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CAPA Governança e sustentabilidade estão fazendo a diferença nos negócios, e não apenas para grandes empresas. Pequenas e médias começam a incorporá-las em seus processos.

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ESPECIAL

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Sua empresa está engajada em ESG?

Governança e sustentabilidade estão fazendo a diferença nos negócios, e não apenas para grandes empresas. Pequenas e médias começam a incorporá-las em seus processos.

A SIGLA ESG – environmental, social and governance, em inglês – está incorporada ao vocabulário de sua empresa? Se ainda não faz parte, saiba que está na hora de entender o conceito e colocá-lo em vigor. Empresas de todos os portes serão cobradas por suas responsabilidades ambientais e sociais e pela governança. E as grandes estão, cada vez mais, exigindo que as PMEs tenham seus processos produtivos em conformidade com práticas sustentáveis.

“As pequenas empresas precisam trabalhar com o conceito até porque as

grandes companhias que as contratam começam a avaliar se seus fornecedores têm práticas ESG. Isso será um diferencial para as pequenas e médias, que terão de inserir ESG no dia a dia, nos projetos”, ressalta Marcus Nakagawa, professor da ESPM, autor e palestrante sobre o tema.

“Muito se tem falado sobre ESG, e temos certeza de que isso não é uma moda, é definitivo. O dinheiro vai para quem é sustentável. Não é só produzir, é como produzir. E essa premissa acaba valendo para todas as áreas de atuação, já que envolve preservar o meio ambiente, trabalho digno, oportunidades para as pessoas, entre tantas ações”, aponta Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU (leia mais no box na página 11).

Para Pereira, ESG é como o mercado financeiro enxerga a sustentabilidade corporativa nos pilares meio ambiente, social e governança. “O acrônimo ESG foi cunhado numa publicação de 2004 do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do então secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais”, explica o diretor-executivo. “Então, ESG nada mais é do que a sustentabilidade corporativa, que faz parte do cotidiano também das PMEs. E precisamos da união e do esforço de todo o setor privado para impactar realmente o planeta”, acrescenta.

Nos últimos anos, o interesse empresarial na gestão ambiental e social, integrada com a governança corporativa, aumentou de forma significativa. As empresas estão cada vez mais interessadas em legitimar boas práticas perante a sociedade. “A gestão responsável dos recursos naturais e do capital humano é, claramente, uma parte importante da missão empresarial. Uma estratégia sustentável é aquela que visa a minimizar os efeitos negativos das operações de uma empresa no meio ambiente e comunidades locais, tratando as externalidades negativas. Nesse contexto, todas as

empresas de grande, médio e pequeno porte podem adotar práticas responsáveis considerando os fatores ESG na gestão empresarial”, explana Maria Teresa Saraiva de Souza, professora do Centro Universitário FEI no programa de pós-graduação de gestão ambiental e sustentabilidade.

Em muitos casos, diz ela, adotar práticas sustentáveis não requer investimentos vultosos. Como exemplo, cita a adoção de medidas simples de redução de consumo de recursos naturais como água e energia, o que não implica aumento de custos.

COMO COMEÇAR

Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, afirma que muitas empresas já praticam o ESG, ainda que não o chamem assim. “ESG nada mais é do que sustentabilidade. E sustentabilidade não é inserido nas estratégias de negócio das empresas. Não é apenas o impacto no meio ambiente, como sabemos. Uma apenas o mercado que vai diminuir o investimento em emempresa que está em conformidade com práticas ESG en- presas que não são sustentáveis. Outras companhias não tende quais são seus impactos negativos e positivos na so- farão negócios com essas empresas, os consumidores não ciedade e consegue agir sobre eles”, reforça. É necessário comprarão mais os produtos. Além, é claro, do dever comminimizar os efeitos negativos e potencializar os positivos, partilhado de cuidar do planeta, oferecer trabalho digno, assim como equacionar os prejuízos já provocados. diversidade ou ter práticas anticorrupção”, aponta Pereira.

Uma estratégia é a empresa estar alinhada aos dez prin- O diretor-executivo explica que alguns compromissos cípios universais advogados pelo Pacto Global da ONU. são mais difíceis e exigem investimentos, como o carbono “Não há um caminho mais fácil ou melhor para iniciar zero, por exemplo, mas isso não é uma “exigência para esse processo, são caminhos paralelos. E isso deve estar amanhã”. O importante, frisa, é começar. Outros pontos a serem observados pelas empresas são aumentar a participação de mulheres e pessoas negras em car“Estamos gos de alta liderança, preocupar-se com a gestão atrasados dentro dos resíduos, a utilização racional de água e ou tros recursos. “Estamos atrasados dentro dos Ob dos Objetivos de jetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, então precisamos acelerar. E as PMEs Desenvolvimento fazem parte dessa luta também.” Sustentável da Marcus Nakagawa, da ESPM, enfatiza que as boas práticas podem ser simples. “A primeira coisa ONU para 2030, que estamos discutindo é seguir as leis; e, muitas então precisamos vezes, as PMEs não conseguem fazê-lo, até por CARLO PEREIRA acelerar. E as PMEs falta de conhecimento e burocracia. Então, tem de conhecer a legislação, que é o básico para operar, e Diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU fazem parte dessa luta também.” fazer varredura dentro da empresa para ver se estão sendo cumpridas leis e normas”, ensina o professor. O segundo ponto, diz ele, é ir além da lei. Na

“As grandes companhias começam a avaliar se seus fornecedores têm práticas ESG. Isso será um diferencial MARCUS NAKAGAWA para as pequenas e Professor da ESPM médias empresas.”

A visão do mercado

EM ABRIL DE 2021, a Amcham Brasil realizou uma pesquisa com 178 lideranças, a maioria de nível de diretoria (C-levels, 63% sendo CEOs, presidentes, vice-presidentes, sócios e diretores) ou gestores executivos (28% sendo gerentes). Segundo 91% dos entrevistados, o tema ESG pode trazer benefícios para a empresa e eles já identificaram vantagens na prática, sendo que 68% apontaram o conhecimento de benefícios diretos para a empresa e a gestão e 23% falaram em benefícios ainda indiretos.

Além disso, 89% das empresas pesquisadas afirmaram possuir algum nível de investimentos direcionados para inovação tecnológica e/ou metodológica, rumo a práticas mais sustentáveis, sendo que 46% delas têm implementado na organização um conjunto de tecnologias ou metodologias capazes de mitigar impactos ou criar soluções nesse sentido.

Com relação a normas e legislação ambiental, a pesquisa da Amcham apontou que 40% cumprem a legislação e vão além, investindo também para obter certificações e selos na área ambiental. O escopo da pesquisa ESG: Expectativas, Empresas e Gestão 2021 abrangeu grandes multinacionais brasileiras e estrangeiras (62%), PMEs brasileiras e estrangeiras (31%), além de startups e microempresas (8%).

Um estudo do Capgemini Research Institute, que inclui o Brasil entre os mercados pesquisados, apontou que, enquanto metade das empresas já definiu uma abordagem de sustentabilidade, apenas 18% possuem uma estratégia abrangente de TI sustentável. O documento TI Sustentável:

Por que é hora de uma revolução Verde para

a TI da sua organização afirma que, enquanto 22% das empresas pesquisadas planejam reduzir mais de um quarto de sua pegada de carbono por meio de TI sustentável nos próximos três anos, 89% das organizações reciclam menos que 10% de seu hardware de TI.

Companhias que construíram um roteiro abrangente para acelerar a implementação sustentável de TI receberam, no estudo da Capgemini, melhores pontuações em governança ambiental, social e corporativa (ESG), somando 61%. Já as que viram melhor satisfação do cliente foram 56% e as que testemunharam economia fiscal como resultado direto de práticas sustentáveis de TI chegaram a 44%. Mesmo assim, só 6% já alcançaram um alto nível de maturidade sustentável de TI. E 53% dizem que não têm os conhecimentos necessários para implementação de TI sustentável.

O estudo traçou também um roteiro de três estágios para impulsionar a TI sustentável, sendo o primeiro deles o estabelecimento das bases com uma estratégia que se alinhe com a estratégia de sustentabilidade organizacional. A criação de um processo de governança com uma equipe de TI sustentável dedicada e suporte da liderança vem em seguida e, em terceiro, está a operacionalização de iniciativas de TI com sustentabilidade, um pilar fundamental da arquitetura de software. •

Acesse a pesquisa da Amcham ESG: Expectativas, Empresas e Gestão 2021

(Formato: PDF)

https://bit.ly/tendencias-cases-sustentaveis

PONTAPÉ INICIAL

Marcus Nakagawa, professor da ESPM, autor e palestrante sobre ESG, enumera alguns itens pelos quais as empresas podem começar a incorporar conceitos de ESG em seu dia a dia.

Meio ambiente:

[ Cuidar da energia [ Economizar água [ Cuidar dos resíduos - e isso vale não apenas para o lixo do escritório, mas indo além e aderindo a programas de reciclagem [ Avaliar o impacto ambiental nos processos desde a implantação [ Buscar equipamentos mais sustentáveis, ecologicamente corretos [ Apoiar projetos ambientais [ Apoiar a comunidade na qual está inserida [ Cuidar das pegadas de carbono

Social:

[ Seguir as leis trabalhistas, ligadas aos funcionários e prestadores de serviço [ Trabalhar o desenvolvimento da equipe [ Neste momento, a questão de saúde e segurança são muito importantes devido à Covid-19 [ Fazer investimentos em questões sociais, doar para ONGs, apoiar projetos e estimular o voluntariado

Governança:

[ Ter muito claro quais são todos os processos internos da organização [ Transparência com funcionários [ Hierarquia definida [ Missão, visão e valores definidos e transparentes para todos questão social, por exemplo, é promover programas de desenvolvimento pessoal dos funcionários, cursos, projetos de saúde e segurança e também trabalhar com projetos ambientais e de apoio à comunidade. “É muito mais fácil do que podem achar, mas sabemos que, no dia a dia do empreendedor, o foco é a venda, fechar negócio, e esses pontos acabam sendo colocados de lado”, ressalta Nakagawa. Porém, é necessário entender que ESG é processo e que futuramente os clientes vão acabar olhando essa questão também.

Maria Teresa Saraiva de Souza, professora do Centro Universitário FEI, aponta que cada um dos fatores ESG tem vários aspectos que podem ser explorados pelas empresas. Na parte ambiental, ela enumera o uso de recursos naturais, as emissões de gases de efeito estufa (GEE), a eficiência energética, a poluição de efluentes e a gestão de resíduos sólidos.

Como fatores sociais, as empresas devem olhar para as políticas e relações de trabalho, promover a inclusão e diversidade, o engajamento dos funcionários, treinamentos, direitos humanos, relações com comunidades, privacidade e proteção de dados. Já na área da governança, a professora chama a atenção para a independência do conselho, a política de remuneração da alta administração, a diversidade na composição do conselho de administração, a estrutura dos comitês de auditoria e fiscal, ética e transparência.

“As empresas podem priorizar os aspectos de cada fator de acordo com o seu ramo de atividade, buscando identificar aqueles que são mais críticos e com maior impacto ambiental ou social negativo, por exemplo”, pondera.

Sobre as empresas de internet, Souza lembra que as provedoras de conectividade não diferem das demais firmas em relação aos fatores sociais e de governança. “Os exemplos mencionados anteriormente podem ser adotados por essas empresas, com políticas consistentes de gestão da diversidade, projetos comunitários, privacidade e proteção dos dados”, diz.

Em relação aos fatores ambientais, ela destaca a importância de todas as empresas identificarem seus impactos significativos, aqueles que são mais agressivos ao meio ambiente. No campo dos provedores de internet, eles estão nos resíduos de cabeamento, eletroeletrônicos, entre outros, que devem ser encaminhados para a reciclagem, buscando o reaproveitamento.

“Essas empresas podem estabelecer metas de ‘resíduo

MARIA TERESA SARAIVA DE SOUZA Professora do Centro Universitário FEI

zero’, por exemplo, mostrando à sociedade o seu compromisso com o meio ambiente. O importante é criar indicadores para o acompanhamento da evolução dessas ações. Além disso, deve-se evitar o uso da proteção ambiental como um apelo mercadológico e melhoria da imagem corporativa. As empresas devem ter ações efetivas”, ensina.

DO LADO DOS INVESTIDORES

Os fatores ESG estão relacionados às grandes companhias de capital aberto, uma vez que fundos de inves-

“As empresas timentos priorizam em suas carteiras empresas com ações voltadas ao meio ambiente, social podem priorizar os e de governança, explica Maria Teresa Saraiaspectos de acordo va de Souza. “Os investimentos em ESG são semelhantes, em muitos aspectos, aos índices com o seu ramo de de sustentabilidade das bolsas de valores, que atividade, buscando abarcam praticamente as mesmas dimensões: ambiental, social e econômica. A dimensão ecoidentificar aqueles nômica também está contemplada no ESG, ou que são mais seja, os investidores esperam ter retorno finan ceiro ao comprar ações de fundos ESG”, diz. críticos e com No Brasil, o Índice de Sustentabilidade maior impacto Empresarial (ISE) da B3 é composto por um conjunto de empresas de diversos setores que negativo.” adotam práticas de sustentabilidade em seus respectivos ramos de atividade. Mais recentemente, explica a professora, surgiram investimentos em fatores ESG, também conhecidos como investimentos sustentáveis. O ESG está cada vez mais presente na tomada de decisão dos investidores em fundos de ações. “Existe uma correlação positiva com o nível de desempenho financeiro das organizações e os retornos positivos para o investidor. A maioria dos investidores é motivada por razões financeiras e espera retornos consistentes de longo prazo em investimentos relacionados ao ESG”, diz Souza. •

Pacto Global a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países. LANÇADO EM 2000 pelo então secretário-ge- “Fazer parte do Pacto Global da ONU hoje está ral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global muito ligado a quem você de fato é. O que e como é uma chamada para as empresas alinharem suas a sua empresa vai impactar o planeta e as pessoas estratégias e operações a dez princípios universais que vivem nele. Cuidar do planeta já deixou de ser nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio am- opcional, é mandatório. O setor privado e sobretubiente e anticorrupção e desenvolverem ações que do os consumidores tornam-se dia a dia mais e contribuam para o enfrentamento dos desafios da mais exigentes”, diz Pereira. Essa mentalidade chesociedade. Hoje, é, segundo Carlo Pereira, diretor -executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, ga também aos investidores, que estão exigindo que esses compromissos sejam assumidos. •

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