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salto nas oportunidades de negóCios
A reboque do Wi-Fi 6 e 6E surge uma série de oportunidades de novos negócios para as empresas que proveem serviços de internet. Além de ter um espectro menos poluído, esta largura de faixa permite a utilização de canais mais largos: o Wi-Fi 6E permite canais de até 160 megahertz e o Wi-Fi 7 permitirá canais de até 320 megahertz. “O primeiro serviço que se abre naturalmente para ISPs é a conectividade indoor muito ampliada e muito mais rápida. Só com 2,4 GHz e 5 GHz, a percepção do Wi-Fi cai muito, porque esses espectros estão entupidos”, diz Giuseppe Marrara, diretor de políticas públicas da Cisco do Brasil. Marrara aponta que a composição vencedora será a união do 5G com Wi-Fi 6, pois preenche boa parte das lacunas de conectividade. Nesse cenário, o 5G é ideal para conectividade externa e com mobilidade, enquanto o Wi-Fi seria para ambientes internos e com mobilidade restrita. “Já 5G com Wi-Fi 6, 6E e 7 (virá logo), que até a terceira camada têm basicamente a mesma estrutura, vai permitir a seamless transition, pulando de uma a outra com continuidade dos serviços”, complementa. Há características comuns entre 5G e Wi-Fi 6E, porque vêm da mesma arquitetura física e lógica.
“Há mais de 3 bilhões de pessoas sem qualquer conexão. O 5G vai ajudar muitos use cases em vários setores da sociedade, mas vai demorar a chegar a determinados setores e pessoas. Wi-Fi é a ponte para conectar estas pessoas e acaba se tornando uma grande possibilidade para PPPs [Provedoras de Pequeno Porte], para conectar quem não está conectado ou não pode pagar o preço de estar 100% em 5G. As duas tecnologias precisam efetivamente viver juntas”, ressalta o diretor da Cisco. “Os ISPs terão mais espectro para poder fazer a comunicação, colocar mais gente servida com esta faixa. Ela consegue levar internet para pessoas que hoje não têm acesso”, reforça Hamilton Mattias, diretor de produtos da Qualcomm.
Embora, atualmente, exista uma quantidade de fibra ótica gigantesca, Cristiane Sanches, ex-presidente do Conselho Consultivo da Anatel e líder do Conselho de Administração na Abrint, aponta que ainda há muito lugar onde a fibra ótica não é viável, devido aos postes serem de madeira ou não haver postes disponíveis, e rede subterrânea estar fora de cogitação em termos de preço.
“O uso de rádio é excepcional, e há muitos provedores de internet que atendem em 2,4 GHz e 5,8 GHz que têm limitação
Fi 6E no subsolo de um prédio, onde não causará interferência, mas precisa de potência mais alta. Até agora, é possível usar apenas com potências baixas, o que no exemplo do subsolo poderia ser um problema. Quanto maior a potência do Wi-Fi, maiores são as chances de causar interferência.
Idealmente, na visão da Abranet, sistemas de coordenação automatizada de frequência deveriam ser adotados onde realmente houver necessidade. Para tanto, é imprescindível ter um mapa mostrando onde se localizam as frequências outorgadas até a data em que a Anatel decidiu ceder a faixa e o que foi outorgado depois da decisão de a faixa ser definida como não-licenciada. No entanto, picotar o espectro de 6 GHz, excluindo os canais já ocupados, que foram outorgados como licenciados para mitigar interferências, poderia gerar ineficiência.
A discussão tem como pano de fundo o desejo das para esse atendimento, por causa da distância ou do número de clientes que a célula pode atender. Por conta disso, a faixa de 6 GHz é extremamente importante. E o Wi-Fi 6 usa uma quantidade de canais muito maior que no passado. Se olhar o Wi-Fi 6 e o restante de espectro, a diferença está na canalização, que amplia absurdamente a possibilidade de atendimento com um único device”, detalha Sanches. operadoras de fazer uso da frequência de 6 GHz para prover o 5G. Como algo privado, o Wi-Fi 6E poderia, em tese, ser usado para projetos de redes privativas encabeçados por prestadoras de serviços de telecomunicações. Mas esse é um mercado que as telcos querem atacar e um serviço que querem prestar para monetizar as redes de quinta geração. Representando a Abranet, Matarazzo defende que o Wi-Fi deveria ser permitido para serviço limitado privado, não podendo ser usado por prestadores de serviços coletivos, ou seja, para infraestrutura de móvel ou banda larga, porque usa frequência não-licenciada.
Para José Carlos Picolo, consultor regulatório da Oi, o Wi-Fi 6E aporta mais capacidade de dados, levando a uma sofisticação maior. “O Wi-Fi 6 pode ser usado por rede de banda larga fixa e móvel, mas para móvel não é tão negócio, porque já chega com a frequência”, diz Picolo, destacando que a tecnologia amplia a cobertura do serviço, já que mais de 50% das conexões com internet é ambiente indoor. “Para ambiente indoor, ele está bem delineado e, quando expande para fora, passa a competir com a banda larga móvel”, aponta.
É fato que o Wi-Fi 6E outdoor permitirá diversas aplicações com maior densidade de dispositivos e maior demanda por banda com real capacidade multigigabit, o que, segundo Gustavo Barros, gerente de contas corporativas da Ruckus Networks, é conveniente em diversos casos de uso, como realidade aumentada em grandes locais públicos como estádios, arenas, parques, festivais de música e e-Sports. “Diversas outras verticais como transporte, varejo, educação, FWA e MDU se beneficiam diretamente desta oferta de serviço, entretanto, é crucial haver a disponibilidade de dispositivos cliente para ajustar a oferta de serviços com a demanda”, diz Barros.
O gerente da Ruckus aposta que a massificação do uso do espectro de 6 GHz ocorrerá na próxima geração tecnológica, com o Wi-Fi 7. “Esperamos que a explosão do uso do 6 GHz outdoor aconteça em 2024 com a retificação do padrão Wi-Fi 7 para este uso”, aponta. Segundo Barros, os prestadores de serviços de internet estão em posição de vantagem para explorar o uso do WiFi 6E e os casos de uso que se beneficiam desta nova tecnologia.
“São diversas oportunidades, que incluem o crescimento da rede, a fidelização de clientes e a oferta de serviços móveis de alto desempenho e valor agregado. Mesmo os ISPs que avaliaram criar operações MVNO para buscar operações com 5G terão a oportunidade de criar redes próprias utilizando Wi-Fi 6E outdoore reduzir seu custo operacional, ao mesmo tempo em que poderão oferecer uma rede de acordo com a demanda e expectativa de seus próprios clientes em cada localidade servida”, ressalta Barros.
Com o fim da CP 79, as contribuições recolhidas seguem para a área técnica, depois para a procuradoria e volta para a área técnica informar ao Conselho. Não há como fixar um prazo para todo esse processo ser finalizado e, se tiver algo que muda a regulamentação, ainda pode passar por análise de impacto regulatório, conforme explica Cristiane Sanches, ex-presidente do Conselho Consultivo da Anatel e líder do conselho de administração na Abrint.
O uso outdoor, ela reconhece, dará uma noção diferente e um potencial de uso totalmente distinto do uso indoor.
“O problema é que as faixas de 2,4 GHz e 5,8 GHz estão ocupadas e têm poluição grande. A faixa de 6 GHz não, mas para fazer uso precisa de coordenação para não ter interferência em outros usos”, destaca Sanches.
A interferência, segundo ela, poderia impactar serviços fixos que já fazem uso da faixa de 6 GHz, como satelital, SMP, redes privativas, uso marítimo e pelo Exército. Hoje, esses serviços terrestres e fixos lançam as estações na base de dados da Anatel apontando a frequência que estão usando. O sistema AFC faria consulta justamente nessa base da Anatel, várias vezes por dia, e mandaria um retorno apontando o uso. É como se os equipamentos passassem o dia todo trocando informações com o sistema AFC e ajustando as frequências para mitigar interferências.
Mas quem paga essa conta? Cristiane Sanches diz que a indústria em si vai poder oferecer uma série de serviços para as prestadoras, não apenas de consulta ao sistema AFC, como oferecimento de otimização de uso de espectro, o que, de acordo com ela, pode ser interessante para a empresa que, por exemplo, tem rede crisTiane sanches
Ex-presidente do Conselho
Consultivo da Anatel e líder do Conselho de Administração na Abrint com várias estações dentro da faixa. piloto em sp
Cristiane Sanches ressalta que a CP 79 passa recados importantes, como o da relevância da faixa não-licenciada como ferramenta capaz de otimizar o uso de espectro e fazer uma gestão do espectro mais eficiente. É necessário, aponta, definir como será o sistema. “Não temos muito a inventar, porque Estados Unidos, Canadá e México estão discutindo. Empresas americanas que estão desenvolvendo o AFC vão usar o mercado brasileiro como um novo mercado consumidor que é imbatível em número de provedores de internet”, destaca.
A tecnologia Wi-Fi 6E está em demonstração em um bairro na capital paulista. O projeto, encabeçado pela Qualcomm, teve colaboração da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e das empresas Cambium Networks e Telium. O piloto vai até abril. É a primeira experiência prática de Wi-Fi 6E na banda de 6 GHz em área outdoor da América Latina. •