Texto: Cintia Adriane. Fonte: Seguridade e riesgo, Pit Schubert, Ed. Desnivel e Revista Super Interessante, Ed. Abril.
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Chapeletas Nacionais... Quem acha que só lá fora se inventam bons equipamentos para a área do montanhismo, não conhece ainda a grande inovação em chapeletas de autoria brasileira. A chapeleta Bonier é a mais nova concepção de pontos de ancoragem para escaladas. Ela consegue reunir em uma única peça três grandes qualidades: é inoxidável, tem resistência de 3000 kg e permite o rapel. O aço inoxidável garante excelente resistência ao desgaste e à corrosão, fazendo com que a peça dure muitas vezes mais que as tradicionais. Assim se evita ter que trocar de tempos em tempos os grampos podres. Como consequência também diminuem aqueles furos dos grampos antigos arran_ cados. Para que fosse possível o rapel, sem perigo de ruptura da corda, foi criado um design diferente: duas abas simétricas e um assento arredondado. E aninda há espaço suficiente para O chumbador removível
acomodar a corda e pelo menos mais um mosquetão. Também foram desen_ volvidos chumbadores em inox para a fixação das chapeletas. Possuem um sistema de expansão inovador e são de dois tipos, o removível e o anti-furto.
Dados Técnicos Material: Aço Inox AISI 304 Composição química: C= 0,08% Cr= 18% Ni= 8% Mn=2% Capacidade: 30 kN Fixação: Ø10mm. Peso: 75g
As cha_ peletas e os chumba_ dores foram testados em laboratórios especializados e já estão disponíveis para venda. Maiores informações podem ser obtidas no site www.bonier.com.br.
L i s C o l u n a
M a r i a d e
C a m i n h a d a
Pedra Menina Altitude: 2037 metros. Localização: Serra do Caparaó - Município de Dores do Rio Preto localidade de Pedra Menina (ES), Paraíso(MG). Desnível: saindo da Pousada 1000 metros. Comprimento da trilha: aproximadamente 3,3 km a partir do antigo cafezal onde deixa-se o carro. Sempre que subi o Pico da Bandeira por Caparaó Velho, notava um maciço imponente no flanco oposto da subida. Tão imponente que cheguei a pensar, numa das vezes, em estar avistando o Dedo de Deus. Quando subia o Pico do Cristal e descia para o lado do Espírito Santo esta montanha parecia me acompanhar, até que passava em sua base. No ano passado em meio as chuvas de janeiro, após voltar da Serra do Brigadeiro, tive oportunidade de subí-la. Tão grata a surpresa foi descobrir que em sua base existe uma pousada. A pousada Januária tel: 032 99731253, pertencente ao Sr. Julinho e a Sra. Jacinta. Com tudo agendado com o guia local, o etílico Sr. Sapico, para nossa surpresa ele apareceu em meio a um temporal. A subida se inicia pela estrada de barro que entra pelo cafezal do Sr. Julinho. Carro comum não sobe, só 4x4 e trator. Logo ao final da estrada de barro encontra-se um riacho, onde o carro deve transpor, e logo chega-se a clareira onde para-se o carro, numa altitude de 1240 metros. Desde a pousada até onde deixa-se o carro são cerca de quase 2 km de estrada. Existe uma estrada mais íngreme que chega ao mesmo local, partindo defronte da pousada, mas somente para cavalos e pedestres. Após deixarmos o carro começamos a andar por um cafezal abandonado e passamos numa porteira de curral bem estreita depois de 5 minutos de caminhada. Logo desviamos para a esquerda em direção a uns eucaliptos. Cruzamos um riacho bem na virada de uma cachoeira com 30 metros de queda, com 25 minutos de caminhada. Essa travessia do rio chega a ser perigosa, portanto cautela! Chegamos a nos apoiar em cipós para termos mais segurança. A partir da travessia do rio, segue uma picada relativamente aberta, por uma bonita mata em um aclive bastante acentuado, até a crista onde existe intersecção com outra picada bem mais fechada, provavelmente vinda de Patrimônio da Penha. Na crista segue-se sempre subindo para a direita na mata até que a 15 minutos do cume saímos para uma área exposta de vegetação baixa. O tempo total de ascensão foi de 2 horas e 15 minutos, sem paradas em ritmo suave. Como esperado, estávamos dentro das nuvens e assim não vimos nada, nem para cima e nem para baixo. Ouvíamos apenas o barulho da vila vindo de baixo. Na volta a chuva caiu copiosa e o riacho engordou. Escorregando na terra preta do cafezal, chegamos de volta a pousada 5:30hs após termos saído. A home page da Lis está no endereço: www.geocities.com/yosemite/1219/
E n t r e v i s t a Nilton Campos
Urubifa. O que lá foi feito não foi uma tentativa de suicídio como a maioria pensa e propaga. Haviam Idade: 42 anos. proteções seguras e muito Anos de escalada: 23 . bem colocadas pelo Ralf. Portanto ele usou de toda Maiores Feitos: Em grandes paredes fez sua experiência e técnica a primeira repetição de várias vias: Contra Pino, para criar sua proteção e Caixinha de Surpresa, Fecho Eclair, encadenou uma via de Independência ou Morte, Sinfonia do Delírio, VIIb. Um grau que a Limiar da Loucura, Arco da Velha (sendo nestas maioria dos escaladores não faz duas últimas a primeira independente); Na nem de top-rope. Aquilo foi uma obra futurista. escalada esportiva tem vias encadenadas de VIIIc e Demorará muitos anos para alguém repetir. Quanto IXa em top-rope. Na tradicional esportiva guiou o ao Diedro Pégaso só não concordo porque as Urubu à Vista em móvel (VIIb E5) e em boulder já pessoas que bateram os grampos lá, não foram fez VIIIa. Em Alta Montanha fez o Aconcágua. Já consultadas. Aproveito a escalou no México, Argentina, oportunidade e faço um apelo para Bolívia, Peru e Espanha. Vai ficando que eles concordem que o diedro fique sem os grampos. cada vez mais A velha discussão grampofenda recentemente veio à Você tem uma via em fenda difícil para os tona. No Urubu, com a que está grampeada, neste escaladores autorização do caso o que você faria? saírem conquistador, os grampos Realmente tenho uma via em fenda do Urubifa foram colocando grampeada. Não quero aqui arrancados para que a via grampos em justificar meu erro, mas na ocasião pudesse ser escalada em em que estava abrindo o Urubu à qualquer fenda móvel, no Diedro Pégaso, Vista , mais de dez anos, nossa sem autorização do sem um experiência era ainda pouca com o conquistador, os grampos pouquinho, lá material móvel e apesar de já foram arrancados para que possuir algumas peças, nós no fundo, da a fenda fosse escalada achávamos que a rocha não era também em móvel, o que certeza de que adequada e que não teríamos você acha disso tudo? estão fazendo segurança. Hoje vejo que nossa Acho isso muito bom. Primeiro avaliação foi errada e que o Urubu uma coisa porque só o fato da discussão vir a à Vista pode perfeitamente ser errada tona é porque tem mais gente escalado em móvel em quase toda interessada na escalada sua totalidade, sendo dispensável tradicional, e vai ficando cada vez quase todos os grampos. A via já foi mais difícil para os escaladores feita em móvel por mim e por outros escaladores. Só saírem colocando grampos em qualquer fenda sem ainda não retirei os grampos por pura preguiça. um pouquinho, lá no fundo, da certeza de que estão Grampos enferrujados seus dias estão contados! fazendo uma coisa errada. Quanto ao Urubifa acho Errar é humano, mas persistir e perpetuar o erro é que não há o que discutir. Além da via ter sido parar no tempo. escalada com proteção móvel, a retirada dos Você concorda com o tão falado grampos foi autorizada por quem abriu a via. ‘Direito Autoral’ de uma via ou seja, Gostaria de aproveitar para mostrar para as modificações só com o consentimento pessoas um outro lado do que aconteceu no Pág.21
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E n t r e v i s t a com os clubes e passar a escalar mais ndependente. Sofremos uma avalanche de críticas e fomos até ignorados. Éramos as ovelhas negras.
do conquistador? Concordo. Acho bem sensato e é também uma forma de controlar as aberrações que alguns costumam fazer em nome da segurança. Mas também devemos focar o outro lado desta moeda e colocar o bom senso, se possível, nesta questão. Pois apesar de uma via ter a assinatura de seus conquistadores, a tela aonde o quadro foi pintado é de todos. Portanto de domínio público. Olhando por este ângulo os conquistadores passam a não ter total e irrestrito poder para decidir.
Quando você começou a escalar? E com quem mais escalava? Minha primeira escalada foi o paredão Bip-Bip na Pedra da Gávea no dia 27 de novembro de 1977. De lá para cá, são 23 anos de escaladas ininterruptos e mais de 1300 escaladas catalogadas. Escalei com muitas pessoas em todos estes anos. Claro que em determinadas épocas escalava mais fixo com um companheiro. Como são muitos anos, foram também muitos os companheiros. Não vou citar nenhum, pois posso até esquecer de alguns, mas com certeza só tenho boas recordações de todos.
Você sentiu alguma mudança na ética desde a época em que você começou a escalar?
A ética veio para ficar e movimentar a massa para que ela não fermente e venha apodrecer. Assim Quais eram as vias mais cobiçadas na estamos evoluindo. Quando comecei a escalar não época? Quais delas você fez? E qual se falava em ética. Bater grampo em qualquer lugar se recorda mais? ou fenda era natural e ninguém contestava. Não se discutia o Com certeza a via mais cobiçada e a assunto. Até arrancar alguns que mais me recordo é o Lagartão. matinhos era aceito e não Não abuse do Creio eu que em 1978 quando fiz a discutido sem traumas. Me lembro primeira vez o Lagartão, era uma das top rope, pois ele que não se batiam grampos na via escaladas mais difíceis do Brasil. dos outros e muito menos colavamascara o seu Quiçá a mais difícil. Me recordo se agarras com sika. Agarras muito, também, do Sombra e Água nível real cavadas era inimaginável para Fresca, e um pouco depois, do nós. Hoje já temos até vias com paredão Aquários, Sinfonia do agarras fabricadas e pré moldadas Delírio, Limiar da Loucura, Xeque como aquela obra prima que foi Mate, Arco da velha, Pássaros de feita no mirante Dona Marta em nome da Fogo, Caixinha de Surpresa e outras tantas. Fazer evolução e da modernidade . essas vias naquela época tinha outra magia. Mas Percebe alguma diferença entre os continuo fazendo todas com muita satisfação e escaladores daquela época e os de adrenalina. hoje? Alguma dica para quem está começando? As diferenças são muitas. Quando comecei a A dica que posso dar para quem está começando e escalar o universo dos escaladores eram os clubes. quer ser um bom escalador, é que não esqueça os Ninguém escalava fora deles e somente lá que você três mandamentos. O primeiro mandamento é a encontrava sua tribo. A comunidade de escaladores segurança, segundo mandamento segurança e o era menor e todos tinham que ir aos clubes para terceiro mandamento segurança. É bom também poderem escalar. Praticamente todos se conheciam não bater grampos em fendas, não cavar agarras, ou se identificavam através deles. O pensamento era não criar agarras sikadas, não bater grampos em mais uniforme e as bases eram praticamente as uma via que não seja sua, não arrancar a mesmas. Todos começavam nos clubes. Hoje não. vegetação encontrada e respeitar seus limites. Há As pessoas chegam na escalada por vários níveis e graus de escaladas para todos. É muito bom caminhos. Algumas carregadas de péssimos hábitos também que eles transitem por todas as e outras totalmente despreparadas, formando uma modalidades e áreas de escaladas não se fixando grande Babilônia. Não que isso seja ruim ou bom, é em apenas uma. E não abuse do top rope, pois ele apenas natural. Toda árvore quando cresce muito, mascara o seu nível real. Para terminar não vai aqui acaba criando galhos podres. Hoje a maioria dos uma dica, mas um desejo. É que não deixem morrer escaladores não entende o que foi para nós romper a escalada tradicional. Pág.22
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