10 minute read
INCLUSÃO DIGITAL
COMO ATUAR NAS escolas públicas
Projeto que faz diagnóstico da conectividade na educação aponta gargalos que podem ser supridos por provedores de internet.
SABER QUAIS SÃO as escolas públicas estaduais e municipais do Brasil com demanda por internet de qualidade pode ser uma ótima oportunidade de novos negócios para as empresas de internet. E o Mapa da Conectividade na Educação pode ser uma ferramenta para lá de útil. “É um sonho de consumo unir os provedores de internet com as escolas e redes de ensino, porque todos têm muito a ganhar se trabalharem em parceria”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br [Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR], vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil.
“As pessoas precisam de internet, e precisamos dar um salto na conectividade na educação. Os provedores de internet podem ter uma clientela fiel e que vai fazer uso qualificado da rede, casando oferta com demanda. Vale a pena para os provedores de internet entrarem no portal Conectividade na Educação e verem onde tem demanda e que tipo de demanda a escola tem”, continua.
Apresentado em 30 de março, o Mapa da Conectividade na Educação é uma das iniciativas do projeto Conectividade na Educação, lançado no final do ano passado. O projeto é coordenado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) e pelo NIC.br com o objetivo de reunir dados e referenciais técnicos que possam apoiar a formulação de políticas públicas nessa área.
A ferramenta oferece a gestores e secretários de educação uma análise de parte das cerca de 140 mil escolas municipais e estaduais brasileiras em atividade. Em 27 mil
Para interagir com os mapas dos municípios e estados de sua escolha, acesse
https://conectividadenaeducacao.nic.br/
DANIELA COSTA Coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br
delas, onde há medidores do NIC.br instalados, é possível verificar o desempenho da banda larga, o que permite estimar se ela está adequada ou deficiente.
MAPA DE OPORTUNIDADES
O Mapa da Conectividade na Educação reúne bases de dados de diversos órgãos para traçar um retrato mais completo da conectividade nas escolas e permitir análises mais aprofundadas a respeito dos principais desafios e oportunidades para seu aprimoramento.
O Medidor Educação Conectada é a principal fonte de dados sobre a qualidade da internet nas escolas. Com o medidor, a escola consegue, a qualquer momento, mensurar a qualidade de sua conexão, visualizando os resultados, assim como o histórico das medições anteriores. Atualmente, há 27 mil medidores instalados, mas esse número pode aumentar à medida que mais escolas forem instalando medidores, que são distribuídos gratuitamente. De acordo com Paulo Kuester Neto, analista de projetos do NIC.br e um dos idealizadores da ferramenta, por ora, os medidores estão em colégios públicos de aproximadamente 3.500 municípios, nas cinco regiões do País.
Esse medidor, conforme aponta Daniela Costa, foi desenvolvido no âmbito da parceria, em 2017, entre o NIC. br e o Ministério da Educação. “Era necessário monitorar o programa de educação conectada do MEC, e o NIC propôs o uso do Simet para o monitoramento da qualidade de conexão das escolas. O NIC desenvolveu um medidor específico para as escolas que os instalam e as medições são enviadas para um portal onde há um mapa da conectividade. O medidor ainda está ativo e é bem usado”, explica a coordenadora da pesquisa TIC Educação do NIC.br.
“O Mapa da Conectividade na Educação traz a sistematização de diversas bases, compartilhando dados. Ele traz o diagnóstico geral do que existe de conectividade nas redes públicas de ensino e possibilita ao gestor ter visualização em tempo real da qualidade da internet que chega às escolas, qual é a internet que chega, com qual velocidade etc. A partir disso, se faz o planejamento mais adequado”, acrescenta Thalles Gomes, coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb.
O Mapa começou a ter tanto uso pelos gestores públicos e escolares que foi necessário criar outro, mais focado na gestão. O NIC.br e o Cieb lançaram um mapa mais completo, com os dados de 140 mil escolas públicas, estaduais e municipais, que puxa os dados do censo escolar e de outras fontes, como a Anatel e algumas operadoras. Os mapas se completam e fornecem informações valiosas para os provedores de internet, apresentando um retrato da situação atual que pode ser lido como oportunidades a serem endereçadas.
FERRAMENTA ANALÍTICA
O Mapa é uma ferramenta analítica que permite verificações diversas. Possibilita, por exemplo, explorar recortes, como escolas de estados e municípios que possuem conectividade adequada e as que não têm acesso à rede, velocidade da internet naquelas com acesso e, com o medidor, tecnologias para conectividade disponíveis (fibra óptica, satélite, rádio etc.), que são fontes para a contratação do serviço, entre outras.
É possível ainda comparar diferentes indicadores de conectividade, como velocidade de download e upload, latência entre as instituições de ensino e seu entorno, e se
THALLES GOMES Coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb
a internet é utilizada durante atividades pedagógicas ou se fica restrita à parte administrativa do colégio.
“O objetivo é medir qual a oferta de acesso à internet nas escolas e qual a qualidade desta oferta. Não é só velocidade, mas como a internet chega, qual é a capacidade da rede para permitir o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Isso tudo vai para o mapa e os gestores públicos podem acessar, tendo ali uma forma de monitorar se o que se contratou está sendo entregue à escola”, explica Daniela Costa.
Da mesma forma, é possível analisar as medições e verificar onde estão os pontos de atenção, quais são as escolas que precisam de quais tipos de oferta de internet. Com esses dados disponíveis, os provedores de internet podem traçar estratégias de vendas, identificar escolas para as quais possam ofertar não apenas serviços de conexão à internet, como também gerenciamento de Wi-Fi, segurança de rede, entre outros.
Costa aponta que, tendo como base a última pesquisa TIC Educação, é possível levantar oportunidades de negócios. Por exemplo, há muitas escolas nas quais o acesso à internet está somente na sala dos professores ou na do diretor, mas não para os alunos. Nas áreas rurais, apenas 40% das escolas tinham acesso, de acordo com a TIC Educação. “A questão da conectividade na educação não é só dizer que precisamos melhorar apenas pela questão pedagógica; não é luxo ter internet na escola, mas, sim, uma necessidade. Ainda mais quando se pensa em ensino híbrido”, detalha. A próxima edição da pesquisa será lançada no segundo semestre deste ano.
Além do mapa, o Grupo Interinstitucional de Conectividade para Educação (GICE) está elaborando um relatório técnico sobre o tema. Segundo Thalles Gomes, do Cieb, será uma ferramenta crucial para apresentar informações ao gestor público e ajudá-lo a planejar a contratação dos serviços de internet. A expectativa é que o relatório seja lançado em agosto e inclua quais os modelos possíveis para contratar serviços de internet. O GICE é formado por órgãos governamentais, operadoras, provedores regionais, empresas de tecnologia, associações e organizações do terceiro setor interessados em co-construir soluções técnicas para os desafios de conectividade da educação pública no Brasil.
“Tanto o diagnóstico como o relatório servem para os dois lados – para o poder público e para os ISPs – e mostram, por exemplo, os modelos de contratação possíveis e como financiar a contratação pública. Estamos tentando fazer com que o GICE seja um ambiente seguro de discussão e articulação para que todos os atores consigam encontrar um meio termo”, diz Gomes.
Ele destaca que para as empresas de internet o mapa traz um diagnóstico para entenderem onde há necessidade, quais são as demandas e os gargalos. Com tais informações nas mãos, ressalta o coordenador jurídico de parcerias públicas do Cieb, os fornecedores podem adequar seus modelos de negócios.
“É preciso entender que no poder público há diferentes entes e que uma solução que funciona para a Secretaria de Educação de São Paulo não é a mesma a ser usada por uma secretaria de um município menor”, pontua. “É preciso adequar-se às realidades estaduais e municipais, de forma a oferecer serviço de qualidade, garantir acesso e fazer com que ele chegue às escolas. Vemos lugares que têm acesso, mas em que as escolas não conseguem acessar a internet com a qualidade”, acrescenta. •
O futuro caminha via a educação conectada
A EDUCAÇÃO DO FUTURO é conectada, fruto da transformação digital, provocada pela evolução das tecnologias. Falando em boa educação, entendo que precisamos trabalhar com três pilares: a conectividade, o conteúdo e o uso de metodologias de aprendizagem.
Sem método não há educação, sem conteúdo não há educação, porém sem conectividade não há educação, conteúdo ou aplicação de método, então vou enfatizar a conectividade e deixar para os educadores e profissionais complementarem a perspectiva.
CONECTIVIDADE NAS ESCOLAS
O bom acesso à internet nas escolas promove a inclusão social e digital dos mais jovens na sua etapa de formação pessoal e profissional. Provedores de internet, empresas de telecomunicações e o governo são atores e os protagonistas. Atualmente, no Brasil, são cerca de 180 mil escolas públicas espalhadas nos 5.564 municípios (https://abres.org.br/estatisticas/ ).
O ambiente da educação conectada nas escolas hoje já transcende o simples acesso físico à internet. Já se disponibiliza um amplo portfólio de soluções de acesso por diferentes meios, tais como fibra ótica, rádio, Wi-Fi, satélite, móvel 3G/4G e 5G e serviços para a implementação, sustentação das escolas e modelos de financiamento e contratação de serviços.
PROFESSORES, PAIS E ALUNOS
A perspectiva da educação exige contemplar o acesso de educadores, professores, pais, alunos e comunidade, estendendo os limites da escola para a casa dos alunos, os ambientes públicos e o uso dos dispositivos móveis. O acesso acontece na sala de aula, no recreio, no celular em casa, sendo cada vez mais utilizado pelo celular, segundo estudos da TIC Educação (NIC.br).
A conectividade á cada vez mais exigida, visto que vídeos e multimídia substituem os textos e as leituras dos alunos, o que acaba exigindo mais da conectividade.
PLATAFORMAS, CONTEÚDOS E AULAS
Alinhado à conectividade, viabiliza-se acesso a conteúdo, acervos, notícias atualizadas e ainda a serviços que suportam a aplicação de metodologias de aprendizagem, seja nos exercícios, lições de casa e experiências de sala de aula de professores e alunos, seja no formato a distância ou presencial suportado por ferramentas digitais.
As plataformas são recursos de gestão das escolas, dos alunos e da participação das famílias, contribuindo com organização e otimização de recursos necessários ao desenvolvimento da educação.
PROJETO CONECTIVIDADE NA EDUCAÇÃO
O projeto da educação conectada tem apoio do NIC.BR, da Abranet, do Cieb, das empresas de tecnologia e do governo e busca auxiliar os protagonistas a alinhar demandas e recursos para atender as escolas do Brasil, fornecendo indicadores, orientação e ações de comunicação que auxiliam gestores da educação, governos e fornecedores a fazer uma melhor conectividade na educação (https://conectividadenaeducacao.nic.br/).
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
A realidade do Brasil exige que cada região se utilize de soluções disponíveis, dos recursos locais e do apoio das empresas e das comunidades para enfrentar desafios e enxergar oportunidades nesta jornada pela educação do futuro.
Em uma sociedade dinâmica e conectada, nós vivemos um filme em evolução. Há constante geração de novos conhecimentos, surgimento e avanços da tecnologia e recursos onde a velocidade se multiplica e as formas de aprender e ensinar se alternam na formação das pessoas; estamos todos juntos e conectados. Levar a internet a todos, construir uma relação positiva com educadores, pais e alunos é promover o futuro da educação conectada. • Dorian Lacerda Guimarães é fundador e diretor da Abranet, com experiência de mais de 25 anos em tecnologia e conectividade aplicadas a educação, comunicação e empreendedorismo. É fundador e idealizador de negócios e projetos corporativos e sociais.