associação brasileira de internet
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ano XI . edição 42 . nov-dez 2023 / jan 2024
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editorial Carol Conway Presidente da Abranet
A hora da virada das empresas de internet A revolução no uso da internet requer das prestadoras conhecer cada vez mais o potencial de inovação dos seus serviços e, principalmente, o dos seus clientes para a oferta de serviços sob demanda. Esta foi uma das conclusões dos debates realizados na 6ª Convenção Abranet 2023, o encontro anual dos líderes do provimento de serviços de internet (ISPs). Foram dias de muitas trocas com o ecossistema de internet no lindo município de Touros, no Rio Grande do Norte, a cerca de 90 km da capital. Associados, fornecedores e especialistas foram unânimes: a economia digital não existe sem as empresas de internet. E o momento é de virada de pensamento. O cliente quer muito mais do que a mera conectividade, como frisou Jesaias Arruda, vice-presidente da nossa associação. De fato, os tempos são outros. Há muita coisa acontecendo e, como disse o professor, conferencista e ativista Gil Giardelli, é preciso serenidade para os novos dias. Giardelli destacou que a etapa da transformação digital passou; agora, fala-se na transformação do mundo, e a disruptura significa mudanças muitas vezes duras, mas necessárias. A Inteligência Artificial é um desses avanços, e, destacou Giardelli, não vai destruir o mundo, e tampouco é preciso ter medo dela e de outros avanços. Afinal, o novo sempre vem. A Revista Abranet traz uma reportagem em que conta tudo o que aconteceu na 6ª Convenção Abranet. Fica o recado: a 7ª Convenção Abranet está marcada para 2024, em Alagoas. Networking, reflexões
sobre o presente e futuro e muita troca de conhecimento serão, a exemplo deste ano, parte da criteriosa agenda desses dias de retiro do cotidiano com foco no debate de estratégias. Esta edição não tem só a Convenção da Abranet. Também aborda temas relevantes, como o debate em torno do fim do parcelamento sem juros. A Abranet já se posicionou de forma contrária à medida. A entidade defende a livre concorrência e repudia as tentativas de extinção, taxação ou alteração da forma de pagamento. O parcelamento sem juros faz parte da cultura de consumo brasileira. Em recente carta aberta ao Banco Central, reforçamos que não há qualquer motivo para que ele insista em impor sua agenda anticompetitiva. Antes tarde do que nunca. Vinte e três anos depois de sua criação, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) tem seus recursos disponibilizados para uso pelos prestadores de serviços de telecomunicações e empresas de internet, e as linhas de crédito já foram anunciadas pelo BNDES. Aqui, cito de novo o vice-presidente da Abranet, Jesaias Arruda, que ressalta a necessidade de uma guinada nos modelos de negócios. É hora de sair da zona de conforto e apostar em levar serviços aonde eles não existem. Pelo menos 20% do território brasileiro não tem qualquer tipo de serviço de conectividade. Está mais do que claro que é hora de um novo jogo. Vamos nessa? Boa leitura! abranet.org.br novembro-dezembro 2023 / janeiro 2024
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índice 05 | abranet responde Como as mais recentes mudanças nas áreas trabalhista e previdenciária vão alterar a minha rotina de gestão?
06 | especial . 6ª conVENÇÃO ABRANET
Economia digital sem as empresas de internet não existe
presidente
Carol Elizabeth Conway vice-presidente
Jesaias Arruda Gerência Executiva
Roseli Ruiz Vazquez gerente@abranet.org.br
A 6ª Convenção Abranet 2023 reuniu o setor de internet entre os dias 21 e 24 de setembro, em Touros, no Rio Grande do Norte, e contou com importantes nomes para debater os temas que estão na agenda das empresas.
14 | Meios de Pagamento Entidades são contra o fim do parcelamento sem juros.
Projeto, Produção e Edição
Abranet se posicionou contra a proposta e, assim como outras entidades, vem trabalhando para que não se mexa nesse time.
Editora Convergência Digital
16 | TECNOLOGIA
editora@convergenciadigital.com.br Tel: (11) 99607-1569
Sua empresa usa Inteligência Artificial? Se a resposta for não, repense.
Direção Editorial / Editora-chefe
Entre as empresas de internet, a RV Connect apostou em machine learning para aprimorar os dados que definem quais planos oferecer para quais clientes. É a IA sendo adotada para personalização do atendimento.
analobo@convergenciadigital.com.br
18 | TRIBUTAÇÃO
Ana Paula Lobo Edição
Bia Alvim
O Fust… 23 anos depois. As empresas de serviços de
bia.alvim@pebcomunicacao.com
internet também podem ter acesso aos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.
Reportagem / Redação
20 | INFRAESTRUTURA Menos de 100 dias para os postes. Assinada portaria com orientações para a Aneel e a Anatel na regulação do uso dos postes do setor elétrico pelas empresas de telecomunicações. A Abranet diz que o impacto só será sentido mais adiante, mas se preocupa com possíveis prejuízos às pequenas e médias empresas de internet.
24 | FUTURECOM Desafio é fazer a cobertura de todo o território nacional. Vice-presidente da
Roberta Prescott
prescottroberta@gmail.com
Luis Osvaldo Grossmann ruivo@convergenciadigital.com.br Edição de Arte e Diagramação
Pedro Costa
pedro@convergenciadigital.com.br
Abranet, Jesaias Arruda, discorreu no Congresso do evento sobre a necessidade de levar conectividade aonde não há. Diretores da entidade também participaram de painéis, e o estande contou com a presença de associados como expositores.
26 | ESTRATÉGIA Conectando o Norte. Novas infovias, com 12 mil quilômetros de extensão, irão conectar 59 municípios até 2026. Elas incluem digitalmente a população e se traduzem em oportunidades para as empresas de internet.
28 | conexão Escolas da zona rural estão mais conectadas à internet. .br ultrapassa 5 milhões de domínios registrados. Anatel discute desligamento das redes 2G e 3G. Google, AWS e Cloudflare sofrem mega ataque DDoS. Blockchain na identidade digital começa em 3 estados.
30 | opinião Um futuro digital seguro com o Drex, o Real Digital Por Helio Inoue, diretor Comercial da G+D Currency Technology Brasil.
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abranet responde
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Como as mais recentes mudanças nas áreas trabalhista e previdenciária vão alterar a minha rotina de gestão? Um levantamento feito pela Domingues e Pinho Contadores revela as 10 principais alterações na legislação feitas em 2023, algumas em vigor já neste ano e outras que vão chegar em 2024 1. eSocial A partir da competência de outubro, os empregadores passam a ser obrigados a incluir as informações relativas a processos trabalhistas no eSocial. O prazo para o envio dos dados ao sistema é até o dia 15 do mês subsequente à data relativa à conclusão dos processos trabalhistas com trânsito em julgado, homologação de acordos e determinações judiciais. 2. EFD-Reinf A EFD-Reinf, um dos módulos do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), está em processo de mudança, com a entrada dos tributos federais retidos na fonte a partir da competência setembro de 2023. Este movimento faz parte da transição da Dirf, que será extinta em 2025, para a EFD-Reinf.
3. FGTS digital
dados étnico-raciais em fichas de admissão, demissão e formulários de acidente de trabalho.
6. Combate a assédio e violência As empresas que contam com Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (CIPAA) têm uma série de obrigações a serem cumpridas. Desde março, conforme determina a portaria nº 4.219/2022, essas empresas devem adotar medidas para prevenção e combate ao assédio sexual e demais formas de violência no âmbito do trabalho.
7. Obrigações de SST Desde janeiro de 2023, os empregadores estão obrigados a enviar dados de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) ao eSocial, sob o risco de pagarem multas.
8. Portabilidade do vale-refeição Publicado em agosto, o decreto 11.678/2023 trata da portabilidade do vale-refeição e vale-alimentação relativos ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). O texto dá mais liberdade aos trabalhadores para escolherem a empresa gestora desse benefício.
A implementação do FGTS Digital está prevista para janeiro de 2024, mas o novo sistema já está operando em modo teste. Um dos pontos de atenção é a alteração do prazo de recolhimento do FGTS mensal para até o 20º dia do mês seguinte ao da competência. Mas até que a ferramenta esteja implementada, continua valendo o 7º dia do mês seguinte ao da competência.
9. Fator Acidentário de Prevenção O Fator Acidentário de Prevenção (FAP) é um multiplicador que incide sobre a folha de salários para custear benefícios decorrentes de acidentes de trabalho e aposentadorias especiais. O sistema para consulta, contestação e recurso agora é feito por meio do gov.br e não mais pela senha cadastrada na Receita Federal.
4. Igualdade salarial A Lei nº 14.611/2023 entrou em vigor em julho, trazendo novas regras relativas à igualdade salarial entre mulheres e homens e formas de combate à discriminação nos critérios remuneratórios por motivo de sexo, raça, etnia, origem ou idade. Fique atento!
10. Informações sobre plano de saúde
5. Dados étnico-raciais Desde abril, empregadores estão obrigados a incluir os
Uma mudança operacional importante que está em curso diz respeito às informações sobre pagamentos efetuados a planos privados de assistência à saúde, na modalidade coletivo empresarial como benefício dos empregados, hoje feita por meio da Dirf. Com essa declaração sendo extinta em 2024, é necessário ter atenção à nova forma de prestação das informações sobre planos de saúde, ainda a ser definida pela Receita Federal. abranet.org.br novembro-dezembro 2023 / janeiro 2024
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especial . 6ª conVENÇÃO ABRANET
Ana Paula Lobo, de Touros/RN
A 6ª Convenção Abranet 2023 reuniu o setor de internet entre os dias 21 e 24 de setembro, em Touros, no Rio Grande do Norte, e contou com importantes nomes para debater os temas que estão na agenda das empresas.
Economia digital sem as empresas de internet não existe
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As empresas de internet são o pilar da era da conectividade, disse a presidente da Abranet, Carol Conway, ao abrir a 6ª Convenção Abranet 2023, realizada de 21 a 24 de setembro, em Touros, no Rio Grande do Norte. “É inimaginável pensar em economia digital sem vocês”, destacou. A posição foi endossada pelo vice-presidente da associação, Jesaias Arruda, que reforçou o fato de o Brasil estar na onda da conectividade hiperpersonalizada, o que exige conhecer melhor o cliente para oferecer serviços sob demanda. “A tecnologia é um meio para o negócio acontecer. É um momento que exige uma virada de pensamento dos provedores de internet. O cliente quer mais do que a mera conectividade.” Também participaram da abertura da 6ª Convenção Abranet 2023, Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br. Eles debateram temas que estão na agenda das empresas do setor de internet, como inteligência artificial, regulamentação, migração do IPv4 para o IPv6, Reforma Tributária e a necessidade de expansão da chamada conectividade significativa. Kashiwakura ressaltou que a internet não pode ser básica para muitos, ou seja, uma internet sem qualidade, nem significativa apenas para poucos. Para ele, a conectividade significativa é internet para todos e com qualidade. “Pode parecer utopia, mas a qualidade da internet está avançando com a substituição das tecnologias antigas pela fibra. Há uma estagnação no crescimento, ainda temos 15 milhões de domicílios sem acesso à internet, mas a qualidade está melhorando”, completou o diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br.
“Somos o pilar da era da conectividade e da revolução da internet no Brasil.” Carol Conway Presidente da Abranet
“A tecnologia é um meio para o negócio acontecer. O cliente quer mais do que a mera conectividade.” Jesaias Arruda Vice-presidente da Abranet
Inteligência Artificial Demi Getschko fez um importante alerta. “O Brasil angariou, nos últimos anos, o respeito do mundo com relação às suas posições de governança da internet, e seria uma pena jogar tudo isso no lixo por uma discussão superficial sobre regulamentação.” O presidente do NIC.br observou que a internet é um solo fértil, mas ela só funciona no que é globalmente acertado, o que significa que
Fotos: Paulo Victor Lago e Gilberto Cardoso
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regras específicas por países são negativas à governança da rede. “O cuidado é essencial. Não podemos perder todo o trabalho já feito”, adicionou. Sobre a regulamentação da Inteligência Artificial – em discussão no Brasil e no mundo – Demi Getschko disse não ser contra, mas ponderou que ela tem de ser baseada em princípios e não em proibições. “Não podemos proibir e impedir que o Brasil entre na rota do desenvolvimento de IA. Seria um erro estratégico sem volta. Nós temos legislações que protegem os dados pessoais e os direitos das pessoas”, observou. O NIC.br é responsável pelo observatório da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), criada pelo governo federal para estabelecer as políticas públicas para IA, mas, de acordo com Getschko, funcionará como um escutador do mercado brasileiro para monitorar os impactos em diferentes setores como, por exemplo, saúde, educação e indústria. A Abranet aderiu
“Há uma estagnação no crescimento [do acesso]. Ainda temos 15 milhões de domicílios sem acesso à internet, mas a qualidade está melhorando.” Milton Kaoru Kashiwakura Diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br
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à EBIA. “Vamos ser colaboradores com o decálogo de IA. Criamos um grupo de trabalho e queremos muito ajudar”, afirmou a presidente da entidade, Carol Conway. Rumo ao IPv6 O debate sobre a necessidade de aderir ao IPv6 segue na pauta. Na Convenção, Milton Kashiwakura reiterou o pedido às empresas prestadoras de serviços de internet para acelerarem a migração do IPv4 para o IPv6. Ele disse que o País está avançando, mas o ritmo da migração ainda está abaixo do desejado. “Há um mercado comercializando endereço IPv4 por cerca de 60 dólares. Isso é custo. O provedor tem de entender que o IPv6 traz vantagens técnica e financeira”, enfatizou. Mas Kashiwakura admitiu que há outras indústrias colaborando para o ritmo mais lento de migração, em especial, a indústria de TVs. “A maioria das TVs roda IPv4 ainda. O conteúdo está em IPv6, mas as TVs usam o IPv4. Essa lógica
“Não podemos proibir e impedir que o Brasil entre na rota do desenvolvimento da IA. Seria um erro estratégico sem volta. Nós temos legislações que protegem os dados pessoais e os direitos das pessoas.” Demi Getschko Diretor-presidente do NIC.br
tem de mudar”, pontuou. O gerente de projetos e desenvolvimento do NIC.br, Antonio Moreiras, apontou que o Brasil quase chegou aos 50% de migração do IPv4 para o IPv6. No entanto, apesar do avanço, o ritmo ainda está aquém do necessário, uma vez que os endereços IPv4 já estão esgotados. “As grandes operadoras e os grandes provedores de internet já estão com suas redes 100% IPv6. Mas temos de andar nos provedores de internet e nos pequenos e médios provedores de conteúdo. Nesses, ainda temos muito IPv4”, explicou Moreiras. O especialista destacou que os provedo-
Gil Giardelli: Brasil corre o risco de ficar para trás na IA
res de internet que migraram contabilizam ganhos técnicos e financeiros. “Na parte técnica, a migração eliminou uma série de problemas. O IP no IPv6 é único; no IPv4 é compartilhado, o que causa problemas às aplicações. Também não há mais a necessidade de comprar equipamentos CGNAT [Carrier Grade Network Address Translation]”. O ano de 2023 marca os 25 anos da criação do IPv6 e 15 anos do projeto IPv6.br, além de cinco anos do documento técnico RFC 8200, que torna o IPv6 padrão na rede. Os endereços IPv4 esgotaram na América Latina em 2022.
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Ao participar da 6ª Convenção Abranet 2023, o professor, conferencista e ativista Gil Giardelli foi taxativo: os países que não avançarem com a Inteligência Artificial vão ficar para trás. Ele pediu serenidade para os novos tempos. “Não falamos mais de transformação digital, mas de transformação do mundo. Tudo vai mudar. A disruptura provoca mudanças e muitas vezes elas são duras, mas necessárias. Asseguro: a IA não vai destruir o mundo. Isso é pânico de quem tem medo de mudar”, sustentou. Giardelli ressaltou ainda a “beleza perturbadora da inovação” e o debate moral em torno do uso das máquinas. “Os carros autônomos vão bater. Eles não são infalíveis e pessoas vão morrer. Mas será em um número menor do que acontece hoje. A questão é: como escolher quem vai morrer? O homem está disposto a isso?”, indagou. E o ativista garantiu: a Inteligência Artificial nos deixará mais inteligentes, mas há um descompasso e um pânico tecnológico sem sentido. “Quando a internet surgiu, muitos disseram que ela não teria valor. O mundo mudou e os países que não avançarem com a Inteligência Artificial ficarão para trás. O Brasil pode ser um polo de desenvolvimento, mas, infelizmente, ainda há uma distância enorme entre a academia e a iniciativa privada”, salientou Giardelli. Do ponto de vista econômico, não há mais dúvida acerca da relevância da Inteligência Artificial, tanto que para 2024 já se projeta um impacto de 25 trilhões de dólares no PIB mundial de tecnologia. “A pergunta que se faz é: onde o Brasil vai querer ficar? A resposta tem de vir muito rápido”, concluiu.
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Startups fazem a diferença no Brasil e no mundo A Liga Ventures fez um estudo em que mapeou a existência de cerca de 50 mil startups brasileiras, sendo que, destas, cinco mil são muito saudáveis financeiramente e com grande potencial de serem adquiridas. Para o executivo da empresa e diretor da Abranet, Telmo Teramoto1, o Brasil alcançou maturidade nos negócios de startups, com muitas sendo criadas para atender apenas o mercado externo.
“O desafio, agora, é que as soluções criadas possam ser usadas por médias e pequenas empresas. Há muitas de Inteligência Artificial, permitindo a oferta por serviço, e muitas startups têm sede de mostrar os seus serviços às PMEs”, detalhou Teramoto. Único brasileiro no conselho da Eve Air Mobility, subsidiária de aeronaves elétricas autônomas da Embraer, Evair Gallardo2, fundador e CEO da Kerax Telecom e também diretor da Abranet, observou que “todo mundo quer falar sobre inovação, todo mundo quer um serviço inovador, mas há facetas a serem levadas em conta, entre elas o risco. Mas não tem como negar: a inovação desempenha um papel importante no avanço da sociedade e no crescimento econômico.” Com relação à Eve – que hoje vale mais na Bolsa de
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Para além da conectividade Especialista em inovação, e-commerce e startups em tecnologia entre Brasil e China, In Hsieh mandou um recado direto aos provedores de internet: entendam o seu valor indo além da conectividade. Ao participar da Convenção Abranet 2023, ele lembrou que a internet vive um momento muito especial e com janelas de oportunidades. “São novos serviços e novas tecnologias aparecen-
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do. Há muito por mudar e por fazer na internet. Aliás, a internet está ficando cada vez mais local e os mercados entendem que são os provedores locais os que mais entendem as necessidades dos clientes. São eles que estão mais próximos e podem ganhar a preferência em relação aos provedores nacionais”, ressaltou In Hsieh. De acordo com o especialista, que já atuou no desen-
Nova Iorque do que a empresa-mãe, a Embraer, mesmo sem ter um carro pronto para ser vendido –, Gallardo conta que a infraestrutura de telecomunicações será essencial para o sucesso, seja o 5G, ou o Wi-Fi 7 e o 6G quando chegarem. “O Eve é parecido com um helicóptero e vai trafegar curtas distâncias, no máximo 100 km. Mas assim como o Uber deu a chance de as classes menos ricas andarem de táxi, o Eve vai ser muito mais barato do que os helicópteros, uma vez que a corrida tem custo projetado entre US$ 50 e US$ 100, inicialmente”, destacou. O governo dos Estados Unidos abraçou a ideia do Eve, tanto que está investindo na capacitação das cidades para esse mundo novo dos carros voadores. Mas, como em toda a área de tecnologia, o projeto padece da falta de mão de obra especializada. “Tem de capacitar mais gente para entender
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da tecnologia”, relatou Gallardo. Uma empresa brasileira já comprou 500 veículos para colocar em operação no Rio de Janeiro, tão logo haja disponibilidade comercial. Eduardo Neger, ex-presidente da Abranet e cofundador da Neger Telecom3, contou a sua história com bloqueadores de celulares, no próprio Rio Grande do Norte. O projeto sofreu com a falta de pagamento pelo governo estadual e com a rebelião dos detentos, que ganhou a atenção de todo o Brasil. “A reação foi enorme. Houve rebelião no presídio de Alcaçuz, em Nísia Floresta. Antenas foram incendiadas, os cabos foram cortados, foi muito complicado. E o estado não pagou. Tivemos de desmontar todos os equipamentos instalados”, relatou. Mas desse desmonte veio a inovação. Um dos funcionários da Neger Telecom percebeu que uma antena invertida permitiria bloquear drones – ainda incipientes no Brasil, mas uma oportunidade. “Foi um sucesso. Fizemos uma spin-off, a DroneControl, que já instalou os bloqueadores em vários lugares do Brasil e também no exterior, como no Canal do Panamá. Foi na contabilidade do prejuízo dos bloqueadores de celulares que desenvolvemos um novo produto e serviço para a empresa”, afirmou. Para Neger, a história prova que o caminho da inovação não é tão agradável e florido, e que é necessário ter a sensibilidade de aproveitar as experiências para em cima do negativo criar o positivo e também entender o momento de sair de um negócio e repensar toda a sua estratégia.
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volvimento de negócios e consultoria de startups chinesas como Ali Express e Kwai, entre outras, a empresa de internet tem dois grandes ativos: a relação física de ir até a casa do cliente com a conectividade e a relação comercial e o conhecimento de dados como pagamento por cartão de crédito. “São vários canais de relacionamento a serem explorados. As empresas de âmbito nacional não têm isso e não têm capacidade de ter. O provedor de internet precisa entender que é hora de pensar mais à frente e inovar”, completou.
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Mais tecnologia e inovação para pessoas com necessidades especiais Ao encerrar as apresentações da 6ª Convenção Abranet 2023, a ex-ginasta Laís Sousa, que ficou tetraplégica em um acidente em 2014, nos Estados Unidos, pediu mais atenção às pessoas com deficiência. “Tenham um olhar mais sensível ao desenvolverem soluções e tecnologias. A tecnologia é um meio para facilitar a vida das pessoas. Somos 24% da população brasileira e temos pouca atenção”, frisou.
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De acordo com o Censo 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus) ou deficiência mental / intelectual. A tecnologia inclusiva, acrescentou Laís Sousa, é crucial para que o Brasil também se torne um país melhor; e é possível fazer mais com pequenas ações, como pensar
em calçadas apropriadas e sem buracos; carros adaptados; aviões preparados para as pessoas com deficiência, cadeiras de roda mais tecnológicas e ajustadas, entre outras. A apresentação de Laís Sousa – que contou sua trajetória desde os quatro anos, quando começou na ginástica artística, até hoje, aos 34 anos, dez anos depois do acidente que a deixou tetraplégica – emocionou os associados da Abranet presentes à Convenção 2023. Laís, que angaria recursos para ser a primeira atleta brasileira tetraplégica a participar das Olimpíadas Biônicas, em 2024, obteve o apoio da Abranet para buscar patrocinadores. “Nós vamos ajudar nessa busca por recursos”, assegurou a presidente da entidade, Carol Conway.
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Meios de Pagamento
Entidades são contra o fim do
parcelamento sem juros Abranet se posicionou contra a proposta e, assim como outras entidades, vem trabalhando para que não se mexa nesse time. A proposta dos bancos de limitar compras parceladas no cartão de crédito é prejudicial aos lojistas, aos consumidores e à economia do País, defende a Associação Brasileira de Internet (Abranet), que se posicionou contra a ideia e, assim como outras entidades, vem trabalhando para que não se mexa no parcelamento sem juros. “Os grandes bancos, sob pressão para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, vislumbraram uma oportunidade para tentar aumentar ainda mais seus lucros, diminuindo a nova e raríssima competição dos últimos sete anos no mercado de maquininhas. É por causa dessa competição que querem prejudicar as empresas de maquininhas e mudar a regra em pleno jogo, a favor do banco emissor. Para tanto, querem o fim do parcelado sem juros
e desejam criar o parcelado com juros ou o parcelado tarifado”, escreveu a presidente da Abranet, Carol Conway, em artigo publicado na Folha de S.Paulo. Em nota oficial ao mercado, publicada em agosto, a Abranet manifestou sua veemente oposição ao projeto de encarecer o pagamento parcelado, o que, segundo a associação, na prática, vai desaquecer a economia. A entidade defende a livre concorrência e repudia a tentativa de extinção, taxação ou alteração da forma de pagamento. A Abranet considera que, além de fazer parte da cultura de consumo no Brasil, o parcelamento sem juros é fruto da livre concorrência e vê com preocupação a movimentação dos bancos de criar regras para dificultar o parcelamento sem juros no cartão de crédito. “Milhões de brasileiros que fazem compras parceladas serão prejudicados. E muitos lojistas dependem de vender parcelado para manter seus negócios. Metade de todas as vendas em cartão de crédito em 2022 foi parcelada. Foram R$ 1 trilhão em compras parceladas, e isto equivale a 10% do PIB brasileiro”, ressaltou Conway. “Ao contrário dos argumentos de quem defende o fim do parcelado sem
Abranet refuta limitar parcelamento sem juros a 12 prestações A Associação Brasileira de Internet encaminhou uma carta aberta ao Banco Central na qual considera nociva “qualquer limitação à livre negociação de compras parceladas, pelos impactos negativos sobre a capacidade de compra das famílias, em especial as de menor renda”. Na carta, a entidade lembrou que o parcelado é, muitas vezes, a única opção de consumo de grande parte da população, e é a linha de crédito mais barata para o lojista: as taxas são inferiores a 20% ao ano, 22 vezes menor que os 446% do rotativo de cartões. A Abranet destacou que não há razão lógica para que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) insista em inserir a limitação do Parcelado Sem Juros para impor sua agenda anticompetitiva e predatória.
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Veja a íntegra da carta da Abranet enviada ao Banco Central
7 em cada 10 pessoas parcelam compras no Brasil
juros, ele viabiliza a estabilidade financeira do cidadão em suas compras diárias de produtos ou serviços, promovendo a incluDe acordo com o estudo nacional Relação com Dinheiro, realizado são social e o desenvolvimento econômico pela Serasa em parceria com a Opinion Box, sete em cada dez pessoas sustentável”, completou. costumam optar por pagamentos parcelados. A maioria das aquisições Para a Abranet, limitar o número de desse tipo é feita com cartão de crédito de terceiros (38%), principalmenparcelas ou criar taxas para desestimular o te nos estados de Alagoas (50%), Pernambuco (47%) e Rio de Janeiro parcelamento afeta diretamente a popula(47%). Boleto (27%) e crediário específico de lojas (24%) aparecem em ção e também a cadeia de comércio e sersegundo e terceiro lugar, respectivamente. viços da base da pirâmide, de menor renda. O estudo também identificou que 27% dos consumidores buscam O varejo perderia cerca de R$ 190 bilhões esse tipo de pagamento porque não possuem o valor cheio em conta, enem vendas sem o crédito parcelado. quanto para 25% a prioridade é verificar se há ou não cobrança de juros. “O objetivo dos grandes bancos é limitar Ainda de acordo com o estudo Relação com Dinheiro, da Serasa e o parcelado sem juros para substituí-lo pelo Opinion Box, parcelar compras por costume é uma realidade entre 25% parcelado com juros. O parcelado sem juros dos entrevistados. Além disso, 24% afirmam que dividem as contas para é uma conquista do consumidor, uma ferraconseguir comprar mais coisas e 23% dizem que preferem pagar valores menta que apoia o consumo e hoje é essendiluídos ao longo do tempo. cial para o desenvolvimento do comércio, da O levantamento mostrou ainda que a busca por crédito é alta no Bracompetição e da economia”, disse Conway. sil: 52% dos consumidores procuraram essa alternativa no último ano. Em sua nota, a Abranet esclareceu que Para os que contratam, as opções mais procuradas são cartão de crédito os grandes bancos já tentaram, no passado, (53%), empréstimo pessoal (48%) e crédito consignado (21%). Os prinacabar com as compras parceladas, tamcipais objetivos são pagar dívidas (35%), limpar o nome (21%) e pagar bém conhecidas como Parcelado sem Judespesas inesperadas (19%). ros (PSJ). Com a reação de comerciantes (principalmente os menores) e consumidores, o assunto foi abandonado, mas ressurPor que você compra parcelado? ge de tempos em tempos. Por costume: 25% Em entrevista à rádio Nova Brasil FM, Para conseguir comprar mais coisas: 24% a presidente da Abranet destacou que não Prefere pagar valores diluídos ao longo do tempo: 23% procede o argumento de que o parcelamento sem juros turbine a inadimplência. Segundo Fonte: Estudo Relação com Dinheiro – Serasa/Opinion Box ela, uma pesquisa feita entre os associados da Abranet revela exatamente o contrário: o parcelamento sem juros reduz a inadimplência. FecomércioSP, atualmente, representa 1,8 milhão de emAlém da Abranet, a Federação do Comércio de Bens, presários, que respondem por quase 10% do Produto InServiços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomer- terno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 micioSP) e a Associação Brasileira dos Lojistas Satélites de lhões de empregos. Shoppings (ABLOS), entre outras, assinaram manifesto Já a ABLOS, que reúne 115 mil lojas de pequeno e mécontra a limitação da compra parcelada sem juros. A en- dio porte de 628 shoppings em todo o País e é responsável tidade paulista teme impactos nocivos à economia. Em pela geração de mais de 1 milhão de empregos, considera nota, Fábio Pina, economista da organização, disse que que o parcelamento sem juros no cartão é uma importante essa modalidade de pagamento tem papel imprescindível ferramenta utilizada pelos lojistas para manterem seus neno desempenho econômico do varejo nacional, atuando gócios, além de ser uma facilidade para a população brasicomo um propulsor das inclusões financeira e social. A leira, que já tem essa opção em seu hábito de consumo.
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Inteligência Artificial? Se a resposta for não, repense. Entre as empresas de internet, a RV Connect apostou em machine learning para aprimorar os dados que definem quais planos oferecer para quais clientes. É a IA sendo adotada para personalização do atendimento. O avanço das ferramentas e, mais recentemente, o lançamento do ChatGPT colocaram a Inteligência Artificial em evidência, inclusive, entre pessoas que nunca se interessaram por tecnologia. Com o advento da Inteligência Artificial Generativa, empresas de diversos portes e segmentos estão estudando o tema e pilotando projetos para entender quais são os desafios, dificuldades e ganhos de eficiência. As conclusões da pesquisa mundial O estado da inteligência artificial em 2023: o ano do crescimento explosivo da IA Generativa, realizada pela McKinsey, confirmaram a expansão significativa das ferramentas de IA Generativa. Um terço dos entrevistados afirmou que suas organizações já estão utilizando a Inteligência Artificial Generativa regularmente em pelo menos uma função de negócio. De acordo com a pesquisa, “em meio aos avanços recentes, a Inteligência Artificial deixou de ser um tópico relegado às equipes de tecnologia para tornar-se foco, também, de líderes: quase um quarto das lideranças C-level entrevistadas afirmou que já utiliza pessoalmente ferramentas de IA Generativa no trabalho, e mais de um quarto dos entrevistados de empresas que utilizam inteligência artificial disse que a IA Generativa já está na agenda de seus conselhos.” Além disso, 40% dos entrevistados afirmaram que suas organizações aumentarão os investimentos em IA moti-
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Pesquisa completa em
vadas pelos avanços da Inteligência Artificial Generativa. Ainda segundo a pesquisa, poucas empresas parecem estar totalmente preparadas para o uso generalizado da IA Generativa ou, mais precisamente, para os riscos que essas ferramentas podem trazer aos negócios. IA fechada Do mundo para o Brasil e mais precisamente para o universo das empresas de internet, o professor e pesquisador Lacier Dias, sócio-diretor da Solintel e mestre em Administração e Gestão Contemporânea das Organizações pela Fundação Dom Cabral, aposta que o caminho será uma IA fechada, que recorre a dados privados das próprias organizações para responder às perguntas que lhe são feitas. Isso já está em uso na Solintel. Sediada em Londrina e com foco em prestadoras de serviços de internet, ela faz assessoria especializada na obtenção de outorgas em telecomunicações e gestão de empresas de todo o Brasil. Até pelo hype, há muita gente misturando conceitos e muita automação sendo travestida de IA. “Temos visto pessoas chamando automação de IA e isso é um erro dos mais grotescos, porque existe a RPA [robotic process automation, ou automação de processos robóticos] que estão chamando de IA”, destaca Dias.
“[Pegamos] todos os atendimentos resolvidos na primeira ligação e colocamos na IA, dentro de uma base de conhecimento. A base de dados foi construída em cima das perguntas e resoluções que tínhamos e o chatbot está respondendo em cima disso. Isso já é IA, mas fechada e com uma finalidade.” Lacier Dias Pesquisador e sócio-diretor da Solintel “Hoje, temos visto IA mais como ferramenta do que como diferencial”, pondera o executivo, que acredita que o sucesso da IA – pelo menos, por enquanto – está em modelos fechados. Isso significa abastecer a IA com dados fornecidos pela própria organização, criando um banco de dados privado e fechado. Assim, uma empresa pode, por exemplo, ensinar a IA com diversas minutas de contratos, de modo que ela aprenda as informações e possa responder a perguntas que forem feitas acerca de contratos. Na Solintel foi executado um projeto semelhante. “Fizemos um teste de pegar todos os atendimentos resolvidos na primeira ligação e colocamos na IA, dentro de uma base de conhecimento. A base de dados foi construída em cima das perguntas e resoluções que tínhamos e o chatbot está respondendo em cima disso”, detalha Dias. “Isso já é IA, mas fechada e com uma finalidade, que é responder algo e fazer atendimento baseado no histórico que temos. É uma IA especialista”, acrescenta.
Outra IA em uso na Solintel faz a transcrição de ligações e verifica o texto em busca de critérios predefinidos para analisar o posicionamento do atendente, identificando se ele foi correto, assertivo e em conformidade com as melhores práticas. É possível saber se o atendente deu uma resposta correta ao cliente ou se a IA daria uma resposta melhor. Para o professor Lacier Dias, as empresas que planejam adotar IA precisam atentar para o que inserem de dados e de que forma o fazem. Também não podem perder de vista qual é o motivo de usarem recursos de IA ou IA Generativa. O exemplo da Solintel mostra um caminho que empresas de internet podem percorrer. De acordo com Dias, o nível de sucesso das empresas quando adotam IA fechada bate na casa dos 95%, mas é preciso saber ensinar à IA. Além disso, há preocupação com relação à segurança jurídica. Se a IA dará respostas ao cliente, o que a ferramenta apontar será considerado como oficial. Por isso, é preciso fazer um uso muito crítico de IA.
O exemplo da RV Connect
da operação”, descreve o diretor da RV Connect, provedora de internet via fibra óptica com sede em Manaus e que vem expandindo sua atuação para outras cidades da região. A RV Connect apostou em machine learning para aprimorar os dados que definem quais planos oferecer para quais clientes. É a IA sendo adotada para personalização do atendimento. “Os ganhos são a automação dos processos, a redução de capital humano em atividades repetitivas e a entrega de novos recursos e serviços”, diz o executivo. Do lado dos desafios, Viana destaca que os principais estão ligados à utilização para atividades mais complexas, como impactar o atendimento ao cliente de forma mais humanizada e de que modo extrair informações dos chamados para que mais de 40% dos atendimentos sejam realizados através de IA.
Os dados exercem papel fundamental e são vitais para os negócios. “Com os dados, hoje, decidimos onde abrir novas operações, que tipo de clientes queremos atingir, qual o tíquete médio que pode ser praticado. Esses dados são a bússola que usamos para avançar com o nosso negócio”, explica Rogério Viana, diretor da RV Connect. Viana aponta que as ferramentas de IA podem ser utilizadas para qualquer atividade repetitiva e que demande muita mão de obra. “No nosso caso, a utilização inicial está sendo projetada para realizar um atendimento humanizado. Começar por uma atividade simples é o mais importante, como, por exemplo, automação de atendimento, e proporciona redução direta no custo
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TRIBUTAÇÃO
Roberta Prescott
O Fust… 23 anos depois As empresas de serviços de internet também podem ter acesso aos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações. Tardou muito, mas, pela primeira vez em 23 anos, os – educação, atendimento de áreas urbanas com baixa recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Te- qualidade de rede e/ou baixa renda, e áreas rurais seleciolecomunicações (Fust) estão disponíveis para serem utiliza- nadas pelos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abasdos. As ofertas de crédito foram anunciadas, em setembro, tecimento (MAPA) e do desenvolvimento social (MDS) pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). O – determina as taxas de juro. principal objetivo é aumentar a inclusão digital no Brasil Na live que marcou o lançamento, Maximiliano Marpor meio da conectividade; e há áreas prioritárias de inves- tinhão, secretário de Telecomunicações do Ministério timentos, como levar internet às zonas rurais e às escolas. das Comunicações, ressaltou que a aplicação desses re“Nos últimos dez anos, o banco cursos tem sido foco do titular da colocou mais de R$ 20 bilhões para pasta, Juscelino Filho e do presio setor de telecomunicações e, agodente do BNDES, Aloizio MercaProjetos apoiáveis ra, os recursos do Fust estão dispodante Oliva. Fust Educação níveis. Queremos que os recursos Martinhão destacou o uso dos Backhaul /última milha até escolas saiam rapidamente para demandar• recursos para expansão de redes fora da rede de fibra + 24 meses mos mais”, afirmou José Luis Gorfixas e móveis, em regiões periféde conexão don, diretor de Desenvolvimento ricas e urbanas, e projetos pilotos • Construção de rede interna Produtivo, Inovação e Comércio em conectividade em favelas no Fust Cidades Exterior da instituição, ao participar País. “É levar internet para quem de evento em Brasília. “Já temos não tem e melhorar a infraestrutura • Rede de acesso: municípios com menor teledensidade projetos a serem aprovados. Serão nas regiões periféricas. Fust é insR$ 4 bilhões em crédito até o fim de trumento importante”, disse. SCM 2026”, completou. José Luis Gordon, do BNDES, • Backhaul para áreas urbanas O BNDES conta, no momento, destacou que a conectividade é (+redundância) com instrumentos reembolsáveis estratégica na esfera governamen• 4G/5G (inclui FWA) em favelas de apoio financeiro com recursos tal, seja na política industrial, no Fust Rural do Fust, nas formas de apoio dinovo Programa de Aceleração do Backhaul para localidades rurais • reto (operações a partir de R$ 10 Crescimento (PAC) e na transição (+ redundância) milhões) e indireto (operações de ecológica. “A primeira coisa é coERB em áreas rurais e estradas • repasse de até R$ 10 milhões reanectar as 138 mil escolas públicas. estaduais 4G ou 5G (inclui FWA) lizadas por meio de agentes finanDestas, 90 mil têm alguma forma • Áreas priorizadas pelo MAPA/MDS ceiros). A prioridade dos projetos de fibra ótica chegando próximo a
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Apresentação completa em:
“Já temos projetos a serem aprovados. Serão R$ 4 bilhões em crédito até o fim de 2026.” José Luis Gordon Diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES
“É levar internet para quem não tem e melhorar a infraestrutura nas regiões periféricas. Fust é instrumento importante.” Maximiliano Martinhão Secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações elas e outras 40 mil tem fibra a uma distância de cinco ou dez quilômetros. O objetivo é conectar todas as escolas para levar educação de melhor qualidade e aprimorar a formação”, explicou. Captação Até agora, R$ 1,2 bilhão já foi captado, sendo R$ 1 bilhão para a modalidade direta e R$ 200 milhões para o Fust Indireto, valores que podem ser revistos a qualquer momento, a depender da demanda. A etapa atual é de operacionalização pelo BNDES, que já vislumbra novas captações anuais. Os programas de uso do Fust contemplam a ampliação do acesso de escolas públicas à banda larga e projetos de expansão, de uso e de melhoria das redes e serviços de telecomunicações. No caso do apoio direto, são elegíveis empresas prestadoras de serviços de telecomunicações regularmente constituídas e outras entidades públicas ou privadas cuja atividade seja compatível com a finalidade do projeto. Para o apoio indireto, realizado por meio de instituições financeiras credenciadas, são elegíveis sociedades empresárias provedoras de internet (CNAE J-61), classificadas por porte, como micro, pequena ou média empresa. Nesse tipo de operação, é necessário, após a habilita-
ção da empresa, apresentar o pedido ao BNDES por meio do Portal do Cliente. Os financiamentos diretos a projetos de investimento são realizados por meio do BNDES Finem. Alguns programas de financiamento, que atendem a setores específicos da economia ou a determinados tipos de investimento, também oferecem apoio direto. Para solicitar apoio direto ao BNDES, é necessário, em geral, que o financiamento tenha valor superior a R$ 40 milhões ou R$ 20 milhões a depender da sistemática. Tanto o BNDES Finem quanto os programas permitem, em alguns casos específicos, o apoio direto a financiamentos de valor inferior a esse limite. Acesso ao Fust As prestadoras de serviços de internet de micro, pequeno e médio porte podem acessar recursos por meio do BNDES Fust Indireto, que viabiliza operações de repasse de até R$ 10 milhões, a cada período de 12 meses, considerada a data da homologação de cada uma delas. Os pedidos devem ser feitos na rede de instituições financeiras credenciadas. As operações realizadas por meio dessas instituições são chamadas de indiretas e a taxa de juros é composta pelo custo financeiro, pela taxa do BNDES e pela taxa do agente financeiro. Já o BNDES Fust Direto pode ser usado para ampliação do acesso de escolas públicas à internet banda larga ou projetos de expansão, de uso e de melhorias das redes e dos serviços de telecomunicações, entre eles a expansão da cobertura móvel com tecnologia 4G ou superior, a expansão da infraestrutura da rede de transporte de alta capacidade com fibra ótica em municípios ou setores censitários e a expansão da infraestrutura de rede de acesso de alta capacidade, inclusive redes metropolitanas, em municípios ou setores censitários.
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INFRAESTRUTURA
Luís Osvaldo Grossmann
Menos de 100 dias para os
postes
Os ministérios das Comunicações e de Minas e Energia assinaram uma portaria conjunta com orientações para a Aneel e a Anatel na regulação do uso dos postes do setor elétrico pelas empresas de telecomunicações. A Abranet diz que o impacto só será sentido mais adiante, mas se preocupa com possíveis prejuízos às pequenas e médias empresas de internet. Depois de muita espera, os ministérios das Comunicações e de Minas e Energia assinaram uma portaria conjunta para regulamentar o uso dos postes do setor elétrico pelas empresas de telecomunicações. A reação da Associação Brasileira de Internet foi de cautela. De acordo com o vice-presidente da entidade, Jesaias Arruda, os impactos reais da medida só serão conhecidos mais à frente. “Esperamos que a regulamentação da portaria exclua possíveis disparidades que tragam prejuízos para
as pequenas e médias empresas do setor de internet”, afirmou. Arruda sustentou que a iniciativa Poste Legal é positiva, já que visa regularizar o uso compartilhado de postes, além de promover a inclusão digital, com conectividade em áreas remotas, e enfatizou que “a Abranet quer con-
tribuir para que a política pública retire os entraves de atuação das empresas de internet.” Ao formalizar a portaria, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, admitiu ter ficado surpreso com o grau de prioridade que o setor de telecom dá a esse assunto, tendo recebido pleitos “das grandes, médias e pequenas”. “A Anatel e a Aneel estão trabalhando na regulação e queremos até o fim do ano ter isso aprovado”, disse o ministro na solenidade de assinatura da porta-
“A Anatel e a Aneel estão trabalhando na regulação e queremos até o fim do ano ter isso aprovado.” Juscelino Filho Ministro das Comunicações
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Divulgação
Um apelo à segurança
ria conjunta entre os ministérios das Comunicações e de Minas e Energia que traz orientações para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) na regulação do uso dos postes do setor elétrico pelas empresas de telecomunicações. A portaria é uma carta de princípios, com linhas gerais do que deve ser perseguido pelas agências ao regular o tema, chamado de Política Nacional de Compartilhamento de Postes. Os objetivos são otimizar o
A questão dos postes é fundamental não apenas pela questão competitiva, mas de segurança também, e a Anatel sabe que tem de lidar com especificidades do setor de telecom, destacou José Borges, superintendente de Competição da Anatel, em meados de setembro, ao participar de evento em Brasília. “Procuramos estimular a competição e interferir o menos possível. Sabemos que o poste é um insumo fundamental. Temos de chegar a um consenso que seja economicamente viável para telecom e que não prejudique o setor elétrico”, disse. Borges defendeu que haja uma solução neutra, que não prejudique a competição e traga ambiente favorável aos negócios e também segurança. “É fundamental a participação das associações”, ressaltou. O primeiro apelo é a segurança das pessoas, ressaltou Marcos Vasconcelos, coordenador de Redes de Distribuição e Serviços Comerciais na Aneel. Paralelo a isso, disse, tem as regularidades comercial e técnica. “Foi nesta linha que propusemos a minuta que foi a consulta pública 73. Nosso papel tem sido o de apresentar conforto regulatório”, apontou Vasconcelos. Um dos pontos a considerar, segundo ele, é a diversidade do setor, com cerca de cem distribuidoras. Da parte da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), o diretor de Regulamentação, Ricardo Brandão, assinalou que a competência para disciplinar o assunto é dos órgãos reguladores, mas que não existe uma solução de escritório única para todos os casos. “Temos discussões sobre operador neutro ou posteiro e temos as distribuidoras com 9 milhões de unidades e outras com 4 mil. A solução não pode ser única para todas as distribuidoras, por exemplo, algumas, como é o caso das pequenas, conhecem a área melhor que o posteiro”, disse. O posteiro seria um explorador da infraestrutura do poste. Brandão defendeu que se foque nos problemas maiores, como no caso de postes com 30 pontos de fixação – e não os seis permitidos. “São muitos players e fios lançados à revelia, muito mais que no passado. É preciso pensar em uma reformulação da regulamentação para que não seja vantajoso operar na clandestinidade”, destacou o diretor da Abradee. (Roberta Prescott)
“A Anatel vai direcionar [o Fator de Utilização] para 19%, porque senão fica inviável o processo.” Moisés Moreira Vice-presidente da Anatel
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uso de recursos, diminuir custos operacionais, estabelecer conformidade na ocupação, reduzir riscos, promover qualidade e menor custo, ampliar a conectividade. Para tanto, isonomia, transparência, normas técnicas e remuneração pelo custo são os princípios a serem observados. Um detalhe: a própria portaria já prevê que “os custos da regularização da ocupação dos postes pelo setor de telecomunicações não poderão ser
repassados ao setor ou ao usuário de energia elétrica.” O cerne do problema, como destacou o conselheiro da Anatel Artur Coimbra, só fez piorar nos últimos 15 anos. “Não tínhamos nem 500 empresas de telecom, agora temos mais de 20 mil, todas querendo lugar no poste.” Essa questão não chega a ser diretamente tratada, mas uma nova minuta de resolução permite que se
adote uma solução mais próxima de endereçar a falta de espaço para tanto interessado. Ela prevê que “a pessoa jurídica cessionária do direito de exploração comercial de Espaços em Infraestrutura pode instalar, na faixa de ocupação dos postes de energia elétrica, rede para compartilhamento com prestadoras de serviços de telecomunicações, sob condições livremente negociadas”.
“Esperamos que a regulamentação da portaria exclua possíveis disparidades que tragam prejuízos para as pequenas e médias empresas do setor de internet.” Jesaias Arruda Vice-presidente da Abranet
Redes neutras exigem espaço nos postes de energia elétrica O mercado de redes neutras avança no Brasil e já é responsável por 18% dos acessos em banda larga fixa do País, segundo as quatro maiores empresas nesse segmento. E como destacado em tom uníssono durante o Futurecom 2023, exige garantia de acesso aos postes de energia elétrica na nova resolução costurada por Aneel e Anatel. “A solução para o uso dos postes vai passar pelo que temos feito em compartilhamento de infraestrutura. O que a gente precisa e pleiteia é que nesse novo modelo tenhamos acesso aos postes. Não adianta ter um ‘posteiro’ com cinco, seis, sete pontos no poste e mais de 150 pessoas querendo usá-lo, porque gera uma escassez prejudicial”, afirmou o diretor Comercial da I-Systems, Márcio Estefan. “A questão dos postes precisa de um conjunto de medi-
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das. O posteiro pode ser um caminho, mas não há dúvidas que a rede neutra é um elemento importante. Uma fibra compartilhada por vários provedores pode ser início das medidas que vão resolver esse tema”, emendou o vice-presidente da V.tal, Pedro Arakawa. O segmento ressaltou a importância dessa infraestrutura, não apenas para garantir competição no mercado de banda larga, mas para a própria disseminação do 5G no País. E embora todas tenham descartado qualquer interesse em atuar como ‘posteiras’, insistiram que o modelo deve preservar neutralidade, isonomia e não discriminação. “Poste afeta não apenas a banda larga fixa, mas também a telefonia 5G. É super importante para soluções de adensamento para que a telefonia móvel possa entregar o
Afinal, se cada empresa colocar apenas seu par de fibra, a imensa maioria fica de fora ou incentiva-se a ocupação clandestina como vista nas cidades. Ainda que colocada como opção, cabos com uma centena de pares tendem a responder melhor à demanda. Precificação A metodologia de precificação de cada ponto de fixação nos postes
ainda divide as duas agências. Como apresentada até aqui, ela prevê a definição de um ‘fator de utilização’ (FU) dos postes, um percentual que indicará quanto do custo envolvido deve ser financiado pelas operadoras de telecom. A Anatel prefere o percentual mais baixo, de 19,23%, enquanto a Aneel tende ao fator mais alto, de 37,73%. Com o primeiro, o preço por ponto de fixação seria de R$ 2,76. Com o se-
gundo, R$ 4,43. Uma terceira simulação, com FU de 27,78%, resultaria no preço de R$ 3,53 por ponto. “A Anatel vai direcionar para 19%, porque senão fica inviável o processo”, afirmou o vice-presidente da Anatel, Moisés Moreira, ao tratar do tema durante o Futurecom 2023, realizado na primeira semana de outubro. Esse valor seria cobrado de um explorador neutro, nem de telecom, nem de energia.
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“Não tínhamos nem 500 empresas de telecom, agora temos mais de 20 mil, todas querendo lugar no poste.” Artur Coimbra Conselheiro da Anatel
potencial total do 5G. E para que isso aconteça plenamente, precisa colocar equipamentos, com todos os elementos conectados por fibras que podem ser cativas ou podem ser de redes neutras”, disse o diretor-sênior de Fibra da American Tower, Daniel Laper. Como lembrou o CEO da FiBrasil, André Kriger, o desempenho das redes neutras tem impacto na qualidade e na competição do mercado e tende a se tornar regra na implantação da infraestrutura, como já aconteceu com outros elementos, como as torres. E o uso dos postes deve também levar em conta essa premissa. “A rede neutra já responde por 18% da banda larga e vai ser mais de 20% até o fim de 2023. E o que percebemos é que, toda vez que uma rede neutra chega em uma cidade, o nível de qualidade muda, inclusive a qualidade percebida pelo cliente. Hoje, temos cidades em que a rede viabilizou até cinco players operando. Olhando para os postes, vemos muito mais interesse do que os cinco pontos que têm espaço. Então
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seria possível que quem quer usar postes possa migrar para nossas redes”, afirmou. O vice-presidente de Vendas da Infinera, Gustavo Divinski, destacou que o problema do uso dos postes não é exclusivo do Brasil, até porque a regulação vem naturalmente atrás da evolução tecnológica. Mas insistiu que a lógica do compartilhamento faz sentido para reduzir custos. “A redução do Capex é o mais importante. Ao permitir compartilhar, cai o custo do acesso e isso representa um impacto social do acesso à conectividade.” Esse impacto, reforçou o CEO da Nokia Brasil, Ailton Santos, é um ponto fundamental. “A queda do custo do bit viabiliza coisas como ‘edge datacenter’ e, quando viabiliza isso, abre outros serviços na cadeia como um todo. E tem uma questão social. A rede neutra permite socializar onde não faz sentido para uma empresa investir sozinha e com isso chegar a áreas que hoje não são atendidas. Portanto, acima de tudo, não é só viável economicamente, mas necessário socialmente.”
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FUTURECOM
Ana Paula Lobo
desafio é fazer a cobertura de todo o território nacional Vice-presidente da Abranet, Jesaias Arruda, discorreu no Congresso do evento sobre a necessidade de levar conectividade aonde não há. Diretores da entidade também participaram de painéis, e o estande contou com a presença de associados como expositores. O Brasil ainda conta hoje com 15% de seu território sem qualquer tipo de conectividade. Esses números são mais fortes na região Norte, que tem 20% de sua área – ou 400 municípios – sem qualquer cobertura. O vice-presidente da Abranet, Jesaias Arruda, conhece bem o cenário. Ele é gerente de infraestrutura das Lojas Bemol, uma das mais tradicionais da Região Norte, e criou serviços de internet para atender a população. O Amazonas soma 62 municípios, apenas dez são acessados por rodovias e 12 não têm qualquer tipo de conexão.
Na pré-história do 5G Ao participar do Futurecom 2023, o diretor da Abranet Eduardo Parajo avaliou que o Brasil vive a pré-história do 5G e das suas aplicações. “Muitas coisas novas vão surgir com o avanço do 5G. Ainda temos muitas aplicações no 4G”, observou. Parajo também ressaltou que a interoperabilidade do 5G com o datacenter terá de existir. “No passado, ou até há bem pouco tempo, era cada um com o seu. Mas a internet mudou
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Isso significa que a infraestrutura de conectividade – seja fibra ou satélite – deve chegar a estes locais com o uso de barcos, ou com a passagem de fibra pela selva e pelos rios. “Neste ano, na região Norte, vivemos a maior seca da história. Não tem como levar a balsa para o lançamento de fibra óptica. As infovias começam a funcionar, mas ainda há muito por construir”, disse Arruda. Sem a conectividade tradicional, o projeto de satélites de baixa órbita da Starlink, do bilionário Elon Musk, está suprindo a demanda da Região Norte. No Brasil, de acor-
isso. Se não forem feitas parcerias, agora, o usuário final não fica satisfeito e não haverá dinheiro para todos. O compartilhamento, que a Abranet sempre defendeu, era falado por poucos, mas, agora, é visto como sobrevivência”, avaliou. Para os pequenos prestadores de serviços de telecomunicações, o momento é de oportunidades. “A cooperação vai baratear o custo para o usuário final; vai baratear para a operadora 5G e vai aumentar os negócios do prestador de telecom que já tem sua operação local e sua rede montada”.
Foto: Rafael Ferreira Maranzana - TT Agência
Projetos para WiFi 6E As empresas do setor precisam apresentar, o mais rapidamente possível, mais aplicações para justificar o uso da faixa de 6 GHz para o serviço não licenciado, afirmou o diretor da Abranet Eduardo Neger. Segundo ele, a Anatel fez o correto ao abrir 1.200 megahertz da faixa de 6 GHz para o uso não licenciado, porque há competição no mercado. Essa decisão, segundo Neger, abre espaço para um novo elemento no ecossistema: os operadores de coordenação de frequência, os AFCs. O sistema AFC é um banco de dados padronizado para o WiFi 6E, que se propõe a fornecer informações sobre a ocorrência, ou não, de interferência no sinal.
“O fabricante vai inserir o sistema nos equipamentos e as frequências só serão usadas se não gerarem interferência. A abertura do mercado é essencial não apenas para os provedores regionais, mas também para usuários que queiram ter suas próprias redes”, disse. Sobre a ocupação da faixa — um pedido já feito pela própria Anatel —, Neger disse que as aplicações estão surgindo, como a da Arena MRV, estádio do Atlético Mineiro, em Minas Gerais, ou no Teatro Gazeta, em São Paulo. O momento é de regulação do acesso outdoor, mas para Neger, a partir do momento em que o consumidor se acostuma com o padrão de qualidade, é impossível reverter a decisão de liberar novos competidores. As operadoras móveis ainda pleiteiam parte do uso dessa faixa para o 5G. (Luis Osvaldo Grossmann)
do com dados divulgados no evento, a Starlink já responde por 26% da internet via satélite. A atração é pela disponibilidade e pelo preço, mais em conta do que o ofertado pelos rivais. A Região Norte ainda tem em andamento o projeto Norte Conectado, por meio do qual o governo federal promete implementar, até o final de 2026, oito infovias integrando toda a região (leia matéria na página 26). Arruda comentou ainda a participação de prestadores de serviços de telecomunicações e de internet para conectar as 42 mil escolas ainda desconectadas das 138 mil existentes no País, destacando que é preciso desenhar um projeto, colocar a mão na massa, executar e entregar. Para o vice-presidente da Abranet, mais do que levar conexão à internet para as escolas, as empresas vão levar a inclusão social e econômica. Sete empresas – TIM, ZPE, Comitê Gestor da Internet no Brasil /Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, Norton, Durand, CDN TV e Projtell/MMiglio Advocacia – apresentaram seus serviços, tecnologias e inovações no estande da Associação Brasileira de Internet
no Futurecom deste ano. Com 150 metros quadrados, o espaço recebeu aproximadamente 1.500 pessoas ao longo dos três dias, reunindo a comunidade e destacando a atuação da associação no setor. Além do vice-presidente Jesaias Arruda, os diretores Eduardo Neger, Eduardo Parajo e Evair Gallardo palestraram no evento, que, em 2023, chegou à sua 23ª edição. Neste ano, o evento registrou 32 mil visitantes de 3 a 5 de outubro. Sob o tema Connecting the Interactions – a era da interação de dados, pessoas e negócios conectados, o evento reuniu 250 marcas expositoras, 800 palestrantes. Na abertura do Futurecom, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, comemorou os avanços do setor de telecomunicações, destacando a inclusão no novo PAC do eixo estratégico conectividade e inclusão digital e a liberação da verba do Fust para estimular a expansão, o uso e a melhoria da qualidade das redes e dos serviços de telecomunicações. (Colaborou Fabio Barros)
Faltam integradores de IoT
área. Faltam empresas que não deixem brechas no ecossistema de IoT. O cliente quer aumentar a sua produtividade, sua eficiência e reduzir custos. Não importa o que você vai usar, qual o sensor, qual a conectividade. O cliente quer o serviço”, afirmou. O pequeno prestador de serviços de telecomunicações tem uma grande chance de atuar nesse mercado, porque tem acesso ao cliente na ponta e poderá, assim, aumentar o seu ticket no serviço de valor agregado. “Há oportunidades no jogo, se o ISP pensar em associações”, orientou.
A Internet das Coisas não avançou como se esperava no Brasil, porque o mercado ficou muito descentralizado e há apenas pequenos integradores sem força de escala atuando, observou o diretor da Abranet e da Kerax Telecom, Evair Gallardo. Para ele, há uma dificuldade imensa em monetizar as aplicações de Internet das Coisas no Brasil, até porque não basta fazer software ou desenvolver uma API. “Insisto: faltam integradores e os ISPs podem atuar nessa
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ESTRATÉGIA
Roberta Prescott
Conectando o Norte Novas infovias, com 12 mil quilômetros de extensão, irão conectar 59 municípios até 2026. Elas incluem digitalmente a população e se traduzem em oportunidades para as empresas de internet. A Região Norte do Brasil carece – e muito – de conectividade. Comparada às outras regiões do País, está aquém em domicílios conectados. Enquanto 80% dos lares brasileiros contam com acesso à internet, no Norte, o percentual é de 76%, de acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios 2022, divulgada em maio deste ano pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Conectar a região pode ser um desafio, principalmente, devido à Floresta Amazônica e às longas distâncias entre as cidades. Por isso, ao longo dos anos, os governos têm levado a cabo diversos programas para fazer a conectividade chegar. Mais recentemente, o Programa Amazônia Integrada Sustentável (PAIS) instituiu o Norte Conectado, cuja finalidade é expandir a infraestrutura de comunicações na Região Amazônica, por meio da implantação de cabos de fibra óptica subfluviais. Ele é parte de um dos investimentos previstos pelo Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e prevê oito infovias, totalizando 12 mil quilômetros de extensão em um investimento que deve alcançar R$ 1,4 bilhão. O governo federal estima que 10 milhões de pessoas sejam beneficiadas nos 59 municípios atendidos. Além dessas, outras duas infovias foram implantadas pelo Exército no âmbito do Pro-
• O Norte Conectado contará com 8 infovias • São 12 mil quilômetros de extensão • R$ 1,3 bilhão de investimentos em todo o projeto • 10 milhões de pessoas serão beneficiadas • 59 municípios atendidos no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima • 68 milhões de árvores preservadas. Não será uma rede típica de telecomunicações (enterrada ou posteada)
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grama Amazônia Conectada. Além de promover a inclusão digital dos cidadãos, as infovias representam oportunidades de negócio a empresas de internet, que podem explorar a rede e vender seus serviços às comunidades locais. A cada infovia ponta e entregue, é estabelecido um consórcio de empresas para operar, manter e explorar a rede. De acordo com a secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações (MCom), as infovias geram oportunidades de negócio aos pequenos provedores locais de internet, pois possibilitam o acesso a uma grande capacidade de tráfego de dados, igualando o provimento de internet ao dos grandes centros. Para Eduardo Grizendi, diretor de Engenharia e Operações da RNP, as oportunidades para as empresas de internet são diversas. “Nenhuma empresa é dona do cabo; elas podem explorar um par de fibra ótica. O Estado cumpriu um papel importante de construir a infraestrutura”, disse. Na prática, as empresas privadas não arcam com investimentos na implantação da rede, mas podem explorar o backbone tendo a contrapartida de custear a manutenção da infovia. Este modelo foi aprovado pelo Comitê Gestor do PAIS, do qual a RNP faz parte. Das oito infovias, duas (Infovia 00 e Infovia 01) já Conheça as infovias:
Fonte: TIC Domicílios 2022 Veja a apresentação da pesquisa:
estão concluídas e em funcionamento e, até 2026, os recursos do Novo PAC vão garantir, segundo o governo, a implementação de outras seis. Além dessas, duas outras foram entregues no âmbito do Programa Amazônia Conectada (PAC), executado pelo Exército. “O PAIS é muito importante para a região; tem muito história, muita luta, mobilização, energia e propósito; e temos de contribuir de maneira construtiva, porque a região amazônica merece”, destaca Eduardo Grizendi, da RNP, que foi a executora do projeto piloto do Programa Norte Conectado, a Infovia 00, entregue em 2022, interligando cinco cidades: Macapá, Almeirim, Monte Alegre, Alenquer e Santarém. A infovia 00 está operacional desde julho de 2022. A infovia 01, que interliga nove municípios entre Santarém e Manaus (Curuá, Óbidos, Oriximiná, Juriti e Terra Santa, no Pará; e Parintins, Urucurituba, Itacoatiara e Autazes, no Amazonas), foi inaugurada em agosto com 1.070 km de extensão e beneficiando uma população estimada em 500 mil pessoas. As demais infovias, com exceção da 07, serão construídas pela Entidade Administradora da Faixa de 3,5 GHz. A EAF é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos criada para viabilizar a implantação do 5G no Brasil. A entidade é formada pelas operadoras Claro, Tim e Vivo, que foram as vencedoras dos lotes nacionais do leilão do 5G com as licenças da faixa dos 3,5 GHz. As seis infovias a serem construídas pela EAF conectarão 48 cidades da Amazônia através de 10 mil km de cabos de fibra óptica subfluvial, beneficiando cerca de 7,3 milhões de habitantes. A infovia 07 liga Manaus/Novo Airão (AM) e São Gabriel da Cachoeira (AM) e está incluída no Programa Amazônia Conectada, executado pelo Exército.
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Fotos: Pablo Leroy/MCom
Banda larga nas escolas A Região Norte do Brasil receberá o dobro dos investimentos em conexões banda larga nas escolas em comparação com as demais regiões brasileiras, afirmou o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Vicente Aquino, ao participar do Futurecom 2023. O leilão do 5G, ocorrido em novembro de 2021, destinou R$ 3,1 bilhões para conexão das escolas brasileiras. O Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (Gape), presidido por Aquino, deve, até 2026 e seguindo a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, conectar com banda larga 40 mil escolas brasileiras. O projeto piloto do programa forneceu, além de banda larga de alta velocidade e WiFi em todos as salas de aula de 176 escolas, os equipamentos para alunos e professores. Para Aquino, a presença da banda larga é um estímulo amplo a diversos setores do País, incluindo a economia verde, que promove o uso sustentável dos recursos naturais. Ele citou também os investimentos no Programa Amazônia Integrada Sustentável (PAIS), que implantará infovias na Região Amazônica, coordenado pelo Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência na faixa de 3.625 a 3.700 MHz (Gaispi). “Se você leva conexão ao aluno, você leva à família; se leva à família, você leva à população”, disse Aquino. Os cabos de fibra óptica implantados pela Anatel permitem que empresas na Região Norte ofereçam banda larga à comunidade, além de garantir a conexão escolar conforme o edital do leilão do 5G e o estabelecido pelo Gape.
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conexão
Escolas da zona rural estão mais conectadas à internet As escolas localizadas em áreas rurais tiveram um salto no acesso à internet entre 2020 e 2022, tendo passado de 52% para 85% de unidades conectadas, segundo apontou a pesquisa TIC Educação. Em média, 94% das escolas de Ensino Fundamental e Médio do Brasil têm acesso à internet, e praticamente a totalidade (99%) das particulares contam com a conexão. Entre as públicas (municipais, estaduais e federais), houve um avanço de 78% para 93% no período. Com relação à velocidade de
conexão, as escolas municipais estão em desvantagem, com 32% delas com conexão de até 10 Mbps; 29% com 51 Mbps ou mais. Já 52% das estaduais e 46% das particulares têm 52 Mbps ou mais. Apesar do acesso à internet estar presente em 94% das escolas brasileiras que oferecem Ensino Fundamental e Médio, apenas pouco mais da metade (58%) tem computadores (notebook, desktop e tablet) e conectividade à rede para uso pelos alunos. Entre os fatores que afetam
a conexão, situações tais como o sinal de internet não chegar às salas que ficam mais distantes do roteador (55%), a internet não suportar muitos acessos ao mesmo tempo (50%) e a qualidade da internet ficar ruim (41%) são as que ocorrem com maior frequência nas escolas estaduais. Nas instituições particulares, estes aspectos são também citados, mas com percentagens inferiores: 21%, 15% e 14%, respectivamente. Já nas municipais, o principal obstáculo apontado foi o fato de a internet não suportar muitos acessos ao mesmo tempo (45%), seguido de o sinal de internet não chegar às salas que ficam mais distantes do roteador (38%) e de a qualidade da internet ficar ruim (35%). Os pesquisadores ouviram 959 gestores escolares, 873 coordenadores,1.424 professores e 7.192 alunos.
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Veja a apresentação completa do estudo TIC Educação 2022 Fonte: TIC Educação/ Cetic.br
.br ultrapassa 5 milhões de domínios registrados O domínio .br, operado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), atingiu mais uma marca histórica, ultrapassando os 5 milhões de nomes registrados no mês de setembro. Além de oferecer solidez técnica e operacional, o .br ocupa a 5ª posição entre os “domínios de topo para código de país” (ccTLD ou country-code Top Level Domain) mais populares do mundo. Além de atingir os 5 milhões de nomes registrados
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sob o .br, o NIC.br comemora outra marca expressiva: hoje são mais de 1,5 milhão de domínios .br protegidos pela tecnologia DNSSEC (Domain Name System SECurity extensions). “É uma demonstração de que a comunidade está atenta à segurança. A extensão DNSSEC assegura que o conteúdo do DNS (Domain Name System, ou Sistema de Nomes de Domínio) é corretamente validado, impedindo ataque à resolução de nomes e garantindo a origem das informações. Ou seja, o DNSSEC contribui para evitar a alteração maliciosa de dados do DNS em diversos tipos de transações como, por exemplo, serviços financeiros”, destaca Frederico Neves, diretor de Serviços e de Tecnologia do NIC.br.
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Anatel discute desligamento das redes 2G e 3G A Anatel abriu uma tomada de subsídios para começar a planejar o desligamento das redes 2G e 3G. O plano é estabelecer um período de transição de cinco anos, até 2028, informou o superintendente de Outorgas e Recursos à Prestação da Anatel, Vinícius Caram. A ideia é reaproveitar os pedaços nas faixas de 800 MHz e 1,8 GHz de forma a viabilizar blocos de até 5 MHz para as gerações tecnológicas mais modernas. Atualmente, as gerações mais antigas estão mais concentradas em dispositivos IoT/M2M, que podem ser atendidos por tecnologias mais modernas. A transição até 2028 tem relação direta com a unificação do fim das outorgas das bandas A e B. E endereça o custo de manutenção de várias gerações tecnológicas simultaneamente. “As pessoas não usam mais 2G para consumo. É, principalmente, M2M/ IoT, que não necessita de muita banda, mas que começa a ficar obsoleto. Manter estações 2G na rede tem um custo de manutenção para um volume pequeno de IoT, que poderá até 2028 ser migrado para tecnologias 4G e 5G. Esperamos um movimento coordenado, com um possível desligamento de rede até 2028, quando teremos movimentos de novas outorgas para novas tecnologias nessas faixas, em especial as bandas A e B”, completou o superintendente da Anatel.
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Google, AWS e Cloudflare sofrem mega ataque DDoS A Google confirmou ter sido alvo de um dos maiores ataques DDoS já registrados na internet. O ataque atingiu o pico de 398 milhões de pedidos por segundo (RPS). Registrado e mitigado contra um cliente da Google Cloud, o ataque foi cerca de 7 vezes superior ao recorde anterior. Em 2022, o recorde encontrava-se em “apenas” 46 milhões de RPS. E os ataques não ficaram apenas na Google. A Cloudflare, empresa de serviços de internet e proteção de sites, também registrou um ataque de 201 milhões de RPS e a AWS registrou um de 155 milhões de RPS. Os ataques começaram em agosto e ainda não cessaram, informaram as empresas. Os ataques DDoS adotaram uma nova técnica apelidada de Rapid Reset, que explora o protocolo HTTP/2 para realizar várias requisições a um sistema. O HTTP/2 possui uma funcionalidade que permite integrar vários pedidos de uma origem como apenas um – ou seja, a origem apenas realiza um pedido, mas os servidores recebem vários – na ideia de melhorar o carregamento de conteúdos e a velocidade dos mesmos.
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Blockchain na identidade digital começa em 3 estados A nova versão do Cadastro Compartilhado da Receita Federal, contemplando o processo de emissão da Carteira de Identidade Nacional (CIN) e proporcionando o compartilhamento seguro de dados entre a Receita Federal do Brasil (RFB) e os Órgãos de Identificação Civil (OICs), começou a funcionar no final de setembro. Desenvolvida pelo Serpro, a solução será adotada e operada por todos os OICs para operações de consulta, inscrição e alteração de CPFs e CINs, conforme a necessidade. A implantação do b-Cadastros para a emissão da CIN começa pelos estados de Goiás, Paraná e Rio de Janeiro. A CIN, emitida a partir de julho do ano passado, contém novos elementos de segurança, incluindo um QR Code seguro e uma zona de leitura automatizada, com possibilidade de checagem fácil e segura. Além da versão física, em papel ou policarbonato (plástico), o documento também passou a ter uma versão digital, disponibilizada no aplicativo gov.br.
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opinião Helio Inoue Diretor Comercial da G+D Currency Technology Brasil
Um futuro digital seguro com o Drex, o Real Digital O Drex é um projeto complexo e desafiador e o seu lançamento de maneira segura e eficiente está unindo o Banco Central aos desenvolvedores na construção de um ambiente seguro e regulado. A versão digital da moeda de um país, que irá funcionar como alternativa às células impressas em papel, chamada de CBDC, que significa “moeda digital do banco central” (em tradução livre de central bank digital currency), terá o mesmo valor do dinheiro tradicional utilizado no dia a dia ou transacionado por meio de aplicativos, e o Brasil prepara o seu lançamento do “Real Digital” recentemente batizado de DREX. As moedas digitais oferecem inúmeros benefícios para os consumidores, sistema bancário, comércio e para toda a indústria de pagamentos. Ao estender o alcance do dinheiro para o mundo digital, as CBDCs são um importante impulsionador da inovação social e econômica do Brasil através de uma agenda comprometida do Bacen, em conjunto com os atores do mercado brasileiro e mundial. Um dos primeiros passos foi o LIFT Challenge Real Digital (https://www.bcb.gov.br/site/liftchallenge). Do lado da indústria tecnológica, já existe uma solução CBDC criada por uma das empresas que participaram do Lift Challenge e foi projetada para permitir pagamentos dual offline consecutivos seguros a partir da habilitação de um protocolo de segurança acoplado a elementos de hardware protegidos e uso de chip encon-
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trado nos cartões de pagamento tradicionais. Este protocolo trata do processamento de transações de pagamento entre carteiras offline e garante que apenas carteiras mutuamente autorizadas possam fazê-lo. Trata-se de um avanço no quesito segurança da moeda digital, principalmente na questão de double expense, evitando que o dinheiro seja utilizado duas vezes, seja no caso de a conexão ser interrompida durante uma transação e/ou nas operações offline. As transferências também podem ser feitas por meio de dispositivos de hardware, como smart cards, wearables ou chaveiros, e não exigem que o pagador nem o destinatário tenha uma conta bancária. Isso garante que os usuários de uma CBDC sejam independentes de dispositivos caros e disponibilidade de rede, tornando-o um meio de pagamento digital seguro e inclusivo para todos. O Drex deverá proporcionar uma série de benefícios e oportunidades para a economia brasileira, tais como: • Amarração de pagamentos versus entregas de ativos tokenizados: A geração de smart contracts, aliada à tokenização de bens e com a existência do Drex, permitirá maior segurança para algumas transações existentes • Maior eficiência nos pagamentos: permitirá pagamentos instantâneos e sem custos, o que facilitará as transações comerciais e reduzirá os custos para os bancos, empresas e clientes • Inclusão financeira: irá facilitar o acesso de amplas massas da população ao sistema financeiro para pessoas desbancarizadas, que não têm acesso a serviços bancários básicos, como conta-corrente, cartão de crédito ou débito • Segurança: o Drex será protegido por medidas de segurança robustas, o que ajudará a prevenir fraudes e crimes financeiros. A proposta de poder realizar pagamentos offline será um fator importante neste processo. O Drex é um projeto complexo e desafiador e o seu lançamento de maneira segura e eficiente está unindo o Bacen aos desenvolvedores mais avançados para garantir o sucesso deste empreendimento.
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