Revista Abranet . 20

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associação brasileira de internet

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ano VI . edição 20 . março / maio 2017

Cobrança via boletos com registro pode onerar as empresas

É hora de rever

os meios de recebimento

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Mudanças no ISS ampliam a incidência do imposto LTE: provedores reclamam da lentidão da Anatel abranet.org.br março / maio 2017

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editorial Eduardo Parajo Presidente da Abranet

Muito trabalho pela frente Nas últimas duas décadas, as empresas do segmento Internet no Brasil lidaram com muitas mudanças nas rotinas operacional e financeira. Este ano, mais uma acontece e já determina a revisão dos modelos de gestão. Trata-se da cobrança por boletos, bastante utilizada na relação com os clientes. Os bancos deixaram de oferecer a modalidade sem registro e migraram essas carteiras de cobrança para a categoria registrada. Segundo a Federação Nacional dos Bancos (Febraban), a medida é necessária para inibir fraudes e é vantajosa para os consumidores, que passam a pagar os boletos em qualquer instituição financeira. A reportagem de capa desta edição aponta as alternativas e apresenta casos práticos de adequação ao novo processo por parte das empresas de Internet. E as transformações não cessam. A entrada em vigor da Lei Complementar nº 157 afeta diretamente as empresas que prestam serviços por meio da internet. Sancionada em 30 de dezembro pelo presidente da República, Michel Temer, a LC 157 amplia a lista de serviços sobre os quais incide o Imposto Sobre Serviços (ISS) e fixa em 2% a alíquota mínima. O governo justifica a nova legislação informando que ela oferece mais segurança jurídica ao especificar os serviços que estão sujeitos a

impostos. Entretanto, estende consideravelmente a incidência do imposto e causa controvérsia ao tributar streamings de vídeos e música. Especialistas ouvidos pela Revista Abranet asseguram: o momento é de buscar orientação. Se os dias estão corridos para quem lida com a gestão, também estão para quem define a estratégia de negócios. A Internet das Coisas chegou para valer. O nosso entrevistado desta edição, o professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV Direito Rio, Eduardo Magrani, adverte que há desafios técnicos e regulatórios para serem enfrentados pelo Brasil nessa área. Um deles se relaciona ao papel do Estado na emergente realidade da hiperconectividade. Se regular demais pode afetar negativamente a inovação e o potencial econômico da IoT. Se regular de menos, pode não garantir suficientemente a segurança e a privacidade dos consumidores de produtos envolvendo IoT. Em complemento, reportagem mostra que definir um plano de negócios é diretriz essencial. A multiplicação dos objetos exige rede e conectividade, o que nos leva a um outro tema desta edição: a lenta espera pelo LTE. Em dezembro de 2015, empresas operadoras de telecomunicação e de Internet adquiriram frequências LTE, mas até o momento não tiveram suas propostas analisadas pela Agência Nacional de Telecomunicações. Isso retarda a aquisição de tecnologia e de equipamentos e, principalmente, a ampliação da infraestrutura digital necessária no País. Boa leitura! abranet.org.br março / maio 2017

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ÍNdiCe 05 | aBraNet reSPoNde Como obter licença para explorar internet via rádio. Saiba quais são os procedimentos necessários para a obtenção de licenças de concessão, permissão ou autorização junto à Anatel.

06 | teCNoloGia A longa espera pelo Lte. Provedores de Internet reclamam da demora da Anatel em assinar o termo de autorização para os vencedores do leilão das sobras de frequência.

É hora de rever

conseLho editoriaL eduardo Parajo parajo@abranet.org.br

José Janone Junior janone.jr@abranet.org.br

eduardo neger

neger@abranet.org.br

GerÊncia eXecutiva roseli ruiz Vazquez gerente@abranet.org.br

OS MEIOS DE

RECEBIMENTO

10 | CaPa

Mudança na cobrança via boleto pode onerar empresas. Recomendação é negociar com bancos e procurar alternativas.

15 | MerCado Participantes passam a pagar pelo acesso aos iXs. A participação nos IXs (nomenclatura atualmente adotada para os PPTs) de São Paulo e Rio de Janeiro será cobrada a partir de meados deste ano.

16 | MerCado mudanças no iss. Diversas atividades de computação passam a estar sujeitas à incidência do imposto sobre serviços, entre elas, processamento, armazenamento e hospedagem de dados.

20 | eNtreViSta . edUardo MaGraNi Lei de Proteção de dados Pessoais é fundamental para o cenário de iot. O professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV Direito Rio opina sobre os principais itens para a formulação de uma estratégia nacional capaz de permitir, de fato, uma IoT no País.

proJeto, produÇÃo e ediÇÃo

editora Convergência digital editora@convergenciadigital.com.br Tel: 011-3045-3481 direÇÃo editoriaL

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br

Luiz Queiroz

queiroz@convergenciadigital.com.br editora-cheFe

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br ediÇÃo

bia Alvim

bia.alvim@pebcomunicacao.com reportaGeM / redaÇÃo

roberta Prescott

prescottroberta@gmail.com

22 | SeGUraNÇa

ediÇÃo de arte e diaGraMaÇÃo

A volta do spam. O Relatório Anual de Cibersegurança Cisco 2017 apontou que 65% dos e-mails das empresas entrevistadas referem-se a spams, e entre 8% e 10% deles são maliciosos e representam ameaças.

pedro@convergenciadigital.com.br

24 | teNdÊNCiaS

Pedro Costa iMpressÃo

Gráfica Pigma

no radar da internet das Coisas. Se há um tema comum em debates sobre a Internet das Coisas é a necessidade do desenvolvimento de padrões nessa nova onda tecnológica. Mas isto não tem impedido a indústria de se movimentar e lançar diversos projetos na área.

30 | CoNeXÃo Abranet está no Conselho deliberativo de Atacado da Anatel. Facebook: Brasil precisa avançar no ambiente favorável à internet. iPv4: reta final para o esgotamento dos endereços internet. WhatsApp movimenta até 0,9% do PIB do Brasil. novas receitas para isPs. Um quarto dos pontos Wi-Fi está propenso a ataques. W3C lança documento sobre publicação de dados na web.

30 | oPiNiÃo . Por UBirataN reSeNde, diretor geral da Via technologies no Brasil iot chega para ficar na indústria brasileira. Mesmo em meio à mais longa recessão da história, as empresas não podem deixar de investir em inovação. Uma tendência cada vez mais forte em todo o mundo é a Internet das Coisas.

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Rua da Quitanda, 96 / Cj.31 - Centro - São Paulo / SP CEP: 01012-010 Fone: (11) 3078-3866 www.abranet.org.br facebook.com/abranetoficial Linkedin.com/abranet @abranet_brasil Youtube.com/AbranetBrasil


aBraNet reSPoNde tem uma dúvida? Quer que um especialista da associação brasileira de internet responda? escreva para o abranet responde. o e-mail é abranetresponde@abranet.org.br

CoMo obter liCenÇa para eXplorar internet Via rÁDio Têm sido frequentes entre os leitores da Abranet questões sobre quais são os procedimentos necessários para a obtenção de licenças de concessão, permissão ou autorização junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para explorar o ramo de Internet via rádio no Brasil. Para ajudar os empreendedores, levamos à agência reguladora as principais dúvidas. É importante entender, antes de tudo, que as frequências licenciadas só podem ser autorizadas após procedimento de licitação; neste caso, a autorizada terá direito a proteção contra interferências prejudiciais. O uso de frequências não-licenciadas, que correspondem à maioria das solicitações recebidas pela Anatel, segue um trâmite preestabelecido (mais detalhes ao lado). Ele independe de ato de autorização de uso de radiofrequência, mas necessita de outorga para exploração de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM).

cLassiFicados abranet

como faço para conseguir uma concessão, permissão ou autorização expedida pela Anatel para explorar o ramo de Internet via rádio no Brasil? Anatel: Para prover Internet via rádio, é necessário obter a autorização de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), um serviço de telecomunicações de interesse coletivo, prestado em âmbito nacional e internacional, no regime privado, que possibilita a oferta de capacidade de transmissão, emissão e recepção de informações multimídia, utilizando quaisquer meios, a assinantes dentro de uma área de prestação de serviço. Para obter essa autorização, é preciso fazer a solicitação por meio do Sistema Mosaico. O tutorial do sistema pode ser encontrado em www.anatel.gov.br > Setor regulado > outorga > Comunicação Multimídia > acesse o tutorial do Sistema Mosaico. http://www.anatel.gov.br/setorregulado/index.php/comunicacao-multimidia-outorga Quais são os custos? Anatel: O valor da autorização é R$ 400,00, e o valor para licenciar estações após a autorização é R$ 1.340,80 por estação. Quais são os documentos que terei de apresentar? Anatel: A lista dos documentos a serem apresentados pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: http://www.anatel.gov.br/setorregulado/index.php/comunicacao-multimidia-outorga/requisitos-scm A documentação deve ser entregue em .pdf no Sistema Mosaico. Para ter acesso ao Mosaico, é necessário um cadastro prévio no Sistema Eletrônico de Informações (SEI), https://sei.anatel.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=usuario_externo_logar&id_orgao_ acesso_externo=0

Serviço gratuito da Abranet destinado aos Provedores de Internet, associados ou não, que desejam vender ou comprar equipamentos. O objetivo é fomentar um canal de negociação. Saiba mais em http://classificados.abranet.org.br

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teCNoloGia

Roberta Prescott

Estudo do IBPT mostra retração no faturamento total do setor, em 2016, mas aumento no número de empresas atuantes

a lonGa esPera Pelo

deCorrido mAis de um ano desde que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou o leilão das sobras, em dezembro de 2015, os casos de provedores de Internet usando o espectro para prover serviços de banda larga ainda não são uma realidade. A Anatel colocou à venda lotes municipais com preços acessíveis – alguns custando R$ 2 mil e a maioria com preços médios inferiores a R$ 10 mil. Mas o que seria uma oportunidade para os Internet Service Providers (ISPs) aumentarem seu alcance de cobertura e ofertarem novos serviços tem dado bastante dor de cabeça. Uma das principais reclamações é o tempo que a agência está levando para analisar as propostas. Dos pouco mais de 20 mil lotes do tipo C que a Anatel colocou à disposição, 5.755 tiveram lances dados por 324 empresas. No entanto, até agora foram assinados termos de autorização com somente 76 empresas, referentes a 1.276 lotes em 742 municípios. É um número muito baixo, comparado ao total de lotes que foram a leilão. Isto sem contar a análise dos documentos dos lotes que ficaram

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lte Provedores de Internet reclamam da demora da Anatel em assinar o termo de autorização. Enquanto isto, analisam tecnologia e soluções para usar na faixa


desertos por desclassificação das empresas. Neste caso, é necessário aguardar o julgamento dos recursos para saber se as empresas terão ou não os termos assinados. Já para os lotes em que as proponentes vencedoras desistiram da participação na licitação, a Anatel adjudicou -os às segundas classificadas que atendessem às condições estabelecidas, pelo valor do último lance por elas ofertado, conforme regras do edital. Além disto, não tiveram apresentação de proposta 15.150 lotes, em 2.383 municípios. Existem, segundo a Anatel, 3.231 lotes envolvidos em 110 recursos interpostos contra decisões da Comissão Especial de Licitação (CEL) do leilão que ainda estão pendentes de processamento e decisão. Para tais lotes, é necessário o envio de notificação para apresentação de contrarrazões e manifestações para todas as proponentes de cada lote, o que gera uma quantidade significativa de documentos a serem processados e analisados pela CEL. A Anatel explica que, para os lotes em que não existiam vícios formais ou recursos, a licitação já se encontra encerrada. Para os lotes em que os vícios formais foram sanados, a licitação encontra-se em vias de ser finalizada. “Por seu turno, com relação aos lotes com recursos interpostos, há maior complexidade e demanda por maior tempo de análise e de processamento, não havendo que se falar em lentidão”, justifica. Questionada pela Abranet, a agência se recusou a precisar quanto tempo ainda levará a emissão de termos de autorização para os lotes pendentes. Tecnologia em análise Enquanto isto, os provedores aguardam o lento processo e usam o tempo para analisar as alternativas existentes no mer-

“A maioria dos pequenos provedores de Internet que participaram do leilão não entrou com um plano de negócio fechado. Foram mais no feeling.” Wardner Maia Diretor-técnico da MD Brasil

“Enxergamos uma oportunidade para possibilitar o incremento nas taxas de crescimento da empresa.” Fabiano Busnardo Diretor-executivo da Unifique

cado de soluções para uso da faixa. Ainda que o edital não tenha apontado qual tecnologia deva ser usada nas bandas adquiridas, o Long Term Evolution (LTE) deve ser o mais adotado. As faixas foram ofertadas nas frequências 1.9 GHz e 2.5 GHz (bandas T e U), ambas em Time Division Duplex (TDD) – espectro que requer uma única banda, uma vez que tanto o downlink como o uplink estão na mesma frequência. A Unifique é uma das empresas que segue em compasso de espera. Depois de arrematar lotes, ela aguarda manifestação da Anatel. Fabiano Busnardo, diretor-executivo da Unifique, conta que o objetivo ao participar do leilão foi ampliar o portfólio de produtos. “Enxergamos uma oportunidade para possibilitar o incremento nas taxas de crescimento da empresa”, afirma, explicando que com o LTE vai prover internet em alta velocidade para clientes residenciais e corporativos. A Unifique atualmente tem 450 funcionários diretos, três datacenters próprios e 5 mil quilômetros de fibra óptica, um infraestrutura usada para atender a 94 cidades, somando 80 mil clientes. Busnardo antecipa que não firmou contrato com fornecedor de solução, mas diz que está em negociações. Ele reconhece que os custos ainda são elevados, mas acredita que, com a difusão da tecnologia LTE, haverá uma redução. “Estamos trabalhando com os fornecedores para que a conta feche.” A Anatel estabeleceu prazo de 18 meses, após a assinatura do contrato, para a entrada em operação. Busnardo planeja contar com LTE em operação ainda neste ano. “As expectativas são as melhores possíveis. A empresa espera crescer no ano de 2017 em torno de 40% em relação a 2016. O LTE para este ano não terá influência neste crescimento, mas, a partir de 2018, esperamos que o LTE represente 20% das nossas vendas totais”, afirma o diretor-executivo, que trabalha com a expectativa de retorno sobre o investimento dentro de 36 meses. A MD Brasil também espera autorização da Anatel abranet.org.br março / maio 2017

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“Entregamos propostas e estamos trabalhando em projetos com equipamentos junto a parceiros.” Edsel Aeschlimann Diretor da MSI

para começar a operar na faixa. O diretor-técnico Wardner Maia conta que está analisando as propostas dos fornecedores junto com um grupo de empresas que também adquiriram frequências. A ideia, explica, é contratar a plataforma em grupo para baratear não apenas o custo de implantação, como também de manutenção. Ele calcula que, dos cerca de 50 provedores participando das discussões, uns 20 devem fechar. Em entrevista à Abranet, Maia toca em um ponto fundamental. “A maioria dos pequenos provedores de Internet que participaram do leilão não entrou com um plano de negócio fechado. Foram mais no feeling”, afirma. A movimentação tem como pano de fundo uma antiga demanda dos ISPs de ter acesso a espectro. Assim, quando a Anatel, repentinamente, levou faixas a leilão e chamou os provedores, eles não titubearam. “Nunca tivemos acesso à

radiofrequência e fomos surpreendidos com o leilão. Não deu tempo de fazer planejamento”, diz. A MD Brasil provê acesso à internet desde 1996 e atualmente está presente, ofertando serviços diretamente ao cliente final, em cinco cidades do interior de São Paulo, tendo sido em Bebedouro sua criação. Além disto, a empresa vende no atacado para provedores locais em outras oito cidades da região. Maia pretende com o LTE aumentar o escopo de serviços ofertados para se posicionar melhor perante os concorrentes. Ofertas para ISPs Do lado dos fornecedores, a espera é a mesma. A MSI, que fornece soluções fim a fim a provedores (ISPs) que adquiriram licenças de sobras, diz que trabalhou algumas propostas, mas ainda não tem nada fechado. “Entregamos propostas e estamos trabalhando em projetos com equipamentos junto a parceiros”, explica o diretor Edsel Aeschlimann. A Nokia também está em fase preliminar, dando andamento a estudos de cobertura, reuniões técnicas e negociação comercial. A multinacional explica que as propostas envolvem solução LTE fim a fim, incluindo desde o core da rede até o dispositivo do usuário final. Em alguns casos são consideradas soluções que envolvem roteadores e rá-

Muito por crescer na América Latina O 4G teve um resultado expressivo em 2016, com uma taxa de crescimento de 121% na região latino-americana, mas representando apenas 17% do total de conexões banda larga. As redes 5G estão previstas para 2020 O número de conexões 4G na América Latina teve um aumento de 121% em 2016, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela GSMA Intelligence. A taxa de crescimento foi quase o dobro da média global, impulsionada pelo investimento contínuo em redes e serviços 4G feitos por operadoras móveis na região. De acordo com o relatório, o número de conexões 4G na América Latina atingiu 113 milhões no final de 2016

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(17% do total de conexões), em comparação com 51 milhões no ano anterior, um aumento anual de 121%. A previsão é que o número ultrapasse os 300 milhões até o final da década, representando, nessa ocasião, quase 40% do total de conexões na região. Segundo a GSMA Intelligence, as redes 4G já cobrem 68% da população latino-americana hoje e devem cobrir 83% da população da região até 2020. Os dados mostram


dios micro-ondas de alta capacidade. A multinacional finlandesa ressalta que o que tem atraído os ISPs é a possibilidade de ter um core compacto, de rápida implantação e custos otimizados, quando comparado a uma solução tradicional ou virtualizada. Houve também grande interesse na solução de core compartilhado para provedores que buscam ter redes com coberturas mais amplas, envolvendo um número maior de estações radiobase e que requerem uma capacidade maior de processamento. A Huawei diz que as vendas de LTE para ISPs têm sido crescentes. Sem revelar quantos, a empresa afirma que existem alguns ISPs que já começaram a operar, mas ainda há bastante a ser feito. “Muitos ISPs obtiveram a licença, mas não podem operar por pendências em algumas etapas do processo. É importante ressaltar que muitos ISPs no Brasil já adquiriram soluções da Huawei, como roteadores, switches, GPON, a estrutura de banda larga fixa. Isto nos deixa confiantes para continuar a crescer em 2017”, aposta Rômulo Horta, diretor de Marketing de Enterprise da Huawei. A gigante chinesa, que oferece para LTE soluções de core, transmissão, radiobase e serviços, definiu o segmento de ISP como uma de suas prioridades no Brasil e tem se aproximado dele. A multinacional firmou parcerias, como

que o crescimento da tecnologia 4G na América Latina também se correlaciona fortemente com a adoção de smartphones. Os smartphones representaram 55% do total de conexões móveis na região no final do ano passado. o cAMInHo pArA o 5g As redes 5G começarão a ser lançadas na América Latina a partir de 2020. O 5G será desenvolvido sobre o sucesso do 4G em fornecer as redes e plataformas que irão impulsionar a transformação digital contínua da sociedade. Isso permitirá novos cenários de uso, tais como IoT (Internet das Coisas) maciça e comunicações críticas, além de novas aplicações ligadas à banda larga móvel avançada. As conexões M2M na região da América Latina chegaram a 25 milhões no final de 2016 e são previstas para atingir mais do que o dobro, com 53

“Com o LTE, os ISPs são capazes de oferecer acesso à banda larga para residências e empresas, com custo atraente de implantação, entrega de alta qualidade e uma rede segura para os clientes.” rÔMuLo horta diretor de Marketing de enterprise da Huawei

com a Abranet, para entender melhor as necessidades dos provedores de Internet e recomendar a melhor solução para seus negócios, independentemente da região em que atuam e do porte. “Com o LTE, os ISPs são capazes de oferecer acesso à banda larga para residências e empresas, com custo atraente de implantação, entrega de alta qualidade e uma rede segura para os clientes”, aponta Rômulo Horta. Para ele, o leilão de sobras mostrou que o governo brasileiro acredita que os ISPs são a chave para o crescimento da infraestrutura de conectividade no Brasil.

milhões de conexões em 2020. O 5G também irá acelerar a concorrência entre as operadoras, os players da internet e o ecossistema mais amplo. Ele exigirá um espectro móvel novo e amplamente harmonizado (em bandas de frequências baixas e altas) para assegurar a implantação das redes no tempo certo, maximizar o investimento na rede e, assim, disponibilizar toda a gama de suas capacidades potenciais. “É imperativo que estabeleçamos as fundações para dar suporte à adoção desta nova tecnologia quando ela chegar, por exemplo, estabelecendo um roteiro claro de alocação de espectro e definindo um caminho para modernizar os regulamentos de legado existentes, que seriam facilitadores críticos para ajudar a alcançar esse objetivo”, sustenta Sebastian Cabello, diretor da GSMA para América Latina.

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CaPa

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É hora de rever

OS MEIOS DE RECEBIMENTO Mudança na cobrança via boleto pode onerar empresas. Recomendação é negociar com bancos e procurar alternativas

cronogrAMA Prazos para aceitação/validação do boleto na nova plataforma Todos os boletos com valor: Igual ou acima de R$ 50.000,00 Igual ou acima de R$ 2.000,00 Igual ou acima de R$ 1.000,00 Igual ou acima de R$ 500,00 Igual ou acima de R$ 200,00 Boletos de todos os valores

Início de validação 13/03/2017 08/05/2017 10/07/2017 18/09/2017 23/10/2017 11/12/2017 Fonte: Febraban

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reCeber Por meio de boleto bancário ficou mais complicado. Os bancos deixaram de oferecer a modalidade sem registro para seus clientes e migraram essas carteiras de cobrança para a categoria registrada. Ainda que a cobrança sem registro possa ser mantida – desde que acordada entre a empresa beneficiária e o banco emissor do boleto, o pagamento, inclusive antes do vencimento, somente pode ser feito nos canais de atendimento do banco emitente. Isto reduz drasticamente a capilaridade do recebimento. Para a maioria das companhias, não restará alternativa a não ser migrar para uma cobrança com registro, mais onerosa, ou buscar outro tipo de meio de recebimento, como cartão de crédito. A mudança faz parte da implementação de nova plataforma da cobrança, desenvolvida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em conjunto com a rede bancária. A preparação começou em junho de 2015, com o fim da oferta da modalidade sem registro para novos entrantes. Em agosto do mesmo ano, iniciou-se a operação da base centralizada de beneficiários e, em dezembro de 2016, ocorreu o término da migração das carteiras de cobrança sem registro para a modalidade registrada. São pagos anualmente no Brasil cerca de 3,7 bilhões de boletos bancários, segundo a Febraban. Dada a sua larga utilização, o setor bancário estabeleceu um

“Não houve espaço para negociação. Os pequenos e-commerces são menosprezados pelos bancos. Infelizmente, existe muita dificuldade para o microempreendedorismo com os bancos brasileiros.” Mauricio saLvador Presidente da associação Brasileira de Comércio eletrônico (aBComm) divulgação

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“O banco que utilizamos tem esta plataforma [para registro on-line de boletos] disponível para testes desde dezembro de 2016.” Frederico Neves Diretor de Serviços e Tecnologia do NIC.br

cronograma de validação dos boletos na nova plataforma (ver quadro na página 10), começando em março pelos boletos de valor igual ou superior a R$ 50 mil. A última etapa ocorre em dezembro deste ano com a inclusão de todos os boletos, independentemente do valor. A Febraban argumenta que a mudança garante mais segurança, por inibir fraudes, e é vantajosa para os clientes, que passam a poder pagar os boletos em qualquer insti-

tuição bancária após o vencimento (leia abaixo box sobre as diferenças nos modelos). No entanto, a novidade está pesando no bolso, principalmente, das pequenas e médias empresas, que não têm poder de barganha junto aos bancos para negociação de valores. Nas cobranças registradas, o banco pode instituir tarifas sobre as operações de registro, alteração ou cancelamento do boleto. Custo mais alto A Acesso Telecom já trabalha de acordo com as novas especificações de boletos, e o diretor Marcos Lins diz que, inicialmente, houve uma subida de 30% no custo de cobrança, mas conta que, neste ano, a empresa recebeu propostas de bancos diferentes com valores que se assemelham às taxas antigas. Fabio Bonadiman, diretor da Ordena Datacenter, também calcula um aumento dos custos na casa dos 30% para emissão dos boletos ao passar da modalidade não registrada para registrada. “Temos nossa cobrança 100% por boleto. Ainda estamos tentando entender o impacto que [a mudança]

Entenda as diferenças Na modalidade registrada, o banco recebe todas as informações sobre a cobrança e deve ser informado pela empresa beneficiária de qualquer alteração no boleto. Na modalidade sem registro, os bancos não recebem previamente as informações que constam nos boletos gerados. Ou seja, a instituição financeira somente terá conhecimento da cobrança na liquidação do documento. As duas modalidades devem observar rigorosamente as circulares 3.598/2012 e 3.656/2013 do Banco Central, que preveem a obrigatoriedade de CNPJ e CPF do beneficiário e do pagador, a data de vencimento e o valor. Há vantagens em optar por pelo registro, como facilidades para fazer o cancelamento ou qualquer alteração no boleto, como data de vencimento, gestão da carteira e conciliação (saber quem pagou, o que pagou e quando pagou), uso dos boletos como lastro em operações de crédito e entrega eletrônica por meio do Débito Direto Autorizado (DDA). A Febraban aponta ainda que o emissor da cobrança se beneficia da melhoria na capilaridade e possibilidade de recebimentos, redução das fraudes de emissão de boletos, diminuição das inconsistências nos pagamentos, mitigação dos erros de cálculos de multas e encargos por atraso e fim da necessidade da 2ª via do documento. A Febraban ressalta que aqueles que seguirem emitindo boletos sem registro estão passíveis de maior incidência de fraudes, uma vez que os fraudadores podem monitorar as empresas que não emitem boletos registrados e concentrar nelas seus golpes.

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causa em nossa empresa”, afirma. Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), faz coro. “Não houve espaço para negociação. Os pequenos e-commerces são menosprezados pelos bancos. Infelizmente, existe muita dificuldade para o microempreendedorismo com os bancos brasileiros”, diz, explicando que as empresas que ainda têm contratos antigos com os bancos estão emitindo sem registro, mas as que fizeram contratos a partir do início do ano passado precisam emitir os boletos registrados. Além do impacto financeiro, Bonadiman, da Ordena Datacenter, reclama da perda de agilidade por causa da mudança de procedimentos. Ele comenta que, antes, o cliente que fazia uma operação de compra no site, como um upgrade de plano, podia gerar na hora o próprio boleto pelo sistema da empresa e pagar via um dos canais do banco. “Hoje, ao final do dia, fazemos a remessa para o banco para a emissão dos boletos e temos de aguardar o registro para daí sim o cliente poder pagar”, explica, ressaltando que este processo demora quase um dia e prejudica aqueles que precisam quitar o pagamento para ativar serviços. O NIC.br informa que vai emitir boleto sem registro até o fim do primeiro semestre, seguindo o calendário de mudança da Febraban. Por isto, quem registra domínio ainda consegue emitir o boleto na hora e efetuar o pagamento em qualquer banco. Frederico Neves, diretor de Serviços e Tecnologia do NIC.br, conta que alguns bancos estão trabalhando para fornecer plataformas de serviço para registro on-line de boletos. “O banco que utilizamos tem esta plataforma disponível para testes desde dezembro de 2016”, relata. Atualmente, o boleto é o meio mais utilizado pelos clientes, respondendo por 60% dos pagamentos. Outro ponto que está tirando o

divulgação

“As empresas devem considerar ampliar os canais de recebimento e fomentar os pagamentos eletrônicos que proporcionam confirmações em tempo real.” LuiZ antonio sacco d iretor-presidente da SafetyPay para a américa latina sono dos empresários relaciona-se à cobrança. No caso do boleto sem registro, o banco geralmente cobra tarifa apenas quando ele é efetivamente pago por meio da rede bancária. Para alguns modelos de negócio e setores, como o comércio eletrônico, o boleto sem cobrança é tido como o mais justo, pois, se o cliente não pagar pelo pedido, a transação não acontece e não há obrigações de nenhum dos envolvidos, diferentemente do modelo registrado, em que a empresa paga para emitir o boleto. altERNatiVas Para Luiz Antonio Sacco, diretor-presidente da SafetyPay para a América Latina, com a mudança, “as empresas devem considerar ampliar os canais de rece-

“As altas taxas cobradas, o tempo de recebimento e a falta de integração de sistemas pesam contra [o cartão de crédito].” Fabio bonadiMan diretor da ordena datacenter abranet.org.br março / maio 2017

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“A nossa melhor forma de recebimento ainda é o boleto, mas, caso o cliente queira pagar via cartão, é possível fazer isto na central.” Marcos Lins diretor da acesso telecom bimento e fomentar os pagamentos eletrônicos que proporcionam confirmações em tempo real.” Sacco lembra que a conversão de boletos no Brasil, quanto às vendas realizadas pela internet, não é superior a 50%, e ainda pode ser bem inferior a depender das categorias de produtos comercializadas. Fabio Bonadiman, da Ordena Datacenter, diz que vai analisar a adoção de recebimento por cartão de crédito, mas que não vê muitas vantagens. Para ele, “as altas taxas cobradas, o tempo de recebimento (cerca de 30 dias)

e a falta de integração de sistemas pesam contra.” Já a Acesso Telecom optou por contratar o PagSeguro, do UOL, para dar mais alternativas aos clientes. O sistema da empresa integra-se ao do PagSeguro, e o cliente pode pagar as faturas pelo autoatendimento. Mesmo com mais formas de pagamento, o boleto segue como o principal meio, responsável por 95% das transações da Acesso Telecom – os 5% restantes são de operações via cartão de crédito. “A nossa melhor forma de recebimento ainda é o boleto, mas, caso o cliente queira pagar via cartão, é possível fazer isto na central”, relata o diretor Marcos Lins. No caso das lojas de comércio eletrônico, Mauricio Salvador, da ABComm, diz que muitas estão incentivando o pagamento à vista no cartão ou por transferência, oferecendo os mesmos descontos do pagamento por boleto. “O problema é que muitos compradores desistem das compras se tiverem que entrar no banco para fazer transferências; e a taxa de conversão cai”, ressalta o presidente da associação. Procuradas pela Abranet, Visa, Elo e Rede não atenderam à solicitação de entrevista.

nova plataforma de cobrança A nova plataforma tem como objetivo modernizar o processo de liquidação e compensação dos boletos bancários, conferindo mais segurança e agilidade. O principal benefício é o fato de o pagador de um boleto vencido não precisar mais ir até o banco emissor para quitar o seu débito. Com a nova plataforma, será possível pagar um boleto vencido em qualquer agência bancária ou outros canais de atendimento como internet, celular e ATMs, o que deve pôr fim à necessidade de 2ª via do boleto. O sistema também atende à exigência do Banco Central, responsável por regular e fiscalizar as instituições bancárias no Brasil, que determinou que todo boleto de pagamento tenha CPF ou CNPJ do beneficiário e do pagador, valor e data de vencimento. E atenção: a obrigação de manter o cadastro dos clientes sempre atualizado é da empresa emissora do boleto de pagamento, a beneficiária. Já o banco emissor da cobrança é o responsável pelo cadastro do beneficiário na nova plataforma da cobrança. De acordo com a Febraban, os clientes que operam na modalidade sem registro serão contatados pelo seu banco de relacionamento para registrarem seus boletos de pagamento visando ao preparo para a nova plataforma.

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MerCado

ParticiPantes PassaM a PaGar Pelo acesso aos iXs A PArtiCiPAÇÃo nos IXs (Internet Exchange, nomenclatura atualmente adotada para os pontos de troca de tráfego, ou PPTs) de São Paulo e Rio de Janeiro será cobrada a partir de meados deste ano. De acordo com o NIC.br, o objetivo é tornar a operação de algumas localidades autossustentável, além de melhorar o atendimento aos participantes. O pagamento em outras localidades se dará à medida que haja volume de tráfego e número de participantes significativos, por exemplo, ultrapassando tráfego de 100 Gbit/s. As regras ainda estão sendo aprovadas. A expectativa é começar a cobrança em 1º de julho. Julio Sirota, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC. br), assegura que a decisão tomada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) de estudar um modelo para obter contrapartida financeira tem como premissa não causar impacto no funcionamento do IX (PPT) e manter o esquema interessante para os participantes. O NIC.br garante também que continuará aportando recursos no projeto IX.br e que não haverá mudança no relacionamento entre o NIC.br e os PIXs [pontos de interconexão]. Como contrapartida do pagamento, o NIC.br terá de cumprir níveis de qualidade de atendimento para as atividades dos IXs. Atualmente, a equipe que gerencia esses pontos possui metas para cumprir – um compromisso que ficará mais claro e pelo qual a instituição será passível de cobrança. Após analisar alguns modelos de como fazer a cobrança (por porta, por banda, por portas agregadas, entre outros), o NIC.br optou pelo mais simples: estabelecer uma tabela de

IX.Br DE SÃo pAULo Número de sistemas autônomos (ASs) ocupando portas ........ 717 Total de portas ocupadas .................. 1.275 Banda total das portas (GB/s) .......... 7.593 Número de conexões de ASs via CIX (porta compartilhada) ............... 472 Total de ASs conectados ................... 1.018 Dados de julho de 2016

preços por portas de 1G, 10G e 100G, de forma similar ao que outros IXs fazem (ver quadro abaixo). Os valores serão mensais e haverá ainda tarifa para habilitar e desabilitar, a princípio de R$ 115. A justificativa é que hoje muitos participantes pedem para migrar de um PIX a outro, o que gera muito trabalho operacional. Na opinião de Julio Sirota, o valor a ser cobrado é baixo e deve causar impacto pequeno para as empresas. As tarifas serão revisadas anualmente em uma data-base a ser estabelecida, e o reajuste seguirá algum índice oficial, não definido até o início deste ano. Em caso de haver aumento no número de participantes, proporcionando redução de custo para manutenção do IX.br, é possível que o reajuste seja inferior ao índice de mercado, segundo Sirota.

VALorES propoSToS

Conexão via porta CIX (valor mensal)

Tipo Porta

Manutenção

Operação

Valor mensal

1G 10G 100G

R$ 50,00 R$ 50,00 R$ 50,00

R$ 65,00 R$ 640,00 R$ 5.470,00

R$ 115,00 R$ 690,00 R$ 5.520,00

Fonte: NiC.br

R$ 115,00

Taxa de serviços (pagamento único) Habilitação Desinstalação

R$ 115,00 R$ 115,00

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MerCado

Roberta Prescott

MUdanças no

ISS

A entrAdA em ViGor da Lei Complementar nº 157 afeta diretamente empresas que prestam serviços por meio da internet. Sancionada em 30 de dezembro pelo presidente Michel Temer, a LC 157 amplia a lista de serviços sobre os quais incide o Imposto Sobre Serviços (ISS) e fixa em 2% a alíquota mínima. Se, por um lado, a nova lei visa a evitar a guerra fiscal e dá mais segurança jurídica ao especificar os serviços que estão sujeitos à cobrança, por outro, estende consideravelmente a incidência do imposto e causa controvérsia ao tributar streamings de vídeos e música. Processamento, armazenamento e hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplica-

Diversas atividades de computação passam a estar sujeitas à incidência do imposto sobre serviços, entre elas, processamento, armazenamento e hospedagem de dados

tivos e sistemas de informação passam a poder ter incidência de ISS, assim como a elaboração de programas de computadores (inclusive de jogos eletrônicos), a disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet e a inserção de materiais de propaganda e publicidade na internet. Para Luiz Peroba, sócio da Pinheiro Neto Advogados, por algumas razões, incluindo avanço da tecnologia, os municípios não estavam exercendo seu direito de cobrar ISS de forma adequada, e havia uma zona cinzenta disputada indevidamente por eles e também pelos estados. “Com a aprovação desta LC, os contribuintes e as autoridades agora têm mais clareza sobre quais fatos econô-

“Os contribuintes e as autoridades agora têm mais clareza sobre quais fatos econômicos estão na competência dos municípios e podem sofrer tributação pelo ISS e quais estão na competência dos estados e podem ter incidência de ICMS.” LuiZ peroba

Pinheiro Neto advogados

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CdtV


micos estão na competência dos municípios e podem sofrer tributação pelo ISS e quais estão na competência dos estados e podem ter incidência de ICMS”, esclarece. Já Evandro Grili, sócio do escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, pondera que a segurança jurídica no Brasil tem sido bastante relativa, ainda mais em se tratando de matéria tributária, mas diz que, ao estabelecer alíquotas mínimas e máximas e vedar isenções, a lei é positiva. “Mas, ao mesmo tempo, [a lei] criou mecanismo para cobrança de ISS sobre atividades que, a meu ver, nem são serviços, caso dos streamings, o que a torna inconstitucional neste ponto”, ressalta (ver quadro na página 18). As empresas de internet que fornecem, por exemplo, serviços de armazenamento e hospedagem devem sentir impactos e os preços ficarem mais altos, tendo em vista a possibilidade de cobrança de ISS com alíquotas variando entre o mínimo de 2% e o máximo de 5%. “As autoridades

tinham o entendimento de que esta atividade já deveria estar sendo tributada como processamento de dados, e algumas empresas já acatavam este posicionamento. Agora, com a aprovação do item específico para armazenamento/hospedagem de dados, acredito que todas as empresas passarão a tributar e a tendência é que exista um equilíbrio no mercado”, aponta Peroba. O sócio da Pinheiro Neto Advogados não descarta um aumento nos preços para quem contrata estes serviços, uma vez que as empresas que realizam tal atividade ou repassarão o aumento ou reduzirão sua margem de lucro, dependendo das condições do mercado. Evandro Grili, da Brasil Salomão e Matthes, também acredita em aumento de preços. “Estima-se [que as empresas tenham] um impacto entre 2% e 5% [devido ao] ISS em suas receitas. Estes custos, certamente, vão ser repassados aos consumidores. Contudo há situações que precisam ser verificadas. Por exemplo, conteúdos musicais abranet.org.br março / maio 2017

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nacionais estão protegidos por imunidade constitucional e não poderão ser tributados. Há também a imunidade sobre conteúdos de livro eletrônico”, explica. Entrada em vigor A Lei Complementar sobre ISS é uma regra geral que dá ao município a competência de tributar as atividades determinadas. Contudo, sozinha, ela não cria a obrigação de tributar. A partir de agora, os municípios têm de legislar isoladamente, por meio de suas câmaras de vereadores, de modo a exercer a competência tributária que a LC 157 lhes outorgou. Aqueles municípios que quiserem cobrar o ISS sobre esses novos fatos geradores a partir de 1º de janeiro de 2018 terão que aprovar, sancionar e publicar as novas leis muni-

cipais até 30 de setembro de 2017, esclarece Grili. “A regra constitucional da anterioridade tributária demanda a publicação da lei que cria tributos no exercício anterior e com antecedência mínima de 90 dias entre a data da publicação e a possibilidade de cobrança do tributo”, diz o advogado. A Lei Complementar também busca acabar com a guerra fiscal entre as unidades da Federação, pois estabelece uma alíquota mínima e explicita que o imposto não pode ser objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em carga tributária menor que a decorrente da aplicação da alíquota mínima. Enquanto as empresas aguardam as decisões dos muni-

Streaming em xeque A inserção na lista de atividades passíveis de cobrança do ISS da disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet, ou seja, do streaming, é, na opinião de Evandro Grili, sócio do escritório Brasil Salomão e Matthes, um equívoco. A justificativa, segundo ele, é que os streamings não prestam serviços, mas tornam disponíveis conteúdos, fazendo uma cessão de direitos das obras audiovisuais que armazenam para uso doméstico por quem os contrata. “Esta cessão não definitiva, que vigora apenas enquanto se estiver pagando a mensalidade, é, na verdade uma obrigação de dar e não se caracteriza como serviço”, argumenta. O advogado cita a Súmula Vinculante 31, editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que diz que não incide o ISS em locação de bens móveis. “A premissa para esse entendimento foi, justamente, a de que obrigações de dar não ensejam a cobrança de ISS. Na minha ótica, os streamings são uma obrigação de dar e não uma obrigação de fazer. Não são, portanto, serviços passíveis de tributação pelo ISS.” Entretanto, Luiz Peroba, sócio da Pinheiro Neto Advogados, pondera que ainda não se tem uma posição recente e definitiva do STF examinando a natureza jurídica dessas novas tecnologias. “No passado, o tribunal adotou de forma reiterada um posicionamento binário que levava em conta conceitos de direito civil: obrigação de fazer tinha o ISS versus obrigação de dar, que tinha a incidência do ICMS”, afirma. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, ressalta Peroba, essas questões estão sendo reavaliadas. “Temos, por exemplo, um novo conceito (importado de outras jurisdições) de softwareas-a -service (SaaSs). Entende-se no SaaS que um software pode ser considerado um serviço mesmo sem uma atividade manual realizada para atender a uma encomenda, mas sim pela facilidade e funcionalidade que o produto proporciona ao cliente. Existem pouquíssimas decisões judiciais sobre o tema, que certamente ainda precisará ser avaliado, em última instância, pelo STF”, defende Peroba.

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cípios, a orientação é consultar suas assessorias jurídicas para verificar se suas atividades estão abrangidas nos novos tipos tributários inseridos na lista de serviços da legislação complementar do ISS e, assim, poderem se preparar para, no futuro, eventualmente, fazer questionamentos junto ao Poder Judiciário. As companhias também precisam atentar para o fato de a LC 157 proibir redução da carga tributária do ISS a menos de 2%. “A concessão de benefícios sem amparo na lei pode provocar punição individual aos governantes por ato de improbidade administrativa”, destaca Peroba. “Para as empresas, vale atenção para essa alteração, pois planos de investimentos podem ter sido elaborados levando em conta cargas tributárias bem reduzidas”, acrescenta.

na lista do ISS Alguns serviços que podem passar a ser tributados:

• Processamento, armazenamento ou hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e sistemas de informação, entre outros formatos, e congêneres.

• Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos, independentemente da arquitetura construtiva da máquina em que o programa será executado, incluindo tablets, smartphones e congêneres.

• Disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet, respeitada a imunidade de livros, jornais e periódicos (exceto a distribuição de conteúdos pelas prestadoras de Serviço de Acesso Condicionado, de que trata a Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011, sujeita ao ICMS).

“[A lei] criou mecanismo para cobrança de ISS sobre atividades que, a meu ver, nem são serviços, caso dos streamings, o que a torna inconstitucional neste ponto.”

• Inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade, em qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita).

evandro GriLi

Brasil Salomão e Matthes advocacia

Veja a íntegra da Lei Complementar Nº 157, de 29/12/2016: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp157.htm

divulgação

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eNtreViSta Eduardo Magrani professor e pesquisador do Centro de tecnologia e Sociedade (CtS) da fGV Direito rio Roberta Prescott

lei De proteÇÃo De DaDoS peSSoaiS É funDaMental para o CenÁrio De iot Até setembro, o governo planeja estabelecer o Plano Nacional de Internet das Coisas, com um conjunto de diretrizes para estimular o fomento da tecnologia. Mas o Brasil enfrenta uma série de desafios, entre eles, o fato de ainda não ter estabelecido uma lei de proteção de dados. Nesta entrevista, Eduardo Magrani, professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV Direito Rio, opina sobre os principais itens para a formulação de uma estratégia nacional capaz de permitir, de fato, uma IoT no País. AbrAnet: Com quase três mil contribuições, a consulta pública sobre Internet das Coisas no Brasil teve como objetivo identificar tópicos-chave para a viabilização da tecnologia no Brasil. Quais são esses tópicos? edUArdo mAGrAni: Os tópicos-chave dividem-se em vários eixos: pesquisa e desenvolvimento; recursos humanos; oferta tecnológica e composição de ecossistemas; investimento, financiamento e fomento; demanda; aspirações; gerenciamento de infraestrutura; suporte a aplicações e serviços; redes e transporte de dados; ga-

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teways e dispositivos; segurança e privacidade; papel do Estado; assuntos regulatórios. O que o Plano Nacional de Internet das Coisas no Brasil precisa incluir? O Plano Nacional de IoT tem que se debruçar sobre esses eixos, de forma interdisciplinar e atento tanto ao potencial econômico quanto aos riscos existentes à segurança e à privacidade. Um plano como este, se não for bem feito, pode barrar iniciativas inovadoras? Quais são os riscos e os problemas que montar um plano de IoT pode apresentar? Um dos principais desafios técnicos e regulatórios que o Brasil enfrentará a partir de agora se relaciona ao papel do Estado na emergente realidade da hiperconectividade. Se regular demais pode afetar negativamente a inovação e o potencial econômico da IoT. Se regular de menos, pode não garantir suficientemente a segurança e a privacidade dos consumidores de produtos envolvendo IoT. Como estruturar um plano de IoT que seja duradouro, levando-se em conta que ele está sendo feito com base nas tecnologias existentes hoje e que devem ser outras em dez, 20 anos? O ideal seria abordar conceitos mais amplos, como uso de dados, privacidade e espionagem, e não tecnologias específicas? Já existe uma regulação específica para a Internet (Marco Civil da Internet), e está tramitando no Congres-


comentar a importância deles e o que endereçam? Vários países ainda estão buscando uma regulamentação geral para a internet. O tema IoT costuma ser instituído incidentalmente por regulações envolvendo incentivos à inovação, propriedade intelectual e outras mais específicas, divididas setorialmente, como aquelas voltadas a telecomunicações.

so Nacional uma lei geral para proteção da privacidade. A regulação de IoT deverá ser um instrumento que toque diversas áreas e também envolva assuntos técnicos e tecnologias específicas; extrai-se daí sua complexidade. Qual é a importância para o Brasil ter um Plano Nacional de Internet das Coisas? A Internet das Coisas já é uma realidade. Computadores de pulso, casas, carros e cidades inteligentes são manifestações presentes de IoT. Todos os dias, “coisas” se conectam à internet com capacidade para compartilhar, processar, armazenar e analisar um volume enorme de dados entre si, cada vez mais. Pulseiras e palmilhas inteligentes que compartilham com seus amigos o quanto você andou a pé ou de bicicleta, ou dispositivos de saúde interconectados que permitem um monitoramento mais constante e eficiente e uma interação mais eficaz entre paciente e médico. Esses exemplos são manifestações associadas ao conceito que vem sendo construído de Internet das Coisas. Pesquisas estimam que em 2020 a quantidade de objetos interconectados passará de dezenas de bilhões. A IoT poderá alterar significativamente a maneira como vivemos. O ecossistema regulatório brasileiro precisa ajustar-se rapidamente a esse cenário em transformação. É possível aprovar leis que protejam os direitos individuais, criem mercados eficientes e favoreçam a inovação de caráter nacional. Existem planos similares em outros países? Poderia

divulgação

O Brasil pode ter um Plano Nacional de Internet das Coisas sem antes definir uma lei de proteção aos dados pessoais? Quais são as implicações disso? Uma lei geral de proteção de dados pessoais no Brasil, além de ser uma urgência, é fundamental para o cenário de Internet das Coisas. As tecnologias estão sendo colocadas à disposição dos consumidores, informações pessoais estão sendo armazenadas, tratadas e até mesmo transferidas a terceiros, sem que haja uma regulação no Brasil específica para isso. Os riscos à privacidade se intensificam com a Internet das Coisas. Diversos países da América Latina já possuem uma lei geral para proteção da privacidade. Já estamos atrasados neste debate, por isto a urgência. Os acordos internacionais não são simples. Na Internet mesmo, eles são poucos. Como será possível estabelecer direitos e deveres no mundo dos objetos conectados no Brasil? Como isso tem de estar alinhado com políticas internacionais? Uma das principais discussões que deve ser travada no âmbito da IoT diz respeito à transferência internacional de dados. Com a Internet das Coisas chegando ao mundo globalmente conectado, teremos a incidência de diversos problemas envolvendo a falta de homogeneização na regulação desses dados, variando de país para país. Há quem defenda que telecomunicações e internet convergem e que a Anatel é o caminho natural para cuidar dos assuntos da internet no Brasil. Para o senhor, a Anatel é o caminho para cuidar da política de serviços para a Internet das Coisas? Por quê? Em parte. A Internet das Coisas (assim como a internet em si) diz respeito a diversas áreas e não somente ao setor de telecomunicações. A Anatel pode e deve atuar em IoT, mas apenas no que for relacionado aos assuntos de telecomunicações. abranet.org.br março / maio 2017

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SeGUraNÇa

Roberta Prescott

a Volta do

SPAM

Engana-se quem acredita que os ataques usando spam são algo do passado. O Relatório Anual de Cibersegurança Cisco 2017 apontou que 65% dos e-mails das empresas entrevistadas referem-se a spams, e entre 8% e 10% deles são maliciosos e representam ameaças. Mas essa porcentagem está aumentando, o que sugere que os criminosos podem estar experimentando vários tipos de arquivos para que suas campanhas sejam bem-sucedidas. Por PoUCo temPo, os spams pararam de ser grande dor de cabeça para as empresas, principalmente porque elas atacaram o problema implantando ferramentas e houve, no Brasil, um controle maior da porta 25. Mas agora – muito em função do próprio relaxamento da gestão de segurança –, os ataques voltaram com tudo, explica Ghassan Dreibi, gerente de Desenvolvimento de Negócios de Segurança da Cisco América Latina. De acordo com a Cisco, o volume global está crescendo devido principalmente ao grande e próspero envio de spams por botnets como o Necurs, um vetor primário para ransomware Locky. Ele também distribui ameaças como o trojan de banco da Dridex. Muitos dos IPs host que envia-

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ram spam Necurs foram infectados há mais de dois anos. Para ajudar a manter o escopo completo da botnet escondida, o Necurs envia spam apenas para um subconjunto de hosts infectados. Um hospedeiro infectado pode ser usado por dois a três dias e depois fica sem enviar por duas a três semanas, um comportamento que complica o trabalho da área de segurança. Além disto, os criminosos estão fazendo uso de arquivos de diversos tipos, como .docm, JavaScript, .wsf e .hta, para impedir que os spams maliciosos sejam detectados. Já o Necurs envia anexos maliciosos com arquivos executáveis como JavaScript, .hta, .wsf e VBScript. Outra técnica que tem dificultado o trabalho de


detecção e prevenção é o ataque snowshoe, no qual são enviados poucos spams por vez. “Um dos principais métodos para detecção de spam é a volumetria. Com o envio de poucos – ainda assim milhares – de spams por IP, fica mais difícil identificar. Leva mais tempo e o ataque se dá nesta brecha de tempo”, afirma Marcelo Bezerra, gerente de Engenharia de Segurança da Cisco América Latina. Além do snowshoe, os ataques do tipo hailstorm também são problemáticos, porque miram os sistemas antispam. Os operadores por trás deste tipo de ataque tiram vantagem da pequena janela de tempo entre o momento que a campanha de spam é lançada e a detecção pelo sistema antispam. São segundos ou minutos até o bloqueio. noVo oLHAr O Relatório Anual de Cibersegurança Cisco 2017 também revelou que está na hora de as empresas mudarem a abordagem para segurança se não quiserem perder dinheiro em decorrência das invasões. Segundo o relatório, 23% das organizações invadidas perderam oportunidades de negócio (com 42% delas perdendo mais de 20%), 29% perderam receita (com 38% desse grupo perdendo mais de 20% de suas receitas) e 22% das empresas violadas perderam clientes (40% delas perderam mais de 20% de sua base de clientes). “Quanto mais as empresas dependem da tecnologia, maior será o impacto nos negócios se ficar sem ela”, destaca Dreibi. O risco tende a aumentar quando se leva em conta a maior digitalização. A Cisco estima que em 2020

a metodologia [dos criminosos] inclui reconhecimento do que a empresa-alvo tem, preparação para o ataque, descoberta de como colocar a ameaça onde se quer e instalação.

Segundo o relatório anual de Cibersegurança Cisco 2017, 23% das organizações invadidas perderam oportunidades de negócio, 29% perderam receita e 22% perderam clientes. o tráfego IP anual e global chegará a 2,3 zettabytes, sendo que 66% dele será móvel. Além disto, com mais dispositivos conectados, aumenta a superfície potencial para ataques – basta verificar o grande aumento de ataques distribuídos de negação de serviço (DDoS) usando objetos conectados à Internet das Coisas. A IoT gera um potencial de ter milhões de bots, e como alguns dispositivos não contam com antivírus ou mecanismos de limpeza de malwares as botnets ganham ainda mais força e ficam maiores. Dreibi explicou que o processo dos ataques permanece o mesmo. Eles não mudam porque as empresas, de maneira geral, continuam comprando produtos e ferramentas e não soluções para resolver um problema. Do lado dos criminosos, a metodologia inclui reconhecimento do que a empresa-alvo tem, preparação para o ataque, descoberta de como colocar a ameaça onde se quer e instalação. “As companhias usam o mesmo modelo de 20 anos atrás. Elas protegem as máquinas. Enquanto não mudar o raciocínio, os atacantes seguirão fazendo igual”, ressalta. Para ele, o mais importante é conseguir identificar que uma ameaça se aproxima. Outro problema das corporações é a falta de investigação das ameaças. De acordo com o relatório apresentado, apenas quatro de cada dez alertas críticos de segurança são investigados. Dos que são investigados, 28% são legítimos. E menos de metade (46%) dos alertas legítimos é remediada. Além disso, 44% dos gerentes de operações de segurança veem mais de 5.000 alertas de segurança por dia. O Relatório Anual de Cibersegurança Cisco 2017 avaliou aproximadamente 3 mil diretores de segurança e líderes em operações de 13 países. abranet.org.br março / maio 2017

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teNdÊNCiaS

Roberta Prescott

no radar da

INTERNET

DAS COISAS Se há um tema comum em debates sobre a Internet das Coisas é a necessidade do desenvolvimento de padrões nessa nova onda tecnológica. Mas isto não tem impedido a indústria de se movimentar e lançar diversos projetos na área e nem significa que as empresas devam esperar para investir o mUndo se PrePArA para uma rápida adoção de soluções de Internet das Coisas, que será impulsionada pela implantação das redes de telecomunicações de quinta geração (5G). A espera da padronização do 5G, no entanto, tem levado à busca de tecnologias capazes de fomentar o mercado de IoT. Segundo dados da Machina Research, as conexões de baixo consumo energético e alto alcance (LPWA, na sigla em inglês) deverão ultrapassar os acessos 2G, 3G e 4G, tornando-se a mais difundida tecnologia para a Internet das Coisas, com previsão de 1,4 bilhão de acessos em 2022. As especificações do LPWA foram completadas pelo 3GPP em junho de 2016 no Release 13 e, de acordo com a GSMA, associação global de operadoras móveis, um ecossistema de mais de 60 empresas, entre operadoras e fornecedores, também apoiou o padrão, sendo que mais de 30 redes já foram lançadas. Outra tecnologia também no radar para a Internet das Coisas é o Wi-Fi HaLow, que combina baixo consumo de energia elétrica ou bateria com cobertura de alto alcance e estende Wi-Fi para a banda de 900 MHz. Se há um tema comum em debates sobre a Internet das Coisas é a necessidade do desenvolvimento de padrões

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nessa nova onda tecnológica. Mas, como ressalta uma análise da consultoria britânica Ovum, isto não significa que as empresas devam esperar para investir na IoT. Em nota, a Ovum lembrou que todos concordam que a Internet das Coisas precisa de padrão e ressaltou que há muitos atores buscando que seu padrão seja dominante, resultando no mercado altamente fragmentado que temos atualmente. No entanto, esperar a clareza emergir é descartar as vantagens de entrar no mercado hoje, enquanto a espera pode levar uma década ou mais, afirmou a Ovum. Segundo essa análise da consultoria, os custos de implantação de infraestrutura nunca estiveram tão baixos,

a previsão da idC é que o ecossistema de internet das Coisas no Brasil dobre de tamanho até o fim da década, superando os US$ 13 bilhões.


a IoT até 2019, guiados pela necessidade de inovação e de eficiência nos negócios. Embora a análise confirme os claros benefícios dos investimentos em IoT, o relatório da Aruba alerta para o fato de que conectar milhares de coisas às atuais redes corporativas já resultou em brechas de segurança para a maioria das organizações. no BrASIL Embora haja muita discussão sobre a adoção de Internet das Coisas, existem poucos casos práticos no Brasil, de acordo com um estudo realizado pela Logicalis. Apenas 31% das empresas entrevistadas adotaram a IoT em algum nível entre moderado e Internet das Coisas, na definição de Kevin Ashton, criador do alto, enquanto 66% delas chetermo, significa sensores conectados à internet e comportamento garam, no máximo, a discutir semelhante à internet ao criar conexões ad hoc abertas, esse tipo de iniciativa. Apesar compartilhando dados livremente e permitindo aplicações da adoção ainda ser baixa, o inesperadas; então, os computadores podem entender o mundo futuro é promissor, na avaliaao redor deles e se tornarem o sistema nervoso da humanidade. ção da integradora. Enquanto, atualmente, 32% dos participantes do estudo enespecialmente no segmento de sensores e microproces- xergam a IoT como crucial para seus negócios, este cenário sadores. Além disso, os requisitos computacionais po- deve se inverter nos próximos anos: 62% dos participantes dem muito bem explorar as tecnologias em nuvem de acreditam que ela será extremamente importante dentro última geração. Para a Ovum, a fragmentação do merca- de três a cinco anos. A pesquisa IoT Snapshot, realizada do de IoT vai fazer com que muitos usuários de tecnolo- com executivos de 160 empresas de diferentes segmengia esperem por maior clareza e pela emergência de um tos para entender a maturidade de adoção de IoT no Bravencedor. No entanto, as muitas alianças de IoT e seus sil e seu potencial de crescimento nos próximos anos, padrões atualmente em disputa não mostram sinais de mostrou que, para eles, a Internet das Coisas vem sendo redução. Grandes empresas de tecnologia como ARM, considerada como uma evolução das tecnologias de auCisco, IBM, Intel, PTC e Samsung são membros de múl- tomação industrial. tiplas alianças, lembrou a Ovum. Aumento da produtividade (81%), da eficiência operaPara a Ovum, o importante é a construção de um plano de cional (81%) e redução de custos (79%) foram apontados negócios que, baseado no status atual da tecnologia, escolha como os principais benefícios. Outras melhorias buscadas um dos padrões com bom suporte na indústria – para evitar pelas empresas que investem em IoT são suporte à tomada um fornecedor único – e seja fortalecido pelos números de de decisão (75%), inovação (70%), diferencial competitiretornos sobre o investimento que já podem ser alcançados. vo (59%) e novas fontes de receita (36%). Entre os desaA disputa de padrões, contudo, não tem impedido a fios, o distanciamento em relação ao tema e a imaturidade indústria de se movimentar e lançar diversos projetos de tecnológica foram apontados como os pontos mais críticos Internet das Coisas. Um recente estudo global publicado neste momento – citados por 64% e 63% dos respondenpela Aruba (A Internet das Coisas: hoje e amanhã) apon- tes, respectivamente. ta que a IoT irá em breve se disseminar em larga escala. O estudo avaliou ainda os principais motivos que leSegundo a pesquisa, 85% dos negócios pretendem adotar vam as organizações de cada um dos segmentos pesquiabranet.org.br março / maio 2017

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goVErno QUEr o BrASIL coMpETITIVo EM IoT

Na avaliação da idC, os projetos de internet das Coisas devem aumentar consideravelmente a partir do segundo semestre, marcando 2017 como o ano em que a iot deslanchou no Brasil. sados a adotarem a IoT. O setor de utilities, por exemplo, visa a redução de custo (67%), produtividade (50%) e eficiência operacional (42%), enquanto o setor público mira eficiência operacional (50%) e suporte à tomada de decisão (45%). Por sua vez, o segmento financeiro busca inovação (44%), seguida de diferencial competitivo (33%). EXpEcTATIVAS Na avaliação da IDC, os projetos de Internet das Coisas devem aumentar consideravelmente a partir do segundo semestre, marcando 2017 como o ano em que a IoT deslanchou no Brasil. A consultoria destacou que a principal justificativa para tanto otimismo é a definição de uma política pública e de incentivo – o Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT) –, que tem a pretensão de listar ações para desenvolver tecnologias de IoT no Brasil até 2022 (leia a entrevista nas páginas 20 e 21). A previsão da IDC é que o ecossistema da Internet das Coisas no Brasil dobre de tamanho até o fim da década, superando os US$ 13 bilhões. O avanço da IoT estará conectado com o uso de ferramentas de análise, fundamentais para transformar dados em valor para os negócios, e com computação em nuvem, que será a plataforma para processar os dados. De acordo com a IDC, até 2019, 43% dos dados de IoT serão tratados na nuvem. Lançado pelo governo, o Plano Nacional de Internet das Coisas ficou em consulta pública até 6 de fevereiro, com objetivo de ser apresentado durante o maior congresso de telecomunicações, o Mobile World Congress (leia box ao lado).

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Durante o Mobile World Congress, realizado em fevereiro, em Barcelona, na Espanha, o governo apresentou o que batizou das diretrizes para um Plano Nacional de Internet das Coisas. No entanto, o plano deve começar a sair do papel apenas em setembro, quando se espera que o estudo contratado pelo BNDES e realizado em consórcio pela McKinsey, CPqD e Pereira Neto Advogados deverá ser completado. Até lá, o plano ainda passará por mais etapas de contribuições da sociedade. Com base nessas diretrizes, a ideia é que o Plano de IoT necessariamente aborde o impacto na sociedade, ambiente regulatório (tanto via Anatel quanto via instrumentos de desoneração fiscal), infraestrutura e conectividade, inovação e ecossistemas, talentos (capacitação), investimento e financiamento, além de internacionalização. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a leitura é que a Internet das Coisas ainda não tem lideranças globais claras e que o Brasil pode fazer parte desse grupo. “A tecnologia, o hardware, isso já existe. Já existem casas automatizadas. Mas a aplicação e o tratamento das informações geradas para otimizar o funcionamento do sistema pode ser por onde o Brasil vai se tornar muito competitivo nas aplicações”, explicou o diretor de C&T da pasta, José Gontijo. Pelo cronograma previsto, até setembro, haverá uma versão final do documento completo do Plano de IoT, com a indicação de ações concretas, as verticais escolhidas e ações de curto, médio e longo prazo. Antes disso, entre abril e junho, a consultoria escolhida pelo BNDES e o Grupo de Trabalho de IoT, que reúne governo e empresas, vai trabalhar na investigação e seleção das verticais. Segundo o MCTIC, ao longo do caminho os pontos serão objeto de consultas públicas permanentes.


CoNeXÃo

Abranet está no Conselho Deliberativo de Atacado da Anatel A AssoCiAÇÃo brAsiLeirA de Internet (Abranet) entrou para o Conselho Deliberativo de Atacado para o biênio 2017/2018, responsável pela deliberação para a negociação de ofertas de alta capacidade de dados e voz no setor de telecomunicações. A lista com o resultado da seleção dos representantes dos chamados “grupos sem poder de mercado significativo (PMS)”, ou seja, empresas com menos de 50 mil usuários, foi divulgada no dia 26 de janeiro pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “A participação da Abranet no conselho de atacado é fundamental para podermos contribuir na melhoria de ofertas de serviços de telecomunicação para as pequenas operadoras da associação”, ressalta Eduardo Parajo, presidente da entidade. O Conselho Deliberativo de Atacado é um órgão independente dentro da estrutura da Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABRTelecom), que foi selecionada pelos grupos com PMS como entidade supervisora de ofertas de atacado. O conselho é responsável pelo tratamento de questões relativas ao Plano Geral de Metas de Competição (PGMC). Além da Abranet, ocuparão vagas no conselho a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp) e a Associação NeoTV.

W3C lança documento sobre publicação de dados na web o WorLd Wide Web Consortium (W3C) lançou um documento de referência e recomendações para publicação de dados na web. O texto das boas práticas contou com participação de brasileiros – de acordo com o NIC.br, quase metade dos integrantes do grupo de trabalho (GT) responsável pela produção do documento “Data on the Web Best Practices” era do Brasil. O documento está disponível em https://www.w3.org/TR/dwbp/.

Um quarto dos pontos Wi-Fi está propenso a ataques Um em CAdA quatro pontos de acesso de Wi-Fi tem alta propensão para ser invadido, de acordo com estatísticas da Kaspersky Lab, que analisou as informações de mais de 31 milhões de pontos de acesso de Wi-Fi em todo o mundo para chegar a esta conclusão. De acordo com a empresa, um quarto dos pontos de acesso (28%) verificados não é seguro, colocando os dados pessoais dos usuários em risco. Isto significa que todo o tráfego transmitido por essas redes, incluindo mensagens, senhas, documentos pessoais e outros dados, pode ser facilmente interceptado e usado por criminosos. De acordo com a Kaspersky, 25% das redes Wi-Fi mundiais não usam qualquer tipo de criptografia ou proteção por senha – as informações transmitidas por elas ficam totalmente expostas e podem ser lidas por outras pessoas. Além disso, para criptografar os dados, 3% dos pontos de acesso usam o protocolo WEP, o que, segundo a Kaspersky, não é confiável e pode ser decifrado em questão de minutos por ferramentas disponíveis de graça na internet. abranet.org.br março / maio 2017

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Facebook: Brasil precisa avançar no ambiente favorável à internet o Primeiro “Índice de Internet Inclusiva”, estudo realizado pela The Economist Inteligence Unit e pelo Facebook, divulgado durante o Mobile World Congress, realizado em fevereiro em Barcelona, traz resultados positivos para o Brasil. O levantamento comparou 75 países em relação aos seguintes quesitos: disponibilidade (availability), viabilidade de custo (affordability), ambiente favorável (readiness) e relevância (relevance). No comparativo geral, o Brasil ficou na posição 18, com nota 78 para um máximo de 100. Analisando apenas as Américas, o Brasil foi o terceiro no ranking. Os países mais bem ranqueados foram Cingapura e Suécia (empatados), EUA, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul. Entre os diferentes indicadores analisados, aquele em que o Brasil se saiu melhor foi o de viabilidade de custo, em que são analisados os preços dos serviços e equipamentos de acesso, bem como o nível de competição na oferta. Neste quesito, o Brasil ocupou a

nona colocação, com índice 92,3. O país mais bem colocado foi o Canadá, com nota 99,3. No quesito disponibilidade, o País ficou na posição 21, com nota 65,8, e o país líder foi Cingapura, com nota 95,8. Este quesito analisa o uso dos serviços, a qualidade, a infraestrutura disponível e a disponibilidade de energia. No indicador ambiente favorável (readiness), o Brasil ficou com nota 70,9 e na posição 31 – a pior classificação obtida pelo País entre os quesitos analisados. Nesse indicador são analisadas questões de confiança e segurança, políticas e instrução da população (literacy). No item relevância, que analisa a presença de conteúdo local e conteúdo relevante, incluindo serviços de governo, o Brasil ficou na posição número 13, com nota 84,3. O líder foram os EUA, com nota 90,6. A íntegra do estudo, em inglês, está disponível em http://bit.ly/2nsGIH5

WhatsApp movimenta até 0,9% do PIB do Brasil As ComUniCAÇÕes feitas pelo WhatsApp estão associadas de alguma maneira a até 0,9% do PIB do Brasil. Uma parcela significativa dos mais de 100 milhões de usuários troca mensagens com pequenos e médios negócios e prestadores de serviços, aponta um estudo da consultoria Analysis Group. Segundo a consultoria, o gasto anual dos brasileiros associado de alguma maneira ao WhatsApp é estimado entre 12 bilhões e 28,3 bilhões de dólares, ou o equivalente a de 0,38% a 0,88% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2015. O levantamento, encomendado pelo WhatsApp e que também calculou o impacto econômico do aplicativo na Índia, Alemanha e Espanha, indica que quase 1 em cada 3 entrevistados no

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Brasil utiliza o WhatsApp para se comunicar com estabelecimentos comerciais e profissionais liberais, incluindo restaurantes, oficinas mecânicas, médicos, cabelereiros, corretores de imóveis e advogados. De acordo com o relatório, o estímulo à atividade econômica com o WhatsApp se dá pela redução de custos, aumento da produtividade e melhora da qualidade do atendimento a clientes, entre outros fatores. O estudo diz ainda que um aumento de 5 pontos percentuais na base de usuários do WhatsApp no Brasil representaria uma adição de 790 milhões de dólares ao PIB do País. Globalmente, o WhatsApp possui 1,2 bilhão de usuários. Entre os quatro países pesquisados, o Brasil é o que tem maior penetração do WhatsApp, com cerca de metade da população utilizando o aplicativo.


IPv4: reta final para o esgotamento dos endereços internet o reGistro de Endereçamento da Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC) anunciou em fevereiro que a região entrou na fase final do que chama de ‘terminação gradual’, ou seja, a distribuição dos últimos endereços IPv4. A partir de agora, alocações só para novos provedores de conexão. “Empresas que vão entrar no mercado daqui em diante terão uma quantidade pequena de IPv4, mas suficiente para iniciarem seu serviço e se prepararem para a transição para o IPv6. O objetivo é garantir que empresas que precisam desse recurso recebam uma quantidade mínima”, explica o gerente de Recursos de Numeração do NIC.br, Ricardo Patara. Como se trata da distribuição de um recurso escasso, medidas por conta do esgotamento foram adotadas ainda em 2014, quando se criou uma limitação aos pedidos de endereços na versão 4 do protocolo internet. Entre as medidas, ficou acertado que uma mesma empresa só poderia levar 1.024 endereços por vez, podendo pedir novamente somente depois de seis meses. A nova etapa é ainda mais rigorosa. “Somente haverá alocação para quem ainda não tem IPv4, e apenas 1.024 endereços, uma única vez”, acrescenta Patara. O esgotamento de endereços IPv4 se tornou razoavelmente previsível há cerca de duas décadas, quando a internet comercial disparou. Em 1977, quando Vint Cerf e Robert Kahn desenvolveram a base desse sistema de comunicação, o TCP/ IP, os 4,3 bilhões de combinações possíveis com números de 32 bits pareciam mais do que suficientes. Mas eles acabaram e a Internet das Coisas ainda nem chegou para valer. Daí a necessidade de mudança para um sistema de 128 bits, que permite uma infinidade muito maior (340 ‘undecilhões’) de combinações.

Novas receitas para ISPs em FeVereiro, a rede de varejo Magazine Luiza voltou a ofertar acesso à internet sem fio gratuito em aeroportos selecionados. A companhia contratou a empresa de publicidade móvel Hands para implantar o projeto. Sem revelar investimentos na ação, a varejista afirmou que não existe expectativa de retorno financeiro, sendo uma ação de branding, para reforçar a marca. O nome do Magazine Luiza e a logomarca aparecem na ação, que tem duração de três meses e objetivo de propagandear a varejista como loja virtual. O CEO da Hands, João Carvalho, explicou que a empresa possui parceria com diversos fornecedores de redes Wi-Fi, tendo acesso a cerca de 2,5 milhões de pontos (hotspots) no Brasil. Carvalho explica que o contrato com os provedores normalmente é feito com base na divisão de receita (revenue share) e a parceria representa uma alternativa de nova fonte de renda para os ISPs. Ele, no entanto, não deu estimativas de valores. Carvalho enfatiza que a ação não tem custo para os varejistas, uma vez que a Hands desenvolveu uma tecnologia que é embarcada na rede dos provedores parceiros de internet sem fio, criando um SSID para oferecer serviços de publicidade móvel e ações como a do Magazine Luiza. Além do Magazine, a empresa já foi contratada por Citroen, Expedia e Skol. A aceitação deste tipo de projeto tem sido boa, diz ele. “Dados da Nielsen de 2016 apontam que 56% dos acessos à internet móvel no Brasil são feitos por meio de Wi-Fi. Como passamos grande parte do tempo em movimento, boa parte destes acessos é feita em locais públicos por meio de redes abertas.” O serviço de conexão vale para quem estiver esperando voo nos aeroportos de Congonhas (SP), Fortaleza, Santos Dumont (RJ), Recife, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre.

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oPiNiÃo Ubiratan Resende Diretor geral da Via technologies no brasil (http://www.viatech.com)

iot CheGa para fiCar na inDÚStria braSileira mesmo em meio à mais longa recessão da história, as empresas não podem deixar de investir em inovação. Há movimentos em todo o mundo que, se não forem acompanhados pelas corporações do País hoje, significarão a perda de produtividade, competitividade, de mercado e inviabilidade econômica. Uma tendência cada vez mais forte em todo o mundo é a Internet das Coisas. Conforme estimativas da International Data Corporation (IDC), US$ 737 bilhões foram investidos em IoT em todo o mundo no último ano. A maior parte desses aportes concentrou-se na indústria: US$ 178 bilhões. O Brasil não acompanhou este movimento e ocupa a 70ª posição entre 141 países analisados pelo Índice Global de Inovação 2015, realizado pela Cornell University, INSEAD e WIPO. Há grande expectativa quanto à mudança desse quadro, principalmente a partir do segundo semestre deste ano, quando será anunciado o Plano Nacional de IoT, que deverá trazer incentivos para investimentos na tecnologia. A partir daí, conforme estimativas da consultoria IDC, todo o ecossistema de IoT no Brasil deverá dobrar de tamanho, movimentando mais de US$ 13 bilhões até 2020. Fica evidente que, se no passado, a falta de investimentos em inovação comprometeu a competitividade no exterior, as indústrias que não se modernizarem acabarão perdendo até mesmo o mercado interno. A expectativa quanto à aceleração dos investimentos em IoT no País faz com que os fabricantes disponibilizem no mercado interno seus últimos lançamentos. Há, por exemplo, equipamentos de realidade virtual voltados a controle de estoques e embarque. A partir de seu escritório, um gestor pode, com o uso de óculos, conferir visualmente seus estoques, organizá-los e enviá-los para embarque por meio de empilhadeiras inteligentes.

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O ecossistema de Internet das Coisas deverá superar os US$ 13 bilhões até 2020 no Brasil.

O monitoramento de frotas, segmento em que a IoT se faz mais presente no País, é outro que traz avanços significativos. Até pouco tempo atrás, as soluções, que se limitavam a informar, por meio de GPS, a localização de veículos, não solucionavam inúmeras necessidades resultantes dos riscos a que a logística está exposta. Hoje, gestores de frotas podem ter, em tempo real, imagens que mostram 360° ao redor do veículo, o que permite controle permanente sobre a forma como a mercadoria é conduzida e o conhecimento do ambiente onde ela se encontra, garantindo rapidez na comunicação com quem a conduz e na tomada de decisões. Há sistemas capazes de interpretar essas imagens, e, a partir daí, serem programados para alertar gestores ao identificarem veículos que se aproximam repentinamente ou que trafegam próximos à carga ao longo de muitos quilômetros ou até sobre a presença de pessoas armadas. As instalações de produção também passam a contar com soluções que integram todos os sistemas de segurança, como detectores de presença, câmeras e alarmes, que podem acionar, por celulares ou tablets, gestores onde quer que estejam. Mais do que os ganhos com segurança, essas ferramentas proporcionam controle sobre entrada e saída de funcionários e colaboradores, controle da produção e eficiência no consumo de insumos. Se é óbvia a perda de competitividade internacional das indústrias brasileiras por conta do atraso em investimentos em inovação, fica evidente também a oportunidade para diferenciação no mercado interno com a adoção da IoT. Sistemas de automação residencial serão comuns no País daqui a cinco anos. Esse movimento será muito mais rápido e intenso no setor industrial. O momento torna, mais do que nunca, imperativo que se elevem a eficiência, produtividade e competitividade.

divulgação


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