Revista Abranet . 27

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associação brasileira de internet

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ano VII . edição 27 . abril / maio / junho 2019

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editorial Eduardo Neger Presidente da Abranet

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Por uma Abranet plural e inovadora A Abranet congrega um conjunto heterogêneo de empreendedores, que incluem provedores de acesso; empresas que constroem a infraestrutura de telecomunicações; operadoras; empresas da área de conteúdo; fintechs. Cada uma delas tem suas próprias questões operacionais e regulatórias, e a internet é o fio condutor de todas na jornada rumo à economia digital. Retorno à presidência da associação, dando continuidade a um excelente trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos. Mas este é um mercado dinâmico e sempre há muito a ser feito. Em nossa gestão, nosso propósito é, internamente, fomentar um ecossistema de novos negócios entre os associados. Do ponto de vista institucional, tratar dos entraves tributários e dos desafios que virão para a adequação e a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, sem deixar de ficar atento à evolução das redes, infraestruturas e aplicações. O empreendedorismo é uma característica dos associados da Abranet, e apostar na inovação foi crucial para que a entidade se transformasse nos anos recentes. Esta edição da revista destaca o que foi a Convenção Abranet, realizada em abril e em que foram debatidos temas de economia, política e gestão, já que entender o cenário político e econômico é essencial para elaborar um plano de negócios, traçar estratégias e antecipar-se às movimentações do mercado. Também tratamos nesta edição das novas regras para ofertas de referência no mercado atacadista de telecomunicações – aprovadas em julho de 2018 e que este ano começam a valer na prática –, que incluíram medidas de impacto direto sobre pequenos provedores de serviços. Em especial, as obrigações para que existam ofertas transparentes de links de alta velocidade e dutos, além da digitalização da interconexão que serve a voz e dados, inseridas na revisão do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC). É hora de agir no presente para pavimentar o futuro, e também mostramos as tendências que vão fazer a diferença na economia digital. A IDC aponta que deverá haver uma consolidação dos pequenos prestadores de telecomunicações e, entre as tecnologias, irão predominar segurança da informação, inteligência artificial, big data & analytics, nuvem pública, internet das coisas, arquiteturas modernas e DevOps. É uma boa sinalização para decidir onde apostar as fichas do negócio. Boa leitura! abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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índice 05 | ABRANET RESPONDE

Conselho Editorial Eduardo Neger

Como instalar corretamente caixas de emendas ópticas em postes e cordoalhas? Com a adesão cada vez maior a redes em fibra ótica, esse conhecimento é indispensável.

neger@abranet.org.br

Eduardo Parajo

parajo@abranet.org.br

06 | TENDÊNCIAS

Gerência Executiva Roseli Ruiz Vazquez

Tecnologias que vão fazer a diferença. IDC Predictions Brazil aponta movimento de consolidação dos pequenos prestadores de telecomunicações e elege as tendências de TICs para 2019.

gerente@abranet.org.br

10 | GESTÃO eSocial começa para valer para as MPEs e MEIs. Confira o que ainda falta fazer para cumprir o cronograma.

12 | REGULAMENTAÇÃO Projeto, Produção e Edição

PGMC: o que muda nas negociações de atacado para infraestrutura. Sistema de Negociações de Ofertas de Atacado (SNOA) está atualizado e só falta a homologação, pela Anatel, das ofertas de links de alta velocidade, dutos e interconexão em redes de nova geração.

Editora Convergência Digital editora@convergenciadigital.com.br Tel: 011-3045-3481

Direção Editorial / Editora-chefe

14 | ESPECIAL CONVENÇÃO ABRANET 2019

Ana Paula Lobo

analobo@convergenciadigital.com.br

Planejamento é o nome do jogo na jornada digital

Edição

Bia Alvim

bia.alvim@pebcomunicacao.com

A Convenção Abranet 2019 debateu economia, política e gestão. Cerca de cem empresas de internet e de tecnologia que estiveram presentes no Club Med Trancoso, na Bahia, puderam ter uma visão mais clara sobre o que esperar no curto prazo.

Reportagem / Redação

Roberta Prescott

prescottroberta@gmail.com

Luis Osvaldo Grossmann ruivo@convergenciadigital.com.br Edição de Arte e Diagramação

Pedro Costa

22 | TECNOLOGIA

pedro@convergenciadigital.com.br

FTTH explode na América Latina. O ano de 2018 foi de consolidação da FTTH (fiber-to-the-home, ou fibra para o lar) no mercado latino-americano; os operadores adotaram massivamente a fibra ótica como tecnologia para a plataforma de ultra banda larga.

Impressão

Gráfica Pigma

24 | PANORAMA Transformação digital leva à inovação. Entender o conceito é o primeiro passo para colocar a empresa na rota da mudança. Atender melhor ao cliente e aumentar a rentabilidade são os principais benefícios.

26 | conexÃO Rua MMDC, 450 cj 304 - Butantã - São Paulo / SP CEP: 05510-020 Fone: ( 11 ) 4564-7227

Rede varejista instala Wi-Fi, dá acesso gratuito e aumenta vendas. ”.br” completa 30 anos com mais de 4 milhões de nomes registrados.

www.abranet.org.br

30 | opinião . Por Lahis Almeida, desenvolvedora de Internet das Coisas na ART IT Blockchain: aplicações práticas e eficientes no mercado empresarial. Contratos inteligentes, pagamentos e transferências por dinheiro e armazenamento em nuvem distribuído são alguns dos serviços beneficiados pela tecnologia.

facebook.com/abranetoficial

bit.ly/LinkedIn_Abranet @abranet_brasil Youtube.com/AbranetBrasil

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abranet responde Tem uma dúvida? Quer que um especialista da Associação Brasileira de Internet responda? Escreva para o Abranet Responde. O e-mail é abranetresponde@abranet.org.br

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Como instalar corretamente caixas de emendas ópticas em postes e cordoalhas? Com a adesão cada vez maior a redes em fibra ótica, o uso de caixas de emenda e de atendimento se faz cada vez mais necessário. Neste Abranet Responde, explicamos como deve ser a instalação correta em postes e cordoalhas. De acordo com Marco Paulo Giannetti, coordenador técnico da Fibracem, fabricante paranaense de produtos para redes de fibra ótica, para garantir a excelência da tecnologia, diversas medidas precisam ser tomadas, entre elas, o respeito às regulamentações para o uso das caixas de emenda ótica em postes ou cordoalhas. Giannetti explica que a norma nacional NBR 15214 – Rede de Distribuição de Energia Elétrica - Compartilhamento de Infraestrutura com Redes de Telecomunicações serve de referência às concessionárias, que utilizam esse documento para redigirem suas próprias normas, as quais contemplam as peculiaridades de cada região de atendimento. Segundo o especialista, sem cumprir as normas para o uso das caixas em postes ou cordoalhas, o provedor corre o risco de ter seus cabos e caixas retirados da rede de postes da concessionária sem aviso prévio. Por isso, ressalta, é importante a correta identificação das caixas e dos cabos na instalação. “Se a instalação é legal, mas está fora dos padrões, o provedor é notificado para regularizar”, aponta. Para a correta instalação em um poste, precisa ser destinada uma faixa de 500 mm abaixo da rede de baixa

Classificados Abranet

tensão a uma distância segura para que possa ocorrer o compartilhamento do poste com as empresas de telecomunicações. O número de ocupantes normalmente varia de 4 a 6, quantidade esta definida pela concessionária local de eletricidade. Cada ocupante tem direito somente a um ponto de fixação nesta faixa, ou seja, todos os cabos deste ocupante devem ficar fixos no mesmo ponto. De acordo com Giannetti, deve-se observar a distribuição de cada ocupante na faixa de utilização de modo que não haja o cruzamento dos cabos, o que dificulta a instalação e manutenção. Para ele, deve-se, também, observar ainda as flechas dos cabos, que devem atender aos esforços dimensionados para o cabo e os postes conforme cálculos previamente apresentados no projeto de adequação elétrica e aprovados pela concessionária. Giannetti explica que a instalação das emendas e da reserva técnica do cabo, na maioria das empresas, deve ser feita na cordoalha no meio do lance. Já as caixas de atendimento (CTO/NAP) podem ser fixadas no poste, porém, é necessário verificar que é permitida apenas uma caixa por ocupante por poste. Pode-se também ter o caso de as caixas serem fixadas na cordoalha. Alguns aspectos de instalação dependem de regras fixadas pela concessionária local, e o provedor precisa ficar atento à legislação.

Serviço gratuito da Abranet destinado aos Provedores de Internet, associados ou não, que desejam vender ou comprar equipamentos. O objetivo é fomentar um canal de negociação. Saiba mais em http://classificados.abranet.org.br

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Tendências

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Roberta Prescott

Tecnologias que vão fazer a

diferença A edição deste ano do IDC Predictions Brazil aponta como tendência a consolidação dos pequenos prestadores de telecomunicações, como provedores de banda larga fixa. Entre as tendências de TICs, predominam segurança da informação, inteligência artificial, big data analytics, nuvem pública, Internet das Coisas, arquiteturas modernas e DevOps. Os pequenos prestadores de serviços de telecomunicações, conectividade e internet consolidaram uma forte participação no mercado de banda larga e ganharam destaque nas previsões para 2019. O estudo IDC Predictions Brazil projeta que essas empresas aumentarão ainda mais o market share, com um crescimento estimado em cinco pontos porcentuais este ano, ultrapassando 25% do total de conexões de banda larga fixa. “O ano de 2018 foi importante para este grupo, que cresceu. O consumidor elegeu o provedor que oferece velocidade e estabilidade de serviços. A marca, o nome não faz mais tanta diferença. Importa é o serviço de qualidade”, explicou André Loureiro, gerente de Pesquisa e Consultoria de TIC da IDC. Loureiro apontou que os provedores de serviços de telecomunicações, conectividade e internet são os que têm entendido a necessidade dos usuários finais, até por es-

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tarem próximos a eles. “Além disto, eles têm investido muito para ‘fibrar’ suas infraestruturas para melhorar a conexão”, acrescentou. Ainda de acordo com a IDC, os pequenos prestadores de telecomunicações e conectividade vão mirar o mercado corporativo (B2B, na sigla em inglês), uma vez que oferece oportunidade de mais projetos, com maior ARPU (receita média por usuário) e maior margem. “O B2B é uma grande oportunidade de negócio para levar valor agregado. Por isto, eles (os prestadores de serviços) têm investido fortemente em crescer o mix de produtos. Já vemos provedores com produtos de cloud, datacenter, entre outros, para subir na cadeia de valor de cliente”, reforçou o especialista. Para Loureiro, os pequenos prestadores entenderam como endereçar os mercados, com uma estratégia diferenciada dos grandes players. “Eles vão construindo


Top 10

¶ Segurança da informação ¶ Inteligência artificial ¶ Gestão de dados e big data analytics ¶ Nuvem pública ¶ Internet das Coisas ¶ Arquiteturas modernas e DevOps ¶ Amadurecimento do mercado de dispositivos ¶ Fortalecimento dos provedores ¶ SD-WAN

”O consumidor elegeu o provedor que oferece velocidade e estabilidade de serviços. A marca, o nome não faz mais tanta diferença. Importa é o serviço de qualidade.” André Loureiro Gerente de Pesquisa e Consultoria de TIC da IDC a infraestrutura ao redor da cidade, enquanto as teles começam pelo centro. Assim, têm tido a inteligência geográfica e imobiliária de entender para onde a cidade está crescendo”, assinalou o gerente de Pesquisa e Consultoria de TIC da IDC. Tendências para 2019 O IDC Predictions Brazil aponta segurança da informação, inteligência artificial, gestão de dados e big data analytics, nuvem pública, Internet das Coisas, arquiteturas modernas e DevOps, amadurecimento do mercado de dispositivos, fortalecimento dos provedores, SD-WAN e serviços gerenciados como as mais fortes tendências no setor de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) no Brasil em 2019. Entre as tecnologias em alta, a de nuvem pública deve sobressair. Depois de ter demorado a começar, agora deve

deslanchar. A projeção da IDC é que o mercado de nuvem pública no Brasil chegará a US$ 2,3 bilhões em 2019 e crescer a uma taxa de 35,5% ao ano até atingir US$ 5,8 bilhões em 2022. Ainda há muito para expandir. O Brasil figura entre o quinto ou sexto mercado de TICs do mundo, mas quando o recorte mostra apenas computação em nuvem pública, a posição do País cai para 12ª ou 13ª. Esta diferença mostra que há espaço para crescer, e as corporações já entenderam isto. No Brasil, 49% das empresas que contratam serviços de nuvem pública já se enxergam como multicloud. “O mercado já enxerga multicloud como sendo um caminho, embora o entendimento do que é multicloud não esteja claro para todos os gestores”, disse Pietro Delai, gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil. Multicloud pode ser definido como tendo a infraestrutura espalhada em vários fornecedores, com camada de gestão abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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e processo de movimentação entre as nuvens. A IDC indica que brokers e provedores de serviços gerenciados de nuvem (managed cloud services providers) firmam-se como fontes cada vez mais importantes para a contratação e diz que há um aumento de demanda por serviços gerenciados. Um dos motivos para o aumento de managed cloud services é que, depois de dois anos de crise e equipes mais enxutas, este modelo de contrato pode suprimir necessidades. Questionado sobre o que impulsiona o aumento da nuvem pública, Delai apontou a escalabilidade e o time to market. “Hoje, para subir um ambiente dentro de casa leva muito tempo, principalmente, com uma equipe enxuta. Ganha-se agilidade”, explicou. As empresas têm experimentado o modelo, mas ainda estão levando periféricos para a nuvem e analisando com muita cautela levar os essenciais, o core. “Vemos que a parte de relacionamento com o cliente está avançando, com as campanhas de marketing indo para nuvem. Se olhar da perspectiva das camadas, a parte de infraestrutura cresce em nível mais forte, com as empresas substituindo a completa atualização do parque por ir para a nuvem”, completou Luciano Ramos, gerente de Pesquisa e Consultoria de Software e Serviços da IDC. Serviços gerenciados Em diversas previsões apresentadas pela IDC, os serviços gerenciados ganham destaque. Eles constituem uma alavanca importante para a jornada rumo à TI flexível, um contexto no qual a nuvem exerce um papel preponderante para a flexibilização da infraestrutura. Além disto, a IDC mostra que os serviços gerenciados de segurança se apresentam como uma forma de atingir

”O mercado já enxerga multicloud como sendo um caminho, embora o entendimento do que é multicloud não esteja claro para todos os gestores.” Pietro Delai Gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil

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”Se olhar da perspectiva das camadas, a parte de infraestrutura cresce em nível mais forte, com as empresas substituindo a completa atualização do parque por ir para a nuvem.” Luciano Ramos Gerente de Pesquisa e Consultoria de Software e Serviços da IDC melhores patamares de maturidade e mitigar os desafios de obtenção e retenção de talentos, enquanto os serviços gerenciados para SD-WAN [Software-Defined - Wide Area Network] avançam e geram oportunidades. Para a IDC, 2019 será o ano de consolidação de SD-WAN no mercado brasileiro. Globalmente, até 2020, 80% das grandes empresas terão SD-WAN implementado, mas no Brasil a maturidade ainda é baixa, embora exista, entre os CIOs, o entendimento de que SD-WAN melhora a experiência do cliente e é habilitador de novos projetos. Para a IDC, serviços gerenciados para SD-WAN são importante oportunidade para operadoras e integradores em 2019, principalmente, devido à falta de capacitação da equipe de TI. “O Brasil ainda está no início, não há um completo entendimento da tecnologia por parte dos CIOs e da TI, mas já houve uma evolução e ela seguirá”, afirmou André Loureiro, gerente de Pesquisa e Consultoria de TIC da IDC. “Os CIOs estão entendendo que SD-WAN pode reduzir custos”, completou. A IDC projeta que, no Brasil, cerca de 40% das grandes organizações utilizarão SD-WAN em alguns de seus sites em 2019. Sem mencionar nominalmente a transformação digital entre as dez previsões, Delai lembrou que muito do crescimento do setor de Tecnologias da Informação e da Comunicação (leia mais no box) será puxado por esta mudança. “Não tem como fazer a digitalização sem uma boa infraestrutura. A transformação digital gera investimentos e é um driver, mas as empresas não explicitam isto quando estão comprando, por exemplo, um servidor. Mas ela


está acontecendo e vamos ver de maneira mais intensa nos próximos três anos”, enfatizou. “Ir para cloud, processar um maior volume de dados. Isto tudo faz parte do universo de transformação digital”, completou. A IDC também aposta que o avanço da chamada terceira plataforma segue em alta. Conforme explicou Reinaldo Sakis, gerente de Pesquisa e Consultoria de Consumer Devices da IDC, pesquisas com CIOs indicam os caminhos dessa migração, como, por exemplo, o maior uso de nuvem e big data analytics entre as prioridades de TI, e a redução de custos e o aumento de produtividade entre os impulsionadores das áreas de negócio para direcionar os investimentos em tecnologia. “Houve um avanço da terceira plataforma. E este entendimento nos leva a crer que existe espaço para migração do modelo de Capex para Opex, que também auxilia e direciona o mercado para um mundo como serviço”, reiterou Sakis. Segurança Um dos temas em pauta desde que ataques como o do WannaCry causaram grandes prejuízos, a segurança da informação seguirá avançando. Para 2019, a tendência é o uso de soluções inteligentes e a adoção continuada de serviços gerenciados. Como exemplos, a IDC indica soluções de NextGen (next generation, ou próxima geração) ganhando importância e a inteligência artificial e o aprendizado de máquina (machine learning) sendo percebidos como fundamentais para combater a complexidade e a diversidade de ataques. “O tema de segurança ganhou uma relevância maior desde 2017 com o WannaCry. Isto trouxe a sensação que não acontece só com o vizinho e que pode chegar a uma empresa a qualquer momento. E fez com que soluções mais modernas ganhassem importância”, destacou Luciano Ramos. A IDC estima que as soluções de próxima geração atingirão US$ 671 milhões no Brasil neste ano. É, segundo a consultoria, um ritmo duas vezes mais rápido que as soluções tradicionais. As empresas também contam, cada vez mais, com serviços gerenciados de segurança (MSS, na sigla em inglês), um segmento no qual os gastos ultrapassarão os US$ 548 milhões já neste ano. A IDC também considera que haverá acirramento da competição entre os provedores puros e as operadoras de telecomunicações.

”Houve um avanço da terceira plataforma. E este entendimento nos leva a crer que existe espaço para migração do modelo de Capex para Opex, que também auxilia e direciona o mercado para um mundo como serviço.” Reinaldo Sakis Gerente de Pesquisa e Consultoria de Consumer Devices da IDC

TICs crescem 4,9% A IDC Brasil projeta um crescimento de 4,9% para o setor de TICs em 2019. Desdobrando os números, TI avançará 10,5%, impulsionada pelo segmento de dispositivos, enquanto as telecomunicações sofrerão uma pequena retração de 0,3%, mantendo a tendência dos últimos anos. A IDC não confirma a previsão feita em janeiro de 2018 para o ano passado, de crescimento de 2,2% para o mercado de TICs, explicando que os números não estão fechados ainda. No entanto, Pietro Delai, gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil, destacou que há, sim, uma retomada. “O mercado está dizendo que vai ter mais budget, está otimista. Falamos sempre com os dois lados, fabricantes e consumidores, eles estão sinalizando melhora e nós estamos projetando em cima disto”, disse. A IDC entrevistou cerca de 2 mil fabricantes e 15 mil usuários de tecnologia na América Latina. O Brasil responde por metade disto, acrescentou Delai.

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GESTÃO

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eSocial

Roberta Prescott

começa para valer para as

MPEs e MEIs

As empresas de médio e pequeno porte já prestam informações no ambiente de obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas do Governo. A implantação do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial) para as empresas optantes do Simples Nacional começou em janeiro e, de acordo com o Ministério da Economia, nessa primeira fase, foram exigidas as informações cadastrais e as tabelas do empregador. De abril a junho deste ano, é o momento de registrar os dados dos trabalhadores e, finalmente, entre julho e setembro, haverá o fechamento das primeiras folhas de pagamento na plataforma do eSocial. Em outubro de 2019, será feita a substituição definitiva da Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social (GFIP), e todo o controle da gestão de pessoas estará dentro do eSocial. À Abranet, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia informou que até dezembro de 2018 cerca de 2 milhões de empresas de médio e pequeno porte (MPEs) já prestavam informações no

ambiente do eSocial. A expectativa é alcançar um total de 4.827.917 de MPEs, sendo que destas 2.692.632 empregam mais de 13 milhões de trabalhadores. As demais, 2.135.285 empresas, não declaram trabalhadores vinculados atualmente, ainda segundo o Ministério. O eSocial substitui o preenchimento e a entrega de formulários e declarações, eliminando a redundância nas informações prestadas por pessoas físicas e jurídicas. O objetivo, segundo Haroldo Santos, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), é reduzir a burocracia e aprimorar a qualidade das informações das relações de trabalho, previdenciárias e tributárias. Mais qualidade de informações Fabiano Giusti, gestor trabalhista na Confirp Consultoria Contábil, acrescentou que o atraso tem não só um

Calendário

Fase 1

Fase 2

Fase 3

Fase 4

Fase 5

10/01/2019

10/04/2019

10/07/2019

Outubro/2019

Julho/2020

Cronograma para empregadores optantes pelo Simples Nacional, empregadores pessoas físicas (exceto domésticos), produtores rurais pessoas físicas e entidades sem fins lucrativos:

Apenas informações relativas aos órgãos e às pessoas físicas, ou seja, cadastros dos empregadores e tabelas

Os entes passaram a ser obrigados a enviar informações relativas aos servidores e seus vínculos com os órgãos (eventos não periódicos), e as pessoas físicas quanto aos seus empregados. Por exemplo: admissões, afastamentos e desligamentos

Torna-se obrigatório o envio das folhas de pagamento

Substituição da GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social)

Deverão ser enviados os dados de segurança e saúde no trabalho (SST)

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De olho no cronograma impacto sistêmico, mas também afeta as regras e os prazos das informações, principalmente, quando se trata de empresas que terceirizam a folha de pagamento e suas informações trabalhistas. Questionado sobre o porquê da adequação das empresas de pequeno porte ser mais complexa, Giusti explicou que o que se exige hoje pede uma atenção muito específica ao tema, e muitas empresas não dispõem de um esquema de atendimento aos trâmites trabalhistas. “Isto ocorre muito por conta de falta de estrutura ou, eventualmente, os próprios proprietários não têm noção da importância dessas informações, até pelo foco ser diretamente na alma do negócio, ou seja, no produto ou serviço e não na parte administrativa e burocrática”, completou Giusti. Para o especialista, a maior dificuldade para a implantação do eSocial é a a dedicação que o tema exige. “Muitas vezes, empresas pequenas têm um setor de RH/departamento pessoal administrado por profissionais que acumulam funções e podem não ter a devida experiência ou tempo de dedicação, atribuindo a terceiros ou ao contador o ajuste das ocorrências do mês. Porém, o eSocial em muitas situações exige informação em tempo real, e para isso é premissa quase básica que o profissional tenha pleno conhecimento de causa, principalmente, em relação a regras e prazos”, esclareceu. Vai doer no bolso não se estruturar Quem ainda não se adequou tem de correr e investir nisto. Giusti sugere que os funcionários passem por treinamentos específicos ou que as empresas busquem a terceirização. A orientação do Ministério da Economia é que o empregador comece logo a utilizar o ambiente do eSocial. “Quem estiver ainda aprendendo a trabalhar com o eSocial, pode se utilizar do ambiente de produção restrita (ambiente de testes), onde pode treinar com o sistema idêntico ao de produção, mas sem valor jurídico”, explicou o Ministério. O eSocial pode ser acessado de três formas: pela plataforma de Web Services – neste caso se exige que o software da empresa seja adequado ao leiaute do eSocial; pelo Portal Web, em que o empregador informa diretamente na página do eSocial todos os eventos trabalhistas e previdenciários de seus trabalhadores; e pelo Portal Simplificado para o MEI, que é um ambiente mais simples e intuitivo no qual se podem prestar todas as informações dos empregados.

A ISAT é um exemplo de empresa de internet que já está preparada para o eSocial. “É uma transformação que dói no começo, mas que depois dá segurança tanto para o colaborador quanto para a empresa; ambos vão se beneficiar”, disse Dorian Guimarães, CEO da ISAT. Para cumprir os prazos estabelecidos, Guimarães contou que, primeiramente, a área administrativa estudou o eSocial e tudo que ele envolvia, depois foi realizado um treinamento com o pessoal a fim de prepará-los para a implantação e para as mudanças. Além disto, a ISAT contratou a consultoria de um escritório de contabilidade. “Seguimos o cronograma que o governo colocou das etapas. Estamos acompanhando isto há mais de ano e hoje já estamos com tudo cadastrado e alimentando”, detalhou. A ISAT tem aproximadamente 50 pessoas e se enquadra na faixa do Simples. A maior barreira enfrentada foi na parte tecnológica, na integração dos sistemas e na em sua alimentação, para resolver, por exemplo, a forma como os dados são inseridos e o entendimento de quais são os dados corretos. “É um aprendizado, e fizemos tudo de forma bastante consciente, sem pular etapas”, enfatizou o CEO. Ele revelou que acompanha como está o desenvolvimento da adoção do eSocial nas empresas de maior porte até para se adiantar a possíveis problemas. “A fase que encerramos é a de inserir dados sobre funcionários, como férias, salário, dispensa etc. O que está mexendo com as empresas maiores é que o governo vai pedir dados com relação à capacitação dos profissionais.” Isto é, as empresas precisam enviar ao governo informações com relação ao treinamento dos funcionários, mostrando qual é a qualificação deles. “Os provedores têm normas técnicas a seguir, com capacitação e treinamento das pessoas que executam algumas tarefas. Será necessário apontar tudo isso no Sped e no eSocial”, alertou Guimarães. Se algum funcionário sofrer acidente e ficar comprovado que ele não possuía certificação ou qualificação necessária para exercer a função em que estava, a empresa pode ser colocada como responsável e isto afeta, por exemplo, o pagamento de seguro pelo INSS, ficando a firma encarregada dos custos. “O eSocial exige mais disciplina, mas ele veio para o bem. O Brasil precisa melhorar a produtividade, a capacidade técnica das pessoas. No fim, acho que vai melhorar a relação entre trabalhocolaboradores-governo”, concluiu o CEO da Isat.

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REGULAMENTAÇÃO

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Luis Osvaldo Grossmann

O que muda nas negociações de atacado para infraestrutura Sistema está atualizado e só falta a homologação, pela Anatel, das ofertas de links de alta velocidade, dutos e interconexão em redes de nova geração. Vão começar a valer, na prática, as novas regras para ofertas de referência no mercado atacadista de telecomunicações, aprovadas em julho de 2018 e que incluíram medidas de impacto direto sobre pequenos provedores de serviços. Em especial, as obrigações para que existam ofertas transparentes de links de alta velocidade e dutos, além da digitalização da interconexão que serve a voz e dados. Essas e outras medidas foram inseridas na revisão do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC), aprovada no ano passado pelo Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e que desde então estão sendo implementadas. A tarefa mais trabalhosa abrangeu a atualização do Sistema de Negociações de Ofertas de Atacado (SNOA), que é administrado pela ABR Telecom, para as novas ofertas de referência que devem obrigatoriamente ser publicadas pelas maiores detentoras de infraestrutura, em geral os grupos econômicos ligados às concessionárias do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC). A partir de agora, esses grandes grupos, considerados com Poder de Mercado Significativo, deverão ter ofertas públicas, disponíveis a qualquer interessado, relacionadas a transporte de alta velocidade, considerados os links acima de 34 Mbps. Trata-se de uma mudança para avançar na regulação do atacado em um insumo fundamental, mas que até aqui focava em velocidades mais baixas, ainda na forma de Exploração

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Industrial de Linha Dedicada (EILD). É um movimento na direção da realidade de mercado, na qual velocidades mais altas de transmissão vão se tornando o usual. “EILD é do tempo em que 2 Mbps era muito. Então houve um movimento para mostrar à Anatel que essa questão estava defasada. O que é transporte hoje não é mais EILD. E por isso precisava ter um produto de alta velocidade, que se tornou importante para tudo”, diz o consultor Edmundo Matarazzo, que representa a Abranet no sistema de atacado da Anatel. O Sistema de Negociações de Ofertas de Atacado foi instituído pela agência com o intuito de garantir a competição no varejo pela garantia de ofertas isonômicas. Mas até a nova versão do PGMC, só contemplava links de até 34 Mbps, pois era o previsto nas regras da EILD. Para velocidades maiores, as contratações seguem fora desse ambiente regulado, o que significa sem obrigações de transparência nas ofertas. A avaliação é que, com isso, os preços estão mais altos do que poderão ficar a partir da negociação desses links acima de 34 Mbps no SNOA.

Pequenos prestadores A nova versão do PGMC traz, ainda, duas novas modalidades ao Sistema de Negociações de Ofertas de Atacado – ambas relevantes para ampliar as possibilidades a pequenos provedores e demais atores que precisam de infraestrutura. A primeira delas é a inclu-


são da oferta de dutos no sistema, relevante não apenas pela negociação em si, mas pela necessidade de indicação clara de onde estão essas infraestruturas passivas. Com a inclusão no SNOA, as empresas interessadas poderão saber, também graças às ofertas públicas, onde estão as caixas de entrada e saída dessas redes de dutos. Trata-se de outra infraestrutura concentrada especialmente com as concessionárias do STFC que precisou ser mapeada. Como essa rede é grande – só a Oi, a maior detentora de dutos, tem mais de 8 mil dessas caixas de entrada e saída – optou-se por incluir primeiro no SNOA as maiores cidades. As demais ficaram para o segundo semestre. Para pequenos prestadores de serviços de telecom e de SCM e demais atores que precisam contratar infraestrutura, uma terceira novidade do Plano Geral de Metas de Competição é tão ou mesmo mais relevante que as demais. Trata-se da obrigatoriedade de ofertas públicas de pontos de interconexão com redes de

nova geração, ou seja, digitalizadas – de forma que sejam capazes de usar redes de dados mesmo para tráfego de voz. Essa medida atende uma questão anacrônica, que era a necessidade de contratantes de redes precisarem investir em infraestrutura antiquada para interconexão de voz porque em alguns pontos era a única oferta existente. A ideia, portanto, é que entrantes não precisem investir em redes de comutação, que caminham para a obsolescência – além de concentrar em um único ponto a interconexão – para evitar aportes em múltiplos pontos. O impacto disso é relevante, especialmente se considerada a intenção expressa da Anatel de apresentar uma proposta de plano de numeração que contemple o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). A medida não saiu na mais recente mudança no regulamento de numeração, aprovada em março de 2019, mas há um compromisso nesse sentido.

“EILD é do tempo que 2 Mbps era muito. Então houve um movimento para mostrar à Anatel que essa questão estava defasada. O que é transporte hoje não é mais EILD. E por isso precisava ter um produto de alta velocidade, que se tornou importante para tudo.” Edmundo Matarazzo Consultor que representa a Abranet no sistema de atacado da Anatel abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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especial

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Roberta Prescott

3ª Convenção Abranet

Planejamento é o nome do jogo na

jornada digital A Convenção Abranet 2019 debateu economia, política e gestão no Club Med Trancoso, na Bahia. As palestras movimentaram o dia a dia dos participantes.

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Gustavo Andrade


Entender o cenário político e econômico é essencial para elaborar um plano de negócios, traçar estratégias e antecipar-se às movimentações do mercado. Cerca de cem empresas de internet e de tecnologia que estiveram presentes na Convenção Abranet 2019 puderam ter uma visão mais clara sobre o que esperar no curto prazo, a partir de palestras sobre economia, política e gestão. O evento, de 10 a 13 de abril, neste ano foi realizado no Club Med Trancoso, na Bahia. Com inflação baixa e taxa de juros no patamar de 6,5%, o empresário volta a ter esperança de que haja uma retomada de crescimento econômico. Mas é preciso ficar atento. O déficit fiscal, ou seja, gastos do governo maiores do que a arrecadação, vai para o sexto ano consecutivo, o desemprego alcançou 12,4% e a dívida bruta segue subindo. “É preciso desarmar esta bomba”, salientou o economista Teco Medina a, titular do quadro “O Assunto é Dinheiro”, na rádio CBN, formado em Finanças pelo Insper e com atuação de mais 20 anos no mercado financeiro. Para Medina, o governo de Jair Bolsonaro entendeu que o Brasil precisa criar uma agenda pró-negócio e fomentar a desburocratização. “Teremos inflação abaixo de 4% e, assim, veremos o ciclo mais longo de inflação

baixa. Mas o desemprego está alto e, se não melhorar, afeta a economia e o bem-estar. Precisamos crescer mais rápido para lidar melhor com isto”, disse. A volta da confiança é um sinal positivo, mas o economista ressaltou dois pontos que devem ser endereçados urgentemente: a aprovação da Reforma da Previdência e uma mudança do governo no sentido de tornar as coisas mais simples e mais lógicas para fazer negócios no País. “Tem muita lei que não faz o menor sentido, muita coisa que o governo precisa ajudar a iniciativa privada a fazer e também chamar a iniciativa privada para fazer o negócio. Isto faz parte de uma agenda importante que o governo vai começar a pôr em vigor”, enfatizou. Segundo ele, a aprovação da Reforma da Previdência é necessária para que o governo volte a ter superávit e consiga, por exemplo, terminar obras importantes. Ele reconheceu que poucas pessoas estão com dinheiro e quem está empregado tem gastado menos do que poderia. “O crédito é muito importante para a economia, e a taxa de juros mais baixa barateia o crédito. Isto ajuda, mas a pessoa só toma crédito quando olha o futuro e imagina que ele será melhor que hoje.” Entre os desafios do atual governo, Medina

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“Teremos inflação abaixo de 4% e, assim, veremos o ciclo mais longo de inflação baixa. Mas o desemprego está alto e, se não melhorar, afeta a economia e o bem-estar. Precisamos crescer mais rápido para lidar melhor com isto.” Teco Medina Economista

Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_tecomedina

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especial 3ª Convenção Abranet destacou zerar o déficit primário como o mais urgente a ser feito e disse que “não tem como fazer isto sem fazer a Reforma da Previdência, sem equacionála, porque ela é de longe a maior despesa do País.” Melhorar o ambiente de negócios e aumentar a produtividade também foram elencados pelo economista. “Estamos na parte ascendente da curva de crescimento, e isto aconteceria com qualquer presidente. O Brasil, de 2000 até 2013, cresceu 13 anos seguidos com média de 4,5% ao ano. Agora, temos uma agenda boa, robusta”, ressaltou. Cenário internacional Em uma palestra que tratou do cenário internacional, da rivalidade entre Estados Unidos e China em torno do 5G e da política externa brasileira, o sociólogo Demétrio Magnoli b lembrou que Jair Bolsonaro chegou à presidência do Brasil em um momento no qual vários países assistem à ascensão de governos nacionalistas, populistas e antiglobalização. Magnoli explicou que esta guinada à direita se deu como um dos reflexos da estagnação da classe média, dos trabalhadores industriais de países desenvolvidos, que perderam com as mudanças

tecnológicas e transferências de indústrias para países onde o custo de produção é mais baixo. “Isto fez a classe média tradicional perder posições, (ela) ficou órfã da globalização e foi às urnas votar em partidos, candidatos, líderes que erguessem a bandeira do nacionalismo e da antiglobalização. Elegeu Donald Trump nos Estados Unidos, decidiu o plebiscito que levou ao Brexit, e na Europa crescem os nacionalistas, xenófobos, anti-imigrantistas”, pontuou. Mas o sociólogo alertou que não foi exatamente o mesmo fenômeno que levou Bolsonaro à presidência. “Lá têm países levantando-se contra a globalização, e o Brasil sempre foi um país fechado. Então, embora o Bolsonaro fale isto, a eleição dele não se dá antiimigrante, mas baseada em segurança pública e corrupção. O contexto é diferente, as motivações são diferentes, embora o discurso seja similar”, explicou, acrescentando que, após eleito, as viagens de Bolsonaro mostram alinhamento a este pensamento, tendo ido aos EUA de Trump, a Israel e tem viagens programadas à Hungria e Polônia. Sobre o impacto para as empresas de tecnologias da informação e comunicação, Magnoli destacou que o levante internacional contra a globalização deve

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“Se queremos ter lugar na vanguarda tecnológica em privacidade de dados, por exemplo, temos de trabalhar com os europeus; se queremos estar na frente no campo da infraestrutura, a discussão é com os chineses.” Demétrio Magnoli Sociólogo

Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_magnoli

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estar no radar porque vai de encontro ao negócio delas. “Não sabemos quem vencerá esta guerra. Mas os governos não podem fazer o que querem, porque as economias estão entrelaçadas. Os EUA não podem fechar as portas ao México, Canadá ou China sem ferir a economia”, disse. Ao analisar a rivalidade crescente entre os Estados Unidos e a China, Demétrio Magnoli apontou que o Brasil tem diante de si a chance de aproveitar a disputa para conseguir acordos favoráveis. Para isto, contudo, não pode tomar posição e deve assumir um posicionamento ativamente neutro na política internacional. “Se queremos ter lugar na vanguarda tecnológica em privacidade de dados, por exemplo, temos de trabalhar com os europeus; se queremos estar na frente no campo da infraestrutura, a discussão é com os chineses”, enfatizou o colunista dos jornais Folha de São Paulo e O Globo e comentarista de política internacional do “Jornal das Dez” da GloboNews. Magnoli pontuou que a política externa de Jair Bolsonaro demostra alinhamento aos Estados Unidos, mas ressaltou que a China é de longe o maior parceiro comercial do Brasil. “Cerca de 33% de tudo que o Brasil exporta vai para China, que também tem

possibilidade de aparecer como grande investidor externo em infraestrutura no País.” Magnoli lembrou que a base da política externa dos Estados Unidos com a China remonta aos anos 1970, quando o presidente Richard Nixon estabeleceu uma aproximação com a China comunista em rivalidade com a antiga União Soviética. Essa diplomacia virou com a entrada de Donald Trump, que se aproxima da Rússia de Vladimir Putin em rivalidade com a China, que, ao longo das décadas, virou uma potência mundial. Para ele, a rivalidade entre EUA e China tem três dimensões: a comercial (Trump se declara o ‘homemtarifa’ e tem a utopia do renascimento da indústria tradicional nos EUA), a militar e a dimensão das infraestruturas de comunicações de redes e tecnologia 5G. “Quem controla a rede de comunicação e redes de infraestrutura tem vantagem militar. Não é assunto apenas econômico, mas ligado à segurança nacional”, enfatizou. Ele assinalou que, seguindo as restrições que alguns países colocam aos equipamentos da China na instalação de redes da quinta geração, os Estados Unidos poderiam impor sanções secundárias aos países que usarem tecnologias chinesas, o que poderia se aprofundar caso o atual presidente dos EUA seja reeleito.

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especial 3ª Convenção Abranet

Fusões e aquisições no horizonte familiares é o financeiro, aquele que vai impor um nível As pequenas e médias operadoras de telecomunicações de governança que, normalmente, elas não têm. “Este e de conectividade à internet começam a ser alvo de investidor financeiro vai querer vender a empresa pelo transações de fusão ou aquisição (M&A, na sigla em máximo possível e em um prazo médio razoável. E a inglês). Dinheiro para financiar uma possível consolidação empresa familiar vai capturar este das empresas de de internet está ganho também.” disponível no mercado, mas, conforme c Já aquelas que são atraentes e destacou Wendel Caleffi c, sócio querem participar de M&A precisam da consultoria EXM Partners, é reunir as informações de forma correta preciso que as empresas façam a para que a due diligence proceda de sua parte para ficarem atraentes aos maneira satisfatória. Segundo explicou investidores. “Aqueles que estão Luis Carlos Szymonowicz d, sóciodispostos a participar deste movimento fundador da Szymonowicz Advogados têm de se planejar, têm de montar Associados, a diligência legal, um plano de negócios para mostrar assim como outros procedimentos, aos investidores que é possível como avaliação, levantamento consolidar e quais são as vantagens. Veja a entrevista: dos documentos, identificação de Dinheiro disponível para este tipo de http://bit.ly/3CA_caleffi problemas e correção, faz parte da movimento tem”, disse. preparação para uma operação de M&A. Os sócios devem avaliar qual é o momento certo de Para ele, ainda existe uma grande informalidade fazer uma transação de fusão e aquisição e com qual nas empresas familiares no Brasil, e há de se ter uma objetivo se está levando a cabo uma operação dessa conscientização pró-formalização. “O Brasil está sendo natureza, por exemplo, avaliando se é melhor crescer por passado a limpo, já evoluiu e não permitirá informalidade. meio de uma aquisição, buscando empréstimos junto a Ao contrário, a formalidade permite bancos ou recorrendo a investidores. crescimento, transparência, gestão, “A velocidade do crescimento vai d governança. E tudo isto agrega determinar o perfil do recurso. Junto a valor”, ressaltou. “Decidir por bancos, o crescimento é um pouco mais fazer é sair da zona de conforto, é lento. Quando se faz uma aquisição, é arregaçar as mangas com o objetivo mais rápido e já vem com uma carteira principal de saber o que se tem, qual de clientes e uma estrutura pronta. é o valor de seu negócio”, pontuou. Quando se traz um fundo de private “Não esconder a poeira debaixo do equity para o negócio, o dinheiro vem tapete, mas apontar solução para ela”, na frente e as aquisições ficam mais acrescentou. fáceis”, detalhou. Em sua análise, as empresas Para Caleffi, o tipo de investidor Veja a entrevista: brasileiras de capital fechado e mais adequado para as empresas http://bit.ly/3CA_luiscarlos

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De olho na transformação digital A transformação digital vai impor mudanças fundamentais às empresas, que terão de passar da visão do lucro ao propósito; da hierarquia para redes de relacionamento; do perfil controlador para o empoderamento; do planejamento para a experimentação; da e privacidade para a transparência. Foi o que destacou o empresário, professor, escritor e CEO da Digital House, Carlos Alberto Júlio e, na Convenção Abranet 2019. Júlio ressaltou que, se não houver envolvimento da alta liderança, nada vai acontecer na transformação digital nas empresas. Outros pontos essenciais são a comunicação e o capital intelectual. “Não tem mão de obra no mercado”, disse o executivo. “Se

profissionalizadas têm foco no padrão das informações e transparência; controles internos e sistemas satisfatórios; consistência nas práticas contábeis e financeiras; ausência de parâmetros de mercado; falta de relatórios/ orçamentos. Já as empresas familiares apresentam contabilidade registrada para fins sociais; presença de informalidade nas operações; ausência de controles internos eficientes; carência de experiência em fusão e aquisição; alta expectativa com relação à transação; e problemas sucessórios. Szymonowicz assinalou que o segmento que abrange as associadas à Abranet ainda não passou por consolidação. De acordo com ele, a consolidação deve vir a acontecer, visto que se trata de um setor com importante movimentação econômica e geração de empregos por ser de prestadores de serviço. “A consolidação depende de um pouco de visão. Nossa perspectiva é que não vai acontecer uma consolidação em massa, mas vai começar pontualmente, por partes ou por alguma empresa e isto vai se avolumando, como foi em vários segmentos da economia. E, quando acontece, ela é avassaladora e, se a empresa não estiver preparada, ela simplesmente fica de fora”, disse.

perdermos o bonde da transformação digital, não alcançamos nunca mais. E a transformação digital nasce na gente primeiro, para depois nascer nas empresas – não é em Brasília”, enfatizou. Para ele, os brasileiros ainda não são digitais, porque usam a tecnologia e não a produzem. É necessário – defendeu – haver uma mudança de mentalidade brutal na população. “A inovação nasce da curiosidade, e não existe curiosidade sem erro. O erro longo e que custa muito quebra uma empresa, mas, se não permitirmos o erro, não permitimos o novo”, complementou. Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_carlosjulio

Wendel Caleffi, da EXM Partners, acrescentou que a empresa que fizer planejamento correto e se preparar passará a valer mais. “Tem de fazer a lição de casa”, destacou. Durante a palestra, ambos os executivos explicaram que o processo de M&A começa com uma carta de intenções, na qual a empresa interessada expressa o que quer comprar, se vai assumir dúvida, quanto vai pagar, o que vai fazer com os funcionários etc. “Toda a mecânica de aquisição vai nesta carta, que vai sofrer alterações até o final da transação”, ressaltou Caleffi. As negociações normalmente se dão em duas etapas, sendo a segunda após a due diligence, quando se analisa a empresa-alvo para averiguar se há problemas. Com base nessas informações, o comprador vai manter ou não o preço ofertado na carta de intenções. Após esta fase, passa-se para o momento da auditoria de contratos. “Se a sua empresa está sempre pronta para ser vendida, com as finanças auditadas e com processo de governança, ela vai valer mais. Se você cuida sempre e gasta pouco dinheiro com isto, o retorno é alto”, disse Caleffi. Para ele, os pontos críticos do processo são a confidencialidade, análise do negócio, planejamento, administração de risco e a estratégia de negociação. abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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especial 3ª Convenção Abranet

Uso seguro da internet A internet está na vida de todos hoje, mas é necessário fazer um uso seguro dela. “As pessoas estão tendo de se preparar e nem todas estão se preparando. Então, isto passa a ser uma responsabilidade social das empresas”, disse Dorian Guimarães f, membro da diretoria da Abranet, em entrevista em vídeo durante a Convenção Abranet 2019. Guimarães destacou a importância de conscientizar as pessoas e falou do papel dos provedores de internet nesse contexto. Explicar a segurança na internet, o que são os algoritmos e fake news são pontos a serem enfatizados.

Mudança consolidada Após quatro anos à frente da presidência da Abranet, Eduardo Parajo g avalia que os dois mandatos ajudaram a consolidar a transformação da Abranet, g iniciada em 2007. “Tenho de agradecer ao grupo de diretores que está com a gente há um bom tempo e que ajudou nessa transformação. Foi bastante gratificante o que conseguimos fazer, e o pessoal ficou unido nesse tempo todo”, disse. Entre os desafios que a associação endereçou nos últimos anos, Parajo assinalou que levar informação relevante e de qualidade foi fundamental para instruir os associados, mostrando caminhos a seguir. “É um mercado de empreendedor nato, seja ele do acesso,

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Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_dorian

do aplicativo, do facilitador de pagamento, do conteúdo. É um mercado muito grande e a Abranet, felizmente, tem este lado heterogêneo e plural.” Na entrevista, o agora ex-presidente fez um balanço dos últimos três anos da Convenção Abranet, que foi totalmente reformulada em 2017. “A ideia do formato do evento surgiu em um momento que o Brasil enfrentava uma crise bastante difícil. Tivemos a ideia de fazer um modelo diferente, em que o pessoal pudesse pensar fora da caixa com a gente dando subsídio para isto, com conteúdo de formação, gestão”, apontou. “Na associação, sempre tivemos a preocupação em falar de inovação, porque o acesso à internet está cada dia mais commodity, então, se não tiver inovação neste processo, a concorrência e o próprio mercado acabam achatando demais os preços”, finalizou. Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_parajo


Evolução da tecnologia e mudanças regulatórias estão no foco da Abranet Tecnologia para acompanhar a evolução das redes, infraestrutura e aplicações, a proteção de dados pessoais na internet e a resolução de entraves tributários são alguns dos desafios que estão no foco da gestão de Eduardo Neger h, iniciada em 1º de abril. Neger assume o comando da entidade para os próximos dois anos, no período 2019/2021. Eduardo Parajo, que esteve à frente da Abranet nos últimos dois biênios, passa a responder pela vice-presidência. A seguir, entrevista realizada com Eduardo Neger durante a Convenção Abranet 2019.

Abranet – Quais são as prioridades da nova gestão? Eduardo Neger – Quando falamos da cadeia de valor da internet, temos desafios que sempre passam pela área tecnológica, como acompanhar a questão da infraestrutura, a evolução das redes e, consequentemente, como acompanhar a questão das aplicações. E, quando falamos de Abranet, falamos de uma entidade que reúne um conjunto heterogêneo de empresas tendo a internet como o fio condutor. O papel de uma entidade é aproximar os associados para o desenvolvimento de negócios entre eles próprios, e esta é uma grande vantagem, porque, entre si, eles podem desenvolver novos conjuntos de soluções. Mas o grande desafio é conseguir ajustar a velocidade da evolução da tecnologia com a velocidade das mudanças no campo regulatório. Muitas vezes o campo regulatório acaba emperrando o desenvolvimento de novos negócios, e o papel da entidade é justamente criar um ambiente favorável. Quais são as principais preocupações e o que é mais urgente? A internet sempre foi dependente da infraestrutura de telecomunicações, então, a relação entre internet e telecom continua sendo bastante importante. Ressalto questões que envolvem regulação do compartilhamento de infraestrutura e a parte tributária, pois os níveis tributários são muito altos e as empresas perdem competitividade. Como as empresas de internet podem tirar melhor proveito das novas tecnologias? Quando falamos de empresas brasileiras – muitas até de pequeno e médio porte – atuando no segmento de desenvolvimento

h

Veja a entrevista: http://bit.ly/3CA_neger

de tecnologia, isto pode parecer desafiador e complexo, mas temos de lembrar que boa parte do ecossistema de startups está vinculado a aplicações na internet, porque é um campo fértil. Nós pensamos que o ponto principal para o desenvolvimento de novas tecnologias na internet está na identificação de nichos de mercado, como o agronegócio e a área de extrativismo mineral. São setores em que o Brasil é líder mundial e usa tecnologia embutida nas commodities como fator de diferencial competitivo. Qual a recomendação às empresas que buscam inovar? Nós, da Abranet, muitas vezes nos surpreendemos com o que os nossos associados fazem, porque cada um conhece melhor o seu nicho de mercado. Há associados que colocam como foco atender ao mercado corporativo, outros têm a visão de que o corporativo não é rentável, focam em determinado nicho na região e vão atender ao consumidor final. Cada um entende melhor do seu segmento. O grande segredo está em não transformar a sua empresa em uma cópia em miniatura de uma grande operadora, mas, sim, entender o mercado e ser eficiente. Nichos de mercado específicos podem não envolver tanto investimento e, sim, o desenvolvimento de soluções, a partir do conhecimento do mercado e do consumidor. abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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TECNOLOGIA

FTTH explode na

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Roberta Prescott

América Latina

A fibra ótica tem sido o elemento de transformação da infraestrutura de redes no Brasil. Dados da Anatel mostram que, hoje, há 9.486 empresas de SCM em atividade. Para a Abranet, é hora de buscar a profissionalização dos negócios.

O ano de 2018 foi de consolidação da FTTH (fiber-tothe-home, ou fibra para o lar) na América Latina; os operadores adotaram massivamente a fibra ótica como tecnologia para a plataforma de ultra banda larga. Números apresentados por Eduardo Jedruch, presidente da Fiber Broadband Association para a América Latina, durante o Fiber Connect Latam 2019, realizado em março, em São Paulo, apontam que Brasil e México respondem por 70% do mercado de FTTH, enquanto na Argentina o mercado ainda está decolando. Jedruch enfatizou que as operadoras estão levando a transformação de infraestrutura de maneira eficiente, com

o desenvolvimento da fibra ótica. “A região segue sendo emergente em FTTH, a penetração melhorou muito, mas ainda há muito a fazer, e as previsões de crescimento são muito boas. No entanto, para manter estes níveis de crescimento, são necessários aspectos regulatórios, novas arquiteturas e tecnologias”, disse. No Brasil, quase 20% dos acessos de banda larga fixa são feitos por meio de fibra ótica, segundo estudo recente divulgado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ainda que cabos metálicos (41,9% de market share em 2018) e cabos coaxiais (30,6%) liderem como tecnologias mais usadas, a fibra está, desde 2016, em franco crescimento

Desafios dos pequenos prestadores de SCM Um dos responsáveis pela expansão da fibra ótica no Brasil têm sido os pequenos prestadores de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). No entanto, as pequenas e médias operadoras de telecomunicações enfrentam vários desafios, envolvendo desde questões administrativas até regulatórias e burocráticas. De acordo com o atual vice-presidente da Abranet, Eduardo Parajo, 2018 encerrou com mais de 9 mil pequenas/médias operadoras. “Temos um mercado bastante carente e, por isto, os pequenos operadores cresceram. Eles começaram de forma muito simples. Por isto, destaco a necessidade desse pessoal buscar a profissionalização das empresas”, ressaltou. Há desafios relacionados tanto à profissionalização, seja administrativa, financeira, contábil ou técnica, quanto às

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questões regulatórias. “Temos um excesso de obrigações, de burocracia, de complexidade dos processos e fiscalização. Há necessidade de desregulamentação, porque as obrigações são desproporcionais comparadas ao tamanho das empresas. Uma multinacional tem as mesmas obrigações que uma pequena”, disse Parajo. A diminuição da quantidade de regulação necessária para as empresas não é pleito apenas dos pequenos prestadores, mas do mercado todo, lembrou Parajo. Outro ponto levantado pelo vice-presidente da Abranet está relacionado à tributação. “A carga tributária é alta e complexa. São 5 mil normas tributárias. Há necessidade de reforma tributária, porque precisamos de um ambiente mais favorável aos empreende-


e no ano passado representou 18,5% do total de acessos. Conforme enfatizou Humberto Pontes Silva, assessor técnico da Anatel, no fim de março, o único serviço que seguia crescendo era o de banda larga fixa. “São 9.486 empresas que proveem serviços de internet. Existe um mercado enorme para fibra ótica no Brasil”, disse, completando que a Anatel vem mapeando a infraestrutura de fibra ótica nacional para o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (PERT). “A iniciativa vai mapear a presença de fibra nos municípios e ainda não está finalizada. Vamos identificar os gaps”, explicou. Silva destacou que a presença da fibra impulsiona a densidade de acessos quando comparada a municípios sem ela. “O papel da fibra ótica é fundamental para alavancar a banda larga no Brasil”, ressaltou. Para José Tavares, gerente de Customer Success da Arris, a fibra ótica é a resposta para a demanda do usuário, que tende a querer cada vez mais serviços simétricos. “O que impulsiona o crescimento de banda são os serviços relacionados a vídeos. O consumo de banda vai continuar crescendo, talvez não tão rapidamente, mas veremos o uso de várias tecnologias combinadas para suportar a demanda, um mix de tecnologias para fornecer o acesso ao assinante e, cada vez mais, os assinantes vão dar valor à qualidade dos serviços dentro de casa”, disse Tavares.

dores e não tão complicador”, assinalou. Os impostos chegam a 43% nas contas, e há entendimentos equivocados com relação ao recolhimento de ICMS pelos fiscos estaduais, que ignoram que não há incidência desse imposto na parte de internet. “Nada disto facilita o crescimento dessas empresas. A única saída é a reforma tributária, com simplificação de impostos, e deixando claro o que é tributado e por quê seguindo o que está na lei que diz que internet não é telecom e separar estes serviços definitivamente.” Parajo também chamou atenção para a necessidade de compartilhamento de redes, ativos e postes. “Esse é um tema bastante importante no Brasil e precisamos avançar. Temos de racionalizar os investimentos. Se todos forem construir no mesmo lugar, melhor compartilharmos a infraestrutura, assim, aumentamos a malha e racionalizamos os investimentos.”

SP: enterramento dos fios ainda está na pauta Faltam projetistas e executores especializados, bem como empresas capacitadas, para fazer o enterramento dos fios na cidade de São Paulo. A reclamação foi feita pelo secretário municipal de Serviços e Obras, Vitor Levy Castex Aly, durante o Fiber Connect Latam 2019, evento da Fiber Broadband Association. Para ele, as empresas de telecomunicações também são responsáveis pela demora nos programas de enterrar fios e ordenar postes. Outros problemas enfrentados durante a execução do programa SP sem Fio estão relacionados à liberação do trânsito nas vias e à solicitação dos lojistas para interromper as obras em época de festas. O programa, iniciado em julho de 2017, é uma parceria entre a prefeitura, a Enel (ex-Eletropaulo) e as empresas de telecomunicações e, segundo o secretário, não conta com recursos financeiros da prefeitura. Ele está sendo executado em três regiões. Na região central, serão beneficiadas 117 ruas, com remoção de 2.109 postes e o enterramento de 52 quilômetros de fios. Do total, apenas 14 ruas foram concluídas, com remoção de 101 postes e enterramento de 30 km de cabos. Na Vila Olímpia, as obras civis das 13 vias (parte delas, na verdade) previstas estão concluídas. O projeto prevê 4,4 km de fios enterrados e 321 postes removidos. No entorno do Mercado Municipal, o projeto contempla 40 ruas, com retirada de 584 postes e 9 km de fios enterrados. “Temos interesse em avançar em valas técnicas, na ordenação do nosso subsolo, fazendo a gestão dele. Mas não dá pra planejar os eixos e na semana seguinte você rasga a avenida, porque não houve articulação e a informação não estava lá. Precisamos organizar a bagunça do subsolo”, ressaltou o secretário em sua apresentação. Ele reclamou que a prefeitura não pode legislar sobre o uso do subsolo e penalizar as empresas. “Não temos o poder de forçar de modo mais incisivo a transformação da cidade. Estamos trabalhando em Brasília para que este poder decisório venha para o município.” abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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PANORAMA

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Roberta Prescott

Transformação digital

leva à inovação Entender o conceito é o primeiro passo para colocar a empresa na rota da mudança. Atender melhor ao cliente e aumentar a rentabilidade são os principais benefícios. Cedo ou tarde, empresas de todos os portes irão passar pela transformação digital. Mas o que é transformação digital? Em uma explicação resumida, é o uso de tecnologias para aumentar significativamente o desempenho empresarial. Para compreender sua abrangência, é preciso entender que se trata de um processo e não da adoção isolada de um único recurso, como computação em nuvem, inteligência artificial, blockchain, machine learning (aprendizado da máquina) ou big data. “Muitas empresas acreditam que apenas investindo em soluções tecnológicas para pautar seus processos estão de fato caminhando em direção à transformação digital. Contudo, a tecnologia deve ser vista apenas como um meio e não como um fim”, diz Silvia Folster, CEO da Cianet. Ela enfatiza que a transformação digital deve ser encarada como um processo contínuo de mudança e adaptação a novas oportunidades para o negócio, independentemente do setor de atuação. Pietro Delai, gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil, afirma que, de forma geral, as grandes empresas, prin-

cipalmente as multinacionais, estão mais adiantadas, pois já têm um processo estabelecido de transformação digital. “Quando se fala dos mercados de médias e pequenas, a transformação é mais reativa, e enquanto algumas viram a chave mais rapidamente, outras enfrentam dificuldade em fazer a readequação”, sublinha. Para as os provedores de serviços de internet, a transformação digital é fundamental. “Enquanto se está em um ambiente ‘comoditizado’ e só vendendo uma banda larga, é muito difícil surfar a onda da transformação digital. Então, é preciso começar a se transformar e, basicamente, trabalhar a inovação”, aponta Delai, ressaltando que inovação e invenção são coisas distintas. Ele sugere que o empreendedor entenda o que os clientes têm de demanda e o que alguém está fazendo para contribuir com isto, mesmo que vá buscar a ideia em outro segmento que não o de prover internet. Outra ideia é ter

“Muitas empresas acreditam que apenas investindo em soluções tecnológicas para pautar seus processos estão de fato caminhando em direção à transformação digital. Contudo, a tecnologia deve ser vista apenas como um meio e não como um fim.” Silvia Folster CEO da Cianet 24

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Divulgação


Passo a passo ¶ Comece sempre de dentro para fora,

a partir de uma reflexão que envolva os gestores e os times sobre quais informações são relevantes para o negócio, tais como o que mantém a empresa à frente no mercado, como está o relacionamento com os clientes, como os concorrentes estão avançando.

¶ Analise se os colaboradores são

foco em algum segmento, nicho e ser especialista nisto. “Simplesmente a venda de banda larga não vai colocar as empresas de internet na onda da transformação digital. A oportunidade está em entender a lacuna que existe para oferecer algo melhor aos clientes”, afirma Delai, da IDC. A CEO da Cianet acrescenta que as empresas de internet ainda utilizam pouco os dados que possuem para se diferenciar no mercado e, por vezes, desconsideram a diversificação de seus pontos de contato com o cliente para a captação de informações relevantes e únicas. Ela recomenda iniciar com uma reflexão envolvendo os gestores e times sobre quais informações são de fato relevantes. “Muitas empresas de internet estão buscando informações, desejando transformações que agreguem valor aos negócios, mas ainda mantêm suas lojas físicas, atendendo a um perfil de consumo legado. Outras já começaram a jornada da transformação digital, mas ainda estão aprendendo como internalizá-la e levá-la da melhor forma possível ao mercado”, enfatiza. Como em qualquer processo de mudança, as pessoas precisam sair da zona de conforto. Por isto, é essencial uma comunicação transparente sobre quais objetivos a empresa espera alcançar. Além disso, Silvia Folster alerta que a transformação digital não deve ser vista como um

capazes de explorar as oportunidades com agilidade, se as experiências e lições aprendidas são compartilhadas e se a empresa conta com as competências necessárias para sustentar a transformação digital.

¶ Avalie se a empresa possui as

tecnologias e ferramentas para processar de forma rápida e segura as informações que agregam vantagem competitiva ao negócio.

¶ Avalie a estrutura, os processos e as

pessoas da empresa: os colaboradores e líderes são as peças-chave e precisam receber grande atenção ao longo da transformação digital.

A transformação digital envolve correr riscos e estar vulnerável a cometer erros. Só uma cultura bem definida e arraigada pode fazer a diferença para a empresa e os negócios. Fonte: Silvia Folster, CEO da Cianet

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projeto com início, meio, fim e um único responsável, mas como parte da estratégia da empresa. Os principais benefícios são atender melhor ao cliente e aumentar a rentabilidade. “Isto só se consegue se tiver escala, e para ter escala é preciso estar não apenas estruturado tecnologicamente, mas também com todos os processos preparados. Só com escala há melhora na rentabilidade”, reforça Pietro Delai, da IDC Brasil. Para Silvia Folster, da Cianet, competitividade no presente e sustentabilidade no futuro são os principais ganhos a serem obtidos com a transformação digital. “Para se torna-

rem competitivas, as empresas de internet costumam baixar preços. Contudo, para conquistar os clientes com uma visão de longo prazo, essa estratégia pode apertar a margem e a lucratividade, além de canibalizar o mercado.” Ainda de acordo com ela, a transformação digital possibilita enxergar as oportunidades de competição, “Por exemplo, encontrando os gaps que os concorrentes estão deixando, identificando os locais onde está havendo maior crescimento, otimizando recursos e infraestrutura, e desenhando ações que considerem as necessidades do cliente em um ambiente digital, dinâmico e em constante evolução”, ressalta.

Como está o cenário brasileiro apesar de muito comentada, a transformação digital está longe de ser uma realidade no Brasil. A maioria das empresas brasileiras de grande e médio porte ainda está investindo com cautela e muito lentamente. Pesquisa patrocinada pela Dell Technologies e realizada pela Vanson Bourne no segundo semestre de 2018 – que resultou no relatório Índice de Transformação Digital da Dell Technologies (DT index) – mostrou que apenas 6% das empresas brasileiras podem ser consideradas líderes digitais, ou seja, já têm a digitalização enraizada no negócio. O estudo, em parceria com a Intel, apontou o progresso da transformação digital das empresas consultadas e examinou as expectativas e medos digitais

dos líderes empresariais nos próximos cinco anos. Globalmente, foram feitas 4.600 entrevistas para mapear os progressos de transformação digital de empresas de médio e grande porte em 42 países. Para essa edição, foram entrevistados profissionais de 100 empresas líderes no Brasil. Das entrevistadas, 33% estão avaliando as soluções, fazendo experimentações e destinando algum recurso para isto, ou seja, investem de forma gradual e com maior cautela; 22% ainda se movem muito lentamente, avaliando o que podem adotar, mas sem ter programa de investimentos voltado para transformação digital e 2% nem sequer têm um plano digital em vigor, sendo chamadas de retardatárias

“Por que a transformação digital está se tornando prioritária? Porque ela está mudando a forma como vivemos, trabalhamos e conduzimos os negócios. As oportunidades são ilimitadas, mas as empresas precisam se mover.” Luis Gonçalves Vice-presidente sênior e gerente-geral da Dell EMC Brasil

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“Simplesmente a venda de banda larga não vai colocar as empresas de internet na onda da transformação digital. A oportunidade está em entender a lacuna que existe para oferecer algo melhor aos clientes.” Pietro Delai Gerente de Consultoria e Pesquisa da IDC Brasil

digitais. Juntas, elas somam 57%. Além dos 6% das empresas brasileiras que podem ser consideradas líderes digitais, 37% são adotantes digitais, ou seja, ainda em processo de adotar a transformação digital, mas já segregando parte dos investimentos para isto e tendo um plano digital maduro e investimentos em inovação. Ao apresentar os resultados da pesquisa, Luis Gonçalves, vice-presidente sênior e gerente-geral da Dell EMC Brasil, explicou que os mercados emergentes estão avançando mais rapidamente, e uma das razões para isto é que neles há menos legado. “Por que a transformação digital está se tornando prioritária? Porque ela está mudando a forma como vivemos, trabalhamos e conduzimos os negócios. As oportunidades são ilimitadas, mas as empresas precisam se mover”, disse, lembrando que 26% dos entrevistados afirmaram temer que suas organizações se tornem obsoletas em cinco anos, sendo ultrapassadas pela concorrência. A pesquisa mostrou também que os líderes ainda enfrentam barreiras: 86% disseram que têm grandes barreiras para a transformação digital; enquanto 82% acreditam que as iniciativas de transformação devem ser mais difundidas; um quarto está preocupado com as dificuldades de atender às demandas dos clientes; 26%

temem que suas empresas não acompanhem a evolução e se tornem obsoletas; e apenas 15% acreditam fortemente que estarão na posição de incomodar em vez de serem incomodadas pela concorrência em cinco anos. Entre os principais entraves, 33% apontaram a regulamentação ou mudança nas leis; 31%, a preocupação com privacidade e segurança dos dados; 30%, a sobrecarga de informação; 26%, a fraca governança e estrutura digital; e 24%, a falta de conjuntos de habilidades e conhecimentos internos adequados. Para superar as barreiras, 67% usam tecnologias digitais para acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços; 53% adotam o desenvolvimento ágil; 67% estão implementando sistemas de segurança e privacidade em todos os dispositivos; 70% se esforçam para desenvolver as habilidades necessárias para a força de trabalho, como programar, por exemplo; e 63% compartilham conhecimento entre as funções. Ainda segundo a pesquisa, as empresas estão alocando seus investimentos no ambiente multicloud (62%), em cibersegurança (61%), em IoT (57%), em inteligência artificial (55%); na abordagem de computação centrada (48%), em tecnologia flash (43%), em realidades virtual e aumentada (43%) e em blockchain (38%). abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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Rede varejista instala Wi-Fi, dá acesso gratuito e aumenta vendas A Bemol, rede varejista da região da Amazônia Ocidental com pouco mais de 20 lojas físicas e três centros de distribuição localizados em Manaus/AM, Porto Velho/ RO, Boa Vista/RR e Rio Branco/AC e cerca de 2.100 colaboradores, entendeu que a principal barreira para as vendas pelo comércio eletrônico nas cidades do interior do estado do Amazonas era a falta de conexão à internet. Diante disso, decidiu expandir o projeto de conexão à internet aos clientes e instalou uma rede Wi-Fi na cidade de Autazes, na região metropolitana de Manaus. Após apenas um mês, a rede viu o número de pedidos subir de três para 120. Agora, planeja expandir o projeto para outras regiões, conforme contou em entrevista à Abranet Jesaias Arruda, responsável pelo departamento de Tecnologia da Informação da empresa. O projeto de Wi-Fi começou para atender a demandas internas, dentro das lojas, como na área de logística

e, depois, no inventário das mercadorias. Com a infraestrutura funcionando, a Bemol iniciou uma ação que ganhou ramificações ao longo dos anos e hoje é um importante vetor de negócios. A rede varejista implantou em suas lojas pontos de acesso Wi-Fi para os clientes. Não há cobrança para navegar na internet, mas o tempo online é estabelecido segundo alguns critérios, como a categoria do cartão Bemol – são cinco categorias e o período de acesso vai de uma a seis horas, conforme o nível, e inadimplentes têm apenas cinco minutos. Atualmente, a Bemol contabiliza 1,6 milhão de clientes nos estados do Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima. Arruda conta que a empresa teve a ideia de colocar Wi-Fi em Educandos, um bairro de classe C/D de Manaus, para que os clientes que fossem moradores pudessem usar e também atrair não-clientes. “Nos

“.br” completa 30 anos com mais de 4 milhões de nomes registrados O domínio “.br” completou, em abril, 30 anos, com 4 milhões de nomes registrados, abrangendo as mais variadas iniciativas conectadas à internet no Brasil. Nessas três décadas, o “.br”, operado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), firmou-se como um dos “domínios de topo para código de país” (ccTLD ou country-code Top Level Domain) mais bem-sucedidos do mundo. No dia 18 de abril de 1989, Jon Postel – da IANA, entidade responsável pela atribuição de domínios de topo – delegou o “.br” ao grupo que operava redes acadêmicas

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na Fapesp. Inicialmente, o “.br” foi usado para identificar máquinas no ambiente acadêmico, os registros eram poucos e feitos manualmente. “Postel considerou que a comunidade brasileira já tinha maturidade para administrar o “.br” e o delegou”, lembra Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, um dos integrantes do grupo original da Fapesp. Em 1991, com o acesso à internet já estabelecido no Brasil, foi criada uma estrutura de nomes sob o “.br”, contemplando os subdomínios “gov.br”, “com. br”, “net.br”, “org.br” e “mil.br” – respectivamente destinados ao governo, empresas, organizações sem


lugares em que colocamos, tínhamos clientes com dívidas há seis meses, que são consideradas incobráveis. Mas observamos o pagamento do déficit”, disse. O pagamento das dívidas mostrou que a estratégia estava certa e que os investimentos acabavam se pagando. Educandos foi o primeiro bairro a receber a iniciativa. A Bemol, por meio de parceiros, instalou 99 hotspots e passou 10 quilômetros de rede de fibra ótica. Depois, a varejista expandiu o projeto para o centro da cidade de Manaus, colocando 28 km de rede de fibra ótica e 350 hotspots. Questionado se isso fez com as pessoas buscassem uma categoria mais alta do cartão, Arruda disse que sim e explicou que a migração de categoria se dá com o maior uso nas compras. “Conforme a pessoa vai fazendo as compras, vai migrando de categoria; tivemos situação de pessoas terem consumo maior nas lojas para terem mais tempo de acesso.” Expansão Em 2017, os acessos chegaram a 20 milhões e a Bemol já conseguia rentabilizar a rede. Diante do resultado, colocou em prática um projeto arrojado. Escolheu a cidade de Autazes para ser o piloto de um projeto de levar internet para fomentar o comércio

Confira a trajetória dos 30 anos do “.br” narrada em vídeo animado em http://youtu.be/cGeKlwVbCNk fins lucrativos e Forças Armadas. A partir da expansão da internet comercial no País, em fins de 1994, o “.br” cresceu rapidamente: de 851 domínios registrados em janeiro de 1996, alcançava mais de 7.500 nomes no mês de dezembro daquele mesmo ano.

eletrônico. “Nesta cidade, não temos loja, mas queríamos potencializar as vendas. Fazíamos duas ou três vendas por mês para lá, pelo e-commerce, mas a logística para chegar é difícil”, contou Arruda. Para se chegar a Autazes desde Manaus, leva-se uma hora de balsa, mais duas horas de carro e mais uma hora de balsa. A Bemol instalou Wi-Fi na praça e anunciou que o caminhão com as mercadorias adquiridas online faria entregas regulares na cidade. “Em 15 dias, colocamos a internet Wi-Fi e começamos a ter um acesso bom. Em 20 dias, tínhamos 2 mil logins únicos e, destes, 500 pessoas não eram clientes. Quando a pessoa se loga na rede, consultamos SPC e Serasa e emitimos cartão”, explicou. Em abril, a Bemol completou um mês de operação neste sistema e contabilizou 120 pedidos, totalizando R$ 75 mil de faturamento. É um salto de três para 120 pedidos por mês, obtendo um faturamento bem acima dos R$ 30 mil estimados pela empresa quando pensou o projeto. Agora, a Bemol estuda fazer a mesma implantação em mais 30 cidades até dezembro deste ano. “O objetivo é crescer no Amazonas, depois para Rondônia e avançar para Roraima. O modelo tem um custo pequeno diante do potencial de faturamento”, apontou Arruda.

O processo passou a ser automatizado, e a marca de 1 milhão de domínios foi atingida em 2006, dez anos depois. Os 4 milhões de nomes registrados colocam o domínio brasileiro entre os maiores do mundo. Dentre os cerca de 300 domínios de país existentes, o “.br” é o 7º mais popular. Em sua evolução, o “.br” manteve suas características específicas, como a preservação da semântica das categorias de nomes. Assim, com a criação de novos subdomínios, passou a ter mais de 120 opções. Há categorias para interesses específicos (como “ong.br”, “art.br”, “eco.br”), para profissionais liberais (como “bio.br”, “adm.br”, “mus.br”, “med.br”, “eng.br”), que identificam cidades (por exemplo, “rio.br”, “manaus.br”, “cuiaba.br”, “floripa.br”, “foz.br”), entre outras. No Brasil, 92% das empresas que possuem website usam o domínio “.br”, de acordo com a pesquisa TIC Empresas 2017, do CGI.br. abranet.org.br abril / maio / junho 2019

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opinião Lahis Almeida Desenvolvedora de Internet das Coisas na ART IT, especializada em soluções e serviços de TI

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Blockchain: aplicações práticas e eficientes no mercado empresarial Blockchain é uma das tecnologias emergentes de destaque no cenário mundial. Inicialmente criada para possibilitar transações seguras entre bitcoins, seu potencial vem alcançando outras aplicações que não se restringem às criptomoedas, atraindo o interesse de bancos, empresas e governos. Confira algumas delas: 1. Contratos inteligentes Os contratos inteligentes são pequenos programas que automaticamente realizam acordos entre várias partes quando determinadas condições são cumpridas. Como esses miniprogramas são executados em blockchain, não há intermediários para gerenciar a transação ou cobrar taxas. Assim, aplicações como empréstimos e títulos de propriedade podem ser gerenciados e processados automaticamente, e dados confidenciais como registros médicos podem ser protegidos e acessados somente por certas pessoas sob condições predefinidas. A plataforma de Internet das Coisas Slock.it, por exemplo, oferece contratos inteligentes para permitir que o cliente alugue, venda ou compartilhe propriedades, sejam elas uma bicicleta ou um apartamento. 2. Pagamentos e transferências de dinheiro O envio e o recebimento de pagamentos são as aplicações mais populares de blockchain atualmente, uma vez que seu início esteve diretamente relacionado com as criptomoedas. Em e-commerces e transferências internacionais, essa tecnologia surge como alternativa aos cartões de crédito e PayPal. Com o blockchain, a transferência de fundos é realizada de forma direta, rápida e segura para qualquer pessoa do mundo a taxas muito baixas. Esta última característica se dá por conta da inexistência de intermediários, o que diminui a transferência de fundos entre

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bancos e taxas de transações excessivas. Empresas como a Abra, a Bitwage e a Coinpip são destaques na realização de transferência de fundos e administração da folha de pagamento por meio de blockchain. 3. Armazenamento em nuvem distribuído O armazenamento em nuvem será outra aplicação de blockchain da qual as empresas poderão se beneficiar. A maioria das empresas opta por utilizar os serviços em nuvem oferecidos por grandes nomes, como Amazon ou Google, para armazenamento e acesso de seus dados. Para isso, porém, revelam grande parte de suas informações comerciais. Além disso, esses serviços podem chegar a um alto preço e muitos dos principais provedores ainda se mostram vulneráveis a ataques externos. Dentro desse contexto, o blockchain pode ser utilizado pelas empresas proporcionando bancos de dados confiáveis, descentralizados, criptografados e não editáveis. 4. Recursos Humanos Muitas vezes o setor de RH é criticado pela falta de transparência e confiabilidade. No processo de recrutamento, por exemplo, é comum empresas serem acusadas de ocultarem informações do processo para alavancar posições de terceiros. Para resolver esse problema, empresas, órgãos governamentais e instituições de ensino poderão fazer uso do blockchain, fornecendo parte dos dados do candidato para ser armazenada de maneira imutável na rede de blocos. Por exemplo, durante o processo educacional, o desempenho acadêmico será registrado em um ID individual de um aluno, que é então armazenado em blockchain e permitirá que cada empregador avalie o progresso acadêmico verdadeiro de um candidato.

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