associação brasileira de internet
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ano IV . edição 15 . dezembro . 2015
2016 qual caminho seguir? No novo ano, o mantra é definir a melhor estratégia para enfrentar o momento macroeconômico sem perder a perspectiva das oportunidades de negócios
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EDITORIAL Eduardo Parajo Presidente da Abranet
FELIZ 2016 COM GARRA E SUCESSO! O ano de 2015 foi, no mínimo, desafiador. A crise econômica e política trouxe consequências diretas aos negócios em todos os segmentos. No caso da Internet, não foi diferente. Ainda assim, revelamos força e enfrentamos o cenário com senso de oportunidade. O novo ano promete ser ainda bastante complexo, mas há um mercado a conquistar no Brasil. Na Abranet, acreditamos que pensar fora da caixa é determinante para criar novos serviços e gerar bons resultados. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2014 – realizada de setembro de 2013 a setembro de 2014 – apurou que 54,4% da população brasileira acessou a Internet por meio de um microcomputador. Isso significa que 95,4 milhões acessaram a Internet, sendo que na pesquisa de 2013 esse percentual foi de 49,4%. O estudo do IBGE é um alento, mas mostra o que nós, provedores de Internet, já sabemos: há oportunidades de negócios. São 45,6% da população brasileira ainda sem acesso à rede mundial. Uma das certezas do mercado em 2015 foi a projeção da economia compartilhada. E qual é o nosso papel nessa nova era? Defender que haja segurança jurídica e regulatória para garantir os investimentos e a inovação. Este, aliás, foi o mote
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do II Congresso Brasileiro de Internet, realizado pela segunda vez em Brasília e que contou com a presença de autoridades governamentais como a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Fátima Nancy Andrighi e o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Vinícius Carvalho. Em um rápido apanhado do ano que termina, lembramos que na I Conferência Abranet, ocorrida em maio, em São Paulo, divulgamos um estudo inédito sobre o segmento Internet para entender como cooperamos com a saúde financeira do Brasil. O levantamento, feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), mostrou que o faturamento das empresas de Internet ficou em R$ 144,7 bilhões em 2014, representando 1,74% do faturamento de todas as empresas brasileiras. Tais números mostram a pujança do nosso segmento. Infelizmente, 2015 também trouxe notícias ruins para a Abranet. A mais sentida foi a perda do nosso colega Sérgio Sá. Sempre de ótimo humor, ele trabalhou para o crescimento e fortalecimento das empresas de Internet. Em homenagem ao Sérgio – que nunca deixou de acreditar na força dos provedores de Internet –, desejamos aos nossos associados um 2016 com muita garra, perseverança e fé em nosso imenso potencial! abranet.org.br dezembro . 2015
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ÍNDICE 05 | ABRANET RESPONDE Como tirar notas fiscais referentes à mensalidade da Internet, como pagar o ICMS e como discriminar os serviços nas notas?
CONSELHO EDITORIAL Eduardo Parajo parajo@abranet.org.br
José Janone Junior janone.jr@abranet.org.br
Eduardo Neger
neger@abranet.org.br
GERÊNCIA EXECUTIVA Roseli Ruiz Vazquez
06 | CAPA
gerente@abranet.org.br
os caminhos para
2016
No novo ano, o mantra é definir a melhor estratégia para enfrentar o momento macroeconômico sem perder a perspectiva das oportunidades de negócios.
PROJETO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO
Editora Convergência Digital editora@convergenciadigital.com.br Tel: 011-3045-3481 DIREÇÃO EDITORIAL
Ana Paula Lobo
14 | CONEXÃO ESPECIAL . IGF FORUM 2015 PTT faz a diferença para pequenos e médios provedores. A importância de ecossistemas sustentáveis e acessíveis aos ISPs é tema permanente do Fórum de Governança da Internet. O caso do Brasil é modelo de sucesso, mas ainda sofre com forte concentração em São Paulo.
18 | ENTREVISTA . DANIEL OPPERMANN Governança da Internet tem desafios globais. Líder do novo grupo de trabalho criado pela Abranet fala dos avanços da governança no Brasil e no mundo e sobre os desafios a serem superados.
analobo@convergenciadigital.com.br
Luiz Queiroz
queiroz@convergenciadigital.com.br EDITORA-CHEFE
Ana Paula Lobo
analobo@convergenciadigital.com.br EDIÇÃO
Bia Alvim
bia.alvim@pebcomunicacao.com REPORTAGEM / REDAÇÃO
Roberta Prescott
prescottroberta@gmail.com
20 | GESTÃO Parceria que gera mais resultados. A remuneração variável
EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Pedro Costa
aumenta a sinergia entre empresa e funcionário, motivando a equipe para melhorar o desempenho.
pedro@convergenciadigital.com.br
22 | ESPECIAL . II CONGRESSO BRASILEIRO DE INTERNET
Gráfica Pigma
IMPRESSÃO
Barreiras a serem vencidas. O passado, o presente e o futuro da Internet; o impacto da convergência econômica entre o mundo on-line e off-line; e a regulamentação e a legislação que nortearão o desenvolvimento da rede no Brasil e no mundo.
26 | ESPECIAL . FUTURECOM / FUTURENET O futuro dos serviços de Internet. Abranet participa com destaque do Futurecom 2015 e promove o FutureNet para tratar desde questões técnicas até aquelas relacionadas aos negócios.
30 | OPINIÃO . LEANDRO BENNATON A importância da proteção dos dados pessoais. É necessário arquitetar uma legislação no Brasil para evoluirmos nesse ambiente que não tem mais volta: o digital.
Rua da Quitanda, 96 / Cj.31 - Centro - São Paulo / SP CEP: 01012-010 Fone: (11) 3078-3866 www.abranet.org.br facebook.com/abranetoficial Linkedin.com/abranet @abranet_brasil Youtube.com/AbranetBrasil
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ABRANET RESPONDE Tem uma dúvida? Quer que um especialista da Associação Brasileira de Internet responda? Escreva para o Abranet Responde. O e-mail é abranetresponde@abranet.org.br
COMO DISCRIMINAR O ICMS NAS NOTAS FISCAIS O pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) gera, constantemente, questionamentos por parte dos provedores de Internet. Um leitor e ISP enviou a seguinte pergunta para a seção Abranet Responde: como vocês estão tirando suas notas fiscais referentes à mensalidade da Internet, como estão pagando o ICMS e como discriminam os serviços nas notas? Ricardo Augusto Marchi, da Marchi Advogados, explica que os provedores que prestam Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), um serviço de telecomunicações, estão sujeitos à incidência do ICMS. Por sua vez, o Serviço de Valor Adicionado (SVA), ou seja, prestação de acesso à Internet, não é considerado serviço de telecomunicações e, consequentemente, não está sujeito à incidência do ICMS. “A emissão das Notas Fiscais para os provedores prestadores do SCM deve respeitar o regulamento do ICMS (RICMS), bem como as Normas da Anatel, ressaltando que cada Estado possui uma legislação do ICMS, que é um imposto estadual”, detalha Marchi. Ele esclarece também que o provedor deve possuir demonstrativos e planilhas do custo de cada serviço prestado, como SVA e SCM, sendo tais documentos passíveis de verificação por eventual fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e/ou do Fisco Estadual ou
CLASSIFICADOS ABRANET
Municipal. “Desta forma, com as planilhas, o ISP poderá comprovar a separação de cada um dos serviços prestados e a correta apuração do imposto.” Ainda no aspecto de fiscalização, Edmundo A. Matarazzo, sócio e diretor-geral da Matarazzo & Associados, acrescenta que há algum tempo tanto a Anatel quanto a Receita Federal desenvolveram suas fiscalizações. Por isto, ele recomenda que seja elaborado um trabalho técnico e que possa ser comprovado por perícia externa. “Devem ser desenvolvidas planilhas para calcular os custos do SCM separado dos custos do SVA; essas planilhas permitem defender os preços de cada parte”, aponta. A Nota Fiscal de Serviço de Telecomunicações, modelo 22, deve conter discriminação que atenda ao RICMS e à regulamentação da Anatel com base em planos de serviço que descrevem os detalhes técnicos e comerciais de cada plano.
serviço gratuito da abranet destinado aos Provedores de internet, associados ou não, que desejam vender ou comprar equipamentos. o objetivo é fomentar um canal de negociação. saiba mais em http://classificados.abranet.org.br
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Roberta Prescott
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o ano de 2015 foi classificado por muitos empresários como desafiador. Por trás do adjetivo que tenta resumir o período, constata-se que, mesmo levando em consideração os sinais da crise, as empresas, em geral, foram pegas desprevenidas. Na elaboração do planejamento de negócios, ainda em 2014, não estava evidente, por exemplo, o salto da cotação do dólar e nem a subida no preço da energia elétrica. assim, a situação que enfrentariam em 2015 foi subdimensionada. A boa notícia é que, se antes o cenário não estava nítido, agora tudo parece estar mais claro. Embora os indicadores macroeconômicos apontem que ainda não se espera uma retomada do crescimento – a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) apresente taxa negativa, na casa de -3%, em 2015, e não seja positivo em 2016 –, é muito mais fácil planejar as ações e elaborar uma estratégia diante de informações mais assertivas. Ademais, apesar da retração, a previsão dos analistas de mercado é de crescimento para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Os índices, contudo, serão mais baixos quando comparados aos anos anteriores. “O ano de 2015 foi difícil, os aumentos de custos pegaram todos desprevenidos. Entraremos em 2016 com o mesmo panorama, com dólar mais alto e energia na bandeira vermelha, mas isto será planejado para o ano que vem, pois tais custos já são conhecidos”, diz Gil Torquato, CEO do UOLDIVEO. “O que atrapalhou neste ano, para o setor em geral, foi justamente a surpresa muito abrupta [do dólar e da energia]. Não foi suave ou que tivesse perspectiva de aumento; foi de forma radical e pegou de calça curta, isto sem contar a inflação.” Fernando Ferrari Filho, professor titular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explica que a dinâmica de preços sofreu alguns choques em 2015: cambial e de variação de preços públicos e administrados. “Os reajustes de energia elétrica e de combustíveis e a desvalorização cambial impactaram, respectivamente, cerca de 1,8% e 2,0% na inflação. Assim, se neste ano tiver-
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mos uma inflação de 9,85% (previsão do mercado no final de outubro), 3,8% terão decorrido de tais choques. Para 2016, como as perspectivas de choques de preços são baixas, e a economia continuará em recessão, a inflação deverá cair para 6,5%”, assinala. Para José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios, em 2016, devemos ver uma repetição do que foi 2015, pelo menos nos grandes números. “O PIB deve ser negativo em 3% neste ano e negativo em cerca de 2% no ano que vem. O desemprego deve aumentar, podendo chegar a 11%, e a inflação cede um pouco”, projeta. Em 2015, a complexa conjuntura política e econômica foi marcada, principalmente, pelo impasse. Até o fim do ano, não havia sido estabelecido acordo com o Congresso para aprovação das medidas propostas pelo Governo Federal visando a arrefecer as dificuldades eco-
nômicas. A crise política foi agravada, de um lado, por grupos da oposição insistindo no impeachment da presidente Dilma Rousseff, e, do outro, pela própria inabilidade de articulação política do governo para controlar a crise. Além disso, a Câmara dos Deputados tentou passar o que ficou conhecido como “pauta-bomba”, uma série de medidas que trariam um gasto de mais de R$ 63,2 bilhões aos cofres do Governo até 2019. “Não vejo perspectiva de melhora. O País está vivendo um clima de Fla-Flu. Ademais, o Governo não tem um projeto nacional, a oposição não é coerente, mas somente pragmática, e o Congresso Nacional é ‘triste’. Se não bastasse tudo isto, as elites políticas, econômicas e culturais parecem não querer mudanças. Por tudo isto, objetivamente, vejo uma possibilidade de ‘luz no final do túnel’ somente em 2017. Os resultados econômicos do segundo governo Dilma Rousseff
AGENDA REGULATÓRIA
da Internet (normalmente um provedor de acesso à Internet e um provedor de aplicações) acordam em trocar tráfego com maior velocidade ou uma qualidade de serviço garantida, por uma taxa adicional. Além disso, uma das principais questões em discussão diz respeito ao chamado “zero rating”, que consiste em arranjos por meio dos quais provedores de acesso à Internet subsidiam certos serviços, aplicações ou conteúdo, disponibilizando-os livremente ou não contabilizando o tráfego que estes geram na franquia de dados contratada pelo consumidor/usuário final. A questão levantada nesse caso é se deve ser permitido aos provedores de acesso à Internet possuir diferentes arranjos econômicos com diferentes provedores de aplicações. Com relação à lei de proteção de dados pessoais, o Brasil busca suprir uma demanda legislativa cada vez mais central. Há atualmente três propostas em discussão: o PL 4060/2012, na Câmara dos Deputados, o PLS 330/2013, no Senado, e o Anteprojeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais, apresentado pelo Ministério da Justiça. A futura lei de proteção de dados pessoais deve estabelecer regras para o processamento de dados por parte de agentes privados e públicos, inclusive quanto às condições para a coleta, armazenamento e compartilhamento com terceiros. Dificilmente um projeto
JAMILA VENTURINI, professora da FgV Direito rio e pesquisadora do centro de Tecnologia e sociedade (cTs), da mesma faculdade, comenta os principais temas que devem estar na agenda regulatória no ano que vem e que afetam diretamente os provedores de internet. ABRANET: Qual será a agenda regulatória para 2016 que afetará as empresas de Internet? JAMILA VENTURINI: Em 2015, tivemos dois processos importantes, que foram os debates públicos sobre a regulamentação do Marco Civil da Internet e o anteprojeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais. Espera-se que em 2016 estes dois temas continuem na pauta e possam se concretizar. Com relação ao Marco Civil, o decreto de regulamentação deve trazer definições importantes em dois assuntos: neutralidade de rede e privacidade. Com relação ao primeiro, o decreto deve aprofundar como será o tratamento, por exemplo, dos serviços especializados e priorização paga — que é o arranjo pelo qual dois agentes
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serão mais risíveis do que aqueles observados entre 2011 e 2014”, sentencia Fernando Ferrari Filho, da UFRGS.
“Para 2016, como as perspectivas de choques de preços são baixas, e a economia continuará em recessão, a inflação deverá cair para 6,5%”
CRESCIMENTO APESAR DA CRISE Diferentemente de muitos setores, o mercado de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação cresceu em 2015. De acordo com o estudo IDC IT Services Tracker 2015 H1 realizado pela IDC Brasil, houve alta de 7,4% na receita no período compreendido entre o segundo semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2015, na comparação com o segundo semestre de 2013 e o primeiro semestre de 2014. Acostumado a taxas de crescimento de dois dígitos, o mercado começou a desacelerar em 2014. Para a IDC, o desempenho nos primeiros seis meses de 2015 foi considera-
de lei é aprovado no mesmo ano em que é apresentado, e o fato de 2016 ser um ano eleitoral dificulta ainda mais a aprovação. Qual será o impacto desta agenda para o mercado da Internet e suas empresas? No que se refere ao Marco Civil, uma questão importante que deve ser definida no decreto de regulamentação é o escopo de aplicação das regras de neutralidade de rede. Historicamente, as regras de neutralidade de rede tiveram como objetivo a proteção contra os provedores de acesso à Internet, assumindo que estes possuem uma condição de monopólio ou quase monopólio, e que a partir de sua interação com os usuários finais poderiam afetar diretamente a maneira como o público em geral é capaz de enviar e receber dados. Mas na cadeia de valor da Internet há mais atores envolvidos na transmissão, comutação e roteamento de tráfego. Além disso, um dos principais pontos não definidos diz respeito a quem deve ser o órgão responsável por realizar a fiscalização e garantir a observância da regra de neutralidade de rede. Quanto à privacidade, além de especificar conceitos importantes, o decreto também deve delimitar a aplicação das
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FERNANDO FERRARI FILHO
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UFRGS
do tímido, um reflexo do momento econômico, que fez com que vários setores da indústria – principalmente os que não são dependentes de TI, como o de manufatura, por exemplo – diminuíssem os investimentos. A IDC Brasil acredita que a TIC ainda tem muito potencial para crescer. A expectativa da consultoria é que o mercado siga evoluindo, porém, com menores taxas nos próximos semestres. Especificamente sobre o segmento de telecomunicações,
medidas relativas à guarda de registros, por exemplo, especificando parâmetros de segurança que devem ser observados pelos provedores ao armazenar registros de conexão e acesso a aplicações de Internet. Qual análise a senhora faz das propostas em discussão? É fundamental que ambas as propostas avancem durante o ano que vem. Por um lado, para oferecer segurança jurídica para a operação das empresas de Internet, principalmente no que se refere ao tratamento de dados pessoais. Além disso, a aprovação de uma lei de proteção de dados pessoais é importante para que as empresas brasileiras possam se firmar no mercado internacional – considerando que outros países possuem regras estritas quanto à proteção de dados pessoais e que restringem o processamento de dados de seus cidadãos em países que não possuem proteções similares. De outro lado, essas normas trarão definições e especificações importantes para assegurar aos cidadãos que os direitos presentes na Constituição e em outras normas como no Marco Civil da Internet possam ser devidamente implementados.
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“O setor precisa aproveitar a crise para vender produtividade para seus clientes, para que fiquem mais competitivos”
João Paulo Bruder, gerente de Telecom da IDC Brasil, estima que a taxa de crescimento para 2015 seja de 5,55% e, para 2016, um pouco menor, de 4,75%. “Tudo cresce um pouco menos, voz fixa perde mercado e o que mais cresce é banda larga móvel, uns 11,53%, porque hoje tem JOSÉ CLÁUDIO SECURATO | SAINT PAUL ESCOLA DE NEGÓCIOS muita gente que não consome”, detalha. Segundo Bruder, diversos fatores puxaram a taxa de crescimento para baixo em 2015, tais como a de verdade e representa uma oportunidade para provedores. queda da voz fixa, com muita gente desligando a linha Eles não precisam, necessariamente, montar a infraestrutufixa; a retração da atividade econômica; e a flutuação do ra de computação em nuvem, algo que pode ser terceirizado dólar, que, apesar de quase não impactar o mercado resi- com empresas como Amazon, mas devem entender as dedencial, afeta bastante o corporativo. “Tivemos também mandas de seus clientes e desenhar uma oferta adequada. Os diferenciais dos provedores de Internet são o coexpectativa de desemprego. Para os serviços de telecomunicações, especialmente de Internet, dificilmente as pes- nhecimento que têm de seus clientes e a capacidade de desoas caem para zero. Elas mantêm a Internet até como for- senvolver aplicações que façam sentido para eles — além ma de procurar emprego, mas diminuem o tíquete médio da habilidade de apontar o que vale a pena ir para nuvem e buscam planos mais baratos. A última coisa é cancelar.” e o que é melhor deixar na infraestrutura interna. “As soUma das vantagens da Tecnologia da Informação é que luções de nuvem não têm muito como se distinguir umas ela permeia os negócios de todas as atividades. Por isto, das outras. Ganha quem souber fazer uma consultoria para segue em expansão. “É difícil ter negócio que não agregue a jornada para a nuvem”, enfatiza. A Internet das Coisas é uma grande promessa. Com a tecnologia. O setor precisa aproveitar a crise para vender produtividade para seus clientes, para que fiquem mais queda do preço dos sensores, aumentam as conexões mácompetitivos”, sinaliza José Cláudio Securato, da Saint quina-a-máquina (M2M). Setores como os de agronegócios e manufatura já entenderam os benefícios desta conexão há Paul Escola de Negócios. anos e vão demandar serviços de comunicação. A oportunidade de negócio para os provedores de Internet, além da coOPORTUNIDADES DE NEGÓCIO Computação em nuvem, segurança e infraestrutura nectividade, está na observação desses e de outros segmenpara Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) estão en- tos para estruturar serviços apropriados às suas atividades. Já segurança nunca sai da agenda. É um item essencial tre os segmentos que devem oferecer mais oportunidades para todas as empresas, e a necessidade aumenta ainda mais de negócio e ganhar importância. Para Anderson Figueiredo, consultor independente e com o crescimento de M2M, computação em nuvem, mopalestrante do mercado de TI, a nuvem está acontecendo bilidade e big data. Apesar de saberem que é imprescindível manter seus sistemas seguros, as empresas precisam de orientação nesse sentido. É nesse campo, de consultoria e prestação de serviços, que os provedores de Internet têm oportunidade de trabalhar. Diversificar a oferta dentro da própria capacidade e expertise também tem sido uma saída. Gil Torquato, do UOLDIVEO, afirma que a grande gama de atuação em segmentos distintos faz o grupo sentir meJOÃO CARLOS LOPES FERNANDES | INSTITUTO MAUÁ DE TECNOLOGIA nos a crise. “Temos linhas de negócios que
“Os clientes vão negociar pacotes de serviço de TV paga, telefonia e Internet para reduzir custo. Para os ISPs, o recado é revisar os pacotes e observar os custos”
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“Os provedores se beneficiam quando as empresas querem terceirizar infraestrutura de TI para se concentrarem no seu core e comprar como serviço”
ajudam no todo, minimizam riscos de queda de receitas”, conta. “Na parte de TI, hospedagem, ofertas de hosting e computação em nuvem estão sendo uma boa surpresa, porque as empresas, com cenário econômico desfavorável, olham os custos e tentam reduzi-los para garantir resultados. A gente entra em cena como opção de terceirização. Os provedores se beneficiam quando as empresas querem terceirizar infraestrutura de TI para se concentrarem no seu core e comprar como serviço”, exemplifica Torquato. COMO PLANEJAR Fazer um bom planejamento anual e revisá-lo mensalmente, ajustando-o quando necessário, é fator-chave para vencer as dificuldades de anos turbulentos. Não há fórmula mágica. Entender o momento do mercado, identificar suas fraquezas e fortalezas, bem como as de seus
FIQUE ATENTO
GIL TORQUATO
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UOLDIVEO
concorrentes, são quesitos fundamentais. A partir dessa análise, as empresas têm base e informações suficientes para elaborar suas estratégias. “Recomenda-se, com relação ao planejamento, fazer o orçamento anual para 2016, envolvendo as áreas e tomando cuidado com as projeções. É importante ser conservador para um ano como 2016 e fazer controle de custos”, ensina José Cláudio Securato, da Saint Paul Escola de Negócios. Um dos aspectos que deve impactar o orçamento é a valorização do dólar, que afeta diretamente os setores que dependem de equipamentos importados. O profes-
Na hora de planejar os negócios para 2016, é preciso levar em conta os principais indicadores econômicos para traçar estratégias mais assertivas
INDICADOR
PREVISÃO
CONSEQUÊNCIAS
O QUE FAZER
Desemprego
A taxa de desemprego vem crescendo, podendo atingir dois dígitos.
Maior desemprego, menos renda e, portanto, redução de consumo. Assim, as famílias deverão reestruturar seus gastos, cortando, principalmente, os supérfluos.
Serviços de telecomunicações, especialmente de Internet, dificilmente devem ser cancelados, porque as pessoas os mantêm até como forma de procurar emprego. Mas elas reduzem o tíquete médio na busca por planos mais baratos. A orientação é revisar as ofertas e analisar se estão atraentes.
Dólar
Choques e instabilidade cambiais não deverão ser tão abruptos como os de 2015. Fernando Ferrari, da UFRGS, aposta que a taxa de câmbio feche ao redor de R$ 4,30 em 2016.
Equipamentos importados ficam mais caros com a alta do dólar. A volatilidade dificulta o planejamento financeiro.
Pode-se postergar compra de equipamentos que não são críticos para o momento. Mas é importante acompanhar de perto a cotação, porque ela pode ficar menos favorável nos meses seguintes.
Inflação
Com a economia em recessão, a inflação deverá cair para 6,5%.
Não há muitas opções: ou reduz a margem de lucro ou racionaliza os custos. Reajustar as tarifas acima do IPCA ou INPC, que devem fechar, em termos anuais, próximos a 10%, é um risco no que diz respeito à perda de clientes.
Fonte: Fernando Ferrari Filho, professor titular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; João Paulo Bruder, gerente de Telecom da IDC Brasil
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sor dos MBAs da FGV-Rio Mauro Rochlin aponta que o atual é o novo patamar do dólar e adverte que dificilmente se pode esperar cotação abaixo de R$ 3,50. “Não há expectativa de que o dólar caia a curto prazo. Os produtos importados ainda não ficaram mais caros porque a recessão inibe a alta de preços, e alguns [fornecedores] não repassam aumento de custo para o preço final para não perder venda, abrindo mão da margem”, diz. Na mesma linha, Fernando Ferrari, da UFRGS, aposta que a taxa de câmbio feche ao redor de R$ 4,30 em 2016. Mas ele diz que choques e instabilidades cambiais não deverão ser tão abruptos como os de 2015. Para contornar a valorização do dólar frente ao real, algumas empresas podem optar por postergar compras de equipamentos. “Deve-se avaliar o que é crítico e o que não for, pode postergar”, aponta Bruder, da IDC Brasil. Para ele, quem está construindo e passando fibra óptica, assim como comprando frequências, tem chances de estar estruturando uma boa fonte de receita para o futuro. “Uma vez passada a crise, a médio e longo prazo vai dar certo, porque existe carência. Os conteúdos estão cada vez maiores, e os smartphones, mais acessíveis.” O aumento do desemprego e a inflação também são itens que devem ser cuidadosamente avaliados. Isto porque ambos afetam o consumo. “A massa salarial reduz-se com o desemprego e o aumento de preço a
“Não há expectativa de que o dólar caia a curto prazo. Os produtos importados ainda não ficaram mais caros porque a recessão inibe a alta de preços” MAURO ROCHLIN
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FGV-RIO
corrói”, explica Rochlin, da FGV-Rio. No que se refere aos serviços de telecomunicações, João Carlos Lopes Fernandes, professor de engenharia de computação do Instituto Mauá de Tecnologia, não acredita em cortes imediatos. Os clientes, explica, vão diminuir custos. “Caso tenham duas opções de Internet, devem cancelar uma, mas não ficar sem, porque precisam dela para buscar emprego. Vão negociar pacotes de serviço de TV paga, telefonia e Internet para reduzir custo”, diz Fernandes. A tendência é diminuir o número de canais e a velocidade de Internet. “Para os ISPs, o recado é revisar os pacotes e observar os custos.” Para vencer neste cenário, as empresas devem buscar o máximo possível de receitas recorrentes e ter visão de longo prazo. “Nos contratos, é importante se precaver de mudanças abruptas na economia ou em alguns insumos, como energia, colocando cláusulas claras para, no mínimo, conseguir conversar e mostrar aos clientes o cenário para negociar o aumento dos custos”, aponta Torquato, do UOLDIVEO. Ele reforça que o inverso também deve valer. Ou seja, caso o preço dos insumos caia, que haja uma redução de preço para o cliente. É preciso lembrar também que todas as empresas estão suscetíveis aos mesmos indicadores macroeconômicos. A briga para conquistar clientes deve se intensificar em 2016. A guerra de preços pode espremer a margem e, diante desse panorama, cabe ao provedor avaliar o quanto estará disposto a reduzir seu lucro ou aumentar a flexibilidade no pagamento para ganhar ou manter o cliente. Cabe a ele também olhar criticamente para sua gama de serviços e produtos para refletir se o que oferece tem diferencial e é atraente para seu mercado.
“Para os serviços de telecomunicações, especialmente de Internet, dificilmente as pessoas caem para zero. Elas mantêm a Internet até como forma de procurar emprego, mas diminuem o tíquete médio e buscam planos mais baratos. A última coisa é cancelar” JOÃO PAULO BRUDER
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IDC BRASIL
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CONTEXTO MUNDIAL
Econômicas), divulgado no início de novembro, a OECD voltou a corrigir para baixo seus prognósticos sobre a economia mundial, reduzindo de 3% (estimados em março) para 2,9% o crescimento do PIB global em 2015. A OECD estima que a partir do ano que vem haverá uma melhora gradual na economia global, com o PIB mundial alcançando 3,3% em 2016 e 3,6% em 2017. Com relação ao Brasil, a OECD espera taxas negativas para o PIB deste ano (-3,1%) e de 2016 (-1,2%) e retomada do crescimento em 2017 (1,8%). Entre os fatores apontados pela organização para a retração da economia, estão os baixos níveis de confiança, a incerteza política e a queda dos preços das matérias-primas. No relatório, a OECD afirmou que a recessão deve continuar em 2016 devido ao necessário ajuste orçamentário, à política monetária mais restritiva para conter a inflação e a uma falta de confiança dos investidores relacionada com a incerteza política. Mas acredita que uma lenta recuperação comece a partir de 2017, alicerçada na melhora da confiança nas políticas macroeconômicas.
Ainda que fatores internos, como a crise e o impasse político, estejam dificultando a retomada do crescimento brasileiro, é necessário observar o País dentro do contexto global. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês) aponta que 2015 foi mais um ano em que os países tiverem de lidar com as consequências da crise financeira e econômica que eclodiu em 2008. A OECD mostrou-se preocupada com o enfraquecimento das transações comerciais mundiais, principalmente, puxado pela China e pela queda no preço das commodities. A organização chama a atenção para o fato de que o aumento do volume do comércio global abaixo do crescimento global do PIB indica um período de diminuição das atividades e recessão para muitos países. E é isto que está ocorrendo. Em seu relatório semestral Economic Outlook (Perspectivas
INDICADORES MACROECONÔMICOS DO BRASIL 2012 1,8 3,1 5,8 5,6 5,5 -2,3 2,2 -2,2
Crescimento real do PIB Crescimento potencial do PIB (estimativa OECD) Inflação (média anual) Inflação (do ano) Desemprego Balanço fiscal (% do PIB) Balanço primário (% do PIB) Balança corrente (% do PIB)
2013 2,7 2,9 5,9 5,8 5,4 -3,1 1,8 -3,4
2014 0,1 2,6 6,4 6,5 4,8 -6,2 -0,6 -3,9
2015 -3,1 2,1 9,1 9,4 6,7 -7,4 0,1 -3,4
2016 -1,2 1,9 6,7 4,9 7,2 -7,2 0,7 -2,7
Fonte: Projeções OECD, Banco de dados da OECD (Economic Outlook), Banco Central, Desemprego: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego
PIB REAL - TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL Mundo1 Estados Unidos Zona do Euro Japão China India2 Brasil
2014 3,3 2,4 0,9 -0,1 7,3 7,3 0,2
1. PIB nominal utilizando paridades de poder aquisitivo. 2. Ano fiscal iniciado em Abril.
2015 2,9 2,4 1,5 0,6 6,8 7,2 -3,1
2016 3,3 2,5 1,8 1,0 6,5 7,3 -1,2
2017 3,6 2,4 1,9 0,5 6,2 7,4 1,8
saiba Mais Veja a íntegra dos estudos: OECD Economic Outlook (Novembro 2015)
http://bit.ly/OECD-eo-nov2015 http://bit.ly/OECD-eo-nov2015p OECD Economics Surveys - Brazil (Novembro 2015)
http://bit.ly/OECD-br-nov2015
Fonte: OECD Economic Outlook - Novembro 2015
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CONEXÃO ESPECIAL – IGF FORUM 2015
Luís Osvaldo Grossmann
Ptt FaZ a diFerença Para PeQUenos e MÉdios ProVedores A importância de ecossistemas sustentáveis e acessíveis aos ISPs é tema permanente do Fórum de Governança da Internet, cuja edição 2015 foi realizada em João Pessoa, de 10 a 13 de novembro. O caso do Brasil é modelo de sucesso, mas ainda sofre com forte concentração em São Paulo. ENTRE OS VÁRIOS ARRANJOS para a troca de tráfego Internet, o Brasil é bem considerado pelos principais interessados em soluções acessíveis e eficientes: pequenos provedores de acesso do País contam na estrutura dos Pontos de Troca de Tráfego (PTTs) gerenciados pelo Comitê Gestor da Internet com uma alternativa financeiramente viável. “Os pontos de interligação de sistemas autônomos Internet são realmente um sucesso e funcionam muito bem”, sublinha o presidente da Abranet, Eduardo Parajo. No Brasil, o custo da conectividade é, naturalmente, uma das principais preocupações, e aí se explica boa parte do
sucesso do projeto iniciado em 2004, chamado PTTMetro, ou IX.br, que já financiou a implantação de 25 dessas infraestruturas em todo o País. O tema foi um dos destaques do Fórum de Governança da Internet (IGF, na sigla em inglês), realizado em João Pessoa de 10 a 13 de novembro. Os dois painéis específicos sobre os pontos de interligação abordaram os diferentes acertos, pagos e gratuitos, e por que essas alternativas fazem diferença para pequenos provedores em todo o mundo. Dada sua função essencial na Internet, os Pontos de Troca de Tráfego (PTTs), ou IXPs [do
“Como vimos no IGF, há vários arranjos possíveis. Alguns PTTs são explorados comercialmente, outros são subsidiados, ou rateados entre os membros. No Brasil, usamos uma parte dos recursos arrecadados com o ‘.br’ para financiar o projeto” DEMI GETSCHKO
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PRESIDENTE DO NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR
“Para quem está em São Paulo está ótimo, para quem está longe seria melhor se o conteúdo estivesse espalhado em outros IX regionais” ANTONIO MOREIRAS GERENTE DE PROJETO DO NIC.BR
inglês Internet eXchange Point], se tornaram assunto permanente do IGF há uma década, desde a reunião de 2005, em Atenas, na Grécia. O conceito de pontos de troca de tráfego é bastante fundamentado no conhecimento acumulado, que neste ano foi reunido em uma espécie de guia de melhores práticas, levando em conta estudos de caso em diferentes países. FALANDO A MESMA LÍNGUA Em essência, PTTs (IPXs) permitem que as redes que usam o protocolo Internet (IP) troquem tráfego de dados de forma eficiente em um ponto comum, um lugar físico onde duas ou mais redes se encontram. Afinal, o próprio conceito de Internet implica redes conectando-se umas às outras. Esse modelo se desenvolveu a ponto de chegar a aproximadamente 500 pontos de troca em 117 países. Portanto, para ser efetivamente parte da Internet, cada rede precisa ser capaz de enviar e receber tráfego de outras redes. O que garante que todas sejam capazes de conversar entre si é o fato de falarem a mesma língua, o mencionado IP. Em geral, a troca de tráfego (peering) se
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dá sem custos (a coisa muda quando envolve as maiores redes, chamadas Tier 1). “Como vimos no IGF, há vários arranjos possíveis. Alguns PTTs são explorados comercialmente, outros são subsidiados, ou rateados entre os membros. No Brasil, usamos uma parte dos recursos arrecadados com o ‘.br’ para financiar o projeto”, explica o presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, Demi Getschko, sobre o PTTMetro, ou ainda IX.br. Como nem todas as redes se conectam a todas as redes, é comum que nesse trajeto sejam usadas redes de terceiros – acerto que é conhecido como ‘trânsito’ – que roteiam pacotes para e do resto da Internet. Esse é um serviço comercial que em geral envolve pagamento. Assim, conexões em PTTs são importantes fatores para ISPs porque, ao se interconectarem, as redes locais reduzem parte do tráfego Internet que precisa ser carregada adiante em acordos de trânsito. Mas ainda há barreiras de entrada a serem vencidas. O projeto conta com 25 PTTs no País, mas há uma forte concentração em São Paulo, onde está 80% do tráfego de todo o IX.br. “No Brasil, abranet.org.br dezembro . 2015
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muitos provedores em cidades distantes pagam preços muito altos pelo transporte para chegar aos participantes e ao conteúdo presentes no PTT de São Paulo no lugar de suportarem o desenvolvimento de uma estrutura mais próxima”, pontuou no IGF o gerente de projeto do NIC.br, Antonio Moreiras. Ao lembrar que seis grandes provedores (as operadoras de telecomunicações do País) concentram 70% do tráfego Internet, Moreiras sustenta que “é um setor altamente concentrado, mas poderia ser muito pior sem o IX.br. Hoje, uma porta no IX.br não tem custo para os participantes porque a iniciativa é financiada com os recursos dos domínios .br”, disse. Segundo ele, montar enlace para chegar ao ponto de troca de tráfego sai mais barato que fazer trânsito com todos. A concentração não é algo surpreendente. Quanto maior o volume de tráfego cursado den-
tro de um PTT, mais atrativa será essa estrutura perante os provedores de conteúdo e acesso. E isso se retroalimenta, uma vez que quanto mais participantes, mais tráfego, mais atratividade. O Brasil tem cerca de 3,5 mil sistemas autônomos e 1,3 mil usam os PTTs do IX.br. Mas mais de 800 deles estão no IX da capital paulista. Ou seja, mesmo que o sistema atual seja um avanço, falta capacidade de trânsito bem distribuída para todos os municípios – assim como também falta capacidade de trânsito internacional igualmente bem distribuída para todas as regiões do mundo. “Para quem está em São Paulo está ótimo, para quem está longe seria melhor se o conteúdo estivesse espalhado em outros IX regionais”, insistiu o gerente de projetos do NIC.br. Até como
Modelos são muitos, mas em 86 países PTTs ainda não existem O IX.br é apenas um dos diversos modelos para a troca local de tráfego. Como destacado na edição 2015 do Fórum de Governança da Internet (IGF, na sigla em inglês), há várias outras experiências. Na Argentina, o governo se envolveu no desenvolvimento de PTTs regionais, o que resultou em uma rede de 12 mil quilômetros de fibras ópticas no país – e o principal destaque dessa iniciativa foi também a redução de custos para a conectividade com o principal ponto de troca argentino, em Buenos Aires. “A relação com a incumbente, o fato de a conexão ser mandatária por um tempo, foi muito importante para nos prepararmos”, contou Ariel Graizier, da Cámara Argentina de Internet. Embora os benefícios dos PTTs sejam evidentes, vale lembrar os mencionados 117 países que contam
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com pelo menos um deles. Mas há 86 nações onde eles não existem – o que mais uma vez se torna um elemento crítico da conectividade e dos custos a ela relacionados em boa parte do mundo. A lista vem encolhendo aos poucos. A Bolívia, por exemplo, começou a operar seu primeiro PTT em 2013 e também envolveu a troca de tráfego obrigatória para provedores. Há, no entanto, soluções totalmente comerciais, como é o caso de Londres, onde a troca de tráfego é um negócio – por lá, bem-sucedido a julgar pelos depoimentos também ouvidos no IGF. “Já estamos funcionando há 20 anos e temos mais de 650 participantes, de quase 70 países, e tráfego de 3 terabits por segundo. Temos um resultado de US$ 20 milhões a US$ 25 milhões por ano”, revelou Malcolm Hutty, do LINX.
prova de que existe um verdadeiro mercado para isso, recentemente a Telebrás lançou como produto a conexão ponto a ponto PTT, exatamente para atender provedores regionais que querem se conectar a um ponto de troca de tráfego, mas não são capazes de fazer aqueles referidos investimentos para construir uma infraestrutura própria até o PTT. A iniciativa é nova, de outubro de 2015, e por enquanto envolve apenas os PTTs de São Paulo e Brasília. MELHOR LATÊNCIA Mas enquanto o custo é fator fundamental, trocar tráfego mais perto tem vantagens técnicas nada desprezíveis – e que se tornam cada vez mais importantes no próprio negócio de provimento de acesso. Além da melhoria de qualidade e resiliência, PTTs regionais resultam em melhoria na latência – que em redes Internet significa
o atraso para a chegada dos pacotes de dados. Quanto menor, melhor. Como PTTs não são restritos a redes, ou sistemas autônomos, é crescente o uso dessas infraestruturas por provedores de conteúdo. Um exemplo simples é a Netflix, que no Brasil implantou redes de distribuição de conteúdos, conhecidas como CDNs, nos PTTs de São Paulo e do Rio de Janeiro (aparentemente há planos para outros locais, mas isso ainda não aconteceu). Ainda que fosse ideal que essas CDNs estivessem mais espalhadas, implantá-las em cada país tem o resultado imediato de evitar que os dados tenham que, por exemplo, transitar desde os datacenters da empresa nos Estados Unidos. Como revelaram provedores, há ISPs de Belo Horizonte/ MG que investiram em rede até São Paulo e experimentam latência bem menor no tráfego dos vídeos em streaming.
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ENTREVISTA Daniel Oppermann
Pesquisador da área de governança da Internet associado ao Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (NUPRI-USP) Roberta Prescott
GOVERNANÇA DA INTERNET TEM DESAFIOS GLOBAIS NO FIM DE OUTUBRO, a Associação Brasileira de Internet
(Abranet) anunciou a formação de um grupo de trabalho para debater os aspectos mais relevantes no campo da governança da Internet. Liderado por Daniel Oppermann, professor e pesquisador da indústria da Internet em São Paulo, o grupo será composto por associados, e seus resultados serão compartilhados com a sociedade, por meio dos canais de comunicação da entidade. Em entrevista à Abranet, Oppermann discorreu sobre os avanços da governança da Internet tanto no Brasil quanto no mundo e falou dos desafios ainda a serem vencidos. ABRANET: Qual é o objetivo do novo grupo de trabalho? DANIEL OPPERMANN: Queremos chamar a atenção dos mem-
bros da Abranet para os debates internacionais que também afetam usuários e empresas no Brasil. A seleção de temas depende da participação e do interesse dos membros. Certamente, vamos abordar os assuntos em pauta na comunidade internacional, inclusive, os desenvolvimentos atuais na ICANN [sigla de Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, órgão mundial responsável por estabelecer regras do uso da Internet], questões de segurança e mais. Como o senhor avalia a governança da Internet no Brasil?
Precisamos entender que a governança da Internet é um assunto global e, assim, precisamos trabalhar com abordagens globais e ter um pensamento mais abrangente. Existe um foco muito grande nos desenvolvimentos dentro do País, causado, por exemplo, pelo forte envolvimento da área jurídica, que cresceu nos últimos anos em torno dos debates sobre o Marco Civil da Internet. Os debates jurídicos são importantes, mas não são
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os únicos. Precisamos de mais participação de outros setores da sociedade para conseguir uma discussão mais diversificada. Nos próximos anos, eu gostaria de ver uma descentralização temática e geográfica junto com abordagens mais globais. Em sua opinião, a comunidade jurídica brasileira tem embasamento para tratar do tema da Internet?
Há uma comunidade jurídica muito interessada nos assuntos da Internet, e isto é bom. O que falta é a participação de outros setores da sociedade, uma vez que a governança da Internet não é somente uma questão jurídica. Certamente é recomendável ter mais pluralismo. Ainda esperamos resoluções a respeito da transição da IANA. Prometida para setembro deste ano, a desvinculação do governo americano e a ICANN deve ficar mesmo para meados do próximo ano. O quanto este atraso é prejudicial? O que efetivamente mudará?
A transição da IANA – oficialmente chamada de IANA Stewardship Transition Process – é atualmente um dos processos mais importantes em torno da ICANN e esperada pela comunidade internacional desde a fundação da própria ICANN, em 1998. Na verdade, a IANA [sigla de Internet Assigned Numbers Authority, ou Autoridade para Atribuição de Números da Internet] existe desde os anos 1980 como ator ou instituição responsável por algumas tarefas cruciais na administração do sistema de nomes de domínios e números IP. Quando a ICANN foi fundada, no fim dos anos 1990, a IANA virou um departamento dentro da ICANN vigiado pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Desde então, a comunidade internacional está aguardan-
do o que às vezes é chamado de privatização da IANA, ou seja, a criação de um novo ambiente de supervisão sem controle unilateral. É importante notar que não vai haver mudanças nas atividades principais da IANA, nem uma mudança física para outro lugar. A IANA continuará como parte da ICANN nos EUA. A ideia era terminar este processo em 2015, porém, como há muitos atores envolvidos, os debates demoraram bastante tempo, e o prazo foi prorrogado para 2016. Uma grande questão é se em 2016 o governo dos EUA vai aceitar a proposta desenvolvida pela comunidade internacional durante os últimos meses. Caso ela seja rejeitada, o processo pode demorar mais tempo ainda. E estender o prazo de novo significa também usar mais recursos financeiros. Isso poderia gerar novos conflitos entre os stakeholders.
Para os debates internacionais sobre a governança da Internet, as revelações de Snowden causaram um avanço no que se refere a privacidade e proteção de dados. Esses debates precisam ser estendidos para todos os lugares onde há usuários da Internet. Os jovens e também os adultos precisam entender o que significa passar qualquer informação em algum lugar da Internet, seja no www ou via aplicativos. Empresas também precisam entender como proteger melhor seus dados de comunicação. Os próprios governos precisam se proteger de modo mais eficiente.
A governança da Internet e a segurança cibernética estão relacionadas entre si. Como ficou a governança após as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem feita pelo governo dos Estados Unidos? Passado o impacto daquele momento, o que mudou?
Na verdade, não existem princípios universais. Temos uma comunidade internacional muito diversificada. Existem algumas ideias apoiadas por certos grupos ou pessoas, por exemplo, os princípios do Comitê Gestor da Internet [CGI], do Conselho da Europa ou do NetMundial. Provavelmente, há outros atores além destes três que aprovaram seus próprios princípios. E, no futuro, poderemos ver novos princípios e declarações de outros atores. Com relação aos princípios do CGI [Comitê Gestor da Internet], é difícil responder a esta pergunta, porque esta resolução de 2009 não tem validade em outros países. Em muitos casos, porém, as declarações de princípios sobre governança da Internet têm alguns pontos em comum, tais como a referência a certos direitos básicos ou direitos humanos. Quando olhamos para o primeiro princípio do CGI, que trata as questões de liberdade, privacidade e direitos humanos, podemos dizer que temos, sim, liberdade de expressão no uso da Internet no Brasil. Mas, no mesmo momento, temos casos nos quais ela é limitada, porque existem situações ou regiões no País onde a liberdade de expressão não é respeitada. Quando olhamos para a privacidade, podemos dizer que temos pouquíssima no uso da Internet enquanto a comunicação não está criptografada.
As revelações de Edward Snowden, certamente, definiram um momento histórico na existência relativamente curta da Internet. Até 2013, os debates sobre segurança, filtragem ou vigilância da Internet aconteceram principalmente em relação a estados não democráticos em várias partes do mundo. Na verdade, havia muitas tentativas também em países democráticos, por exemplo, na Europa, para censurar a Internet, o que gerou uma grande polêmica na comunidade da Internet e na sociedade civil, especialmente naqueles países. Mesmo assim, estes Estados nunca foram marcados como “bad boys” da mesma forma como outros países na Ásia, África ou América Latina. Quem estava observando os cenários internacionais de forma crítica sempre tinha aquela suspeita de que os países democráticos agiram de forma questionável também. Com as revelações de Snowden, tivemos as provas de que as suspeitas eram justificadas. O mundo ocidental e especialmente alguns dos seus governos estão violando seus próprios valores, os mesmos valores que em outros momentos estão segurando no ar como modelo para o resto do mundo.
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Em 2009, o CGI.br estabeleceu princípios fundamentais para a governança e uso da Internet no Brasil, que, mais tarde, deram origem ao Marco Civil da Internet. O senhor acha que esses princípios estão sendo seguidos? Qual é o nosso estágio de adoção dos princípios de governança da Internet em relação a outros países?
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GESTÃO
Roberta Prescott
Parceria QUe Gera Mais resUltados
A remuneração variável aumenta a sinergia entre empresa e funcionário, motivando a equipe para melhorar o desempenho SUA EMPRESA JÁ ADOTOU a remuneração va-
riável? Na opinião de Francisco Pescuma, professor universitário e consultor da Peopleup Consultoria em Remuneração e RH, este modelo não apresenta desvantagens ou riscos, uma vez que é autofinanciável. Ou seja, se o funcionário gera resultado, será remunerado; caso contrário, não. O modelo, além de maximizar a relação resultado versus custo, desenvolve o planejamento com visão estratégica, melhora a eficácia gerencial e organizacional, aumenta o comprometimento e a motivação dos empregados e propicia uma melhor administração da rotatividade. A remuneração variável é um modelo que adiciona um valor à remuneração fixa, mas não a substitui por completo. Não existe um parâmetro para estabelecer o porcentual que será fixo e o variável: isto depende de cada
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empresa e do programa a ser definido. Antes de implementar a remuneração variável, é preciso entender que se trata de um compromisso entre capital e trabalho na busca pelos resultados para proporcionar recompensa para ambos os lados. “É o programa que vai gerar os recursos financeiros para a aplicação, de acordo com as metas e os objetivos estabelecidos. Se não forem bem definidos e se não forem cumpridos, não haverá distribuição de valores, mas é do próprio programa que sairá a verba para distribuição”, disse à Abranet Francisco Pescuma. A remuneração tradicional está relacionada ao cargo, e as faixas salariais variam conforme a posição do profissional. Assim, o aumento de rendimentos e a promoção, uma vez concedidos, não podem ser tirados, independentemente do desempenho do funcionário.
saiba Mais Assista à palestra na íntegra em http://bit.ly/seinesp
Pescuma aponta que as empresas que adotam remuneração variável têm uma série de ganhos, como a elevação dos patamares de qualidade e produtividade; a revisão dos paradigmas de gestão, já que, com os custos variáveis, firma-se uma parceria entre acionista e empregado; a implantação de uma política de recursos humanos com foco no desempenho e no desenvolvimento de talentos; e o comprometimento, pois todas as áreas da empresa são envolvidas na busca por resultados. COMO IMPLEMENTAR As empresas que decidirem adotar o modelo de remuneração variável precisam estar atentas a vários fatores, a começar pelos conceitos que vão medir os resultados dos funcionários. “No meu modo de entender, não é justo quando a métrica é feita apenas em cima do desempenho da empresa ou da área. O justo é remunerar conforme o desempenho de cada um, mais da empresa e do departamento”, explicou Pescuma, durante palestra no Sindicato das Empresas de Internet do Estado de São Paulo (Seinesp). Isto significa que algumas premissas básicas devem ser consideradas na hora de desenvolver o modelo de remuneração variável dentro da organização. São fundamentais o
“É o programa que vai gerar os recursos financeiros para a aplicação, de acordo com as metas e os objetivos estabelecidos. Se não forem bem definidos e se não forem cumpridos, não haverá distribuição de valores” FRANCISCO PESCUMA PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E CONSULTOR EM REMUNERAÇÃO E RH
comprometimento da alta direção para a definição da estratégia da empresa, das metas e dos objetivos e a transparência no sistema, tendo políticas claras e compreendidas por toda a equipe. Os cargos, salários e benefícios precisam estar alinhados não apenas internamente como também equilibrados com o mercado. Outro ponto bastante destacado por ele é o estabelecimento de metas e objetivos factíveis e realistas. A participação, destaca, precisa ser estimulada. “Tudo que é imposto não funciona. Só vai funcionar se for participativo e discutido.” O professor recomenda ainda que a estrutura organizacional seja enxuta. Quanto mais níveis de comando existem, mais difícil fica para se obter resultados. Em média, as companhias hoje trabalham com quatro ou cinco níveis. Pescuma explica que qualquer empresa, independentemente do porte, pode implantar um programa de remuneração variável. A diferença é que os programas podem ser mais ou menos agressivos, em termos de realização de metas e distribuição de valores, se a empresa é maior ou menor. “Porém, se falarmos em PLR [Participação nos Lucros e Resultados], as empresas sem fins lucrativos ou empresas públicas, pela legislação, não podem ter esse tipo de programa”, destaca. abranet.org.br dezembro . 2015
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COBERTURA . II CONGRESSO BRASILEIRO DE INTERNET
Roberta Prescott, Luiz Queiroz e Luís Osvaldo Grossmann
barreiras a sereM Vencidas Com forte presença de parlamentares, o 2º Congresso Brasileiro de Internet discutiu os principais temas do setor em Brasília
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O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO da Internet; o impacto
da convergência econômica entre o mundo on-line e off-line; e a regulamentação e a legislação que nortearão o desenvolvimento da rede no Brasil e no mundo foram os temas centrais do 2º Congresso Brasileiro de Internet. Realizado pela Abranet no dia 24 de setembro, em Brasília, o evento contou com a presença de representantes de peso da sociedade civil, do governo e das empresas privadas. O presidente da Abranet, Eduardo Parajo, abriu o Congresso pedindo mais segurança jurídica para as empresas de Internet. “O Marco Civil da Internet trouxe base sólida no sentido de criar parâmetros para termos lei mínima e a Internet seguir avançando, mas, infelizmente, vemos várias iniciativas tentando modificá-lo e apresentar novas leis. Precisamos tomar cuidado com isto”, pontuou. De fato, há projetos de lei em trâmite na Câmara dos Deputados que ameaçam o Marco Civil da Internet. Durante o Congresso, no debate sobre os poderes Legislativo
e Executivo, o assessor técnico do Partido dos Trabalhadores Pedro Paranaguá citou, além da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de crimes cibernéticos, três projetos de lei que, se passarem, podem vir a ferir, na sua opinião, o Marco Civil. São eles o PL 215/2015, de autoria de Hildo Rocha (PMDB/MA), que visa a punir os crimes contra a honra praticados nas redes sociais; o PL 2390/2015, do Pastor Franklin (PTdoB/MG), que tem como finalidade criar o Cadastro Nacional de Acesso à Internet; e o PL 1879/2015, do deputado Silvio Costa (PSC/PE), que objetiva estabelecer a obrigatoriedade de guarda de dados adicionais de usuários na provisão de aplicações que permitam a postagem de informações por terceiros na Internet. A discussão regulatória ganhou força com a argumentação da presidente da CPI de crimes cibernéticos, a deputada federal Mariana Carvalho (PSDB/RO). Ela adiantou que esta Comissão Parlamentar de Inquérito deve se alongar para além dos 120 dias, devido à complexidade dos assuntos tratados. Em sua fala, a deputada destacou que um dos objetivos é que os crimes cometidos na vida real não se tornem também crimes na vida virtual e afirmou que a CPI não quer acabar com a liberdade de expressão.
No entanto, ela fez uma ressalva: “Também temos de avaliar de que forma as coisas são faladas [na Internet]. O que é uma crítica para mim pode ser uma ofensa para outra pessoa que tenha um problema pessoal relacionado àquilo”, disse. “Toda hora tem alguém querendo mudar o Marco Civil da Internet. Temos de ter responsabilidade para entender o que é positivo para o Brasil”, completou Fábio Souza, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara federal. Do lado das empresas, Marcel Leonardi, do Google, destacou que todas as disrupções tecnológicas colocam os governos – e não apenas o brasileiro – diante da escolha legislativa de fazer regulamentação preventiva, dentro da lógica da precaução, ou ter uma ausência de regulação restritiva. “Vamos pegar os casos perigosos e regulá-los a ponto de nos preocuparmos desde já ou vamos adotar a ideia que é mais baseada na lógica da inovação sem necessidade de permissão? O sucesso dos modelos de negócio da web derivou desta segunda hipótese”, defendeu. “Ao legislar pelo extremo, com medo dos piores casos, o grande risco é não deixar florescer os melhores casos.” Neste cenário, o papel do Banco Central é equilibrar inovação e competição, conforme ressaltou o representan-
comércio on-line
tríade do futuro
O comércio eletrônico tem apresentado índices altos de crescimento. O vice-presidente do Mercado Livre, Stelleo Tolda, lembrou que este tipo de comércio nasceu do desejo de consumir e transacionar.
Os próximos anos da Internet serão marcados, principalmente, por três tendências: big data, computação em nuvem e plataformas móveis, apontou Gil Torquato, do UOL, que vê grandes oportunidades no mercado.
Veja a íntegra da entrevista: http://bit.ly/2cbi-tolda
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Veja a íntegra da entrevista: http://bit.ly/2cbi-torquato
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te da instituição, Rogério Lucca. Para ele, o Estado deve poder incentivar a inovação. “O equilíbrio entre inovação e competição de um lado e segurança e regulação do outro é um princípio que o Banco Central vem mantendo na regulação deste setor [de meios de pagamentos]”, destacou. PAPEL DA INTERNET Mais do que refletir os 20 anos da Internet comercial, o painel de abertura do 2º Congresso Brasileiro de Internet debateu o que esperar para o futuro da rede no Brasil. O presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), Demi Getschko, advertiu que, neste momento, vive-se uma transição entre apurar as conquistas do passado e definir quais serão as melhores estratégias para o futuro. Considerado o ‘pai da Internet nacional’, Getschko afirmou que a inclusão digital vai além do fato de a população possuir um smartphone. “É muito bom que tenhamos mobilidade, mas é fundamental que a infraestrutura física leve a Internet até os lares dos brasileiros mais distantes. Os países que avançaram mais nisto têm uma grande estrutura física”, preconizou. Como representante do então Ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Aldo Rebelo, a secretária-executiva da pasta, Emília Curi, destacou a questão da segurança, inclusive citando que o governo está buscando recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para fortalecer o ambiente virtual. “Não podemos expandir serviços de Internet sem pensar em segurança cibernética. Ela é a pauta número um”, priorizou. Sobre a interferência do Estado, a secretária-executiva do MCTI apontou que a Internet deve ser livre, tanto no acesso, quanto na informação. “Quando menos o Estado intervir, melhor. Não podemos criar estrangulamentos para o setor.” Já o senador Walter Pinheiro, do PT/BA, sinalizou que a universalização do acesso à Internet passa pela necessidade real do serviço. “Só consigo universalizar se tiver demanda. Não conheço quem vai fazer provimento se não houver demanda”, ressaltou. Outra questão amplamente discutida porque vai adicionar complexidade à atual rede mundial, a Internet das Coisas foi tema da fala de Virgilio Almeida, do Comitê Gestor da Internet (CGI). Segundo ele, será preciso que os diversos pilares do ecossistema, como sociedade civil, governo, empresas privadas e academia, criem juntos po-
direito ao esquecimento
Mercado à vista
“O direito ao esquecimento não existe, é uma balela que foi inventada”, defendeu Miguel Matos, do Migalhas. Para ele, o direito ao esquecimento está sendo usado para “fazer a história sumir”.
Apesar do avanço, as vendas pela Internet ainda têm muito a crescer. German Quiroga, presidente da Nova Pontocom, revela que o desempenho dos portais de e-commerce de que cuida já está encostando na metade do que é vendido nas lojas físicas.
Veja a íntegra da apresentação: http://bit.ly/2cbi-matos
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Veja a íntegra da apresentação: http://bit.ly/2cbi-quiroga
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líticas que garantam as boas práticas. “Há questões não definidas hoje, por exemplo, qual será a rede, como os dados serão coletados. São questões muito novas, e o tratamento vai depender do uso. Privacidade e segurança são os dois grandes problemas”, disse. Na visão de Getschko, a Internet das Coisas não é algo extremamente diferente. Seria mais uma evolução da rede; afinal, há tempos os dispositivos contam com enorme capacidade embarcada e podem ser controlados remotamente. A maior complexidade virá de fatores como a integração de diferentes tecnologias e arquiteturas, além, claro, do estabelecimento de regras para a coleta e exploração de dados. “A Internet das Coisas oferece uma oportunidade econômica importante para o País, com surgimento de novos e serviços e produtos. O futuro será digital”, finalizou Virgilio Almeida.
saiba Mais A cobertura completa, com textos e vídeos, do II Congresso Brasileiro de Internet está no site da Abranet, em http://bit.ly/2cbi2015
comparação desigual A presidente da ABDTIC, Ana Luiza Valadares, defendeu que não dá para comparar os aplicativos de intermediação, como Uber, com aqueles que operam em mercados extremamente regulados e os substituem, como Netflix ou WhatsApp.
aplicativos em questão Não cabe aos municípios, distritos ou estados legislar se a Uber – rede que conecta passageiros e motoristas por meio de um aplicativo – pode ou não seguir operando no País, de acordo com a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Fátima Nancy Andrighi. Isso porque, segundo ela, tais esferas só podem legislar sobre transporte público coletivo e individual. Para a ministra, a Uber nada mais faz do que servir de intermediária de contrato de transportes, e o Código Civil prevê este tipo de contrato. “A proibição de aplicativos de intermediação de transporte não pode ser pautada por pressão politica de certas categorias, mas, sim, pelo interesse dos consumidores”, pontuou. Como fundamentação, Fátima Andrighi citou a lei federal 12.468, que regulamenta apenas a profissão de taxista, mas não a de motorista particular, empregado ou autônomo e nem contrato de transporte privado individual, já que no artigo 2º estabelece como atividade privada de profissionais taxistas a utilização de veículo automotor próprio ou de terceiros para o transporte público individual. O diretor de políticas públicas da Uber no Brasil, Daniel Mangabeira, defendeu que a discussão não deveria ser sobre a Uber, mas sobre um mercado novo que surge. “Incentivamos um novo sistema econômico e social”, disse. Do ponto de vista competitivo, o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Carvalho, destacou que, mais do que trazer novas formas de competição na economia, a Internet altera fatores importantes nas relações comerciais para os quais os órgãos de defesa da concorrência devem estar preparados. “Qualquer intervenção do órgão antitruste pode ser desastrosa – é especialista em um método que não se adequa a isso”, afirmou o executivo.
Veja a íntegra da entrevista: http://bit.ly/2cbi-valadares
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COBERTURA . FUTURECOM / FUTURENET
Roberta Prescott
o FUtUro dos serViços de internet Abranet participa com destaque do Futurecom 2015 e promove o FutureNet para tratar desde questões técnicas até aquelas relacionadas aos negócios A EDIÇÃO 2015 DO FUTURECOM, importante evento de telecomunicações, TI e Internet da América Latina, foi palco de uma série de debates, tais como os desafios para ampliar a conectividade no Brasil de modo a atender à crescente demanda por acesso à Internet e comunicação; os entraves regulatórios; a disputa das teles com as OTTs, que oferecem serviços usando sua rede; os próximos passos para a evolução das redes de telecomunicações rumo ao 5G; e o papel da Internet das Coisas para a construção das cidades inteligentes. Realizado em São Paulo, de 26 a 29 de outubro, o evento reuniu cerca de 14 mil participantes e 4.300 congressistas.
Cerimônia de abertura do Futurecom 2015
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O presidente da Abranet, Eduardo Parajo, recebe o ministro das Comunicações, André Figueiredo
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Já o debate específico sobre questões relacionadas aos provedores de Internet ocorreu no dia 26, antes de abertura oficial do Futurecom. Foi neste dia que a Associação Brasileira de Internet (Abranet) realizou o FutureNet. Em sua sétima edição, o FutureNet contou com a presença de 150 pessoas, entre técnicos, gerentes e empresários. Das 11 às 19 horas, os participantes puderam conferir palestras sobre temas que abrangeram desde questões técnicas até outras relacionadas ao dia a dia das empresas e oportunidades de negócios. Antonio Moreiras, gerente de desenvolvimento e projetos do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), mostrou durante o FutureNet como o ambiente econômico tem levado provedores de acesso à Internet a participar de pontos de troca de tráfego – ou Internet Exchange (IX), na nomenclatura em inglês mundialmente conhecida. Além disto, Moreiras ressaltou as vantagens técnicas de melhoria de qualidade e resiliência, considerando que, ao participar de um IX, os sistemas autônomos (AS, na sigla em inglês) têm conexão direta para diversas redes. “Muitas vezes, a economia é a razão principal por que muitos ASs se conectam a IXs, mas em países europeus ou nos Estados Unidos, onde o preço de trânsito é mais baixo, os ASs se conectam a IXs por outros motivos. E aqui o trânsito custa caro, principalmente fora do eixo Sul-Sudeste”, disse Moreiras. “Montar enlace para chegar ao ponto de troca de tráfego (IX) sai mais barato do que fazer trânsito com todos.” Moreiras também alertou para os cuidados a se tomar ao participar do IX.br. Com relação aos enlaces,
Antonio Moreiras, do NIC.br, faz apresentação no FutureNet
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disse que nem todos são compatíveis com o IX.br e lembrou que é preciso ter suporte (tag de VLAN, MTU mínimo de 1472 bytes e múltiplos endereço de MAC). “O IX.br filtra os MACs. Deve-se informar o MAC de roteador para o IX.br e não se pode usar outros MACs”, destacou. Como exemplo, citou que o IX de São Paulo tem cerca de 800 participantes. “O roteador vai conversar com os outros, vai precisar saber do endereço MAC e duas VLANs, uma para IPv4 e outro para IPv6.” Outro cuidado é informar o equipamento que vai usar e atentar para o que será habilitado ou não. Deve-se também prestar atenção em uma série de filtros no BGP para não causar problemas. Moreiras falou ainda do conceito de canal para ponto de troca de tráfego (CIX, do inglês Channel to IX). Fora do Brasil, o conceito mais próximo é de revenda de porta, ou compartilhamento de porta. Ou seja, uma mesma ligação ao IX.br pode ser compartilhada entre diversos participantes. “Um AS pode contratar um enlace para o IX.br e interligar-se, oferecendo, então, comercialmente a outros sistemas autônomos a possibilidade de compartilhar o mesmo canal. Ou um conjunto de ASs pode contratar um enlace em conjunto até o IX.br e compartilhá-lo para interligar-se”, explicou. Os provedores de Internet também estão usando as chamadas VLANs bilaterais. Além das VLANs que ligam cada participante às redes compartilhadas (camada 2) em IPv4 e IPv6, é possível solicitar VLANs bilaterais sem custo e usá-las para troca de tráfego ou venda de serviço, como trânsito Internet ou transporte para outras localidades do IX.br.
FutureNet foi o ponto de encontro dos provedores de Internet
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PRESENÇA MARCADA A Abranet marcou presença igualmente nos painéis do Futurecom, que reuniram representantes das operadoras, das empresas fornecedoras de tecnologia, consultores e, em alguns casos, governo. O presidente da Abranet, Eduardo Parajo, defendeu que o setor de comunicação necessita de menos regulação e mais competição para que a universalização dos serviços avance além do fornecimento apenas de voz comutada. Ele integrou painel sobre o marco regulatório na América Latina. “É preciso propiciar ambiente competitivo. O problema é que partimos de modelo antigo e agora temos modelos novos”, afirmou. Parajo reconheceu que passamos por um momento de disruptura no mercado de telecomunicações, que segue um modelo estabelecido na época das concessões e privatização. “Há uma série de regras e regulações que oneram o setor”, destacou. Ele também mencionou que transformações serão necessárias para se ajustar o modelo à mudança do consumo pelo usuário. “Há um descompasso para casar remuneração pelos serviços cobrados e o que acontece em cima dos serviços de Internet como um todo”, ressaltou. “A Internet vende muito mais serviço de telecomunicações que a voz e, evidentemente, a infraestrutura é essencial para que a Internet funcione; a rede é essencial.” Eduardo Neger, presidente do Conselho Consultivo Superior da Abranet, participou de dois painéis. Neger falou sobre as oportunidades de negócios para companhias de telecomunicações e para empresas application service provider (ASP), com foco no atendimento às pequenas e
José Janone Junior, Evandro de Sousa, Eduardo Neger, Eduardo Parajo, Armando Kratina e Dorian Guimarães
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microempresas, e também discutiu o potencial de negócios de TV aberta a partir da evolução da tecnologia e do mercado de entretenimento. ACORDO A Huawei aproveitou tanto o FutureNet quanto o Futurecom para anunciar um acordo com a Abranet, mediante o qual os associados passarão a contar com condições especiais de pagamento e preços na aquisição de equipamentos da empresa chinesa. Além de equipamentos, os associados também terão acesso a cursos de capacitação tecnológica. “Queremos levar para os provedores de Internet espalhados pelo Brasil produtos de alta qualidade, ajudando-os a expandirem suas redes”, afirmou Eduardo Parajo. Para a Huawei, um dos objetivos é incrementar as receitas do segmento corporativo. Já para a Abranet, a meta é ajudar os 320 associados a avançar na implantação de fibra óptica. “Hoje, os pequenos e médios ISPs representam em compra de fibra óptica o mesmo que os grandes provedores”, pontuou Parajo. De acordo com Romulo Horta, diretor de marketing da Huawei Enterprise, unidade que cuida do setor corporativo e de governo, a compra dos produtos será feita por meio de canais de distribuição, como a Agora Telecom. As condições de financiamento e precificação estão sendo fechadas. A expectativa é que mais detalhes sejam divulgados em breve. Mas os associados já podem contar com os cursos de capacitação. A parceria não tem uma data para acabar. A ideia é mantê-la a longo prazo para beneficiar um número maior de provedores de Internet.
Laudálio Veiga Filho, do Futurecom, apresenta o FutureNet
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Maior estande do Futurecom Entre todos os estandes do Futurecom, o maior era o da Abranet. Em uma área de 225 metros quadrados, empresas associadas apresentaram novas tecnologias para o mercado brasileiro. O NIC.br e o Sindicato das Empresas de Internet do Estado de São Paulo (Seinesp) também estiveram presentes no espaço. A Cambium Networks lançou a solução cnPilot, enquanto a One Linea, junto com a Alcatel Lucent Enterprise, apresentou a nova linha de switches para data center com o recurso avançado Intelligent Fabric. A Openet mostrou soluções em software para dados patrocinados, ANDSF (solução de Wi-Fi offload), PCRF (gestão de
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funções e regras de política e cobrança) e RTOM (plataforma de engajamento com os clientes em tempo real). A Kerax levou ao evento algumas tecnologias do seu portfólio de produtos, como as antenas bi-sector e multibeam e as torres da Trylon, equipamentos para provedores de conexão. A Criarenet apresentou o WiFimax, uma solução de gerenciamento de acessos à rede Wi-Fi. Já a SOLiD apresentou as soluções em sistema de antenas distribuídas (DAS) e em C-RAN (ou Cloud RAN, rede de acesso via rádio). A InterNetX, por sua vez, exibiu o LTDA Startup Award. Participaram do espaço da Abranet as seguintes empresas/instituições: Cambium, CGI/NIC, InterNetX .LTDA & SRL, Ivision, Kathrein, Kerax, One Linea, Openet, Seinesp, SOLiD, SunriseNet, Telecall e Wztech.
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OPINIÃO Leandro Bennaton
Professor de pós-graduação e MBA e executivo de segurança do Grupo Telefónica. Possui mais de 15 anos de experiência nas áreas de TI, telecomunicações e segurança
A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS É necessário arquitetar uma legislação no Brasil para evoluirmos nesse ambiente que não tem mais volta: o digital É SABIDO PELA MAIORIA DOS USUÁRIOS que nossos
dados circulam pela Internet e, mais, são legalmente comercializados no mercado. Como todo ambiente digital, essa é uma situação nova para todos nós. No Brasil, as discussões acerca do Marco Civil da Internet, lei regulatória de 2014, reacenderam questões. Primeiramente porque se trata da formalização de práticas que já eram adotadas por empresas de telecomunicações e ISPs. O grande destaque são obrigações que passaram a afetar sites públicos e do governo, que são ricas fontes de informações e alvo de ataques. Do ponto de vista de proteger o usuário, um anteprojeto de lei para proteção de dados pessoais busca garantir e preservar, no âmbito do tratamento de dados pessoais, os direitos fundamentais da pessoa, relacionados à privacidade digital. Na Europa, a General Data Protection Regulation (GDPR) é a legislação que se dedica a proteger usuários neste tipo de crime. É passado o momento de arquitetarmos essa dinâmica também aqui no Brasil para evoluirmos nesse ambiente que não tem mais volta: o digital. Um exemplo positivo no Brasil é o Internet
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banking, um dos serviços mais maduros, do ponto de vista de segurança, tendo como principal motivador a responsabilidade, uma vez que na maioria das fraudes os clientes são indenizados. Razão pela qual investese cada vez mais em controles de segurança, visando mitigar perdas. A segurança digital é também responsabilidade do usuário (que deve proteger dispositivos e senhas) e dos responsáveis por provedores de Internet. Especialmente aos profissionais de SI, existem muitas responsabilidades – com ou sem uma legislação apropriada. Mas é claro que um respaldo legal facilita a captação dos recursos para aplicação dos controles de segurança. Recentemente, assistimos ao vazamento da base de um site que promovia encontro para traições. Obviamente os dados eram sigilosos, porém muitas informações comprometedoras acabaram expostas. Se um caso semelhante acontece por aqui, ainda não temos uma lei que obrigue as empresas a notificarem as vítimas sobre a violação, como a europeia GDPR e a legislação americana. As discussões nas comunidades de SI dão conta que muito ainda precisa ser feito, do ponto de vista técnico, para que os parágrafos do projeto de lei sejam respeitados. Muito se fala em cyber segurança, ataques por meio de ameaças persistentes avançadas (APT), mas antes de dar foco nestes temas é fundamental que as empresas tenham evoluído em aspectos primários, como arquitetura de sistemas; e no hardening, técnica de blindagem de sistemas que visa fortalecê-los com a execução de medidas corretivas das vulnerabilidades de infraestrutura, buscando preparar o ambiente para suportar ataques. As empresas devem pensar na proteção dos dados dos assinantes, assim como de todo seu ambiente tecnológico, pois é sabido que uma violação, além de afetar a credibilidade, pode acarretar a descontinuidade de negócios e até o fim de uma marca.
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