Revista de Escalada Fator 2 - nº 14

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Assinatura & cartas Flavio Daflon e Cintia Adriane Rua Valparaíso, 81 / 401 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ. Cep 20261.130 Tel.: (21) 2567-7105 E-mail: fator2@pobox.com www.webspace.com.br/ciaescalada/fator2

Fator2-Fator de Queda Fator 2 é um fator de queda extremo, na qual todos os componentes de uma escalada são submetidos a grande impacto. Este fator é calculado pela altura da queda, dividido pela distância de corda entre os escaladores.

Atenção Escalada é um esporte onde há risco de você se acidentar gravemente ou até mesmo morrer. Esta publicação não é um substituto para um Instrutor ou Guia de escalada em rocha. Caso você não conheça ou possua dúvidas em relação às técnicas de segurança para a prática do esporte, procure um instrutor ou guia especializado para lhe ensinar. Acidentes sérios e até fatais podem ocorrer, como resultado de uma má compreensão dos artigos aqui publicados ou da superestimação dos seus próprios limites. Capa: Ajoelhou tem que Rezar S. L. do Purunã - PR. Foto: Val . Nº14 Junho 1 / Julho 15, 2001

N o s s a

P a l a v r a

Os Trogloditas... O período pré-histórico já acabou, mas podemos ver que alguns homens das cavernas não foram extintos. Ultimamente temos visto uma enormidade de pixações em pedras e árvores. Mas nossos trogloditas modernos estão inovando a prática das pinturas rupestres . Agora eles não se contentam mais com pequenas pedras, frondosas árvores e fachadas de prédios. Aprenderam a escalar e andam mostrando sua pobre e feia criatividade, nos lugares mais altos dos paredões e montanhas, como por exemplo a deplorável frase de um anônimo de pouco cérebro pichada no caminho dos tetos do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Sem falar na área de boulder perto do Urubu e o próprio. Não entra nas mentes inteligentes, a idéia de porquê esse tipo de pessoa vê prazer em escrever seus nomes ou frases tolas em lugares tão pouco apropriados, se no fundo todos que olharem aquelas pixações irão pensar: Que coisa horrível, quem será o idiota que pichou isso? Sem querer ofender, mas acredito que a maioria das pessoas pensam assim, quando vêem esse tipo de vandalismo. Será que esses pixadores nunca freqüentaram o Jardim da Infância? Ou será que permaneceram com a mesma mentalidade dos 5 anos quando rabiscavam a parede de casa? Há ainda a hipótese (talvez menos provável) de que eles sejam algum espécime de homo pré-histórico, que não conseguiu evoluir!!! De qualquer forma a comunidade montanhista deve ficar de olho nessa galera da latinha de spray e começar a tomar alguma providência, inclusive denunciar se conhece alguém. Ligue para a Federação ou para a Fator2 e ponha a boca no mundo, antes que nossas lindas montanhas e paredes se transformem no reduto de trogloditas do spray que irão poluir visualmente nosso único canto de paz e sossego. Extinção aos pichadores de pedra!!!! Cintia Adriane

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N o M u n d o Etapa Carioca de Boulder 2001

Nos dias 22 e 23 de junho de 2001 a Green Company Eventos, realizou a II Etapa Carioca de Boulder, no Centro Excursionista Brasileiro, com patrocínio da Montcamp, Apoio da Stone Age, By Pita Agarras Artificiais, Hillung, Merco Mundi Outdoor Sports e supervisão da Federação de Escalada Esportiva do Estado do Rio de Janeiro (FEEERJ). Segue o resultado para os 5 primeiros colocados:

Categoria Infantil: 1. Pedro Nort; 2. Gustavo Wagner; 3. Vanessa Wagner; 4. Marcella Santos; 5. Elisa Magalhães. Categoria Feminino: 1. Raquel Guilhon; 2. Bianca Castro; 3. Lúcia Fragoso; 4. Ana Luísa Campos; 5. Vanessa Wagner. Categoria Masculino: 1. Alexandre Aragão; 2. Cleanto Portilho; 3. Rafael de Souza; 4. Luciano Magno; 5. Henrique Escobar. Informaçãoes: Zozimar Moraes

Deserto Norte Americano (por Roberta Nunes) Indian Creek, Zion, Monument Park, Castle Tower, Potash, Fisher Tower, são alguns dos lugares incrivelmente fendados espalhados pela costa oeste dos Estados Unidos. Nossos olhos se confundem com um horizonte longe e torres de uma pedra arenosa avermelhada, podendo atingir em certas regiões 300 metros de altura. Para quem gosta de proteção móvel fica em estado de êxtase devido a certas perfeições encontradas. Tem diversos tamanhos e encaixes, e as dificuldades vão desde clássicas imperdíveis de 5.10 (Vsup) até bizarros 5.13 (IX) a,b,c,d... Um arenito sólido, sem problemas, com exceção de Fisher Tower. É possível ver pinturas rupestres e sentir uns ares de história. O clima é seco e não rola água por perto, sem falar que EUA é campeão em giárdia, parasita terrível do intestino, legal mesmo é se descolar com algum climber do local. Os meses de desfrute sem dúvida são maio e novembro. É possível sentir a extrema mudança de temperatura, sol o dia todo e a noite gélida... Aconselho também a fazer uma boa luvinha de esparadrapo e usar uma sapatilha de escalada forte, porque arregassa!!! Caprichar na fartura do rack de equipo móvel, não esquecendo dos números repetidos e das peças grandes para os off-widths . A evolução é garantida neste estilo de escalada, que para os gringos é trad climb . É de ficar com o cabelo em pé ao observar uma linha perfeita de fendas para mãos e punho de 50 metros de altura, negativando no final. Tem guias das regiões nas lojas do ramo. Esta viagem foi possível graças ao apoio da Snake, Stone Age e Alto Estilo.


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Em Falésia...

Parede Virgem

Mais uma falésia para quem gosta de escalada esportiva, a Falésia do Alto Leblon. Ela localiza-se subindo em direção ao Irmão Menor (RJ), no final das curvas em zig zag, 50 metros antes do primeiro mirante (7º Céu). Todas as vias são negativas, e as de grau mais forte estão do lado direito. As vias:

Na entrada para o Parque Nacional de Itatiaia, mais precisamente na localidade de Garganta do Registro, na Serra da Mantiqueira, entre MG e RJ, está uma das maiores paredes da região, conhecida como Paredão do Namorado. Ela mantinha-se virgem até o ano de 1998, quando Leandro Moura, João Monteiro, Alexandre Pacheco e Júlio Campanella conquistaram uma via, que foi terminada por Júlio e Alexandre em agosto de 2000. Ela chama-se Mãe Natureza , tem o grau sugerido de 5º VIsup A2 e tem ao todo 6 enfiadas. O rapel e feito pela própria via com duas cordas, e quase todas as paradas são duplas, com exceção de uma delas que precisa de um móvel também. O material utilizado foi: camalot 4 e 4½ , 2 jogos de friends, 1 jogo de nuts, 1 clif taloon, 1 clif de agarra, 2 cordas de 50m e TCUs 0 e 00.

1. Tempestade Incessante (V) - fenda em negativo fraco com 10 lances, termina no platô. Grampo apenas para top rope. 2. A Um Passo do Asfalto (VIIb) - Começa à direita da canaleta da broca. 3. Diagonal do Buraco Negro (VIIb) - começa em um bote ao lado do muro, e vai até depois da via 1, podendo terminar em cima ou embaixo. 4. Pablito e o Lagarto na Terra do Mosquito (VIIc) aresta em negativo forte, em diagonal até o platozinho com arbusto. Conquistas de Cláudio Peixoto e do Fernando Vieira.

Cerro Pissis

Em fevereiro de 2001os paranaenses Elaine Miyuki Fujiwara, Marcos Iwamura, Paulo Cezar Azevedo Souza, e Renato Antônio Kalinowski, completaram a primeira escalada brasileira ao Monte Pissis, que com seus 6882m é a segunda maior montanha do ocidente, abaixo apenas do Aconcágua (6957m). A montanha localiza-se nos Andes do norte da Argentina, no Deserto do Atacama, considerado o mais árido do planeta. Ao contrário do Aconcágua, o Pissis é muito pouco conhecido e escalado, além de ter acesso mais difícil. Por: Elaine Fujiwara e Marcos Iwamura

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Indoor... O Muro de Escaladas em Niterói, sob a supervisão da Patrícia Mattos e do Alexandre Aguiar Xakundun , que se localizava no Colégio Salesiano está de mudança para novo endereço. O muro terá parceria com a Academia Tio San Icaraí, que está sendo construída no espaço da Top Tênnis, empresa com as melhores quadras de tênis da cidade, e terá agora 200 metros quadrados de área escalável. O novo endereço será na Rua Miguel de Frias, 123/ cobertura, em Icaraí, Niterói. Por esse motivo o muro estará fechado no mês de julho, sendo reaberto provavelmente em agosto, com data a ser divulgada na próxima Fator2. Para qualquer informação, entre em contato com a Patricia no tel.: (21) 9787-9236/2612-1192, ou por e-mail: pattymattos@globo.com .

Brasileiros na Trango

A Trango Tower está situada ao norte do Paquistão, no Karakorum. Junto com uma série de imponentes torres vizinhas, forma um conjunto harmonioso conhecido como as Catedrais da Terra , a maior concentração de torres verticais do mundo. Também conhecida como Nameless Tower ou Torre Sem Nome, ela surge na metade do caminho para a K2, e foi escalada pela primeira vez em 1976. Sua segunda ascensão aconteceu apenas onze anos depois e até hoje somente 72 heróicos alpinistas

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chegaram no alto dos seus 6.251 metros de altitude. Patrocinada pela TIM, O Boticário, TAM e Net Vírtua, a equipe de montanhistas chefiada por Waldemar Niclevicz, formada pelos cariocas Alexandre Portela e Sérgio Tartari, e pelos paranaenses José Luiz Hartmann Chiquinho , Marcelo Santos Bonga e Irivan Gustavo Burda chegaram ao Paquistão para enfrentar o grande desafio de escalar a Trango. Depois de enfrentarem dias de tempestades, muito gelo, escaladas em rocha, fendas, avalanches... às 16h50m do dia 30 de junho de 2001, Bonga, Irivan e Waldemar alcançaram o cume dessa desafiadora montanha, sendo os primeiros sulamericanos a vencer essa impressionante escalada. fotos e maiores Informações: www.niclevicz.com.br

Errata 1. A via Esqueceram de Mim foi conquistada por Nilton Campos e André Kuhner e não pelo Júlio Campanela como foi divulgado na Fator2 nº 12. 2. A via Urubifa não é VIIb como saiu na entrevista da edição nº 12 e sim VIIIc.

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Cabritos e Irmão Menor do Leblon

Duas vias novas na Zona Sul do Rio: a primeira no Morro dos Cabritos, acesso pelo Parque da Catacumba, chamada Padecendo no Paraíso (grau sugerido 5º VIIc E1). Localiza-se à esquerda da via Última Opção sendo que cruza os dois tetos presentes na parede. O primeiro grampo fica em um grande buraco logo abaixo do primeiro teto, marcado pela vegetação. Existe a possibilidade da via cruzar com uma rota pirata conquistada pelo Ralf, há anos. A segunda fica na face leste do Irmão Menor do Leblon, acesso pela Chácara do Céu, à esquerda e abaixo da via Sombra e Água Fresca . Seu nome é Rafael e o Sapo na Festa do Céu (grau sugerido 5º VIIa E2) e vai até o cume de forma independente, terminando logo acima da via Bill Liberou . Cuidado extremo com uma grande laca que obrigatoriamente faz parte da via, no final da terceira enfiada. Por: Fernando Vieira - RJ

M u n d o

Encadenamentos Em Ceuse, na França, Chris Sharma (EUA) encadenou Biographie , um possível 9a+ francês (seria XIIa no Brasil!). Foram quase 30 quedas no crux, entre as várias tentativas que fez nos últimos 4 anos para encadenar estes 40 metros de via. Nas Dolomitas (Itália), Alex Huber repetiu em livre Bellavista , possivelmente o primeiro 8c francês numa via alpina (XIa no Brasil). Esta via de 240 metros, foi conquistada pelo próprio Huber em A4 7b (francês). Ela é bastante negativa e possui alguns tetos que antes eram feitos em A4 e A3. Para realizar tal proeza escolheu o estilo mais duro e comprometedor, sem chapeletas, utilizando somente proteções naturais. Veja também nesta edição a entrevista com o Thiago Balen que encadenou a Coquetel de Energia no Campos Escola 2000, cotada em Xc.

O p i n i ã o

Dona Marta II

Com relação à opinião publicada na edição nº 13 desta revista com o título Dona Marta, o amigo escalador escreveu que: todas ou quase todas as vias foram abertas com agarras melhoradas com resina e cometeram um crime irreparável , devo inicialmente dizer que sempre devemos ouvir as duas partes antes de tirarmos conclusões, pois neste País existe um péssimo hábito de acusar alguém, jogar no ventilador e este que se vire para provar ao contrário. A realidade é outra: a falésia foi aberta com grande sacrifício (quem conquista, sabe o que eu digo) e consta com 7 vias atléticas de 15 a 20 m com mais de 50 boas proteções fixas e um ótimo visual. Depois de todas as vias abertas, constatamos que 3 agarras chaves iriam quebrar e resolvemos reforçá-las com sika. No Rio de Janeiro existem vários locais de escalada que foram empregadas esta técnica, por exemplo:

Pão de Açúcar, Barrinha , platô da Lagoa, Campo Escola 2000, Cipó (Ética e Poltergeist), etc. E todos sabem disso. A técnica é usada em vários locais do mundo para que vias não sejam perdidas pela quebra de agarras provocadas pelo uso do próprio escalador que poderiam durar ali algumas centenas de anos. Como faço da escalada um esporte e não uma profissão, vejo e faço das novas conquistas de vias, como mais oportunidades para todos os escaladores se divertirem e se aprimorarem. Quero é ter amigos e os que me conhecem sabem disso. Talvez esteja errado em minhas intenções, mas com certeza não com minhas ações. Se alguém desejar maiores esclarecimentos, pode me escrever: rzugliani@ig.com.br . Paz e boas escaladas... Ricardo Zugliani Dentista .



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E T O R

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3 2 v i a s n o v a s , e m m ó v e l , n o Pa r a n á

A tempos vínhamos conversando eu, Valdesir Machado e Marcelo (Beleza) que o Estado do Paraná precisava de mais escaladas tradicionais. Pois algumas vias que poderiam ser escaladas neste estilo foram grampeadas, e outras vias que existiam (apesar de belíssimas) eram de difícil acesso ou comprometidas, o que dificultava o aperfeiçoamento das técnicas e o surgimento de novos escaladores neste estilo. Até que ouvimos falar de dois novos setores em São Luiz do Purunã. E logo achamos o setor 3, uma falésia linda e comprida onde se chega pôr cima, cheia de fendas, diedros e buracos para peças móveis, tudo perfeito e virgem. Existia apenas uma via, a Mamilos conquistada pelo Perna e Gustavo. Não tivemos dúvidas, achamos o paraíso, e já começamos a colocar nossos friends e stopers em fendas e buracos. Por ser escalada móvel fazíamos de 1 a 2 conquistas por dia e em 8 meses já havia 32 vias. A

Beleza, na via Atacado , VIsup

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maioria das vias possuem fendas ou fissuras (horizontais e verticais) como a via Ajoelhou Tem Que Rezar , onde o escalador começa em livre até chegar num pequeno platô com um mini teto que obriga o escalador a ficar de joelhos para entrar em artificial numa fissura onde vão muito micro Val na Ajoelhou tem que rezar stopers e tcus . Muitas vias possuem trechos negativos e tetos como a Coliformes Mentais (possível VIII)com uma seqüência de 4 tetos bem atléticos. Outras vias exigem variadas técnicas como a Diedro de Isys VIsup, um belíssimo diedro que ganha negatividade no final e varia entre entalamento de membros, oposição, fissuras, agarras e Luiz na via das Abelhas VI até uns 2 a 3 movimentos de chaminé. A parede possui cerca de 60 metros de altura com arenito de boa qualidade na maioria absoluta das vias, que tem em médias 20 metros de altura, porém há vias com 50 metros e paradas móveis no meio e início de algumas vias. O que nos surpreendeu foi o rápido aparecimento e interesse de alguns ótimos escaladores novos como o Jonatt, Alessandro, Andreas, Malcon (de Matinhos) entre outros, que começaram a repetir e conquistar novas vias, não esquecendo da participação importante de escaladores de Ponta Grossa como o Willian e Daniel. Fator2


Como todas as vias são em móvel e (algumas de proteção não óbvia) só há proteção fixa nas paradas. Recomenda-se que o escalador tenha boa experiência neste estilo de escalada. A maioria das vias possuem tetos e negativos. Abaixo estão relacionados os nomes das vias e seus respectivos graus: 1. Sangue, Suor e Lacas Podres (Vsup); 2. Tá Sacando (A2); 3. Mamilos (VIsup A1); 4. Quando a Mulher Qué Faz O Que Qué (V A1); 5. Jardins Suspensos (V); 6. Urubufobia (VIsup); 7. Cuidado Que o Platô Desce (V A1); 8. Batmam (Vsup); 9. Hobby (Vsup); 10. Caixinha de Surpresa (VIsup); 11. E o Segue Sumiu (IVsup); 12. Iô-iô (VIsup); 13. Melzinho na Chupeta (IIIsup); 14. Atacado (VIsup); 15. Varejo (V); 16. Atravessador (VIsup); 17. Vernisage (Vsup); 18. Ajoelhou Tem que Rezar (IVsup A2); 19. Cata Ovo (VII); 20. Diedro de Isys (VIsup); 21. Cicatriz (VII); 22. Fel daTerra (VIsup); 23. Coração de Mãe (V A2); 24. Das Abelhas (VI); 25. Eu e Deus (IV) escalada em solo; 26. Coliformes Mentais (VIII); 27. Estraga Prazeres (VII); 28- Miquitório (VII).

Luiz na via Varejo , V

A via Velhos Amigos (VIsup A2) não aparece por estar em um bloco bem ajoelhou tem que rezar . sepado das principais vias. Existem mais 4 conquistas não relacionadas, pois estavam sendo abertas durante o fechamento da matéria, e duas vias abertas em solo que não estão preparadas para rappel.

Texto Luiz Carlos S. Silva. Maiores informações sobre as escaladas com Luiz: (41) 223-0687 Valdesir: 286-1995 ou Marcelo Beleza: 286-0296

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A t rag é d i a d e 1 9 6 1 O maciço do Mont Blanc, na França, foi o placo onde nasceu o alpinismo e com ele o montanhismo que seria praticado em todo o mundo. O Mont Blanc também foi cenário de uma das mais dramáticas tragédias acontecida com alpinistas de renome mundial. Na década de 60, o Pilar Central da parede sul do Frêney, no Mont Blanc, com seus 700 metros, ainda não havia sido escalado e era considerado o último dos grandes desafios da montanha mais alta dos Alpes. Muitos já haviam concentrado seus esforços nessa empreitada, mas sem sucesso. No verão de 1961, em 8 de julho, começava a saga de uma equipe de alpinistas italianos e franceses que ao encontrar-se no Abrigo La Fourche, aos pés da montanha, resolveram unir forças para fazer a 1ª ascensão do Pilar Central do Frêney. Juntos, os franceses Pierre Mazeaud, Pierre Kohlmann, Robert Guillaume, Antonie Vieille e os italianos Walter Bonatti, Roberto Gallieni e Andrea Oggioni iniciaram a escalada superando o pilar Peuterey e um terço do pilar Central onde fizeram o primeiro bivaque. No dia seguinte o objetivo era alcançar a elevação final do Pilar, 80 metros acima. Mazeaud queria guiar até o mais alto possível antes do segundo bivaque, para que com apenas mais um dia eles atingissem o cume e voltassem. Eles nem imaginavam que começava agora os piores dias de suas vidas. O primeiro sinal chegou quando Mazeaud percebeu um ligeiro zumbido, seguido de dor em seus dedos e faíscas na marreta que usava. A qualquer momento

começaria uma tempestade. Mal ele teve tempo de terminar sua descida que um vento forte e granizo surgiram. Quando Mazeaud chegava até onde estava Kohlmann, este último foi alcançado por um raio que o atingiu no ouvido, carbonizando seu aparelho de surdez. Kohlmann caiu nos braços do companheiro aturdido e sem sentidos, mas felizmente minutos depois voltava a si. Todos haviam sido pegos de surpresa pela tormenta, a qual da parede sul não podiam ter visto a sua formação, pois ela vinha de NO. Logo havia uma sucessão de raios e trovões acompanhados da queda brusca de temperatura. Passaram uma noite infernal e as péssimas condições mantiveram-se sem diminuição. O Pilar transformara-se em um imenso pára-raios. Kohlmann teve a infelicidade de ser atingido novamente por um raio que o jogou fora do platô, ficando pendurado de sua longa solteira. Seus companheiros o içaram e em pouco tempo estavam reunidos de novo. No início da madrugada a tempestade cedeu e a neve começou a cair forte. Apesar da terrível situação, em comparação aos raios e trovões de antes, eles estavam aliviados com a calmaria. Na manhã seguinte o céu clareou e cheios de esperanças eles decidiram permanecer mais um dia com a certeza de que no dia seguinte o sol os brindaria e eles poderiam terminar a escalada. Afinal, faltava tão pouco para o cume, que descer daquela altura seria tão arriscado quanto escalar. E naquela época do ano, pela experiência que tinham, uma tormenta não deveria durar mais de 24 horas. À esquerda, os franceses em um platô confortável no primeiro bivac. À direita o italiano Andrea Oggioni na manhã do 2º dia na parede. No alto, de cima para baixo: Antonie Vieille, Pierre Kohlmann, Robert Guillarume e Pierre Mazeud, no Refúgui La Fourche.

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A última esperança se desvaneceu quando, à tarde, começou nova tormenta, e tiveram que passar mais uma noite, pior que a anterior, pois a essa altura já estavam afetados física e psicologicamente. A meia noite voltou a nevar e a temperatura era de menos 20 graus. No final da madrugada a neve parou, mas as 10 horas da manhã o tempo piorou novamente. Outra vez raios, trovões e neve! As rajadas rompiam os sacos de dormir, por si só já destruídos. Resignados e em situação que já beirava a letargia, esperaram pela manhã para tomarem juntos uma decisão. No dia seguinte decidiram escalar até a saída do Pilar, mas quando Mazeaud começou a subir pelas cordas fixas reconheceram que era impossível continuar para cima. As cordas, a rocha, tudo estava congelado. Só havia uma saída, a retirada. Bonatti começou a rapelar primeiro preparando os seguintes rapéis, enquanto seus companheiros o seguiam, com Oggioni fechando o grupo. Enquanto isso a tempestade voltou. Quando chegaram a base do Pilar se afundaram na neve recém caída por onde tiveram que abrir trilha através do platô Frêney, mas com as forças dizimadas só foram capazes de chegar até o colo do Peuterey. Ali foram obrigados a fazer mais um bivaque pois estavam esgotados. Na manhã seguinte, para não subir até o colo Eccles, o qual já não se atreviam, tiveram que continuar debaixo da tormenta até as Agulhas Gruber de onde seria mais fácil descer do platô do Frêney. Assim que chegaram, Bonatti se pôs a rapelar seguido por seus companheiros. No entanto Vieille mais acima na trilha com Mazeaud e Guillaume, começou a perder o domínio de suas palavras e atormentado por calafrios sentou-se. Sem conseguir convencê-lo de prosseguir seus amigos tiveram

que puxá-lo para junto deles, porém pouco tempo depois Vieille não reagia mais, estava morto. Quando Bonatti soube da notícia, voltou a subir pelas cordas para ajudar Mazeaud a envolver o corpo de Vieille em um saco de dormir e prendêlo a um piton. Essa morte afetou a todos aumentando o abatimento do grupo, assim Bonatti se ocupou de verificar se todos estavam bem assegurados durante os rapéis. Ao chegar no glaciar do Frêney, suas forças estavam tão consumidas que eles tinha o andar cambaleante. Bonatti era quem estava em melhores condições, ainda com alguma reserva de energia e foi o que guiou o grupo abrindo uma trilha na espessa neve. As 4 horas da tarde ouviram vozes entre a névoa, vindo da aresta Innominata, mas a tormenta feroz engolia suas tentativas de resposta. Era uma equipe de resgate que pensava que eles estivessem naquela aresta, pois deveriam ter subido o colo Eccles - o que não aconteceu. Encontravam-se agora distante. Mesmo assim os 6 sobreviventes tiveram uma esperança a mais para prosseguir, pois sabiam que estavam fazendo uma busca por eles. Continuaram lutando em meio a névoa e o desejo de chegar os fez acreditar que estavam próximos a Innominata, mas logo se deram conta de sua ilusão ao reconhecer que ainda se encontravam muito longe. Despojados de forças para sobreviver, se acharam na fronteira da loucura. Apenas alguns passos levava com freqüência 5 minutos. Continuamente caiam enterrados na neve até os ombros e necessitavam da ajuda um do outro para colocar-se de pé. Avançando de metro em metro, impediam-se mutuamente de ficar sentados, pois isso significaria uma morte certa. Aos poucos voltava a tormenta e a neve, de tal forma que morrer, dada a inutilidade das circunstâncias, lhes parecia mais sensato que seguir andando. Por fim chegaram ao pé da subida do colo da Innominata. Só faltavam 100 metros de ascensão e depois seria só descida até o Abrigo Gamba, mas naquela

À esquerda, Kohlmann, Vieille e Mazeaud se preparando para a segunda noite em parede. À direita, Roberto Gallieni, trabalhando com as cordas congeladas. No alto, Walter Bonatti no segundo dia de escalada.

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circunstância, 100 metros parecia um obstáculo insuperável. Bonatti sem perda de tempo começou a subir metendo alguns pitons. Ele era o único em condições de subir sem a ajuda da corda, ou seja, guiando. Se não conseguisse talvez não houvessem sobreviventes desta tragédia. Mazeaud que ia de segundo, ao perceber que Bonatti conseguiria subir, desceu para chamar Oggioni e Guillaume. Encontrou Oggioni vindo, mas onde estava Guillaume? Gritou por ele e desceu até onde eles haviam estado antes mas não o encontrou. Mais tarde se soube que ele havia caído em uma greta. Enquanto isso Kohlmann e Gallieni já haviam subido até onde estava Bonatti. Mazeaud e Oggioni tentavam escalar e eram praticamente rebocados pela corda por Bonatti. Contudo suas forças estavam no fim e ele não conseguia mais puxar a corda. Teve que abandonar os dois há uns 40 metros e prosseguir com Kohlmann e Gallieni, até o Abrigo Gamba em busca de socorro. Só restava a Mazeaud e Oggioni esperarem que seus amigos chegassem em tempo ao refúgio e trousessem ajuda. Quando a tempestade amainou eles tentaram continuar subindo, porém gastaram 1 hora em tentativas que resultaram num progresso de pouquíssimos metros. Logo suas forças esgotaram-se, Oggioni se apoio em Mazeaud, fechou os olhos e morreu em seus braços, a meia-noite. Pouco depois Mazeaud em um reflexo de sobrevivência tentou novamente escalar pelas cordas deixadas por Bonatti. Só conseguiu subir um metro antes de cair até o piton onde estava seu companheiro morto. O piton partiuse e ambos caíram. Mazeaud pensou que sua hora tinha chegado, mas de repente a

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dor sentida pelo estirão e pela pressão da corda o devolveu a vida, sua queda tinha sido freiada por um nó. O corpo de Oggioni caiu até o glaciar. Dos outros três que desciam até o refúgio, Kohlmann morreu de esgotamento um pouco antes de chegar, e Bonatti e Gallieni chegaram mais mortos do que vivos ao Abrigo Gamba onde acionaram o resgate. Enquanto isso pendu-rado pela corda, sem ajuda e sem forças, Mazeaud lutava contra as dúvidas de que seus companheiros conseguiriam chegar, e se a ajuda viria a tempo. Já não tinha muitas esperanças, o frio se apoderava de seu corpo, não sentia mais os pés nem os dedos. Pela manhã percebeu pessoas no colo acima e com suas últimas forças gritou-lhes que se apressassem, pois não agüentaria muito mais. Quando chegaram até ele, Mazeaud desmaiou, mas uma injeção de Coramina lhe devolveu a vida. Estava salvo! Traduzido e adaptado por: Cintia Adriane.

Fontes: Seguridad y Riesgo , de Pit Schubert Editora Desnivel. Revista Desnivel nº 143 de setembro de 1998 e nº142 de julho/agosto de 1998. Para saber mais: Frêney 1961 , de A. Ferrai Editora Desnivel, www.desnivel.es Acima Mazeuad salvo no último instante. Abaixo (foto menor) o maciço do Mont Blanc e o ponto de onde eles desceram. Abaixo (desenho), a fatídica rota percorrida no caminho de volta.

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Historia da Escalada Esportiva no Brasil

(parte 2 - final) longo do tempo, o Campo Escola 2000 A orecebeu várias vias novas se tornando a maior

referência de vias esportivas no Brasil, se igualando em importância aos Ácidos, que infelizmente caiu no esquecimento por culpa de uma tentativa de reflorestamento mal sucedida, feito na base e por escaladores. volta de 1985, os paranaenses abriram as P orprimeiras vias esportivas no sul, mas não

puderam ir muito longe por causa da falta de afloramentos rochosos adequados. O único conhecido era o Anhangava, que foi tão importante para os colegas do Paraná quanto os Ácidos foram para os cariocas. Outro lugar de importância histórica é a Ilha do Mel, por causa da via Porcos com Asa . Na época existia até uma rivalidade (amistosa), entre os

escaladores do Paraná e do Rio de Janeiro. A competitividade era realçada durante os primeiros campeonatos realizados no Brasil: Sul Americano de 1989 e 1990, realizados em Curitiba, e os Brasileiros realizados no topo do Pão de Açúcar, de 1990 a 1992. Mas tudo acabava em festa mesmo porque todos se conheciam e havia um respeito mútuo. Nomes como Ronaldo Franzen (Nativo), André Lima, Júlio, Chiquinho, Dálio e Bito, entre outros, não podem ser esquecidos porque foram os precursores da escalada esportiva no Paraná. Ao longo dos anos noventa a evolução do esporte no Estado foi um pouco lenta, mas atualmente o número de escaladores de alto nível no Estado pode ser comparado aos dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. de brasileiros em campeonatos A participação internacionais não é recente, em 1987, um grupo

de cariocas e paranaenses foi disputar uma competição em Córdoba, Argentina, vencido pelo Marcelo Braga. Na época as competições eram na rocha, inclusive na Europa. Em 1989, teve início as primeiras competições em rocha no Brasil, primeiro foi em Vila Velha (PR) e em 1993 foi no Rio de Janeiro, na falésia da Lagoa. A maioria das vias eportivas que existem na Lagoa foram fabricadas para o evento, com buracos abertos artificialmente para servirem como agarras. Triste exemplo dado pelos franceses e seguido à risca por alguns cariocas que queriam se promover. À esquerda, Sergio Tartari na via Linguado , VIIa, na Praia do Pepino, em 1987. À direita, Antônio Paulo na Praia da Joatinga.

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com o estabelecimento J ádefinitivo do estilo

as escaladas conquistadas, se comparado ao número de vias escalada esportiva, restava esportivas abertas no mesmo procurar outras áreas onde a período. Era o tempo onde os rocha daria as condições escaladores andavam com calças favoráveis para a abertura de de lycra coloridas e apertadas. vias e as mais apreciadas são Quanto mais colorida melhor e as paredes negativas e com algumas eram rosa choque. boas agarras. Novas vias foram Lembram? Em um campeonato abertas no início da década de em Curitiba, em 1990, eu ouvi noventa no Morro da Formiga uma mulher me chamar de (Petrópolis), no Vale do Bonfim boiola. Caí na real e mudei os (Petrópolis), em Itacoatiara meus hábitos. Muitos escaladores (Niterói), na falésia da Praia do que tinham uma visão mais Pepino, etc. Além do Paraná, global e escalavam de tudo, foram abertas vias em Santa estavam apreensivos por medo Catarina e no Rio Grande do da escalada tradicional Sul, de onde tem surgido desaparecer, inclusive eu. atualmente alguns dos Felizmente isso não aconteceu. O melhores escaladores Estado de São Paulo começou a esportivos do país. No final dos aparecer no cenário por causa de anos noventa, o Morro da alguns bons centros de escalada, Acima, Pita (Luiz Claudio Bitencourt) na Pedreira situado na Serra do principalmente na área da Pedra segunda repetição da Sinos de Aldebaran , Cipó se tornou o maior centro do Baú, entre outras. É inegável VIIIb, na Serra do Cipó - MG, em 1992. de vias esportivas do país, o papel dos muros de escalada considerando a concentração de vias numa mesma em São Paulo na preparação dos escaladores área. O início foi em 1986, quando o André Ilha, a paulistas, onde foram moldados alguns dos melhores Lúcia Duarte e o André Jack abriram as primeiras vias. escaladores do estado e do país, já que não existem Até o final da década de 80 íamos para lá para falésias por perto. Na segunda metade da década conquistar vias com material de proteção móvel, de 90, vários novos centros de escalada esportiva abrimos muitas, mais de 100. O André Ilha e o Antônio foram abertos em vários Estados, Rio Grande do Sul, Magalhães, que abriram a maioria, queriam manter Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio o lugar como um centro de escalada pura , tradicional. de Janeiro, Goiás e Brasília. Mas não foi isso que aconteceu. A primeira via centro mais recente e que merece destaque é a esportiva foi o Movimentos Eróticos (VIIa), aberta em Barrinha, situado na Barra da Tijuca, Rio de 1989, mas foi conquistada com material móvel por Janeiro. Aberto no ano 2000, já é referência nacional Antônio Paulo Faria e Lilian White. pela qualidade e quantidade de vias de altíssimo nível. oje este estilo vem sendo denominado, por alguns, O local conta atualmente com duas vias de IXb, cinco como escalada esportiva tradicional. Depois vias entre Xa e Xb, uma de XIa e outras com graus vieram as vias totalmente grampeadas. Em 1991, o menores. É inquestionável o aumento anual quase que Sérgio Tartari e o Pita deixaram duas importantíssimas geométrico do número de falesistas no Brasil. Nós contribuições, Lamúrias de Um Viciado (VIIb) e Sinos sabemos o que aconteceu no passado, mas qual será de Aldebaran (VIIIb), ao mesmo tempo que o Luis o futuro da escalada esportiva no Brasil? No resto do Claudio Cortez (Ralf) abria o Na Calada da Noite país continuará a se repetir os mesmos erros que a (VIIIa). Posteriormente, abrimos várias outras vias massificação está causando nas falésias mineiras da esportivas, como o Jungle Boy (VIIIb). Em 1993, o Lapinha e do Bauzinho? Como ficam as questões Ralf e o Pita abriram o Sombras Flutuantes , o primeiro éticas e ambientais? Como resolver o problema da 5.13 (IXb) da Serra do Cipó. Depois disso, com a desinformação dos escaladores? Quais serão as novas popularização do lugar, muitos outros escaladores tendências? Como ficará a briga entre escalada contribuíram, inclusive os escaladores locais que depois esportiva e escalada tradicional esportiva? desenvolveram dois outros centros de escalada Texto e fotos: Antônio Paulo Faria esportiva: Lapinha e o Bauzinho.

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Agradecimentos ao Marcelo Braga pela revisão crítica. Errata da primeira parte: 1. Onde se lê Luiz Carlos Bitencourt, leia-se Luiz Claudio Bitencourt (Pita). 2. O grau correto da via História Sem Fim é 10b. 3. O Pita foi o primeiro escalador a guiar o Southern Confort (10a). Justiça seja feita.

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o longo dos anos noventa alastrou-se a febre da escalada esportiva em vários pontos do país. A escalada tradicional foi quase que colocada de lado, muitas vias caíram no esquecimento e foram poucas Pág.17

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INFOFEMERJ Número 2

Projeto Pitangui - recuperando a cara das vias do Rio O Projeto Pitangui é um nome bem-humorado para o projeto de recuperação sistemática das vias de escalada do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é substituir os grampos podres por novos e devolver à comunidade de escaladores as vias abandonadas ou pouco freqüentadas pela insegurança de suas proteções fixas. Não haverá alteração no traçado original das vias e, é claro, tudo será feito dentro da ética. Para que a Femerj elabore uma lista de prioridades, estamos convocando os montanhistas a apontar aquelas escaladas cuja recuperação considerem mais urgente. As vias com mais indicações serão recuperadas primeiro. O trabalho foi apenas iniciado, com o Paredão Vermelho (Morro da Urca), o Diedro Pégasus (Babilônia), o Roda Viva e o Às de Espadas, dando continuidade às regrampeações feitas pela Interclubes. Também estamos convocando voluntários para o trabalho, lembrando que um escalador inexperiente em regrampeação será sempre acompanhado de um experiente. Pedimos que as sugestões sejam mandadas à Femerj em nome do Chiarelli, Diretor Técnico, pelo e-mail infofemerj@ig.com.br ou pelas listas Femerj e Hang_on. Reuniões As reuniões acontecem na última terça-feira do mês, às 19 hs, e está aberta a todos que quiserem participar. Sua presença é muito importante para o desenvolvimento do nosso esporte. Junho – dia 26, no CEL / Julho – dia 31, no CEC Ago – dia 28, no CEB / Set. – dia 25, no CERJ Out. – 30, na Limite Vertical / Nov. – 27, no CEL Dezembro – dia 18, no CEC Curtas · Os Grupos de Trabalho (GT) foram criados com o intuito de agilizar cada setor. Para isso, algumas pessoas são responsáveis por cada um deles. Caso você tenha interesse em ajudar, é só entrar em contato com a Femerj. 1. Grampos de Inox – Guilherme Condé. 2. Regimento Interno do Depto Técnico – Chiarelli, Bernardo Collares, Rodrigo Milone, Flávio Daflon, Fávio Carneiro e Flávio de Aguiar.

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3. Festival de Banff – Helena Artmann, Larissa, Roberto Leusin, Alexandre Diniz e Flávio Wasniewski. 4. Seminário de Graduação – Flávio Wasniewski. 5. Parque Nacional da Serra dos Órgãos. · Processo Sara Vilela: foi realizada uma reunião com Carlos Henrique, Superintendente do IBAMA, representante dos moradores funcionários do IBAMA, André Ilha, Bernardo Collares e Gustavo Sampaio, na qual iniciou-se um acordo afim de liberar, provisoriamente, o acesso pelo terreno do IBAMA, pela rua Senador Simonsen, mediante a apresentação da carteira da FEMERJ, até que seja liberada a abertura definitiva do acesso na rua Sara Vilela. · Projeto Reciclar – reciclar cartuchos de tinta de impressora . O dinheiro arrecadado será revertido para a FEMERJ. Os cartuchos devem ser entregues à Priscila Penna Botto nas reuniões da FEMERJ ou nos clubes e escolas de escalada. · Reflorestamento na face oeste do Pão de Açúcar: · Acesso ao Corte do Cantagalo: será requerido pela FEMERJ um pedido preventivo de servidão de passagem que será encaminhado ao Alfredo Sirkis (Secretaria de Urbanismo). É solicitado a todos os clubes que encaminhem para a FEMERJ boletins onde constem excursões àquela parede, principalmente as antigas. · FEMERJ apoiará GAE a fim de que o complexo do Pão de Açúcar seja transformado em Parque Municipal. · A FEMERJ não exige mais o atestado médico para federar-se. · As conquistas feitas dentro do PNSO deverão ser feitas mediante autorização da diretoria do parque. Para tanto, o Vicente, Diretor do Parque, pede que seja enviado um ofício com o pedido e o local a ser conquistado, para aprovação. Como se federar? Para se federar, o interessado deverá procurar a entidade onde fez o curso básico de montanhismo (clubes, instrutores ou escolas de escalada) para que ele autorize a inscrição que será, então, encaminhada para a FEMERJ pelo mesmo. Qualquer interessado pode ser FEDERADO, desde que: a) tenha feito algum Curso Básico de Montanhismo (CBM) homologado pela FEMERJ; b) apresentando o respectivo certificado; c) respeite os critérios de conduta e ética estabelecidos pela FEMERJ e Número 2


INFOFEMERJ d) seja maior de 18 (dezoito) anos. Os menores de 18 (dezoito) anos terão de apresentar autorização assinada pelo responsável; Art.17) O interessado que quiser ser FEDERADO da FEMERJ sem ter participado de um CBM reconhecido pela FEMERJ, e demonstra suficientes conhecimentos técnicos, será submetido a um teste prático e teórico a ser ministrado pelo Departamento Técnico da FEMERJ. Vantagens de ser um federado: 1. 50% de desconto na entrada do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PNSO) e Parque Nacional de Itatiaia – necessário apresentar a carteira da FEMERJ. 2. 10% de desconto em diversas lojas de montanhismo: . F. Equipamentos - Rua Visconde de Pirajá 444/ sobreloja 216 - (21) 523-2292. · Camelos Adventures – Estr. Fco da Cruz Nunes, 8305 loja 101 – Itaipu – Niterói – tel.: (21) 609 9843. · On The Rocks - Shopping Downtown Bloco 8 – Loja 124 – Barra da Tijuca – RJ – tel.: (21) 491.9725. · Half Dome – Alameda dos Nhambiquaras, 946 – Moema – SP – tel.: (11) 5052.8082. · Half Dome – Rua Dr. Vila Nova, 321 – SP – tel.: (11) 255.4331. 3. Participação nos campeonatos da FEMERJ. 4. Outros acordos estão sendo firmados. Divulgaremos em breve... Valores para se federar: JÓIA – R$ 20,00 (vinte reais) – Promoção: Isenção da jóia para quem se federar no ano de 2001. ANUIDADE – R$ 30,00 (trinta reais) – este valor é proporcional à época do ano. Participe você também! · Os interessados em fazer parte da lista da FEMERJ deverão mandar um email sem título para o seguinte endereço: FEMERJ-subscribe@egroups.com · Pedimos a participação e colaboração dos montanhistas para que enviem informações, para o email abaixo, do estado das trilhas e vias que existem no nosso Estado. · A FEMERJ está fazendo uma votação para saber quais vias devemos regrampear no Projeto Pitangui. Sugestões para infofemerj@ig.com.br · Notícias, sugestões e qualquer tipo de contato e informação deverá ser enviada para o endereço: infofemerj@ig.com.br

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Número 2


H e l m u t B e c k e r C o l u n a

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E s p o r t i v a

Otimizando as sessões de treinamento no muro caseiro

Treinar em um muro artificial, seja em um ginásio de escalada, ou em um muro caseiro, visando um determinado objetivo, é uma pratica cada vez mais popular na escalada brasileira. Hoje em dia muitas pessoas possuem seu próprio muro caseiro para treinamento, mas às vezes não sabem como aproveitá-lo melhor. Mas para esta prática ser adequada ao objetivo almejado, deve-se ter em conta alguns fatos. Não importa o tamanho do muro, sempre é possível realizar uma boa sessão de treino. O que ocorre normalmente entre os escaladores são sessões bombásticas de treino de boulders entre amigos, ou longas sequências de trabalho de resistência numa mesma via que é repetida várias vezes (3 X 3 por ex.). Esse tipo de trabalho por si, tendencia e vicia o escalador a submeterse a um mesmo padrão de estímulo, que não é completo e pode saturar a atividade em algumas semanas se não variado. Primeiramente deve-se ter em mente o objetivo principal envolvido na escalada para um determinado período, como encadear uma via, manter-se em forma e estável num determinado nível, uma competição ou até mesmo uma viagem em especial. Podem ser vários os tipos de objetivos principais envolvidos num mesmo período, portanto é necessário saber decidir o mais acessível para enfocá-lo nas sessões de treino e escalada. Uma vezes decidido o objetivo principal para um determinado período, será possível determinar o perfil de treino que predominará nas sessões de escalada. Se o objetivo tiver um perfil relacionado a vias longas, obviamente é importante que as sessões predominem em treinos de resistência e vice-versa no caso de vias de maior potência. Ainda assim, e necessário variar os tipos de sessão, pois o maior problema está em unicamente trabalhar o mesmo tipo de exercício, que pode gerar um estresse muscular e corporal nocivo ao rendimento, chamado strain . Uma boa dica é organizar os treinos em função das características essenciais dos objetivos, como o número aproximado de movimentos e padrão de agarras, podendo daí fazer sessões de maior número de repetições em um exercício similar ao objetivo, portanto mais específico. Bons treinos, cuidado com os tendões e boas escaladas.

R a l f C ô r t e s C o l u n a

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T r a d i c i o n a l

A Estirpe d a Tra d Ao tentar falar sobre o que é escalada tradicional na Fator2 nº 10, eu deixei muitas dúvidas no ar. Tentarei mais uma vez e sem rodeios. A Escalada Tradicional é um estilo livre e nada mais é que um fato cultural. Em cada país que tem a escalada em rocha como uma atividade antiga, os escaladores tem como tendência conservá-la como na origem. A evolução nesse sentido seria na técnica e até mesmo nos equipamentos, mas a essência seria a mesma. No Brasil nós temos a nossa Escalada Tradicional que é típica e de primeiro mundo. Na Inglaterra o famoso Hard Grit só existe lá, é a Tradicional deles, um estilo conservador. Em Elbsandstein é mais radical ainda, só proteções a base de nós, nada de equipamento móvel metálico, e para as proteções fixas existem regras, e isso vem já por dois séculos. Hoje é conservado o estilo com nós, só que os escaladores são mais evoluídos mentalmente e tem mais informações técnicas e equipamentos próprios para isso, como por exemplo a sola da bota. Assim acontece também na Austrália, África do Sul, Argentina, EUA, etc., cada um com seu tipo nacional de Escalada Tradicional. Por falar em EUA, lá existem várias áreas de escaladas Tradicional que nos fazem lembrar muito a nossa Tradicional que é o seguinte (em caso de conquista): Sai escalando de baixo, e faz uma parada nos clifs somente em agarras naturais e bate um grampo. Sobe bem mais em livre e faz uma outra parada na batata da perna e bate outro grampo, e daí sobe mais e mais, e se encontra uma fendinha coloca um móvel qualquer e sobe, sobe, sobe...


L i s C o l u n a

M a r i a d e

C a m i n h a d a

Pontões do Abreu Altitude Pico Menor: 1641 m./Pico Médio: 1686 m./Pico Maior: 1687 m. /Tempo de caminhada: 1:30hs para o Pontão Médio ou Menor a partir da Lapinha. Lapinha é um povoado de Santana do Riacho, situado na Serra da Lapa (MG), servido diariamente por dois ônibus que partem diretamente de Belo Horizonte, e passam por Cardeal Mota. A serra da Lapa desde 1800 se configurou num meio de ligação nem sempre muito fácil de ser transposto, entre Santa Luzia (hoje Belo Horizonte) e Diamantina. Antes dessa onda de turismo ecológico era possível acampar próximo ao rio que abastecia a represa da Lapa, e tomar banho nas cachoeiras. Mas ainda o que impede o afluxo enorme de pessoas são as estradas ruins que sobem para a serra. Hoje já tem carioca que comprou casa no alto da serra da Lapa, o Poção esta proibido o acesso, por situar-se numa área particular, e a estrada que antes servia para rali e raids e ligava-se com Diamantina foi bloqueada com uma pedra, para impedir o tráfego de automóveis 4x4. Os moradores que tinham casa mais no topo da serra, por estarem isolados e sem recurso de vida, a venderam para pessoas de Belo Horizonte, que com a pedra na estrada, andam a pé para casa no fim de semana. Para caminhar-se aos Pontões do Abreu, atravesse a ponte sobre o rio Mata Capim que dá acesso a represa da Lapinha, dirija-se as cachoeiras. Um pouco antes das cachoeiras tem uma cerca de um antigo curral a sua direita. Agora existem dois caminhos. Um subindo pelas cachoeiras e depois tendendo a direita para chegar-se a um antigo moinho, que ainda hoje funciona. O outro contorna o curral pela sua frente e depois pega por trás deste retornando para a esquerda e subindo a serra para encontrar o antigo moinho. A partir dos moinhos a trilha é razoavelmente clara, indo sempre em direção aos picos, e cruzando-se o primeiro riozinho que deu origem as cachoeiras debaixo. Deste lugar já começa a ter-se uma vista deslumbrante da vila e da represa. Continua-se andando por campos de altitude agora subindo pela borda da serra, um caminho erodido que levará até uma outra cerca e depois um curral. Você está praticamente na base do Pico Menor do Abreu. Para chegar ao seu topo são cerca de mais 20 minutos, numa encosta bem inclinada. Convém andar mais pelo campo contornando o pico pela direita para pegar uma inclinação mais favorável para subida. De seu topo você terá uma das mais bonitas vistas da Serra do Cipó: a vista da Serra da Lapa, do Pontão Médio do lado oposto da represa, e do Pontão Maior do Breu. Para subir ao Pontão Médio volte ao campo aonde você partiu, e suba para o lado oposto, seguindo a crista o Pontão Médio. São cerca de mais 30 ou 40 minutos de caminhada dependendo do seu passo. Para chegar até o Pontão Maior, é melhor subilo por trás, como quem vai fazer a travessia para Conceição do Mato Dentro e Cachoeira do Tabuleiro. Você pode tentar subilo por este vale do Pico Médio e Menor mas com certeza para chegar ao cume terá que descer a um vale com vegetação alta. A home page da Lis está no endereço: http://www.geocities.com/yosemite/1219/


E n t r e v i s t a Thiago Balen

Idade: 19 anos Patrocínio: By. Apoio: Vital, Sing Rock, Snake, By Pita, Lanex e Livingstone. Maiores feitos: escalador gaúcho, nascido em Caixias do Sul, no RS e morando há quase 1 ano no Rio, Thiago foi o protagonista da terceira ascensão à via mais difícil do Brasil, a Coquetel de Energia (Xc). Ele também é colecionador de 60 vias de oitavo, 23 vias de nono e 6 vias de décimo graus.

Você recentemente encadenou a Coquetel de Energia , graduada em Xc, a esportiva mais difícil do Rio. Como foi?

Como foi no dia?

A via nitidamente se divide em duas partes. A primeira um regleteiro muito abrasivo e de passadas fortes. Esta parte acaba no descanso, ou melhor, no canso , este é composto de uma agarra abaulada. A segunda parte contém agarras mais variadas (abauladas, batentes, etc...). A via toda tem 10 proteções e aproximadamente 33 movimentos.

Quais outras vias estão entre as melhores que você já fez? Histórias Verídicas (VIIIa) em La Ola, na Argentina, História Sem Fim (Xb) no Campo Escola 2000, no Rio de Janeiro e Heróis da Resistência (IXc) no Cipó, em Minas Gerais.

Quando começou a se dedicar a Escalada Esportiva? Foi quando conheci o Jimersom, que me passou a idéia do que era a Escalada Esportiva e qual era a ética e a regra do jogo. No muro de escaladas dele que comecei a treinar e escalar durante a semana, a fazer treinos específicos, etc. Isso foi em março de 1998. Em um ano e 4 meses de escalada eu pulei de VIIa para IXc, uma boa evolução!

Thiabo na Coquetel de Energia - Foto: Marcela Chaves

A Coquetel sempre foi uma via mítica, a via mais difícil... Quando eu soube que o Helmut tinha encadenado a via mais difícil do Brasil e li sobre ela fiquei com vontade de escalar essa via. Ficou como uma meta futura, ainda um pouco distante. Então comecei a me dedicar a esportiva. Encadenei vários décimos graus como por exemplo a História Sem Fim (Xb), em fevereiro de 2000 e que foi a 3º ascensão dela; a Linha da Vida (Xa), em março de 2000 no Cipó; Polstergeist (Xb), em julho de 2000 no Cipó; Lágrimas de Sangue (Xb), a 2ª ascensão na Barrinha em agosto de 2000 e a Vaca Louca (Xb), a 1ª ascensão, também na Barrinha em novembro de 2000. Com isso me senti motivado a entrar na Coquetel de Energia .

Descreva pra gente como é a via!

Como foi a Italianos speed que você fez?

Foi engraçado! Entrei nela em setembro de 2000, onde fiz dois dias de investidas na via e depois eu meio que abandonei, deixei de lado, escalei mais na Barrinha. Depois logo veio as festas de fim de ano e voltei pro sul. Só retornei as investidas em abril de 2001. Foi quando encadenei a via no 2º dia de tentativas. Foram 8 ou 9 tentativas ao todo, contando as trabalhadas e tentativas propriamente ditas. Eu nem esperava! O Ralf havia tentado primeiro e não tinha colocado as 3 últimas costuras. Eu disse que colocava depois, achava que era provável que eu caísse bem antes. O Ralf é que botou uma pilha pra eu levar as costurar, vai que eu conseguisse fazer tudo sem queda. Resolvi levar, fui subindo, subindo e acabei encadenando a via nessa tentativa ainda com alguma força no braço. Da última vez eu tinha feito a parte de cima da via e costurado a última quase caindo, sem forças. Desta vez eu estava razoavelmente bem, tendo feito a via inteira e ainda ter colocado as expressas antes de costurar. O primeiro a encadenar essa via foi o Helkmut em 1998 e depois o Juanjo em 2000, que encadenou em 6 tentativas.

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Eu e o Fabinho, de Curitiba, fizemos a via dos Italianos com Secundo à francesa, com uma distância de uns 20 metros entre nós. Tinha horas que eu gritava pro Fabinho costurar o próximo grampo, pois eu já estava tirando a última costura entre nós. Não fizemos nenhuma parada. Acho que foi uma das mais rápidas ascensões desta via, levamos 1 hora e 20 minutos desde a pista até o cume.

Como você treina para essas vias? Meu treino ultimamente é muito simples. Faço alguns exercícios para força e explosão, como por exemplo: Finger Board, Campus Board e principalmente boulder, e outros para resistência onde detenho maior dedicação. Treino cerca de 3 vezes por semana (quase sempre em muro), mais final de semana, que sempre que possível vou para a rocha.

Quais são seus projetos futuros? Aqui no Brasil eu tenho o projeto de encadenar a Mr. Biu , que é um provável XIa, na Barrinha (RJ), e tentar fazer uma viagem para o exterior, principalmente França e Espanha, para escalar.

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